sábado, junho 18, 2011
Da Azinhaga a Lanzarote
Na sua exuberante trajectória existencial, Saramago não foi santo (ele próprio se intitulava pecador), cometeu erros, alguns deles nada veniais, mas no fio do seu percurso, na sua incansável lavoura literária, da Azinhaga a Lanzarote, semeou de tudo, desde manuais, pecados, cegueiras, evangelhos, pessoas caídas e levantadas do chão, blimundas, cadernos, viagens, ensaios, artigos em jornais, poucos poemas, jangadas e cidades cercadas, cavernas, elefantes, baltazares, luas e sóis, milhões de nomes e padres voadores, até memoriais e tantas coisas mais.
As três graças que noutras alturas partilho com outras figuras, isto é, serem a minha rota, a minha bússola e o meu porto de abrigo, nestes dias de evocação, reservo-as todas para Saramago. De corpo ausente, mas espírito presente, passou um ano, e de lá para cá, estou sempre a voltar ao convívio e cumplicidade daquela prateleira, com pouco mais de um metro de comprimento, que condensa o pequeno grande mundo onde insisto em me iniciar, onde me atrevo e me perco, e onde acabo sempre por me reencontrar.
NOTA - A imagem é da capa do jornal PÚBLICO de 18 de Junho de 2010
sexta-feira, junho 17, 2011
Primeiras Impressões
NEGATIVO – Deixar de haver Ministério da Cultura.
MUITO NEGATIVO - As políticas que nos esperam!
quinta-feira, junho 16, 2011
Que Falem os Cidadãos
terça-feira, junho 14, 2011
Dois Mil e Quatrocentos Anos os Separam
Embora tivesse dedicado toda a vida à filosofia e ao seu ensino, o Sócrates original sobre ela nada deixou escrito, muito embora por ela tenha dado a vida, ao ser condenado à morte, acusado (talvez injustamente) de corromper a juventude de Atenas com as suas ideias e crenças, numa época em que não havia contemplações com os delitos de opinião. Com dois mil e quatrocentos anos a separar ambos os Sócrates, o pouco que sabemos do mais antigo foi-nos transmitido por Aristóteles, pelo historiador Xenofonte nos seus “Ditos Memoráveis de Sócrates”, e por Platão, ao qual deu voz em alguns dos seus “Diálogos”, em que o pensador é posto a discorrer sobre vários temas filosóficos. Teria adoptado a divisa délfica «Conhece-te a ti mesmo», regra que impunha um exame constante de si próprio em relação aos outros, e dos outros em relação a si mesmo. Mestre em discernir entre o imaginário ou falso, e o genuíno ou verdadeiro, terá aconselhado os seus discípulos, na sua derradeira lição, antes de ingerir a fatal taça de cicuta, que «se não vos preocupardes com vós próprios e não quiserdes viver da maneira conforme vos tenho aconselhado, fazer-me agora muitas e solenes promessas não servirá de nada». Fica aqui registado o oportuno comentário do original Sócrates, sobre a importante e tortuosa questão das promessas não cumpridas, e que ele ilumine quem dele ostenta agora o nome, bem como todos os outros.
Imagem: O Pensador de August Rodin (1840-1917)
segunda-feira, junho 13, 2011
Remendar a História Recente
domingo, junho 12, 2011
Língua Portuguesa e Liberdade de Expressão
(...)
Em causa estão cinco linhas escritas por Miguel Pinheiro, na coluna ‘Sobe e Desce’ da edição de 27 de Janeiro da SÁBADO. No texto sobre o discurso de vitória de Cavaco nas presidenciais, o director afirma que "tal como Fátima Felgueiras e Isaltino Morais, Cavaco Silva acha que uma vitória eleitoral elimina todas as dúvidas sobre negócios que surgem nas campanhas".
O comentário valeu-lhe uma participação de Pinto Monteiro, que considera que «o autor revelou uma clara intenção de denegrir a imagem e reputação do Presidente» e pediu que fosse dado «carácter de urgência à tramitação dos autos».
(...)
Pinheiro, que já requereu a abertura de instrução, lembra que no momento em que fez o discurso no CCB, Cavaco estava na qualidade de candidato e não de Presidente. "Num país democrático, a pessoa e a função não se devem confundir", defende o jornalista, que não percebe por que motivo foi o único a ser processado, já que outros fizeram a mesma comparação.»
Excertos na notícia publicada no semanário SOL de 9 de Junho de 2011
Meu comentário – Quando há dúvidas sobre questões relacionadas com a língua portuguesa e seus significados, e estas têm implicações com a liberdade de expressão, em vez da instauração de um processo judicial, devia ser pedido um parecer à Academia. Isto para não se cair no ridículo, com questões de “lana caprina”. O senhor Presidente pode estar zangado, porém, os factos concretos - e não meras calúnias como ele pretende que sejam - não podem ser plebescitados nem apagados pelo voto em eleições - como ele queria que fossem - nem silenciados os comentários certeiros que se façam sobre os benefícios que comprovadamente colheu, como accionista privilegiado do Banco Português de Negócios.
sábado, junho 11, 2011
Fantasia ou Contradição?
Com este panorama e estes números atrás descritos, e a manter-se a inactividade imposta com a chancela da União Europeia, a qual reverteu a agricultura portuguesa para níveis próximos da subsistência – com Portugal condenado a ser importador e não produtor - como é que isso pode ser conciliado com a solução defendida pelo Presidente da República, de ser encetada uma política de incentivo aos jovens agricultores, com o objectivo de fazer o repovoamento agrário do interior do país e de combater o nosso défice de produção alimentar?
Assim a frio a coisa não se percebe, logo, gostava que me explicassem, como se eu fosse muito burro. De um lado paga-se para deixar de produzir, do outro incentiva-se para voltar a produzir. Contradição ou fantasia, eis a questão.
Imagem – “As Ceifeiras”, quadro a óleo de Silva Porto, 1893
sexta-feira, junho 10, 2011
Crónica de um dia sem história – O Largo
Neste meu Largo, está sempre um homem olhando em frente. Alheado das árvores que o circundam, olha em frente. Fixamente. Tentará, porventura, desvendar as novas e os mandados que virão.
Fica indiferente às conversas que escuta, tal como à chuva que o molha, ao frio e ao calor que já não poderão incomodá-lo.
Um ou outro, mais velho, fala dele como de um passado morto. Interiormente, sorri. O passado não morreu. O passado é a raiz, as fases diversas sobre que assenta o presente. O presente à espera do futuro. O passado é ontem; o presente é hoje; o futuro é amanhã.
Do passado nos chega a sentença: quem boa cama fizer, nela se há-de deitar.
Como dizia, desci ao Largo. Hoje. Hoje deveria ser um dia especial, deveria ser mas não é. Mais exactamente, não vi que fosse.
Em derredor do homem sempre presente, havia diversas pessoas, cavaqueando. Também um carro de som, tentando animar o ambiente com banalidades pseudo-desportivas.
Senti-me defraudado. De dia especial, nada vi. Regressei a casa. Olhei a estante onde arrumo alguns livros. Lá estavam Os Lusíadas. Melancolicamente, recordei: «Esta é a ditosa pátria, minha amada!»
Pois…
José-Augusto de Carvalho
10 de Junho de 2011
Viana*Évora*Portugal
(imagem: óleo de Vincent van Gogh (1853-1890)
Deve Haver Engano!
«(...)
Se, por causa da crise e dos seus devastadores efeitos, não temos um país mais próspero, temos seguramente um Estado mais eficiente e uma sociedade mais livre e mais decente.
(...)
O que avulta é o profundo espírito de modernização da sociedade e do País e de valorização do capital humano e material, que inspirou tanto as reformas das relações de família com as políticas sociais (na educação, de saúde e de segurança social), bem como as orientações no campo da economia e das infra-estruturas materiais.
(...)
Nunca se tinha sido tão ambicioso no aprofundamento e na busca de sustentabilidade do Estado Social, na reforma do sistema de pensões, no alargamento e racionalização do SNS, na valorização e qualificação da escola pública, no alargamento do sistema de protecção social, incluindo no combate à pobreza.
(...)
Decididamente, temos agora uma economia mais apetrechada para a competitividade.
(...)»
quinta-feira, junho 09, 2011
Detergente Três-em-Um
quarta-feira, junho 08, 2011
E a Islândia Aqui Tão Perto...
Há actos cometidos no exercício da governação, em que a penalização com o afastamento da área do poder, por via eleitoral, não é punição bastante. Não se trata de forjar bodes expiatórios, exercer represálias ou ajustes de contas com os vencidos da luta política, mas sim de levar até à barra dos tribunais os autores dos ilícitos decorrentes de favorecimentos, compadrios, gestão incompetente, negligente e danosa do património público, celebração de contratos ruinosos, e tantos outros logros e estratagemas, de que o Tribunal de Contas dá conta, bem como todas as outras situações que deixariam de andar no segredo dos deuses, se fossem levadas a cabo as competentes auditorias externas às contas do Estado. Tudo somado, talvez nos mostrasse, de modo claro e incontroverso, quais as verdadeiras causas das dificuldades e do estado ruinoso com que agora nos estamos a confrontar, e a impunidade (que não se deve confundir com imunidade) deixasse de ser o escudo atrás do qual os políticos se abrigam, dando asas à sua vastíssima e prolífica criatividade.
segunda-feira, junho 06, 2011
Reflexão Pós-Eleitoral
«Preciso de uma iluminação muito mais sumptuosa do que a dos relâmpagos que abalam a montanha e dançam num oceano de chamas.»
In O BANQUETE de Soren Kierkgaard (1813-1855)
AINDA HÁ uma semana atrás se veio a saber que a equipa de José Sócrates, especializada em traficar promessas, negociatas, compromissos e “reajustamentos” de primeira e última hora, continuou a servir-se do poder para espoliar o país e os trabalhadores, até ao último momento do seu execrável e pouco escrupuloso governo de gestão. Ficaram como prova disso não só a carta de “intenções” dirigida à “troika”, bem como os sinistros e furtivos “ajustamentos de pormenor”, negociados após a assinatura do acordo, o que veio a acrescentar mais combustível à fogueira do calamitoso acordo para a concessão do empréstimo, que muitos teimam em qualificar de “ajuda”. Na altura, PSD e CDS/PP declararam-se escandalizados com este atrevimento (oh, que surpresa!), mas lá no fundo estão exultantes, pois o seu trabalho futuro está facilitado, o que vem dar razão à minha tese de que José Sócrates foi o mais duradouro e eficiente líder que a dissimulada coligação Cavaco Silva-PSD-CDS/PP teve até hoje. Foi assim, com este estado de espírito que no domingo, quando saí de casa para ir votar, mais do que votar para lá meter alguém, queria votar sim, mas para os tirar de lá, a este PS faz-de-conta e ao seu engenheiro de contrafacção.
FACE aos resultados eleitorais, que materializam a maioria sonhada por Francisco Sá Carneiro – um Presidente, um Governo e uma Maioria - acaba por se confirmar, agravado pela pesada abstenção, uma certa tendência masoquista do eleitorado português, que descartou, ignorou ou não percebeu que os interesses do PS (partido Sócrates) e da direita, há muito que deixaram de ser coincidentes com os interesses do país e dos portugueses. Persistem em manter-se insensíveis (até quando?) aos sinais e factos que se acumularam, entre brutalidades e crueldades do foro sócio-económico, ao longo dos últimos seis anos de governação. Ao ponto de José Sócrates, também ele sempre bem longe da realidade, entre algazarras, banhos de confiança e bebedeiras de optimismo, durante a campanha eleitoral, não se ter dignado dirigir uma única palavra a quem empurrou e fez transpôr o limiar da pobreza, e aos 700 mil portugueses que foram lançados no abismo do desemprego. Na hora da despedida ainda tivemos que o aturar durante mais de 30 minutos, com o seu derradeiro e lacrimejante discurso.
COM ISTO volta à baila aquela velha lei da política que diz que é possível enganar todos algum tempo, pode-se enganar alguns o tempo todo, mas não se pode enganar todos o tempo todo. Ora, em Portugal, depois de sucessivamente adiada, a lei está em vias de não se aplicar, não se percebendo porque é que isto acontece, e não bastando lavar as mãos como Pilatos, ou concluir que quem boa cama fizer, nela se há-de deitar. Na verdade, para perceber o fenómeno, preciso de uma iluminação muito mais sumptuosa do que a luz do relâmpago. Até lá, falta saber se o PS se vai limitar à cooperante, extravagante e mefistofélica missão de fiscalizar o cumprimento da condenação a que sujeitou o país e os portugueses, ou se vai conseguir fazer oposição, passando por cima da autoria dos muitos malefícios que exibem a sua assinatura, e quanto ao PSD e CDS-PP, como vão eles dissimular as respectivas cumplicidades e contribuições, na escolha dos ingredientes, nos temperos e cozedura dessas malfeitorias. Tanto num caso, como no outro, vêem-me sempre à memória as palavras do meu velho amigo senhor Barros, que advertia que há que ter muito medo e tomar precauções com os pirómanos da política, pois quando não conseguem sobreviver ao caos que criaram, largam fogo a tudo, para deixar ainda pior o que já era péssimo.
domingo, junho 05, 2011
À Boca das Urnas - Se Não Votares, Ficas Caladinho!
NOTA – Mário Soares, interrogado pelos jornalistas, parece que subscreveu esta opinião. Au revoir, mon ami!
À Boca das Urnas - Uma Blague de Antologia
Excerto da notícia do jornal PÚBLICO on-line de 3 de Junho de 2011
Primeiro Entre os Melhores
Depois da Revolução, e restabelecida a Democracia, abriu-se a oportunidade de redesenhar um país, onde faltavam escolas, hospitais, outros equipamentos, e sobretudo meio milhão de casas. (…)
Do que precisávamos era de uma linguagem clara, simples e pragmática para reconstruir um país, uma cultura, e ninguém melhor que o proibido Movimento Moderno poderia responder a esse desafio. (…)
Com 10 séculos de História, Portugal encontra-se hoje numa grande crise social e económica, como já aconteceu em vários períodos anteriores. Hoje, como ontem, a solução para a arquitectura portuguesa é emigrar. (…)
Excertos do discurso do arquitecto Eduardo Souto de Moura ao receber o Prémio Pritzker 2011
Ver discurso completo do arquitecto Eduardo Souto de Moura ao receber o Prémio Pritzker 2011
Ver discurso do Presidente dos EUA, Barack Obama, na entrega do Prémio Pritzker de Arquitectura ao arquitecto Eduardo Souto de Moura
quinta-feira, junho 02, 2011
Pelo Sim, Pelo Não…
NOTA – Este é o meu último post até que estejam apurados os resultados da eleição de domingo, dia 5 de Junho de 2011. Até lá, vou reflectir maduramente em quem votar, porque em quem não vou votar, já está decidido há muito. Isto de passar procuração a alguém é assunto sério, e não se pode voltar atrás na decisão. Votem bem!
terça-feira, maio 31, 2011
Para Meditar
«(...) Gosto muito de Portugal – se tiver uma paixão é Portugal – e não gosto de ninguém que dê cabo dele. O Sócrates está no topo da pirâmide dos que dão cabo disto. Entre o mal e o bem que faz, com o Sócrates, a relação é desastrada. (...)»
Excerto da entrevista que Henrique Neto, empresário e membro do PS, concedeu ao JORNAL DE NEGÓCIOS, em 5 de Novembro de 2010. Consulte o texto completo no CARTÓRIO DO ESCREVINHADOR
Fala a Experiência
segunda-feira, maio 30, 2011
A Bem do Betão e do Alcatrão
Tudo isto acontece, quase em simultâneo, com a decisão de o Tribunal de Contas de recusar o visto prévio a cinco concessões lançadas pela Estradas de Portugal (Douro Interior, Baixo Alentejo, Algarve Litoral, Litoral Oeste e Auto-Estrada Transmontana), na qual a Estradas de Portugal se comprometia a fazer pagamentos extraordinários, que carecem de fundamentação jurídica, por ter havido, diz ela, entre outras razões, uma degradação das condições financeiras entre a proposta inicial, com que os concorrentes foram seleccionados, e a final, com que assinaram os contratos. Habituados como estão a que os bolsos dos portugueses não tenham fundo, os governos (mesmo os de gestão) já nem sequer se esforçam por dissimular as suas negociatas, sobretudo aquelas que mexem com o rico e inesgotável filão do betão e do alcatrão.