quinta-feira, maio 20, 2010

Socretinices

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A RTP "ofereceu" a José Sócrates mais uma entrevista "feita por medida" para ele tentar esclarecer porque é que abandonou o seu programa eleitoral, explicar as medidas de austeridade cuja necessidade sempre negou, e dar um jeito na sua imagem. O resultado foi o que se viu e ouviu: um fatinho Armani a embrulhar um saco de arrogância, que não pára de bolçar fanfarronices, balelas e contradições, com a suprema preocupação de sacudir responsabilidades, endereçando aos outros a autoria das dificuldades que estamos a viver e dos erros crassos que ele próprio cometeu, e nos quais reincide com o mais patético dos descaramentos. A ideia com que se fica é que não existe Governo, existe apenas um "one man show" chamado Sócrates, que desempenha todos os papéis até à náusea.
Quanto à crise que afecta o país, disse que a culpa é de que o mundo mudou. Só faltou acrescentar que não estava à espera de tanta ingratidão por parte dos mercados e dos especuladores financeiros.
A sua ideia de investimento público continua a girar toda à volta das grandes obras de estadão, consertadas com os grandes interesses dos grupos construtores.
Disse que não pede desculpas, porque ninguém pede desculpas por estar a cumprir a sua missão de governar, só que neste caso a missão está a ser cumprida às avessas do que foi prometido.
Disse que o seu interesse é governar e servir bem o país, mas esqueceu-se de referir que andou a povoar a administração pública e outros lugares-chave com os seus correligionários, e se governar e servir bem o país é satisfazer o apetite de quem se tem lautamente "servido" das “facilidades” da sua governação, bem pode limpar as mãos à parede.
Disse que reduzir os lucros dos gestores públicos (penso que estivesse a referir-se aos vencimentos) é um sinal que enfraquece a democracia, e fico sem perceber o que é que uma coisa tem a ver com a outra.
Disse que, face às dificuldades, o governo fez um esforço para distribuir o esforço por todos, mas esqueceu-se de reconhecer que para uns o esforço é uma insignificância negligenciável, enquanto que para outros é ter que prescindir de bens essenciais, cair na indigência ou ir à falência.
Recusou-se a admitir que tem andado a impingir uma imagem do país que não é coincidente com a realidade.
Disse que no primeiro trimestre deste ano tivemos o maior crescimento da Europa, que estamos no bom caminho, mas que se calhar os sacrifícios continuarão, sabe-se lá por quanto tempo.
Disse que o inquérito à tentativa de compra da TVI pela PT é um "espectáculo lamentável", o que é verdade, se atendermos às conclusões a que esse mesmo inquérito vai chegar.
Voltou a insistir que o mundo mudou (sempre a culpar os outros), mas esqueceu-se de referir que desde as eleições legislativas do ano passado até agora, o seu discurso também mudou umas poucas de vezes.
Disse, ostentando o mais comovente dos atrevimentos, que é preciso dizer toda a verdade aos portugueses.
Continua a dizer e a contradizer-se, com a mesma facilidade com que mente e vira as costa às perguntas incómodas.
Mesmo amparado pelo PSD, e a tentar improvisar uns passos de tango, é visível que o homenzinho está em queda livre.
Para terminar apenas me ocorre citar uma frase de Adele (interpretada pela actriz Catherine Keener) no filme Sinédoque, New York (2008), do realizador Charlie Kaufman: “Quanto mais se conhece uma pessoa, mais ela nos desilude.”

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