Os especialistas norte-americanos que conceberam a campanha on-line do presidente Barack Obama, vão estar num colóquio organizado pelo site de José Sócrates, vocacionado para o calendário eleitoral de 2009, a fim de darem sugestões e conselhos, sob a forma de angariar fundos e promover a democracia interactiva. É habitual dizer-se que não há nada que o dinheiro não consiga comprar, porém isso não significa que se consiga transformar, mesmo recorrendo às perícias e técnicas da realidade virtual, um astuto parlapatão num político credível.
terça-feira, junho 30, 2009
O Político Virtual
Os especialistas norte-americanos que conceberam a campanha on-line do presidente Barack Obama, vão estar num colóquio organizado pelo site de José Sócrates, vocacionado para o calendário eleitoral de 2009, a fim de darem sugestões e conselhos, sob a forma de angariar fundos e promover a democracia interactiva. É habitual dizer-se que não há nada que o dinheiro não consiga comprar, porém isso não significa que se consiga transformar, mesmo recorrendo às perícias e técnicas da realidade virtual, um astuto parlapatão num político credível.
sexta-feira, junho 26, 2009
Estar de Olho Neles
Na passada quarta-feira completou-se mais um debate quinzenal na Assembleia da República. Entre a enxurrada de discursos do primeiríssimo, tipo pomada multi-usos, para enfrentar a crise e narcotizar a nação, o deputado Paulo Rangel do PSD veio agitar o hemiciclo, pedindo explicações e apelidando a Fundação para as Comunicações Móveis “de ser mais uma fundação PS”, em analogia com a famigerada Fundação para a Prevenção e Segurança de Armando Vara e Luís Patrão. O governo diz que é uma fundação de índole privada, destinada a fomentar a sociedade da informação, através das contribuições do Estado e dos operadores de comunicações. Sabe-se que está alojada num quarto andar da Av. Defensores de Chaves, que é pertença do Ministério das Obras Públicas, sem qualquer placa identificativa, porém administrada (?) por um funcionário público. Esta “coisa” gere de forma quase clandestina muitas dezenas de milhões de euros públicos e privados, sendo por aí que são pagos os serviços da empresa JP Sá Couto, fornecedora dos computadores “Magalhães”. Na verdade, mais parece um covil de tipo “abre-te Sésamo”, onde o dinheiro entra por um lado e sai pelo outro, sem controlo visível, alimentando assim, de forma algo bizarra, os gastos do “choque tecnológico”. O assunto é tão transparente, tão transparente, que o primeiríssimo Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates, e o seu ministro Lino, à saída do hemiciclo, no fim do debate parlamentar, ficaram engasgados com as perguntas dos jornalistas que enxameavam os Passos Perdidos, e cuidaram de ausentar-se ligeiros, talvez para acertar testemunhos.
Esta coisa de não harmonizar declarações tem os seus custos, deixando a ideia de que Sócrates não está a conseguir coordenar com eficácia e em tempo útil, todos os imbróglios (e já são muitos) em que se envolve. Nesse mesmo dia já tinha ocorrido um episódio controverso para o governo, quando a propósito da constituição em arguido de Carlos Guerra, actual gestor do programa PRODER, no processo do caso Freeport, ao mesmo tempo que o primeiríssimo dizia uma coisa no hemiciclo, isto é, que o senhor já tinha apresentado a demissão ao ministro da couves e dos nabos, e que aquele tinha aceite, estando em vias de nomear outro para o substituir, cá fora, o Jaiminho do ministério da lavoura dizia outra, informando os jornalistas que ainda ia ponderar se aceitava ou não aquela demissão (entendam-se, senhores!).
Entretanto, à noite, foi a vez de Manuela Ferreira Leite, em entrevista à SIC, entre outras coisas, ter deixado em cima da mesa, um problema que urge ser esclarecido pelo governo: é verdade ou não que a PT quer avançar com a compra de 30% da TVI, e isso a ser verdade, como é possível que Sócrates tenha dito, nessa tarde no Parlamento, que o governo desconhecia essa intenção, sendo que o Estado tem uma participação “golden share” na PT, logo, tem direito de veto em opções estratégicas, não podendo, portanto, desconhecer que tal operação está em curso. Esta iniciativa deixou no ar a suspeita de que assim se pretenderia controlar um órgão de informação que, embora com uma linha editorial discutível, tem sido muito crítico da acção governativa, e em especial, muitíssimo incómodo para a pessoa de José Sócrates.
É de todo desejável e necessário que estejamos de olho neles. A fanfarronice de há pouco tempo atrás está a ser substituída pelo descontrole, deixando muita coisa destapada, e a evidenciar que o governo, alarmado com a sua perda de influência, motivada pela derrota nas eleições europeias, está a deitar a mão a todos os recursos disponíveis para estender o seu domínio a áreas que não controla, pondo em causa a transparência das instituições, a independência dos meios de comunicação social e a própria democracia.
quarta-feira, junho 24, 2009
Um Retrato do Verdadeiro Artista
Porque concordo com a perspicaz análise e desmontagem que é feita da personalidade, do tão aplaudido quanto odiado primeiro-ministro-VEDETA Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates, reproduzo abaixo o artigo da autoria de José Pacheco Pereira, publicado no jornal Público de 20 de Junho de 2009, e depois no blog ABRUPTO, em http://abrupto.blogspot.com/.
"ENTRE O "ANIMAL FEROZ" E MANSO CORDEIRO"
"O José Sócrates manso, humilde, penitente, da entrevista que deu à SIC, e que a jornalista permitiu com demasiada complacência, é um mau produto de marketing que não durará muito. É interessante até ver como uma série de fugas relatadas no Diário de Notícias, raras por serem da cozinha interior da política "socrática", foram imediatamente feitas para distanciar a agência de comunicação que trabalha com ele, a LPM, daquilo que foi atribuído a um trabalho amador dos seus assessores: fazer do "animal feroz" um manso cordeiro. Não sei se foi assim porque, dada a natureza profissional de todas estas fugas e contrafugas, não acredito numa só linha sobre a realidade do que relatam, embora me interesse o que pretendem sugerir. Eu sei que é sugestio falsi, mas tem interesse saber que fast food estão a pôr no meu prato mediático. Neste mundo de ficções, que é hoje a política-espectáculo, tem que se ter, como um centípede, 99 pés atrás e só um à frente, para balanço.
Seja como for, os conselheiros e a agência dir-lhe-ão em breve que a coisa não pega e é contraproducente, pelo que voltará de novo o "animal feroz" que é mais compatível com o inner self do actor que todos conhecemos como José Sócrates, actual primeiro-ministro de Portugal. Haverá retoques na forma de ferocidade do "animal", mas será por aí que a coisa vai ir, uma vez estabilizada uma estratégia de marketing, já que a anterior ruiu no dia das eleições para o Parlamento Europeu. Seja dito, de passagem, que entre os grandes perdedores dessa noite estão as agências de comunicação, aquelas que tratam os políticos como "marcas", e os políticos que assim se deixam reduzir a um produto de compra e venda.
Voltando a José Sócrates, a personagem interessa por duas razões. Uma, é que a bipolarização que existe de facto em Portugal não é entre o PS e o PSD, nem entre a esquerda e a direita, é a favor ou contra José Sócrates. A segunda razão é porque ele é, em muitos aspectos, um produto típico do tempo. Não é único - as mesmas incubadoras que o produziram, as "jotas" partidárias, agora complementadas pelas carreiras políticas de blogue, Facebook e Twitter (com uma enorme capacidade de reproduzirem na Rede os piores defeitos das políticas das "jotas"), estão a gerar outros produtos do mesmo tipo. Gente ambiciosa, muito ambiciosa, com pouca "virtude", com poucas leituras e muita televisão e computador, deslumbrada pelos gadgets, movendo-se com à-vontade entre jornalistas e empresários, sem "vida" nem biografia e pensando a política como pouco mais do que uma forma elaborada de marketing. Depois, como estamos em Portugal, o grosso do "trabalho" está na "gestão da carreira", em milhares de telefonemas, muita intriga e "imagem". Depois, há uns melhores do que outros e Sócrates, dentro da espécie, aprendeu melhor e com mais eficácia. E teve sorte, apareceu-lhe uma causa, a co-incineração, com todas as vantagens de lhe ter permitido a suprema ambição deste tipo de políticos: "ter protagonismo".
O caso da co-incineração foi fundamental na educação política do primeiro-ministro, penso até que o mais decisivo nessa educação. José Sócrates percebeu que fazer a ficção da autoridade, ser actor da autoridade, podia dividir e irritar, mas que o lado que estimava a exibição da força e da determinação era sempre muito maior do que o que o criticava pela obstinação. Trouxe essa lição para o início do seu Governo com sucesso e depois estragou tudo. Não porque não "dialogasse", mas sim porque deitou fora o menino e a água do banho, não percebeu que uma reforma precisa de aliados no interior de qualquer grupo profissional, mesmo que minoritários, e ele descambou no populismo fácil de colocar grupos profissionais uns contra os outros. Tornou-os, mesmo quando ainda não o eram, em corporações entrincheiradas e depois, quando percebeu os custos, recuou. Fez a ficção das reformas, mas não era, nem é, um verdadeiro reformista.
Medeiros Ferreira chamou-lhe "pagão" e, num certo sentido, tem razão porque estas personagens representam uma forma moderna de "paganismo". José Sócrates tem semelhanças com algumas personagens menores da antiguidade, que em certos períodos da história de Roma tiveram o seu papel: Sejano, por exemplo, ou alguns imperadores pretorianos. Se olharmos para Sejano, o meu primeiro exemplo, percebe-se melhor. O verdadeiro criador da Guarda Pretoriana como força política, o homem que governava Roma com brutalidade, enquanto Tibério se entretinha em Capri a nadar com os seus "golfinhos", acabou mal, mas mandou muito enquanto pôde. O "paganismo" era no fundo pouco mais do que crueldade, alguma capacidade de organização (uma qualidade rara em Portugal), uma falta completa de escrúpulos e um certo instinto de sobrevivência e intriga. Em Roma essa intriga permanente fazia-se com mulheres, filhos, família e veneno real, hoje faz-se com jornais, blogues e veneno virtual. Sejano também era na época uma espécie de "animal feroz", só que não havia assessores de marketing para o amansar e acabou executado mais a família às ordens de Tibério.
Há também algo de artificial no Sócrates "animal feroz", algo de construído pelo próprio, depois ampliado pela máquina de propaganda gigantesca que ninguém antes dele tinha criado à volta de um primeiro-ministro. A verdade é que este "animal feroz" mostrou-se muitas vezes bem menos "feroz" do que se pensa. Sempre que via os votos a voarem pela janela e a perspectiva de sarilhos a sério, a ferocidade diminuía exponencialmente. Foi o caso da defenestração do ministro da Saúde e da actuação do Governo face aos pescadores bloqueando as lotas e os camionistas bloqueando o país. Na verdade, mesmo o argumento de que Sócrates sempre apoiou a ministra da Educação, contra a luta dos professores, que assumiu uma dimensão de guerra total e que certamente lhe acabou por retirar muitos votos, não colhe. Sócrates convenceu-se, e bem, de que, enquanto contra o ministro da Saúde estava o "povo" e não os médicos, contra a ministra da Educação estavam os professores mas não o "povo". Por isso, afastou o primeiro e deu cobertura política à segunda. Só que não percebeu que no contexto de um crescendo de conflitualidade, que ia muito para além dos professores, a irritação acabou por funcionar num sistema de vasos comunicantes e, no voto, o "povo" acabou por aceitar que professores na rua era bom porque era "contra Sócrates". E contra Sócrates, valia tudo.
O que aconteceu, e torna qualquer governo de José Sócrates a mais instável das soluções políticas, é que foi à sua volta, ou da sua persona, ou da sua máscara, ou da sua personagem, que o país se polarizou. Mais de metade do país é contra Sócrates e uma parte mais pequena é a favor, mas ambas estão muito radicalizadas. Na verdade, a que é contra Sócrates está ainda mais radicalizada, porque na outra há uma confluência poderosa de fãs absolutos do primeiro-ministro, com a habitual conjugação de interesses à volta do poder, e beneficiam de uma maior homogeneidade do que os do lado do contra.
Ora é por ser exactamente assim que há "ingovernabilidade", não porque possam não existir condições institucionais para sustentar um governo. Elas são uma vantagem potencial para a governabilidade, mas estão longe de ser suficientes, em particular se uma parte importante dos portugueses votar pelo protesto (contra Sócrates) no Bloco ou no PCP ou no voto branco, ou se abstiver como atitude de negação. É por isso que poucas soluções governativas seriam mais instáveis e conflituosas que um novo governo PS com ou sem maioria absoluta. E é também por isso que, se não existirem condições de alternância governativa, a instabilidade gerada por um governo PS pode levar a um ciclo de sucessivas eleições legislativas, ao modo italiano.
Enquanto for Sócrates a dominar a cena, a vida política portuguesa permanecerá muito conflitual e instável, não serão possíveis reformas, nem as políticas consistentes e difíceis que a crise exige. E não há mansidão programada que resulte para amainar uma opinião pública que, pura e simplesmente, não só não acredita na personagem, como a sua mera presença a irrita e muito mais a irritará se lhe puserem à frente um híbrido de "manso-feroz".
Por isso, Sócrates está condenado à ferocidade, que representará sempre melhor porque é-lhe mais fácil puxar pelo ego nesse cenário do que numa humildade em que ele é um erro de casting. Só que o "animal feroz" parte cada vez mais o país em dois e é gerador de instabilidade por si só.
Vamos conhecer tempos interessantes, como na maldição chinesa."
terça-feira, junho 23, 2009
O Impagável Victor (in)Constâncio (2)
Na prática, os bancos estariam a penhorar bens que legalmente não podiam ser penhorados. Para agravar o problema, acusa a Provedoria de Justiça, o Banco de Portugal não colaborou no combate aos abusos por parte dos bancos. "Os cidadãos vão tendo conhecimento de que podem/devem dirigir-se ao Banco de Portugal, solicitando-lhe que exerça os poderes que lhe são conferidos em matéria de supervisão do sector bancário, mas o resultado de tal solicitação fica, não raro, aquém do esperado pelos reclamantes. E, diga-se, fica também, com frequência, muito aquém do desejado pelo provedor de Justiça", repreende o relatório, acusando o Banco de Portugal de se escudar numa "alegada ausência" de competências. Ora, na óptica do provedor, o Banco de Portugal tem base legal suficiente para uma actuação "mais incisiva" em matéria de execução de ordens de penhora.
Num comunicado emitido ontem à noite, o Banco de Portugal garantiu que prestou os esclarecimentos solicitados pelo Provedor de Justiça, reagindo assim ao relatório de Nascimento Rodrigues, que acusou a entidade liderada por Vítor Constâncio de ter um problema de comunicação e de deixar a desejar em termos de cooperação com a Provedoria.
..."
(Extracto da notícia do jornal PÚBLICO, da autoria da jornalista Natália Faria, publicada em 23 de Junho de 2009)
segunda-feira, junho 22, 2009
O Impagável Victor (in)Constâncio
Anteontem [em 27 de Maio de 2009] o deputado Honório Novo, membro da comissão parlamentar de inquérito [sobre o caso BPN], afirmou que "Vítor Constâncio já tem matéria de facto e de conteúdo para ter pedido a sua demissão." Fê-lo quando confrontado com o facto de o Banco de Portugal ter recusado enviar vários documentos requeridos pela Assembleia. "A punição para o crime de desobediência qualificada está definida no código penal com pena de prisão ou multa", comentou o parlamentar comunista. O Bloco também já tinha pedido a demissão do governador. Constâncio disse ontem, no Parlamento, que a oposição lhe faz exigências de supervisão que transformariam o banco central numa espécie de "KGB e FBI juntos"."
(Extracto do blog de João Tilly, "De Seia, da Serra da Estrela e do Portogallo à Siciliana" em http://joaotilly.weblog.com.pt/ )
domingo, junho 21, 2009
Grande Mesquita Hassan II
A cobertura da mesquita é constituída por dois elementos que, quando necessário, se separam, deslizando em cerca de 4 minutos, para deixar entrar a luz natural no recinto interior. O seu minarete (ou almadena) tem uma altura de 210 metros, sendo encimado por um potente raio laser que, à noite, serve simultaneamente para apontar a direcção de Meca e assinalar a entrada do porto de Casablanca.
Pode albergar 25.000 crentes no seu espaço interior, ao passo que no recinto exterior, circundado de monumentais arcadas, a sua lotação pode chegar aos 75.000 crentes.
Actualmente, esta mesquita é a única que permite visitas guiadas, sem restrições a não-muçulmanos e a mulheres com a cabeça descoberta, sendo permitido que se obtenham imagens em fotografia e vídeo, tanto do interior como do exterior.
Semelhante a um grande diamante, soberbamente lapidado, com os pavimentos de mármore, na meia obscuridade, a assemelharem-se a espelhos de água, torna-se difícil transmitir através de palavras a beleza deste templo. Apesar das suas dimensões colossais, impera tanto no exterior como no interior, uma extraordinária leveza, transmitida pela luz coada pelos vitrais, a embeber-se na profusão do rendilhado que decora os arcos mouriscos e na fluidez das colunas que se perdem lá no alto, entre as cúpulas, onde esvoaçam aves que ali encontram acolhimento. É um lugar de excelência, feito para orar e meditar.
(Fotos de F.Torres em 2009-Junho-9)
quinta-feira, junho 18, 2009
Giroflé, flé, flá
A entrevista-brinde que a SIC fez ao primeiro-ministro Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates, foi um autêntico frete. Deixo aqui uma pergunta: como é possível fazer uma entrevista destas a alguém que é um derrotado das eleições de há uma semana atrás, entrevista essa em que ele se passeou impávido e sereno, em amena cavaqueira com uma jornalista que parecia atacada de sonambulismo, a repetir, para quem o quisesse ouvir, o relambório das grandes medidas dos quatro anos da sua (des)governação, que a inesperada crise mundial, veio corromper? Fora isso, disse ele, estamos bem e recomendamo-nos.
Como é possível que a entrevistadora consiga passar quase 1/3 da entrevista a questionar o primeiro-ministro sobre os casos de polícia do BPN e do BPP, como se o primeiro-ministro fosse administrador dos ditos, responsável pela regulação da actividade bancária, coisa que compete ao Banco de Portugal e ao seu governador, ou investigador da polícia. Em contrapartida, sobre a justeza ou não da nacionalização do BPN, nada foi dito ou perguntado. E também ninguém lhe perguntou, com a adequada veemência, quais as lições ou consequências políticas que resultam da sua derrota nas eleições europeias. Ele limitou-se a dizer, com a falsa modéstia com que se enroupou nos últimos dias, que o desgaste do governo é um estímulo para continuar em frente com a mesma determinação, pois "o objectivo do PS é fazer uma coligação com o país" e que "os portugueses sabem que o PS nunca abusou do poder" (ora toma!).
No auge daquele exercício de falsa humildade, até teve o descaramento de afirmar (pasmem, senhores!) que talvez tenha havido algumas falhas de “comunicação”, dando azo a que muitos dos objectivos das suas medidas e reformas fossem interpretados como perseguição a certos sectores profissionais. Depois, igual a si próprio, com a nova postura bem afivelada, veio dizer que só falhou num aspecto (imaginem senhores!), no investimento com a “cultura”, como se com mais “cultura” passássemos a ter o estômago mais composto, mais euros para pagar as contas da água, do telefone, do gás, da electricidade, do infantário e da renda da casa.
A entrevistadora deixou que o vendilhão tomasse o freio nos dentes, e não fez nada para o contrariar. Na verdade, e contra aquilo que é habitual acontecer nas entrevistas, quem a conduziu foi Sócrates, empurrando o discurso para os seus terrenos de eleição, onde não responde a nada, limitando-se a matraquear a seu bel-prazer, debitando a sua costumeira e já requentada propaganda, como a velha cançoneta do equilíbrio das contas públicas, feito à custa do agravamento dos impostos e da redução do nível de vida dos portugueses, ou aquela de o governo ter facilitado os exames, logo reflectindo-se os resultados nas estatísticas, coisa que para Sócrates é apenas uma grande vitória do governo, e não a redução de exigência e qualidade do ensino. Já agora, também ficámos a saber que o investimento do Alqueva passou a estar mais vocacionado para investimentos turísticos, do que para dar forma ao plano de rega alentejano.
A SIC bem pode limpar as mãos à parede com o “serviço público” que disponibilizou ao país, ao fazer uma entrevista a um primeiro-ministro que se encontra confrontado com um primeiro sinal de rejeição por parte do eleitorado, mas onde se falou de tudo menos de cenários políticos, de política e de políticas. Enfim, sem ser estorvado com perguntas incómodas, Sócrates, a fera supostamente amansada, esteve nas suas sete quintas, a passear-se pelo jardim da Celeste, giroflé, flé, flá.
Depois disto os portugueses podem ficar descansados. Continuarão a ficar sem resposta para as suas inquietações e desconfianças.
terça-feira, junho 16, 2009
Voltei!
E voltei a tempo para constatar que o senhor Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates, passada que foi mais de uma semana sobre as eleições para o Parlamento Europeu, e confrontado com o desaire eleitoral do seu PS (partido Sócrates), achou por bem afivelar um ar compungido, “travestindo-se” de animal feroz em inofensivo cordeirinho. Que metamorfose, senhores! A soberba foi substituída pela humildade, a jactância pela modéstia, a insolência por um quase pedido de desculpas, a exigência de uma nova maioria absoluta por coligações talvez simplex, deixando lobrigar mais uma das suas competências, aquela que é própria das personagens falsas, que moldam o seu discurso, a fisionomia e a forma de estar, em função dos ventos e das necessidades.
Esquisito é que este novo comportamento surja à entrada para uma reunião da Comissão Política Nacional, onde iriam ser analisados e discutidos os resultados eleitorais de há uma semana atrás (tanto tempo, senhores!). Ou o PS teve problemas em digeri-los, ou andou a ensaiar meticulosamente uma exigente táctica de branqueamento, destinada a simular uma inflexão do seu comportamento político, até às eleições legislativas de Setembro, com o objectivo de voltar a embarrilar o eleitorado.
Depois de ter andado a auto-elogiar-se, a gastar o tempo, recursos e energias em espectáculos, convénios e acções de propaganda, começa agora a falar de "construir uma solução política que enfrente a crise", como se a dita fosse uma ilustre desconhecida, acabadinha de chegar. O país real que se cuide, pois Sócrates, a fraude política, está a caminho de dar lugar ao actor pantomineiro.
sábado, junho 06, 2009
Vou Ali, Já Volto!
terça-feira, junho 02, 2009
Revolutionary Road
Director: Sam Mendes
Argumento: Justin Haythe (screenplay)
Richard Yates (novel)
Género: Drama, Romance
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Elenco:
Leonardo DiCaprio ... Frank Wheeler
Kate Winslet ... April Wheeler
Michael Shannon ... John Givings
Ryan Simpkins ... Jennifer Wheeler
Ty Simpkins ... Michael Wheeler
Kathy Bates ... Mrs. Helen Givings
Richard Easton ... Mr. Howard Givings
Sam Rosen ... Party Guest #7
Maria Rusolo ... Party Dancer #1
Gena Oppenheim ... Party Dancer #2
Kathryn Dunn ... Party Dancer #3
Joe Komara ... Party Dancer #4
Allison Twyford ... Party Dancer #5
David Harbour ... Shep Campbell
John Ottavino ... Other Actor in the Play #1
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Duração:119 min
País: USA, UK
Idioma: Inglês
Cor: Cor
Formato:2.35 : 1
Som: Dolby Digital - DTS - SDDS
Locais das Filmagens: Beacon Falls, Connecticut, USA
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(Dados recolhidos do IMDb – The Internet Movie Database)
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Meu comentário:
Ao longo das nossas vidas, em maior ou menor grau, todos nós experimentámos insatisfações, mais ou menos semelhantes às de April Wheeler (Kate Winslet), esposa e mãe de dois filhos. Tal como ela, tivemos momentos em que a intenção de cortar com tudo, com a família, com o bairro, com a cidade, com o país, é um apelo tão forte, que esboçamos projectos, uns mais vagos que outros, a partir dos quais almejámos inflectir o rumo das nossas vidas, reequacionando o futuro, dispostos a tudo, porém, avaliando sempre as vantagens que podemos colher entre a segura mediania de um lar convencional, mais ou menos estável, e os riscos de ousar mudar, mesmo que sem um objectivo bem definido.
Revolutionary Road debruça-se sobre um desses casos. Acompanha a vida conjugal de uma mulher inconformista, que rejeita uma vida familiar convencional, típica dos subúrbios da classe média americana dos anos cinquenta do século passado, viveiros de mediocridade, frustrações e depressões, com os seus próprios rituais e regras dominantes, a enfeitarem as vidas de esposas e mães ocupadas com os filhos e as lides domésticas, e os maridos empenhados no vai-vem do casa-trabalho-casa. Eram pequenos mundos, onde alguém que se afoitasse fora dos estereótipos que a comunidade tivesse convencionado adoptar como modelo, acabava por ser considerado uma anomalia, um corpo estranho, algo que tende a subverter os hábitos e a desequilibrar a harmonia dessa mesma comunidade. E se isso acontecesse com uma mulher, pior um pouco.
Revolutionary Road intromete-se na vida dessa mulher que investiu todas as suas energias num projecto de mudança, que não abdica do seu sonho de ruptura, e que se debate contra a passiva condescendência do marido, um cauteloso e prudente Frank Wheeler (Leonardo DiCaprio), um maridinho quase perfeito, íntima e cinicamente empenhado em sabotar aquele projecto de mudança, primeiro com o aparecimento de uma nova e inesperada gravidez de April, depois com a perspectiva de uma ascensão profissional, acrescida das compensações de uma prometedora aventura extraconjugal. E o filme vai dissecando até ao tutano a história dessa mulher que se esforça por transformar o cônjuge num aliado, tentando ganhá-lo para a sua causa, mas em vão. A cena em que ela adverte que aquela história que o marido estava a contar ao serão, partilhado com o casal de vizinhos, era a repetição da que tinha contado no ano anterior, ilustra bem o espírito que pairava sobre aquele grupo, e o drama conjugal que se avolumava, feito de rotinas enfadonhas, amarras, farsas, pequenos desvios e intermináveis repetições.
Depois ficamos a perceber que há seres humanos tocados pelo inconformismo, que quando confrontados com os primeiros obstáculos, acabam por se resignar e voltar ao redil. Dos restantes, uns conseguem superar-se e passam, triunfantes e realizados, para o outro lado, ao passo que os outros, os que fracassam, mas sem se darem por vencidos, acabam a desmontar os seus afectos, precipitando-se no abismo, que pode ter múltiplas e insuspeitas formas. April Wheeler pertencia a este último grupo.
Por isso, Revolutionary Road é um objecto fílmico de excepcional qualidade, que no seu intencional ritmo lento e repetitivo, não faz mais do que levar-nos a fazer uma soberba visita guiada ao tal abismo, transmitindo-nos as várias fases e labirintos por que passam os sentimentos de derrota e castração. O último gesto da última cena é de uma perfeição e clarividência atroz, devolvendo o silêncio à sua máxima expressão e dimensão.
A realização perfeita e cuidada de Sam Mendes é coroada com as magníficas e inesquecíveis interpretações de Kate Winslet e de Leonardo DiCaprio, num filme que não pretende recrear, mas sim convidar a reflectir. Assim, Revolutionary Road é, do primeiro ao último minuto, cinema com letra maiúscula!
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(Comentário publicado no site CINEMA PTGATE em http://cinema.ptgate.pt/ )