quarta-feira, agosto 25, 2010

A Leste dos Paraísos

DIZ o insuspeito DIÁRIO DE NOTÍCIAS de 23 de Agosto que "os portugueses [alguns portugueses, entenda-se!] estão a voltar a investir em força nos offshores. Durante o primeiro semestre de 2010, os investidores nacionais colocaram 1,2 mil milhões de euros naquelas praças financeiras, um valor que contrasta com a retirada de 467 milhões de euros em igual período do ano passado, de acordo com os dados do boletim estatístico do Banco de Portugal". Será este o deslumbrante sinal de recuperação financeira e competitividade económica a que o inexcedível comediante-arquitecto-ambientalista-maratonista-engenheiro incompleto José Sócrates se referia, e que aguardava ansiosamente, para finalmente aprovar legislação sobre a tributação das transacções e transferências financeiras realizadas para os paraísos fiscais, por aqueles que são especialistas em descapitalizar o país e esquivarem-se a pagar impostos? Os outros contribuintes, isto é, os que foram chamados a contribuir com agravamento de impostos e congelamento de salários, para a “patriótica” missão de tirar o país da crise, continuam na expectativa de que aquela socrática promessa seja cumprida.

Cós e Bainhas

NA SUA visita a Vale de Cambra onde foi presidir à cerimónia de assinatura de um contrato de investimento, cenário que aproveitou para discorrer para as televisões, o ilusionista-arquitecto-ambientalista-maratonista-engenheiro incompleto José Sócrates, relembrou que a economia portuguesa teve no primeiro semestre deste ano um crescimento de tal modo imparável, mais do que a média europeia, que até conseguiu superar, melhor, duplicar as próprias previsões do governo. Isto significa que com a chegada de Setembro vão começar as girândolas de optimismo, boas notícias e branqueamentos, à mistura com passes de tango, matérias em que o Zézito é um especialista nato. Para já, vai haver a necessidade de chamar os alfaiates, “tomar medidas” e mandar alargar os cós e baixar as bainhas das roupinhas da dita economia em expansão.

terça-feira, agosto 24, 2010

Tagarelices

OS SERVIÇOS secretos portugueses são de uma transparência cristalina, e o ministro que os tutela, o espancador Augusto Santos Silva, de uma subtileza a toda a prova. Ora vejamos porquê:
Em entrevista ao DIÁRIO DE NOTÍCIAS o dito senhor revelou que Portugal vai reconfigurar a sua presença no Afeganistão, onde contribuímos para o esforço de guerra contra o terrorismo, tendo também fornecido pormenores de como Portugal se vai encaixar na nova realidade geo-estratégica. Chegou mesmo a confidenciar que vão ser enviadas células de informações militares para os teatros em que Portugal opera, e também para o Líbano, isto tudo para defender os interesses nacionais (que não se sabe muito bem quais são). Atendendo ao que foi dito, os nossos reais e potenciais "inimigos" (no caso de os termos) não precisam de mexer uma palha, pois o arguto e augusto ministro das "nossas tropas", traçou o mapa e o calendário dos possíveis cenários em que Portugal se irá envolver, e encarregou-se de cantarolar toda a informação básica, para não dizer sensível, que eles precisam de saber para estarem de sobreaviso. Faltou apenas dizer a data precisa em que terá lugar a projecção das forças, quem integrará as tais células de informação militar e onde se irão aboletar. Em última instância, basta estarem atentos aos portugueses que desembarquem em Beirute, e mais uns quantos destinos! Aqui está um exemplo de como a realidade consegue superar a ficção. O ministro que supervisiona as secretas é um irreprimível linguareiro. Melhor é quase impossível.

Made in Portugal

O texto que se segue foi recebido por e-mail, e decidi transcrevê-lo para este blog. O assunto dá que pensar…

O ZÉ, depois de dormir numa almofada de algodão (Made in Egipt), começou o dia bem cedo, acordado pelo despertador (Made in Japan) às 7 da manhã.

Depois de um banho com sabonete (Made in France) e enquanto o café (importado da Colômbia) estava a fazer na máquina (Made in Chech Republic), barbeou-se com a máquina eléctrica (Made in China).

Vestiu uma camisa (Made in Sri Lanka), jeans de marca (Made in Singapure) e um relógio de bolso (Made in Swiss).

Depois de preparar as torradas de trigo (produced in USA) na sua torradeira (Made in Germany) e enquanto tomava o café numa chávena (Made in Spain), pegou na máquina de calcular (Made in Korea) para ver quanto é que poderia gastar nesse dia e consultou a Internet no seu computador (Made in Thailand) para ver as previsões meteorológicas.

Depois de ouvir as notícias pela rádio (Made in India), ainda bebeu um sumo de laranja (produced in Israel), entrou no carro Saab (Made in Sweden) e continuou à procura de emprego.

Ao fim de mais um dia frustrante, com muitos contactos feitos através do seu telemóvel (Made in Finland) e, após comer uma pizza (Made in Italy), o António decidiu relaxar por uns instantes.

Calçou as suas sandálias (Made in Brazil), sentou-se num sofá (Made in Denmark), serviu-se de um copo de vinho (produced in Chile), ligou a TV (Made in Indonésia) e pôs-se a pensar porque é que não conseguia encontrar um emprego em PORTUGAL...

segunda-feira, agosto 23, 2010

“Wrestling” à Portuguesa

ALÉM do tango, também são necessários dois parceiros para fazer um espectáculo de “wrestling”. José Sócrates é exímio nestes embustes e Pedro Passos Coelho para lá caminha, logo prometem tornar-se uma dupla de respeito. Comportam-se como os “wrestlers” profissionais que antecipam os seus combates previamente combinados, com juramentos de ódio, ameaças, ofensas e insultos de todo o género, a fim de criarem no público, que irá assistir à “confrontação”, a impressão de que o seu combate irá ser uma genuína questão de vida ou de morte. Tal como nos outros espectáculos de “wrestling”, Coelho e Sócrates ensaiam um simulacro de combate político, apenas com uma diferença: o bilhete pago pelos portugueses para assistir a esta pantomina, tem um preço demasiado alto. A política é coisa para ser levada a sério, e não para ser tratada como espectáculo de feira.

sábado, agosto 21, 2010

Intriguista!

AGOSTO está a findar, Setembro vem aí, entretanto, preparem-se para a tormenta que vai romper. Podem chamar-me intriguista, mas bronzeados pelos fogos, pelas churrascadas ou pelo ar das praias, tem que haver alguém que vai acabar queimado, pela situação em que está a deixar o país.

sexta-feira, agosto 20, 2010

Cursos "Copy Past"

NÃO ERA nada que não se suspeitasse já: as "Novas Oportunidades" funcionam como uma grande Universidade Independente, distribuindo certificados do 12º. ano ao desbarato e sem grande rigor pedagógico. Como já está mais que provado, o objectivo principal é o de fazer emagrecer as estatísticas do abandono escolar e da deficiente escolarização, e não o de dar um segundo fôlego a quem, por motivos vários, abandonou os estudos ou interrompeu a sua formação. A par do projecto de acabar com as reprovações, seja por faltas ou por ausência de aproveitamento, a adopção, pelas "Novas Oportunidades", de baixos níveis de critérios científicos e pedagógicos de avaliação, concorre tudo para dar uma falsa imagem da educação portuguesa, criando a ilusão de diplomas que não têm relevância social nem profissional. Falta acrescentar que vão sendo agora conhecidos alguns casos em que os trabalhos dos formandos foram integralmente copiados da internet, recorrendo ao generalizado sistema "copy past", que neste caso, configura actuação fraudulenta, havendo mesmo notícia de que há uma actividade que comercializa, pela quantia de 400 euros, portfólios que dão acesso ao 12º. ano de escolaridade.
José Sócrates, também conhecido por engenheiro incompleto, e inspirador do modelo, deve estar exultante; a metodologia, espírito inovador e facilitista da "sua" Universidade Independente, onde se faziam testes de "inglês técnico" através de fax, passo a passo, vai-se estendendo a todo o país.

quarta-feira, agosto 18, 2010

Registo para Memória Futura (16)

SEM poder aportar a Macau, vai ficar um pouco mais pobre a viagem de circum-navegação que o navio-escola NRP Sagres está a empreender, desde 19 de Janeiro de 2010. Embora vá aportar a Xangai, para a não concessão de autorização para atracar em Macau, a República Popular da China argumentou que o estatuto autonómico daquela região, não permite a presença de navios de guerra estrangeiros no seu território. É pena!

terça-feira, agosto 17, 2010

Mais uma Vergonha

para juntar às outras que já conhecemos...

O ESTADO, através da sua Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT), reconheceu a sua ineficácia no combate aos falsos recibos verdes, um fenómeno que vem já dos anos 80, através do qual as empresas se escusam a celebrar contratos de trabalho, alimentando a precariedade laboral de perto de 1 milhão de trabalhadores portugueses, e lesando os cofres da Segurança Social, a qual fica desprovida das respectivas contribuições. O caricato é que o próprio Parlamento já recorreu a este expediente. Entretanto, a crise económica, a situação do mercado de emprego e a legislação entretanto aprovada, que no terreno apenas veio burocratizar o processo de combate à precariedade, são agora apontadas como as desculpas para a manutenção, senão mesmo a proliferação, de tal estado de coisas, no qual o trabalhador, a parte mais fraca perante o empregador, fica exposto à voracidade deste, já que tem necessidade de trabalhar, em qualquer condição e a qualquer preço.
Enfim, uma autêntica fraude social, em que o Estado, simulando que está a proteger os trabalhadores, joga, descaradamente, ao lado do patronato incumpridor das leis laborais. Temos assim mais uma vergonha, para juntar às outras que já conhecemos.

domingo, agosto 15, 2010

Tempo de Livros

Os Parceiros do Capitalismo

Para o capitalismo não há boas nem más causas, existem apenas interesses. Para o comprovar basta recuar até aos anos 30 do século passado, à Alemanha de Adolf Hitler, e verificar que o serpentário nazi não teria sido possível sem a ajuda que recebeu, de quem põe os “negócios” à frente tudo.
Vejamos quem:

«(…)
Hugo Boss uniformizou o seu exército.
Bertelsmann publicou as obras que instruíram os seus oficiais.
Os seus aviões voavam porque consumiam o combustível da Standard Oil [agora Exxon e Chevron] e seus soldados eram transportados em camiões e jipes Ford.
Henry Ford, construtor desses veículos e autor do livro "O Judeu Internacional", foi a musa do ditador. Hitler agradeceu-lhe, condecorando-o.
Também foi premiado o presidente da IBM, a empresa que tornou possível a identificação e recenseamento dos judeus.
A Rockefeller Foundation financiou pesquisas raciais e racistas levadas a cabo pela medicina nazi.
Joe Kennedy, pai do presidente John Kennedy, foi embaixador dos E.U.A. em Londres, porém, comportou-se mais como se fosse o embaixador alemão.
Quanto a Prescott Bush, pai e avô dos presidentes com o mesmo apelido, foi um colaborador de Fritz Thyssen, que fez e arrecadou a sua fortuna ao serviço de Hitler.
O Deutsche Bank financiou a construção do campo de concentração de Auschwitz.
O consórcio IGFarben, gigante da indústria química alemã, que mais tarde ficou conhecido como Bayer, BASF e Hoechst, utilizou presos dos campos de concentração como cobaias de laboratório, usando-os também como mão-de-obra. Estes trabalhadores escravizados produziam tudo, até mesmo o gás com que iriam depois ser gaseados.
Os prisioneiros também trabalharam para outras empresas, tais como Krupp, Thyssen, Siemens, Varta, Bosch, Daimler Benz, Volkswagen e BMW, que eram a base económica dos delírios nazis.
Os bancos suíços fizeram substanciais aquisições do ouro que Hitler sonegava às suas vítimas, nomeadamente, jóias e dentes de ouro. O precioso metal entrava na Suíça com espantosa facilidade, ao passo que as fronteiras se mantinham fechadas para os fugitivos do regime nazi.
A Coca-Cola, durante a guerra, inventou a bebida Fanta, exclusivamente destinada ao mercado alemão.
Durante este período, a Unilever, a Westinghouse e a General Electric também multiplicaram os seus investimentos na Alemanha, colhendo daí os respectivos lucros. Quando a guerra terminou, a empresa ITT recebeu uma indemnização de milhões de dólares, como compensação por os bombardeamentos Aliados terem danificado as suas fábricas na Alemanha. (…)»

Excerto do livro "Espelhos: Uma História Quase Universal", do escritor, jornalista e ensaísta uruguaio, Eduardo Hughes Galeano, publicado em 2008. Tradução do castelhano para português. O sub-título do post é de minha autoria.

sexta-feira, agosto 13, 2010

Registo para Memória Futura (15)

Notícia da autoria do jornalista Carlos Pinto, do jornal CORREIO DA MANHÃ de 19 de Março de 2010

«Quando recebeu a proposta para ir trabalhar como nadadora-salvadora nas piscinas municipais de Castro Verde, Maria da Conceição Sargaço, que nem sequer sabe nadar, pensou tratar-se de uma brincadeira de "mau gosto". Mas não era. A funcionária pública, de 65 anos, que desde 2007 integra o quadro da mobilidade, tinha mesmo uma oferta por escrito da autarquia para aquele trabalho.
"Tudo isto teria muita graça se não estivessem a brincar com a minha dignidade. Como é que na minha idade ia desempenhar a tarefa de um nadador-salvador? Só tenho a quarta classe, não tenho formação e nem sei nadar. Ainda nos afogávamos todos", disse ontem ao CM a mulher que trabalhava no Ministério da Agricultura, no pólo de Aljustrel, localidade onde reside.
Maria da Conceição está no quadro de mobilidade depois de 28 anos a trabalhar como auxiliar de manutenção nos serviços de limpeza e jardinagem. Esta mulher, que aufere 66 por cento do vencimento-base, cerca de 388 euros, recebeu, no início do ano, juntamente com outra colega também colocada na mobilidade, uma carta onde era comunicada a possibilidade de ambas irem trabalhar para as piscinas de Castro Verde. Uma proposta que foi, entretanto, recusada pelas duas funcionárias.
"A minha colega já tem 70 anos e está reformada. Mas eu tive de escrever uma carta a dizer que não podia aceitar. Ficaria satisfeita se fosse uma oferta dentro da minha área em Aljustrel", frisa Maria da Conceição, que não aceitou de bom grado a colocação no quadro da mobilidade e que só pensa em reaver o seu antigo serviço para poder trabalhar até aos 70 anos, idade que lhe permitirá reformar-se.
A mulher acrescenta que a reintegração até permitiria ao Ministério da Agricultura poupar, dado que contratou duas empresas de limpeza para fazerem o trabalho. "Estão a gastar mais dinheiro", disse.»

quinta-feira, agosto 12, 2010

Vamos ver se nos Entendemos

«A Comissão Europeia decidiu esta terça-feira, em Bruxelas, que a garantia do Estado português sobre um empréstimo de 450 milhões de euros concedida em 2008 ao Banco Privado Português (BPP) foi um auxílio estatal "ilegal e incompatível" e ordenou a Lisboa a recuperação desse dinheiro.»

Correio da Manhã em 20 de Julho 2010

«O Ministério das Finanças reiterou ontem a confiança na recuperação dos 450 milhões de euros do empréstimo ao BPP (Banco Privado Português), que avalizou, referindo que o valor das contra-garantias é superior à garantia prestada.»

Diário Económico em 10 de Agosto 2010

«O Banco de Portugal admite que o Estado poderá não conseguir recuperar o aval concedido ao Banco Privado Português (BPP). Em causa estão 450 milhões, um empréstimo concedido ao BPP por um consórcio bancário com o aval do Estado. O Estado, em contrapartida, recebeu do BPP activos no valor de 672 milhões. O que o Banco de Portugal vem agora reconhecer é que a avaliação que foi feita [aos activos] é incerta, que dependia das condições de mercado, que ainda por cima sabemos serem bastante negativas.»

Rádio Renascença em 11 de Agosto 2010

terça-feira, agosto 10, 2010

Justiça e Negócios de Sardinha

DIZ o semanário EXPRESSO, na sua edição de 7 de Agosto, que "em Maio, os dois procuradores do processo Freeport disseram à directora do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), Cândida Almeida, que não iam abdicar de ter os depoimentos do primeiro-ministro José Sócrates e do ministro Pedro Silva Pereira. Só estavam à espera do relatório final da Polícia Judiciária, para formular as perguntas. A 21 de Junho o relatório ficou pronto. No início de Julho, as perguntas foram feitas. No dia 12, enviaram-nas a Cândida Almeida, para terem o seu aval. E foi nessa altura que os três magistrados se sentaram à mesa. Para negociar. (...) A reprodução no despacho final do processo Freeport de uma lista de 27 perguntas a Sócrates e outras dez destinadas a Silva Pereira, todas deixadas por fazer, foi decidida naquele momento pela directora do DCIAP como contrapartida para deixar cair as inquirições aos dois membros do Governo e evitar, ao mesmo tempo, que a acusassem de falta de transparência. Não foi, como parecia inicialmente, uma iniciativa exclusiva dos procuradores Paes de Faria e Vítor Magalhães." Tendo sido perguntado ao procurador-geral da República, quando é que soube que as perguntas ao primeiro-ministro faziam parte do despacho, o senhor juiz-conselheiro Pinto Monteiro respondeu que não teve qualquer conhecimento prévio, mas apenas quando o seu conteúdo foi tornado público.
Entre os muitos episódios e aspectos perversos que têm acompanhado as investigações à volta deste caso Freeport, apenas faltava acrescentar-lhe mais este: os departamentos de investigação, porque estão em causa altas figuras do Estado, e torna-se forçoso barrar a sua progressão para domínios não desejáveis, indiferentes ao descrédito que possam ou não criar, contrariando princípios e pondo em causa a necessária independência do poder político, e das pressões que de lá flúem, negoceiam até onde se deve ir, o que se deve ou não investigar, como quem negoceia caixas de sardinha, acabadas de sair da lota.

segunda-feira, agosto 09, 2010

Uma Pergunta, Duas Respostas

DAS DUAS entrevistas feitas pelo semanário EXPRESSO, na sua edição de 7 de Agosto (nesta semana, uma invulgar fonte de inspiração), uma ao procurador-geral da República, juiz conselheiro Pinto Monteiro, e outra, ao presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, João Palma, extraí uma pergunta, que embora diferindo na forma, consoante se destinava a um ou a outro entrevistado, tiveram as seguintes respostas:

Defende a extinção do sindicato?
Pinto Monteiro
- Estive dois mandatos à frente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses, após ter ganho duas eleições democraticamente realizadas. Defendi, então, como hoje defendo, a existência de uma associação para defesa da classe. Isso e não um lóbi de interesses, actuando como um pequeno partido político. Não desconheço, contudo, as opiniões de conceituados e ilustres constitucionalistas e outros juristas que defendem a extinção do sindicato. Para terminar devo dizer que, no passado, antes de assumir o cargo de PGR, designadamente enquanto fui dirigente associativo, tive sempre esplêndidas relações com anteriores líderes do sindicato, magistrados de elevado nível cultural e civilizacional.

Aceitaria que o sindicato sofresse alguma alteração e passasse a existir nos moldes de uma associação?
João Palma
- A democracia quer-se rica e participada. Os sindicatos não são uma criação do PREC. Existem sindicatos de magistrados em todas as democracias evoluídas, sobretudo naquelas onde não foi necessário um 25 de Abril pois são regimes de tradição democrática centenária. Estão previstos em convenções da ONU, pelo Conselho da Europa, e noutros instrumentos de direito internacional ratificados pelo Estado português. O problema é que alguns, poucos, políticos portugueses de nomeada que se projectaram na democracia, são democratas e republicanos mas pouco. Só quando lhes dá jeito. É bom que alguns dos mais ferozes detractores se lembrem das tentativas que fizeram de manipulação e politização do SMMP. Somos independentes, o que custa a muita gente. Vão ter que se habituar.

Meu comentário – Um sindicato, sendo uma associação para defesa de determinada classe profissional, estará sempre vocacionado para defender os interesses dessa classe, mesmo que, usando de semântica depreciativa, se queira associá-lo a lóbis.

domingo, agosto 08, 2010

António Dias Lourenço

NINGUÉM o conseguia imaginar noutra trincheira, mas se não tivesse sido militante do Partido Comunista Português, teria sido, certamente, a mesma pessoa, muito digna, afável, honesta, justa e interventiva. Tendo entregue a sua vida a uma causa nobre, como o foram a libertação do nosso país da tenaz fascista, e consequentemente, da sua classe trabalhadora, foi muito mais do que isso. Merece o respeito de um prolongado minuto de silêncio, e de alguém que lhe trace uma biografia, que sirva de lição para as gerações futuras.

Regra com Excepções

DEPOIS dos sessenta anos, andamos sempre em obras; ou nós ou a casa que habitamos.

sábado, agosto 07, 2010

O POVO Contra o Estado

ANTES de falarmos da apressada (re)privatização do Banco Português de Negócios (BPN), o POVO exige e quer saber, recorrendo a uma auditoria inteira e limpa, quanto é que foi esbulhado dos seus bolsos, para assegurar a salvação, através de uma tão obscena quanto suspeita “nacionalização” dos prejuízos, dessa alcova de banqueiros desonestos, que dava pelo nome de BPN.

Aniversário


FAZ HOJE exactamente cinco anos que este escrevinhador iniciou este blog. Antes disso, entre Outubro de 1997 e 2003 tinha andado pelo Terrávista, com um site de nome SEMENTEIRA DE ARTES, LETRAS & ETC, que passou depois para o YAHOO! GeoCities, até Julho de 2005, rebaptizado com o nome de BIBLIOTECA VIRTUAL. Em Agosto de 2005, iniciei no Blogger este ESCREVINHADOR, e desde essa data até hoje, publiquei 1.240 artigos, o que perfaz uma média de 0,67 artigos diários.
Assim continuaremos, até que a tinta ou a paciência se esgotem, e não esmoreça a fidelidade e a tolerância de quem nos lê.
Entretanto, aproveitei a passagem deste quinto aniversário par renovar visualmente o blog. Assim, deixo aqui uma palavra de apreço à tão pré-histórica quanto resistente e infalível máquina de escrever Remington, cujo teclado espreita no cabeçalho, instrumento onde ainda me cheguei a exercitar nos anos sessenta do século passado.

sexta-feira, agosto 06, 2010

Perversidades e Canalhices

HÁ UNS MESES atrás, durante a inauguração de um qualquer equipamento, lembro-me de ter ouvido José Sócrates dizer, com aquela humildade que habitualmente lhe conhecemos, que estava convencido de que tinha talento para a arquitectura. Numa primeira abordagem poderia pensar-se que aquela confissão tinha algo a ver com a sua antiga colaboração no licenciamento de umas quantas moradias de gosto duvidoso, mas não. Percebe-se agora o alcance da afirmação, quando o jornal PÚBLICO diz que, no caso Freeport, “um dos grandes enigmas por resolver é a troca dos arquitectos”, isto é, “o gabinete de arquitectos Promontório, que trabalhava há ano e meio no projecto, era dispensado e o trabalho era entregue ao atelier do arquitecto Capinha Lopes, que nessa altura participava, graciosamente, na montagem das campanhas eleitorais socialistas em Alcochete e noutros concelhos da margem sul”, decisão essa “que deixou estupefactos os altos quadros da Freeport e o gabinete de arquitectos inglês Benoy”. Foi uma mudança de planos tão radical que os investigadores nada conseguiram apurar, “tanto mais que a investigação foi encerrada por decisão hierárquica antes de ser concluída.”
Diz ainda o PÚBLICO que “a surpresa das testemunhas inglesas assenta, fundamentalmente, em três ordens de razões: o Promontório era um reputado gabinete de arquitectura, enquanto Capinha Lopes não tinha qualquer currículo naquele tipo de trabalho; o projecto estava feito e só havia necessidade de fazer pequenas alterações para o adaptar às exigências da declaração do impacto ambiental; e Capinha Lopes ia receber, para fazer esses acertos, entre o dobro e três vezes mais do que estava contratado com o Promontório.”
Como é fácil de perceber, este mundo da arquitectura, entre investigações prematuramente encerradas, bambúrrios e histórias da carochinha, está repleto de perversidades e canalhices.

A Solução é Desmantelar e Refazer

UM DOS MEUS amigos enviou-me um e-mail, escandalizado com o que se está a passar no país, em quase todas as coordenadas dos poderes. Pois é, disse-lhe eu, isto está a ficar bastante surrealista, senão mesmo imprevisível. Todos os dias temos novidades; anteontem foi a divulgação do incumprimento pela Styer do contrato de fornecimento dos veículos blindados “Pandur”; hoje é história das metralhadoras portuguesas, concebidas pelas Industrias Nacionais de Defesa (INDEP), cuja licença, estudos, protótipos e todas as máquinas-ferramentas empregues no seu fabrico, foram vendidas ao desbarato, aos E.U.A., pelo então ministro da defesa Paulo Portas, e onde agora é considerada uma arma de sucesso, ao passo que as Forças Armadas Portuguesas, para se equiparem, acabaram por ir adquirir armas ao estrangeiro. Em qualquer país decente, e não podendo mandá-los para local mais apropriado, os malfeitores da política e outra gente tenebrosa que por aí anda, já tinham sido despachados para a reforma antecipada. Cá, pelo contrário, ninguém faz nada, excepto as televisões que se sentem na obrigação de inquirir o primeiro imbecil ou advogado avençado, que fica ao alcance das câmaras e dos microfones, para que este debite umas quantas patetices, como se fosse um habilitado especialista na matéria, ao passo que quem devia ser inquirido, não o é ou recusa sê-lo. Por outro lado, todos os meliantes têm direito a tempo de antena, quase toda a gente lhes faz vénias, quase toda a gente lhes faz perguntas inofensivas, quase toda a gente assobia para o lado, parece que quase toda a gente fez as malas e foi para férias, ao passo que outros, como os Proenças, Vitalinos, Tavares, Júdices, Assis e Marinhos, interrompem as férias para virem dissertar sobre o trabalho dos Procuradores do Ministério Público, sobre os poderes da rainha de Inglaterra e sobre a honorabilidade e intocabilidade de um certo atleta-comediante-arquitecto-ambientalista-engenheiro incompleto que nós conhecemos.
Pois é, meu caro, acrescentei eu ao meu amigo, aproveitei esta maré de conflitos e tensões, e fiz uma revolução no meu blog. Parti-o em três e renovei tudo. Entretanto, os meninos mal comportados do costume, continuam a andar por aí à solta.