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A mosca Umbelina, entre preocupada e curiosa sobre o que se passa nos conselhos de ministros, resolveu iludir as câmaras de vigilância e a atenção dos seguranças, e introduzir-se nas instalações do governo. Disposta a passar o mais despercebida possível, lá acabou por descobrir qual era a sala em que os malfeitores se reuniam, instalou-se entre os caracóis de um busto da República que estava ao canto da sala, e aguardou que a reunião se iniciasse. E o que ouviu foi isto, da boca do chefe máximo José Sócrates, também conhecido por engenheiro incompleto:
- Temos que arranjar verba para blindar o governo dos ataques que nos são desferidos. O executivo não pode andar assim, à mercê dos zumbidos de mosca. Temos que acabar de vez com esta coisa das escutas, das notícias falsas, das cabalas, das campanhas negras, das comissões parlamentares, das comissões de inquérito, das coligações negativas, das investigações por tudo e por nada, tudo coisas que nos desgastam, e não nos deixa tempo para governar… e para isso é preciso verba, porém, verba que se veja.
- Se é preciso verba, corta-se na saúde, atalhou o “avô metralha” Teixeira dos Santos. Nos impostos já não posso mexer mais, estão a romper pelas costuras.
- Claro, claro, acho bem! Ripostou a ministra Ana da saúde, na sua voz de falsete. Se deus quiser, o pessoal há-de sobreviver sem essa coisa dos SAPs, das urgências, das maternidades e outras merdas assim. O que é preciso é ter fé e evitar ir ao médico. Se estão muito doentes, que vão à ervanária e que tomem chá…
- É isso! Com a saúde não se brinca. E se têm muita fome que comam bolos, tal como aconselhou a Maria Antonieta, avançou a ministra da cultura.
- Bem, vejam lá, não lembrem muito essa Maria Antonieta, que afinal acabou por perder a cabeça…, sustentou o doutor Vieira da Silva, pretenso ministro da economia.
- Bem, mas então não somos socialistas? Não era suposto manter o Serviço Nacional de Saúde como a imagem de marca da governação socialista? replicou o ministro Silva Pereira, com aquele ar de gozo que lhe é característico.
- Qual quê! Se já nem o Bagão Félix nos considera socialistas, mas apenas supostos socialistas, para que é que precisamos de manter essa imagem de marca? Apenas serve para agravar o défice, avançou o ministro das obras públicas, a limpar o pingo do nariz.
- Se estivesse aqui o Lino, já tinha arranjado uma solução, vociferou o agastado Sócrates, de cenho carregado. Puxem lá pela cabeça! Dêem-me pistas! Acrescentou.
- Pronto, fecha-se meia dúzia de atendimentos permanentes lá no norte, junto à raia de Espanha, e se o pessoal estiver doente que vá até à Galiza. Não é longe e até parece que estão bem equipados, sugeriu o ministro dos negócios estrangeiros. Além disso, isto é como as privatizações: o que custa é a primeira vez!
- Boa, boa, essa é mesmo simplex! Disse o Sócrates a bater as palmas. É verdade, a saúde está a ter custos incomportáveis, sobretudo para uma população que além de estar a diminuir até respira saúde… a verba que gastamos com ela podia muito bem ter outras aplicações, por exemplo, o combate ao terrorismo jornalístico.
- Já agora digam lá: e temos lá em cima gente de confiança preparada para pôr em execução uma coisa dessas? Insistiu o Sócrates.
- Claro, claro, gente de confiança é coisa que não nos falta! Respondeu o ministro Jorge Lacão, que tinha chegado atrasado.
- Ora bem, sejamos práticos. Para pôr a coisa em execução é simples: decreta-se o encerramento dos centros de saúde durante um fim-de-semana, para apanhar o pessoal distraído e não dar tempo a que avancem com essa coisa das providências cautelares, que só têm dado maçadas e chatices, alvitrou o ministro da justiça. E uma iniciativa destas ao fim-de-semana só demonstra a prontidão e eficácia do governo no cumprimento do seu programa…
- Temos que distribuir os sacrifícios por toda a gente. Agora calhou a vez às gentes do norte. E se houver contestação, a polícia e a GNR lá estarão de prevenção e com os efectivos reforçados, sentenciou o ministro Pereira, o tal da administração interna.
- E se for preciso meto a tropa na rua, atalhou o ministro Santos Silva, aquele que sendo da defesa está sempre ao ataque. E continuou: atenção ao enquadramento! Temos que potenciar as sinergias do binómio polícias e forças armadas. A sorte protege os audazes, e comigo já sabem, não há fum-fum nem gaitinha!
- Então vamos lá acertar as agulhas. Isto vai ser canja. É como se estivéssemos a coiso e tal, isto é, a alavancar a recuperação económica, acrescentou o engenheiro incompleto a esfregar as mãos de contente.
Nesta altura do conselho, a mosca Umbelina não se conteve, e aproveitou a altura em que os presentes foram mordiscar uns bolinhos e beber qualquer coisa, e a ministra da educação foi até ao corredor para fazer um telefonema, para se esgueirar para a rua. Não era preciso ouvir mais. Só que nunca imaginou que aquela gente fosse de tal quilate. Uns autênticos bandoleiros!
A mosca Umbelina, entre preocupada e curiosa sobre o que se passa nos conselhos de ministros, resolveu iludir as câmaras de vigilância e a atenção dos seguranças, e introduzir-se nas instalações do governo. Disposta a passar o mais despercebida possível, lá acabou por descobrir qual era a sala em que os malfeitores se reuniam, instalou-se entre os caracóis de um busto da República que estava ao canto da sala, e aguardou que a reunião se iniciasse. E o que ouviu foi isto, da boca do chefe máximo José Sócrates, também conhecido por engenheiro incompleto:
- Temos que arranjar verba para blindar o governo dos ataques que nos são desferidos. O executivo não pode andar assim, à mercê dos zumbidos de mosca. Temos que acabar de vez com esta coisa das escutas, das notícias falsas, das cabalas, das campanhas negras, das comissões parlamentares, das comissões de inquérito, das coligações negativas, das investigações por tudo e por nada, tudo coisas que nos desgastam, e não nos deixa tempo para governar… e para isso é preciso verba, porém, verba que se veja.
- Se é preciso verba, corta-se na saúde, atalhou o “avô metralha” Teixeira dos Santos. Nos impostos já não posso mexer mais, estão a romper pelas costuras.
- Claro, claro, acho bem! Ripostou a ministra Ana da saúde, na sua voz de falsete. Se deus quiser, o pessoal há-de sobreviver sem essa coisa dos SAPs, das urgências, das maternidades e outras merdas assim. O que é preciso é ter fé e evitar ir ao médico. Se estão muito doentes, que vão à ervanária e que tomem chá…
- É isso! Com a saúde não se brinca. E se têm muita fome que comam bolos, tal como aconselhou a Maria Antonieta, avançou a ministra da cultura.
- Bem, vejam lá, não lembrem muito essa Maria Antonieta, que afinal acabou por perder a cabeça…, sustentou o doutor Vieira da Silva, pretenso ministro da economia.
- Bem, mas então não somos socialistas? Não era suposto manter o Serviço Nacional de Saúde como a imagem de marca da governação socialista? replicou o ministro Silva Pereira, com aquele ar de gozo que lhe é característico.
- Qual quê! Se já nem o Bagão Félix nos considera socialistas, mas apenas supostos socialistas, para que é que precisamos de manter essa imagem de marca? Apenas serve para agravar o défice, avançou o ministro das obras públicas, a limpar o pingo do nariz.
- Se estivesse aqui o Lino, já tinha arranjado uma solução, vociferou o agastado Sócrates, de cenho carregado. Puxem lá pela cabeça! Dêem-me pistas! Acrescentou.
- Pronto, fecha-se meia dúzia de atendimentos permanentes lá no norte, junto à raia de Espanha, e se o pessoal estiver doente que vá até à Galiza. Não é longe e até parece que estão bem equipados, sugeriu o ministro dos negócios estrangeiros. Além disso, isto é como as privatizações: o que custa é a primeira vez!
- Boa, boa, essa é mesmo simplex! Disse o Sócrates a bater as palmas. É verdade, a saúde está a ter custos incomportáveis, sobretudo para uma população que além de estar a diminuir até respira saúde… a verba que gastamos com ela podia muito bem ter outras aplicações, por exemplo, o combate ao terrorismo jornalístico.
- Já agora digam lá: e temos lá em cima gente de confiança preparada para pôr em execução uma coisa dessas? Insistiu o Sócrates.
- Claro, claro, gente de confiança é coisa que não nos falta! Respondeu o ministro Jorge Lacão, que tinha chegado atrasado.
- Ora bem, sejamos práticos. Para pôr a coisa em execução é simples: decreta-se o encerramento dos centros de saúde durante um fim-de-semana, para apanhar o pessoal distraído e não dar tempo a que avancem com essa coisa das providências cautelares, que só têm dado maçadas e chatices, alvitrou o ministro da justiça. E uma iniciativa destas ao fim-de-semana só demonstra a prontidão e eficácia do governo no cumprimento do seu programa…
- Temos que distribuir os sacrifícios por toda a gente. Agora calhou a vez às gentes do norte. E se houver contestação, a polícia e a GNR lá estarão de prevenção e com os efectivos reforçados, sentenciou o ministro Pereira, o tal da administração interna.
- E se for preciso meto a tropa na rua, atalhou o ministro Santos Silva, aquele que sendo da defesa está sempre ao ataque. E continuou: atenção ao enquadramento! Temos que potenciar as sinergias do binómio polícias e forças armadas. A sorte protege os audazes, e comigo já sabem, não há fum-fum nem gaitinha!
- Então vamos lá acertar as agulhas. Isto vai ser canja. É como se estivéssemos a coiso e tal, isto é, a alavancar a recuperação económica, acrescentou o engenheiro incompleto a esfregar as mãos de contente.
Nesta altura do conselho, a mosca Umbelina não se conteve, e aproveitou a altura em que os presentes foram mordiscar uns bolinhos e beber qualquer coisa, e a ministra da educação foi até ao corredor para fazer um telefonema, para se esgueirar para a rua. Não era preciso ouvir mais. Só que nunca imaginou que aquela gente fosse de tal quilate. Uns autênticos bandoleiros!