quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Quem é que disse que não há OPOSIÇÃO?


Intervenção de Bernardino Soares (PCP) na Assembleia da República, na interpelação ao Governo n.º 25/X sobre a "Situação social, desemprego e pobreza", em 4 de Fevereiro de 2009

Senhor Presidente,
Senhores Deputados,
Senhores Membros do Governo,

A profunda crise internacional em curso tem sido alvo das mais extraordinárias tentativas de explicação por aqueles que são responsáveis por ela. Mas a realidade é clara. Trata-se de uma crise de sobreprodução do capitalismo, na sua versão neoliberal, com todo o seu cortejo de miséria, exploração e desigualdades.

Podem agora culpar os excessos da ganância de alguns, a falta de regulação do sector financeiro, o crédito fácil, procurando assim manter o essencial do sistema. Mas a verdade nua e crua poderá resumir-se adaptando uma famosa frase: é o capitalismo, estúpido.

Cá entre nós assistimos agora aos pungentes discursos do primeiro-ministro a renegar o neoliberalismo (e também o socialismo não vá o povo ter ideias), dizendo que esse modelo não é o seu.

Quem foi que privatizou empresas e serviços públicos em maior número do que o governo da direita? Quem foi que reviu para pior o código do trabalho que tinha prometido rever para melhor? Foi o Governo PS.

Mas ainda assim, se o governo estivesse mesmo empenhado em renegar o neoliberalismo, descontada a hipocrisia política, ainda o povo podia ter alguma esperança. O pior é que o governo renega o neoliberalismo nas palavras, mas propõe-se continuá-lo nos actos: aí estão mais privatizações, o código do trabalho, na destruição dos serviços públicos e a promessa de retomar o espartilho da obsessão do défice.

É mais do mesmo! O governo promete para o futuro a mesma política que praticou no passado e que pratica no presente.

Claro que agora o Governo tenta esconder-se atrás da crise internacional, que é real e afecta de facto o nosso país. Depois de ter andado a dizer que a crise não existia, ou que não iria afectar Portugal, de repente tudo passou a ser causado por ela. Mas a verdade é que a crise nacional já existia antes da crise internacional. O PS e o Governo têm de ser responsabilizados por isso.

No mandato do Governo PS, todos os principais indicadores económicos e sociais pioraram. E isto mesmo antes do rebentar da crise.

O crescimento do PIB entre 2005 e 2008 foi de apenas metade dos países da zona euro.

O investimento público recuou fortemente nos últimos quatro anos - cerca de 15% em termos nominais.

A dívida pública aumentou 25 mil milhões de euros desde 2004, ultrapassando já 65% do PIB (e isto antes do impacto das medidas recentes), enquanto o endividamento externo líquido do país aumentou mais de 30 p.p desde 2004, devendo estar a atingir 100% do PIB, o que faz de Portugal um dos países mais endividados do mundo.

Até ao final do terceiro trimestre de 2008 só tinham sido criados em Portugal pouco mais de 32 mil postos de trabalho, apesar de o Governo incluir descaradamente nas suas estatísticas mais 70 mil que correspondem a portugueses que trabalham no estrangeiro, designadamente em Espanha.

Aumentou drasticamente a precariedade, com um quarto dos trabalhadores contratados a prazo, para além do tempo parcial, do trabalho temporário dos falsos recibos verdes entre outras formas.

O endividamento das famílias e das empresas aumentou desde 2005 respectivamente 78% para 91% e de 91% para 107% do PIB.

Enquanto quase dois milhões de portugueses vivem com um rendimento inferior a 366 euros/mês, especialmente idosos e desempregados, os cinco maiores grupos financeiros aumentaram, entre 2004 e 2007 em 75% os seus lucros e os lucros, antes de impostos, do sector bancário aumentaram nos últimos três anos 160%.

E nada disto se justifica com a crise internacional.

Este Governo é por isso o principal responsável pela situação que o país vive. A sua obsessão pelo défice à custa de cortes cegos na despesa pública destruiu a economia, degradou os rendimentos dos portugueses. E agora nem défice controlado nem resposta à crise.

A crise nacional está a atingir fortemente os portugueses. São os sistemáticos encerramentos de empresas, o lay-off, os salários em atraso, a destruição de direitos a pobreza e o enorme flagelo do desemprego.

Com a destruição do tecido económico, teremos pelo menos uma taxa efectiva de desemprego de 11%, mais de 100 mil desempregados. O governo é em boa parte responsável por estes números, não só devido à sua política económica, mas também pela sua acção directa.

O escândalo é total quando é o próprio Governo que decide, perante o aumento do desemprego para níveis inéditos desde há 30 anos, alterar as regras do subsídio de desemprego excluíndo dele centenas de milhares de trabalhadores, mais de metade do desemprego efectivo. Entretanto, entre o orçamento de 2007 e o de 2009, o Governo poupou 400 milhões de euros na verba para esta prestação.

O PS rejeitou há poucos dias um projecto do PCP de alteração das regras do subsídio, para permitir o seu acesso a mais trabalhadores. O Governo continua a não ter qualquer resposta credível nesta matéria. As medidas que apresentou na segunda-feira, tirando os novos gabinetes que daqui a uns meses começarão a funcionar, repetem descaradamente, com um novo grafismo e um recauchutado ar de novidade, aquilo que o Governo já tinha anunciado há dois meses atrás e teimam em não intervir nos problemas fundamentais das regras do subsídio de desemprego.

O subsídio de desemprego é bem o exemplo de que o Governo não tem respostas para esta crise.

O Governo não tem resposta para os reformados, que continuam com pensões de miséria, cujas actualizações são indexadas ao crescimento do PIB. Não tem respostas de fundo para as pequenas e médias empresas que continuam a ser massacradas pelos custos da energia e pelo oportunismo da banca que absorve o fundamental das linhas de crédito. Não tem resposta para as famílias com salários cada vez mais degradados e que tardam em ver chegar ao seu bolso a repetidamente anunciada baixa das taxas de juro, que continua no fundamental a ser embolsada pela banca. Não tem resposta para a crescente dependência financeira, comercial, energética, alimentar do nosso país.

O Governo não tem resposta para os portugueses. Nem para os que estão no desemprego ou na reforma, nem para os que têm emprego que vão sofrer as tentativas de compressão dos seus direitos laborais e com a precariedade.

Estamos a assistir a um conjunto de despedimentos, lay-off, e outras medidas restritivas dos direitos e dos salários, que não podem na sua totalidade justificar-se com a crise. Como a CGTP já denunciou, há muito quem esteja a aproveitar a interiorização da crise, para tomar inaceitáveis medidas contra os trabalhadores, perante a passividade do Governo e a falta de meios a que o Ministro do Trabalho condenou a inspecção laboral.

Só para a banca é que o Governo tem resposta. Entre o 3º trimestre de 2007 e o 3º trimestre de 2008, já em plena crise económica internacional, os lucros dos cinco principais grupos financeiros nacionais atingiram os 1,4 mil milhões de euros (para além dos 2,1 mil milhões dos principais grupos económicos nacionais dos sectores da energia e telecomunicações - EDP, REN, GALP Energia, PT e ZON).

Apesar disto, para a banca não tem faltado o dinheiro, entregue sem contrapartidas e garantias, nem para o Estado, a economia, e as famílias. E quando no mundo se começa a falar na solução do "bad bank", o que vemos é que é nisso que o Governo PS está a transformar a Caixa Geral de Depósitos. É que já lá vão 1800 milhões de euros enterrados no BPN, 3 vezes e meia mais do que o Governo anuncia gastar no já referido programa de apoio ao emprego.

O Governo não tem respostas para a crise. Mas o PCP tem!

Depois das 7 medidas apresentadas em Junho, avançamos agora com um conjunto de propostas essenciais para enfrentar a situação actual.

O aumento dos salários, das pensões e das prestações sociais, a revisão das normas mais gravosas do código do trabalho e da administração pública, a fiscalização rigorosa das violações e limitações dos direitos dos trabalhadores, o combate à precariedade, a reposição dos níveis de capitalização da segurança social, o congelamento dos preços da energia, das telecomunicações e das portagens, a fixação de limites às margens e taxas da banca facilitando o acesso ao crédito, o aumento do investimento público em particular através das autarquias, a defesa da produção nacional, a eliminação do PEC e uma maior extensão da aplicação do "IVA de caixa", o pagamento das dívidas do Estado às pequenas empresas e o cancelamento das privatizações, são algumas das medidas que avançamos.

A solução para os problemas do país não está no continuísmo de direita da política deste Governo. Está na ruptura com esta política cada vez mais urgente se quisermos enfrentar a crise nacional e internacional. Este Governo tem demonstrado que não sabe e não quer fazer a política necessária ao país.

Mas os portugueses sabem e hoje mais uma vez se demonstra, que podem contar com o PCP para travar a batalha do desenvolvimento e da justiça social.

Disse.

Intervenção de Agostinho Lopes (PCP) na Assembleia da República, na interpelação ao Governo n.º 25/X sobre a "Situação social, desemprego e pobreza", em 4 de Fevereiro de 2009

Senhor Presidente,
Senhores Deputados,
Senhores Membros do Governo,

A destruição do tecido económico nacional

A crise (do sistema capitalista), em plena expansão no País e no mundo, é para alguns um momento de reforço da intervenção virtuosa do mercado. Do que chamam a «destruição criadora» do mercado.

De facto, ela evidencia, põe a nu, desmantela alguns dos dogmas mais persistentes do neoliberalismo como ideologia do capitalismo nos tempos que vimos atravessando.

O dogma do mercado, como lugar de plena igualdade dos agentes e unidades económicas. Como é visível na diferença com que os governos e Estados respondem aos problemas das empresas, salvando as grandes e, fundamentalmente, as do grande capital nacional e estrangeiro, e deixando afundar as pequenas. Como é visível pela constatação de um ex-ministro das Finanças e prática do governo ao defender a intervenção pública no BPN e BPP. Assim, no sector bancário português, por exemplo, nenhuma unidade poderá falir. Todos são susceptíveis de risco sistémico e de criação de problemas aos depositantes e accionistas. E assim se liquida o «risco» que seria um elemento nuclear dessa (e de toda) actividade empresarial privada.

O dogma da excelência da gestão privada sobre a gestão pública. Quando o banqueiro vai para a cerimónia de apresentação do livro que descreve o sucesso da sua gestão, já o sucesso corria apressado atrás da garantia do Estado para a sua sobrevivência. Ou o caso da Aerosoles, onde é já uma maioria do capital público a assegurar a sobrevivência da empresa. Ou os milhares de milhões de fundos comunitários e nacionais, e benefícios fiscais a garantirem a manutenção de parte dos postos de trabalho em importantes unidades de grupos multinacionais.

O dogma da privatização e liberalização do mercado, na sequência dos anteriores, como garantia da eficiência da produção de bens e serviços, e logo, de baixos preços desses produtos, em geral essenciais e estratégicos. Olhemos para as tarifas de combustíveis, energia eléctrica, telecomunicações (a vodafone não acredita no 1,2% do PEC e ontem anunciou um aumento de 2,5%!).

A crise é também o tapete para debaixo do qual o Governo PS tenta varrer as suas responsabilidades pelo (mau) estado a que o País chegou, o mau estado em que nos encontramos para fazer face aos impactos externos. Bem podem o governo e o primeiro-ministro esbracejar à procura de «um antes da crise», em que tudo corria no melhor dos mundos, e «um depois da crise» em que todas as calamidades nos caem em cima por força da crise internacional. Não o permitem os elevados e dramáticos indicadores do desemprego, precariedade, pobreza, desigualdades sociais e regionais em 2008. Não o permitem os níveis de endividamento das famílias, das empresas não financeiras e do País. Níveis de endividamento que não cessaram de se agravar durante a legislatura e que são dos maiores da União Europeia.

A crise é ainda o tapete sob o qual o primeiro-ministro pretende sepultar o seu neoliberalismo persistente e impenitente. Bem pode o primeiro-ministro escrever moções exorcizando o neoliberalismo que, enquanto a sua prática governamental for de privatização, liberalização, obediência ao PEC e obsessão pelo défice orçamental, de despedimento dos trabalhadores da Administração Pública que culpa dos males do País, nada nem ninguém o poderá absolver. Neoliberalismo persistente e consistente nas receitas e respostas para a crise, centrando-a sobre a protecção dos bancos (ou melhor, dos banqueiros) e, fundamentalmente, na aceitação da força de trabalho como principal, quando não única, variável de ajustamento das contradições e impactos da crise. Liquidação de postos de trabalho e desemprego. Redução do tempo de trabalho / lay-off. Degradação das condições laborais. Ver código de trabalho.

Mas o PS e Sócrates não estão sozinhos nas responsabilidades pelas dificuldades e problemas com que o País enfrenta a crise. Nas responsabilidades pela profundidade e dimensão com que a crise golpeia o tecido económico e social do País.

A crise faz vir ao de cima os défices, estrangulamentos, perda de alavancas económicas e de gestão governamental, de 34 anos de políticas de direita.

A crise faz «explodir» os problemas de um País com uma economia dominada por um grupo de monopólios privados em sectores e áreas estratégicos para o País. (Os que condenaram os monopólios públicos do Sector Empresarial do Estado estão agora silenciosos perante os monopólios privados que capturam parte substancial do valor acrescentado produzido no País por trabalhadores, pequenas empresas, sector produtivo). Dos problemas de uma estrutura económica, dependente e subcontratada, fragilizada na sua estrutura produtiva, assente ainda num modelo de baixos salários e reduzido valor acrescentado. Isto depois de 50 mil milhões de fundos comunitários e mais de 33 mil milhões de receitas de privatizações!

Os acontecimento com a Qimonda, onde o Estado Português terá entrado com 500 M€, qualquer que seja o seu desfecho; o que poderia ser e acontecer na AutoEuropa; o elevadíssimo nível de subcontratação em sectores como o do vestuário, onde uma subcontratante tem presas por frágeis fios dezenas de PME e milhares de postos de trabalho, evidenciam os riscos que o País enfrenta. O que não significa pôr em causa a importância desses investimentos, mas apenas relevar o erro do afunilamento, via mecanismos de dependência, de uma economia em unidades empresariais estratégicas subordinadas ao capital multinacional. O erro de um Estado que fica à mercê das chantagens desse capital.

A crise veio igualmente recentrar a atenção e, sobretudo, preocupação em torno dos sectores produtivos e da produção material. Os alarmes surgidos com o galopar dos preços das matérias-primas agro-alimentares e do petróleo bruto no primeiro semestre de 2008, já uma evidente consequência na economia real da brutalidade da crise financeira em curso (que só o governo Português não via), foram um primeiro sinal de uma questão crucial para o País.

Os 34 anos de políticas de direita a que o governo PS/Sócrates deu uma continuidade num patamar nunca alcançado - patente na privatização da rede de infra-estruturas que são monopólios naturais - representaram um profundo, e em alguns casos irreversível, fragilizar do tecido produtivo nacional.

Quando hoje, a propósito de vultuosos investimentos públicos, sejam dos aviões da TAP, das barragens ou do TGV, se levanta o problema das contrapartidas dos possíveis fornecedores de equipamentos para alavancar a indústria, o I&D, a produção nacional, inevitavelmente tem de ser recordada a liquidação pelas políticas de sucessivos governos, da metalomecânica pesada portuguesa, das competências e know-how de gerações de trabalhadores e técnicos, possível base de conhecimento, execução e produção dessas estruturas. Tem que ser recordada a liquidação da Sorefame, da Mague, da Cometna, da Equimetal, da Mompor, da Sepsa. Ou da Siderurgia, na sua antiga configuração, quando ainda tinha o trem de perfis pesados com capacidade para produzir (e produziu muito) carril para caminho-de-ferro, capacidade que perdeu com a privatização. Ou dos processos de sucessivas «reestruturações» empresariais do sector energético nacional, que não só atrasaram investimentos e a sua modernização, como desembocaram no mercado oligopolizado que conhecemos, penalizando consumidores e empresas com elevadas tarifas e preços da energia.

Mas não pensemos que tudo isto é obra de um período longínquo, que já lá vai. Não, uma das quatro reestruturações do sector da energia é trabalho do actual governo. Com a quase total e completa entrega ao sector privado e a capital estrangeiro de importantes posições.

Não, o processo em curso na ex-Siderurgia Nacional, na vertente aços planos é o da sua transformação em grande armazém / entreposto comercial para a Europa dos produtos siderúrgicos produzidos noutras empresas da multinacional brasileira CSN. O que foi acontecendo em 2007 com o desmantelamento da linha de produção de folha-de-flandres, agravando a dependência do mercado espanhol. Em Abril de 2008 com a linha do laminado a frio, ficando a produção limitada à chapa galvanizada. Tudo acompanhado pelo despedimento de dezenas de trabalhadores, e que agora culminou com a suspensão / lay-off dos contratos de 179 trabalhadores (dos 194) durante 3 meses! Não serão já aços planos relaminados a frio, produzidos em Portugal que vão ser aplicados em unidades portuguesas do sector automóvel, construção civil, electrodomésticos ou produção de latas e embalagens! Aliás, agora as instalações da empresa estão em boas condições para servir de armazém, instalada que está a ligação ferroviária entre as instalações siderúrgicas e o nó de Coina, 15 milhões de euros de dinheiros públicos. O governo não só se mantém impassível perante este processo, como resolveu, em fins de Dezembro, a privatização de 10% da posição pública da SN - Empresa de Produtos Longos S.A., entregando totalmente este sector à espanhola Megasa!

Na actividade agrícola são muitas as consequências destrutivas da política do governo PS. Poderíamos falar dos riscos para a produção leiteira do ámen do governo à liquidação das quotas leiteiras em Bruxelas ou da sua complacência perante o abuso da posição dominante pelas cadeias de distribuição na comercialização (60 milhões de litros em stock). Poderíamos falar dos mais de 200 mil hectares dedicados à produção de cereais em risco, dos cerca de 350 mil que ainda restam. Poderíamos falar da política de destruição dos poucos solos agrícolas de boa qualidade que o País possui com os PIN ou com plataformas logísticas, como as da Trofa e Castanheira do Ribatejo, que vão ocupar centenas de hectares dos 4,5% de solos muito férteis. Certamente para pôr a cereja em cima do bolo, o governo acabou de aprovar uma recente alteração do regime da RAN! Poderíamos falar das ameaças que pesam sobre o olival tradicional, com o fim das ajudas do governo e de medidas agro-ambientais adequadas.

Uma palavra, para falar da liquidação da produção de açúcar a partir da beterraba sacarina produzida em Portugal. Depois de anos e anos de resistência das indústrias de refinação, em 1993 avançou em Coruche a fábrica que começou a laborar em 1997 beterraba sacarina produzida nos campos do Sorraia. Uma significativa mais valia para a agricultura ribatejana e alentejana e para o País. Em 2007, com a reforma da OCM do açúcar, perante a passividade do Governo Português, a quota portuguesa de açúcar passou de 70 mil para 34 mil, inviabilizando a unidade fabril. Hoje produz com recurso à importação das ramas de cana de açúcar. O País perdeu duas vezes, no agravamento do défice da balança comercial, no fim de uma importante alternativa de produção agrícola.

São estes, entre muitos outros exemplos, os resultados das políticas de direita. A fragilização do tecido produtivo nacional.

Outro caminho é possível. Com a ruptura com as políticas de direita. Com uma política virada para os interesses dos trabalhadores, do povo, do País!

Disse.

Intervenção de José Alberto Lourenço (PCP) na Assembleia da República, na interpelação ao Governo n.º 25/X sobre a "Situação social, desemprego e pobreza", em 4 de Fevereiro de 2009

Sr. Presidente
Sr. Ministro do Trabalho
Senhoras e Senhores Deputados

Hoje já ninguém duvida no nosso país de que existem dois pesos e duas medidas na forma como o Governo apoia o sector financeiro e as outras empresas e famílias, através dos recursos que disponibiliza para uns e outros enfrentarem a crise profunda que vivemos.

Se é verdade que o Sector Financeiro não se pode queixar, antes pelo contrário quase que podemos dizer que tem sido conduzido ao colo pelo Governo.

Foram os 20 mil milhões de euros de avales que o Estado disponibilizou para garantirem o seu financiamento no exterior, foram os 4,5 mil milhões de euros aprovados para reforço do capital do sector, foi a intervenção do Estado na nacionalização do BPN que já custou cerca de 1,8 mil milhões de euros à CGD, foi a intervenção no BPP em que o Estado foi o garante de um empréstimo da Banca na ordem dos 600 milhões de euros.

O mesmo não podem dizer as restantes empresas do sector não financeiro e as famílias. Todos temos acompanhado a forma como as suas condições de financiamento se têm agravado nos últimos tempos.

Se é verdade que a Euribor tem vindo a baixar de dia para dia, aproximando-se finalmente da taxa de referência do BCE, também é verdade que a subida dos spreads que a Banca cobra às empresas e às famílias nas novas operações de crédito, mais do que tem compensado aquelas descidas.

Vemos, ouvimos e lemos que a Banca cobra hoje spreads de 7% a PME´s que necessitam de financiamento como de pão para a boca para sobreviverem.

Vemos, ouvimos e lemos que a Banca cobra spreads de 3% a famílias jovens que necessitam de adquirir a sua habitação para viverem e temos conhecimento de Bancos que nas claúsulas dos contratos de empréstimos à habitação que assinam com as famílias, incluem preto no branco, uma alínea que diz que se as condições de mercado se agravarem pode o Banco aumentar o spread da operação contratada.

É caso para dizer que é um fartar de vilanagem de um sector, o sector financeiro, que estando em crise teve até ao final do 3º trimestre de 2008, 1548,9 milhões de euros de lucros líquidos e que entre 2003 e 2007 teve de apoios financeiros não reembolsáveis 1537,6 milhões de euros.

Perante tudo isto, Sr. Ministro que medidas pensa o Governo tomar para obrigar a Banca que se tem financiado a taxas mais favoráveis com os avales do Estado, a colocar todas as disponibilidades financeiras ao serviço das empresas e famílias e não as aproveite a seu belo prazer e para resolver os problemas que criou com aplicações ruinosas ao longo dos anos. Mais ainda, que medidas pensa o Governo tomar para que a Banca não pratique com o dinheiro de todos nós spreads que tornam impossível às famílias e às empresas aceder ao Crédito.

Já agora o Governo que foi tão lesto a meter a Caixa Geral de Depósitos, o Banco Público, neste buraco que é o BPN, não acha que é altura de utilizá-la para regular os spreads praticados pela Banca? Forçando através de uma política agressiva de taxas de juro mais baixas, os outros Bancos a segui-la, sob pena de perderem mercado?

Disse.

Intervenção de Jorge Machado (PCP) na Assembleia da República, na interpelação ao Governo nº 25/X sobre a "Situação Social, Desemprego e Pobreza", em 4 de Fevereiro de 2009

Senhor Presidente,
Senhores Deputados,
Senhor Ministro

É inacreditável que consiga, neste debate, quando o País é confrontado com notícias diárias de despedimentos e encerramentos de empresas, consiga afirmar que o desemprego baixou.

Face a este cenário de profunda crise explique lá como é que o Código de Trabalho ajuda a resolver o problema.

Em vez de proteger quem trabalha, garantir direitos, aumentar salários, o Governo insiste num Código de Trabalho que aumenta a exploração, aumenta a precariedade reduz direitos, facilita despedimentos ataca a contratação colectiva com efeitos desastrosos e reduz os salários por via do não pagamento de horas extraordinárias.

O Governo com este Código de Trabalho traz mais crise à crise.

Nada resolve. Antes agrava o problema.

Veja-se o aproveitamento descarado da crise por parte de alguns empresários para cometer ilegalidades.

Centenas e centenas de empresas que aproveitam a crise para reduzir salários, promover despedimentos (individuais e colectivos), falências fraudulentas, salários em atraso.

É a lei da selva.

Centenas de empresas a aplicar o banco de horas e a lay-off, empresas que recebem avultados apoios públicos para depois despedirem trabalhadores, deslocalizações abusivas e falências de duvidosa legalidade.

Senhor Ministro, um exemplo entre muitos, entre centenas de exemplos possíveis.

O exemplo da Corticeira Amorim.

Mais de 10 milhões Euros de lucros, nos primeiros nove meses de 2008, para agora promover um despedimento colectivo de cerca de 200 trabalhadores.

Isto tudo sem a intervenção eficaz da Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT). Os 100 novos Inspectores há muito tempo prometidos e ainda não concretizados já não chegam e é preciso um reforço urgente dos quadros.

É preciso um plano de emergência, como o PCP já propôs há muito tempo, para responder a estes abusos.

O cenário cor-de-rosa que traçou da actividade da ACT não corresponde à realidade, a ACT não responde a muitas solicitações e em vez de punir tenta sensibilizar o patronato.

Senhor Ministro que medidas vai tomar para combater os abusos e as ilegalidades levadas a cabo pelo patronato?

Disse.

Intervenção de António Filipe (PCP) na Assembleia da República, na interpelação ao Governo n.º 25/X sobre a "Situação social, desemprego e pobreza", em 4 de Fevereiro de 2009

Senhor Presidente,
Senhoras e Senhores Deputados,

Chegamos ao fim desta Interpelação com a convicção de que este Governo é absolutamente incapaz de enfrentar a grave crise com que o país se debate.

Em cada dia que passa, sucedem-se as notícias de empresas que fecham, de trabalhadores que são despedidos, de patrões que se aproveitam da crise para encerrar empresas e fazer despedimentos selvagens. Em cada dia que passa, todos sentimos que a crise se agrava vertiginosamente, que o desemprego e a pobreza alastram, que se avizinha a mais grave crise social que o nosso país alguma vez conheceu nos últimos 35 anos.

O PCP trouxe hoje a esta Assembleia a realidade com que o país se confronta. O retrato real do que país que somos, não é o que transparece da despudorada propaganda do Governo ou do discurso oficial desta maioria em que já ninguém acredita. O que hoje marca o quotidiano do nosso país é o desemprego e o trabalho precário e sem direitos, são os trabalhadores dispensados da função pública, são as empresas a encerrar ou a suspender a actividade, são os salários em atraso, são os despedimentos a pretexto da crise. Só no passado mês de Janeiro, a falência de 80 empresas lançou 11 mil trabalhadores no desemprego, 354 por dia.

O Governo e a maioria acusam-nos a nós, que cumprimos o nosso dever de trazer a esta Assembleia os reais problemas do país, de acusar o Governo daquilo que o Governo não tem culpa. A culpa é da crise internacional, é do estado do tempo, é porventura dos partidos da oposição, é de tudo e de todos; só o Governo não tem culpa de nada. Este Governo que tanto se auto-elogia de fazer tanto de bom para o país, recusa qualquer responsabilidade em tudo o que no país corre mal. Isso não é sério. Um Governo que quer ser respeitado, tem de assumir, para o bem e para o mal, as responsabilidades da sua governação.

Os trabalhadores, os reformados, os jovens sem perspectivas de emprego digno, as camadas sociais mais desfavorecidas do nosso país, sofrem as consequências de mais de 30 anos das mesmas políticas, que não resolvem os problemas do país, que agravam as desigualdades sociais e que degradam as condições de trabalho e de vida da grande maioria dos portugueses.

Ao longo destes anos, Governos PS, Governos PSD, Governos PS/PSD, Governos PS/CDS e Governos PSD/CDS, mais não fizeram do que aplicar no nosso país a cartilha neo-liberal, do endeusamento do mercado livre, da suposta superioridade da gestão privada sobre a gestão pública, das privatizações de empresas e serviços públicos, de sucessivos pacotes de leis laborais à medida dos interesses do patronato e de destruição sistemática dos direitos dos trabalhadores, de liquidação sistemática das conquistas e dos valores da revolução de Abril, sempre em nome da modernidade, sempre em nome da suposta inevitabilidade de um modelo económico e social que entrou em colapso e cuja falência ameaça deixar atrás de si um rasto terrível de desemprego e miséria.

A diferença entre os partidos que têm governado o país nos últimos 35 anos é que, se uns dizem mata, os outros dizem esfola. Particularmente nos últimos anos, os trabalhadores portugueses têm sido asfixiados pela obsessão do défice. Os salários reais reduzem-se sistematicamente há oito anos consecutivos. Destroem-se os direitos dos trabalhadores. Degradam-se as condições de reforma e de aposentação. Degradam-se, encarecem e encerram os serviços de saúde. Degradam-se as condições de assistência dos trabalhadores na doença e na sinistralidade laboral. Descaracteriza-se a escola pública. Encarece e torna-se impossível, para muitos, o acesso à Justiça. E, no fim de tudo, voltamos à estaca zero e nem sequer se reduziu o défice.

Depois de ter sido solenemente prometida a criação de 150.000 postos de trabalho, o saneamento das contas públicas, e o melhoramento das condições de vida, os portugueses continuam confrontados com uma política que falhou clamorosamente e com um Governo que dá hoje de si a imagem de uma total desorientação e de uma total incapacidade para resolver os problemas do povo e do país.

Com o desemprego a aumentar todos os dias e com todos os indicadores económicos a fazerem soar os sinais de alarme, a única resposta que o Governo tem para dar é a repetição de anúncios de medidas que não têm qualquer impacto significativo em face da gravidade da situação que o país atravessa.

A recente afirmação do senhor ministro das Finanças que não há GPS que nos valha, que a única solução é tentar ver estrelas, e que nem isso é possível com um céu tão nublado, é a confissão absoluta de que o país está ser conduzido quem não vê um palmo à frente do nariz.

A resposta do Governo e da maioria perante as preocupações que aqui expressámos e que são as preocupações que hoje assaltam os portugueses, é bem a demonstração da arrogância e do desespero. Um Governo e uma maioria de quem os portugueses já nada esperam, limitam-se hoje a ostentar a arrogância de ainda serem maioria e não sabem fazer mais que criticar a oposição. O Governo e a maioria limitam-se a oferecer ao país mais do mesmo, insistem na bondade das políticas que afundaram o país na crise, recusam sistematicamente as propostas do PCP que representariam uma real ruptura com essas políticas e ainda se permitem acusar a oposição de não ter propostas e de não ser alternativa ao actual Governo.

Senhor Presidente,
Senhoras e Senhores Deputados,

A crise global por que o sistema capitalista está a passar não caiu do céu nem é um fenómeno inevitável da natureza. Esta crise é o resultado, esse sim, inevitável e previsível, de um sistema económico que sacrifica tudo à ânsia do lucro, que impõe a acumulação da riqueza à custa da exploração e da miséria, e que transformou as últimas décadas numa orgia de especulação e de verdadeiro banditismo económico e financeiro, cujos resultados começam agora a estar tragicamente à vista.

Agora porém, aqueles que foram os maiores defensores, executores e beneficiários destas políticas, aqueles que tanto mal disseram do Estado e da gestão pública, pretendem agora que seja o Estado, com o dinheiro dos contribuintes e sempre à custa dos trabalhadores, a suportar os custos das malfeitorias que fizeram, que deixaram fazer e que sempre defenderam que se fizesse.

O Estado que não tinha dinheiro para aumentar salários e pensões, que não tinha dinheiro para investir na saúde, na educação, na segurança social e no bem-estar das pessoas, tem agora todo o dinheiro do mundo para salvar os bancos da falência. Num momento em que a crise se agudiza, a economia entra em grave recessão, e os trabalhadores perdem os empregos, a preocupação dos governos, português incluído, não é criar condições para que as pequenas e médias empresas sobrevivam, apoiar os sectores produtivos, ou aumentar o apoio social aos desempregados, mas antes usar o dinheiro dos contribuintes para comprar aos bancos o "lixo tóxico" que os próprios produziram e que não vale hoje rigorosamente nada.

As empresas e as famílias que ao longo destes anos têm sido obrigadas a engordar os lucros fabulosos do sector financeiro à custa dos juros altos e do garrote do endividamento, são agora obrigadas a entrar com o dinheiro com que os governos pretendem salvar os seus espoliadores da falência. A dita nacionalização do BPN, destinada exclusivamente a usar a banca pública para tapar um buraco que já se estima em 1800 milhões de euros, é um insulto a todos os portugueses que vivem do seu trabalho ou que vivem com as magras reformas que auferem ao fim de uma vida de trabalho.

Os governos demonstram assim que continuam a estar do lado de quem sempre estiveram. As supostas medidas de combate à crise não visam ajudar as empresas e as famílias a superar as dificuldades com que vão sendo cada vez mais confrontadas, porque o seu objectivo fundamental não é combater a crise económica, mas salvar os lucros da banca e os privilégios dos banqueiros à custa dos mesmos de sempre, à custa de quem trabalha, à custa dos que menos têm e menos podem e que não têm nenhuma responsabilidade na falência dos bancos.

O PCP, ao fazer esta interpelação ao Governo e ao avançar com um conjunto de propostas que visam de facto combater a profunda crise que o país atravessa, pretende deixar uma mensagem muito clara a todos os portugueses, a de que este Partido não se resigna com as injustiças, não aceita que o desemprego e a pobreza que crescem neste país sejam uma fatalidade e não vira a cara à luta, por maiores que sejam as dificuldades. Os portugueses sabem, nos momentos difíceis, quem são aqueles com quem podem realmente contar.

Disse.

Meu comentário: E com isto tudo, ainda há quem diga que não há OPOSIÇÃO.

terça-feira, fevereiro 03, 2009

A Arte de Enganar

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Assistimos ontem a mais um “prós e contras” lamentável, a insistir na tese das “forças ocultas” como principal suspeito do caso Freeport, ao mesmo tempo que os agentes judiciários “violadores de segredos de justiça” e os jornalistas eram eleitos como os tenebrosos sacerdotes desta inqualificável missa negra, alimentada com hóstias diárias de pura e dura difamação. Nem as polícias e as cartas rogatórias da “pérfida Albion” escaparam. E até houve quem concluísse que se não há suspeitos, e ao mesmo tempo continuam a publicar-se notícias sobre o assunto, isso é prova suficiente de que há intenção de caluniar o primeiro-ministro.
Pior é impossível! Salvo raras e competentes excepções, que se encarregaram de desmontar o encobrimento, pôr o dedo na ferida e de “chamar os bois pelos nomes”, os restantes convidados são grandes talentos que usam e abusam do detergente que lava mais branco. Para o cenário ficar perfeito, faltou apenas ser convidado o senhor Vital Moreira, para engrossar a equipa dos “prós”. A cereja em cima do bolo foi a teimosia com que a apresentadora Fátima Ferreira flagelou insistentemente os seus convidados e o público em geral, em tom enfático, urgente e quase patético, com aquela pirosa e estafada pergunta de algibeira, que denuncia o intuito de pretender colocar uma pedra sobre o assunto: “então e agora o que é que vamos fazer?”. Se por ali andasse o Pedro Abrunhosa, certamente teria respondido com todas as letras e a adequada prontidão.

segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Uma Fábula para Reflectir

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Esta história começou como uma anedota contada à mesa do almoço, pelo meu amigo Joaquim Guerreiro. Achei que merecia transformá-la numa fábula, com algumas leituras susceptíveis de serem aplicadas aos comportamentos humanos.

Um Lavrador tinha o desejo inusitado de possuir um cavalo. Os tempos eram de crise, mas ele, sempre obcecado com a ideia de possuir o tal cavalo, um belo dia na feira de S. Januário, ficou com o olho pregado num alazão bonitão, que estava à venda. Enamorado do corcel, regateou o preço, empertigou-se, mas não resistiu, acabando por puxar das notas de conto e trazer para a Quinta o seu cobiçado Cavalo.
O Cavalo mordido de saudades do antigo estábulo e de velhas companhias, ensimesmou, deixou de comer e de beber, deitando-se na palha à espera de melhores dias. O Lavrador, visita quotidiana daquela ambicionada paixão, apoquentou-se com a postura do Cavalo e correu a chamar o Veterinário.
- O animal não está bem; precisa de levar 3 injecções, prescreveu o doutor.
Aplicada a primeira injecção o Cavalo não reagiu, mantendo-se deitado nas palhas, indiferente a tudo e a todos. Pela tardinha, o Porco que a tudo tinha assistido de longe, escapuliu-se da pocilga, veio até à beira do doente e disse:
- Oh Cavalo, anima-te, põe-te de pé! Se não reagires o Lavrador e o Veterinário mandam-te abater, sabias?
O Cavalo não quis saber. Veio o segundo dia, chegou o Veterinário, tirou-lhe a temperatura, torceu o nariz para o Lavrador, deu-lhe a segunda injecção e desandou.
À hora da sesta o Porco voltou ao estábulo, abeirou-se do Cavalo e segredou-lhe ao ouvido:
- Oh Cavalo, não desistas, olha que depois da terceira injecção, se não reagires, matam-te, moem-te e acabas dentro de um saco de ração.
Chegou novo dia, e o Cavalo continuava indiferente deitado na palha. Pelo meio da manhã veio o Lavrador seguido do Veterinário, nova injecção e foi sentenciado:
- Bem, se ele não reagir, amanhã lá terá que ser, atalhou o Veterinário de semblante condoído.
Naquela noite o Porco voltou pé ante pé até junto do Cavalo e barafustou:
- Oh Cavalo, levanta-te pá! Faz das tripas coração! Se ficares aí pasmado, de manhã, eles vêm aí e matam-te…
De manhã cedo, o Cavalo ergueu-se nas patas a muito custo, foi até à manjedoura, remoeu um bocado de feno, bebeu água, relinchou e deitou a cabeça fora da portada, exactamente na altura em que o Lavrador e o Veterinário se aproximavam, preparados para a função.
Todos ficaram boquiabertos com a recuperação do ginete.
Depois, com os olhos brilhantes de alegria, o Lavrador exultou, dançou, rodopiou, chamou a sua Mulher e o Jornaleiro, e finalmente decretou:
- Isto merece uma celebração a condizer; ponha-se a mesa, traga-se vinho, chamem-se os vizinhos, acenda-se a carqueja, ligue-se a música e mate-se o Porco…

Tentações

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Coudelaria da Companhia das Lezírias em 21-12-2008

domingo, fevereiro 01, 2009

Mistério

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O nosso país entrou numa vertigem de surrealismo. Digo isto quando vejo o Presidente da República, no início, no meio ou no fim (o momento é irrelevante) de um torneio de golfe, falar para a comunicação social e afirmar que não comentava o caso Freeport, por aquele se tratar de um “ASSUNTO DE ESTADO podemos assim dizer…”.
Na minha modesta opinião, penso que há aqui um erro de avaliação, ou então o uso inapropriado de um termo. De qualquer modo trata-se sim de um caso de polícia sob investigação, que poderá ou não levar à constituição de arguidos pelo Ministério Público, que poderão ou não ser figuras de Estado (coisa que até à data não aconteceu), e em caso afirmativo, então sim passível de ser classificado como um ASSUNTO DE ESTADO. Ora, como estas condições ainda não estão preenchidas, fica a pairar um mistério, pelo que deixo aqui uma pergunta: Qual terá sido o motivo que levou o Presidente a enquadrar o caso Freeport naquela categoria? Será que usou aquele termo tão pesado, apenas para afastar os jornalistas curiosos (ao velho estilo “deixem-me trabalhar”), ou há mesmo mais qualquer coisa?

Subscrevo Esta Tese

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«Sócrates jura que os "poderes ocultos" não o "vencerão". A escolha do verbo é também desta vez significativa. Quem o ouvisse não perceberia de certeza que se trata de uma investigação judicial ou que se vive num regime em que o judicial cumpre e faz cumprir a lei. Sócrates não vê o caso como apuramento da verdade (inevitavelmente relativa). Mas como uma espécie de duelo entre o Bem e o Mal (um "teste de resistência") entre ele e os "poderes ocultos". Num duelo, ou se ganha ou se perde e ele,"um homem determinado", vai ganhar. Outro primeiro-ministro esperaria pelas conclusões do inquérito e negaria tranquilamente as calúnias. Quando muito, ameaçava processar os caluniadores. Sócrates prefere o melodrama e a intimidação: quem daqui em diante duvidar dele é um instrumento, "negro" e miserável dos "poderes ocultos".»

Vasco Pulido Valente in “OS PODERES OCULTOS”, jornal PÚBLICO de 31 Janeiro de 2009

sábado, janeiro 31, 2009

O Caso Freeport (Acto 4)

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A TESE DA CABALA, da “campanha negra” e das “forças ocultas”, apontadas pelo primeiro-ministro José Sócrates, também conhecido por Zézito, como a motivação para o ressurgimento do “caso Freeport”, são igualmente alimentadas por outras pessoas, que giram à volta do círculo governamental, as quais se esforçam por confundir, deliberadamente, alegadas violações do segredo de justiça, com incómodas e certeiras investigações jornalísticas.

A Chave do Problema

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ONTEM À NOITE, dia 30 de Janeiro de 2009, durante uma entrevista concedida à RTP N, o ministro Augusto Santos Silva, a propósito do que vamos sabendo sobre o caso Freeport, disse para espanto meu, e provavelmente para espanto de muito mais gente, que “o esclarecimento da verdade enfraquece a democracia”. Com esta declaração, é fácil concluir-se que há quem considere que a democracia só se reforça se estiver mergulhada em falsidades, e torna-se claro perceber onde o primeiro-ministro quis chegar, quando afirmou que a sua idoneidade estava a ser posta em causa por uma “campanha negra” difundida por “forças ocultas”.

sexta-feira, janeiro 30, 2009

Pantominas

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Pantomina 1 - O primeiro-ministro Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates voltou a enfrentar os jornalistas numa nova conferência de imprensa, ocorrida da quinta-feira dia 29, para voltar a repetir e repudiar que está a ser injustamente acusado de coisas que não fez, no licenciamento do outlet Freeport e na reformulação da área da Zona de Protecção Especial de Alcochete, os quais teriam, alegadamente, decorrido dentro das regras, tendo chegado mesmo a afirmar que está a ser objecto de calúnias, provenientes de uma “campanha negra” que está a ser propagada por incertos e pérfidos “poderes ocultos”. No fundamental, pouco adiantou, e nenhumas respostas deu aos jornalistas, continuando a descrever círculos à volta das tais regras que teriam sido transparentes e decorrido dentro das normas, a ostentar a sua determinação e capacidade de resistência, para depois, tão lesto como chegou, voltar as costas e desaparecer. Confirma-se que a estratégia que adoptou para este caso é a de aparecer em público, célere, enroupado a condizer, sorridente e descontraído, quase insolente, a exibir a sua cólera de “animal feroz” cercado de caçadores, simular que está a responder caso a caso às notícias que vão aparecendo na comunicação social, mesmo que para isso nada acrescente ao que já declarou, para além da vaga ideia de cabalas e conspirações.
Curioso é que, no mesmo dia da intervenção do primeiro-ministro, a procuradora Cândida Almeida venha dar entrevistas e fazer declarações, no seu tom entre o maternal e o coloquial, dizendo que o Ministério Público continua a investigar o caso, mas que continua a não haver indícios de infracções, potenciadoras de crime de corrupção, sendo isso a razão suficiente para a ausência de eventuais suspeitos. Esta coordenação declarativa entre o actor principal e os seus investigadores, leva-me a suspeitar que, mais do que branquear o caso, se está a caminhar para o seu possível arquivamento, com o argumento de que existe uma manifesta incompatibilidade entre os métodos de investigação da polícia portuguesa e inglesa, seguida de uma teimosa e congénita falta de provas.

Pantomina 2 – O primeiro-ministro José Sócrates, também conhecido por Pinto de Sousa, disse há dias o seguinte: "Há muitas décadas que leio relatórios da OCDE sobre Educação. Eu nunca vi uma avaliação sobre um período da nossa democracia com tantos elogios". Afinal, o tal estudo da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) a que referia era uma fraude, uma carta de amor, com que o governo socretino tentava colorir o negrume com que a educação portuguesa se tem confrontado nos últimos quatro anos, encomendado a peritos internacionais, pago com o dinheiro dos contribuintes, e em que apenas o prefácio era assinado, a título pessoal, por um funcionário (?) da OCDE. Isto não impediu que o nosso bravo primeiro-ministro, perante a denúncia sustentada pelo deputado Paulo Rangel do PSD, tenha afirmado que desconfia sempre dos “fariseus que andam sempre com a verdade na boca e não hesitam em recorrer à mais vil das mentiras para descredibilizar o opositor", concluindo com esta magistral conclusão: "Os senhores não suportam o sucesso do país!".
Verdade, verdade, é que o Partido Socialista correu a alterar, durante o debate quinzenal com o primeiro-ministro, o texto que tinha desde terça-feira no seu site referente à apresentação do tal relatório sobre políticas educativas, retirando a indicação de que se tratava de um estudo da OCDE, e alterando a autoria para um grupo de peritos internacionais.
Eis como a miséria deste governo pantomineiro, comandado por um manifesto mentiroso compulsivo, vai girando entre os terrenos pantanosos de Alcochete e um pseudo-estudo da OCDE, encomendado para enganar o “zé povinho”.

O Caso Freeport (Acto 3)

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“…José Sócrates já escapou por entre os pingos da chuva na questão da sua licenciatura, que num país com maior amor à verdade e uma comunicação social mais agressiva poder-lhe-ia muito bem ter custado o lugar. Mas a gravidade do que agora está em causa não lhe permite assobiar para o ar e limitar-se a lançar suspeições manhosas do género "isto são só calúnias e ataques pessoais". Há, de facto, explicações a dar. O caso Freeport cheira muito mal, qualquer que seja o lado por onde se pegue. E mesmo que nesta terra seja tristemente comum o afilhado acabar assessor do padrinho e o primo do presidente da câmara fornecedor da junta de freguesia, ter familiares envolvidos em negócios onde interesses económicos se misturam com favores políticos é um passo em direcção ao abismo. Ainda que o tio e o filho do tio estejam tão ausentes de pecado como a Virgem Maria, a sua simples presença neste processo levanta questões a que Sócrates tem de responder.
O eterno retorno à tese da cabala, um tique que sobretudo os socialistas têm desenvolvido até à exaustão, passou o prazo de validade. Sócrates que puxe pela sua esburacada memória e esclareça o que tem a esclarecer de uma vez. Mais teorias da conspiração é que não, por favor.”

In “QUANTAS CABALAS CABEM NUM METRO QUADRADO?” do Jornalista João Miguel Tavares

quinta-feira, janeiro 29, 2009

A Ementa Sócrates

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Portugal está a estrebuchar no meio da presente crise, com grandes estragos no tecido económico, com dramáticas consequências na viabilidade das empresas, umas afectadas por substanciais recuos nos investimentos, outras com falências a curto prazo, tudo isto a contribuir para o aumento exponencial do desemprego, mas para o governo está tudo bem e as medidas que tomou para enfrentar a situação, são as necessárias e as mais adequadas. Portanto, suspeito que mais dia, menos dia, o que vai acontecer será o seguinte: Vamos passar a ter uma ementa muito pouco variada, com refeições cozinhadas à base de auto-estradas, TGVs, aeroportos e outros equipamentos em que a matéria-prima, por excelência, seja o cimento, comprovando assim o fascínio que as construtoras exercem sobre a governação.

quarta-feira, janeiro 28, 2009

A Cidade Fascinante (3)

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Chafariz d’El Rei
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TAL COMO DIZ a placa reproduzida na última foto, o chafariz d´El Rei - em tempos também conhecido por chafariz de São João da Praça - é um dos mais antigos de Lisboa, tendo sido edificado no século XIII, no exterior da Muralha Fernandina, havendo porém quem garanta que remonta à época da dominação romana. No reinado de Dom Manuel I, por ser a principal fonte de água potável de Lisboa e devido à grande afluência de pessoas, com grandes esperas e zaragatas que daí resultavam, o chafariz foi objecto de uma norma camarária que decretava que cada uma das seis bicas passava a servir apenas um grupo social específico. Assim, na primeira abasteciam-se os negros, mulatos e índios, na segunda os mouros das galés, na terceira e quarta os rapazes e homens brancos, na quinta as mulheres negras e na sexta as raparigas e mulheres brancas. Quem transgredisse esta lei era severamente castigado. Depois de 1969, e depois de haver informação que as águas estavam inquinadas, o município procedeu ao corte da água, situação que se mantém até à actualidade.
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A Máquina do Tempo (8)

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NO DIA 17 de Março de 2008, segunda-feira, este post do blog SABER A VERDADE, que aparece na lista de links aqui do lado esquerdo, dizia o seguinte:

O Fim da História... e do blog

Desde há 4 anos que este blog existe para alertar para a crise grave que se adivinhava. A teoria da conspiração posta em prática dando a entender que não entendemos nada do que nos rodeia, mas o que aqui foi tentado foi uma teoria de acção económica baseada exclusivamente na conspiração de que todos somos vítimas, sobretudo quando nos colocamos de um lado ou de outro do espectro político.Mas já nada disso interessa agora.Aconselhei a compra do ouro e da prata quando eles estavam a 380 e 9 dólares cada. Hoje, o ouro ultrapassa os 1000 e a prata mais de 20.Falei da crise do subprime em Fevereiro de 2007 quando hoje é aceite pelos economistas malucos que esta começou a 9 de Agosto de 2007.Falei dos colapsos da bolsa quando tudo estava em grande para os especuladores e falei do aumento brutal dos juros quando estes ainda estavam a descer. Falei no petróleo a 100 dólares quando este andava abaixo dos 30. Falei no fim do império económico americano quando todos ainda acreditavam que este estava a ganhar poder.Falei na abertura da bolsa de petróleo iraniana há mais de 2 anos e disse sem rodeios que o dólar iria colapsar sem qualquer pudor. Nem imaginam os mails que recebi a dizer-me que não sabia o que dizia pois os EUA nunca iam deixar isso acontecer.Em Fevereiro de 2006 lancei críticas ao atrasado mental do presidente da Associação Portuguesa de Bancos que aconselhava os portugueses a deixarem nas mãos dos bancos o investimento das suas poupanças dando como exemplo ser uma excelente altura para comprar dólares. Chamo-lhe atrasado mental tal como lhe chamei na altura, simplesmente porque se lhe chamar ladrão é possível que me coloque um processo de difamação, apesar da História ter mostrado quem tinha razão.Enfim, falei de tudo e mais alguma coisa e fui apelidado e rotulado de tudo e mais alguma coisa.Tive grandes elogios de comunistas ferrenhos e de gente bem incorporada na extrema-direita nacional. Quando lhes disse que estavam muito confusos, nunca mais disseram nada e abandonaram definitivamente este blog, como se o que aqui digo deixasse de ter validade por não ter a mesma ideia politica que eles.Quer uns quer outros querem que o Estado obrigue estes a fazer isto ou aquilo e eu só quero que o Estado nos deixe em paz. Aqui confesso que perdi, o socialismo, de extrema direita ou extrema esquerda ganhou e está na moda, o estado ameaça ajudar as famílias sobre-endividadas e os verdadeiros culpados da crise, os bancos, conseguiram livrar-se de ser eles a pagar a crise e ainda por cima por o zé povinho a aplaudir. Noutros tempos mais anarquistas, esta gente era dizimada pelo mercado e nunca mais arranjaria emprego na área. Os seus bancos iriam à falência e os outros aprenderiam com os erros como aconteceu em 1929. Assim, com os Estados a salvaram os bancos, os culpados saem ilesos e os cidadãos bem comportados, que não se endividaram é que pagam a crise. Enfim. Mas serve este post para colocar um ponto final.O aviso foi dado a tempo e horas, quem levou certos conselhos a sério e tomou atitudes sem se resignar à frase "É a vida", hoje tenho a certeza que está bem apetrechado para enfrentar a crise que se avizinha. Os outros não sei.Com a crise a chegar oficialmente, como hoje aconteceu, este blog torna-se redundante e perde a sua mais importante característica, o estar dois passos à frente. Agora falar da crise é banal e dizer que já se tinha antecipado isto há 4 anos atrás não tem qualquer impacto.É por isso altura de andar em frente e deixar este blog, com as datas bem explícitas, como um testemunho vivo do que foram anos e anos de trabalho e preparação, de investigação em fontes obscuras e longínquas dos holofotes dos mass media corruptos. O que se segue ainda não sei bem o que é, mas sei que vai estar 2 passos à frente também.A preparação para a crise já teve de ter sido feita, quem não a fez, prepare-se para o pior. Agora começam a chegar as notícias das oportunidades, pois numa crise nem tudo pode ser mau. Estando preparado para a crise que aí vem (e atenção que ainda nem chegou!!) podemos estar tranquilos que a nossa hora pode estar para chegar.Outro blog ou coisa do género virá a curto prazo mas sem fazer qualquer referência à crise que estamos a viver. Nem mesmo que estale uma guerra civil na nossa rua, o que tinha de ser dito já o foi. Agora vêem os investimentos, a saída da crise, o agarrar das oportunidades que vão surgir e isso tem de ser dito noutro local.Espero dar novidades em breve, até lá não hesitem em contactar-me para o mail
saberaverdade@yahoo.com.
Foi um prazer!

terça-feira, janeiro 27, 2009

A Regra e a Magnífica Excepção

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A generalidade dos portugueses que, tendo entre 45 e 50 anos de idade, e que se encontrem na situação de desemprego, têm vindo a confrontar-se com o seguinte dilema: ou já são velhos demais para encontrarem quem os queira empregar, ou ainda são novos demais para requererem a reforma. Apontei a generalidade dos portugueses porque há excepções, algumas francamente magníficas, a contemplarem uma espécie de nova aristocracia. Uma delas é o caso que recebi por e-mail, e que pela sua inusitada singularidade e manifesto atrevimento, merece divulgação a preceito.

Apesar de ter apenas 50 anos de idade e de gozar de plena saúde, o socialista Vasco Franco, número dois do PS na Câmara de Lisboa durante as presidências de Jorge Sampaio e de João Soares, já está reformado.
A pensão mensal que lhe foi atribuída ascende a € 3.035 euros (608 contos), um valor bastante acima do seu vencimento como vereador.
A generosidade estatal decorre da categoria com que foi aposentado - técnico superior de 1ª classe, segundo o «Diário da República» - apesar de as suas habilitações literárias se ficarem pelo antigo Curso Geral do Comércio, equivalente ao actual 9º ano de escolaridade.
A contagem do tempo de serviço de Vasco Franco é outro privilégio raro, num país que pondera elevar a idade de reforma para os 68 anos, para evitar a ruptura da Segurança Social.
O dirigente socialista entrou para os quadros do Ministério da Administração Interna em 1972, e dos 30 anos passados só ali cumpriu sete de dedicação exclusiva; três foram para o serviço militar e os restantes 20 na vereação da Câmara de Lisboa, doze dos quais a tempo inteiro.
Vasco Franco diz que é tudo legal e que a lei o autoriza a contar a dobrar 10 dos 12 anos como vereador a tempo inteiro.
Já depois de ter entregue o pedido de reforma, Vasco Franco foi convidado para administrador da SANEST, com um ordenado líquido de € 4.000 euros mensais (800 contos). Trata-se de uma sociedade de capitais públicos, comparticipada pelas Câmaras da Amadora, Cascais, Oeiras e Sintra e pela empresa Águas de Portugal, que gere o sistema de saneamento da Costa do Estoril.
O convite partiu do reeleito presidente da Câmara da Amadora, Joaquim Raposo, cuja mulher é secretária de Vasco Franco na Câmara de Lisboa. O contrato, iniciado em Abril, vigora por um período de 18 meses.
A acumulação de vencimentos foi autorizada pelo Governo mas, nos termos do acordo, o salário de administrador é reduzido em 50% - para € 2.000 euros - a partir de Julho, mês em que se inicia a reforma, disse ao Expresso Vasco Franco.
Não se ficam, no entanto, por aqui os contributos da fazenda pública para o bolo salarial do dirigente socialista reformado. A somar aos mais de € 5.000 euros da reforma e do lugar de administrador, Vasco Franco recebe ainda mais € 900 euros de outra reforma, por ter sido ferido em combate em Moçambique já depois do 25 de Abril (?), e cerca de € 250 euros em senhas de presença pela actuação como vereador sem pelouro.
Contas feitas, o novo reformado triplicou o salário que auferia no activo, ganhando agora mais de 1200 contos limpos. Além de carro, motorista, secretária, assessores e telemóvel.

A Máquina do Tempo (7)

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NO DIA 26 de Novembro de 2007, segunda-feira, este post do blog SABER A VERDADE, que aparece na lista de links aqui do lado esquerdo, dizia o seguinte:

Reality-check

A realidade chegou quase sem avisar aos mercados financeiros. Os bancos e os consumidores americanos têm finalmente algo em comum, estão afogados em dívidas e o mercado habitacional americano não os deixa vir à tona respirar.O Dow Jones está agora abaixo da média móvel dos 200 dias, o primeiro sinal de “venda”. Os analistas pensam que qualquer coisa abaixo dos 12500 poderá despoletar vendas automáticas por parte do software usado para automatizar as ordens de bolsa, com o consequente crash do mercado.Estamos a assistir a um colapso em tempo real.A tempestade do crédito que assolou os EUA assola agora já todo o mundo, com a Ásia a ser a última a reconhecer isso, tendo até agora passado ao lado desta crise mas revelando os primeiros sintomas da doença com os rendimentos de depósitos a prazo a três meses na China e na Coreia a descerem a pique nos últimos dias para perto de 1%, com o consequente pânico e a retirada do dinheiro de aplicações de mais alto risco.Terça-feira o governo chinês suspendeu totalmente o crédito bancário numa tentativa de parar a tempo uma autêntica bolha criada nos mercados financeiros.Na Europa, o mercado interbancário de baixo risco das “covered bonds” foi suspenso o que denota o imenso nervosismo que reina entre os protagonistas financeiros. Assim, o mecanismo de conversão de bonds em dinheiro colapsou.Jon Basile, economista do Credit Suisse afirma : “Existem imensas más notícias aí fora”.Na Califórnia o governador Schwarzenegger juntou-se a 4 entidades financeiras e congelou as taxas variáveis (ARM) para alguns dos devedores de maior risco. Tenta assim evitar um colapso do mercado imobiliário da Califórnia cuja liquidez desceu mais de 40% nos últimos 2 meses com uma queda de preços da ordem dos 12%.Com os preços das casas a descer e os empréstimos com carência de capital (onde só se paga juros e o capital em dívida permanece intacto) a subirem cada vez mais, não existe qualquer motivação para os que contraíram empréstimos os continuarem a pagar, pois nada da sua prestação está a amortizar o crédito pedido. Legislação vem a caminho juntamente com ajudas e mais ajudas que serão sempre os contribuintes a pagar em vez dos verdadeiros causadores da crise.
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Farei mais transcrições deste blog, devidamente autorizadas pelo autor.

segunda-feira, janeiro 26, 2009

Caso Freeport (Acto 2)

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AO CONTRÁRIO do caso da licenciatura, Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates, relativamente ao “caso Freeport”, adoptou uma estratégia diferente: mostra-se, exibe-se, expõe-se, grita, barafusta, indigna-se, demarca-se da família, diz que está a ser vítima de perseguição, que vai defender-se e esclarecer todos os portugueses. Estou perfeitamente de acordo com ele quando pede celeridade nas investigações, e digo isto porquê. Nos próximos dias, se não houver desenvolvimentos da investigação em curso, a RTP, a exemplo do que foi feito com o caso da duvidosa licenciatura, combina e prepara mais uma entrevista com o primeiro-ministro, para compor o ramalhete, e depois disso o “caso Freeport” volta a entrar em hibernação e a cair no esquecimento.

domingo, janeiro 25, 2009

Sem Comentário

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“O Papa Benedicto XVI [Bento XVI] reabilitou no sábado um bispo tradicionalista que nega o Holocausto, apesar das advertências dos líderes judaicos de que afectaria as relações entre católicos e judeus e fomentaria o antisemitismo.
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Richard Williamson, de origem britânica, efectuou uma série de declarações em que negou a extensão total do Holocausto, como é reconhecido pela maioria dos historiadores. Em declarações retransmitidas pela televisão sueca, disse que acreditava “que não houve câmaras de gás e que sómente 300.000 judeus pereceram nos campos de concentação nazis, em vez de seis milhões”.”

Minha tradução da notícia da Reuters de 24/01/2009, 15:48, publicada pelo diário espanhol PUBLICO.
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ADENDA:
Afinal sempre vou comentar.
Se Deus estivesse atento ao que aqui se passa e ao que se diz, cortaria a voz a este “sem-vergonha” e a quem o reabilita, quando se aceita que trezentos mil crimes, em vez de seis milhões, têm muita influência na contabilidade divina de pecados capitais.

A Máquina do Tempo (6)

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NO DIA 12 de Junho de 2007, terça-feira, este post do blog SABER A VERDADE, que aparece na lista de links aqui do lado esquerdo, dizia o seguinte:

R.I.P.

Depois de muito tempo sem escrever, os escritos anteriores podiam ter deixado de fazer sentido não fosse a realidade confirmar praticamente tudo o que se tem vindo a dizer. Mas o que me leva a voltar ao trabalho aqui no blog é o lançar de um novo grito de alerta para os tempos de mudança que temos andado a viver, mudanças de fundo no contexto geopolítico, económico e financeiro. De facto, urge perceber o que se passa para se entender o que se vai passar, pois os grandes ganhos vêm do entendimento dos sinais dos tempos antes dos tempos mudarem de vez. Assim, o mundo teimosamente insiste em seguir um caminho já antes trilhado, não vamos nós insistir também em só nos apercebermos disso quando já nada houver a ganhar com isso. Mas então, comecemos...
Da já afamada crise financeira global que tanto se tem falado aqui neste blog, temos sinais de tal modo fortes dados nos últimos 3 meses que não podia ter deixado passar em vão. Meus amigos, pela primeira vez desde a I Guerra Mundial os EUA perderam o estatuto de centro financeiro mundial. Os mercados financeiros no final de Março totalizavam 11760 biliões de euros nos EUA e 11819 biliões na Europa. Nos últimos anos os mercados americanos cresceram 70% contra os 160% dos mercados europeus. Claro que a depreciação do dólar não ajudou nada, mas esta tendência verifica-se também nas trocas comerciais mundiais, onde já em 2005 os europeus representavam mais de 50% de todo o comercio externo da Rússia, 65% da Argélia, 31% do Irão (seguido pelo Japão com 12%), 20% da Arábia Saudita (contra apenas 16% dos EUA), 30% do Kuwait (contra apenas 11% dos EUA) entre muitos outros. Note-se que os EUA detinham os primeiros lugares em todos estes mercados por larga margem de avanço. A China ultrapassou mesmo os EUA como o 1º importador na União Europeia. Este ajustar de forças geopolíticas e económicas está a acontecer agora e a uma velocidade estonteante, levando os habituais players do mercado a não reagir pois estão imobilizados com teorias e tendências que funcionaram durante quase um século e que agora começam a valer nada. Temos de juntar a isto a grave crise imobiliária nos EUA, que tem funcionado como uma caixa multibanco para cada família americana endividada até aos cabelos com empréstimos sobre a habitação na expectativa da subida de preço do imobiliário, que já todos agora percebem não vai acontecer. Algumas das maiores instituições financeiras americanas já estão a falir, a 2ª maior de todas, a New Century, foi a falencia mais badalada mas outras aconteceram e muitas mais se esperam acontecer. De facto o problema já é grave o suficiente para fazer manchete em todas as cadeias de media americanas, em programas como a Oprah e por todo o lado. Os únicos a não admitir o gravíssimo problema (gravíssimo porque tudo está baseado em consumo privado e sem dinheiro não há consumo, logo esta crise não tem resolução à vista) são os big players financeiros e a própria reserva federal americana, ambos com muito a perder caso o admitam publicamente. O Fed não admite a depressão pois isto obrigá-lo-ia a baixar as taxas de juro, depreciando ainda mais o dólar e fazendo a moeda americana colapsar ainda mais depressa do que se tem apregoado, os bigs das financeiras porque é nesta onda que têm surfado nas ultimas décadas e não sabem surfar noutras, alem disso ainda há muito dinheiro a ganhar com todo o maralhal que ainda acredita nos conselhos destes tubarões financeiros.
Com isto tudo vem o dizimar por completo da classe média americana empurrando-os para baixo e roubando-lhes as poupanças. Preocupante é também a analise do rácio de rendimentos entre os 0,01% mais ricos e os 90% mais pobres que desde 1950 tem andado entre os 170 a 180 e que de repente saltou para os 880 em 2005, níveis apenas vistos nos meses anteriores à grande depressão de 1929 em que o numero era de 891. O problema dos americanos é que 1929 aconteceu num contexto de crescimento da influencia dos EUA no mundo e hoje acontece exactamente o oposto. Por isso, em vez de termos uma grande depressão teremos uma enorme depressão. Num exemplo recente do deliberado esmagamento da classe média americana, a segunda maior cadeia de electrónica de consumo, a Circuit City Stores, despediu 3400 trabalhadores, 8,5% do seu pessoal de loja que ganhavam entre 10-11 dólares por hora para contratar o mesmo numero de trabalhadores a um preço de 8 dólares por hora. As novas contratações deram-se na América e com americanos, ou seja a classe média perdeu membros que passaram para a classe baixa, e a classe baixa ganhou trabalho pago como classe baixa e ainda recebeu mais membros fruto do desemprego ocorrido na classe média, um autentico downgrading social. Com toda esta crise as falências pessoais aumentaram exponencialmente, os casos de incumprimento bancário também e cada vez mais pessoas estão a perder as suas casas tomadas pelos bancos credores. Nos EUA o intervalo de tempo entre o incumprimento bancário e a perda do imóvel é em média de apenas 3 meses. Não tem havido novas compras de imobiliário, os impostos sobre o património e as transacções imobiliárias tem descido a pique bem como as receitas fiscais relacionadas com o consumo. Na Califórnia e na Florida as receitas fiscais diminuíram pela primeira vez em 30 anos. As receitas dos impostos sobre os lucros das empresas têm descido vertiginosamente também. Isto vai levar a mais endividamento publico a juntar ao já obsceno endividamento americano, levando a mais uma queda do dólar. Depois temos os iranianos a afirmar que mais de 60% das suas exportações já são feitas em moeda totalmente independente do dólar. Claro, temos o Irão fora todos os outros países que já só querem distancia do dolar, até mesmo da China. Mas se tudo isto não bastasse, são os próprios números estatísticos a darem-nos a dimensão do problema. De facto os EUA entraram em recessão técnica em Maio. Não de acordo com o seu PIB expresso em dólares, mas quando analisamos os mesmos dados mas com as contas feitas em Euros, Libras, Yenes ou Yuans, o resultado é o mesmo, a recessão técnica. Ou seja, para a América existe crescimento, para o resto do mundo existe recessão. É a magia dos números a funcionar.
Por isso meus amigos, esqueçam tudo o que lêem e ouvem nas noticias, e se estão à espera de um crash bolsista lembrem-se que a quando a bolsa crasha é porque tudo o resto já caiu também. Os EUA já eram, a missa já foi lida mas o mundo inteiro ainda mantém a ideia contrária e toma decisoes com esta base, ajudando os grandes tubarões a planearem a sua fuga e deixarem o menino nos braços da classe média cega por promessas de infalibilidade do sistema e incorruptibilidade do império americano. Conversa tal e qual a imposta nas vésperas de 1929. Nunca nenhum império sobreviveu para sempre nem nenhuma moeda sobreviveu mais do que 100 anos sem colapsar.
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Continuarei a fazer mais transcrições deste blog, devidamente autorizadas pelo autor.

sábado, janeiro 24, 2009

O Cerco Aperta-se!

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“NA SEMANA PASSADA chegou o aviso, ontem cumpriu-se a ameaça: a Standard & Poor's (S&P) baixou o rating que atribui a Portugal de "AA-" para "A+". Isto significa que a agência de notação financeira, uma das três maiores no mundo, passou a considerar que o risco de conceder crédito ao Estado português é agora mais elevado, o que pode vir a ter como resultado um agravamento dos juros a que o Estado obtém financiamento nos mercados internacionais, com consequências indirectas do mesmo tipo para os bancos, empresas e particulares.
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Trevor Cullinan, o analista da S&P para Portugal, fez ontem questão de esclarecer, numa conferência de imprensa por via telefónica, que "o plano anticrise lançado pelo Governo não é o motivo para a redução do défice". "Não olhamos só para o défice de um ano, quando tomamos estas decisões", afirmou, assinalando que "as fraquezas de Portugal já eram claras antes da crise, apenas se tornaram agora ainda mais claras".
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O grande problema, esclareceu o analista, é que "o crescimento potencial tem sido baixo e vai manter-se baixo", não permitindo que Portugal, nos próximos anos, apresente indicadores de crescimento, défice e dívida semelhantes aos outros países que têm um rating "AA". As reformas estruturais realizadas não chegaram para resolver os problemas de competitividade, baixa produtividade e elevado défice externo, que "terá mais tarde ou mais cedo de ser corrigido, limitando o ritmo de crescimento".
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Extracto do artigo do jornalista Sérgio Aníbal do jornal PÚBLICO publicado em 22 de Janeiro de 2009

sexta-feira, janeiro 23, 2009

Caso Freeport (Acto 1)

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PINTO DE SOUSA, também conhecido por José Sócrates, à época ministro do Ambiente de António Guterres, foi co-autor de um despacho, assinado três dias antes das eleições de 2002, que reduziu a área da Zona Protegida do Estuário do Tejo, viabilizando a construção do empreendimento Freeport de Alcochete. Entretanto, havendo suspeitas de ter ocorrido tráfico de influências, actos de favorecimento e corrupção, a Polícia Judiciária iniciou uma investigação que acabou a ganhar ramificações com a “Operação Furacão”, e se estendeu até à actualidade.Ontem, o primeiro ministro num intervalo da cimeira entre Portugal e Espanha em Zamora, comentando as buscas ordenadas pelo Ministério Público e que a Polícia Judiciária levou a cabo, coadjuvada por um juiz - e que visaram um tio do primeiro-ministro, escritórios de arquitectos e advogados envolvidos no caso - fez questão de voltar a demarcar-se das investigações e recordar que o caso teve uma primeira versão aquando das eleições de 2005, sublinhando que o caso “volta agora [em 2009] quando vão novamente ser disputadas eleições". Fica no ar a ideia de os investigadores seriam sensíveis à proximidade das eleições para retomarem o caso. Deixo aqui uma pergunta: com esta evocação, será que o primeiro-ministro quis lançar suspeitas sobre a oportunidade ou lisura de tais diligências do Ministério Público e da Polícia Judiciária, deixando no ar a ideia de que estariam a soldo de alguém com malévolas intenções? Fico a aguardar os desenvolvimentos deste caso.

Amigo Disfarçado, Inimigo Dobrado

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O VENERÁVEL Vieira da Silva, obreiro do novo Código do Trabalho e nosso ministro do Trabalho e Solidariedade, fundamentando os apoios que o governo está a conceder à banca, disse há dias que "A banca tem um papel muito importante em qualquer economia, em qualquer país: é através dela que as poupanças das pessoas se transformam em investimento, e sem investimento não há crescimento económico, não há emprego, não há desenvolvimento". Depois desta tirada, a banca respondeu com medidas a preceito: se as taxas de juro do crédito à habitação estavam a descer, a banca logo correu a aumentar os “spreads”, porque ela anda cá para ganhar dinheiro e não para fazer filantropia, em concorrência directa com as Misericórdias. Ora bem, por aqui se vê as medidas que essa mesma banca toma para nos entusiasmar e deixar descansados sobre o seu curioso modo de enfrentar a crise.

Em Defesa da Liberdade de Manifestação

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Declaração política em defesa da liberdade de manifestação
Intervenção de António Filipe (deputado do PCP) na AR em 2009 Janeiro 22

“Senhor Presidente,
Senhoras e Senhores Deputados,

Subimos hoje a esta tribuna em defesa da liberdade de manifestação. É insólito ter de o fazer quase 35 anos depois do 25 de Abril, mas a vida a isso nos obriga.

Teve lugar anteontem em Guimarães uma audiência de julgamento de um processo em que são arguidos quatro dirigentes da União dos Sindicatos de Braga, acusados de desobediência qualificada pelo Governador Civil, por alegadamente terem promovido uma manifestação ilegal.

O caso é que o Governador Civil de Braga, na véspera da realização de uma greve geral, e oito meses depois de uma acção popular de protesto contra a política do Governo em Guimarães, mandou a PSP processar criminalmente quatro dirigentes sindicais sob a acusação de terem promovido uma manifestação não autorizada. Perante o arquivamento do processo, o mesmo Governador Civil assumiu ter pressionado o Ministério Público para forçar a sua reabertura.

Também, anteontem mesmo, três cidadãos pertencentes ao Movimento de Utentes de Transportes Públicos da Área Metropolitana do Porto foram ouvidos pelo Ministério Público, por terem sido acusados pela governadora civil de terem promovido uma manifestação ilegal porque, alegadamente, o número de subscritores da comunicação ao Governo Civil seria inferior ao exigido por lei.

Também no Porto, três dirigentes da União dos Sindicatos, incluindo o respectivo coordenador, foram notificados de um processo que existe contra si por, alegadamente, terem participado numa manifestação ilegal, e esta semana, ainda no Porto, uma jovem estudante de 18 anos foi ouvida pela PSP e pelo Ministério Público sob a acusação de uma alegada desobediência, por terem promovido uma manifestação em que cumpriram todas as exigências legais. Simplesmente, a Governadora Civil do Porto arrogou-se o direito de ser ela a decidir o trajecto da manifestação e comunicou-o à PSP, sem sequer se ter dado ao trabalho de o comunicar aos manifestantes, que foram acusados de desobediência por se terem manifestado, seguindo o percurso que tinham comunicado ao Governo Civil.

Estes casos somam-se infelizmente a outros. Foi o caso da Governadora Civil de Lisboa, que pretendeu proibir a montagem simbólica de tendas por agricultores, junto da Assembleia da República, com o argumento caricato de que a montagem de tendas só pode ser feita em parques de campismo. Foi o caso da decisão tomada pelo comando da PSP de avançar com um processo-crime contra dois dirigentes do PCP, sob a acusação de terem promovido uma manifestação ilegal, por terem entregado um abaixo-assinado na residência oficial do Primeiro-Ministro. Foi o caso da Governadora Civil de Castelo Branco, que achou normal que a PSP se tenha deslocado ao Sindicato dos Professores na Covilhã para obter informações sobre a manifestação que reuniu em Lisboa mais de 100.000 professores contra o regime de avaliação. Foi o caso grotesco, passado em Montemor-o-Velho, onde o Secretário-Geral da FENFROF, Mário Nogueira, ao passar por uma manifestação de agricultores, foi identificado pela GNR, por ser conhecido, e foi constituído arguido.

Senhor Presidente,
Senhores Deputados,

A atitude persecutória dos governadores civis e de algumas autoridades policiais, por cuja actuação o Governo é inteiramente responsável, perante o exercício legítimo do direito de manifestação é absolutamente intolerável. A democracia não suporta estas atitudes prepotentes. O exercício do direito de manifestação tem uma protecção constitucional directa que não pode ser limitada por governantes agastados com o protesto popular contra as suas políticas ou por governadores civis que convivem mal com as liberdades democráticas e que pensam que o exercício do direito de manifestação depende da sua autorização.

Era bom que o Ministro da Administração Interna, enquanto responsável político pela actuação dos governadores civis, mandasse afixar na parede dos seus gabinetes, em local bem visível, o artigo 45.º da Constituição, onde se pode ler que os cidadãos têm o direito de se reunir, pacificamente e sem armas, mesmo em lugares abertos ao público, sem necessidade de qualquer autorização e que a todos os cidadãos é reconhecido o direito de manifestação.

O problema é que há governadores civis que se arrogam o direito de autorizar manifestações, de definir os respectivos trajectos, de questionar os manifestantes sobre as palavras de ordem e de ordenar actuações policiais contra cidadãos que se manifestam, e que não ignoram, porque não podem ignorar, que estão a actuar à da Constituição e da lei.

Não ignoram, porque não podem ignorar, que a lei que regula o direito de manifestação, e que fixa os respectivos trâmites legais, não foi feita para limitar ou condicionar o direito de manifestação, mas bem pelo contrário, foi feita para garantir o seu exercício. Em democracia, não há manifestações pacíficas que sejam ilegais ou que precisem de ser autorizadas seja por quem for.

O problema é que para o Governo e para os governadores civis a seu mando há dois tipos de manifestantes. Os que aplaudem os membros do Governo são manifestantes bons: podem manifestar-se sem autorização e têm direito a passadeira vermelha e protecção policial. Os que protestam contra as políticas do Governo, à mesma hora e no mesmo local, são manifestantes maus: cometem crimes de desobediência, são incomodados pela polícia, são alvo de intimidações policiais, são acusados e levados a tribunal porque se manifestaram sem autorização.

Não é tolerável que no Portugal democrático o legítimo protesto social seja levado ao banco dos réus por acção de responsáveis políticos.

A Assembleia da República, enquanto órgão de soberania representativo de todos os portugueses, não pode deixar de assumir as suas responsabilidades quando há cidadãos que são levados a tribunal sob a única acusação de terem cometido o crime de exercer os direitos cívicos e políticos que a Constituição lhes confere.

Anuncio por isso que o Grupo Parlamentar do PCP vai requerer a comparência dos governadores civis de Lisboa, Porto e Braga na Comissão Parlamentar de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, para os questionar sobre as atitudes persecutórias que têm vindo a desenvolver contra o legítimo exercício do direito de manifestação, e esperamos que esta iniciativa conte com o apoio de todos os Deputados que se prezam de respeitar as liberdades públicas e os direitos dos cidadãos.

Disse.”

A Máquina do Tempo (5)

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NO DIA 7 de Setembro de 2006, quinta-feira, este post do blog SABER A VERDADE, que aparece na lista de links aqui do lado esquerdo, dizia o seguinte:

Aviso de Tempestade

Aquilo que já venho a dizer há tanto tempo já está confirmado pelos media oficiais, ou seja passou de teoria endoidecida a aviso oficial. Quer o Bloomberg, quer a BBC e a Sky, bem como a CNN fizeram especiais de informação sobre o fim da bolha imobiliária e as suas consequências. Até a TF1 francesa o fez e apenas para o mercado francês. Parece que agora é que são elas, pelo menos para eles porque para mim isso já era claro há muito.
Depois temos o Dow Jones com valorizações das chamadas small caps (acções de empresas pequenas que ninguém conhece) na ordem dos 170% em 3 meses. Estas acções sao usadas puramente como especulativas pois por terem um valor tão baixo são facilmente influenciáveis e os ganhos são bem maiores. Uma valorização de 3 cêntimos numa acção que vale 50 cêntimos equivale a 6% ao passo que os mesmo 3 cêntimos de valorização numa bluechip, por exemplo que custe 50€ não passa de uma valorização de 0,00006%.
Ora, estas valorizações das small caps em conjunto acontecem sempre quando estamos ou no fim ou muito perto do fim de uma bolha e significa por isso que a bolha irá rebentar brevemente. Porquê? Porque no ultimo fôlego de uma bolha os investidores estão viciados em ganhar muito dinheiro com as suas transacções e as bluechips começam a enfraquecer os seus ganhos. Levados por este impulso de continuar a ganhar o mesmo que até aí viram-se para estas acções mais especulativas.
O aviso de tempestade está então lançado oficialmente. Procurem abrigo e mantimentos.
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Continuarei a fazer mais transcrições deste blog, devidamente autorizadas pelo autor.

quarta-feira, janeiro 21, 2009

Rumo ao Sul

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AO REBUSCAR na arca das memórias, fui descobrir algumas fotos com quase trinta e nove anos (FEV-1970), da época em que os jovens portugueses tinham que rumar ao sul, para manter viva uma certa ideia de “império”. Daquela viagem de oito dias guardo a lembrança de um nefasto acontecimento, que acabou por impressionar todos os militares embarcados. Pelo segundo ou terceiro dia de viagem, após o almoço, um dos militares, vá-se lá saber por que motivo, deslocou-se para a ré do navio, içou-se na amurada e lançou-se deliberadamente ao mar. Feito o alerta de “homem ao mar”, o navio inverteu a sua marcha, foram baixados os escaleres e iniciou-se a tentativa de resgate, que se prolongou quase até ao pôr-do-sol, com o navio a descrever círculos apertados na zona, sem qualquer sucesso. O grande mar oceano fechara-se sobre ele e tornara-se a sua derradeira morada. Ainda antes do jantar, foi feita uma chamada geral no convés, já sob a luz dos holofotes, para apurar a identidade do infeliz militar. A sua guerra tinha terminado ali, sem uma carta para a família, sem um tiro, mas provavelmente com muita raiva ou desespero. Aos que ficámos, esperavam-nos outras paragens muito mais ao sul.
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NOTA: Partilho da mesma intenção do blog DOTeCOMe_o BLOG, dedicando este post ao recente site GUERRA COLONIAL em
http://www.guerracolonial.org
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Lisboa – Luanda – Navio PÁTRIA em 18-FEV-1970
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Lisboa – Luanda – Navio PÁTRIA em 20-FEV-1970
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Lisboa – Luanda – Navio PÁTRIA em 22-FEV-1970

terça-feira, janeiro 20, 2009

Os Irmãos Metralha

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EM 30 DE DEZEMBRO de 2007 (já lá vai mais de um ano), entre outros considerandos que teci sobre a actividade governativa, disse, com um claro acento jocoso, que sem pretender obscurecer a persistência e combatividade do primeiro-ministro, era de toda a justiça louvar a excepcional qualidade dos seus ministros, pois se não o fizéssemos, correríamos o risco de praticar a mais ignóbil das injustiças, isto é, deixar na penumbra as excelsas qualidades e competências daqueles actores governativos, tantas vezes vilipendiados e incompreendidos, que por obras e actos valorosos em prol da democracia e do bem-estar do povo, mereciam (e continuam a merecer) serem referenciados e citados nos futuros manuais da boa governação. Por falta de espaço e não por vontade própria, referi apenas os mais notáveis, tais como Correia de Campos (que entretanto foi tratar da vidinha), Maria de Lurdes Rodrigues (a falsa anarquista), Mário Lino (o desencravador de fotocopiadoras), Rui Pereira (o robocop), Manuel Pinho (o 2+2=22) e Mariano Gago (o homem invisível), tudo gente que dando o peito às balas, mais se destacaram nesta legislatura, marcando-a de forma inolvidável, mudando o rosto do país e as estatísticas da União Europeia.
Passou um ano sobre estas considerações, e certo, certo, é que o país mudou, muito embora para pior. À lista poderia agora acrescentar outros nomes, como os secretários de estado Valter Lemos e Jorge Pedreira (Dupont e Dupont), e um certo Castilho dos Santos (o exterminador implacável), secretário de estado da administração pública, o tal que achou por bem ameaçar que os "trabalhadores, serviços e dirigentes que não estejam com a reforma serão trucidados", e que, apesar de tudo, continua a “ir a despacho” e a pavonear-se alegremente pelos corredores ministeriais. Porém, no topo da pirâmide, alinha-se a socretíssima trindade constituída por Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates, Augusto Santos Silva e Pedro Silva Pereira, coadjuvados pelo amanuense Victor Constâncio (com doutorais aparições quinzenais), os quais se comportam como uma espécie de “irmãos metralha” em versão lusa, bem paga, bem vestida e bem barbeada, que em vez de tentarem cobrar do “tio patinhas”, escolheram o povo trabalhador como primeiríssima fonte de receita para as suas políticas “socialistas, modernas, moderadas e populares”. Quanto ao “avô metralha” Teixeira dos Santos cabe-lhe o papel de se desdobrar em lamentações, justificações e contradições. Avatares pseudo-políticos empoleirados no topo da pirâmide, eles são a cereja em cima do bolo de uma ideia que não é nova, funciona na perfeição e é a seguinte: para o primeiro-ministro Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates (o animal feroz e chefe do bando), tanto lhe faz que a chefia dos ministérios esteja a cargo de A, B, C ou D, seja competente ou não, porque quem traça o caminho é ele, as opiniões dos outros são acessórias ou irrelevantes, e o que ele necessita é que para cada área de governação haja alguém que se disponha a ficar na linha da frente, debaixo de fogo, funcionando como amortecedor e escudo protector da sua sublime pessoa. A ele cabe-lhe o papel para o qual se encontra verdadeiramente vocacionado, isto é, andar a impingir o “magalhães” a torto e a direito, não cumprir promessas nem pagar as contas do estado, ser o cabeça de cartaz da propaganda política, bem iluminada, bem oleada e encenada, destinada a adormecer o eleitorado e a ocultar as verdades e as evidências. Para compor o quadro, deleita-se a escutar as “Janeiras” cantaroladas pelos “Meninos da Luz”.
Portanto, bater nos anões ministróides é tarefa inútil, condenada ao fracasso, uma pura perda de tempo. Não têm ideias, não argumentam, não ripostam, passam de largo com ar austero e convencido, sem prestarem declarações, à espera que a missão termine depressa e sejam contemplados com um “tacho” a preceito, na constelação de institutos e empresas públicas, onde possam facturar tranquilamente. Resumindo: não têm coluna vertebral. Tal como diz Baptista Bastos “é impossível ver qualquer membro deste Governo sem ser assaltado por uma repugnância visceral. O carácter desta gente é inexistente… há um ranço salazarista nesta gente. E, com a passagem dos dias, cada vez mais se me acentua a ideia de que a saída só reside na cultura da revolta.”
Eis em traços largos o tal “socialismo moderno, moderado e popular, avesso a vanguardas e elites ”, recheado de truques e mentiras propagadas pelo “menino de ouro do PS”, o líder dos “metralhas”, risonho, bem nutrido e encadernado. A mim não me vai ludibriar com juras de viragem à esquerda, e a minha promessa fica desde já aqui feita: até às eleições legislativas, pode ter garantido que também lhe vou cantar as “Janeiras”, embora de uma maneira muito especial.

A Máquina do Tempo (4)

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NO DIA 19 de Abril de 2006, quarta-feira, este post do blog SABER A VERDADE, que aparece na lista de links aqui do lado esquerdo, dizia o seguinte:

O guia final

Cada vez mais me fazem perguntas sobre a recente escalada do ouro e da prata e de como se poderá ganhar dinheiro com isso. Também cada vez mais vejo mais gente que não costuma acompanhar o assunto a interessar-se criando mesmo uma moda de investimento nas commodities pois ninguém quer ficar de fora do comboio do lucro fácil. Até há menos de 2 meses, o canal da TVCabo Bloomberg cotava o ouro duas vezes ao dia e a prata apenas uma vez por volta das 5 da manhã. Agora tem rubricas especiais sobre os metais preciosos em que divagam baboseiras sobre o recente boom do ouro. Para tentar ajudar quem está indeciso ou receoso deste investimento vou agora dissecá-lo de modo a esclarecer alguns aspectos menos conhecidos por detrás desta loucura de preços.
Em primeiro lugar não vão na conversa de economistas ou analistas de mercado que vos falam dos altos e baixos do mercado e de como agora estamos num baixo de modo que é bom comprar. É falso. Neste momento o ouro não está barato, pelo menos de um certo ponto de vista. O que se passa é algo muito diferente e quase imperceptível a quem tem os tiques da analise de mercados com a treta dos ciclos, rácios e lucros garantidos.
Tenho a certeza de que depois de lerem este texto a coisa ficará muito mais clara e perceberão que as ferramentas económicas usadas hoje em dia não vos vão servir de nada excepto para investir em ouro em tempo real, ou seja com as cotações diárias. Mas isso não é investir em commodities, isso é especular sem qualquer garantia associada pois apenas se está a comprar papel. O preço do ouro e da prata nada tem a ver com a economia dos analistas que todos os dias fingem aconselhar as pessoas nos seus investimentos. Em primeiro lugar vemos que o ouro, alem de ser uma commodity, uma matéria-prima, é também uma moeda, com cotação real e na qual se pode trocar os nossos euros, dólares ou dinares. Podemos trocar 100 euros por ouro à cotação do momento e chegar aos EUA e trocar esse ouro em dólares. Logo, pelo preço do ouro também se mede a fraqueza ou a força de uma moeda nacional. E a partir daqui temos a primeira grande constatação do que venho aqui dizendo ao longo destes anos de blog. Que o colapso do dólar está aí, basta ver que o dólar tem perdido muito para o euro mas muitíssimo mais para o ouro, com tendência a perder muito mais. E isto porquê? Porque a cotação de uma moeda é relativa à sua procura no mercado, logo quanto mais procurada é uma moeda mais valiosa ela se torna em relação a outras alternativas monetárias. Como a politica de credito pelo mundo ocidentalizado fora está a ser manipulado de modo a inundar o mercado de dinheiro e por conseguinte de dividas, o dólar e o euro estão a ser impressos a velocidades recorde e a procura começa a não ser assim tão grande para absorver tanta moeda na rua. Por outras palavras, os juros estão em baixo logo a impressão de notas está em alta, logo existe dinheiro para dar e vender. Com o ouro e a prata o mesmo já não se passa. A procura é relativamente estável e a oferta também, pelo que o seu preço não tem variado muito desde há muitos milénios a esta parte. No tempo de Jesus podia-se comprar mais ou menos as mesmas coisas que hoje em dia com o mesmo peso de ouro. Logo, e como a oferta de ouro é bastante rígida pois cada vez é mais caro e difícil extrair o metal dos confins da Terra, esta moeda mantém-se sempre valiosa relativamente aos dólares e euros que podem ser impressos apenas com o toque de um botão. De facto, e de certeza para surpresa de alguns, existem apenas 140.000 toneladas de ouro à superfície, ou seja, já extraídas. Para dar uma ideia, todo o ouro do mundo extraído desde sempre encheria apenas um cubo com arestas de 19 metros, mais ou menos um campo de ténis com 20 metros de altura. E é tudo. Dividido por todas as pessoas daria cerca de 23 gramas a cada um, a preços de hoje, 350 euros. O seu valor total mundial é de aproximadamente 1,9 triliões de dólares. A divida publica externa americana é de 8 triliões de dólares. Por isso não liguem a quem vos diz que está parcialmente coberta por ouro. Só cerca de 20% é que é detido por bancos centrais, sendo o resto joalharia, moedas e barras de propriedade particular. Cá está, quem faz o preço do ouro está a faze-lo na sombra, são as transacções de barras de ouro em Londres e Zurique que fazem o preço de mercado. E estas transacções só são feitas por poucos players que têm acesso ao mercado. O mínimo aceite nessas transacções são barras de 12,4 kilos mas o mínimo aceitável para atrair as atenções de alguém são cerca de 500.000 dólares. E mesmo que queira participar o acesso é-lhe vedado, sendo apenas possível entrar no mercado através de cinco casas para isso designadas. São estas casas que definem o mercado. Esqueça quem lhe diz que o preço do ouro é ditado pelas leis do mercado da oferta e da procura mundial num sistema tipo bolsa. É falso. Esse sistema existe apenas para o ouro em certificados, o ouro real não obedece a este tipo de transacção. Para os nossos simpáticos analistas de mercados é difícil perceber como se chega ao valor final do ouro diariamente mas vou tentar explicar. Em Londres estas casas autorizadas recebem as potenciais ordens de compra e de venda e só depois as tentam negociar com as outras casas. Assim resulta um sistema isolado, imune ao crash económico, às perturbações conjunturais que afectam o zé-povinho quando compra e vende acções. O preço do ouro é então afixado duas vezes ao dia, uma de manhã outra de tarde. O analista que vos aconselhar a comprar no mercado em tempo real não pode faze-lo com base em ferramentas económicas pois quem decide o preço são apenas 5 grandes casas e quem está por detrás delas. Depois há o mercado de certificados de ouro e prata, o Forex (mercado cambial), onde se aposta no preço do ouro mas que anda sempre colado ao preço do ouro físico combinado. Aqui se percebe que o ouro é a linguagem do mundo obscuro, da alta finança mundial, daqueles que efectivamente controlam o mundo por detrás das luzes da finança especulativa. Daí ser visto como um ultimo instrumento de conservação de riqueza. Em tempos de prosperidade ninguém investe em ouro pois a ideia é aumentar a riqueza. Em tempos de incerteza o ouro sempre foi amigo de quem o escolheu. E a minha opinião é de que os senhores da finança obscura estão a desviar a tradução da sua riqueza para unidades de
ouro e prata. Tendo já dominado a sistema produtivo mundial é altura de o deixar cair de modo a poder voltar a comprar por meros tostões a vida das pessoas. Já aconteceu antes e está prestes acontecer outra vez. E vamos já ver como vai ser isto tudo possível com uma pequena quantidade destes vis metais.
E chegamos agora ao principal ponto do comportamento do ouro. Existe uma organização chamada GATA, o Gold Anti Trust Action Comitee que nos avisa desde há anos para o completo logro que é o mercado do ouro mundial. Este comité tem como membros altos ex-responsáveis de bancos centrais e privados. Eles acusam os bancos centrais de estarem a fazer com o ouro o mesmo que fizeram com as moedas nacionais, ou seja, emprestar muito mais ouro do que o que realmente têm. Desde os anos 70, mas sobretudo quando o arqui-inimigo da boa saúde económica global, o senhor Alan Greenspan tomou conta do Fed, que se tem assistido a uma luta desenfreada contra o ouro. Este senhor era um dos principais defensores de uma moeda suportada por ouro nos cofres, embora se tenha tornado um acérrimo inimigo desta mesma ideia assim que entrou para o Fed. Desde então fez inúmeras declarações em que fala do ouro como um investimento em desuso e expandiu o dólar até níveis nunca vistos com esta bolha de credito que a América está a tentar engolir agora. Isto fez o ouro descer para níveis incrivelmente baixos. Fez também os bancos, baseados na relativa estabilidade do seu preço, oferecer o ouro dos seus cofres em leasing ou mesmo vendido. Assim, os clientes que depositavam o seu ouro nos cofres dos bancos não sabiam que o mesmo passava a ser um activo do banco e logo podia ser jogado no mercado internacional. E assim, mantendo o seu preço baixo poderia sempre voltar a comprar o ouro em leasing à medida que os depositantes o reclamassem. O problema é que quando o seu preço sobe poderá não haver liquidez para voltar a comprar o ouro vendido ou emprestado e será impossível devolve-lo aos clientes legítimos donos. Isto criará uma crise financeira mundial e é por isso que os bancos declararam uma guerra acérrima ao preço do ouro de modo a evitar tal cenário. Quando os bancos forem confrontados com os pedidos de resgate de ouro que não existe o grande publico tomará conta da conta desta conspiração. Se todo o ouro que existe em certificados fosse resgatado como a lei permite e garante, toda o ouro existente à face da Terra bem como a produção total dos próximos 25 anos não chegaria para cobrir os pedidos. Daí a conveniência do investimento em ouro físico cujo preço vai disparar para a Lua. Existe “provas” mais que consistentes de relatos de grandes responsáveis no assunto, especialmente do governador do Banco de Inglaterra, que afirma categoricamente estarem os bancos em guerra aberta contra o preço do ouro devido a estas razoes. Há também inúmeros relatos sombrios que nos afirmam que as reservas em ouro do Fed, do Credit Suisse, do BCE, do Banco de Inglaterra e do Banco Nacional Suíço já praticamente não existem, facto totalmente desconhecido do público. Esta alhada em que os bancos se meteram já tinha sido feita com as próprias reservas monetárias, daí não ser nada difícil acreditar que também será verdade para o ouro. O problema é que com a moeda basta baixar os juros e imprimir mais notas, com o ouro não dá para extrair mais do que o que existe e uma nova mina demora cerca de 10 anos a entrar em funcionamento e já não se descobrem grandes novos filões de ouro há mais de 30 anos. Quando esta história for uma realidade o preço do ouro irá atingir valores inimagináveis. Para terminar quero apenas dizer que o ouro sempre foi um guardador de riqueza. Quando em 1929 o crédito bancário estava tão facilitado como hoje em dia, o senhor médio da classe média julgava saber tudo e ia na maré investindo numa bolsa que não parava de subir. Sem razão aparente, não se produzia nada a mais, não havia nenhum avanço tecnológico, nada, simplesmente as acções subiam sem parar, muito ao jeito do que se passou no final dos anos 90 com as casas, em que as pessoas achavam que nunca uma casa podia perder valor. E os peritos em economia dos bancos aconselhavam isso mesmo, a pedir credito para investir na bolsa. O mercado caiu 10% na manha de segunda-feira em 1929 e todos entraram em pânico. Uns aproveitaram para comprar em baixa e o mercado voltou a subir 8%. Quem não conseguiu vender tudo, depois de ver esta nova subida decidiu não vender ainda. Mas como diz um ditado do mundo financeiro, mesmo um gato morto quando atirado do 10º andar ainda salta umas quantas vezes. Nunca mais o mercado recuperou desse máximo e os créditos precisavam de ser pagos. Alguns bancos ficaram com tudo. O mesmo se vai passar agora mas substituindo as acções por casas. Toda a gente penhora a sua casa de modo a conseguir ir buscar algum ao banco. A produção não chega nem para metade dos novos encargos pois este dinheiro tem ido maioritariamente para o consumo e não para o investimento. Mais uma vez os bancos vão ficar com tudo. A moeda colapsa pois ninguém quer pedaços de papel sem valor e é criada uma nova moeda, em principio mundial baseada no ouro. No ouro detido por aqueles poucos senhores que o estão a comprar agora em quantidades industriais. E essa gente é um clube muito restrito que se esconde no anonimato do sistema de transacções de ouro que é diferente de tudo o resto. Quando os teóricos da conspiração falavam disto há cerca de 6 anos atrás eram lunáticos. Hoje ainda são considerados lunáticos mas pelo menos têm os bolsos mais cheios. Tudo bateu certo. Sempre falámos de preços astronómicos, que podem chegar aos 40.000€ por onça, quando hoje ultrapassou pela primeira vez os 500 euros. Os pseudo analistas achavam impossível o ouro ultrapassar os 400 dólares. Tenho estudos impressos de grandes consultoras a dizer isso mesmo. Depois começaram a falar na mítica barreira dos 500 dólares. Em Novembro já falavam nos 600 dólares como máximo. Hoje já só falam dos 850. A S&P já anunciou um price target de 2000 dólares baseada na teoria da conspiração, documento delicioso que tenho a honra de possuir. Tenham calma que com o petróleo a subir sem parar ( e acreditem que não vai mesmo parar, também já o previ em 2004), dentro em breve estamos a falar de valores absurdos. É assim, o ouro está a tentar dizer-nos alguma coisa. Ninguém sabe bem o quê. Nós pelo menos temos uma teoria que vai funcionando. Outros limitam-se a ir onde os outros vão. Vamos assistir a uma volatilidade enorme no mercado. Subidas brutais, como a das ultimas semanas, e crashes enormes, de modo a assustar os menos confiantes. O ouro só vai levar com ele quem com ele estiver em sintonia. O ouro não é um mercado de lucro fácil, esses vão desistir na pior altura. O ouro não está a ser regido por nenhuma força conhecida de mercado. Lembrem-se apenas que o mundo mudou com o 11 de Setembro e as ferramentas de análise económica mudaram também. Não tentem investir com teorias obsoletas.
Vejam apenas estes dois exemplos: Há cerca de 2 semanas passou um programa na TSF sobre o que fazer ao nosso dinheiro onde se chegava à conclusão que o português gastava demais e pedia muitos créditos, enfim a treta do costume. O presidente da Associação Portuguesa de Bancos afirmou categoricamente que os consumidores deviam deixar nos bancos as decisões de investimento e citou como exemplo a espectacular subida do dólar em relação ao euro de há 6 meses atrás, tal como ele havia previsto. Eu tinha previsto exactamente o contrário. 6 meses depois, um teórico da conspiração teria ganho muito mais apostando contra o dólar do que a seu favor como queria o atrasado mental da associação dos bancos. Hoje o dólar já perdeu tudo o que tinha ganho e ainda desceu mais. Até fiquei parvo ao ouvir este energúmeno falar assim na rádio. E continuo a apostar no mesmo cavalo pois as razoes já foram mais que explicitadas neste blog. Num outro exemplo um senhor de um banco exclusivamente de investimento aconselhou-me a apostar em fundos ligados às acções americanas que estavam a ter um desempenho brutal. Isto foi no próprio dia dos atentados de Londres, em que decidi retirar o dinheiro de um fundo da UBS. Para mim, só um louco é que poderia propor uma coisa destas, apostar em acções americanas. Falei-lhe depois de investir em fundos ligados ao ouro e ao petróleo ao que me respondeu não terem qualquer futuro pois o petróleo já estava a estabilizar e o ouro nunca tinha grandes desempenhos. Desde o dia dos atentados de Londres até hoje, digam-me quem tinha razão. Embora muita gente nos ache catastrofistas, vemo-nos como aqueles que não embarcaram em euforias antes de 1929, que achavam que a prosperidade mundial tinha vindo para ficar em 1910, que não iam atrás de economistas malucos em 1989, que achavam que a subida do NASDAQ era completamente injustificada pois a Internet ainda não estava suficientemente desenvolvida antes do crash, ou como aqueles que ouviam o presidente Bush envidar todos os esforços diplomáticos para não atacar o Iraque e já afirmavam que o Iraque já estava derrubado. O grande consolo para mim é que todos os estudiosos deste grande logro em que vivemos e que tentam à sua custa avisar os outros da catástrofe que aí vem, ao menos encontram algum proveito nos investimentos que fazem. Como este texto já vai extremamente longo, falarei da prata noutra altura, embora possam ficar já com a ideia que o investimento em prata será ainda mais fabuloso do que em ouro.

Continuarei a fazer mais transcrições deste blog, devidamente autorizadas pelo autor.

Novo Provérbio

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A MOÇÃO de José Sócrates, também conhecido por Pinto de Sousa, ao congresso do PS, intitulada A FORÇA DA MUDANÇA, pretende assumir-se como programa de acção do PS, tendo em vista os próximos actos eleitorais, com especial destaque para as eleições legislativas. É um blá-blá-blá de 26 páginas, repleto de rebuçados, carregado de boas intenções e justas causas descongeladas, que nem um verdadeiro crente leva muito a sério, atendendo à passada experiência dos últimos 4 anos, em que este mesmo partido esteve no governo, mas quer dar a entender que não. Sustentado no adágio de que águas passadas não movem moinhos, Sócrates quer passar uma esponja sobre a memória colectiva, exibindo-se ao eleitorado com um santinho de pau carunchoso, e como se tal não bastasse, aí está mais um arrazoado de balelas e panaceias, com alguns pozinhos de mágica à mistura, para que acreditemos no seu PS, que como ele diz se apresenta moderno, moderado e popular, mas que na verdade, tem mais de situacionista que de socialista. Não se pode acreditar em tudo o que nos querem impingir, sobretudo em altura de eleições, vindo de gente pouco recomendável, que faz tábua rasa do estado lastimoso em que deixou o país e a generalidade dos portugueses. A pior coisa que nos pode acontecer é sermos levados a acreditar num malfeitor, cínico e mentiroso, que se quer fazer passar por gente decente, séria e virtuosa. Só os ingénuos e incautos embarcam nas suas promessas. Por isso, nada melhor que um provérbio reciclado para ilustrar tanto atrevimento:
Com Sócrates e palavreado se quer burlar o eleitorado.

segunda-feira, janeiro 19, 2009

“Acordar do pesadelo”

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Da autoria do jornalista António José Teixeira, transcrevo o artigo publicado no Diário Económico de 16-JAN-2009, o qual subscrevo na totalidade. Antes das eleições americanas poderia ser considerado um aviso; depois delas é uma amarga constatação.

“A tragédia Bush fica para a história como um intervalo de irracionalidade onde a ganância de alguns arrastou multidões para a miséria.

Foram oito anos de profundo retrocesso civilizacional. A poucos dias de sair de cena, a herança de George W. Bush não poderia ser mais negativa. Provavelmente, com ou sem Bush, o rastilho do terrorismo teria sido suficiente para incendiar as relações internacionais e minar a confiança que se respirava antes do 11 de Setembro. Mas Bush conseguiu o impensável: piorar tudo o que foi possível piorar. Fortaleceu os fundamentalismos, a pretexto do combate ao terrorismo. Começou por desvalorizá-lo, ignorando repetidos avisos, acabou por lançar uma guerra desnecessária, palco para uma longa série de abusos. Limitou as liberdades no país da liberdade, aproveitou-se do medo e da insegurança para justificar prepotências. Desmascarou-se em Abu Ghraib e em Guantanamo. Fez crescer o Irão. Riu-se do aquecimento global. Alargou as desigualdades. Alheou-se das desgraças que se abateram sobre o seu próprio povo, como aconteceu com o furacão Katrina. Como se não bastasse, despede-se agora deixando a economia americana e mundial numa das mais graves recessões de sempre.
A tragédia Bush fica para a história como um intervalo de irracionalidade onde a ganância de alguns arrastou multidões para a miséria. Será muito para atribuir a um só homem. Será desgraça a mais para um presidente duvidosamente eleito em 2000, ainda assim reeleito em tempo de guerra. Será. Mas o vendaval que varre boa parte da Humanidade tem a sua impressão digital, por acção ou omissão.
O balanço não é original nem resulta de qualquer senha antiamericana. Está escrito na imprensa dos EUA, que demorou a aperceber-se da deriva irresponsável e autoritária da administração de George W. Bush. Não sobram defensores deste legado. Cá e lá, já não há quem se atreva a justificar o injustificável. Não há palavras brandas, delicadas, que possam dissimular a tragédia em mero azar da história.
"A história de Bush é uma história de Ícaro - um homem que se despenha porque não compreende os seus limites ou as suas motivações. Ser presidente era algo que estava além das suas capacidades e ele não teve noção disso." As palavras são de Jacob Weisberg, que examinou exaustivamente a família Bush e o seu círculo de conselheiros. Não é apenas um problema de impreparação, é um impulso de predestinação disparatado, e o desejo de afirmação de um homem vulgar imerso num círculo ideológico de neoconservadores revanchistas.
Não foi agora que se provou a tragédia Bush. O republicano Paul O'Neill, que W. Bush escolheu para seu primeiro secretário do Tesouro, não demorou a perceber que o presidente era como "um cego numa casa de surdos". Estava O'Neill ainda na administração americana e, ele que trabalhara com o pai, depressa se desiludiu com o filho. A descrição dos seus encontros com o presidente é constrangedora. Silêncios inexpressivos cruzam-se com uma extrema dificuldade de argumentação e uma inabalável vontade de subordinar a decisão política a interesses particulares. É impressionante reler o livro que Ron Suskind publicou em 2004, "O Preço da Lealdade", escrito a partir de um lote de 19 mil documentos que O'Neill entregou ao jornalista. Importante para perceber o perfil sombrio de Bush e para constatar até que ponto a degradação das finanças públicas americanas, a manipulação dos resultados das empresas, a pouca transparência dos mercados e a falta de independência dos auditores eram já constatáveis. Paul O'Neill falava em 2002 da necessidade de "restabelecer um sistema de responsabilidade e contabilidade orientados para um crescimento sustentado a longo-prazo, não para uma ganância de mercado a curto-prazo". E o seu amigo Alan Greenspan era ainda mais peremptório. Numa reunião, realizada em Fevereiro desse ano, o presidente da Reserva Federal não tinha dúvidas: "Brincou-se demasiado com o sistema, até que se rompeu. O capitalismo deixou de funcionar! Há uma corrupção do sistema capitalista". A diferença entre estes dois homens é que O'Neill apenas se demorou dois anos com Bush, enquanto que Greenspan foi conivente com boa parte deste consulado.
Não espanta que a insanidade necessite da catarse da literatura. Philip Roth, no seu último livro, fala do "vexame sem remissão que consiste em ser um cidadão consciente no reinado de George W. Bush"... O fantasma está a sair de cena. Oxalá Barack Obama tenha a clarividência e a audácia necessárias a tamanho desafio.”

domingo, janeiro 18, 2009

A Crise e o Despudor (4)

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O ORÇAMENTO de estado para 2009, foi aprovado pelo Presidente da República em 30 de Dezembro de 2008. Ele é quase unanimemente reconhecido como o instrumento mais desajustado à realidade portuguesa, que foi produzido nos últimos tempos pelos economistas de serviço à governação portuguesa, a tal senhora que andou ausente e distraída da realidade nacional e internacional, desde os fins de 2007. Tudo indica que aquele orçamento foi o produto final de uma enorme manobra de ocultação da crise económica portuguesa, levada a cabo pelo actual governo. Entretanto, e em abono desta suspeita, quinze dias passados, já foi revisto e objecto de orçamento rectificativo. Entretanto, o governo, em mais um passe de ilusionismo, apelida-o de orçamento suplementar, tudo isto para não reconhecer a sua desadequação à realidade nacional e aos ventos de crise que sopravam por todo o lado, e que vieram abalar ainda mais a já frágil economia portuguesa. Para a História ficam os inesquecíveis episódios protagonizados pelo ministro Teixeira dos Santos, quando num passe de inexplicável soberba, correu a assegurar que estávamos imunes aos ventos de crise que sopravam lá de fora, e garantiu que as nossas instituições financeiras respiravam saúde.

Invoicejacking

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UMA LEITURA atenta das facturas da EDP mostra-nos uma rubrica denominada Outros Débitos/Créditos que serve para nos facturar uma denominada Contribuição Audio-visual, pelo valor de 3,42 Euros (bimestral), valor que se destina a financiar os serviços de radiodifusão (RDP, Antena 1 e Antena 2) e televisão (RTP1 e Canal 2), ao abrigo da Lei n.º 30/2003, de 22 de Agosto alterada pelo Decreto-Lei n.º 169-A/2005, de 3 de Outubro.
Sem contar com o seu despropósito, já que a rádio e televisão se auto-financiam através das enormes receitas geradas pela publicidade, existem diversas situações em que esta taxa é completamente abusiva, para não dizer absurda, nomeadamente nas seguintes situações:

1) Quando o consumidor é subscritor de TV Cabo, Cabovisão, TVTel, Meo ou qualquer outro fornecedor de serviços do mesmo tipo;
2) Casas de campo para apoio agrícola;
3) Facturação relativa a consumos das partes comuns dos condomínios, tais como escadas, garagens, elevadores, bombas elevatórias e outros dispositivos.

Como se já não bastasse aquela tentativa de quererem pôr os clientes pagadores a arcarem com os valores incobráveis dos maus clientes (outro modelo inovador e simplex de meter as mãos aos bolsos dos respeitáveis cidadãos para ter receita assegurada), os especialistas do governo, em matéria de técnicas de extorsão, estão a refinar os seus processos, utilizando neste caso a interposta pessoa da EDP para efectuar mais um descarado assalto à carteira dos contribuintes. Já agora, porque não alcavalar a factura da electricidade com mais uma taxa para financiar as actividades do ministério da cultura? É fácil de perceber que 1 milhão de facturas gera, de dois em dois meses, sem mexer uma palha, uma receita limpa e garantida de mais de 3 milhões de Euros. Portanto, imaginem os milhões de Euros que brotarão deste expediente, se considerarmos a totalidade dos clientes da EDP multiplicada por 3,42 euros, e este produto multiplicado pelas seis facturações anuais.
Por força dos tempos que vivemos, e por termos uma predilecção especial pelas expressões inglesas, já tínhamos importado o “carjacking” e o “homejacking”; agora só nos faltava inventar esta coisa do “invoicejacking”, uma autêntica preciosidade com chancela governamental.
Se concorda com a extinção desta aberração, subscreva a petição que para o efeito se encontra disponível em:

Link: http://www.petitiononline.com/edp15/petition.html

O país que já não anda de candeeiro a petróleo, agradece reconhecido.