MIGUEL Relvas começou por dizer que os subsídios de férias e natal eram para acabar, para logo a seguir o governo desmentir. Vem depois um tal Peter Weiss acrescentar que talvez a suspensão possa transformar-se em extinção, para logo a seguir Moedas e Gaspar, este último a explicar tudo (até os lapsos) “vagarosamente”, virem retorquir que acabar nem pensar, pois o esbulho, como incialmente previsto, é só até ao fim de 2013. Finalmente Passos Coelho vem rectificar, afirmando que serão apenas repostos em 2015, e em prestações suaves, por precaução e para não magoar as calosidades e contas do Estado.
Como é fácil de constatar, tornou-se um lugar comum de todos os governos, os ministros contradizerem-se entre si. Já nos governos anteriores era assim! Não penso que seja distração, descoordenação ou negligência; estou convicto que essas discrepâncias são deliberadamente propositadas, um novo tipo de lubrificação da engrenagem política, na medida em que armam confusão, provocam a erosão das promessas e das garantias, bem como um vazio à volta da governação, propício a que estes continuem a ganhar tempo para fazerem o seu trabalho de desmantelamento, explorando e aprofundando o caminho desbravado por Sócrates. O nunca esquecido projecto sá-carneirista da “santíssima” trindade, constituída por uma maioria parlamentar, um governo e um presidente, enquanto durar, tem que ser aproveitada depressa e ao máximo, na missão de não ser deixada pedra sobre pedra deste empecilho chamado estado social. O novelo de contradições em que aparentam enredar-se, não é incompetência, é apenas criminosa determinação! Não são gente séria, são bandoleiros! Vão descredibilizando a política, ao mesmo tempo que, pé ante pé, levam a água ao seu moinho, sob a tutela da presidencial figura de Cavaco Silva, que não actua, mantém-se distanciado e não tuge nem muge, atrás daquele sorriso seráfico e mumificado.
Assim, entre os portugueses vai-se instalando o desânimo, o espírito do "não vale a pena" e do "são todos iguais e não são para levar a sério", pois digam A ou B, vamos tê-los sempre à perna, a empurrar-nos para a mesma rua sem saída, isto é, em perda continuada e quiça irreversível. É intenção do governo PSD/CDS-PP, emoldurados com a abstenção violenta do PS, que paguemos finalmente, e depois de tanto tempo de espera, o atrevimento de termos apoiado o levantamento e a revolução de 25 de Abril, que paguemos, com miséria, suor e lágrimas, a enxurrada das cleptocráticas Parcerias Público-Privadas, e que paguemos, já agora, as multas de excesso de velocidade do “senador” Mário Soares. Quanto aos pobres, que se amanhem! Tudo isso com a agravante de que o brando povo português, entre dois copos de tinto, à porta do estádio ou à boca das urnas, tem sempre memória curta e perdoa com facilidade.