domingo, junho 29, 2014

Passar do Cinzento ao Negro


A última reunião anual do Clube Bilderberg, que decorreu em Copenhague, nos passados dias 29 de Maio a 1 de Junho, já começou a dar resultados, pois sempre que o Clube Bilderberg se reúne, acontecem "coisas", apesar de nada transpirar das suas reuniões e conclusões. Para já, Jean-Claude Junker, delfim de Angela Merkel e membro de longa data daquela sociedade secreta das elites mundiais, desta vez foi "colegialmente eleito" presidente da Comissão Europeia, em vez de "consensualmente nomeado" como era habitual, fruto da geometria variável adoptada pelas "instâncias" europeias, como forma de superar a pseudo-birra eurocéptica de David Cameron de um Reino Unido, que não sendo membro do Eurogrupo, faz questão de andar aos ziguezagues com a União, umas vezes com um pé dentro, outras vezes com os dois pés de fora.

Com um cripto-consensual Jean-Claude Junker a substituir um insuportável José Manuel Durão Barroso, é quase certo que estão a caminho mais "coisas boas". Adivinham-se tempos complicados para os europeus, cada vez mais distanciados do que se vai tramando e cozinhando nos corredores e "capelinhas" de Bruxelas, sobretudo com o que vai resultar do famigerado acordo secreto com os Estados Unidos da América, um tal Tratado Transatlântico de Comércio e Investimento (TTIP), que tem a pretensão de estabelecer a maior zona de livre-concorrência do Mundo, e que a Wikileaks fez questão de divulgar.

O federalismo de que Juncker é adepto, tem muito a ver com a perda de soberania dos estados, que a eficácia do TTIP reclama. A cimeira EU-US, realizada em Bruxelas em Março de 2014, é quase certo que serviu para acertar agulhas. E a Europa incauta, pondo de lado todas as precauções, e entregando-se nos braços do capitalismo voraz, deixa-se arrastar por esta vaga. A sua entrada em vigor terá efeitos nefastos sobre as economias e os direitos dos trabalhadores dos dois lados do Atlântico. As "reformas", ajustamentos e reajustamentos que o Governo tem levado a cabo em Portugal, à sombra da resposta à nossa "crise" doméstica, dando prioridade ao privado, em prejuízo do que é público, só quem está distraído não vê que se ajustam, e não são alheios, às pretensões transnacionais do TTIP. Com efeito, e enquadradas pelas reestruturações e reajustamentos indispensáveis à implementação do tratado, prevê-se que entre 430 mil e 1,1 milhões de pessoas serão obrigadas a mudar de actividade, pois os negócios estão primeiro que as pessoas. Passando de cinzento a negro, o futuro não é risonho.

terça-feira, junho 03, 2014

Mais Depressa Se Apanha Um Mentiroso...

O Governo pediu à dona Conceição Esteves, que é Presidente da Assembleia da República, e que também já foi juíza do Tribunal Constitucional (TC), para clarificar junto do TC como é que os serviços devem processar os salários, pensões e subsídios de férias e de Natal que deveriam ser pagos em Junho, depois do chumbo do TC. Não percebo, a não ser que a dona Conceição esteja a receber uma avença do Governo, para clarificar os acórdãos do TC, ou então tenha outras competências que desconhecemos, coisa que me deixa muito perplexo, para não dizer incrédulo.

Depois há o caso de Passos Coelho, durante uma visita à Santa Casa da Misericórdia, acompanhado por Pedro Santana Lopes, se ter queixado que o TC, porque ainda tem entre mãos outras medidas que podem também estar feridas de inconstitucionalidade (ele lá sabe o que fez!), não o deixarem fazer planos para o futuro, nem dormir descansado, pois os assaltos perpetrados não estão a render aquilo com que contava, passando a maior parte do tempo a ponderar se deve ir à carteira ou ao armário dos comes e bebes dos portugueses. Ora Passos Coelho já devia saber (ou sabia e faz-se esquecido) que em Portugal o tempo da Política não é o mesmo da Justiça. Se sabia é matreiro e malicioso, se não sabia, é trafulha ou incompetente. Como é óbvio, inclino-me para a primeira opção, embora possa haver uma mistura das duas.

Numa primeira abordagem a frio da notícia, ainda pensei que Passos Coelho se estivesse a referir à eminência dos cofres vazios, não sabendo onde ir buscar dinheiro para pagar as suas obrigações e compromissos, quando ainda há dias tinha dito que o Governo dispunha de fundos para enfrentar as despesas e necessidades durante um ano, sem andar na pedinchice. Mas não, por enquanto o problema é apenas insónias, amargos de boca e digestões difíceis. Quanto a nós, estamos num ponto em que é tão grande a salada de queixinhas, dramatizações e aldrabices, que já nem sabemos se será razoável envolver os coxos no provérbio dos mentirosos.