Transcrição do post de João Lopes, publicado no blog SOUND + VISION (que também pode ser acedido na banda lateral deste blog), em Sábado, Abril 03, 2010. O título deste post é de minha autoria.
"Uma filosofia televisiva define-se por aquilo que difunde. E também, mais prosaicamente, pelo horário em que o difunde — este texto foi publicado numa crónica televisiva do Diário de Notícias (2 de Abril).
Já passavam alguns minutos das duas horas da madrugada (de segunda para terça-feira) quando, na RTP2, Dave Bowman, astronauta da nave S.S. Discovery, a caminho de Júpiter, começou a ter sérias dúvidas sobre a eficácia de Hal 9000, o computador de bordo... Ainda faltava quase uma hora de viagem e alucinações para o desenlace de uma obra-prima da história do cinema: 2001, Odisseia no Espaço (1968), de Stanley Kubrick. Não será preciso repetir que a RTP2 continua a ser o canal que nos compensa das mediocridades que fazem lei no espaço televisivo da ficção. Em todo o caso, a pergunta persiste: que aconteceu (na cultura, na política e na economia) para termos chegado a este ponto em que um filme como 2001 é programado para acabar às três da manhã?"
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.Meu comentário: Eles sabem que havendo 600.000 (?) desempregados, as madrugadas de 2ª.feira são uma óptima oportunidade para tentar inocular um pouco de cultura cinematográfica em quem não necessita de se levantar cedo, claro está, desde que as pessoas façam a opção adequada. Afinal a medida, se calhar, até tem o seu mérito, pois, pelos melhores ou piores motivos, por uma razão ou por outra, acabamos por ser filhos da madrugada…
Para mim, no entanto, outros grandes problemas subsistem com a exibição de cinema na televisão. O mais banal é ser anunciada a exibição para uma hora, e o acontecimento só ocorrer duas horas depois, ou então, por motivos imprevistos, o filme não ser o que estava anunciado. Vêm depois as infindáveis interrupções para satisfazer compromissos comerciais, que não têm constrangimento em interromper uma cena, seja ela curta ou longa. Mas, pior ainda são os “assassinatos” que se praticam nas exibições televisivas (a RTP Memória é um caso paradigmático), recorrendo aos formatos mais incríveis, que desvirtuam os enquadramentos, como o abominável PanSacan, que leva a assistirmos à insólita cena de se ver apenas, de um diálogo entre actores, dois narizes a conversarem. Imaginem o que seria se o Museu do Louvre decidisse exibir a Gioconda de Leonardo da Vinci, com requintes de malvadez, em formato PanScan! Ah, é verdade, ainda falta acrescentar mais qualquer coisa: longe vão os tempos em que, as noites de cinema, que se anunciavam com pompa e circunstância, eram antecedidas por alguém que era chamado para fazer uma curta introdução ao filme que se ia visionar, dando uma substancial ajuda a quem do cinema apenas retinha a sua utilidade como objecto de entretenimento, e depois passou a encará-lo como arte, repleta de mensagens, factos e histórias notáveis, ou temas de reflexão. Enfim, bons hábitos que se perderam, o que leva a concluir que são cada vez menos os responsáveis televisivos que sabem que o cinema, porque sétima arte, é coisa para se tratar com afecto, e não com os pés.
Para mim, no entanto, outros grandes problemas subsistem com a exibição de cinema na televisão. O mais banal é ser anunciada a exibição para uma hora, e o acontecimento só ocorrer duas horas depois, ou então, por motivos imprevistos, o filme não ser o que estava anunciado. Vêm depois as infindáveis interrupções para satisfazer compromissos comerciais, que não têm constrangimento em interromper uma cena, seja ela curta ou longa. Mas, pior ainda são os “assassinatos” que se praticam nas exibições televisivas (a RTP Memória é um caso paradigmático), recorrendo aos formatos mais incríveis, que desvirtuam os enquadramentos, como o abominável PanSacan, que leva a assistirmos à insólita cena de se ver apenas, de um diálogo entre actores, dois narizes a conversarem. Imaginem o que seria se o Museu do Louvre decidisse exibir a Gioconda de Leonardo da Vinci, com requintes de malvadez, em formato PanScan! Ah, é verdade, ainda falta acrescentar mais qualquer coisa: longe vão os tempos em que, as noites de cinema, que se anunciavam com pompa e circunstância, eram antecedidas por alguém que era chamado para fazer uma curta introdução ao filme que se ia visionar, dando uma substancial ajuda a quem do cinema apenas retinha a sua utilidade como objecto de entretenimento, e depois passou a encará-lo como arte, repleta de mensagens, factos e histórias notáveis, ou temas de reflexão. Enfim, bons hábitos que se perderam, o que leva a concluir que são cada vez menos os responsáveis televisivos que sabem que o cinema, porque sétima arte, é coisa para se tratar com afecto, e não com os pés.