quarta-feira, junho 23, 2010

O Respeitinho é Uma Coisa Muito Bonita

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José Sócrates, a putativa vítima central da grande cabala do negócio PT/TVI, afirma que a oposição quis humilhá-lo na comissão parlamentar de inquérito, e que "o dever desses partidos era pedirem desculpa ao país, à Assembleia da República e a mim".
Se estivesse na minha mão, ainda ia mais longe: a obrigação do pedido de desculpas devia ser alargado aos procuradores e investigadores, e a coisa devia acontecer em cerimónia pública, com transmissão em directo pelas estações de televisão, em horário nobre, e as desculpas serem extensivas aos senhores Armando Vara, Rui Pedro Soares e Paulo Penedos, pelas maçadas e incómodos causados, e já agora com direito a indemnização, por perdas, danos e ofensas ao bom nome dos caluniados.

terça-feira, junho 22, 2010

"Viver e deixar morrer"

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«A TVI noticiou ontem que o INEM vai acabar com aquilo que o seu presidente classificou de serviço "dispendioso": a ajuda, quer telefónica quer no terreno, a pessoas em tentativa de suicídio (bem como ainda às vítimas de violação e de maus-tratos). As ordens "de cima" são para poupar e o INEM poupará deste modo nos salários de 7 psicólogos, que atendiam, em média, 27 chamadas e saíam 5 vezes por semana para apoiar pessoas em estado de grande depressão e em vias de se suicidarem. Um cínico diria que os critérios de poupança do INEM se justificam inteiramente. Impedir alguém de se matar contribui, de facto, para o agravamento do défice, sendo, por isso, antipatriótico. Implica não só encargos com pessoal e meios como ainda obsta a que a Segurança Social poupe em pensões e subsídios, já que boa parte dos potenciais suicidas, quando não são doentes crónicos ou terminais que oneram o SNS, são provavelmente idosos, desempregados e beneficiários de Rendimento Social de Inserção, isto é, gente "inútil" e, pior, fardos que só atrasam a gloriosa marcha de Portugal em direcção aos 3% de défice em 2013.»

Artigo de Manuel António Pina no JORNAL DE NOTÍCIAS on-line, com o mesmo título do post.

segunda-feira, junho 21, 2010

Mortalidades

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É UMA INEVITABILIDADE: todos os dias morrem criadores, cada um na sua arte, uns mais artífices que artistas, uns maiores que outros, uns com obra concluída, outros com ela inacabada, mas há alguns que por me terem servido de bússola, quando desaparecem, deixam-me transitoriamente amargurado, quase deprimido. Foi o caso de Albert Camus em 1960 (apenas soube da sua morte em 1964), de Jorge Luís Borges em 1986, de Vergílio Ferreira em 1996, de Sophia de Mello Breyner Andresen em 2004, e agora, de José Saramago em 2010, e mais uma meia dúzia de outras figuras marcantes, repartidas entre prosadores, poetas e cineastas, que entretanto se extinguiram. Ontem estavam, hoje já não estão. Quando partem, é como aquela ondulação que nos faz, momentaneamente, perder o pé. Depois, vem uma onda mais alterosa, atira-nos contra as rochas, e saímos dali exaustos, carregados de esfoladelas e a lamber as feridas. Como suponho que irá acontecer, haverá mais dois ou três casos de criadores que admiro, que num espaço de tempo mais ou menos curto - e porque esqueço facilmente que eles não têm o dom da imortalidade física, e não me contento com a sua provável imortalidade espiritual - é quase garantido que voltarão a fazer-me experimentar esse travo amargo de orfandade, de perda quase irreparável. Cessada a sua torrente criativa, a tal bússola que me apontava vários nortes e outros tantos desnortes, de repente, queda-se fossilizada no espaço e no tempo.
Como muito bem exprimiu a Clara Ferreira Alves, quando perdemos um amigo (mesmo aqueles com quem apenas convivemos através das obras) é como se nos sentíssemos envelhecer precocemente. Comigo, e de uma forma um pouco mais radical, arrisco dizer que é mais uma espécie de corte do cordão umbilical, com que o espírito criativo sustenta, quem dele se alimenta. Pára esse fluxo e logo aí morre um pouco de nós próprios. Não fosse o espólio que perdura, a suave turbulência e o maravilhoso que emana das transfusões que recebemos das suas obras, quase me atreveria a dizer que pouco ou nada faltaria para, mesmo sobrevivendo-lhes, morrermos com eles.

sexta-feira, junho 18, 2010

Saramago

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JOSÉ SARAMAGO terminou a sua jornada terrena e deixou de estar entre nós. Inicia agora uma outra viagem, essa muito mais longa, na qual irá percorrer a memória colectiva, não só dos portugueses, mas de toda a Humanidade, a quem se entregou com todas as suas armas e bagagens. Combativo, polémico e irreverente, aceitou o desafio de se superar. Acabou a desbravar grandes caminhos e as inóspitas paragens da imaginação, da criação e da condição humana.
Vai continuar a viver nas prateleiras da minha exígua biblioteca, porém, já sinto a sua falta.

Os Conselheiros de Sócrates e Coelho

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OS PORTUGUESES comuns (os que têm trabalho) ganham cerca de metade (55%) do que ganha um trabalhador comum na zona euro, mas os nossos gestores recebem em média:

- mais 32% do que os Americanos;
- mais 22,5% do que os Franceses;
- mais 55% do que os Finlandeses;
- mais 56,5% do que os Suecos.

(dados de Manuel António Pina, JORNAL DE NOTÍCIAS, 24 de Outubro de 2009)

E são estes os cavalheiros que, à boleia dos PECs do governo Sócrates / Coelho, e transformados em seus conselheiros, estão agora a exigir a liberalização dos despedimentos, o alargamento do prazo limite dos contratos a prazo, com a possibilidade de renovações ilimitadas, bem como o esvaziamento da concertação social, ao mesmo tempo que dizem, à boca cheia e de peito inchado, que “os portugueses gastam acima das suas possibilidades”.

quinta-feira, junho 17, 2010

A Alquimia ao Serviço da Governação

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JÁ CONHECÍAMOS a técnica de "apagar" as faltas dos alunos gazeteiros, evitando a sua perda de ano, mais o salto encarpado do oitavo para o décimo ano, sem passar pelo nono, bem como as depurações regulares a que são sujeitos os ficheiros do desemprego. Sobre esta última preciosidade até conheço um caso de um desempregado que logo no dia a seguir a ter preenchido os formulários, os seus dados desapareceram na onda de uma dessas operações de limpeza, vá-se lá saber como e porquê. Confirma-se agora que o processo se estende a outras áreas, nomeadamente na Justiça. Assim, o Ministério da Justiça atribuiu a um "erro técnico" (explicado por falta de filtragem dos dados, dos computadores, está claro!) o caso de terem sido indevidamente "apagados" 14.721 crimes praticados com armas de fogo, nos últimos cinco anos. Quando a coisa não pode ser facilmente explicada, os culpados são sempre os coitados dos sistemas informáticos, que têm tanto de costas largas, como de incapacidade (por enquanto) para se defenderem de falsas acusações.
Ora isto é alquimia da mais pura, aquela prática ancestral que tinha a pretensão de converter o chumbo em ouro, mas de que não há notícias que tivesse alguma vez atingido tal objectivo. Porém, engano nosso! Com os dois governos do PS (partido Sócrates), foi reinventada a técnica, e bastou usar o "apagador", para que de uma forma simples e barata, se pudesse ludibriar a realidade, ao mesmo tempo que se punham a cintilar, com o brilho do ouro, os maus resultados que por aí andavam a emporcalhar as estatísticas.

quarta-feira, junho 16, 2010

“Cidadãos Europeus, Uni-vos!”

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«A luta de classes está de volta à Europa e em termos tão novos que os actores sociais estão perplexos e paralisados. O relatório que o FMI acaba de divulgar sobre a economia espanhola é uma declaração de guerra. Os movimentos e as organizações de toda a Europa têm de se articular para mostrar aos governos que a estabilidade dos mercados não pode ser construída sobre as ruínas da estabilidade das vidas dos cidadãos e suas famílias. Não é o socialismo; é a demonstração de que ou a UE cria as condições para o capital produtivo se desvincular relativamente do capital ou o futuro é o fascismo.

O artigo é de Boaventura de Sousa Santos

Os dados estão lançados, o jogo é claro e quanto mais tarde identificarmos as novas regras mais elevado será o custo para os cidadãos europeus. A luta de classes está de volta à Europa e em termos tão novos que os actores sociais estão perplexos e paralisados. Enquanto prática política, a luta de classes entre o trabalho e o capital nasceu na Europa e, depois de muitos anos de confrontação violenta, foi na Europa que ela foi travada com mais equilíbrio e onde deu frutos mais auspiciosos.
Os adversários verificaram que a institucionalização da luta seria mutuamente vantajosa: o capital consentiria em altos níveis de tributação e de intervenção do Estado em troca de não ver a sua prosperidade ameaçada; os trabalhadores conquistariam importantes direitos sociais em troca de desistirem de uma alternativa socialista. Assim surgiram a concertação social e seus mais invejáveis resultados: altos níveis de competitividade indexados a altos níveis de protecção social; o modelo social europeu e o Estado Providência; a possibilidade, sem precedentes na história, de os trabalhadores e suas famílias poderem fazer planos de futuro a médio prazo (educação dos filhos, compra de casa); a paz social; o continente com os mais baixos níveis de desigualdade social.
Todo este sistema está à beira do colapso e os resultados são imprevisíveis. O relatório que o FMI acaba de divulgar sobre a economia espanhola é uma declaração de guerra: o acúmulo histórico das lutas sociais, de tantas e tão laboriosas negociações e de equilíbrios tão duramente obtidos, é lançado por terra com inaudita arrogância e a Espanha é mandada recuar décadas na sua história: reduzir drasticamente os salários, destruir o sistema de pensões, eliminar direitos trabalhistas (facilitar demissões, reduzir indemnizações). A mesma receita será imposta a Portugal, como já foi à Grécia, e a outros países da Europa, muito para além da Europa do Sul.
A Europa está sendo vítima de uma OPA por parte do FMI, cozinhada pelos neoliberais que dominam a União Europeia, de Merkel a Barroso, escondidos atrás do FMI para não pagarem os custos políticos da devastação social. O senso comum neoliberal diz-nos que a culpa é da crise, que vivemos acima das nossas posses e que não há dinheiro para tanto bem-estar. Mas qualquer cidadão comum entende isto: se a FAO calcula que 30 biliões de dólares seriam suficientes para resolver o problema da fome no mundo e os governos insistem em dizer que não há dinheiro para isso, como se explica que, de repente, tenham surgido 900 biliões para salvar o sistema financeiro europeu?
A luta de classes está voltando sob uma nova forma mas com a violência de há cem anos: desta vez, é o capital financeiro quem declara guerra ao trabalho. O que fazer? Haverá resistência mas esta, para ser eficaz, tem de ter em conta dois fatos novos. Primeiro, a fragmentação do trabalho e a sociedade de consumo ditaram a crise dos sindicatos. Nunca os que trabalham trabalharam tanto e nunca lhes foi tão difícil identificarem-se como trabalhadores. A resistência terá nos sindicatos um pilar mas ele será bem frágil se a luta não for partilhada em pé de igualdade por movimentos de mulheres, ambientalistas, de consumidores, de direitos humanos, de imigrantes, contra o racismo, a xenofobia e a homofobia. A crise atinge todos porque todos são trabalhadores.
Segundo, não há economias nacionais na Europa e, por isso, a resistência ou é europeia ou não existe. As lutas nacionais serão um alvo fácil dos que clamam pela governabilidade ao mesmo tempo que desgovernam. Os movimentos e as organizações de toda a Europa têm
de se articular para mostrar aos governos que a estabilidade dos mercados não pode ser construída sobre as ruínas da estabilidade das vidas dos cidadãos e suas famílias. Não é o socialismo; é a demonstração de que ou a UE cria as condições para o capital produtivo se desvincular relativamente do capital financeiro ou o futuro é o fascismo e terá que ser combatido por todos os meios.»

Transcrição do artigo de Boaventura Sousa Santos, com o mesmo título do post, publicado na revista VISÃO de 2 de Junho de 2010

terça-feira, junho 15, 2010

Detergente e Raticida

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Ricardo Rodrigues, o deputado ratoneiro de gravadores, pouco recomendável e sem vergonha, era a pessoa menos indicada para vir dizer para os meios de comunicação social, com semblante grave e voz petulante, que João Semedo (deputado do Bloco de Esquerda), relator do Relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o negócio frustrado da compra da TVI pela PT, produziu conclusões absurdas, enviesadas e manipuladoras, que distorceram os factos. Isto transmite-me a ideia de que o Largo do(s) Rato(s) já não consegue encontrar mais ninguém para mandar os recados e defender o indefensável, dando cobertura a um primeiro-ministro mentiroso. Mesmo assim, continua a persistir a sensação de que irá ter grande dificuldade em livrar-se do engomadíssimo engenheiro incompleto e da sua trupe, tardando em seguir os conselhos de quem sabe o que diz. Para isso recorro às palavras de Eça de Queirós, por demais sensatas, eloquentes e sobejamente comprovadas, quando dizia que «os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente e pela mesma razão». Só que no caso presente vai ser necessário muito detergente e raticida…

segunda-feira, junho 14, 2010

Falta de Cultura Geral

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Rui Pedro Soares, o agente infiltrado pelo governo na administração da Portugal Telecom (PT), que se recusou a responder na Comissão Parlamentar de Inquérito, destinada a apurar a verdade sobre a tentativa de compra da TVI pela PT, e que se vangloria de ser um Dragão de Ouro, membro do PS, amigo de José Sócrates, Armando Vara, Paulo Penedos e Mário Lino, também ostenta uma manifesta ignorância, quando associa o relatório com as conclusões daquela Comissão com os julgamentos da Inquisição ou Santo Ofício. Não há semelhança nenhuma, pela simples razão que as Comissões Parlamentares de Inquérito não têm juízes na sua composição, logo não são tribunais, são compostas por deputados de todos os grupos parlamentares, com mandato de proveniência democrática, não inquirem sobre matéria ou questões de fé, não obrigam os convocados a comparecer ou a prestar declarações, não praticam a tortura para obter confissões nem mandam ninguém para ser queimado nas fogueiras.

domingo, junho 13, 2010

Saber Passar o Testemunho

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ENTRE algumas leituras que fiz nestes últimos dias, destaca-se, em jeito de memórias, o apontamento biográfico de Álvaro Cunhal, da autoria de Carlos Brito (*), baseado nas vivências partilhadas entre o autor e o biografado.
Lê-se esta magnífica obra, bem estruturada e bem escrita, e tira-se (ou confirma-se) uma primeira conclusão: Álvaro Cunhal, foi um homem de grande valor, tanto humano, como político e intelectual, que equipado com todas as suas virtudes e defeitos, foi a locomotiva que conduziu e marcou o Partido Comunista Português, no ante e pós 25 de Abril de 1974.
Neste aspecto, acabou por confirmar a inesperada impressão que me causou um outro livro, “Cinco Conversas com Álvaro Cunhal”, de Catarina Pires, publicado em 1999, onde me apercebi que estava ali um homem invulgar, que na intimidade de um diálogo fugaz, não coincidia (tanto na lisonja como na reprovação) com o imaginário que circulava por aí. Além disso, não é qualquer um, sendo um homem daquela craveira, que se dispõe e expõe a servir de objecto para uma tese académica.
No entanto, e voltando ao livro de Carlos Brito, uma segunda conclusão ressalta: com a agudização dos seus graves problemas de saúde, a que se somou a implosão dos regimes de leste, no final da década de 1980, e muito em especial o da União Soviética, situação que coincidiu com um recuo da representação parlamentar do PCP, Álvaro Cunhal, mesmo fragilizado, e reconhecendo que tais acontecimentos iriam ser dramáticos para as ideias e afinidades que sempre tinha acarinhado, decidiu reassumir, contra tudo e contra todos, o controle do partido, tentando inverter os estragos que aquela nova situação estava a provocar. Disso resultou que perdeu o contacto com algumas realidades, e à conta disso cometeu alguns erros, não percebendo (ou não querendo perceber) que era necessário fazer uma mudança, e ter a humildade de reconhecer que a sua obstinação, a manter-se, iria ter efeitos perversos. Não recuou, antes pelo contrário. Escolheu o caminho da guerra interna, deixando que alastrasse a “caça às bruxas”, a marginalização das vozes discordantes da linha política dominante, e a consequente deserção de muitos e bons quadros partidários. Não soube (ou não quis) assumir o seu declínio, como uma consequência das leis da vida, que ele próprio tanto respeitava.
Disto, resulta um ensinamento muito simples: durante a nossa vida, é muito importante reconhecer qual é o momento ideal para parar, melhor, para passar o testemunho, tal como numa prova de estafeta. Se assim não for, corremos o risco de comprometer o futuro, e tudo o que fizemos, que pode ter sido justo, e até mesmo excepcional, mas não imutável, começar a desvalorizar-se, irremediavelmente.

(*) Álvaro Cunhal – Sete Fôlegos do Combatente – Memórias – Edições Nelson de Matos – Colecção História Hoje - 2010

sábado, junho 12, 2010

A Coisa e o Coiso

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OS JORNAIS falavam na “coisa”, toda a gente sabia e falava da “coisa”, e até os investigadores do Ministério Público, que andavam a investigar outra coisa, ouviram o “coiso” falar na “coisa”, ficando provado que o “coiso” sabia da “coisa” e andava a conspirar para lhe deitar a mão. Na Assembleia da República perguntaram ao “coiso” se ele sabia da “coisa” e ele respondeu que não sabia da “coisa”. Entretanto, o “coiso” continua a ter o descaramento de dizer que não mentiu.

Dia de Portugal e dos Allgarves

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ANTEONTEM foi o dia da distribuição das medalinhas, dos discursos e das vaias. A atribuição de medalinhas, umas percebem-se, outras nem por isso. Por exemplo, a de Isabel Pires de Lima, deve ter-se destinado a premiar a presença frequente nos ginásios e a sua insistência na musculação e boa forma física. E não percebo porque é que o senhor Manuel Godinho não teve direito a nada, já que com ele, quase toda a gente foi contemplada. Sobre os discursos, as palavras de Cavaco Silva soaram a falso, e quanto a António Barreto tiveram um “não sei o quê” de bafiento, passadista e requentado. Quanto às vaias, dirigidas ao engenheiro incompleto e afins, souberam a pouco. Está mesmo a pedir um concerto de vuvuzelas!

sexta-feira, junho 11, 2010

Lista de Coisas Em Que Não Confio

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José Sócrates e todo o seu séquito governamental;
Pedro Passos Coelho e o seu “governo sombra”;
Grupo parlamentar do PS (partido Sócrates);
Grupo parlamentar “sombra” do PPD/PSD;
Aníbal Cavaco Silva e o seu fornecedor de bolo-rei;
Fernando Pinto Monteiro, Procurador-geral da República;
Mota Amaral, deputado do PPD/PSD e presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito do caso PT/TVI;
A Justiça portuguesa;
A ERC;
Mário Soares, as suas escolhas e palpites;
Fátima Campos Ferreira e os seus guiões televisivos;
Instituto de Meteorologia e as suas previsões;
O guia espiritual de Carlos Queirós (se tiver algum);
O espelho de Lili Caneças.

quarta-feira, junho 09, 2010

Compromisso Histórico

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ASSISTI anteontem ao FRENTE A FRENTE da SIC Notícias, entre Bernardino Soares do PCP e Miguel Relvas do PSD, onde se falou, entre outras coisas, sobre uma prometida revisão do Código do Trabalho, sugerida pelo líder Passos Coelho, destinada a liberalizar os despedimentos, e como forma de atrair mais investimento para o país. Disse Miguel Relvas que tal liberalização, não visava apenas simplificar os despedimentos, mas também facilitar as futuras admissões, tendo em vista assegurar a competitividade das empresas. Bernardino Soares, muito naturalmente, contrapôs que tal pretensão, outro objectivo não tinha senão o de fazer substituir trabalhadores permanentes, utilizando um simplificado processo de despedimento sem justa causa, por trabalhadores precários, medida que pouco ou nada tem a ver com competitividade, além de que é potenciadora de desemprego, uma das chagas que o governo diz pretender combater.
Em desespero de causa, Miguel Relvas contrapôs que, na actual situação de crise, é bem melhor ser trabalhador precário do que desempregado, tentando encobrir que a verdadeira intenção do PSD é subverter as relações laborais, eliminando uma das premissas que é o contrato de trabalho permanente, o qual passaria à história.
Nunca vi que a excelência das empresas (motor da apregoada competitividade), entre outros factores, resultasse da aplicação da precariedade laboral, antes pelo contrário. Qualquer projecto que se pretenda consistente e inovador, aposta na estabilidade da sua população laboral, com adequado nível remuneratório, ao mesmo tempo que investe na elevação dos seus níveis de qualificação. Superação da crise não significa reduzir despesas com pessoal e, consequentemente, manter, senão mesmo, aumentar os lucros. Se como dizem, o prejuízo tem que ser distribuído de forma equitativa, que o seja, sem falsas aritméticas, entre o capital e o trabalho. Sempre ouvi dizer que as empresas são feitas pelas pessoas e com as pessoas, ou será que isto também já é uma verdade caída em desuso?
Eu diria que tudo isto não passava de uma curiosidade, se não fosse dramático o que se está a cozinhar e o que se avizinha. A título de exemplo, observemos o que escreveu a ministra Helena André, num artigo publicado no JORNAL DE NOTÍCIAS de 7 de Junho. Num mirabolante devaneio, misturado com um ataque descabelado ao deputado Honório Novo do PCP, sentenciou que o Partido Comunista Português faria bem melhor ao país, aos portugueses e às grandes causas nacionais, se apoiasse a “esquerda”(?) que governa o país (leia-se PS+PSD), subscrevendo um “compromisso histórico” com o PS (partido Sócrates). Ora bem, considerando a hipótese académica de tal “apoio”se concretizar, quer isto dizer que o PCP, entre outras coisas, passaria a ter que “relativizar” os princípios constitucionais, para não contrariar os “estados de excepção” que o governo decretaria, iria apoiar as privatizações dos mais alguns sectores estratégicos da economia nacional, concordar com mais agravamentos de impostos sobre quem trabalha, sem tocar nos privilégios das grandes empresas, fortunas e transacções financeiras, que continuariam a regalar-se pelas off-shores, e dar o seu aval a que o trabalho precário se tornasse a medida-padrão do mundo do trabalho, com resultados catastróficos, nas já de si diminuídas condições de vida dos portugueses, bem como nos níveis de desemprego.
Assim mesmo, sem tirar nem pôr, e a coberto de um mais que indecoroso “compromisso histórico”, viria a caminho uma nova versão do Estado Novo, de fachada pseudo-democrática, e estaria constituída, para delícia de uns tantos teóricos do “socialismo moderno, moderado e popular”, uma nova versão da União Nacional – Acção Nacional Popular.

terça-feira, junho 08, 2010

É Disto Que o Meu Povo Gosta! (*)

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Caia neve
Chova
Ou faça sol
Fica cego
Esquece tudo
Sonha
Pisa a relva
Rola a bola
Finta aqui
Chuta acolá
Peão
Cabeceira
Ou bancada central
Tanto faz.
Grita
Assobia
Ri e chora
Porque ripar
Na rapaqueca
É disso
Que o meu povo gosta.

(*) Expressão usada pelo falecido repórter desportivo Jorge Perestrelo.

segunda-feira, junho 07, 2010

A Estrada

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Título: A Estrada
Título Original: The Road
Ano: 2009
Realizador: John Hillcoat
Argumento: Cormac McCarthy
Adaptação: Joe Penhall
Género: Drama

Actores:
Viggo Mortensen ... The Father
Kodi Smit-McPhee ... The Son
Robert Duvall ... Old Man
Guy Pearce ... The Final Man
Molly Parker ... The Final Woman
Michael K. Williams ... Thief (as Michael Kenneth Williams)
Garret Dillahunt ... Urinating Gang Member
Charlize Theron ... The Mother
Bob Jennings ... Bearded Man
Agnes Herrmann ... Archer's Woman
Buddy Sosthand ... Archer
Kirk Brown ... Bearded Face
Jack Erdie ... Bearded Man #2
David August Lindauer ... Man On Mattress
Gina Preciado ... Well Fed Woman

Duração: 111 min
País: E.U.A.
Cor: Color
Formato: 2.35 : 1
Audio: DTS Dolby Digital

Meu comentário:
Imaginemos que aconteceu um cataclismo de enormes proporções, não sabemos como nem porquê, mas ele foi um acontecimento a nível planetário, que destruiu os sistemas básicos da civilização, tal como a conhecemos, desde o sistema produtivo até ao sistema governativo. Há fogos descomunais, tremores de terra, frio, gelo, o céu ficou cinzento e já não deixa passar os raios solares, paira um nevoeiro fuliginoso e permanente, deixaram de se ver e ouvir as aves, as árvores transformaram-se em tocos mortos, e a terra apenas exibe líquenes raquíticos. Há gente que vagueia, um pouco por todo o lado, quase sem destino, apenas a tentar subsistir. O mundo tornou-se um sítio tão inóspito e perigoso, que nem a mais rudimentar sobrevivência está assegurada.
Se reflectirmos atentamente sobre as consequências que uma tal situação acarretaria, não seria difícil reconhecer que tudo entraria em colapso e os seres humanos ficariam entregues a si próprios, desconfiados de quem se cruza no caminho a pedir ajuda. Se projectarmos uma calamidade dessa dimensão, sem retorno e sem remédio, pelo período de dez ou quinze anos, iríamos assistir à disseminação da velha máxima que diz “cada um por si, e salve-se quem puder”. Como o ser humano vive, basicamente, para encher o estômago, defecar e nos intervalos tentar reproduzir-se, e como já não há autoridades, primeiro assaltam-se os armazéns, depois as lojas, as grandes superfícies, as despensas particulares e todo o local onde se guarde comida. Depois começa-se a abater toda a fauna que possa fornecer proteínas, passando pela ratazana até à barata. Finalmente, quando a extinção dos animais inferiores já estiver quase consumada, está na altura de se dar roda livre ao canibalismo, transformando o mundo numa imensa reserva onde se caçam humanos para matar a fome.
O mundo começa a dividir-se entre os bons e os maus. Maus são os comem seres humanos, bons são os que sobrevivem sem comer o seu semelhante. De um lado, a barbárie já está a caminho, do outro sobrevive uma mentalidade que quer continuar a ser civilizada, porém, disposta a vender cara a sua carne.
O filme é baseado no livro homónimo de Cormac McCarthy, vencedor do prémio Pulitzer. O tema é chocante, porque nos confronta com uma realidade possível. É polémico, nu e cru, porque confronta o ser humano com situações limite, que descem imparáveis, até aos abismos profundos da natureza humana. Grande filme e grandes interpretações, porque, felizmente, e por agora, é somente e apenas disso que se trata.

domingo, junho 06, 2010

"O Atestado Médico"

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Com o mesmo título do post, transcrevo o texto do professor José Ricardo Costa, publicado no jornal O TORREJANO, em 11 de Dezembro 2008.

«Imagine o meu caro que é professor, que é dia de exame do 12º ano e vai ter de fazer uma vigilância.
Continue a imaginar. O despertador avariou durante a noite. Ou fica preso no elevador. Ou o seu filho, já à porta do infantário, vomitou o quente, pastoso, húmido e fétido pequeno-almoço em cima da sua imaculada camisa.
Teve, portanto, de faltar à vigilância. Tem falta.
Ora esta coisa de um professor ficar com faltas injustificadas é complicada, por isso convém justificá-la. A questão agora é: como justificá-la?
Passemos então à parte divertida. A única justificação para o facto de ficar preso no elevador, do despertador avariar ou de não poder ir para uma sala do exame com a camisa vomitada, ababalhada e malcheirosa, é um atestado médico.
Qualquer pessoa com um pouco de bom senso percebe que quem precisa aqui do atestado médico será o despertador ou o elevador. Mas não. Só uma doença poderá justificar sua ausência na sala do exame. Vai ao médico. E, a partir deste momento, a situação deixa de ser divertida para passar a ser hilariante.
Chega-se ao médico com o ar mais saudável deste mundo. Enfim, com o sorriso de Jorge Gabriel misturado com o ar rosado do Gabriel Alves e a felicidade do padre Melícias. A partir deste momento mágico, gera-se um fenómeno que só pode ser explicado através de noções básicas da psicopatologia da vida quotidiana. Os mesmos que explicam uma hipnose colectiva em Felgueiras, o holocausto nazi ou o sucesso da TVI.
O professor sabe que não está doente. O médico sabe que ele não está doente. O presidente do executivo sabe que ele não está doente. O director regional sabe que ele não está doente. O Ministério da Educação sabe que ele não está doente.
O próprio legislador, que manda a um professor que fica preso no elevador apresentar um atestado médico, também sabe que o professor não está doente.
Ora, num país em que isto acontece, para além do despertador que não toca, do elevador parado e da camisa vomitada, é o próprio país que está doente.
Um país assim, onde a mentira é legislada, só pode mesmo ser um país doente.
Vamos lá ver, a mentira em si não é patológica. Até pode ser racional, útil e eficaz em certas ocasiões. O que já será patológico é o desejo que temos de sermos enganados ou a capacidade para fingirmos que a mentira é verdade.

Lá nesse aspecto somos um bom exemplo do que dizia Goebbels: uma mentira várias vezes repetida transforma-se numa verdade. Já Aristóteles percebia uma coisa muito engraçada: quando vamos ao teatro, vamos com o desejo e uma predisposição para sermos enganados.
Mas isso é normal. Sabemos bem, depois de termos chorado baba e ranho a ver o 'ET', que este é um boneco e que temos de poupar a baba e o ranho para outras ocasiões. O problema é que em Portugal a ficção se confunde com a realidade. Portugal é ele próprio uma produção fictícia, provavelmente mesmo desde D. Afonso Henriques, que Deus me perdoe.
A começar pela política. Os nossos políticos são descaradamente mentirosos. Só que ninguém leva a mal porque já estamos habituados.
Aliás, em Portugal é-se penalizado por falar verdade, mesmo que seja por boas razões, o que significa que em Portugal não há boas razões para falar verdade. Se eu, num ambiente formal, disser a uma pessoa que tem uma nódoa na camisa, ela irá levar a mal. Fica ofendida se eu digo isso para a ajudar, para que possa disfarçar a nódoa e não fazer má figura. Mas ela fica zangada comigo só porque eu vi a nódoa, sabe que eu sei que tem a nódoa e porque assumi perante ela que sei que tem a nódoa e que sei que ela sabe que eu sei.
Nós, portugueses, adoramos viver enganados, iludidos e achamos normal que assim seja. Por exemplo, lemos revistas sociais e ficamos derretidos (não falo do cérebro, mas de um plano emocional) ao vermos casais felicíssimos e com vidas de sonho.
Pronto, sabemos que aquilo é tudo mentira, que muitos deles divorciam-se ao fim de três meses e que outros vivem um alcoolismo disfarçado. Mas adoramos fingir que aquilo é tudo verdade.
Somos pobres, mas vivemos como os alemães e os franceses. Somos ignorantes e culturalmente miseráveis, mas somos doutores e engenheiros. Fazemos malabarismos e contorcionismos financeiros, mas vamos passar férias a Fortaleza. Fazemos estádios caríssimos para dois ou três jogos em 15 dias, temos auto-estradas modernas e europeias, mas para ver passar, a seu lado, entulho, lixo, mato por limpar, eucaliptos, floresta queimada, barracões com chapas de zinco, casas horríveis e fábricas desactivadas.
Portugal mente compulsivamente. Mente perante si próprio e mente perante o mundo.
Claro que não é um professor que falta à vigilância de um exame por ficar preso no elevador que precisa de um atestado médico. É Portugal que precisa, antes que comece a vomitar sobre si próprio.»

Meu comentário:
Desde que nasci que sempre ouvi aquela frase-modelo, que normalmente anda na boca dos descontentes do estado da Nação: “o povo tem o que merece!”. A questão é simples: desde que a Inquisição se instalou em Portugal, por volta de 1536, com o beneplácito dos poderes seculares, que fomos perdendo aquela força anímica que tinha feito descer à rua a arraia miúda de que falava Fernão Lopes, que pôs à frente da nação a dinastia de Aviz. A partir daí, corridos quase 500 anos, e até ao dia em que caiu a ditadura salazarista, fomo-nos transformando num “povo de brandos costumes”, temente dos poderes do céu e da terra, por eles tiranizado, explorado, amachucado, espremido, e com isso fomos perdendo a capacidade de reagir. Passámos a viver, melhor, a sobreviver, tentando contornar esses poderes, coexistindo com eles de forma apagada, vivendo e deixando viver, usando a astúcia, tentando não ser molestados, e para isso era preciso adquirir poder de adaptação, recorrer a expedientes, e se necessário saber mentir, muito e bem. Desde o berço era-nos ensinado que revoltar-se, contestar ou indignar-se, era o caminho certo para arranjar problemas, ao passo que a invisibilidade e a mediocridade eram a atitude ideal para não se ser atormentado. A Revolução de Abril abriu muitas portas e janelas, arejou o país, mas também foram muitos os que rapidamente se empenharam em fechá-las, não para um regresso ao passado, mas para criar uma democracia virtual, em que, lá no fundo, continuavam a prevalecer os ancestrais moldes de comportamento social, nos quais a intrujice e os expedientes têm um papel dominante.
Em 1878 havia no país 80% de analfabetos, ao passo que hoje, 2010, o número ainda ronda os 9% , isto sem falarmos da iliteracia, isto é, pessoas que sabendo ler e escrever, habitualmente não fazem uso da leitura e da escrita. Já nem falo dos esquemas facilitistas e mirabolantes que os governos adoptam para melhorar as estatísticas e camuflar a realidade. A verdade, tal como o azeite, acaba sempre por vir à superfície, exibindo o nosso baixo grau de aptidões, isto sem falar de nível cultural. Tivesse o povo um sistema educativo bem estruturado, baseado em conhecimento e na cidadania, e minimamente adequado ao estado civilizacional do Século XXI, e os cidadãos portugueses já não comeriam gato por lebre, já não se deixariam enganar pelo primeiro político ambicioso e mal formado, seja ele engenheiro incompleto ou vendedor de unguentos, que lhe aparecesse pela frente, e já o povo não seria tão ingenuamente enganado. Não faria genuflexões perante os juízes que passam metade do mês em caçadas e tertúlias jantaristas, e que quando se sentam para redigir sentenças deviam previamente soprar no balão. De juízes que fazem passagens pela política e outras áreas (como o futebol ou a PGR), para simularem um ar de credibilidade, mas encobrindo a corrupção e outras actividades, mais ou menos controversas. Que devia haver regras tão exigentes (e para cumprir), tanto para o trabalhador como para o patrão, com este último a ser impossibilitado de declarar falência aqui, ao mesmo tempo que abre nova empresa no distrito ao lado. Que devia ser obrigatória a revelação dos rendimentos e a assinatura de uma declaração de interesses, para quem vai ocupar um lugar público, para servir a comunidade e não para dele tirar proveito, sob pena de ter que abdicar daquela função. Que as leis produzidas, fossem provadas e comprovadas, e não redigidas com tantas lacunas e escapatórias, que apenas servem para inocentar os malfeitores do costume, continuando a que não seja feita justiça, logo, incentivando ao crime. Que a justiça seja acessível, tanto ao rico como ao pobre. Que o uso e abuso da mentira, e a sua propagação, fosse duramente penalizada.
Quando a deputada Inês de Medeiros, a tal que disse que morava em Lisboa, mas que afinal tem uma casa em Paris, e o país por isso lhe paga, todas as semanas, uma viagem de avião de ida e volta, essa deputada, dizia eu, numa entrevista concedida à revista SÁBADO disse, para que todo o país a ouvisse, que “não sei se mentiu ou não mentiu, mas, se mentiu, nem acho isso muito grave”, isto referindo-se às mentiras que o primeiro-ministro tinha dito, a propósito do negócio PT/TVI (fora as outras que tem produzido, de forma continuada), acho que está tudo dito e não é necessário acrescentar mais nada. Gente desta espécie, era perfeitamente dispensável, naquele que é o lugar onde se produzem as leis que regem o país. Enquanto eles por lá andarem, num apressado vai-e-vem entre Lisboa e Paris, com eles se continuará a eleger a mentira como uma falta nada grave, quase uma virtude, e por via deles assim se vai continuando a estruturar a mentalidade e o modo de vida do português, ambas recheadas de mentiras, e destinadas a manter de rastos um país mentiroso, e o povo a continuar a ter o que merece.

sábado, junho 05, 2010

Mais ou Menos Crise

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O (des)GOVERNO, para quem há 15 dias atrás, era tudo um mar de rosas, está a admitir e a fazer-nos chegar a realidade, a conta-gotas. Teixeira dos Santos já diz que Portugal está a encontrar dificuldades em se financiar, ao mesmo tempo que Passos Coelho, concertado com o caixeiro-viajante José Sócrates, até já admite que tenhamos que recorrer ao fundo europeu para crises financeiras, senão mesmo ao próprio FMI. Aliás, vai mais longe, chegando a propor que se suspendam as garantias do Código do Trabalho, criando medidas especiais, que contemplem a alteração da duração dos contratos de trabalho. Pior que isto, só nos campos de algodão da Louisiana, em pleno século XIX! Acresce que tudo isto é emoldurado pela suave, “responsável” e criativa oposição” do PSD, que aplaude as medidas de austeridade (só para alguns), e insiste em adormecer-nos com a figura do dever “patriótico” de “dar ao mão” ao país.
Enquanto isso, e argumentando com a situação de emergência e o "estado de excepção" (lembram-se da suspensão da democracia, sugerida por Manuela Ferreira Leite?), potenciado pelas dificuldades económicas, financeiras e orçamentais, Teixeira dos Santos faz uma finta legislativa e contorna a Constituição, diz que não é necessário aprovar qualquer orçamento rectificativo (essa coisa só complica), e faz aplicar os aumentos de impostos, com efeitos retroactivos, sobre todos os que vivem do seu trabalho e das reformas, dizendo enfaticamente que a medida “toca a todos”. Ah, é verdade! Ainda por cima não descarta a hipótese de vir aí mais uma dose de agravamento de impostos. Quanto ao PS, aplaude tudo isto, ruidosamente.
O resto já se adivinha como vai ser. De fora, irão continuar os mesmos de sempre, embora o Partido Comunista Português vá insistir na adopção de medidas de "equidade fiscal", tais como:
A tributação das transacções e transferências financeiras realizadas nos mercados da Euronext Lisboa e para os paraísos fiscais;
A tributação extraordinária dos patrimónios mais elevados e bens de luxo, nomeadamente prédios acima de 1,2 milhões de euros, automóveis ligeiros de valor superior a 100 mil euros e sobre a propriedade de iates e aviões particulares;
A aplicação de uma taxa de IRC de 25 por cento ao sector bancário e aos grupos económicos com mais de 50 milhões de euros de lucro, bem como a eliminação de todos os benefícios fiscais que são concedidos, em sede de IRC, aos bancos com estabelecimentos situados na Zona Franca da Madeira;
Propõe também o fim dos benefícios fiscais dos Planos de Poupança e Reforma. Enfim, tudo medidas que iriam permitir ao Estado arrecadar três mil milhões de euros de receita e poupança fiscal, porém, não recaindo sobre os contribuintes do costume, mas sim sobre alguns dos principais e grandes responsáveis pela crise.A temperatura vai subir, tanto a meteorológica como a política. Escaldados e chamuscados já nós estamos, desde aqueles que trabalham ou estão reformados, empobrecendo cada dia que passa, ou quem anda a palmilhar o calvário dos centros de emprego. Era razoável que agora chegasse a vez dos outros.

sexta-feira, junho 04, 2010

Passaram 75 anos!

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VEICULADO por um curioso sistema de publicidade comercial (ver algumas das imagens abaixo), pagava-se a si próprio o livrinho de promoção do filme A VIÚVA ALEGRE de Ernst Lubitsch (não sei se os actores receberam alguma verba por cederem os direitos de imagem), o qual era distribuído tanto à entrada como à saída do cinema S.Luís. A data de estreia em Portugal (segundo o IMDB) foi em 30 de Abril de 1935, data que coincide com a nota manuscrita por minha falecida mãe, na capa do dito livreco. Contava ela que tinha sido a primeira vez que tinha entrado num cinema, tendo-se ataviado e comportado como se tivesse sido convidada para uma cerimónia de alto gabarito. Depois disso, e a propósito de cinema, sei que viu 11 vezes o filme MÚSICA NO CORAÇÃO, de Robert Wise, sem nunca se cansar.

Título: A Viúva Alegre
Título original: The Merry Widow
Ano: 1934
Realizador: Ernst Lubitsch
Argumento: Ernest Vajda e Samson Raphaelson
Género: Musical - Comédia - Romance

Actores:
Maurice Chevalier ... Count Danilo
Jeanette MacDonald ... Madame Sonia / Fifi
Edward Everett Horton ... Ambassador Popoff
Una Merkel ... Queen Dolores
George Barbier ... King Achmet
Minna Gombell ... Marcelle
Ruth Channing ... Lulu
Sterling Holloway ... Mischka
Donald Meek ... Valet
Herman Bing ... Zizipoff
Duração:99 minutos
Cor: Preto e Branco
Formato: 1.37 : 1
Som: Mono
Estreia em Portugal em 30 de Abril de 1935

(informação recolhida do site IMDB - http://www.imdb.pt/)