sábado, junho 11, 2011

Fantasia ou Contradição?

O JORNAL DE NOTÍCIAS avança com a informação de que «existem 220 mil agricultores (ao todo, há 400 mil em Portugal) a receber subsídios para não produzir. Trata-se de lavradores que se encontram no "regime de pagamento único", que apenas os obriga a manterem "agricultáveis" (isto é: em condições para voltarem a ter produção) os terrenos de onde arrancaram o que lá tinham. Destes 220 mil agricultores, há dois mil grandes produtores que recebem mais subsídios (250 milhões de euros) do que todos os outros juntos. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, entre 1999 e 2009, o país perdeu 25% das explorações agrícolas e 110 mil agricultores». Entretanto, fala-se em 60 mil milhões de Euros de subsídios europeus que se volatizaram para parte incerta, talvez para tudo menos para modernizar a agricultura.
Com este panorama e estes números atrás descritos, e a manter-se a inactividade imposta com a chancela da União Europeia, a qual reverteu a agricultura portuguesa para níveis próximos da subsistência – com Portugal condenado a ser importador e não produtor - como é que isso pode ser conciliado com a solução defendida pelo Presidente da República, de ser encetada uma política de incentivo aos jovens agricultores, com o objectivo de fazer o repovoamento agrário do interior do país e de combater o nosso défice de produção alimentar?
Assim a frio a coisa não se percebe, logo, gostava que me explicassem, como se eu fosse muito burro. De um lado paga-se para deixar de produzir, do outro incentiva-se para voltar a produzir. Contradição ou fantasia, eis a questão.

Imagem – “As Ceifeiras”, quadro a óleo de Silva Porto, 1893

sexta-feira, junho 10, 2011

Crónica de um dia sem história – O Largo

Hoje, desci ao Largo. Sim, também eu tenho um Largo. Não é, seguramente o Largo de que o Manuel (da Fonseca) nos fala e que era o centro do mundo. Este meu, mais modesto, é, apenas, o centro do meu povoado.
Neste meu Largo, está sempre um homem olhando em frente. Alheado das árvores que o circundam, olha em frente. Fixamente. Tentará, porventura, desvendar as novas e os mandados que virão.
Fica indiferente às conversas que escuta, tal como à chuva que o molha, ao frio e ao calor que já não poderão incomodá-lo.
Um ou outro, mais velho, fala dele como de um passado morto. Interiormente, sorri. O passado não morreu. O passado é a raiz, as fases diversas sobre que assenta o presente. O presente à espera do futuro. O passado é ontem; o presente é hoje; o futuro é amanhã.
Do passado nos chega a sentença: quem boa cama fizer, nela se há-de deitar.
Como dizia, desci ao Largo. Hoje. Hoje deveria ser um dia especial, deveria ser mas não é. Mais exactamente, não vi que fosse.
Em derredor do homem sempre presente, havia diversas pessoas, cavaqueando. Também um carro de som, tentando animar o ambiente com banalidades pseudo-desportivas.
Senti-me defraudado. De dia especial, nada vi. Regressei a casa. Olhei a estante onde arrumo alguns livros. Lá estavam Os Lusíadas. Melancolicamente, recordei: «Esta é a ditosa pátria, minha amada!»
Pois…

José-Augusto de Carvalho
10 de Junho de 2011
Viana*Évora*Portugal

(imagem: óleo de Vincent van Gogh (1853-1890)

Deve Haver Engano!

AS LINHAS que se seguem são excertos de um artigo da autoria do professor Vital Moreira, publicado no jornal PÚBLICO, e pretendem, supostamente, pintar um quadro do Portugal pós-Sócrates. Esforcei-me sobremaneira, mas acho que deve haver confusão com outro país qualquer, ou então o professor Moreira está muito equivocado. Este não é o Portugal que sobrou depois de 5 de Junho. Então diz assim:
«(...)
Se, por causa da crise e dos seus devastadores efeitos, não temos um país mais próspero, temos seguramente um Estado mais eficiente e uma sociedade mais livre e mais decente.
(...)
O que avulta é o profundo espírito de modernização da sociedade e do País e de valorização do capital humano e material, que inspirou tanto as reformas das relações de família com as políticas sociais (na educação, de saúde e de segurança social), bem como as orientações no campo da economia e das infra-estruturas materiais.
(...)
Nunca se tinha sido tão ambicioso no aprofundamento e na busca de sustentabilidade do Estado Social, na reforma do sistema de pensões, no alargamento e racionalização do SNS, na valorização e qualificação da escola pública, no alargamento do sistema de protecção social, incluindo no combate à pobreza.
(...)
Decididamente, temos agora uma economia mais apetrechada para a competitividade.
(...)»

quinta-feira, junho 09, 2011

Detergente Três-em-Um

HABITUALMENTE, não me intrometo na vida interna dos partidos. Deles, apenas me interessam as suas propostas políticas, o relacionamento político que mantêm entre si, com os cidadãos e com os órgãos de poder. Hoje, porém, abro uma excepção, ao tomar conhecimento que Francisco Assis é um dos candidatos a secretário-geral do ainda PS (partido Sócrates), mas não só. Em resumo: Francisco Assis quer uma no papo e duas no saco. Assis não faz nada por menos e, de uma assentada, candidata-se a secretário-geral do PS e a primeiro-ministro, já a contar com as eleições legislativas que hão-de vir daqui a quatro anos, e em simultâneo, talvez porque os tempos sejam de crise, apenas abre mão, temporáriamente, da função de lider parlamentar, mas só enquanto estiver a disputar a liderança do partido. O senhor, lá que é açambarcador, não há dúvida que é! Tal como o detergente três-em-um, limpa, desinfecta e faz brilhar. Quanto à promessa de o PS vir a "ser uma alternativa de esquerda credível", é outro assunto, que não vem agora para o caso.

quarta-feira, junho 08, 2011

E a Islândia Aqui Tão Perto...

HÁ QUEM diga que se isto passasse a ser um procedimento normal, deixaria de haver políticos disponíveis para governar os países, porém, a verdade é que o ex-primeiro-ministro islandês Geeir Haarde, foi formalmente acusado de negligência grave durante o seu mandato governativo, quando em 2008 o sistema financeiro islandês entrou em colapso, atirando o país para a bancarrota. O tal senhor vai a julgamento após o Verão.
Há actos cometidos no exercício da governação, em que a penalização com o afastamento da área do poder, por via eleitoral, não é punição bastante. Não se trata de forjar bodes expiatórios, exercer represálias ou ajustes de contas com os vencidos da luta política, mas sim de levar até à barra dos tribunais os autores dos ilícitos decorrentes de favorecimentos, compadrios, gestão incompetente, negligente e danosa do património público, celebração de contratos ruinosos, e tantos outros logros e estratagemas, de que o Tribunal de Contas dá conta, bem como todas as outras situações que deixariam de andar no segredo dos deuses, se fossem levadas a cabo as competentes auditorias externas às contas do Estado. Tudo somado, talvez nos mostrasse, de modo claro e incontroverso, quais as verdadeiras causas das dificuldades e do estado ruinoso com que agora nos estamos a confrontar, e a impunidade (que não se deve confundir com imunidade) deixasse de ser o escudo atrás do qual os políticos se abrigam, dando asas à sua vastíssima e prolífica criatividade.

segunda-feira, junho 06, 2011

Reflexão Pós-Eleitoral

«Preciso de uma iluminação muito mais sumptuosa do que a dos relâmpagos que abalam a montanha e dançam num oceano de chamas.»

In O BANQUETE de Soren Kierkgaard (1813-1855)

AINDA HÁ uma semana atrás se veio a saber que a equipa de José Sócrates, especializada em traficar promessas, negociatas, compromissos e “reajustamentos” de primeira e última hora, continuou a servir-se do poder para espoliar o país e os trabalhadores, até ao último momento do seu execrável e pouco escrupuloso governo de gestão. Ficaram como prova disso não só a carta de “intenções” dirigida à “troika”, bem como os sinistros e furtivos “ajustamentos de pormenor”, negociados após a assinatura do acordo, o que veio a acrescentar mais combustível à fogueira do calamitoso acordo para a concessão do empréstimo, que muitos teimam em qualificar de “ajuda”. Na altura, PSD e CDS/PP declararam-se escandalizados com este atrevimento (oh, que surpresa!), mas lá no fundo estão exultantes, pois o seu trabalho futuro está facilitado, o que vem dar razão à minha tese de que José Sócrates foi o mais duradouro e eficiente líder que a dissimulada coligação Cavaco Silva-PSD-CDS/PP teve até hoje. Foi assim, com este estado de espírito que no domingo, quando saí de casa para ir votar, mais do que votar para lá meter alguém, queria votar sim, mas para os tirar de lá, a este PS faz-de-conta e ao seu engenheiro de contrafacção.

FACE aos resultados eleitorais, que materializam a maioria sonhada por Francisco Sá Carneiro – um Presidente, um Governo e uma Maioria - acaba por se confirmar, agravado pela pesada abstenção, uma certa tendência masoquista do eleitorado português, que descartou, ignorou ou não percebeu que os interesses do PS (partido Sócrates) e da direita, há muito que deixaram de ser coincidentes com os interesses do país e dos portugueses. Persistem em manter-se insensíveis (até quando?) aos sinais e factos que se acumularam, entre brutalidades e crueldades do foro sócio-económico, ao longo dos últimos seis anos de governação. Ao ponto de José Sócrates, também ele sempre bem longe da realidade, entre algazarras, banhos de confiança e bebedeiras de optimismo, durante a campanha eleitoral, não se ter dignado dirigir uma única palavra a quem empurrou e fez transpôr o limiar da pobreza, e aos 700 mil portugueses que foram lançados no abismo do desemprego. Na hora da despedida ainda tivemos que o aturar durante mais de 30 minutos, com o seu derradeiro e lacrimejante discurso.

COM ISTO volta à baila aquela velha lei da política que diz que é possível enganar todos algum tempo, pode-se enganar alguns o tempo todo, mas não se pode enganar todos o tempo todo. Ora, em Portugal, depois de sucessivamente adiada, a lei está em vias de não se aplicar, não se percebendo porque é que isto acontece, e não bastando lavar as mãos como Pilatos, ou concluir que quem boa cama fizer, nela se há-de deitar. Na verdade, para perceber o fenómeno, preciso de uma iluminação muito mais sumptuosa do que a luz do relâmpago. Até lá, falta saber se o PS se vai limitar à cooperante, extravagante e mefistofélica missão de fiscalizar o cumprimento da condenação a que sujeitou o país e os portugueses, ou se vai conseguir fazer oposição, passando por cima da autoria dos muitos malefícios que exibem a sua assinatura, e quanto ao PSD e CDS-PP, como vão eles dissimular as respectivas cumplicidades e contribuições, na escolha dos ingredientes, nos temperos e cozedura dessas malfeitorias. Tanto num caso, como no outro, vêem-me sempre à memória as palavras do meu velho amigo senhor Barros, que advertia que há que ter muito medo e tomar precauções com os pirómanos da política, pois quando não conseguem sobreviver ao caos que criaram, largam fogo a tudo, para deixar ainda pior o que já era péssimo.

domingo, junho 05, 2011

À Boca das Urnas - Se Não Votares, Ficas Caladinho!

O FACTO de um cidadão decidir abster-se de votar, não lhe retira a legitimidade nem o direito a ter opinião, que pode ser crítica ou não, sobre os caminhos da futura governação, até porque isso colocaria em causa o exercício da liberdade, um dos fundamentos da democracia e dos direitos cívicos. No dia reservado à reflexão (4 Junho 2011), moderar-se nas suas admoestações de índole paroquial, era o mínimo que se pedia ao Presidente da República.

NOTA – Mário Soares, interrogado pelos jornalistas, parece que subscreveu esta opinião. Au revoir, mon ami!

À Boca das Urnas - Uma Blague de Antologia

O líder do PS [José Sócrates] decidiu refutar [nas últimas horas da campanha eleitoral] os que o criticam por “não falar” de propostas. A resposta, ao fim de duas semanas de campanha por todo o país, foi desconcertante: “São poucos os segundos de televisão a que um pobre político tem direito.”

Excerto da notícia do jornal PÚBLICO on-line de 3 de Junho de 2011

Primeiro Entre os Melhores

(…) Aprendi a desenhar na Escola Italiana do Porto, cidade onde nasci, e no liceu decidi ser arquitecto. Não é que tivesse alguma paixão especial pela disciplina, mas na crise agnóstica dos 15 anos, duvidei se Deus devia ter descansado ao 7º dia. É que, pensando bem, ficou por fazer uma geografia como a de Delfos, a Acrópole para receber o Parténon ou secar um pântano no Illinois, onde a Farnsworth pudesse ficar. (…)
Depois da Revolução, e restabelecida a Democracia, abriu-se a oportunidade de redesenhar um país, onde faltavam escolas, hospitais, outros equipamentos, e sobretudo meio milhão de casas. (…)
Do que precisávamos era de uma linguagem clara, simples e pragmática para reconstruir um país, uma cultura, e ninguém melhor que o proibido Movimento Moderno poderia responder a esse desafio. (…)
Com 10 séculos de História, Portugal encontra-se hoje numa grande crise social e económica, como já aconteceu em vários períodos anteriores. Hoje, como ontem, a solução para a arquitectura portuguesa é emigrar. (…)

Excertos do discurso do arquitecto Eduardo Souto de Moura ao receber o Prémio Pritzker 2011

Ver discurso completo do arquitecto Eduardo Souto de Moura ao receber o Prémio Pritzker 2011

Ver discurso do Presidente dos EUA, Barack Obama, na entrega do Prémio Pritzker de Arquitectura ao arquitecto Eduardo Souto de Moura

quinta-feira, junho 02, 2011

Pelo Sim, Pelo Não…

POR UM voto se ganha, por um voto se perde, por isso, há quem lhe chame um doce, quando aparece na urna um boletim de VOTO em BRANCO. Por outro lado, e como nunca nos devemos fiar na eficácia do nosso Ministério da Administração Interna, NÃO se esqueçam de levar convosco o NÚMERO DE ELEITOR!

NOTA – Este é o meu último post até que estejam apurados os resultados da eleição de domingo, dia 5 de Junho de 2011. Até lá, vou reflectir maduramente em quem votar, porque em quem não vou votar, já está decidido há muito. Isto de passar procuração a alguém é assunto sério, e não se pode voltar atrás na decisão. Votem bem!

terça-feira, maio 31, 2011

Para Meditar

«(...) Gosto muito de Portugal – se tiver uma paixão é Portugal – e não gosto de ninguém que dê cabo dele. O Sócrates está no topo da pirâmide dos que dão cabo disto. Entre o mal e o bem que faz, com o Sócrates, a relação é desastrada. (...)»


Excerto da entrevista que Henrique Neto, empresário e membro do PS, concedeu ao JORNAL DE NEGÓCIOS, em 5 de Novembro de 2010. Consulte o texto completo no CARTÓRIO DO ESCREVINHADOR

Fala a Experiência

… e depois, se te portares bem, até podes ter uma fundação para te entreteres, uma biografia a sério escrita por aquela jornalista que tu conheces, polícias e seguranças à porta, 24 sobre 24 horas, teres telemóveis em barda para escavacares, a oportunidade de abraçar uma causa como seja a protecção dos animais ferozes, ires à pesca de robalos com o Vara ou à caça das codornizes com o Alegre, frequentares um curso de artes marciais na China, integrares o conselho de administração da empresa que faz os “magalhães”, seres proprietário de um ginásio com spa no Freeport, jantares no Chez Dominique, considerado um dos melhores restaurantes do mundo, andares sempre com um teleponto na bagagem, porque podes ser convidado para discursar na Internacional Socialista ou nas campanhas eleitorais que vão aparecendo por aí, dares, uma vez por outra, aulas de inglês técnico na escola EB+S da tua área de residência, bem como beneficiares das mordomias que apenas estão reservadas aos grandes e excelentes estadistas como nós. É uma experiência alucinante, e tu tens estofo, podes crer!

segunda-feira, maio 30, 2011

A Bem do Betão e do Alcatrão

A ASSUNTO já era do conhecimento público, mas Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, e muito a propósito, voltou a recordá-lo com o respectivo sublinhado. O senhor Almerindo Marques antecipou em dois anos a sua saída da presidência das Estradas de Portugal, para ir assumir a liderança da Opway, empresa construtora do Grupo Espírito Santo. Isso aconteceu porque o dito senhor tem muita influência, sabe mexer os cordelinhos e faz muita falta noutros círculos, como foi o caso de Jorge Coelho, quando há uns anos atrás, depois ter passado pelos tablados da governação, acabou à frente dos destinos da Mota-Engil (Abril 2008), considerada uma das construtoras do regime. Não é preciso grande esforço para se perceber que estas transferências ilustram as cumplicidades e “uniões de facto” que se continuam a estabelecer entre as construtoras dos grupos económicos e financeiros, e a constelação de interesses que giram à volta do aparelho de Estado, traficando influências, chorudos negócios - como as Parcerias Público-Privadas - e outras coisas mais, que muito têm contribuído, não para o progresso do país e da sua recuperação económica, mas sim para o seu colapso e falência.
Tudo isto acontece, quase em simultâneo, com a decisão de o Tribunal de Contas de recusar o visto prévio a cinco concessões lançadas pela Estradas de Portugal (Douro Interior, Baixo Alentejo, Algarve Litoral, Litoral Oeste e Auto-Estrada Transmontana), na qual a Estradas de Portugal se comprometia a fazer pagamentos extraordinários, que carecem de fundamentação jurídica, por ter havido, diz ela, entre outras razões, uma degradação das condições financeiras entre a proposta inicial, com que os concorrentes foram seleccionados, e a final, com que assinaram os contratos. Habituados como estão a que os bolsos dos portugueses não tenham fundo, os governos (mesmo os de gestão) já nem sequer se esforçam por dissimular as suas negociatas, sobretudo aquelas que mexem com o rico e inesgotável filão do betão e do alcatrão.

sábado, maio 28, 2011

Aprender com os Filmes



«Há homens neste mundo que nasceram para fazerem por nós todos os trabalhos difíceis e desagradáveis.»

«Só se conhece realmente uma pessoa quando se entra na pele dela e se anda por lá um tempo»

Do filme To Kill a Mockingbird (Na Sombra e no Silêncio), de Robert Mulligan, 1962

Registo para Memória Futura (42)

«Acho que José Sócrates, se não ganhar as eleições, vai ser difícil de segurar, mesmo como líder do partido. Eu tentarei tudo por tudo, mas vai ser difícil de segurar, mesmo como líder do partido (...) ele próprio há-de querer fazer tudo para simplificar uma solução nacional. Ele é um patriota, não tenho a mínima dúvida sobre isso. Não estará agarrado ao poder, é evidente. Pelo contrário! Vai sair disto cansadíssimo, estafado, e também precisa de repousar.»

Declarações de António Almeida Santos, presidente do Partido Socialista, em entrevista ao semanário SOL de 27 de Maio de 2011

quinta-feira, maio 26, 2011

Registo para Memória Futura (41)

«Governo confirma que pôs Segurança Social ao serviço da dívida pública.
É oficial. O Fundo da Segurança Social foi colocado à disposição de uma gestão mais "eficiente" da dívida pública.
A confirmação da interferência do Governo na política de gestão do Fundo consta de um despacho de Teixeira dos Santos publicado segunda-feira em Diário da República, quase dois meses depois de se ter noticiado que a Segurança Social foi uma das entidades a socorrer a dívida pública portuguesa
.»

Notícia do JORNAL DE NEGÓCIOS de 25 de Maio 2011

Meu comentário: E depois ainda dizem que os “outros” é que querem dar cabo do Estado Social… Na verdade, e por este andar, quando os tais “outros” o quiserem demolir, o mais difícil estará feito, e já não restará pedra sobre pedra.

segunda-feira, maio 23, 2011

Conversa de TROIKAnos

DEPOIS de um deles ter dito que não governava com o FMI, o outro ter dito que não governava com o Zézito, e o terceiro estar por tudo, apesar das negaças que vai fazendo, sempre quero ver como isto vai acabar…

Sobre a Meritocracia (*)

«(…)
A meritocracia é um dos pilares do management napoleónico. Premiar o mérito foi uma das obsessões de Napoleão, que aplicou um sistema rápido e eficiente de reconhecimentos para quem tivesse dado particulares provas de valentia, eficiência, lealdade e capacidade de sacrifício. Escreve Las Cases: “Os mesmos títulos e as mesmas condecorações cabiam a eclesiásticos, militares, artistas, cientistas, literatos (…) Temos de admitir que em parte nenhuma, com nenhum povo, em época nenhuma, o mérito foi mais honorificado, nem o talento mais magnificamente recompensado”. Napoleão já tinha tratado de explicar que “ninguém tem interesse em derrubar um governo em que todo aquele que tiver mérito encontra o seu lugar”. Mas, em contrapartida, é preciso haver uma justiça justa e rápida: “punir severamente para não ter que punir a todo o momento”.
(…)»
Excerto do livro “Lições de Napoleão – A natureza dos homens, as técnicas do bom governo e a arte de gerir as derrotas” da autoria de Ernesto Ferrero (Teorema – 2009)

(*) Do dicionário – s.f. Sistema social, administrativo ou educacional em que os mais habilitados e competentes, fruto dos seus progressos e sucessos, são recompensados, promovidos ou escolhidos para chefiar; sistema onde o mérito pessoal determina a hierarquia, em vez de se basear na riqueza ou estatuto social.


Por estar pouco difundida e raramente a terem experimentado, a meritocracia é uma coisa que muito poucos portugueses sabem o que é.

domingo, maio 22, 2011

Epigrama

Se de Camões o Espírito, algum dia,
A pátria visitasse,
Quando na douta Academia entrasse…
(Para ouvir o que nela se dizia),
Confuso, pensaria: - Que erro enorme!
Como eu julguei ser esta pifieza
Aquela antiga pátria portuguesa
Que me deixou morrer à fome!...

Poema de Carlos Queiroz (1907-1949) em “II Epístola aos Vindouros e Outros Poemas”

sábado, maio 21, 2011

As Palavras, os Actos, a Honestidade e a Autoridade Moral

José Sócrates irritou-se esta manhã (19-Maio-2011) com um empresário durante uma conferência organizada pelo «Diário Económico». Depois da intervenção do primeiro-ministro demissionário e líder do PS, chegou a fase das perguntas.

«Fez um discurso muitíssimo bem conseguido, é profundo conhecedor dos problemas, mas eu tenho um problema essencial consigo, os seus actos não reflectem as suas palavras», afirmou um empresário, aplaudido de imediato pela plateia. A justificação para este «problema» surgiu depois. O empresário afirmou que «nos últimos seis anos o país perdeu sistematicamente competitividade» e perguntou a Sócrates «o que vai mudar para fortalecer a competitividade» caso seja reeleito.

«Não gostei do que disse», começou por responder Sócrates. «E não gostei por uma razão muito simples: Eu faço o meu melhor para que as minhas palavras correspondam exactamente aos meus actos. Desculpe, eu não lhe reconheço nenhuma autoridade moral para dizer que as suas palavras correspondem melhor aos seus actos do que as minhas», respondeu, visivelmente irritado.

«Os políticos podem sempre ter objectivos que não são cumpridos, mas o que me espanta é que o senhor não seja capaz de reconhecer, com honestidade, que entre 2005 e 2007, antes da crise que todo o mundo viveu, que a nossa economia estava a crescer. 2007 foi o ano em que a economia mais cresceu durante esta década», afirmou ainda José Sócrates.

«Considero injusto que considere que o meu governo também é responsável pela crise internacional. Fez o que fizeram os outros Governos», disse ainda.

Transcrição do site do canal de televisão por cabo TVI24

Moral da História: O Mundo, e Portugal muito em especial, estão pejados de impostores, que se consideram, campeões da verdade, honestidade e moralidade. Em contrapartida, há um défice de pessoas que não tenham receio de os colocar no seu devido lugar.