sábado, janeiro 13, 2007

Emigrantes

E
No tempo da ditadura salazarista, a emigração não era reconhecida como um fenómeno português, pelos motivos óbvios. Se o governo reconhecesse que o povo emigrava para ir ganhar o pão noutros países, isso seria admitir que em Portugal grassava a mais infame das misérias. Se o governo reconhecesse que o povo emigrava para fugir à tropa e à guerra colonial, isso seria admitir que havia em Portugal quem não se queria deixar imolar por uma causa sem sentido. Lá longe, os emigrantes iam lutando pela vida nos “bidon-ville”, negados e ignorados pela quadrilha que nos governava. Eis o país que fomos!
Hoje voltamos ao mesmo, sob outras formas. Fingindo que o ressurgimento da emigração por razões económicas, é um fenómeno efémero e insignificante, e desprezando as comunidades portuguesas instaladas, fecham-se consulados, ao mesmo tempo que o governo vai acenando com uma hipotética e palavrosa reestruturação consular, onde tudo se poderá resolver com um punhado de quiosques ligados à Internet, isto é, um “choque tecnológico” à boa maneira portuguesa, que afasta cada vez mais os portugueses das suas raízes. Nem o facto de as remessas dos emigrantes representarem 1,23% do P.I.B., sensibilizou este governo. Com uma política em que as pessoas deixaram de estar em primeiro lugar, corta-se a direito nas despesas, mesmo que isso vá afectar os serviços essenciais para quem está fora do país, bem como a própria imagem de Portugal no exterior. Se já mandamos os bebés portugueses irem nascer a Badajoz, porque não convidar os emigrantes a deixarem de incomodar e serem um encargo a menos para a pátria? Eis o país que continuamos a ser!

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