domingo, maio 30, 2010

O Apagador como Solução

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«"O Conselho de Ministros de 27 de Maio aprovou um diploma que visa regular a eliminação de algumas medidas que tinham sido adoptadas transitoriamente no auge da crise económica internacional". É assim que se anuncia, no portal do governo, a eliminação de vários apoios sociais.
Reparem que foi no "auge da crise económica internacional" que as medidas agora eliminadas foram decididas. Das duas uma: ou tudo que temos ouvido resulta de um delírio colectivo ou há um estádio depois do auge que nós desconhecemos. E que tem como principal característica dispensar, apesar de ser mais grave, qualquer tipo de medidas.
Entre várias mediadas extintas, todas relativas ao apoio aos desempregados, acaba-se com a majoração de dez por cento no subsídio de desemprego para agregados desempregados com crianças a cargo. Todos temos de fazer sacrifícios e é de pequenino que se torce o pepino.
Como os números do desemprego ainda não são suficientemente consistentes, acaba-se com o programa qualificação-emprego, com a redução de três por cento da taxa social única para as pequenas empresas que empreguem trabalhadores com mais de 45 anos, com o programa de incentivo ao emprego de jovens licenciados e com a linha bonificada de apoio à criação de empresas por desempregados.
Quando o governo quer reduzir despesas sociais e no momento em que o desemprego aumenta, nada parece mais adequado do que acabar com todos os incentivos à criação de emprego. Serão, assim, ainda mais os candidatos ao subsídio de desemprego e menos os trabalhadores a contribuir com os seus impostos para os pagar.
Já se percebeu que ninguém está a pensar no que anda a fazer. Perante a enfermidade o governo já só trata da extrema-unção. Quando for o velório o serviço estará completo.
Só o facto do governo anunciar que vai acabar com as medidas anti-crise para fazer frente à crise deveria chegar para se perceber ao absurdo a que chegámos. O suicídio assistido passou a ser política de Estado.»

Artigo de Daniel Oliveira, publicado no EXPRESSO on-line em Sexta-feira, 28 de Maio de 2010. O título do post é de minha autoria.

Meu comentário: Até parece que o governo e o PS (partido Sócrates) estão apostados em pôr tudo de rastos, antes de se dissolverem no meio do caos, e como se esse caos não tivesse nada a ver com eles.

sábado, maio 29, 2010

Pouca Vergonha

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QUANDO a multidão ainda não tinha dispersado da Praça dos Restauradores, a ministra do Trabalho, de sua graça Helena André, em instantânea resposta à manifestação da CGTP Intersindical que juntou 300.000 portugueses, contestando as medidas de austeridade que penalizam, particularmente, o mundo trabalho e os desempregados, teve o arrojo de afirmar que a redução ou extinção do apoio aos desempregados, não são medidas que ponham em causa a coesão social, e que “é preciso haver mais consertação e menos contestação”, quando toda a gente já sabe que consertação apenas existe, com sorrisos e salamaleques, entre o governo e as associações patronais, com a União Geral de Trabalhadores (UGT) (de cujos quadros é oriunda este rascunho de ministra) a fazer vista grossa e a assobiar para o lado, como se nada estivesse a passar-se.

"Notícias da crise"

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«Não pago muitos impostos (pago apenas um pouco mais do que a banca, em percentagem algo como o dobro), mas tenho o gosto das inutilidades e tento-me às vezes a seguir saudosamente o rasto dos meus descontos através do tortuoso mundo da despesa pública.
Foi assim que descobri na estimada II Série do DR os despachos nºs. 8346, 8347, 8348, 8349, 8350, 8351, 8352, 8353, 8354, 8355, 8356 e 8357 da Secretaria-geral da Presidência do Conselho de Ministros requisitando 12 motoristas para o Gabinete do Primeiro-Ministro. Todos faziam já parte do selecto e felizardo grupo dos portugueses com emprego (na Deloitte & Touche, nos Bombeiros de Colares, no Sindicato dos Trabalhadores de Escritório, Comércio, Hotelaria e Serviços, na PSP e na Carris), e gostei de saber que os meus impostos servem para recompensar o mérito e não para dar trabalho a madraços desempregados. Ou, como fez o pelintra governo francês (7,5% de défice; Portugal tem 9,4%), para obrigar os ministros a guiar utilitários e andar de táxi ou a decorar os gabinetes com flores de plástico por serem mais baratas e durarem mais que as naturais.»

Artigo de Manuel António Pina, com o mesmo título do post, publicado no JORNAL DE NOTÍCIAS de 27 de Maio de 2010

sexta-feira, maio 28, 2010

Amanhã: Direito à Indignação

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O Possível Poeta-Presidente

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COM O APOIO vagaroso e quase contrafeito (para não lhe chamar encavacado) do PS (partido Sócrates), o vigor inicial e os objectivos da candidatura de Manuel Alegre à Presidência da República, estão-se a esvaziar. Provavelmente, os votos que ele supõe ir ganhar com a acanhada adesão do PS, não vão compensar os que ele vai perder, entre o seu potencial milhão de apoiantes de há quatro anos atrás. A verdade é que, depois de o PS se ter deixado iludir e sufocar por Sócrates, ao ponto de quase ter perdido a sua matriz e identidade, Alegre continuou a reclamar, melhor, a mendigar o seu apoio. Ora, se não conseguiu ganhar fôlego, avocar e unir o PS, com a sua eloquência de fundador, como é que vai convencer o país de que é, mais uma vez, o candidato ideal para derrotar a direita e renovar a vida política?
Quanto ao Bloco de Esquerda (BE) é provável que já esteja a maldizer o dia em que correu a antecipar-se no apoio ao poeta, mesmo antes de ele se declarar oficialmente candidato. Isto só vem provar que as decisões apressadas, fruto de algum entusiasmo juvenil, correm o risco de se esgotarem antes do fim, seja porque as intenções do outro lado, não passaram de meras aspirações ou teimosias pessoais, ou porque foram arruinadas com posteriores acordos oportunistas e conjunturais.
Já o ancião Mário Soares, com larga e calejada experiência em traições à esquerda (apoio à candidatura do Gen.Soares Carneiro em 1980, por exemplo!) e especialista em cultivar ódios e antipatias pessoais, como já se previa, disse que vai decidir pela sua "consciência" e que não apoiará Alegre (era o que faltava!).
Entretanto, Aníbal Cavaco Silva, lá vai aparecendo em público, dia sim, dia não, fazendo de conta que está muito preocupado com o estado do país, a aconselhar moderação e caldos de galinha, e em privado a deixar que os outros, alegre(mente), lhe desimpeçam o caminho, rumo à segunda estadia em Belém.

quinta-feira, maio 27, 2010

Segunda Anedota do Dia

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O SENHOR Procurador-geral da República, Pinto Monteiro, após alguns dias de contenção verbal, declarou hoje para as câmaras das televisões, sem esboçar qualquer sorriso nem precisar o sentido da sua afirmação, que «Portugal não é um país de corruptos».

Anedota do Dia

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«... a ministra do Trabalho acredita que o mercado de trabalho está a dar sinais de recuperação...» ao passo que «... a OCDE divulgou que a taxa de desemprego em Portugal chegará aos 10,6 por cento no final de 2010, acima dos 9,8 por cento previstos pelo Governo.»

in jornal PÚBLICO de 27 Maio de 2010

quarta-feira, maio 26, 2010

Sob o Signo da Fraude

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INICIEI o ano de 2010 e o décimo caderno deste blog, com um artigo introdutório, que tinha por título "Sob o Signo da Corrupção, do Lixo e das Sucatas". Dizia aí que a falta de escrúpulos não são exclusivas desta actividade (as sucatas): abrange todas as áreas, tal é fedor, que começa nas lixeiras, aterros sanitários e paióis de sucata, depósitos de resíduos tóxicos, detritos e entulhos à beira das estradas, e acaba nos gabinetes dos políticos, gestores dos institutos, fundações e grandes empresas do sector empresarial do estado, verdadeiras “estações de tratamento” de um sistema corrupto que gira entre a política, os negócios e os respectivos ajustes directos. Em resumo: Portugal é cada vez mais uma extensa estrumeira que vive e sobrevive sob o signo da corrupção, do lixo e das sucatas.
Seis meses depois, com o processo “Face Oculta” a passar à clandestinidade, e dadas as notícias que chegam até nós, em que mais de sete milhões de euros é o valor das facturas falsas apreendidas, na semana passada, em buscas domiciliárias e não domiciliárias realizadas a sucateiros dos distritos de Leiria, Lisboa e Santarém, somos levados a concluir que o “fenómeno” continua a alastrar. E se inferirmos que com o expediente das facturas falsas, outras fraudes e actividades ilegais correm em paralelo, envolvendo outras gentes e outros sectores de actividade, somos levados a supor que haverá mais "godinhos", que arrastam consigo outros pequenos "varas" e "penedos", que espalhados por aí, se dedicam a depauperar o Estado, e consequentemente, a aliviarem os nossos bolsos, pois somos nós que, por via de mais uns quantos agravamentos de impostos, seremos chamados a tapar os buracos das receitas públicas.

terça-feira, maio 25, 2010

Fazer o Mal e a Caramunha

“(…)
Construíram-se impérios com pés de barro, que tendem, como se sabe, a cair facilmente. Mais: a maioria dos governantes e dos líderes políticos desprezou os avisos – chamando-lhes pessimistas ou negativistas – daqueles que diziam que não se podia continuar a viver assim. Não é aceitável que venham agora armar-se em virgens púdicas. Não podem dizer, como Sócrates, que “o mundo mudou nas últimas três semanas”. O mundo não muda assim tão depressa. O mundo vinha a mudar e Sócrates ou não deu por isso ou convinha-lhe não dar por isso. Perdeu a autoridade e agora refugia-se na culpa de outrem. Não faz mais nem menos do que os outros pigmeus que governam a Europa. Também Sócrates e seus pares não mais fazem do que especulação (desta vez política), quando dizem que a culpa é dos especuladores.”

Excerto do artigo de opinião do jornalista e director do semanário EXPRESSO, Henrique Monteiro, com o título “Prendam-se os Suspeitos do Costume”, publicado em 22 de Maio de 2010. O título do post é de minha autoria.

"Coerência e responsabilidade"

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"A propósito da moção de censura do PCP, Santos Silva, ex-ministro dos Assuntos Parlamentares, hoje titular na Defesa, falou de incoerência e irresponsabilidade. Ao fim de sete meses de "estágio" na Defesa, S. Silva mais parecia um peixe fora de água não obstante o esforço para mostrar que o seu lugar é ali, no centro do debate parlamentar.
Santos Silva invocou coerência. Pior argumento seria difícil usar na defesa de um Governo a que já nada sobra do programa eleitoral!
Do não aumento de impostos à defesa do investimento público, da protecção aos desempregados à responsabilização do sistema financeiro como causador da crise, da defesa do Sistema Nacional de Saúde à preservação do Estado Social, nem uma pedra sobra do programa eleitoral do PS. No entanto, (ao que chega o descaramento…), S. Silva falou de incoerência do PCP ao apresentar a moção de censura… A menos que queira assinalar que há outros, (o PSD), que rivalizam com o Governo na ausência de escrúpulos, a verdade é que o PCP se limitou a sublinhar o que toda a gente já sabe: que o Governo vive na total desorientação, que faz num dia o contrário do que disse ontem.
Santos Silva acusou o PCP de irresponsabilidade política por visar a demissão do Governo em tempos de crise. Irresponsável seria assistir ao afundanço do País e nada fazer para o evitar; irresponsável seria pactuar com um Governo que vai proteger os mais poderosos e espremer até ao tutano os desprotegidos; irresponsável seria assistir ao curvar da espinha perante todas as exigências das potências europeias. Isso sim, seria irresponsável, seria aceitar os que preferiram Castela contra Álvares Pereira e o Duque de Bragança, os que entregaram a soberania face ao ultimato Inglês, sempre com o argumento da inevitabilidade e da incapacidade de agir em tempos de crise…"

Artigo de opinião de Honório Novo, economista e deputado do Partido Comunista Português, publicado no JORNAL DE NOTÍCIAS de 24 de Maio de 2010.

segunda-feira, maio 24, 2010

Latim e Negócios Claramente Escuros

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JOÃO Bosco Mota Amaral, deputado do PSD e presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito do negócio PT/TVI decidiu proibir que o conteúdo das escutas relativas ao assunto em investigação, fossem utilizadas ou incluídas no apuramento da verdade e das responsabilidades por, na sua opinião, ferirem preceitos constitucionais (artigos 32.º e 34.º que referem a proibição da ingerência das autoridades públicas na correspondência, nas telecomunicações e nos demais meios de comunicação privados). No entanto, registe-se que tal opinião entra em conflito com o facto dessas transcrições de escutas terem sido enviadas para a comissão parlamentar, sem que, tanto o procurador-geral da República, Pinto Monteiro, como o juiz de instrução criminal António Gomes e o procurador da comarca do Baixo Vouga, Marques Vidal, tivessem invocado qualquer inconstitucionalidade com a cedência daqueles materiais, para o apuramento da verdade e das respectivas responsabilidades políticas. João Bosco perfilha um ponto de vista respeitável que, em abono da verdade, tem um número equilibrado de pró e contra, entre juristas e constitucionalistas. Já não são tão respeitáveis, os sistemáticos bloqueios, dificuldades e entraves fúteis que João Bosco levantou, no seu papel de presidente da comissão, ao longo de todo o processo, atitudes que, curiosamente, o PS (partido Sócrates), principal interessado em que o inquérito baqueasse ou fosse inconclusivo, corria a apoiar e aplaudir. Enfim, conjunturais mistérios!
Para mim, um leigo que não se quer consumir em discussões de natureza etimológica, processual ou constitucional, apenas me bastam as conclusões de um escorreito José Pacheco Pereira, também deputado do PSD, membro da aludida comissão de inquérito que teve acesso às transcrições das escutas, e que veio dizer, em conferência de imprensa, ladeado pelos restantes membros do PSD, Pedro Duarte, Agostinho Branquinho, Nuno Encarnação, Francisca Almeida e Carla Rodrigues, integrantes da tal comissão, o seguinte:
"O conteúdo das transcrições das escutas é avassalador (…) Não temos dúvidas, fundamentadas nos materiais enviados à comissão de inquérito, da existência no ano de 2009 de uma operação política de carácter conspirativo de controlo de órgãos da comunicação social, desenvolvida com conhecimento do primeiro-ministro por quadros do PS nas empresas em que o Estado tem participação".
Digam o que disserem, desculpem-se com o que quiserem, mas para mim não é necessário gastar mais tempo, verba nem latim, com este negócio claramente escuro. Só espero que, tome o inquérito o rumo que tomar, ninguém perca ou destrua aquelas transcrições, pois a História, mais cedo ou mais tarde, irá reclamá-las.
Passemos então à crise que se segue!

domingo, maio 23, 2010

A Criação ao Alcance da Mão

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“A propósito, já todos nós fomos confrontados com as perturbações causadas pela radiação cósmica de fundo. Se ligar a televisão num canal não sintonizado, cerca de um por cento da electricidade estática que vê é resultado do remanescente longínquo do Big Bang (1). Da próxima vez que se queixar de não haver nada para ver, lembre-se que pode sempre assistir ao nascimento do universo.”
In “Breve História de Quase Tudo”, de Bill Bryson (Bertrand Editora)

(1) Teoria científica que defende o surgimento do universo a partir de um estado extremamente denso e quente há cerca de 13,7 biliões de anos.

Meu comentário: Seja porque não há nada para ver, seja porque, de cada vez que sintonizo um canal das televisões nacionais, é quase garantido que sempre me aparece pela frente um ou outro membro da quadrilha de salteadores que governa o país, coadjuvados pelos “avatares”de José Sócrates, a debitarem “tempo de antena”, mascarado de “serviço noticioso”, sintonizar o ruído de fundo e apreciar os rumores do nascimento do universo, é sempre uma alternativa a considerar.

sábado, maio 22, 2010

Programa de Fim-de-Semana

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ANTES de tomar o avião em direcção ao Brasil, e iniciar uma digressão por outros países sul-americanos, suspeita-se que José Sócrates, depois de uma visita relâmpago à Covilhã, com passagem pelo estágio da selecção nacional de futebol, em que tirará fotografias ao lado do Ronaldo, irá aparecer de surpresa no Rock In Rio, e irá dançar uns passos de tango, em alta velocidade, com direito a transmissão directa, com o primeiro contribuinte-patriota que lhe aparecer, à mão de semear. No fim haverá lugar a uma conferência de imprensa, em que falará de oportunismo político, que ninguém conseguirá atirá-lo abaixo, além de voltar a garantir que o mundo mudou nas últimas semanas, mesmo que ninguém tenha dado por isso. No fim não haverá direito a perguntas.

Dúvida Persistente

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A PROPÓSITO do apoio às medidas de austeridade impostas por José Sócrates, Miguel Relvas diz que o PSD espera que o governo dê uma ajuda. Mas afinal quem governa? É o PSD que governa, e o PS que só dá uma ajuda?

sexta-feira, maio 21, 2010

Pontos nos is e Traços nos tês!

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"(...) O Sr. Primeiro-Ministro diz que é irresponsável apresentar uma Moção de Censura porque isso pode deitar abaixo o Governo. Não Sr. Primeiro-Ministro, o que é irresponsável é uma política, que é a sua, que está a deitar abaixo o País.
O Primeiro-Ministro acusa o PCP de ser igual a si próprio. Coerência não é insulto. Mas eu percebo que isso incomode o PS. É que do PS não se pode dizer que esteja igual a si mesmo; o que pode dizer-se é que o PS está cada vez mais igual ao PSD nas políticas que defende e pratica no Governo. (...)"

Excerto da intervenção do deputado Bernardino Soares do Partido Comunista Português, durante a Moção de Censura apresentada na Assembleia da República, pelo mesmo partido, em 21 de Maio de 2010.

Espanholês Técnico

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DURANTE uma conferência de imprensa em Espanha (só ontem é que tive conhecimento da coisa), o engenheiro incompleto ao ser confrontado com o facto de as medidas de austeridade serem o resultado das pressões oriundas da União Europeia, disse, recorrendo ao seu espanholês técnico, o seguinte: “sinto-me dono da economia portuguesa”. Não acredito, o homenzinho entrou em delírio, ou será que se estava a referir a alguma coisa que nós ainda desconhecemos? De qualquer modo, o que nos vale é que há uma grande diferença entre o “ser” e o “sentir”.

quinta-feira, maio 20, 2010

Socretinices

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A RTP "ofereceu" a José Sócrates mais uma entrevista "feita por medida" para ele tentar esclarecer porque é que abandonou o seu programa eleitoral, explicar as medidas de austeridade cuja necessidade sempre negou, e dar um jeito na sua imagem. O resultado foi o que se viu e ouviu: um fatinho Armani a embrulhar um saco de arrogância, que não pára de bolçar fanfarronices, balelas e contradições, com a suprema preocupação de sacudir responsabilidades, endereçando aos outros a autoria das dificuldades que estamos a viver e dos erros crassos que ele próprio cometeu, e nos quais reincide com o mais patético dos descaramentos. A ideia com que se fica é que não existe Governo, existe apenas um "one man show" chamado Sócrates, que desempenha todos os papéis até à náusea.
Quanto à crise que afecta o país, disse que a culpa é de que o mundo mudou. Só faltou acrescentar que não estava à espera de tanta ingratidão por parte dos mercados e dos especuladores financeiros.
A sua ideia de investimento público continua a girar toda à volta das grandes obras de estadão, consertadas com os grandes interesses dos grupos construtores.
Disse que não pede desculpas, porque ninguém pede desculpas por estar a cumprir a sua missão de governar, só que neste caso a missão está a ser cumprida às avessas do que foi prometido.
Disse que o seu interesse é governar e servir bem o país, mas esqueceu-se de referir que andou a povoar a administração pública e outros lugares-chave com os seus correligionários, e se governar e servir bem o país é satisfazer o apetite de quem se tem lautamente "servido" das “facilidades” da sua governação, bem pode limpar as mãos à parede.
Disse que reduzir os lucros dos gestores públicos (penso que estivesse a referir-se aos vencimentos) é um sinal que enfraquece a democracia, e fico sem perceber o que é que uma coisa tem a ver com a outra.
Disse que, face às dificuldades, o governo fez um esforço para distribuir o esforço por todos, mas esqueceu-se de reconhecer que para uns o esforço é uma insignificância negligenciável, enquanto que para outros é ter que prescindir de bens essenciais, cair na indigência ou ir à falência.
Recusou-se a admitir que tem andado a impingir uma imagem do país que não é coincidente com a realidade.
Disse que no primeiro trimestre deste ano tivemos o maior crescimento da Europa, que estamos no bom caminho, mas que se calhar os sacrifícios continuarão, sabe-se lá por quanto tempo.
Disse que o inquérito à tentativa de compra da TVI pela PT é um "espectáculo lamentável", o que é verdade, se atendermos às conclusões a que esse mesmo inquérito vai chegar.
Voltou a insistir que o mundo mudou (sempre a culpar os outros), mas esqueceu-se de referir que desde as eleições legislativas do ano passado até agora, o seu discurso também mudou umas poucas de vezes.
Disse, ostentando o mais comovente dos atrevimentos, que é preciso dizer toda a verdade aos portugueses.
Continua a dizer e a contradizer-se, com a mesma facilidade com que mente e vira as costa às perguntas incómodas.
Mesmo amparado pelo PSD, e a tentar improvisar uns passos de tango, é visível que o homenzinho está em queda livre.
Para terminar apenas me ocorre citar uma frase de Adele (interpretada pela actriz Catherine Keener) no filme Sinédoque, New York (2008), do realizador Charlie Kaufman: “Quanto mais se conhece uma pessoa, mais ela nos desilude.”

quarta-feira, maio 19, 2010

Afinal, em que Ficamos?

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O JORNAL DE NEGÓCIOS informa que o BPI já não pertence ao conjunto de bancos que estão a financiar o troço Poceirão-Caia (o primeiro troço de Alta Velocidade a ser assinado), que vai ser construído e explorado pelo consórcio Elos, liderado pela Brisa e Soares da Costa.
Por sua vez o EXPRESSO on-line diz que o ministro das obras públicas, António Mendonça, à margem da conferência "Portugal em Exame", garantiu que as obras públicas planeadas têm financiamento assegurado, nomeadamente o troço do TGV Poceirão-Caia que já tinha fundos comunitários de 650 milhões de euros.
Afinal, em que ficamos?

terça-feira, maio 18, 2010

Moção de Censura? Claro que Concordo!

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MOÇÃO de Censura? Claro que concordo! Para além de ser um instrumento a que recorrem as forças políticas, com representação parlamentar, para manifestar a sua discordância com as políticas do governo (senão mesmo apeá-lo), no caso presente também vai servir para pôr em pratos limpos, quem é quem, no contexto do actual plano de austeridade, isto é, ficarmos a saber quem assume as responsabilidades políticas de apoiar ou rejeitar as actuais (e futuras) medidas do Governo contra os trabalhadores e os sectores mais frágeis da sociedade portuguesa. Não basta à restante oposição de direita (PSD e CDS) falar de “patriotismo” e ir alimentando, à boca de cena, falsas guerrilhas de alecrim e manjerona contra o Governo, para simular indignação, ao mesmo tempo que, nos bastidores, vai dando o seu aval e impondo as suas condições, para que depois se concretizem, pela prestimosa mão do PS e do seu alucinado governo minoritário, alguns dos seus mais ousados objectivos políticos.

Anomalia Epistemológica

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Sócrates, o engenheiro incompleto, foi convidado para um Seminário de Empresários, promovido pelo diário ABC e a Deloitte, que decorreu em Madrid, tendo chegado ao evento bastante atrasado. Quando deram a palavra à criatura, esta desatou a divagar e a desbobinar, com letra e música de sua autoria, as maravilhas e grandes feitos da sua política, como se estivesse a descrever o paraíso na terra, para uma plateia de imbecis, maravilhados e boquiabertos, como se eles não soubessem quem ele é nem o que se passa cá dentro deste lugarejo. Já Durão Barroso e José Luís Zapatero, nem sequer lá apareceram, tendo a mesa dos convidados VIP ficado com as suas cadeiras vazias.
É com visões destas que cada vez mais me convenço que Sócrates não é um político, nem sequer um vendedor de calicidas, antes sim uma autêntica anomalia epistemológica, isto para não lhe chamar outra coisa.