domingo, dezembro 28, 2008

Boas Notícias

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Nestes últimos dias de 2008, os trabalhadores portugueses tiveram uma inesperada boa notícia, quase prenda, vinda de um “pai natal” atento e vigilante. O Tribunal Constitucional rejeitou por unanimidade a norma do Código do Trabalho que pretendia alargar de 90 para 180 dias a duração do período experimental para a generalidade dos trabalhadores. O governo, escudado na sua maioria, inchado de soberba e jactância, desvalorizou o facto.

Tão simples como dois e dois serem quatro!

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Recebida por e-mail, do meu estimado amigo PCA, recebi esta curiosa analogia, destinada a explicar de forma simples, a génese da crise financeira nos E.U.A., e todas as que por arrastamento possam acontecer a nível planetário. Como o texto não vinha assinado fiz-lhe algumas alterações de estilo e de pormenor, e portanto aqui vai o resultado:

O Ti Ambrósio tem uma tasca, na Vila Carrapato. Um belo dia decidiu passar a vender copos "fiados" aos seus leais fregueses, todos grandes consumidores, porém sem dinheiro para pagar as despesas, ao respeitável estilo de toma lá dá cá. Porque decidiu vender a crédito, ele pode aumentar um pouquinho o preço da dose do tintol, da branquinha e dos torresmos, sendo que esta diferença funciona como uma espécie de taxa que os borrachos pagam pelas bebidas fiadas.
O gerente do banco do Ti Ambrósio, um ambicioso e ousado gestor formado numa universidade muito badalada, pensou, pensou, pensou, e decidiu que o livrinho das dívidas daquela tasca, constituía, afinal, um activo, hipoteticamente cobrável, logo negociável, e começa a adiantar dinheiro ao estabelecimento, para que aquele possa alcoolizar a crédito, apenas com as dívidas dos bebedolas como garantia.
No imediato, e como as novidades se propagam depressa, apareceram outros seis bancos interessados no negócio. Vai daí, correram a montar uma operação destinada a fraccionar e embelezar os tais activos do primeiro banco, transformando-os em coisas como CDB/Mais, RDO/Gold, ACD/Seguro, UTQ/Super, OVN/Garantido, OSO/Prime ou qualquer outra atractiva sigla financeira, que ninguém sabe exactamente que origem tem, o que cauciona ou o que vale.
Aqueles novos produtos entraram no circuito financeiro, passaram a alavancar o mercado de capitais e conduziram a operações estruturadas de derivativos, na BM&F, tendo como suporte os tais livrinhos das dívidas do Ti Ambrósio, que todo mundo desconhece quem é, onde fica e o que faz.
O tempo vai correndo, esses derivativos são negociados como se fossem títulos sérios e seguros, com fortes garantias reais, nos mercados financeiros de 93 países, até que um dia, um modesto estagiário, estrábico e com contrato a prazo, descobre que a tertúlia copofónica da Vila Carrapato nunca terá dinheiro para pagar as suas contas.
De imediato o banco credor corta o crédito ao Ti Ambrósio, a seguir exige ser reembolsado dos empréstimos adiantados à taberna, e esta sem dinheiro para satisfazer a exigência, acaba por ir à falência. Em consequência disso, o tal gerente bancário é despedido e indiciado de burla à escala planetária, toda a cadeia de bancos envolvida no negócio, montado a partir do tal livrinho de dívidas incobráveis, e sem liquidez para satisfazer os pedidos de resgate dos tais promissores títulos, entra em colapso, numa cascata imparável que dá a volta ao mundo, enquanto o diabo esfrega um olho e vai rindo à socapa.
Mais coisa, menos coisa, é assim que as coisas se passam. Tão simples como dois e dois serem quatro!

sexta-feira, dezembro 26, 2008

Coscorões e Conversa Fiada

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Ontem, o primeiro-ministro Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates, veio para a comunicação social dirigir-se aos portugueses através da sua mensagem natalícia. Em rigor, voltou a tentar convencer-nos que se não fossem as malfeitorias geradas por esta abominável crise internacional, estaríamos agora a usufruir as delícias de uma espécie de paraíso, resultante da prática política deste “socialismo moderno, moderado, popular e democrático”, de que ele é o grande timoneiro. Em resumo, vejamos o que ele disse, seguido dos meus comentários:

JSPS: "Nos últimos três anos, o país ultrapassou a crise orçamental".
Meu comentário: A crise orçamental foi (temporariamente) ultrapassada à custa do generalizado empobrecimento dos portugueses, ao passo que os gastos sumptuários, a adjudicação de obras de necessidade duvidosa, as custas com propaganda e marketing político e a satisfação dos pedidos da agência de colocações dos “boys”, não olhavam a meios nem despesas.

JSPS: "Isso permite-nos agora responder melhor às dificuldades económicas que nos chegam de fora. Podemos agora usar mais recursos do Estado para apoiar o emprego, as empresas e as famílias."
Meu comentário: As dificuldades económicas antes de virem de fora já cá moravam dentro. A prova disso é que de há três anos a esta parte, semana sim, semana não, Teixeira dos Santos e Manuel Pinho, coadjuvados por Victor Constâncio, revezavam-se a declarar que a retoma vinha a caminho, ou então que já se via a luz ao fundo do túnel. A crise internacional só veio agravar ainda mais o estado debilitado em que se encontrava a nossa economia.

JSPS: "Os portugueses compreendem melhor por que foi preciso consolidar as finanças públicas, defender a Segurança Social pública, reformar os serviços públicos: justamente para que, no momento em que as famílias mais precisam do Estado, o Estado tenha as condições para intervir e ajudar quem precisa."
Meu comentário: Na sua acção, o Governo protegeu prioritariamente os interesses do grande capital e acabou a intervir na salvação da actividade bancária menos recomendável, ao passo que poucas ou nenhumas medidas tomou de apoio às actividades económicas produtivas (vulgo economia real), geradoras de riqueza e emprego.

JSPS: "Determinação na protecção das famílias, especialmente as de menores rendimentos, protegendo-as das dificuldades que sentem e ajudando-as nas suas despesas principais".
Meu comentário: Recorreu à habitual lenga-lenga expositiva, recheada de atributos e auto-elogios, em que enumera e enaltece a obra feita, reservando um grande espaço para enunciar e prometer o que falta fazer, isto com a atenção já fixada nas eleições que aí vêm.

JSPS: "o ano de 2009 vai certamente ser um ano difícil e exigente para todos".
Meu comentário: Eis a tónica do optimismo contido, desafiador e arregimentador, na boca do grande mestre da impertinência, dissimulação e demagogia, que irá usar e abusar da crise global, como um subterfúgio a explorar em seu benefício.

JSPS: "O nosso dever é não ficarmos à espera que os problemas se resolvam por si próprios. Pela minha parte, e pela parte do Governo quero garantir-vos que não temos outra orientação que não seja defender o interesse nacional."
Meu comentário: Depois de defraudar todas as expectativas, em vésperas de eleições, ensaia o lançamento da sua candidatura a salvador da pátria.

JSPS: "Usar todos os recursos ao alcance, com rigor, sentido de responsabilidade e iniciativa, para ajudar as famílias, os trabalhadores e as empresas a superarem as dificuldades, e para incentivar o investimento económico que gera riqueza e emprego".
Meu comentário: Eis, em véspera de eleições, a fazer com grande mestria e frenesi, aquilo para que se sente vocacionado: pavonear-se, distribuir balelas, vender hipocrisia e muita banha de jibóia. Lá mais para a frente irá pedinchar os respectivos votos, porventura para uma nova maioria absoluta.

Salazar queria convencer-nos que a nossa pobreza era uma virtude; Caetano fez tudo para que acreditássemos que a nossa pelintrice era um ponto de partida para a evolução na continuidade; Sócrates faz tudo para nos persuadir que a nossa pobreza envergonhada é riqueza de facto.
Enfim, José Sócrates Pinto de Sousa continua a ser igual a si mesmo, isto é, exuberante como feirante, um enigma como engenheiro e uma fraude como político.

A Viagem

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Lido o último romance de Saramago, “A Viagem do Elefante”, cabe-me dar aqui a minha modesta opinião. Aqui está um exemplo de como a literatura de primeira água pode ser simultaneamente perspicaz - porque faz do cornaca subhro/fritz um “alter ego”, senão mesmo um “alter idem” do elefante salomão/solimão, como se cornaca e elefante fossem uma única e indivisível entidade - e genuinamente divertida, pela sua colorida, prosaica e habitual liberdade narrativa, abundante em ironia, alusões e considerações pessoais, recheadas do típico sarcasmo do autor. Entretanto, aquele diálogo travado entre o cornaca e o sacerdote, no qual o segundo insiste para que seja obrado um milagre à porta da basílica de Pádua, é uma peça de antologia, fazendo-me lembrar um certo e determinado discurso esgrimido em pleno nevoeiro, a bordo de um batel, num tal “Evangelho Segundo Jesus Cristo”.
Resumindo: Dez anos depois de ter sido agraciado com o Nobel, José Saramago continua a ser um escritor pejado de recursos, e sempre que publica, insiste em surpreender(-me). Mais uma vez ganhámos nós, a literatura e a língua portuguesa.

quinta-feira, dezembro 25, 2008

Resposta Incómoda

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Nesta quadra natalícia, Bárbara Wong do jornal Público, interpelou várias personalidades portuguesas ligadas à religião, e não só, com a seguinte pergunta:
- Como seria e o que faria Jesus se viesse hoje à Terra?
Entre quase uma vintena de respostas publicadas, escolhi a mais curta, a que me pareceu mais conforme a realidade, logo mais incómoda, e que foi articulada pela autora de livros de culinária, Maria de Lurdes Modesto:
- Jesus não chegava a pôr os pés no chão, por julgar que se tinha enganado no caminho e estava a chegar ao Inferno.

quarta-feira, dezembro 24, 2008

Emigrantes

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Emigrantes portugueses num estaleiro de construção da região parisiense em 1970. Fotografia de Gérald Bloncourt em http://www.bloncourt.net/

segunda-feira, dezembro 22, 2008

Cinco Passes de Lógica

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Recebi por e-mail este esclarecedor artigo que merece uma atenção especial. Prova que a política, mais do que uma área para a psicologia comportamental, é também um território a desbravar pela filosofia.

“Depois de uma audiência com Dias Loureiro, o Presidente da República declarou aos jornalistas que o seu ex-ministro, apoiante, amigo e actual conselheiro de Estado lhe garantiu "solenemente que não cometeu qualquer irregularidade nas funções que desempenhou" enquanto administrador da Sociedade Lusa de Negócios, detentora do BPN. Mas nem isso nem o seu extenso comunicado autojustificativo acalmaram as conversas - e as notícias - quanto ao papel de Dias Loureiro em todo o processo. Não por qualquer devaneio conspirativo ou prazer obscuro em sujar o nosso imaculado Presidente, receio bem, mas porque duas ou três gotas de perfume não conseguem disfarçar o desagradável odor que este caso liberta. É que, para haver uma solene inocência de Dias Loureiro, seria necessário que:

1) Ele fosse solenemente incompetente. Apesar de o próprio se gabar do seu talento para os negócios, que lhe permitiram enriquecer em meia dúzia de anos, Dias Loureiro teria de ser um miserável gestor: à frente da SLN, não topou nada do que se passava abaixo dele e permitiu que um banco sob a sua tutela fosse alegremente gerido sem reuniões da administração.

2) Ele fosse solenemente crédulo. O ex-ministro da Administração Interna que mandou nas polícias com mão de ferro teria afinal de ser uma alma sensível e facilmente manipulável. Depois de patrocinar um negócio ruinoso envolvendo offshores em Porto Rico, Dias Loureiro perguntou onde estavam os prejuízos nas contas do banco e Oliveira e Costa respondeu-lhe "você não percebe nada de contabilidade". Justificação prontamente aceite.

3) Ele fosse solenemente ingénuo. Dias Loureiro foi bater à porta do Banco de Portugal pedindo-lhe "uma atenção especial ao BPN". É certo que o seu interlocutor já o veio desmentir. Mas admitamos a boa-fé de Dias Loureiro: seria o mesmo que Luís Filipe Vieira ir pedir à Liga de Clubes para vigiar com especial atenção a equipa do Benfica.

4) Ele fosse solenemente esquecido. Convém recordar a primeira declaração de Dias Loureiro a propósito deste caso, a 3 de Novembro: "Nunca tive conhecimento de problemas relacionados com o BPN. Tudo o que sei é o que leio nos jornais." Difícil de conjugar com o ponto 3.

5) E, por fim, ao mesmo tempo que era solenemente incompetente, solenemente crédulo, solenemente ingénuo e solenemente esquecido, teria também de ser solenemente inteligente - porque, quando o caso BPN explodiu, Dias Loureiro já tinha saído e levado consigo todo o dinheiro que havia investido no banco.

Como se vê, o problema de Cavaco e Dias Loureiro não são os golpes baixos nem as conspirações políticas. O problema é mesmo a maldita lógica que Aristóteles inventou.”

domingo, dezembro 21, 2008

sábado, dezembro 20, 2008

Reaprender a Lição

“…
"Estamos com problemas de magnetismo", disse John Maynard Keynes no início da Grande Depressão: a maior parte do motor económico estava em bom estado, mas um elemento crucial, o sistema financeiro, não estava a funcionar. E também disse: "Metemo-nos numa imensa trapalhada, perdemos o controlo de uma delicada máquina, cujo funcionamento não percebemos." Ambas as afirmações são hoje tão verdadeiras como o eram então.
Como é que surgiu esta segunda imensa trapalhada? No rescaldo da Grande Depressão, redesenhámos a máquina de maneira a que ficássemos a conhecê-la, pelo menos suficientemente bem para evitar grandes desastres. Os bancos, a peça do sistema que tão mal funcionou nos anos 30, foram colocados sob apertados regulamentos e apoiados por uma forte rede de segurança. Entretanto, os movimentos internacionais de capital, que tiveram um papel perturbador na década de 1930, foram também limitados. O sistema financeiro ficou um pouco maçador mas muito mais seguro.
E então as coisas ficaram outra vez interessantes e perigosas. Os crescentes movimentos internacionais de capital prepararam o palco para as crises monetárias devastadoras dos anos 90 e para a crise financeira globalizada em 2008. O crescimento de um "sistema bancário sombra" sem qualquer correspondente extensão da regulação, preparou o palco para as recentes corridas aos bancos numa escala maciça. Estas corridas envolveram frenéticos cliques nos ratos em vez de frenéticas multidões à porta das portas fechadas das dependências bancárias, mas nem por isso foi menos devastadora.
Claramente, o que vamos ter que fazer é reaprender as lições que a Grande Depressão ensinou aos nossos avós. Não irei entrar nos detalhes de um novo sistema de regulação, mas o princípio básico deverá ser inequívoco: tudo o que tiver que ser salvo durante uma crise financeira, dado que tem um papel essencial nos mecanismos financeiros, deverá ser regulado quando não estivermos em crise para que não se corra demasiados riscos. Desde os anos 30 que aos bancos comerciais é exigido que tenham suficiente capital, reservas de activos líquidos que possam ser rapidamente convertidos em dinheiro, e que limitem os tipos de investimentos que fazem, tudo isto em troca de garantias federais para quando as coisas correm mal. Agora que já vimos uma grande quantidade de vários tipos de instituições não bancárias a criar aquilo que se veio a tornar numa crise bancária, uma regulação equiparável tem que ser estendida a uma muito vasta parte do sistema.
…”
Extracto do artigo “O Que Fazer”, da autoria de Paul Krugman, Prémio Nobel da Economia 2008, publicado no jornal PÚBLICO de 2008 Dezembro 17

sexta-feira, dezembro 19, 2008

Avaliações de Desempenho

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Deixem-me dizer-lhes uma coisa: na empresa onde trabalhei durante 40 anos, a partir da década de 1980, para além da normal progressão na carreira, fosse ela por mérito ou exercício de função, também passou a haver um sistema de avaliação de desempenho, com a qual era suposto premiar pecuniariamente os trabalhadores que reunissem elevados índices de competência, liderança, empenho e disponibilidade, capacidade comunicativa, aptidões de trabalho em grupo, bem como assiduidade. Ao longo dos anos o sistema foi sendo objecto de várias alterações, sempre com o objectivo de o aperfeiçoar e tornar rigoroso, justo e impermeável a favorecimentos ou arbitrariedades. Com isso tornou-se mais complexo, pesado, absorvente e despótico, por vezes mesmo intragável, transformando-se num furtivo agente perturbador da actividade produtiva, além de inibidor das boas relações laborais e humanas. Em vez de equipas coesas a trabalharem para o mesmo objectivo, começaram a surgir grupos de combate a fazerem tudo para se exterminarem mutuamente. Na verdade, passou a existir um novo tipo de tirania a inquinar as relações pessoais e laborais. Numa fase mais adiantada, aquela avaliação acabou por se descaracterizar e banalizar, não premiando a excelência, nem rigorosamente nada, não havendo praticamente ninguém da população da empresa que não tivesse direito ao seu prémiozinho de trabalho, por muito insignificante que fosse. Se os primeiros modelos eram, em muitos casos, potenciadores de injustiças, já os últimos, desprezando a intenção inicial, acabaram por se tornarem uma mera e regular distribuição de migalhas, para arredondar o vencimento. No fim, todos perderam, desde a empresa até às pessoas, porque nunca se conseguiu chegar a um modelo razoável e aceitável.
Acabei por concluir que a inaptidão de quem concebe os modelos de avaliação, bem como de quem é colocado no papel de avaliador, com as suas as simpatias, antipatias e incompatibilidades, para apreciar e formular um juízo sobre os desempenhos e qualidades alheias, são factores altamente perturbadores de um trabalho de avaliação que se pretendia rigoroso, isento e justo. Não sou perito deste tema, apenas uma pessoa que esteve envolvida no processo e dele foi testemunha, mas sou de opinião que a palavra e a acção deve ser dada a quem sabe da matéria, e uma coisa é certa: a avaliação das potencialidades e aptidões de cada um, e a sua orientação profissional, no contexto da sociedade e das suas carências, deve começar deste o momento em que começamos a polir os bancos da escola, e estender-se ao longo de todo o percurso educativo, coisa que em Portugal nunca passou de fracas intenções, fruto da negligência e incompetência dos nossos políticos. Para esse trabalho requer-se o contributo dos psicólogos e o empenho de toda a sociedade, pois a incompetência e a falta de profissionalismo, não é suposto corrigirem-se, mais tarde, com as ineficazes e humilhantes avaliações de desempenho.

quinta-feira, dezembro 18, 2008

Afinal, Em Que Ficamos?

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Não dá para entender! Falta clareza e coerência nos seus discursos: num dia Mário Soares solidariza-se e tece rasgados elogios a Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates, pela sua determinação política, ao mesmo tempo que gaba a Maria de Lurdes Rodrigues, vulgo Milu, também conhecida como ministra da educação, pela sua coragem e persistência no braço de ferro que mantém com toda a classe de professores do país, a propósito do estatuto da carreira docente e da avaliação de desempenho; noutro dia, mais à frente, diz que o país, por força da crise económica e do desespero social que se instalou, está à beira de uma ruptura, qualquer coisa que tanto pode ser uma convulsão social como uma insurreição, baralhando o papel dos protagonistas.
Num dia “o menino de ouro” do PS é o “ungido”, a melhor e única coisa a que podemos recorrer, e que como tal deve ser paparicado e protegido pelos portugueses, para levar a cabo as reformas que o país supostamente reclama e que o “socialismo moderno” (Nota 1) do PS concretiza; no outro, diz que estamos à beira da falência e do colapso como nação, não pela acção directa das políticas deste governo, mas sim, espante-se, por culpa dos outros “estados”, deixando de fora das suas análises e críticas, a extravagante actuação do actual governo deste país. Finalmente, descarrega a responsabilidade deste estado de coisas sobre as oposições parlamentares, que afinal, por força da maioria absoluta que suporta o governo, apenas têm podido, umas vezes reclamar, outras até morder as canelas do governo, mas cujas iniciativas caem sempre em saco roto, pelo sistemático bloqueio da tal maioria absoluta.
Dito isto, afinal, Dr. Soares, em que ficamos?
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Nota 1 : Onde se lê “socialismo moderno”, e respeitando a última definição de atributos do PS, formulada por Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates, deve ler-se “socialismo moderno, moderado, popular e democrático”. Ou será que ele quis dizer “esquerda moderna, moderada, popular e democrática”? São tantas e tão ricas as definições que uma pessoa acaba a ficar baralhada…

Louvor

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Neste “monstro jurídico” em que se tornou o julgamento do caso “Casa Pia”, tiro o meu chapéu ao causídico Dr. José Maria Martins, advogado do réu Carlos Silvino (Bibi), pela forma franca, coerente e clara como pôs os pontos nos “is” e os traços nos “tês”, apontando nas suas alegações finais, para os sucessivos recursos e incidentes interpostos pelos restantes réus, os quais foram contribuindo para anestesiar o tribunal, e poderão vir a influenciar as sentenças que dele sairão.

quarta-feira, dezembro 17, 2008

Respigar as Notícias

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“A crise aprofunda-se e generaliza-se. Os Estados desviam milhões, que vêm directamente dos bolsos dos contribuintes, para evitar as falências de bancos mal geridos ou que se meteram em escandalosas negociatas. Será necessário. Mas o povo pergunta: e as roubalheiras, ficam impunes? E o sistema que as permitiu - os paraísos fiscais -, os chorudos vencimentos (multimilionários) de gestores incompetentes e pouco sérios, ficam na mesma? E os auditores que fecharam os olhos - ou não os abriram suficientemente - e os dirigentes políticos que se acomodaram ao sistema, não agiram e nem sequer alertaram, continuam nos mesmos lugares cimeiros, limitando-se a pedir, agora, mais intervenções do Estado, com a mesma desfaçatez com que antes reclamavam "menos Estado" e mais e mais privatizações?

Pedem-se e pediram-se sacrifícios para cumprir as metas do défice, impostas por Bruxelas. Mas, ao mesmo tempo, os multimilionários engordaram - os mesmos que agora emagreceram na roleta russa das economias de casino - e os responsáveis políticos (os mesmos, por quase toda a Europa) não pensam em mudar o paradigma ou não anunciam essa intenção e não explicam sequer aos eleitores comuns, os eternos sacrificados, como vão gastar o dinheiro que utilizam para salvar os bancos e as grandes empresas da falência, aparentemente deixando tudo na mesma? E querem depois o voto desses mesmos eleitores, sem os informar seriamente nem esclarecer? É demais! É sabido: quem semeia ventos colhe tempestades...

Portugal também não deve ficar indiferente. Com as desigualdades sociais sempre a crescer, o aumento do desemprego que previsivelmente vai subir imenso, em 2009, a impunidade dos banqueiros delinquentes, o bloqueio na Justiça, e em especial, do Ministério Público e das polícias, estão a criar um clima de desconfiança - e de revolta - que não augura nada de bom. Oiçam-se as pessoas na rua, tome-se o pulso do que se passa nas universidades, nos bairros populares, nos transportes públicos, no pequeno comércio, nas fábricas e empresas que ameaçam falir, por toda a parte do País, e compreender-se-á que estamos perante um ingrediente que tem demasiadas componentes prestes a explodir. Acrescenta-se o radicalismo das oposições, à esquerda e à direita, que apostam na política do "quanto pior melhor". Perigosíssima, quando não se apresentam alternativas credíveis...”

Excerto de “A Crise e os Milhões” da autoria de Mário Soares, jornal Diário de Notícias de 16-Dezembro 2008


“O presidente da Autoridade da Concorrência (AdC) tem um novo carro de serviço. Manuel Sebastião, que ontem esteve na Comissão Parlamentar de Economia, renovou o seu carro de serviço cinco meses depois de ser nomeado para aquele órgão de supervisão.”

“Dias Loureiro vendeu as suas acções da Sociedade Lusa de Negócios (SLN) ao grupo Banco Português de Negócios (BPN), principal activo da SLN, por 7,14 milhões de euros, em 2002, ano em que deixou de ser administrador executivo da SLN. O valor do negócio consta na declaração de rendimentos entregue pelo ex-ministro no Tribunal Constitucional, em 28 de Maio de 2002, como início da actividade de deputado do PSD.”

Notícias do jornal Correio da Manhã de 17 Dezembro 2008

“As televisões e as rádios fizeram, nestes dias, uma pergunta aflita: Portugal precisa de um novo partido à Esquerda? A inquietação provinha da circunstância de um grupo de pessoas se ter reunido na Aula Magna, para confirmar o que toda a gente sabe: o Partido Socialista não é peva socialista. Manuel Alegre foi o rosto do conclave e, um pouco irado, falou "neste" PS como a absurda negação de um "outro." A verdade é que nunca houve "outro." Desde a "fundação", o PS foi uma espécie de elaboração ininteligível, com estuques róseos. Vale a pena recordar: logo no PREC, o grito d'alma dos militantes era: "Partido Socialista, partido marxista!" Depois, o vozear amaciou, até desaparecer numa gaveta onde se guardou, até hoje, o "socialismo."

Sabe-se: José Sócrates não serve. Transformou a política numa tagarelice. A imprecisão da sua ideologia confunde-se com a paixão do poder, e a relação entre ambas compromete, irremediavelmente, o nosso futuro e o nosso destino.
…”
Excerto de “Uma Questão de Esquerda”, da autoria de Baptista-Bastos, jornal Diário de Notícias de 17 Dezembro 2008

terça-feira, dezembro 16, 2008

Declaração Universal dos Direitos Humanos

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Não quero terminar o caderno deste ano de 2008, sem deixar aqui um texto de que muito se fala, mas que poucas ou nenhumas vezes se cumpre, apesar de já existir há 60 anos, como uma referência de todo o mundo civilizado. Há países em que bastava adoptá-lo como Constituição, para tudo fosse diferente. Basta ler a Declaração Universal dos Direitos Humanos e fazer um pequeno exercício, aplicando-o aos casos do dia-a-dia que chegam até nós, para se concluir que outro sol brilharia. Experimentem!

Preâmbulo

Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo;
Considerando que o desconhecimento e o desprezo dos direitos humanos conduziram a actos de barbárie que revoltam a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que os seres humanos sejam livres de falar e de crer, libertos do terror e da miséria, foi proclamado como a mais alta inspiração humanos;
Considerando que é essencial a protecção dos direitos humanos através de um regime de direito, para que o homem não seja compelido, em supremo recurso, à revolta contra a tirania e a opressão;
Considerando que é essencial encorajar o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações;
Considerando que, na Carta, os povos das Nações Unidas proclamam, de novo, a sua fé nos direitos fundamentais humanos, na dignidade e no valor da pessoa humana, na igualdade de direitos dos homens e das mulheres e se declararam resolvidos a favorecer o progresso social e a instaurar melhores condições de vida dentro de uma liberdade mais ampla;
Considerando que os Estados membros se comprometeram a promover, em cooperação com a Organização das Nações Unidas, o respeito universal e efectivo dos direitos humanos e das liberdades fundamentais;
Considerando que uma concepção comum destes direitos e liberdades é da mais alta importância para dar plena satisfação a tal compromisso:
A Assembleia Geral proclama a presente Declaração Universal dos Direitos Humanos
como ideal comum a atingir por todos os povos e todas as nações, a fim de que todos os indivíduos e todos os órgãos da sociedade, tendo-a constantemente no espírito, se esforcem, pelo ensino e pela educação, por desenvolver o respeito desses direitos e liberdades e por promover, por medidas progressivas de ordem nacional e internacional, o seu reconhecimento e a sua aplicação universais e efectivos tanto entre as populações dos próprios Estados membros como entre as dos territórios colocados sob a sua jurisdição.

Artigo 1°
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.

Artigo 2°
Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação.
Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a alguma limitação de soberania.

Artigo 3°
Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Artigo 4°
Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos.

Artigo 5°
Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.

Artigo 6°
Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento, em todos os lugares, da sua personalidade jurídica.

Artigo 7°
Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual protecção da lei. Todos têm direito a protecção igual contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.

Artigo 8°
Toda a pessoa tem direito a recurso efectivo para as jurisdições nacionais competentes contra os actos que violem os direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição ou pela lei.

Artigo 9°
Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Artigo 10°
Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e publicamente julgada por um tribunal independente e imparcial que decida dos seus direitos e obrigações ou das razões de qualquer acusação em matéria penal que contra ela seja deduzida.

Artigo 11°
Toda a pessoa acusada de um acto delituoso presume-se inocente até que a sua culpabilidade fique legalmente provada no decurso de um processo público em que todas as garantias necessárias de defesa lhe sejam asseguradas.
Ninguém será condenado por acções ou omissões que, no momento da sua prática, não constituíam acto delituoso à face do direito interno ou internacional. Do mesmo modo, não será infligida pena mais grave do que a que era aplicável no momento em que o acto delituoso foi cometido.

Artigo 12°
Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a protecção da lei.

Artigo 13°
Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residência no interior de um Estado.
Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar ao seu país.

Artigo 14°
Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e de beneficiar de asilo em outros países.
Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de processo realmente existente por crime de direito comum ou por actividades contrárias aos fins e aos princípios das Nações Unidas.

Artigo 15°
Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade.
Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do direito de mudar de nacionalidade.

Artigo 16°
A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar e de constituir família, sem restrição alguma de raça, nacionalidade ou religião. Durante o casamento e na altura da sua dissolução, ambos têm direitos iguais.
O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno consentimento dos futuros esposos.
A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à protecção desta e do Estado.

Artigo 17°
Toda a pessoa, individual ou colectivamente, tem direito à propriedade.
Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade.

Artigo 18°
Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos.

Artigo 19°
Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão.

Artigo 20°
Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas.
Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.

Artigo 21°
Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direcção dos negócios, públicos do seu país, quer directamente, quer por intermédio de representantes livremente escolhidos.
Toda a pessoa tem direito de acesso, em condições de igualdade, às funções públicas do seu país.
A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes públicos: e deve exprimir-se através de eleições honestas a realizar periodicamente por sufrágio universal e igual, com voto secreto ou segundo processo equivalente que salvaguarde a liberdade de voto.

Artigo 22°
Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode legitimamente exigir a satisfação dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis, graças ao esforço nacional e à cooperação internacional, de harmonia com a organização e os recursos de cada país.

Artigo 23°
Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições equitativas e satisfatórias de trabalho e à protecção contra o desemprego.
Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual.
Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que lhe permita e à sua família uma existência conforme com a dignidade humana, e completada, se possível, por todos os outros meios de protecção social.
Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas sindicatos e de se filiar em sindicatos para defesa dos seus interesses.

Artigo 24°
Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres, especialmente, a uma limitação razoável da duração do trabalho e as férias periódicas pagas.

Artigo 25°
Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade.
A maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimónio, gozam da mesma protecção social.

Artigo 26°
Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e profissional deve ser generalizado; o acesso aos estudos superiores deve estar aberto a todos em plena igualdade, em função do seu mérito.
A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos humanos e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das actividades das Nações Unidas para a manutenção da paz.
Aos pais pertence a prioridade do direito de escolher o género de educação a dar aos filhos.

Artigo 27°
Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios que deste resultam.
Todos têm direito à protecção dos interesses morais e materiais ligados a qualquer produção científica, literária ou artística da sua autoria.

Artigo 28°
Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e no plano internacional, uma ordem capaz de tornar plenamente efectivos os direitos e as liberdades enunciadas na presente Declaração.

Artigo 29°
O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível o livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade.
No exercício destes direitos e no gozo destas liberdades ninguém está sujeito senão às limitações estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a promover o reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e a fim de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar numa sociedade democrática.
Em caso algum estes direitos e liberdades poderão ser exercidos contrariamente aos fins e aos princípios das Nações Unidas.

Artigo 30°
Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada de maneira a envolver para qualquer Estado, agrupamento ou indivíduo o direito de se entregar a alguma actividade ou de praticar algum acto destinado a destruir os direitos e liberdades aqui enunciados.

Fonte: Centro de Informação das Nações Unidas

segunda-feira, dezembro 15, 2008

Dignitas Personae

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Leia atentamente. Por mim, abdico de fazer comentários.

“O Vaticano, que até hoje não se conforma que a Terra gire em torno do Sol e não o contrário, continua inimigo da ciência e sonha com o retorno ao obscurantismo da Idade Média, em que o ser humano só tinha duas opções: ser cristão ou arder na fogueira.Que fazer? Séculos e séculos mostraram que os católicos sempre erraram ao investir contra o progresso científico, mas eles insistem em não aprender a lição. Prova disso é essa "jóia" lançada pela Santa Sé no dia 12 deste mês, um documento sob o título em latim (latim, outra excrescência) Dignitas Personae, em português, Dignidade da Pessoa. Como é fácil desvirtuar o sentido das palavras!Tal documento nada mais é que um index de procedimentos terapêuticos condenados pela Igreja. A lista é extensa. Ficam proibidas para os católicos a fertilização in vitro, a investigação com células estaminais embrionárias, pílulas do dia seguinte, clonagem reprodutiva ou com fins terapêuticos, diagnóstico genético pré-implantatório para evitar defeitos genéticos, criopreservação de embriões ou ovócitos para fertilização artificial, interferência no número de embriões implantados para prevenir gravidez múltipla, recurso à injecção intracitoplásmica de espermatozóides para ultrapassar problemas de fertilidade masculina, manipulação genética para qualquer forma que não seja tratamento médico.
…”
Excerto do artigo “O Vaticano contra a ciência, um erro secular” de Brasil Wiki! Em 13-12-2008

A Escolha de Sofia

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Título Original: Sophie's Choice
Ano: (1982)
Director: Alan J. Pakula
Argumento de Alan J. Pakula baseado na novela de William Styron
Género: Drama

Actores:
Meryl Streep como Sophie Zawistowski
Kevin Kline como Nathan Landau
Peter MacNicol como Stingo

Duração: 157 minutos
País: USA
Idiomas: Inglês, Polaco e Alemão
Cor: Cor (Technicolor)
Formato: 1.85 : 1
Som: Mono

O meu comentário: Havia um treinador de boxe que quando recebia novos candidatos à modalidade, apressava-se a esclarecer: - O boxe é uma disputa entre dois seres humanos. Assim que levares o primeiro murro no estômago, tornas-te logo mais humano! Para quem o viu, A ESCOLHA DE SOFIA não é só um grande filme; é também um grande murro no estômago.
Há pessoas que carregam consigo um fardo insustentável. Para elas, viver é mais do que um drama, é um suplício. Para elas, morrer é como tentar purificar um acto indigno, é uma libertação. Sofia é uma dessas pessoas. Para compreender o que disse atrás, transcrevo a seguir este diálogo entre Sofia e um oficial nazi, ela recém-chegada com os seus dois filhos ainda crianças ao campo de concentração de Auschewitz, ele senhor todo poderoso dos destinos de vida ou de morte dos que ali eram despejados, tropegamente alinhados à espera do veredicto, com o terror estampado nas faces, tratados como escória humana, para que se cumprisse a Solução Final do Terceiro Reich:

Oficial: - É polaca? Responda. Também é uma comunista nojenta?
Sofia: - Sou polaca. Nasci em Cracóvia, nem eu nem os meus filhos somos judeus. Eles não são judeus, são arianos puros. Sou cristã, uma católica devota.
Oficial: - Não é comunista?
Sofia: - Não.
Oficial: - È religiosa?
Sofia: - Sim, creio em Jesus Cristo.
Oficial: - Crê em Jesus Cristo, o Salvador?
Sofia: - Sim.
Oficial: - E Ele não disse “deixai vir a Mim as crianças”? Poderá ficar com um dos seus filhos.
Sofia: - Como disse?
Oficial: - Só pode ficar com um dos seus filhos. Terá de abdicar do outro.
Sofia: - Quer dizer que tenho de escolher?
Oficial: - É polaca, não é judia. Isso garante-lhe este privilégio.
Sofia: - Não consigo escolher. Não consigo escolher.
Oficial: - Caluda.
Sofia: - Não consigo escolher.
Oficial: - Escolha, senão fica sem os dois. Escolha um.
Sofia: - Não me obrigue a escolher, não.
Oficial: - Então vão os dois.
Sofia: - Não, não.
Oficial: - Caluda, basta. Já a mandei calar. Escolha.
Sofia: - Não me obrigue a escolher.
Oficial: - Então morrem os dois.
Sofia: - Não consigo escolher!
Oficial: - Levem os dois miúdos. Depressa!
Sofia: - Não! Leve a menina! Leve a menina! Leve a menina!

domingo, dezembro 14, 2008

Regresso à Tese dos Inimigos Públicos

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Em 10 de Junho de 2005 (Dia de Portugal) escrevi um comentário onde tentei traçar um panorama que identificasse os INIMIGOS PÚBLICOS da sociedade portuguesa, que o senhor Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates, queria fazer crer, aos restantes portugueses, serem eles os agentes retrógrados e resistentes ao desenvolvimento. Na verdade, limitou-se a usar uma técnica, tão velha como a mais antiga profissão do mundo: dividir para reinar, arranjar inimigos de estimação contra quem pudesse acirrar o povo, o qual passava a ver nesses “outros portugueses”, adjectivados como preguiçosos e privilegiados, como a causa de todos os males do país. Passaram pouco mais de três anos sobre aquele escrito, e excepto no que diz respeito à introdução, não mudei uma linha, mas acrescentei uma adenda datada, para o que der e vier. Veremos o que nos trará o futuro.

Inimigos públicos não são quem faz uso desregrado e pouco criterioso dos fundos públicos, quem descura o investimento em ensino e formação profissional de qualidade, quem ignora que é vital a inovação para que a economia se torne criativa, competitiva e produtiva, segundo padrões europeus.

Inimigos públicos não são quem deu descaminho aos chorudos fundos comunitários, que de há vinte anos a esta data têm sido regulamente canalizados para o país, e dos quais não são visíveis resultados práticos na área do desenvolvimento.

Inimigo público não é o sorvedouro em que se tornou o orçamento madeirense, administrado pelo ogre que costuma vir até ao continente ensacar os fundos que lhe permitem manter o poder, com uma virilidade construída à força de copos de três, linguagem porca, espectáculos carnavalescos e o conluio de uma corte rastejante de favoritos.

Inimigo público não é quem favorece e alimenta a promiscuidade corrupta que grassa entre empresários, alta finança e políticos, os quais vão alternando as passagens pelo aparelho de estado com os regulares regressos ao sector empresarial, fazendo a ligação conspícua entre o poder político e o poder económico.

Inimigos públicos não são quem promoveu a delapidação da agricultura e das pescas, a morte lenta da indústria conserveira, mais o programado desmantelamentos das indústrias texteis, do vidro, da metalomecânica, da construção naval, e por aí fora, num desfile interminável de crimimosos actos de lesa-pátria, sem outras contrapartidas que não a de fazer o país recuar para uma extemporânea e mesquinha pelintrice salazarista.

Inimigo público não é o Estado que estimulou o recurso às rescisões de contrato de trabalho amigáveis, com a preversa comparticipação da Segurança Social, para as empresas que optaram por recorrer ao “downsizing”, com a finalidade de se descartarem de trabalhadores excedentários, fazendo engrossar o exército de desempregados e facilitando as respectivas reformas antecipadas.

Inimigos públicos não são quem cria condições para que Portugal seja detentor da maior desigualdade social, com os salários mínimos e médios mais baixos de toda a comunidade europeia, ao passo que são os administradores das empresas públicas e de participação estatal quem fixa os seus próprios salários e prémios anuais, o que resulta que se tornem detentores das mais altas e escandalosas remunerações desse mesmo espaço europeu. Inimigos públicos serão sim quem vai trabalhar até andar de cadeirinha de rodas ou cair para o lado, ao passo que a juventude vai ficando à espera que se cumpram as leis da vida, com o mercado de trabalho paralizado e o desemprego a agravar-se exponencialmente.

Inimigos públicos não são quem trafica sinecuras e promove a proliferação de uma galáxia de organismos supérfulos, autênticas “quintinhas” vocacionadas para serem abrigo de amigalhaços incompetentes, negligentes e inoperantes, grandes consumidores de mordomias, férteis em excessos, decorações de gabinetes e outros gastos sumptuários, mas sim os utentes dos serviços de saúde, consumidores de medicamentos comparticipados, os beneficiários de reformas, antecipadas ou não, e das prestações de subsídio de desemprego.

Inimigos públicos não são os agentes da economia paralela que fogem ao controle da administração, e que se estima ande perto de 50% das actividades económicas. Quanto a medidas para combater a fraude e evasão fiscal, continuamos na mesma, isto é, à espera que os faltosos ponham a mão na consciência e se redimam dos seus pecados, pagando o que devem com efeitos retroactivos. Estou mesmo a vê-los, com o credo na boca e a tremerem de medo, indo de madrugada, de livre vontade, engrossar as filas de espera, à porta das repartições de finanças, para confessarem os seus pecados tributários. Declarado inimigo público, esse sim, continua a ser a quebra do sígilo bancário, a nossa querida privacidade - dizem uns - o mais importante instrumento de combate à fraude e evasão fiscal – dizem outros - agora mais uma vez adiado, para não turvar as águas. Para calar as bocas foi avançada uma irrisória quebra do sígilo fiscal, que volta a instituir a figura repelente do denunciante, promotor da devassa da privacidade de todos, e que ninguém sabe bem para que servirá.

Inimigos públicos não são o vasto painel de profissões liberais, como médicos, advogados, arquitectos, engenheiros, detentores de ostensivos sinais exteriores de riqueza, os quais declaram rendimentos de trabalho irrisórios, mas sim os trabalhadores por conta de outrém que são directamente colectados pelas próprias empresas, as quais nem sempre prestam contas dos descontos efectuados.

Inimigos públicos não são os políticos que coleccionam ordenados e reformas milionárias e traficam influências, mas sim os trabalhadores e reformados, que passam a vida a abrir furos no cinto, para enfrentarem mais uma ofensiva fiscal sobre os seus parcos recursos.

Inimigo público será sempre o alvo mais frágil, o mais desprotegido e vulnerável, o que está mais à mão de semear, onde a populaça, anestesiada com futebóis, orgias de inutilidades, demagogias e outras patranhas, possa descarregar todos os seus terrores, angústias e frustrações. Assim vai Portugal, jardim à beira-mar encurralado, a caminhar alegremente para a falência que se vai adiando, enquanto houver um punhado de inimigos públicos, a quem atribuir as culpas de todos os males.

Adenda de hoje, 2008-12-14

Inimigos públicos são os professores que labutam na escola pública, os médicos que tratam da nossa saúde, os cidadãos que contestam as adjudicações sem concurso público, os pescadores que ficam em terra, os agricultores que se refugiam nas hortas de subsistência, os trabalhadores que resvalam para o desemprego, seja porque as empresas encerram por falta de encomendas ou porque os patrões vão “orientar-se” para outras freguesias, as populações que contestam o fecho das escolas, das urgências e centros de saúde, os jovens que andam a debicar trabalhos pagos a recibo verde, e que depois são principescamente taxados pelas finanças, os militares que garantem a soberania nacional e são tratados com funcionários públicos, os mineiros a quem lhes é prometido um futuro risonho, mas que ao fim de 6 meses lhes mutilam as esperanças. Havia mais para dizer, numa lista quase infindável, que pode ser conferida e recapitulada, lendo e vendo as notícias do dia-a-dia.

Todos os outros que não fazem parte desta lista, são os COMPINCHAS, os AMIGOS e os CONHECIDOS das mais variadas espécies, enfim, todos aqueles que giram na grande constelação do poder, a disputar a dança das CADEIRAS, umas vezes no GOVERNO, outras vezes nas empresas que contribuem para que um certo ESTADO DE COISAS se vá mantendo, enquanto vai brilhando o sol e eles vão dizendo alegremente: - Com o mal dos outros posso eu bem! Para mim, QUANTO PIOR, MELHOR!

sábado, dezembro 13, 2008

“O Leão da Estrela”

“…
Bem pode o primeiro-ministro vir dizer, como pretexto para a megalómana contribuição ao Banco Português de Negócios e ao Banco Privado, que o que está em causa é a salvaguarda da imagem do país! Com estas estapafúrdias medidas, Sócrates faz lembrar “O Leão da Estrela”: como o Anastácio, também ele vive para o retrato, mesmo que para isso sobrecarregue sem dó nem piedade as muitas famílias “Barata” que por conta do honrado trabalho vão vivendo, ou sobrevivendo, de cara lavada e cabeça levantada.
Entre a realidade nua e crua vivida por todos aqueles que a custo vão sustentando o país e os outros que por “hobby” o foram (e vão) dilapidando, o Governo optou por ajudar os segundos e por isso mesmo os “rotos” vão ter de continuar a dar a mão aos “nus” para que os “Armanis” do costume continuem impecavelmente a “brilhar” nas periclitantes passarelles da aparência. E já agora…
- Ò Barata, empresta-me aí cem escudos, que eu só tenho notas de conto!”

António Carvalho, de Gouveia, em Cartas ao Director do jornal PÚBLICO em 2008-12-12

sexta-feira, dezembro 12, 2008

Três Reparos

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O facto do governo de Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates, deter o apoio de uma maioria absoluta na Assembleia da República, não lhe concede o direito de se achar com razão, neste ou naquele assunto, nomeadamente na avaliação de desempenho dos professores. Pode esgrimir a razão da força, mas não a força da razão.

O dia 5 de Dezembro, sexta-feira, podia ter ficado para a História Parlamentar Portuguesa, se não tivesse havido uma debandada para fim-de-semana prolongado, de um avantajado número de deputados do PSD, os quais usaram o habitual estratagema de assinarem o ponto e saírem logo a seguir. Com tal abandono dos trabalhos, deixaram que não fosse aprovada uma proposta de suspensão da avaliação de desempenho dos professores, dado ter havido deputados da bancada do governo que decidiram votar ao lado da oposição. Porém, pior que tudo é o facto de neste tempo de novas tecnologias (e com “Magalhães” a pataco) não se saber quem foram efectivamente os gazeteiros, pois a lista dos deputados presentes no plenário não coincide com a contagem feita pela mesa da Assembleia da República, nem com o próprio resultado da votação, levada a cabo por braço no ar. Entretanto, há quem aproveite estes casos de absentismo para denegrir o sistema parlamentar, desvalorizando o facto de ser apenas uma minoria de deputados, que persiste em fazer do assento parlamentar uma sinecura.

O ministro da defesa Severiano Teixeira decidiu não entregar ao grupo parlamentar do Partido Comunista Português e do Bloco de Esquerda as propostas de alteração das três leis essenciais da Defesa Nacional, da Orgânica das Forças Armadas e do Regulamento de Disciplina Militar, ao abrigo de uma “tradição” que, como afirma Paulo Portas do CDS, excluiu das negociações prévias (cozinhadas entre o PS, PSD e CDS), os partidos que não apoiam a participação de Portugal na NATO. Tais leis exigem a aprovação na Assembleia da República por maioria qualificada de dois terços, e as propostas de alteração, segundo consta, foram entregues à socapa nas sedes do PS, PSD e CDS, e não aos grupos parlamentares como mandam as regras. Como é óbvio, tal inqualificável “tradição”, que conduz a descriminação e tratamento diferenciado, relativamente às outras forças políticas, irá ser energicamente contestada pelo PCP e BE. De facto, só faltava que a seguir, ao arrepio da Constituição e depois de invocados argumentos de segurança ou imperativos de soberania, esses partidos fossem impedidos de votar tais leis.

terça-feira, dezembro 09, 2008

Saldo Altamente Negativo

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“… Os investidores [do Banco Privado Português] podem continuar a confiar na "economia de casino" que o dinheiro dos contribuintes não faltará quando a descida das cotações empalidecer as fortunas e a respectiva gestão.”
João Cândido da Silva in “Os pesos do BPP”, no Jornal de Negócios de 2 de Dezembro de 2008

Meu comentário: Se é verdade que o Banco Privado Português (BPP) apenas dispunha de 3.000 depositantes, detentores das tais grandes fortunas, é esse o número de votos seguros com que o Partido Socialista poderá contar nas próximas eleições legislativas, em contraponto com os votos dos 190.000 professores contestatários da avaliação de desempenho, que certamente se irão dispersar pelos outros partidos. Por aqui se vê como a mais elementar matemática, é uma disciplina pouco cuidada, até pelas bandas da classe política.