COM Pedro Passos Coelho, também os Conselhos de Ministros sofreram um grande reajustamento, com conselhos a terem direito a fotografia e conselhos sem direito a fotografia. As decisões são agora tomadas com os ministros divididos em quatro grupos, isto é, os que têm dossiers complicados, os que têm dossiers assim-assim, e os que têm dossiers fáceis ou não têm dossiers nenhuns. O quarto grupo, que por motivos óbvios, habitualmente não consta da ordem de trabalhos, integra o ministro plenipotenciário Relvas, bem como o ministro sem pasta ou das privatizações António Borges, ou ainda o ministro-sombra Ricardo Salgado. As decisões passaram a estar escalonadas em três grupos: as que se sabem logo, as que se sabem passado algum tempo e as que nunca se sabem, e dentro de cada um destes grupos, aquelas que são constitucionais, as que já roçam a insconstitucionalidade, e as que são declarada e manifestamente inconstitucionais.
Foi já com esta estrutura instalada que conseguimos obter a entrevista que se segue, realizada após o último Conselho de 2012, e depois de um discreto réveillon que teve lugar nas instalações do Governo, em que os ministros comeram passas, beberam vinho morangueiro e desejaram um bom ano, uns aos outros. Fomos encontrar o ministro das finanças às voltas com uma foilha de excel e a aprimorar uma apresentação em power-point para o próximo conselho europeu, ao mesmo tempo que mordiscava um croquete e molhava o bico numa água das pedras.
- Oh senhor doutor, diz-se por aí que o Governo decidiu no último dia do ano de 2012, recapitalizar o banco Banif, injectando-lhe 1.100 milhões de euros, daquele empréstimo da troika, numa espécie de "nacionalização temporária", como forma de garantir os depósitos dos clientes. É verdade?
- Correcto e afirmativo. Tomámos em consideração que havia uma situação de tratamento desigual do Banif, em relação aos outros bancos que já foram ajudados, e não queremos que haja descriminação, mas sim equidade entre as sociedades financeiras. Além disso, não fazendo nada, o Banco de Portugal ainda era capaz de levantar problemas...
- Oh senhor doutor, desculpe lá, mas isto até parece uma reedição do que foi feito com o famigerado BPN. Mas então não seria mais correcto serem os accionistas do banco, isto é, os seus verdadeiros donos, a terem a responsabilidade dessa recapitalização?
- Mau, não me estou a fazer entender! Veja, é que no quadro actual, tal não é possível nem aconselhável, pois os próprios accionistas, coitados, também atravessam dificuldades, também eles estão descapitalizados, além de que os accionistas estão mais vocacionados para receber dividendos do que a ter que fazer investimentos, e como é compreensível, fazer investimentos nesta altura é um grande risco, um grande bico-de-obra...
- Entretanto, e vendo as coisas que se passaram com o BCP, o BPN e o BPP, também já há quem diga que não há três sem quatro. Será?
- Repare, qualquer semelhança com os casos que referiu é pura coincidência. E não acredite em tudo o que ouve. Quem diz isso são os bota-abaixo do costume, gente que vive mergulhada na realidade virtual, gente que vive de especulação...
- Mas senhor doutor, assim a frio, isso é uma prática pouco correcta no actual quadro de crise de que fala. E isto quando o próprio Presidente da República diz que os sacrifícios têm que ser partilhados de forma proporcional, e mais uma vez quem vai pagar a factura são os pagadores do costume.
- Pois é, mas o que é que se há-de fazer? Para tempos de excepção têm que haver soluções excepcionais, e é este o caso. Em casa onde não há pão, todos ralham com carradas de razão, e o Governo não podia ficar imóvel, insensível e indiferente perante as dificuldades que a sociedade civil está a atravessar...
- A sociedade civil? Os accionistas do banco, quer o senhor dizer!
- Exactamente. Mas alguém duvida que os accionistas do banco pertencem à sociedade civil?
Foi já com esta estrutura instalada que conseguimos obter a entrevista que se segue, realizada após o último Conselho de 2012, e depois de um discreto réveillon que teve lugar nas instalações do Governo, em que os ministros comeram passas, beberam vinho morangueiro e desejaram um bom ano, uns aos outros. Fomos encontrar o ministro das finanças às voltas com uma foilha de excel e a aprimorar uma apresentação em power-point para o próximo conselho europeu, ao mesmo tempo que mordiscava um croquete e molhava o bico numa água das pedras.
- Oh senhor doutor, diz-se por aí que o Governo decidiu no último dia do ano de 2012, recapitalizar o banco Banif, injectando-lhe 1.100 milhões de euros, daquele empréstimo da troika, numa espécie de "nacionalização temporária", como forma de garantir os depósitos dos clientes. É verdade?
- Correcto e afirmativo. Tomámos em consideração que havia uma situação de tratamento desigual do Banif, em relação aos outros bancos que já foram ajudados, e não queremos que haja descriminação, mas sim equidade entre as sociedades financeiras. Além disso, não fazendo nada, o Banco de Portugal ainda era capaz de levantar problemas...
- Oh senhor doutor, desculpe lá, mas isto até parece uma reedição do que foi feito com o famigerado BPN. Mas então não seria mais correcto serem os accionistas do banco, isto é, os seus verdadeiros donos, a terem a responsabilidade dessa recapitalização?
- Mau, não me estou a fazer entender! Veja, é que no quadro actual, tal não é possível nem aconselhável, pois os próprios accionistas, coitados, também atravessam dificuldades, também eles estão descapitalizados, além de que os accionistas estão mais vocacionados para receber dividendos do que a ter que fazer investimentos, e como é compreensível, fazer investimentos nesta altura é um grande risco, um grande bico-de-obra...
- Entretanto, e vendo as coisas que se passaram com o BCP, o BPN e o BPP, também já há quem diga que não há três sem quatro. Será?
- Repare, qualquer semelhança com os casos que referiu é pura coincidência. E não acredite em tudo o que ouve. Quem diz isso são os bota-abaixo do costume, gente que vive mergulhada na realidade virtual, gente que vive de especulação...
- Mas senhor doutor, assim a frio, isso é uma prática pouco correcta no actual quadro de crise de que fala. E isto quando o próprio Presidente da República diz que os sacrifícios têm que ser partilhados de forma proporcional, e mais uma vez quem vai pagar a factura são os pagadores do costume.
- Pois é, mas o que é que se há-de fazer? Para tempos de excepção têm que haver soluções excepcionais, e é este o caso. Em casa onde não há pão, todos ralham com carradas de razão, e o Governo não podia ficar imóvel, insensível e indiferente perante as dificuldades que a sociedade civil está a atravessar...
- A sociedade civil? Os accionistas do banco, quer o senhor dizer!
- Exactamente. Mas alguém duvida que os accionistas do banco pertencem à sociedade civil?