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A guerra contra o terrorismo está a globalizar-se e assentou praça no Vaticano, sede da religião católica romana. O sumo-pontífice Bento XVI, no Dia Mundial da Paz, numa homilia carregada de radicalismo, afirmou que tanto quem pratica o aborto ou a eutanásia, como os cientistas que fazem investigação com células estaminais, têm uma actividade que são autênticos atentados à paz, logo comparáveis com a actividade terrorista. Assim mesmo, sem mais, para esta criatura, que tanto roça a demência como a triste figura, mas que se assume como a autoridade máxima da igreja católica, uma mulher que faça um aborto e um médico que o execute, ou um cientista que exerça actividade científica num laboratório, com células estaminais, são rigorosamente comparáveis aos terroristas, numa versão mista de Doutor Jekill e Mohamed Ata, que planeiam e executam atentados à bomba, contra terminais de autocarros, em horas de ponta de uma qualquer cidade. Esta Igreja, quando não é soporífero, transmuta-se em garboso cruzado.
Entretanto, nunca ouvi o Vaticano, esse grande transgressor travestido de consciência moral, que se crê infalível nos seus dogmas e grande inquisidor nas suas catilinárias, assumir a mesma enérgica postura quando sob o papado de Pio XII (beatificado por João Paulo II em 1998), o III Reich fomentava a eugenia e a eutanásia selectiva, além de assegurar a liquidação de opositores do regime e a conservação da pureza rácica ariana, com a instituição do trabalho escravo e do morticínio à escala industrial, uma autêntica e bem oleada linha de desmontagem, desde as próteses, os dentes de ouro, até ao cabelo, usando para tal os campos de extermínio de Auschwitz¬-Birkenau, Buchenwald, Sobibor, Belzec, Dachau, Plaszow, Bergen-Belsen, Chelmno, Majdanek, Treblinka, e mais uns quantos de que não me lembro agora o nome. Só judeus foram 6 (seis) milhões, número rectificado em tribunal, pelo próprio genocida Eichman. E não venham dizer que esse papa, aliás, todos os papas de lá para cá, não sabiam de nada, porque eles sabiam, e até demais. Foram muitos os resistentes e refugiados que fizeram chegar até Pio XII informações precisas da hecatombe que se estava a passar, só que à data dos acontecimentos, as relações entre o Vaticano, a Itália de Mussolini e a Alemanha de Hitler, eram as mais amistosas que se possam imaginar, sendo a cumplicidade e o silêncio papal a garantia de que, assim na Terra como no Céu, tudo estava em conformidade com os evangelhos. Mais recentemente, João Paulo II, não opôs a mínima resistência em receber e abençoar, em audiência papal, o crente e piedoso general Pinochet, outro grande torcionário e criminoso dos nossos tempos. Para esse monstro, que nunca se arrependeu das matanças que ordenou, bastou ter recebido a extrema-unção para ficar lavado de todos os pecados, sem excepção, e não se fala mais nisso. Aliás, bem feitas as contas e contrariando os ensinamentos de Jesus, a igreja sempre se deu melhor com os ricos e poderosos do que com os pobres e desprotegidos.
O terrorismo tem muitas faces. O tarado, maníaco e gratuito, o que coadjuva a guerra subversiva, o político, o de estado, o económico, e até o de sacristia, este último ora de braço dado com as tiranias, ora amancebado com o silêncio, ora agressivo e patibular, a mostrar-se herdeiro directo dos desprezíveis tribunais da Santa Inquisição, e das fogueiras dos seus autos-de-fé.