O JORNALISMO português tem uma quota-parte (pequena é certo) de responsabilidade no aparecimento da WikiLeaks, já que é classificado, como “suave”, isto é, que não faz “ondas”, é situacionista, acomodado e colaboracionista com todos os poderes, característica reconhecida pelos próprios informadores e redactores dos telegramas diplomáticos dos E.U.A.. Daniel Oliveira disse, com muito acerto, no seu artigo publicado no semanário EXPRESSO de 11 Dezembro 2010, que «A WikiLeaks resulta de um falhanço: a imprensa americana e europeia passou anos a comprar a propaganda que lhe vendiam. E a comprar, antes de mais, o "estado de excepção" permanente em que parecemos viver. Seja por causa do terrorismo, da guerra, ou da crise financeira, há sempre razões superiores para ser cúmplice da mentira. Porque vive paredes-meias com o poder, a imprensa aceitou capitular a bem dos interesses do poder. Felizmente, outros foram à procura da verdade. Felizmente temos outros instrumentos. Era melhor que esse trabalho fosse feito por profissionais, com critérios jornalísticos e regras deontológicas? Sim. Mas então porque não o fizeram?» .
Contrariando a ideia que tem ganho forma, de que nada disto é novidade, será mesmo uma “coisa normal”, já os “rapazes” directamente visados pela acção da WikiLeaks, dizem que os conteúdos dos telegramas são mentiras, esquecendo que estão a chamar mentirosos aos seus autores, ao passo que os “nossos” PSD e CDS/PP também começam a ficar alarmados, e eles lá sabem porquê. Negócios de submarinos, helicópteros, Pandur, fardamentos para a Polónia, orgias financeiras do BPN e do BPP, “cimeira” das Lages e outras coisas mais, também pouco ou nada abonatórias, devem andar por aí, a ameaçar chamuscar as asas destes anjinhos. E Paulo Portas, cheio de energia, de língua afiada e olhos esbugalhados, até já veio proclamar que a divulgação dos telegramas diplomáticos é o mesmo que violação de correspondência privada de qualquer cidadão. Oh, oh, oh, olha quem fala! Errado senhor Portas! Então não sabe que correio privado é coisa do foro pessoal, ao passo que correio de estado pertence, em primeira e última instância, ao domínio público? Ou então, vistas as coisas à luz da sua argumentação, já se esqueceu das dezenas de milhares de cópias que fez (ou mandou fazer), de documentos do Ministério da Defesa, da altura em que foi ministro, nunca se sabendo até hoje com que objectivos, e que continuam algures em parte incerta?