terça-feira, maio 04, 2010

Quando o Seminu Empresta ao Nu

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OS DESEMPREGADOS portugueses que vão ter reduzidos os seus subsídios de desemprego, os trabalhadores precários com trabalho temporário, incerto, sem contrato, sem garantias, sem carreira nem futuro, os trabalhadores que continuam a empobrecer, por não verem uma actualização salarial há longo tempo, bem como todos os outros a quem vão ser pedidos sacrifícios suplementares para satisfazer o Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC), são a tropa de choque que vai contribuir para emprestar à Grécia, a módica quantia de 2 064 milhões de euros, para que Atenas não entre em cessação de pagamentos sob a pressão dos mercados financeiros.
O ministro Teixeira dos Santos afirma que "não há riscos de Portugal perder dinheiro" e que isto vai ser uma operação destinada a "dar estabilidade à moeda única". Entretanto, diz o jornal PÚBLICO que “enquanto todos os outros países da eurolândia poderão ganhar com a operação - porque contraem dívida no mercado a taxas bem mais baixas do que os 5 por cento a que vão emprestar à Grécia - Portugal está em risco de sair a perder, porque é o único país confrontado com taxas superiores, que superaram os 6 por cento na semana passada e fecharam sexta-feira a 5,2 por cento.” Isto é o que acontece quando o seminu empresta ao nu, correndo o risco de também ficar sem roupa pelo caminho. Entretanto, alguém vai ficar a esfregar as mãos de contente e a rir-se à socapa.

segunda-feira, maio 03, 2010

Dez Perguntas sem Resposta

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Transcrição da intervenção do deputado Bernardino Soares do Partido Comunista Português, como Declaração Política sobre as medidas anunciadas de mais sacrifícios, produzida na sessão da Assembleia da República de 29 de Abril de 2010. O título do post é de minha autoria.

“Senhor Presidente,
Senhores Deputados,

Aqui ficam 10 perguntas e algumas citações sobre a situação que estamos a viver.

1 - Confirma-se ou não que as consequências desastrosas para o nosso país que o PCP e muitos economistas de outros quadrantes previram sobre a entrada de Portugal na UEM e no euro se verificaram?
«Não estamos em condições de competir numa zona de moeda forte. A nossa estrutura produtiva não aguenta uma moeda forte» João Ferreira do Amaral, Professor do ISEG e militante do PS — Público, Economia — 11 de Dezembro de 1995
Também o PCP, desde a primeira hora denunciou que seriam desastrosas as consequências da retirada de instrumentos fundamentais à nossa economia, designadamente no plano cambial, arrasando a competitividade e pressionando os salários e os direitos laborais e sociais, afinal também o objectivo destas políticas apadrinhadas por PS, PSD e CDS-PP.
Nunca ninguém disse aos portugueses em que base assenta a exigência de um défice inferior a 3%, numa economia que precisa de disponibilidade orçamental para se desenvolver.
«(...) direi que os critérios adoptados não são economicamente justificáveis e têm que ser revistos, existindo apenas, por razões que genericamente poderemos classificar como políticas, com o objectivo de forçar a criação de uma Europa a duas velocidades e de uma
mini-União Europeia que a Alemanha possa dominar mais facilmente.» Vitor Constâncio — Cadernos de Economia — Abr./Jun. 1994
«... a falta de mecanismos do orçamento comunitário para fazer face a eventuais choques económicos nos Estados membros e (...) a total independência do futuro banco central Europeu vai criar problemas». Vitor Constâncio — Jornal de Notícias — 15 de Fevereiro de 1997.
Pena é que tivesse esquecido tão depressa estas preocupações e passado a negar o que antes afirmava.

2 – É ou não verdade que nunca se acautelaram os previsíveis choques assimétricos das crises nas economias, por causa dos seus diferentes estádios de desenvolvimento?
«A existência de mecanismos automáticos de redistribuição intracomunitária para fazer face a choques assimétricos é amplamente reconhecida como uma condição de sustentabilidade da União Monetária … Esses mecanismos justificam-se particularmente numa fase inicial da União Monetária, em que as diferenças nas estruturas económicas tornam maior a possibilidade de choques económicos assimétricos significativos, do lado da oferta ou da procura, atingindo particularmente as economias menos desenvolvidas.» Aníbal Cavaco Silva — Anuário da Economia Portuguesa.
De facto a UEM foi feita com critérios uniformes para situações muito diferenciadas, sacrificando as economias mais frágeis como a portuguesa, aos interesses das mais fortes, do capital financeiro e da especulação.

3- Porque não houve ainda uma declaração inequívoca da UE para pôr fim às movimentações do capital financeiro especulativo?
Porque, mesmo sabendo-se que estas agências estão ligadas ao capital especulativo e fazem o seu jogo, o directório europeu, com a Alemanha à cabeça, continua a favorecê-lo nesta situação. Continua a alimentar a especulação.

4- Como se compreende que o Banco Central Europeu (CE) tenha emprestado milhares de milhões aos bancos, sempre com a mesma baixa taxa de juro e agora não empreste aos Estados que deles necessitam e que os vão obter de outros Estados a taxas diferenciadas e mais altas?
Aqui se vê bem como é inaceitável que o BCE não tenha nenhum controle democrático e obedeça aos interesses do grande capital financeiro «... a falta de mecanismos do orçamento comunitário para fazer face a eventuais choques económicos nos Estados membros e (...) a total independência do futuro banco central Europeu vai criar problemas». Vitor Constâncio — Jornal de Notícias — 15 de Fevereiro de 1997

5- Porque é que, se estamos sob o ataque dos mercados, isto é, do capital financeiro transnacional, o Governo e o PSD respondem com o ataque ao povo português e em especial aos mais carenciados?
Todas as medidas anunciadas são contra os mesmos de sempre. São contra as prestações sociais, contra os salários, contra os desempregados. Com um enorme desplante a Ministra do Trabalho repetiu ontem o que o Presidente da CIP tinha dito há dois dias atrás. Que é preciso apertar o subsídio de desemprego para obrigar os desempregados a regressar ao mercado de trabalho. Mas onde estão os empregos para eles ocuparem. Já se percebeu que o que patrões, Governo e PSD querem é progressivamente diminuir os salários, aumentando a exploração e a precariedade.

6- Como podemos aceitar que a banca, que recebeu muitos milhões em apoios, por exemplo em Portugal, que não os reflectiu nos apoios às empresas e às famílias, que continua a ter lucros fabulosos, continue a pagar menos do que as restantes empresas quando deve até pagar mais tendo em conta a sua rentabilidade?
A banca lucrou 5 milhões de euros por dia em 2009, em plena crise. Para IRC a uma taxa efectiva pelo menos 10 pontos percentuais abaixo da taxa prevista na lei e entretanto ameaça já aumentar os spreads. É indispensável que a banca pague pelo menos os 25% de
IRC tal como propusemos no OE e até mais em função do elevado montante dos seus lucros.

7- É ou não verdade que as medidas restritivas anunciadas não vão ter nenhum eleito nos mercados, como não tiveram na Grécia que anuncia cortes, sobre cortes, e vê a sua dívida cada vez mais onerosa como desejam os especuladores?
Quando se cede à chantagem o chantagista aumenta a parada. Na verdade este capital financeiro está sedento de instabilidade para impor aos Estados juros altos. E por outro lado os Governos, como em Portugal aproveitam para aprofundar o neoliberalismo.

8- Como é que se pode combater a crise agravando as medidas que são a sua causa?
Como é que por exemplo a Standard & Poor’s invoca o fraco crescimento previsto para Portugal para degradar a notação da República e exige em consequência mais medidas de corte no investimento, nos salários e nas prestações sociais. Se cortarmos ainda mais no investimento, como o Ministro das Finanças veio hoje anunciar, vamos afundar ainda mais o crescimento económico de que ele é uma alavanca fundamental, ainda para mais quando os mercados para onde exportamos estão também em crise. Se cortarmos ainda mais nos salários, vamos afundar o mercado interno, essencial, entre outros aspectos para muitos milhares de pequenas empresas.

9 – Como podemos continuar as privatizações?
Sendo públicas as empresas são de todos, sendo privadas serão só de alguns. Sendo públicas estarão ao serviço do desenvolvimento e das populações, sendo privadas estarão ao serviço dos lucros. Sendo públicas entregarão em poucos anos mais recursos financeiros ao Estado do que o valor a arrecadar com a privatização.

10 – E finalmente, será que, como nos querem fazer crer, só há este caminho e estamos perante uma inevitabilidade?

Não senhores Deputados, para os povos não há inevitabilidades. Há caminhos e soluções alternativas e pela nossa parte continuaremos a lutar por eles.

Disse,”

Meu comentário: Dez perguntas não são dez mandamentos! Penso, no entanto, que são dez perguntas, que como muitas outras, continuarão sem resposta.

domingo, maio 02, 2010

Fazer, Adiar ou Renunciar

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AO MESMO tempo que José Sócrates diz desconhecer qual o impacto orçamental da redução do subsídio de desemprego que vai implementar, o governo soma contradições, deixando a impressão de que está cada vez mais descoordenado, inseguro e desnorteado, tanto a respeito do que diz, como do que faz. Prova disso são os ministros dizerem uma coisa, sobre determinados assuntos, ao passo que o primeiro-ministro diz outra. A privatização da ANA e a insistência nas grandes obras públicas, que sendo grandes sorvedouros de recursos, apenas beneficiam o lobby das grandes construtoras (como é o caso da Mota-Engil de Jorge Coelho), são disso exemplos.
Por outro lado, não consigo perceber porque é que o Partido Comunista Português continua a insistir que as obras públicas de estadão se devem manter (penso que já teve opinião contrária). Admitamos que todas são necessárias, só que umas são mais prioritárias que outras, logo uma coisa é adiar, outra é renunciar. Aquilo em que o governo insiste, concentra-se nas auto-estradas, na terceira travessia do Tejo, no TGV e novo aeroporto, ao contrário de dar preferência e focalizar os meios e recursos do país na diversificação das aplicações, seja na modernização das decrépitas linhas ferroviárias existentes, seja na manutenção atempada e eficaz da arruinada rede rodoviária secundária, quer na modernização e manutenção de outras estruturas existentes, tais como instalações portuárias, rede escolar, rede de saúde, isto para não falar nos incentivos às empresas de pequena e média dimensão, e às actividades económicas mais carentes.
Façamos uma comparação: é como se eu em minha casa estivesse em sérias dificuldades para que o meu rendimento mensal conseguisse fazer face às despesas essenciais e inadiáveis, e de repente entendesse que era mais prioritário contrair um empréstimo para comprar e instalar um aparelho de ar condicionado. Como é que eu posso combater a crise da minha célula familiar, assumindo novos e discutíveis compromissos, e endividando-me ainda mais?
Não percebo! Será que o PCP, ao colocar-se ao lado da opção do governo, receia ser acusado de estar a subscrever as exigências da direita e a alimentar uma suposta coligação negativa, ou haverá outras razões?

sábado, maio 01, 2010

Trabalho e Pastelaria Fina

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A ÉPOCA é da altura em que sopravam os ventos da Revolução Francesa. O local é o palácio de Versalhes, onde parasitavam uns milhares de inúteis aristocratas, cortesãos, todos protegidos da realeza, que diariamente se entretinham, entre jogos e futilidades, a delapidar os recursos do país em festanças, onde imperava o fausto, a fartura desmedida, o desperdício. O momento é aquele em que uma multidão de andrajosos e esfomeados se acercou dos gradeamentos do palácio, de mão estendida, pedindo comida. Contam algumas crónicas que Maria Antonieta, mulher de Luis XVI, o último rei daquela França que iria apear a monarquia, confrontada com o pedido dos miseráveis, com algum desprezo, terá mandado dizer isto: "se têm fome, que comam bolos!".
Agora, quanto ao insuportável José Sócrates, perante o claudicar da economia e o alastramento do desemprego, que continuam a devorar a sociedade portuguesa, a um ritmo imparável, e a sua intenção de reduzir os subsídios de desemprego, com o objectivo de levar a trabalhar, a qualquer preço, quem não consegue arranjar trabalho, porque isso é coisa que cada vez escasseia mais, indiferente e arrogante, ainda o ouvirei balbuciar: "se não há trabalho, inventem-no!"

quinta-feira, abril 29, 2010

Pecado e Delito

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"A PEDOFILIA sempre existiu entre o clero. Mas era tornada invisível. A Igreja apenas via o aspecto de pecado e não de delito. Nessa visão, apenas se vê o pecador. No delito se vê a vítima. Delito é crime que deve ser levado aos tribunais. Isso a Igreja sempre se negou a fazer, na falsa ideia de preservar o seu bom nome."

Texto de Leonardo Boff, ex-sacerdote católico, teólogo, filósofo e professor universitário brasileiro.

Portugueses, Cuidem-se!

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AS AGÊNCIAS de notação internacional baixaram a notação da dívida portuguesa em 2 pontos.
A seguir à Grécia, o espectro da falência paira sobre Portugal.
O ministro Teixeira dos Santos disse que estávamos a sofrer um iníquo ataque especulativo, por parte dos mercados.
Tirando isso, disse ele, o governo está certo e vamos a caminho da recuperação.
Entretanto, os queridos mercados, continuam sem contemplações, impávidos e serenos, a fazer o que melhor sabem fazer: ganhar dinheiro com a miséria alheia.
Face à crise que se avizinha, o PSD de Pedro Passos Coelho ofereceu-se para ser a bengala de José Sócrates.
Perante o oferecimento, José Sócrates, mais manso do que nunca, aceitou ser amparado pela bengala do PSD de Pedro Passos Coelho, ao mesmo tempo que tratava (influenciado pelas suas cábulas de algibeira) os jornalistas presentes, por “senhores deputados”…
Pareciam Dupont e Dupont em operação de charme para acalmarem as agências internacionais, e desassossegarem ainda mais a vida dos portugueses, com o inferno que vão cozinhar.
Começa a ganhar forma o “bloco central”, tardio e envergonhado, travestido de missão patriótica.
Logo a seguir veio lesto o CDS de Paulo Portas, em passo de corrida, a querer subir para o comboio salvador da pátria, mesmo sem ter sido convidado.
Por isso, e atendendo a que somos um povo de brandos costumes, vai começar o grande assalto às prestações sociais.
Vamos descer mais uns degraus rumo à penúria generalizada.
Quanto aos especuladores bolsistas, se tiverem residência no estrangeiro, podem continuar a ganhar rios de mais-valias, isentas de impostos.
Os bancos, idem, idem, aspas, aspas.
E os dinheiritos colocados em off-shores, é garantido, também vão continuar a estar protegido dos avanços fiscais.
Quanto à gatunagem de colarinho branco que por aí anda, fiquem descansados que os fiscais vão estar muito ocupados, por exemplo, com as auditorias aos beneficiários do rendimento mínimo de inserção.
As obras públicas de estadão vão continuar em frente, para modernizar a pobreza do país.
O papa Ratzinger virá até cá dar um passeio, dar conselhos aos políticos e fazer festas às criancinhas.
E o engenheiro incompleto, criatura muito mentirosa, que também é o arquitecto do “socialismo moderno, moderado e popular”, continuará a fazer das suas e a viver no país das maravilhas, com o aval de quem nele votou.
Portugueses, cuidem-se, que vêm aí tempos muito difíceis!

quarta-feira, abril 28, 2010

Notas Soltas

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Nota 1
"(...) Cada casa tem o nome de ministério, e há alguma azáfama lá dentro, mas é uma agitação abaixo de zero, inútil. Não há dinheiro e há vícios. Funciona-se por rotina e pompa, mas em cada uma daquelas casas pouco mais há do que a mais corrente das gestões. Os porteiros podiam fazer de ministros que não se dava por ela.
(...)"
Excerto do post de José Pacheco Pereira, publicado no blog ABRUPTO, em 28 de Abril 2010, com o título REDE DE MENTIRAS.

Nota 2
"A maior desgraça de uma nação pobre é que em vez de produzir riqueza, produz ricos.
Mas ricos sem riqueza.
Na realidade, melhor seria chamá-los não de ricos mas de endinheirados.
Rico é quem possui meios de produção.
Rico é quem gera dinheiro e dá emprego.
Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro. ou que pensa que tem.
Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele.
A verdade é esta: são demasiados pobres os nossos "ricos".
Aquilo que têm, não detêm.
Pior: aquilo que exibem como seu, é propriedade de outros.
É produto de roubo e de negociatas.
(...)"
in POBRES DOS NOSSOS RICOS de Mia Couto - Poeta Moçambicano

terça-feira, abril 27, 2010

Das Promessas aos Actos

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“(…) Isto é o que nos une, 36 anos depois de Abril, e que torna esta sessão tão importante: a liberdade, hoje requintadamente condicionada.

Lembremos a revolução de Abril e Sérgio Godinho… porque em 2010:

O povo não pode escolher,
O povo não pode decidir,
O povo não pode produzir.
O Estado escolhe pelo povo,
O Estado decide pelo povo,
O Estado produz pelo povo.
O Estado é, afinal, do 24.
O Estado é o sistema e o regime.

Este Estado, senhor Presidente da República, é reaccionário.
Profundamente reaccionário!

Quando deixamos que o Estado entre nas nossas casas, nas nossas empresas, no nosso dia-a-dia, para reclamar o seu quinhão…
Quando deixamos que o Estado comprima direitos e garantias…
Quando deixamos que o Estado abdique voluntariamente do exercício da justiça…
Quando deixamos que o Estado se enfarte a si próprio à custa de todos…
Quando deixamos que o serviço-modelo do Estado – o único a funcionar com exemplar eficácia – seja o da cobrança de impostos…

Então… temos, enquanto representantes eleitos do povo e pelo povo, que pedir desculpa!
Não por ter feito Abril mas por ter, apenas, prometido Abril!
(…)”
Excerto da intervenção de José Pedro Aguiar-Branco, deputado do PSD, na Assembleia da República, em 25 de Abril de 2010.

Meu comentário: A solução é simples: basta de conversa, de adiamentos, de retrocessos, de desculpas, e passemos das promessas aos actos, para cumprir o que foi prometido em Abril.

segunda-feira, abril 26, 2010

A Face Sombria da RTP2

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“A RTP2 anuncia para domingo a segunda edição do Dia D, maratona anual de documentários de produção nacional; na véspera a Midas Filmes anunciava que a 2 recusara exibir dois documentários portugueses produzidos pela firma, assinados por Fernando Lopes e Manuel Mozos. Que o mesmo é dizer: de um lado a 2 invoca a sua dedicação ao serviço público e o seu apoio à produção de documentários, do outro um dos produtores que trabalha com o canal denuncia essa dedicação e esse apoio como puramente cosmético.
(…)”
Excerto do artigo de Jorge Mourinha, intitulado “Serviço público”, publicado no jornal PÚBLICO de 23 de Abril de 2010.

“(…) A direcção da RTP2, chefiada por Jorge Wemans, recusou apresentar, sem dar explicações, dois filmes de qualidade, “Michael Biberstein: O meu Amigo Mike ao Trabalho” de Fernando Lopes, e “Aldina Duarte: Princesa Prometida”, de Manuel Mozos, ambos produzidos por uma empresa, a Midas, que, em comunicado, acusa a RTP2 de desrespeitar o contrato de concessão e de fazer uma “afronta sistemática ao cinema português”, denunciada antes pelo DocLisboa e pelo Manifesto do Cinema Português que Manuel de Oliveira encabeçou. Depois do comunicado, Wemans teve o descaramento de dizer que “99,9 por cento” dos produtores “reconhecem” o lindo serviço que o canal público tem feito pelo cinema português e emitiu um contracomunicado listando as glórias do seu consulado. (…) A censura da RTP2 é pior que a dos fascistas, que se baseava em critérios políticos. Agora são critérios de arbitrariedade e autoritarismo. Wemans castiga quem é contra a obediência e contra quem exerce a liberdade de expressão. Se o país se regesse pela lei, pelo pudor, pela autoridade democrática, há muito que esta direcção da RTP2 teria sido varrida dos lugares públicos que insulta.
(…)”
Excerto do artigo de Eduardo Cintra Torres, da rubrica “Olho Vivo”, publicado no suplemento P2 do jornal PÚBLICO de 23 de Abril de 2010.

domingo, abril 25, 2010

HOUVE um TEMPO

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HOUVE um tempo para RESISTIR
Outro tempo para a INSURREIÇÃO
Brotou tempo para traçar o RUMO
Tempo para DECRETAR
Outro tempo para a CONSTRUÇÃO
E para não DESISTIR
Depois vem tempo de AGITAÇÃO
Tempo de combate e de LOGRO
Mas sempre haverá que CELEBRAR
O tempo que não se pode ESQUECER
E muito menos REVOGAR

25 de Abril, SEMPRE!


F.Torres
Abril 2010

sábado, abril 24, 2010

As Paixões de Sócrates

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HÁ umas semanas atrás, ouvimos o primeiro-ministro revelar, a propósito de uma qualquer cerimónia em que compareceu, que gostava, que tinha um fraco e também algum jeito para arquitectura. Quanto a isso, e pelas provas dadas, jeito não digo, mas lá que tinha um fraco, tinha! Ontem, em mais uma aberração propagandística, durante uma outra inauguração, desta vez numas instalações portuárias, José Sócrates, com ar intimista e voz de cordeirinho a cheirar a falso, confessou, mais ou menos com estas palavras, o seguinte:

Eu gosto de portos,
Eu sonho com portos,
Eu adoro portos,
Eu amo portos,
Eu sinto-me bem nos portos.

Quem diria? Sócrates é uma fonte inesgotável de surpresas. Depois da arquitectura, da política e dos portos, ainda um dia, para nosso espanto, virá dizer que se sente vocacionado para a engenharia.

sexta-feira, abril 23, 2010

“Bichas-de-Rabear”

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José Sócrates e Pedro Passos Coelho estiveram reunidos em S.Bento, residência oficial do primeiro-ministro, durante perto de 3 horas, e despediram-se com salamaleques, ficando assim comprovada a manifesta mansidão do "animal feroz". Aliás, o estado periclitante em que o país se encontra, não aconselha que o engenheiro incompleto José Sócrates continue a usar desenfreadamente o filão da propaganda, não só porque enquanto sistema para se manter à tona, não só está esgotado, como também não é aconselhável, dadas as circunstâncias. Da longa reunião não houve declarações nem transpirou nada, pois é sabido que o segredo é a alma do negócio. Em contrapartida, na Assembleia da República houve troca de palavras azedas e muitas faíscas, durante a apresentação, por parte do PSD, das “suas” medidas complementares ao Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC), mas tudo leva a crer que aquilo tenha sido apenas um exercício inofensivo, uma espécie de “bicha-de-rabear”, destinada a fazer crer que há oposição, quando de facto o que vai haver é concertação, no que respeita a medidas de austeridade e sufoco dos portugueses. Se o PS diz mata, logo o PSD se adianta a dizer esfola. Os ministros José Vieira da Silva e Pedro Silva Pereira, assumindo-se como pregoeiros de serviço, lá foram dizendo, muito ofendidos, que o PSD tinha uma "agenda escondida", e que se as medidas que agora avançava tinham algum mérito, isso devia-se ao “facto de já estarem previstas no PEC" do PS, logo de serem tardias e redundantes. Em resumo: dois partidos a fazerem de conta que se esgrimem, quando na verdade são farinha do mesmo saco, a denunciar a entrada em cena, com pezinhos de lã, de uma versão encapotada de Bloco Central, amparada na bengala do CDS-PP, e a denunciar a estratégia que o engenheiro incompleto está a tentar pôr em prática, isto é, manter-se mais 4 (quatro) anos no poder, fazendo concessões pontuais à esquerda, mas continuando a negociar e a governar à direita, desta vez brandindo o “patriótico” argumento do combate contra o espectro da falência do país.

quinta-feira, abril 22, 2010

Metafísica de Cordel

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O doutor Mário Soares vai de mal a pior. Escreve sobre todos os assuntos, dá sentenças sobre tudo e sobre nada, engalanado na sua toga de sábio ancião, com mais de oito décadas de vida. Desta vez excedeu-se, ao resolver associar a grande frequência dos tremores de terra e das erupções vulcânicas com demónios à solta, como consequência das actividades humanas menos próprias, as quais estariam a concorrer para comprometer os equilíbrios naturais do planeta, o que é verdade, menos a associação com demónios à solta, tremores de terra e erupções vulcânicas. Daí a dizer que as manchas solares ou a queda de meteoritos, também são o resultado da imprudência, inconsciência e irresponsabilidade humanas, vai apenas um passo.
Oh doutor Soares, olhe que a falta de formação científica, não é desculpa para cogitações deste tipo, que quase roçam a metafísica de cordel. Usando linguagem simplificada, actividade sísmica não é mais do que o planeta a ajustar e a aconchegar as várias camadas de que é constituído, ao passo que o vulcanismo é a libertação dos magnas e gases do seu interior, através dos seus respiradores, os vulcões. E aí o Homem, pouco ou nada interfere, limitando-se a estudar os fenómenos, que sempre existiram e continuarão a existir, com frequência variável, embora com custos tremendos para quem por eles é atingido.

Nota – Este apontamento resultou da leitura dos três primeiros parágrafos do artigo de Mário Soares, publicado no DIÁRIO DE NOTÍCIAS, com o título “Este nosso tempo…”. Quanto aos restantes parágrafos do artigo, pouco ou nada tenho a apontar e até subscrevo algumas ideias.

terça-feira, abril 20, 2010

Rotundas vs Heliportos

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O QUE há em excesso no país é falta de planeamento, negligência, descoordenação e desorganização. A prova disso está em que o INEM passou a ter operacionais três helicópteros de SAV (suporte avançado de vida), porém, os mesmos estão limitados na sua capacidade de intervenção, dado não terem sido preparados os indispensáveis heliportos, estruturas que ficaram atribuídas e são da responsabilidade das câmaras municipais abrangidas pelo serviço.
A solução, salvo melhor opinião, parece-me simples: basta ter vontade de servir as populações, fazer um acordo com o INEM (talvez um protocolo), escolher um local estratégico e gastar menos do que se gastaria a construir uma rotunda.

segunda-feira, abril 19, 2010

Regresso ao Passado

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Excerto do artigo de Ruben de Carvalho, intitulado “Setenta mil cruzados!”, publicado no semanário EXPRESSO de 17 de Abril de 2010. O título do post é de minha autoria.
“(…)
O eng. Sócrates não herdou Portugal (nem os Correios), não conquistou Portugal (nem os Correios), não comprou os Correios nem Portugal (embora aqui surjam notícias desencontradas). Entretanto, pretende, ele e o seu PEC [Programa de Estabilidade e Crescimento], regredir civilizacionalmente 500 anos e seguir o exemplo do rei castelhano: receber uns maravedis vendendo os CTT ao que, muito plausivelmente, se poderá presumir ser um cavaleiro da sua casa.
Quando é que se despacha esta encomenda?”

domingo, abril 18, 2010

Almofada

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NUMA qualquer cerimónia ocorrida ontem, que José Sócrates aproveitou de forma panfletária, para debitar as patacoadas e banalidades do costume, ofereceram ao primeiro-ministro uma almofada. Acho que foi uma oferta preciosa, carregada de simbolismo, sobretudo para quem como ele, de “animal feroz” que dizia que era, estar a ficar notoriamente “mais manso”. Só falta a cama para nela se deitar…

Casos que MEXEM Connosco

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RECEBI de um amigo, por e-mail, o seguinte texto esclarecedor. O título do post é de minha autoria.

"Terão que se assumir sacrifícios no curto prazo por forma a obter vantagens no médio prazo, devendo esta geração evitar carregar inutilmente as próximas." São estas as palavras de António Mexia que se podem ler no site dos liberais caseiros do Compromisso Portugal. Só que, como de costume, quando Mexia diz que se terão de assumir sacrifícios não está a falar dele próprio.
Soubemos esta semana que Mexia recebe 3,3 milhões por ano. O mesmo que 500 trabalhadores com o salário mínimo nacional. Aquele salário que, por ser aumentado em vinte euros, iria, garantiram as associações patronais, rebentar com a nossa competitividade. Recordo o que aqui já escrevi: os nossos gestores recebem em média 32 vezes mais do que os trabalhadores mais mal pagos das suas empresas. Na Alemanha a média é 10 vezes mais. Querem mesmo falar dos salários e da competitividade das nossas empresas?
Dirão: a EDP é uma empresa privada. Não temos nada a ver com isso. Acontece que é uma empresa privada que foi pública e onde o Estado continua a ser o maior accionista. E que vive em regime de monopólio. O ordenado de Mexia é pago pelos consumidores que não podem decidir mudar de empresa. E, recorde-se, o preço da electricidade doméstica em Portugal é, em termos absolutos, superior ao da média comunitária. Na factura lá estão o salário e prémios de António Mexia.
E acontece que o currículo de António Mexia, apesar de se tratar de um convicto liberal sempre a pedir menos Estado, é bastante esclarecedor: foi Adjunto do Secretário de Estado do Comércio Externo, Vice-Presidente do Conselho de Administração do ICEP, Presidente dos Conselhos de Administração da Gás de Portugal e da Transgás, Vice-Presidente da Galp Energia, Presidente Executivo da Galp Energia, Presidente dos Conselhos de Administração da Petrogal, Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, Presidente do Conselho Geral da Ambelis e representante do Governo Português junto da União Europeia no Grupo de trabalho para o desenvolvimento das redes transeuropeias. Agora está na EDP. Tirando a sua vida académica e uma passagem pelo Banco Espírito Santo, trabalhou sempre, seguramente contrariado, para o Estado ou para empresas participadas pelo Estado. E quase sempre por escolha política.
Este homem, que fez a sua vida profissional à boleia da política e do Estado, quer menos Estado. Faz-se pagar como os 200 que mais recebem nos EUA e exige sacrifícios a bem das próximas gerações.
E foi ele mesmo, sempre lesto a gritar pelo mérito, que contratou, se bem se recordam, Pedro Santana Lopes (seu ex-primeiro-ministro) para assessor jurídico da EDP. Porque os amigos são para as ocasiões.
E fez este senhor parte desse patusco encontro de gestores que exigiu, em 2006, o congelamento salarial dos funcionários públicos. Sacrifícios, já se sabe, têm de ser feitos.
São estes homens, transformados pela imprensa em oráculos da Nação, que nos dão lições de competitividade, meritocracia e estoicismo para vencer as adversidades. Falam de cátedra. Mas não sabem do que falam.

sábado, abril 17, 2010

Paradoxos à Portuguesa

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HAVERÁ coisa mais bizarra e paradoxal do que haver um processo para julgar três arguidos (Rui Pedro Soares, Américo Thomati e João Carlos Silva, administradores da Taguspark) acusados de terem corrompido o futebolista Luís Figo, e tudo isto acabar com o último a ser ilibado e mandado em paz, porque foi ingénuo e não sabia o que se estava a tramar, ao passo que os outros três “meninos” acabaram por ser acusados de corrupção passiva, isto é, teremos um processo de corrupção, em que os corruptores activos passam a passivos, e deixa de existir o indispensável corruptor activo. É obra! Como é que o juiz (isto se houver algum disposto a fazer contorcionismo) vai julgar este caso? Estou curioso quanto ao resultado final, isto se houver um resultado final!

TGV em Grande Velocidade

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O PRESIDENTE Cavaco Silva já promulgou o decreto-lei que aprova as bases de concessão do troço entre o Poceirão-Caia, da ligação a Madrid por TGV, a tal obra que, segundo as “estimativas” do governo, irá promover e acelerar o desenvolvimento económico do país. A pressa é tanta que a obra até já foi adjudicada, antes mesmo de estarem completos os estudos de viabilidade do empreendimento, isto é, à boa maneira dos políticos de aviário, atrela-se o carro à frente dos bois, e depois salve-se quem puder. É como se alguém decidisse investir na instalação de uma fábrica de galochas e impermeáveis para a chuva, no deserto do Sahara, antes mesmo de saber se alguém estaria interessado em comprar aqueles produtos.