quinta-feira, janeiro 31, 2013

Mãe-Pátria


HÁ PRECISAMENTE 70 anos (31 de Janeiro de 1943) o 6º. Exército da Wehrmacht da Alemanha, na pessoa do Marechal-de-campo Friedrich von Paulus, capitulava perante o General Mikhail Stepanovich Shumilov do 64º. Exército Vermelho da União Soviética, após uma batalha iniciada em 17 de Julho de 1942, que durou 199 dias, e cujo objectivo era a conquista da cidade de Estalinegrado (hoje Volgogrado), sobranceira ao rio Volga, no quadro da invasão da União Soviética, levada a cabo pelos exércitos nazis do III Reich. Confrontados nas primeiras semanas com a devastadora supremacia bélica alemã, os russos não cederam. Sempre tinham afirmado, convictamente, que quem tivesse a pretensão de conquistar a Rússia, teria primeiro que se atrever a atravessar o rio Volga, e mais uma vez isso não aconteceu. A ofensiva alemã sobre a cidade de Estalinegrado, com a sistemática destruição das linhas defensivas pelas divisões Panzer, os milhares de bombardeamentos da Luftwaffe, que deixaram todos os edifícios destroçados e fizeram milhares de vítimas civis, a batalha dentro da cidade, rua a rua, casa a casa, corpo a corpo, de uma violência assustadora, e depois a desesperada contra-ofensiva soviética, ajudada pelo implacável Inverno russo, acabou por se saldar no cerco e destruição de todo o 6º Exército alemão e outras forças aliadas do Eixo. O sabor amargo da derrota, que já Napoleão Bonaparte havia experimentado em Outubro de 1812, enchia agora à boca do alucinado Fuhrer, que iria ter que engolir muitas mais vezes, o veneno que ele próprio destilava.

Foi uma das maiores batalhas da II Guerra Mundial, senão mesmo de toda a História, que acabou por inverter o rumo e o protagonismo militar, não só na frente leste, mas também no cenário europeu daquele conflito mundial. A partir daquela batalha, a Alemanha nazi iniciou um recuo em todas as frentes, comprimida tanto a leste como a oeste pela tenaz dos exércitos aliados, e que só se deteve em Berlim, para a capitulação final. Adolfo Hitler estava decidido a conquistar Estalingrado a qualquer preço, ao passo que o povo russo estava determinado a defendê-la, custasse o que custasse, e para que isso fosse possível, todos os recursos foram mobilizados e direccionados para a sua defesa. Enquanto se combatia cá fora, na zona industral da cidade, quase arruinada e defendida por milícias civis, lá dentro continuavam a produzir-se armas, munições e carros de combate, que saíam directamente da linha de montagem para o fragor dos combates, muitas vezes tripulados pelos próprios operários. Ali, o horror da guerra tomou proporções gigantescas. De noite, até os cães arriscavam a travessia do Volga a nado, para fugirem ao inferno de ferro e fogo em que a cidade se tornara. No total, 22 divisões alemãs não regressaram de Estalinegrado; ou ficaram ali sepultadas para toda a eternidade, ou tomaram o caminho do cativeiro após a capitulação. O preço final daquela batalha em vidas humanas, ainda hoje, não é rigoroso, sabendo-se apenas que do lado das forças invasoras que incluiam exércitos alemães, romenos, croatas, italianos e hungaros, teriam soçobrado 850.000 soldados, mais 91.000 prisioneiros, ao passo que do lado soviético, contando militares e vítimas civis da população da cidade, o seu número ascendeu a perto de 1.170.000.

O colossal monumento denominado Mãe-Pátria, erguido na década de 1950, na colina de Mamayev Kurgan, sobranceira à cidade, inclui construções arruinadas, conservadas no estado em que ficaram após a batalha, fazendo parte de um memorial destinado a perpetuar a odisseia do povo russo, obrigado a atravessar quase 200 dias de inferno.

Já Nem o Bacalhau Escapa

A COMISSÃO Europeia vota hoje uma proposta para a aplicação de aditivos alimentares no bacalhau, nomeadamente polifosfatos, os quais prejudicam a sua cor, textura e sabor. Apesar de Portugal ter garantida uma moratória para a aplicação desta medida, á quase certo que, a breve prazo, iremos ter na mesa uma coisa que de bacalhau apenas terá o nome.

segunda-feira, janeiro 28, 2013

O Retrato de Portugal

SE QUISERMOS economizar nas palavras, podemos comparar Portugal a um quadro negro montado numa moldura dourada. Porém, para fazermos o retrato de um país, não podemos ser tão avaros e redutores. Para compreendermos as causas e avaliarmos as consequências da persistente treva desse quadro, temos que dizer algo mais. Para lá chegar escolhi dois textos exemplares, pois ambos se complementam, pouco mais ficando por dizer. Podem ser lidos no CARTÓRIO DO ESCREVINHADOR. O primeiro é "Portugal finis terrae" de Pedro Rosa Mendes, e o segundo é "O peixe apodrece pela cabeça" de José Pacheco Pereira. 

quarta-feira, janeiro 23, 2013

A Sinistra Intenção

Embora assinado apenas com iniciais, recebi por e-mail o texto que passo a transcrever. O seu conteúdo tem sentido e oportunidade, deve ser lido e digerido, pois não há nada pior do que sermos apanhados desprevenidos.

«Quem disse que é bom ter um português como presidente da Comissão Europeia, que neste caso importante se manteve em silêncio como cúmplice desta sinistra intenção ? Se hoje em França não fosse Hollande o presidente, continuaríamos na total ignorância por falta de divulgação na imprensa desta tramoia, que continuaria escondida numa gaveta dos governos ultra-liberais da Europa ao serviço dos Bilderberg's Group. Esta directiva existe desde Dezembro de 2011, já depois de o governo de Passos Coelho estar em funções. Alguém ouviu ou leu algo a seu respeito na imprensa portuguesa ? Pois...

Clique aqui no CARTÓRIO DO ESCREVINHADOR, para continuar a ler o artigo

terça-feira, janeiro 22, 2013

Um Acordo para a Desalfabetização



Exmos. Senhores

Ministro da Educação e Ciência
Prof. Doutor Nuno Crato
Avenida 5 de Outubro, 197
1069-018 Lisboa

e

Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros
Dr. Paulo Portas
Palácio das Necessidades, Largo do Rilvas
1399-030 Lisboa

REQUERIMENTO

Madalena Homem Cardoso, portadora do B.I. nº (), emitido pelos S.I.C. de Lisboa em (), mãe e Encarregada de Educação de Inês (), aluna nº () da turma () do 3º ano da EB1 (), em Lisboa, na sequência da Carta Aberta por si dirigida a S. Exa. o Senhor Ministro da Educação com data de 24/03/2012, para a qual não logrou obter qualquer resposta durante os mais de nove meses desde então decorridos, vem interpelar Vossas Excelências por via do presente requerimento, tendo em conta que:

(Ler todo o REQUERIMENTO aqui, no CARTÓRIO DO ESCREVINHADOR)

segunda-feira, janeiro 21, 2013

Sempre-em-Pé e Sempre-em-Festa

O FORA-DA-LEI Alberto João Jardim, presidente do Governo Regional da Madeira e ilustre grosseirão, ajusta-se que nem uma luva ao patético figurão Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro desta república das bananas, ao estar-se nas tintas para o que este determina e manda publicar. Vai manter a tradição, dando tolerância de ponto no dia de Carnaval, isto é, feriado para toda a gente e farra a condizer, até ao funeral do Entrudo, seguindo igualmente a outra tradição, de serem os “cubanos do cotenente” a pagarem o continuado regabofe madeirense.

domingo, janeiro 20, 2013

Premissas Erradas de Um Relatório

«O Relatório do FMI propõe-se «repensar o Estado». Mas, no fundo, o que pretende é reduzir ou mesmo aniquilar o Estado Social, acabando com o ensino público gratuito, com a saúde tendencialmente gratuita e, para terminar, com a própria Segurança Social. E os seus autores, para justificar a privatização acelerada de sectores sociais que despertam a gula do grande capital, dando testemunho público de enorme desonestidade intelectual e política, não hesitam sequer em omitir ou falsificar dados. Ou, então, subvertem a lógica do raciocínio tirando conclusões que não resultam das premissas.

Na educação, com a proposta de despedimento de 30 a 50 mil docentes, visam liquidar a escola pública e atribuir a educação às escolas privadas.

Gasta-se muito com a educação, nada menos que 6,2% do PIB, o mesmo que a Austria e a Finlândia, falsificam. E no entanto, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, em 2010, gastava-se na educação 5% do PIB e em 2011 apenas 3,8%, quando a média da União Europeia é de 5,5%.

O sistema educativo é pouco eficiente em Portugal, voltam eles a falsificar, transcrevendo resultados de 2000 e 2003, na leitura, na matemática e nas ciências. E escamoteiam o facto de, em 2009, os alunos portugueses estarem já na média europeia e o próprio PISA ter reconhecido que os resultados tinham melhorado muito, ultrapassando até os países mais ricos.

Os alunos do ensino oficial ficam mais caros do que os do ensino particular, mentem eles, invocando o exemplo de colégios com contratos de associação. Ora, num estudo recente, um grupo de trabalho do próprio Ministério da Educação mostrou que, no ensino básico (onde se concentram mais de 80% dos contratos de associação), o custo médio por turma nos colégios é superior em quase 19.000 euros ao registado na escola pública. Os autores do relatório do FMI conhecem perfeitamente o estudo do Ministério. Mas omitem as suas conclusões, para que não impeça uma qualquer solução liquidatária da escola pública.

Aí está, pois, o estudo «muito bem feito» de que falava o secretário Moedas, antigo servidor da «Goldman Sachs» e hoje porta-voz do projecto contra-revolucionário do governo Passos Coelho.

Em Portugal, gasta-se demasiado com a saúde, à volta dos 7% do PIB. E uma das causas seria o facto de os médicos portugueses do sector público ganharem mais que alemães, italianos e noruegueses, mentem com descaramento. Ora, em 2012, os médicos portugueses, com um horário de 40 horas, ganhavam entre 1.576 e 6.142 euros, ao passo que um italiano ganhava entre 4.318 e 11.594 e um alemão entre 3.538 e 6.695 euros. Quanto às despesas com a saúde, essas tinham descido de 7% para 5,2% do PIB, muito abaixo dos países desenvolvidos.

Os portugueses reformam-se demasiado cedo. Deve-se, pois, cortar nas reformas e estimular o envelhecimento activo, proclama o FMI no seu Relatório. Ora um estudo da OCDE mostrava que, já em 2000, os portugueses eram dos que se reformavam mais tarde. E um Relatório da União Europeia de 2012 colocava Portugal no topo da escala dos que continuavam a trabalhar depois da reforma: em 2011, faziam-no cerca de 22% dos reformados entre os 65 e os 69 anos.

O «estudo» encomendado e, presumivelmente, pago a preço de ouro, ao falsificar ou omitir dados relevantes e actuais, não pode ajudar a fazer qualquer debate. Só pode ser utilizado por quem pretende avançar com um projecto contra-revolucionário, que afundará o país. E só pode ser considerado «bem feito» por quem está de má-fé ou padece de uma confrangedora menoridade intelectual, o que acaba por explicar a enorme incompetência e a confrangedora inabilidade política.»

(texto de Maria Amélia Guimarães recebido por e-mail)

sábado, janeiro 19, 2013

Louça das Caldas


ANTÓNIO José Seguro disse que quer ganhar as próximas eleições com uma maioria absoluta. Com a experiência que temos de maiorias absolutas, a melhor resposta que encontrei à sua pretensão foi com a ajuda de louça das Caldas.

sexta-feira, janeiro 18, 2013

O Que Se Chama a Um Gajo Que Diz Isto?


"Ninguém aconselhou os portugueses a emigrarem"

Frase pronunciada pelo primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, durante uma conferência de imprensa, no consulado-geral de Portugal em Paris.

quarta-feira, janeiro 16, 2013

Pare, Escute e Olhe


- O que é que aconteceu ao Libório?
- Foi enganado!
- Enganado como?
- Meteu-se naquele túnel de que fala o governo, viu uma luz lá ao fundo, julgou que era a recuperação e o fim da crise, mas acabou trucidado pelo comboio da austeridade.

Moral da história: É desejável que se pare, que se escute e se olhe, mas não se deve acreditar em tudo o que se ouve, se vê ou se lê.

terça-feira, janeiro 15, 2013

Livros e Autores Que Me Fascinaram


 
JORGE LUÍS BORGES (antologia de CONTOS)
 
Edição apresentada, organizada e traduzida por Serafim Ferreira
Editorial PRESENÇA
Composto e impresso na Tipografia Rios & Irmão, Lda. – Santa Maria de Lamas
1965
 
Índice
 
PIERRE MENARD, AUTOR DO QUIXOTE
O JARDIM DOS CAMINHOS QUE SE DIVIDEM
O ALEPH
TEMA DO TRAIDOR E DO HERÓI
AS RUÍNAS CIRCULARES
O IMORTAL
A OUTRA MORTE
REQUIEM PELA ALEMANHA
O FIM
O SUL
 
NOTA – Jorge Luís Borges (1899-1986), escritor de nacionalidade argentina, recebeu em 1961 o Prémio Internacional dos Editores e em 1965 o Prémio Formentor.

segunda-feira, janeiro 14, 2013

P(artido) S(eguro) ou Albergue Espanhol?

DEPOIS de Álvaro Beleza, membro do secretariado nacional do PS, ter defendido em entrevista ao JORNAL DE NOTÍCIAS, o fim da ADSE, por ser um injusto sistema de saúde, único na Europa, o líder parlamentar do PS, Carlos Zorrinho, negou que o partido defenda o fim da ADSE.

Na minha opinião, era bom que primeiro se entendessem lá dentro, antes de virem dizer coisas cá para fora. Quando o PS vem dizer que querem inverter esta deriva direitista do governo, e que estão prontos para governar o país, o anãozinho que me costuma vir segredar ao ouvido, volta sempre a dizer a mesma coisa: «Não acredites em tudo o que ouves, ou em tudo o que vês! Acredita apenas naquilo que eles fazem.»

domingo, janeiro 13, 2013

Estado de Negação


DEPOIS das listas de espera para intervenções cirúrgicas nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde, eis que surgem também racionamentos e listas de espera para o acesso a medicamentos que combatem o cancro, a esclerose, a artrite e a hepatite. Desde o ministério da sáude, até às administrações hospitalares e Infarmed, todos garantem desconhecer tal situação, arranjam desculpas ou negam que as restrições estejam a suceder, mas o facto é que médicos e associações de doentes se queixam que o procedimento está em curso, e até já se morre por falta de tratamento.

Esta é mais uma faceta que ilustra o tipo de governação desta direita. Além de ser cabotina e troglodita, também começa a ser sinistramente exterminadora.

sexta-feira, janeiro 11, 2013

A Ordem dos Factores

O Presidente da República durante uma cerimónia com jovens inventores premiados em concursos internacionais, afirmou que "melhorar a imagem do país é decisivo para contribuir para a sua recuperação económica". Está errado! Deveria ter dito que contribuir para a recuperação económica é decisivo para melhorar a imagem do país. Tal como um analfabeto não deixa de o ser, pelo facto de andar vestido com um belo fato de marca, também este é um caso em que a ordem dos factores não é arbitrária. Além de que um troca-tintas será sempre um troca-tintas, mesmo que o quadro seja a preto e branco.

quinta-feira, janeiro 10, 2013

E Vamos Deixá-los Andar Por Aí?

ALGUNS dos bandoleiros que integram o Governo, afirmaram desavergonhadamente, que não tiveram nenhuma interferência no documento que o FMI produziu, e onde se traçam as directivas para voltar a derreter as “gorduras do estado”, efectuando o tal assalto aos 4.400 milhões de euros, a coberto duma suposta “refundação” do estado social. Ora os parágrafos finais desse documento, dizem exactamente o contrário. Estão lá todos. Basta ler AQUI no blog DA LITERATURA de Eduardo Pitta

terça-feira, janeiro 08, 2013

Janeirices

COM um abundante sabor a chantagem, alguns membros do governo (e não só!) andam a advertir as "massas populares" para os efeitos "catastróficos" que adviriam se o Tribunal Constitucional declarasse a inconstitucionalidade de alguns dos artigos do Orçamento de Estado, e se este tivesse que ser alterado, contrariando os ditames da troika. Garantem eles que ficaria em causa a ajuda financeira externa, bem como as conjecturas do "visionário" primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, quando volta a repetir que a fé na "luz ao fundo do túnel" é que nos salva.

domingo, janeiro 06, 2013

Entrevista Pós-Réveillon

COM Pedro Passos Coelho, também os Conselhos de Ministros sofreram um grande reajustamento, com conselhos a terem direito a fotografia e conselhos sem direito a fotografia. As decisões são agora tomadas com os ministros divididos em quatro grupos, isto é, os que têm dossiers complicados, os que têm dossiers assim-assim, e os que têm dossiers fáceis ou não têm dossiers nenhuns. O quarto grupo, que por motivos óbvios, habitualmente não consta da ordem de trabalhos, integra o ministro plenipotenciário Relvas, bem como o ministro sem pasta ou das privatizações António Borges, ou ainda o ministro-sombra Ricardo Salgado. As decisões passaram a estar escalonadas em três grupos: as que se sabem logo, as que se sabem passado algum tempo e as que nunca se sabem, e dentro de cada um destes grupos, aquelas que são constitucionais, as que já roçam a insconstitucionalidade, e as que são declarada e manifestamente inconstitucionais.
Foi já com esta estrutura instalada que conseguimos obter a entrevista que se segue, realizada após o último Conselho de 2012, e depois de um discreto réveillon que teve lugar nas instalações do Governo, em que os ministros comeram passas, beberam vinho morangueiro e desejaram um bom ano, uns aos outros. Fomos encontrar o ministro das finanças às voltas com uma foilha de excel e a aprimorar uma apresentação em power-point para o próximo conselho europeu, ao mesmo tempo que mordiscava um croquete e molhava o bico numa água das pedras.

- Oh senhor doutor, diz-se por aí que o Governo decidiu no último dia do ano de 2012, recapitalizar o banco Banif, injectando-lhe 1.100 milhões de euros, daquele empréstimo da troika, numa espécie de "nacionalização temporária", como forma de garantir os depósitos dos clientes. É verdade?
- Correcto e afirmativo. Tomámos em consideração que havia uma situação de tratamento desigual do Banif, em relação aos outros bancos que já foram ajudados, e não queremos que haja descriminação, mas sim equidade entre as sociedades financeiras. Além disso, não fazendo nada, o Banco de Portugal ainda era capaz de levantar problemas...
- Oh senhor doutor, desculpe lá, mas isto até parece uma reedição do que foi feito com o famigerado BPN. Mas então não seria mais correcto serem os accionistas do banco, isto é, os seus verdadeiros donos, a terem a responsabilidade dessa recapitalização?
- Mau, não me estou a fazer entender! Veja, é que no quadro actual, tal não é possível nem aconselhável, pois os próprios accionistas, coitados, também atravessam dificuldades, também eles estão descapitalizados, além de que os accionistas estão mais vocacionados para receber dividendos do que a ter que fazer investimentos, e como é compreensível, fazer investimentos nesta altura é um grande risco, um grande bico-de-obra...
- Entretanto, e vendo as coisas que se passaram com o BCP, o BPN e o BPP, também já há quem diga que não há três sem quatro. Será?
- Repare, qualquer semelhança com os casos que referiu é pura coincidência. E não acredite em tudo o que ouve. Quem diz isso são os bota-abaixo do costume, gente que vive mergulhada na realidade virtual, gente que vive de especulação...
- Mas senhor doutor, assim a frio, isso é uma prática pouco correcta no actual quadro de crise de que fala. E isto quando o próprio Presidente da República diz que os sacrifícios têm que ser partilhados de forma proporcional, e mais uma vez quem vai pagar a factura são os pagadores do costume.
- Pois é, mas o que é que se há-de fazer? Para tempos de excepção têm que haver soluções excepcionais, e é este o caso. Em casa onde não há pão, todos ralham com carradas de razão, e o Governo não podia ficar imóvel, insensível e indiferente perante as dificuldades que a sociedade civil está a atravessar...
- A sociedade civil? Os accionistas do banco, quer o senhor dizer!
- Exactamente. Mas alguém duvida que os accionistas do banco pertencem à sociedade civil?

quinta-feira, janeiro 03, 2013

Ainda o Pai Natal...

- SABIAS que a UGT, pela boca de João Proença, ameaçou rasgar o acordo tripartido de concertação social que assinou no início de 2012, porque o Governo deu o dito por não dito e resolveu baixar de 20 para 12 dias as indemnizações por cada ano de trabalho, em caso de despedimento?
- Ah sim, não me digas? É que o João Proença já devia saber que negociar e assinar acordos com o Governo é a mesma coisa que acreditar no Pai Natal...

quarta-feira, janeiro 02, 2013

Onde Pára a Bandeira?


NO PRIMEIRO dia de 2013, o Presidente Cavaco Silva, com mais de um ano de atraso, e depois de ter andado a repetir, com alguma insistência, que estava atento e não era pressionável, veio fazer-nos queixinhas do Governo. Falou do quão negativo seria renegociar a dívida ou rasgar o memorando, mas não sugeriu alternativas, falou da espiral recessiva, mas não apontou como revitalizar a economia, falou da situação social insustentável, mas nada fez para a evitar, falou do círculo vicioso da austeridade que falhou, mas deixou-a rolar à desfilada, falou das fundadas dúvidas sobre a equidade dos sacrifícios, mas até promulgou um Orçamento de Estado, inconstitucional e irrealizável, permitindo que o governo continue a espatifar o país, e achando que um mal maior era não haver orçamento, desacreditando-nos no plano externo. Diz que temos que bater o pé à Europa, mas ninguém acredita nisso.

Quem o ouviu é natural que tenha deixado perguntas no ar. Então e durante os dez anos em que Cavaco foi chefe do governo, mais os sete que leva como Presidente da República, não se passou nada? Quem deu cobertura a que fosse desmantelado o tecido económico do país, com a liquidação das pescas, da agricultura e de grandes fatias da indústria, fazendo do país um grande centro comercial de produtos importados da "europa connosco"?

Não sei o que é pior, se este choradinho de lágrimas de crocodilo, se as abstenções violentas do PS (partido Seguro), dando passagem e premiando a governação incendiária dos próceres Coelho e Portas. Em resumo: o homem que não tinha dúvidas e nunca se enganava, veio dizer, com largos meses de atraso, que isto assim não pode continuar, que é tempo de inverter o curso da governação, ao mesmo tempo que apela à nossa corajem e espírito de sacrifício, e continuando a querer sol na eira e chuva no nabal.

Não sei se podemos extrair disso algum significado, mas apercebi-me que a sua mensagem foi gravada com dois cenários distintos; um com bandeira a ombrear o excelentíssimo discursante, e outra sem bandeira. É caso para perguntar: onde pára a bandeira? Será que a meio da mensagem também decidiu emigrar?

terça-feira, janeiro 01, 2013

A Peste Roxa


AS EPIDEMIAS governativas que têm assolado Portugal até à actualidade, assumiram desde meados de 2011, com pezinhos de lã, uma insidiosa e perigosa mutação. Os bacilos do PSD e do CDS-PP acasalaram-se, coligaram-se e apresentaram-se, no início, como um remédio santo para todos os males, porém, numa acrobática rotação de 180 graus, transformaram-se numa epidemia de proporções incalculáveis. À falta de melhor expressão, baptizei este vírus de triplo invólucro (neoliberococus coelherbisgasparensis) de peste roxa, pois a dita, sob as mais variadas formas, e através de um numeroso exército de agentes propagadores, alastra e tem feito num calvário, a vida da maioria dos portugueses. É uma estirpe que não mata à primeira, mas mói muitíssimo, e por largo tempo. É uma epidemia hemorrágica que além de assegurar que o desemprego é uma benesse, uma oportunidade para mudar de vida, devora os recursos financeiros da população activa e reformada, mantendo-se imunes os detentores de rendimentos do capital. Onde quer que se ouça o tilintar de um cêntimo, lá estará o íman fiscal para o subtrair, e quando já não há mais cêntimos para capturar, são aplicadas as técnicas do arresto e da penhora.

Em vez de ser transmitida por ratos infecciosos, esse papel compete a alguma gente, mas gente muito especial, pouco ou nada recomendável, que funciona como sofisticada arma bacteriológica. Eles são mentirosos, aldrabões, especuladores, flibusteiros, intrujões, burlões, banqueiros, agiotas, vendilhões, charlatães, gatunos, malfeitores de vários calibres, ilusionistas e santinhos de pau carunchoso, que parecem multiplicar-se a um ritmo alucinante, todos concorrendo para infernizar a nossa existência e propagar a peste. E isto é duplamente preocupante, quando parece que tarda em ganhar-se coragem para aplicar o remédio ou vacina (já descoberto) que acabe com esta praga, ao passo que as estatísticas vão advertindo que no nosso país, sem contar com a emigração, como fuga ao risco de contaminação e queda no vazio, o número de óbitos já está a superar o número de nascimentos.

À primeira vista, aqueles agentes transmissores, podem parecer-nos incompetentes, cretinos, ignorantes, poucos hábeis e inexperientes, mas isso não passa de fumaça para manter o povo incauto, na dúvida, intrigado e confundido. Como qualquer bactéria que se preze, não se extingue ao primeiro grito. Lá bem no fundo, eles têm objectivos bem determinados, têm a sua "engenharia" a funcionar, sabem perfeitamente o que querem e para onde vão, isto é, nem mais, nem menos, do que suspender a democracia, acabar com o estado social, e recorrendo a um permanente estado-de-sítio consentido, garantir os grandes negócios dos amigos e implantar a ditadura dos mercados. Dizem eles que quem não estiver pelos ajustes deve emigrar, não se manifestar nem incomodar. E é tanta a pressa que até já publicam portarias no Diário da República, dando como certo e garantido (vá-se lá saber como) que o Orçamento de Estado foi promulgado, antes mesmo de o ter sido.

Com conversas, discursos e falinhas mansas, não são poucas as vezes que nos confundem com atrasados mentais, tentando enganar-nos e fazendo-nos cair, mais do que uma vez, no conto do vigário. O diagnóstico está feito e a solução terapêutica é simples: basta ter coragem, distinguir a verdade da mentira, retirar-lhes a governação e apontar-lhes a emigração como solução. E que o Grande Manitu nos proteja!