.
Alberto João Jardim, presidente da Região Autónoma da Madeira, recorrendo aos seus habituais tiques autoritários, advertiu os jornalistas para terem cuidado com as dramatizações do que aconteceu na ilha, na medida em que a economia madeirense depende do exterior, por via do turismo. Não consigo perceber a razão deste silenciamento, como se os operadores turísticos andassem distraídos, e não se inteirassem previamente das condições dos destinos que habitualmente oferecem. Tal como não percebo porque esse senhor insiste em estar pouco receptivo à declaração de estado de calamidade, por causa do eventual impacto negativo nos mercados turísticos, quando os meios de comunicação estrangeiros já deram notícia dos acontecimentos, e vai ser o próprio estado português que vai requerer auxílio à União Europeia, para fazer face aos efeitos da catástrofe, e isso é coisa que não passa despercebida.
Esta atitude faz-me lembrar o que aconteceu em 25 de Novembro de 1967, um sábado, já lá vão 42 anos, quando Lisboa e algumas das suas localidades limítrofes, foram atingidas por um grande temporal, que originou grandes inundações, com consequências catastróficas. Lembro-me perfeitamente de que chovia torrencialmente e de ver a Avenida da República, por alturas do Campo Pequeno, transformada num grande e caudaloso rio, já impossível de transpor, para eu chegar às instalações do Externato Crisfal, onde ia ter aulas, pelas nove e tal da noite. Encharcado até aos ossos, acabei por voltar para trás, rumo ao Campo Grande, atravessando a passagem de nível e escolhendo a Rua de Entrecampos como alternativa de regresso a casa.
Só nos dias seguintes nos começámos a aperceber da verdadeira extensão da tragédia. As chuvas diluvianas tinham atingido as zonas baixas e periféricas de Lisboa, Loures, Odivelas, Vila Franca de Xira e Alenquer. As cheias e enxurradas arrastaram carros, árvores, pessoas e animais, destruíram pontes, casas, estradas e condutas subterrâneas. As comunicações foram interrompidas e os transportes públicos ficaram paralisados. Bombeiros, Marinha, Exército e funcionários da Junta Autónoma de Estradas participaram nas operações de socorro, ao passo que os cadáveres das vítimas eram recolhidos nos quartéis dos bombeiros, lado a lado com os desalojados e sobreviventes da catástrofe.
À época, o regime autoritário de Oliveira Salazar e Américo Tomás, não estava interessado em divulgar as verdadeiras consequências daquela catástrofe, já que os principais atingidos tinham sido os grandes bairros periféricos e clandestinos da capital, plantados em leitos de cheia, de construção caótica, abarracada e com condições infra-humanas, habitados pelos estratos mais humildes da população. O número certo das vítimas nunca chegou a ser divulgado, já que o regime apertou a censura e decretou o fim da divulgação pública da contagem das vítimas. Depois do DIÁRIO DE NOTÍCIAS ter noticiado a 29 de Novembro de 1967 que até aquela data haviam sido contabilizados 427 mortos, a partir daí fez-se o silêncio, quando na realidade, os mortos foram mais de 700.
Naquela altura também o turismo era a quinta-essência das nossas actividades económicas, e a ditadura tinha que assegurar o prestígio possível, mantendo a miséria, e tudo o que com ela se relacionasse, arredada da boca de cena da paisagem e dos itinerários turísticos, recorrendo a grandes biombos de silêncio e desinformação.
Voltemos à Madeira e à catástrofe que agora tão tragicamente a assolou. Está na altura de Alberto João Jardim se convencer que aqueles tempos de 1967 já lá vão, que hoje a informação corre célere, é incompatível com isolacionismos patetas, e os mecanismos de recuperação das adversidades são bem mais humanos e surgem de onde menos se espera.
Alberto João Jardim, presidente da Região Autónoma da Madeira, recorrendo aos seus habituais tiques autoritários, advertiu os jornalistas para terem cuidado com as dramatizações do que aconteceu na ilha, na medida em que a economia madeirense depende do exterior, por via do turismo. Não consigo perceber a razão deste silenciamento, como se os operadores turísticos andassem distraídos, e não se inteirassem previamente das condições dos destinos que habitualmente oferecem. Tal como não percebo porque esse senhor insiste em estar pouco receptivo à declaração de estado de calamidade, por causa do eventual impacto negativo nos mercados turísticos, quando os meios de comunicação estrangeiros já deram notícia dos acontecimentos, e vai ser o próprio estado português que vai requerer auxílio à União Europeia, para fazer face aos efeitos da catástrofe, e isso é coisa que não passa despercebida.
Esta atitude faz-me lembrar o que aconteceu em 25 de Novembro de 1967, um sábado, já lá vão 42 anos, quando Lisboa e algumas das suas localidades limítrofes, foram atingidas por um grande temporal, que originou grandes inundações, com consequências catastróficas. Lembro-me perfeitamente de que chovia torrencialmente e de ver a Avenida da República, por alturas do Campo Pequeno, transformada num grande e caudaloso rio, já impossível de transpor, para eu chegar às instalações do Externato Crisfal, onde ia ter aulas, pelas nove e tal da noite. Encharcado até aos ossos, acabei por voltar para trás, rumo ao Campo Grande, atravessando a passagem de nível e escolhendo a Rua de Entrecampos como alternativa de regresso a casa.
Só nos dias seguintes nos começámos a aperceber da verdadeira extensão da tragédia. As chuvas diluvianas tinham atingido as zonas baixas e periféricas de Lisboa, Loures, Odivelas, Vila Franca de Xira e Alenquer. As cheias e enxurradas arrastaram carros, árvores, pessoas e animais, destruíram pontes, casas, estradas e condutas subterrâneas. As comunicações foram interrompidas e os transportes públicos ficaram paralisados. Bombeiros, Marinha, Exército e funcionários da Junta Autónoma de Estradas participaram nas operações de socorro, ao passo que os cadáveres das vítimas eram recolhidos nos quartéis dos bombeiros, lado a lado com os desalojados e sobreviventes da catástrofe.
À época, o regime autoritário de Oliveira Salazar e Américo Tomás, não estava interessado em divulgar as verdadeiras consequências daquela catástrofe, já que os principais atingidos tinham sido os grandes bairros periféricos e clandestinos da capital, plantados em leitos de cheia, de construção caótica, abarracada e com condições infra-humanas, habitados pelos estratos mais humildes da população. O número certo das vítimas nunca chegou a ser divulgado, já que o regime apertou a censura e decretou o fim da divulgação pública da contagem das vítimas. Depois do DIÁRIO DE NOTÍCIAS ter noticiado a 29 de Novembro de 1967 que até aquela data haviam sido contabilizados 427 mortos, a partir daí fez-se o silêncio, quando na realidade, os mortos foram mais de 700.
Naquela altura também o turismo era a quinta-essência das nossas actividades económicas, e a ditadura tinha que assegurar o prestígio possível, mantendo a miséria, e tudo o que com ela se relacionasse, arredada da boca de cena da paisagem e dos itinerários turísticos, recorrendo a grandes biombos de silêncio e desinformação.
Voltemos à Madeira e à catástrofe que agora tão tragicamente a assolou. Está na altura de Alberto João Jardim se convencer que aqueles tempos de 1967 já lá vão, que hoje a informação corre célere, é incompatível com isolacionismos patetas, e os mecanismos de recuperação das adversidades são bem mais humanos e surgem de onde menos se espera.