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O MEU condomínio (um microcosmos de 36 famílias) está cada vez mais parecido com o meu país. Devido à idade (36 anos, tantos como a democracia portuguesa), começa a coleccionar problemas de toda a ordem, em resultado do envelhecimento e do pouco cuidado com que alguns condóminos e as administrações tratam o edifício, pois acham que o seu mundo se limita à sua fracção, portas adentro, onde se fecham a coçar as feridas, e que as partes comuns não lhes dizem respeito.
O resultado é as infiltrações grassarem pelos tectos e paredes, o telhado meter água, os elevadores estarem decrépitos, as bombas elevatórias baquearem, as lâmpadas fundidas dos patamares não serem substituídas, a limpeza escassear, cada um fazer o que lhe dá na real gana e não dar satisfações a ninguém, e isso acabar por se reflectir no ambiente geral, que se tornou de pouco diálogo e notória decadência.
Os condóminos desistiram de se disponibilizarem para integrarem e assumirem as responsabilidades da administração (em versão reduzida, uma espécie de governo do país), e acabaram por aceitar que a mesma fosse entregue a empresas da especialidade (?), todas elas negligentes, incompetentes e que pouco mais fazem que gerir o cardápio das receitas e das despesas, e cobrarem os respectivos honorários. Casos houveram em que se locupletaram com o que não lhes pertencia.
É convocada uma assembleia para aprovar contas, votar novo orçamento e estabelecer prioridades, e por três vezes consecutivas, não foi conseguido um quórum mínimo de 9 presenças, para se tomarem as decisões que a ordem de trabalhos impunha. O desinteresse e alheamento é tão profundo que nem sequer funcionou o habitual sistema de procurações, em que se delega nos poucos mas infalíveis e sempre cuidadosos vizinhos, a legal concretização do mínimo exigível que é a assembleia anual.
Ainda não fizemos nenhum inquérito ou sondagem à população do condomínio (isto se dermos algum crédito às sondagens), mas se tal fosse para a frente, é provável que o resultado não fosse edificante. A maioria não responderia, e os poucos, entre críticos que deixaram de dar o corpo ao manifesto - porque, em tempos passados, sempre foram eles que enfrentaram as crises e taparam os buracos - e os indiferentes, para quem tudo está sempre razoavelmente bem, desde que o tecto não lhes caia em cima, acabaria por reflectir, em miniatura, aquilo em que o nosso país se transformou. Uma sociedade sem expectativas, não reactiva, meia envergonhada, a acomodar-se e a tentar sobreviver, sem questionar, todas as fatalidades e contrariedades que vão surgindo. Enfim, tal condomínio, tal país, uns perfeitos anacronismos!
O MEU condomínio (um microcosmos de 36 famílias) está cada vez mais parecido com o meu país. Devido à idade (36 anos, tantos como a democracia portuguesa), começa a coleccionar problemas de toda a ordem, em resultado do envelhecimento e do pouco cuidado com que alguns condóminos e as administrações tratam o edifício, pois acham que o seu mundo se limita à sua fracção, portas adentro, onde se fecham a coçar as feridas, e que as partes comuns não lhes dizem respeito.
O resultado é as infiltrações grassarem pelos tectos e paredes, o telhado meter água, os elevadores estarem decrépitos, as bombas elevatórias baquearem, as lâmpadas fundidas dos patamares não serem substituídas, a limpeza escassear, cada um fazer o que lhe dá na real gana e não dar satisfações a ninguém, e isso acabar por se reflectir no ambiente geral, que se tornou de pouco diálogo e notória decadência.
Os condóminos desistiram de se disponibilizarem para integrarem e assumirem as responsabilidades da administração (em versão reduzida, uma espécie de governo do país), e acabaram por aceitar que a mesma fosse entregue a empresas da especialidade (?), todas elas negligentes, incompetentes e que pouco mais fazem que gerir o cardápio das receitas e das despesas, e cobrarem os respectivos honorários. Casos houveram em que se locupletaram com o que não lhes pertencia.
É convocada uma assembleia para aprovar contas, votar novo orçamento e estabelecer prioridades, e por três vezes consecutivas, não foi conseguido um quórum mínimo de 9 presenças, para se tomarem as decisões que a ordem de trabalhos impunha. O desinteresse e alheamento é tão profundo que nem sequer funcionou o habitual sistema de procurações, em que se delega nos poucos mas infalíveis e sempre cuidadosos vizinhos, a legal concretização do mínimo exigível que é a assembleia anual.
Ainda não fizemos nenhum inquérito ou sondagem à população do condomínio (isto se dermos algum crédito às sondagens), mas se tal fosse para a frente, é provável que o resultado não fosse edificante. A maioria não responderia, e os poucos, entre críticos que deixaram de dar o corpo ao manifesto - porque, em tempos passados, sempre foram eles que enfrentaram as crises e taparam os buracos - e os indiferentes, para quem tudo está sempre razoavelmente bem, desde que o tecto não lhes caia em cima, acabaria por reflectir, em miniatura, aquilo em que o nosso país se transformou. Uma sociedade sem expectativas, não reactiva, meia envergonhada, a acomodar-se e a tentar sobreviver, sem questionar, todas as fatalidades e contrariedades que vão surgindo. Enfim, tal condomínio, tal país, uns perfeitos anacronismos!