NO PRIMEIRO dia de 2013, o Presidente Cavaco Silva, com mais de um ano de atraso, e depois de ter andado a repetir, com alguma insistência, que estava atento e não era pressionável, veio fazer-nos queixinhas do Governo. Falou do quão negativo seria renegociar a dívida ou rasgar o memorando, mas não sugeriu alternativas, falou da espiral recessiva, mas não apontou como revitalizar a economia, falou da situação social insustentável, mas nada fez para a evitar, falou do círculo vicioso da austeridade que falhou, mas deixou-a rolar à desfilada, falou das fundadas dúvidas sobre a equidade dos sacrifícios, mas até promulgou um Orçamento de Estado, inconstitucional e irrealizável, permitindo que o governo continue a espatifar o país, e achando que um mal maior era não haver orçamento, desacreditando-nos no plano externo. Diz que temos que bater o pé à Europa, mas ninguém acredita nisso.
Quem o ouviu é natural que tenha deixado perguntas no ar. Então e durante os dez anos em que Cavaco foi chefe do governo, mais os sete que leva como Presidente da República, não se passou nada? Quem deu cobertura a que fosse desmantelado o tecido económico do país, com a liquidação das pescas, da agricultura e de grandes fatias da indústria, fazendo do país um grande centro comercial de produtos importados da "europa connosco"?
Não sei o que é pior, se este choradinho de lágrimas de crocodilo, se as abstenções violentas do PS (partido Seguro), dando passagem e premiando a governação incendiária dos próceres Coelho e Portas. Em resumo: o homem que não tinha dúvidas e nunca se enganava, veio dizer, com largos meses de atraso, que isto assim não pode continuar, que é tempo de inverter o curso da governação, ao mesmo tempo que apela à nossa corajem e espírito de sacrifício, e continuando a querer sol na eira e chuva no nabal.
Não sei se podemos extrair disso algum significado, mas apercebi-me que a sua mensagem foi gravada com dois cenários distintos; um com bandeira a ombrear o excelentíssimo discursante, e outra sem bandeira. É caso para perguntar: onde pára a bandeira? Será que a meio da mensagem também decidiu emigrar?
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