domingo, setembro 11, 2011

Qual 11 de Setembro?

DE HÁ uma semana a esta parte, temos vindo a ser bombardeados (passe a expressão!) pelos habituais comentadores residentes - não por falta de outros temas, mas porque este “vende” sempre bem - que voltam a perorar sobre o 11 de Setembro de 2001 (não confundir com o chileno 11 de Setembro de 1973), aquela data fatídica que o indigesto filho dos Bush resolveu instituir como o "dia em que o mundo mudou" (como se o mundo não mudasse todos os dias...), e que depois foi ficando como emblema para introduzir a planetária "guerra ao terrorismo", outra coisa que é tão velha, como a mais velha profissão do mundo. Há outras datas bem mais marcantes e mensageiras de mudança que o tal 11 de Setembro de 2001, como a implosão da União Soviética, essa sim, data que imprimiu uma mudança de rumo à Humanidade, e por sinal, sem derramamento de sangue, embora com não poucos efeitos perversos. Citando outras maldades, são afloradas, de vez em quando, e de raspão, as carnificinas da Primeira Guerra Mundial, do Holocausto, dos sucessivos genocídios que têm brotado por esse mundo fora, mas nada que se compare à veemência com que é tratado o 11 de Setembro. E já que se fala de carnificinas, porque não recuarmos até às fogueiras da Santa Inquisição, outra barbaridade praticada em nome de Deus, e com a chancela da Santa Madre Igreja?

Assim, todos os anos, o 11 de Setembro é evocado, porém, este ano com mais acutilância, passada que correu uma década, como se fosse uma peregrinação obrigatória, à semelhança de quem vai até à Cova da Iria. E na nossa praceta, até há uma senhora escrevinhadora que arranca uma conclusão de antologia, quando garante que aquilo não foi apenas um massacre de pessoas, mas sim o primeiro que visou uma civilização, e ao falar de civilização, penso eu que estaria a referir-se à civilização dos MacDonalds, da Coca Cola, de Wall Street, da CIA, do Pentágono, de Guantánamo e outras tantas marcas de prestígio. Infelizmente, esqueceu-se de falar de umas quantas contabilidades que faltam fazer sobre as vítimas civis que a guerra do Afeganistão e do Iraque provocaram (e que deixam as 2.982 vítimas nova-iorquinas a uma grande distância), à sombra do pretexto e da retaliação, tanto do 11 de Setembro, como daquela ameaça fantasma de umas quantas armas de destruição maciça, que foram fabricadas pelas mentes perversas de um punhado de políticos, tão criminosos e alucinados como aqueles que andam por aí a brandir o sagrado Corão.

Face a este débito opinativo, apenas posso deixar registada a minha mágoa e comiseração, em relação aos cidadãos americanos (e não só) que naquele dia 11 de Setembro foram engolidos pela voragem da destruição das Torres Gémeas, sem saberem o que lhes estava a acontecer, bem como em relação a todos os civis afegãos e iraquianos, que antes e depois de 11 de Setembro deixaram de estar entre nós, vítimas inocentes de drones e bombardeamentos cirúrgicos, sem saberem o que lhes estava a acontecer. Eu sei!

quinta-feira, setembro 08, 2011

Aviso


O QUE será que Pedro Passos Coelho quis insinuar, quando disse que "em Portugal, há direito de manifestação, há direito à greve. São direitos que estão consagrados na Constituição e que têm merecido consenso alargado em Portugal, mas nós não confundiremos o exercício dessas liberdades com aqueles que pensam que podem incendiar as ruas e ajudar a queimar Portugal". E mais ainda: "Pode haver quem se entusiasme com as redes sociais e com aquilo que vê lá fora, esperando trazer o tumulto para as ruas de Portugal".

Provavelmente, não houve ninguém que dissesse a Passos Coelho que os meninos não devem brincar com fósforos, e já sendo crescidos, nos tempos que correm, ameaçar com a intimidação, polícia de choque e afins, não é a melhor forma de governar um país.

quarta-feira, setembro 07, 2011

Registo para Memória Futura (51)

«O Ministério da Educação nomeou novos directores regionais de Educação no dia 2, no preciso dia em que anunciou a extinção daqueles órgãos. Entre os nomeados destaca-se o até agora presidente da Associação Nacional de Professores, João Grancho, que vai liderar a Direcção Regional de Educação do Norte até ao final de 2012, altura em que o processo [de extinção] fica concluído.»

Notícia do DIÁRIO DE NOTÍCIAS on-line de 6 de Setembro de 2011

Meu comentário: Para quê novas indigitações, se os organismos têm a morte anunciada? Terá sido a necessidade premente de dar emprego aos boys alaranjados, mesmo que com um contrato a prazo, o que motivou estas nomeações?

terça-feira, setembro 06, 2011

Más Companhias

Anders Fogh Rasmussen, o novel secretário-geral da NATO, desloca-se na próxima quinta-feira a Lisboa, estando previstos encontros com o primeiro-ministro, o Presidente da República e os ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa, durante os quais, além dos habituais cumprimentos, serão abordados assuntos relacionados com a situação na Líbia, as mudanças no Comando de Oeiras, a vinda da STRIKEFORNATO para Portugal, a reconfiguração da participação portuguesa nas missões da NATO e a futura participação dos caças F-16 da Força Aérea Portuguesa, no policiamento aéreo da Islândia, tudo iniciativas tão necessárias a Portugal como o pão para a boca. Como é óbvio, estas iniciativas não estão abrangidas por qualquer plano de austeridade, pois uma coisa é a inadiável e perpétua guerra contra o terrorismo e os inimigos da civilização, e outra coisa é a luta contra o subdesenvolvimento, o empobrecimento, a miséria, e as nefastas consequências do obsoleto estado social, que como toda a gente sabe é de inspiração comunistóide.
Aliás, o senhor Rasmussen, é a pessoa certa no lugar certo. Oriundo da família política do centro-direita, foi um corajoso e resoluto primeiro-ministro da Dinamarca durante oito anos. Sendo um teórico da linha neo-liberal e inimigo declarado do estado social, enquanto teve poder para isso, dedicou-se à sua demolição. Foi também um convicto e fervoroso crente de que Saddam Houssein era detentor de um poderoso arsenal de armas de destruição maciça, logo exacerbado apoiante da invasão do Iraque de 2003, tendo feito questão de que a Dinamarca se empenhasse na participação da força multinacional estacionada em Camp Danevang, perto de Bassora, com meio milhar de militares. Como é fácil de ver, é uma pessoa que não deixa os seus créditos por mãos alheias, sendo os seus atributos muito apreciados entre os seus pares.
A avó Bernarda, com a sua habitual propensão para o gracejo, quando viu a foto do senhor, saiu-se com um curioso comentário: "ai Jesus, abrenúncio, o homem coitadinho não tem culpa da cara que tem, mas o certo é que não ficava nada a destoar em qualquer filme de gangsters...

segunda-feira, setembro 05, 2011

Fácil, Mais Fácil, Cada Vez Mais Fácil


O Partido Comunista Português e o Bloco de Esquerda apresentaram no plenário da Assembleia da República, através de iniciativas independentes, as suas propostas para solucionar o problema dos trabalhadores a falsos recibos verdes. Na passada sexta-feira, 2 de Setembro, PS, PSD e CDS-PP, cada um com os seus argumentos, chumbaram ambas as iniciativas, embora, ironia das ironias, manifestem que estão empenhados na sua erradicação, mas não dando um único passo nesse sentido.

O PSD utilizou o já normal argumento da chantagem do desemprego para justificar a continuação da precariedade, isto é, antes a precariedade que mais desemprego, só faltando dizer que acabar com esta ignomínia, no meio da crise que o país o vive, seria desrespeitar e pôr em causa os objectivos traçados e acordados com a troika. Contudo, não se dispensou de dizer que a concretizar-se a aprovação de tais iniciativas, aquelas iriam tirar o ganha-pão aos milhares de trabalhadores que são efectivamente independentes, o que corresponde a um rotundo disparate.

O CDS põe trabalhadores e patrões em pé de igualdade - como se nas relações laborais não existisse uma parte mais fraca - justificando que a inversão do ónus da prova não pode ser utilizada, havendo que fazer prova de que os recibos verdes correspondem a uma forma de subversão dos modelos e regras de contratação. Tanto o PSD como o CDS-PP, além de hipocrisia e argumentos falaciosos, manifestam ignorância da realidade e dos mecanismos subjacentes às relações laborais, ficando a pairar a ideia de que o conhecimento e as suas relações com este meio, sempre foram, e continuam a ser, muito superficiais.

O PS, na sua nova linha política (versão António José Seguro), mais comedida em relação à precariedade, reconhece-a agora como má, depois de anos a suportar um Governo (a versão José Sócrates) que ajudou a implementá-la como modelo no mundo do trabalho, contudo, sugere que o problema possa ser solucionado por consenso entre as partes (trabalhadores e empregadores) e não através de iniciativas legislativas, como se as ilegalidades pudessem ser objecto de qualquer negociação particular. À falta de melhor argumento, a bancada rosa fez dissertações à volta de nódoas de gordura.

Conclusão: vai continuar a ser fácil despedir, mais fácil pagar menos, e cada vez mais fácil explorar muitíssimo.

No meu blog CARTÓRIO DO ESCREVINHADOR podem ser consultadas as propostas do Partido Comunista Português e do Bloco de Esquerda.

domingo, setembro 04, 2011

O Preço da Salvação

«(…) Quando se trata de taxar grandes fortunas os analistas tornam-se filosóficos: mas o que é um rico?, perguntam. Fazia falta um destes analistas no Evangelho segundo São Mateus. Quando Jesus dissesse que é mais fácil um camelo entrar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus, o analista havia de contrapor: “Mas, Senhor, o que raio é um rico? Abstendo-vos de usar conceitos vagos e populistas”. No entanto, Jesus Cristo, talvez por ser filho de quem é, pode dizer o que lhe apetece sem ser acusado de demagogia. Uma sorte que Jerónimo de Sousa não tem. (…) Américo Amorim constitui, por isso, um mistério tanto para a fiscalidade como para a teologia. Sendo o homem mais rico de Portugal, talvez não entre no reino de Deus. No entanto, na qualidade de pobre de espírito, tem entrada garantida.»

Excerto do artigo de opinião de Ricardo Araújo Pereira, intitulado “Ceci n’est pas un riche”, publicado na revista VISÃO de 1 de Setembro de 2011. O título do post é de minha autoria.

sábado, setembro 03, 2011

«O director, o gerente, a mulher deles e as lojas dela»

Artigo integral de João Semedo, médico e deputado do BE, publicado no jornal PÚBLICO em 30 de Agosto de 2011. Os comentários são desnecessários.

«Aquilo que o director de um serviço não faz no seu hospital público, põe a sua empresa privada a fazer.

A história conta-se em poucas palavras. O Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde da Guarda (que integra hospital e centros de saúde do distrito) autorizou uma empresa privada de serviços médicos de oftalmologia a realizar, nesses centros de saúde, rastreios à visão para despiste das principais causas de cegueira. A empresa em questão (M.A. Dias dos Santos, Lda) tem como sóciogerente o director do serviço de oftalmologia do hospital da Guarda (M. A. Dias dos Santos, dr).

Em resumo, aquilo que o director de um serviço não faz no seu hospital público põe a sua empresa privada a fazer e a administração do hospital aprova e aplaude. Como deputado, questionei o Governo sobre esta estranha situação e o PÚBLICO disso deu notícia. Até hoje, nem o Governo respondeu, nem a administração da ULS disse fosse o que fosse.


Apenas o promotor dos rastreios se queixou quer da notícia quer das minhas perguntas. E para que não se tome por igual aquilo que é diferente, diga-se que quem se queixou foi o director da oftalmologia e não o sócio-gerente da empresa. O que tem a sua lógica: que razão levaria uma empresa privada a queixar-se de ser chamada por um hospital público? Em geral, esse é o maior desejo de qualquer privado.

De que se queixa o director da oftalmologia? De ter tido necessidade de recorrer a uma empresa privada para fazer um rastreio que o hospital e os centros de saúde deviam fazer, consumindo, mais uma vez, recursos públicos para pagar a privados? Não, disso o director não se queixa. Aliás nem podia porque, segundo consta, a empresa MADS não cobrou nada ao hospital do director MADS. O próprio confessa ter sido um “serviço cívico”, isto é, uma borla desinteressada, altruísmo em estado puro: o director MADS reconheceu a necessidade, o sócio-gerente MADS comoveu-se e o rastreio fez-se.

O director queixa-se pelo sócio-gerente, chorando as dores deste que é o mesmo que aquele. Porque, apesar das suas boas intenções, acusam malevolamente a empresa de que é sócio-gerente de ser “proprietária, sócia ou de qualquer forma associada de quaisquer ópticas existentes no país”, afirmação que desmente.

Diga-se que aquela empresa não é nem podia ser proprietária ou sócia de lojas de óptica porque, em Portugal, é proibida qualquer relação societária ou equivalente entre quem faz oftalmologia e quem vende óculos e lentes. Mas, claro, não se pode exigir que a lei impeça ou previna simples coincidências.

Primeira coincidência: em cinco localidades – Guarda, Trancoso, Sabugal, Pinhel e Belmonte – há cinco lojas da mesma rede de ópticas, Óptica Lince, SA, passe a publicidade. Nessas mesmas localidades – por vezes na mesma rua – funcionam cinco consultórios da empresa de serviços médicos de oftalmologia MADS. Segunda coincidência: na gerência da Óptica Lince está a esposa de MADS. Sem bigamia: para este efeito, director e sócio-gerente são a mesma pessoa.

Em resumo: quem decide o rastreio e quem o realiza, quem prescreve os óculos e quem os vende é tudo da mesma família. Só não vê quem não quer ver. Não é preciso pôr óculos para ver que isto não está certo e que este cruzamento de interesses colide com os princípios e as boas práticas dos serviços públicos de saúde.

Este caso é um caso mas, infelizmente, não é único. O SNS está poluído por promiscuidades em tudo semelhantes. Degradam a qualidade dos serviços e promovem o despesismo. Eliminá-los favoreceria a sustentabilidade financeira do SNS e evitaria muitos dos cortes que o Governo está a fazer e que afectam a capacidade do SNS e prejudicam os doentes.

No SNS, contas equilibradas e qualidade assistencial são incompatíveis com o amiguismo nas decisões e a promiscuidade com os interesses privados. O Governo exige e promete rigor, seriedade e determinação na gestão da coisa pública. Este caso da Guarda põe à prova a coerência deste discurso.»

sexta-feira, setembro 02, 2011

Um Rico Senhor no País das Maravilhas


Depois de confirmar que é autêntico, passo a transcrever este requerimento, tal como chegou à minha caixa de correio (e-mail). A ser verdade, o senhor Américo Amorim não será apenas o homem mais rico de Portugal, cuja fortuna e património ficaram livres de serem tributados, por obra e graça dos fastios do senhor Coelho, mas será também o respeitável beneficiário - entre mais uns quantos – de um monumental logro, que só é possível ter acontecido com muitas cumplicidades, e que só a muito custo chegou ao domínio público. Américo Amorim já veio desmentir que tenha havido artimanha, garante que mal conhece o BPN e nunca recorreu aos seus serviços. Porém, considerando que até agora, já me obrigaram a “contribuir” com perto de 1.000 euros, não sei se para tapar as “colossais” crateras do BPN, se para engrossar o mealheiro do senhor Amorim, é óbvio que também estou interessado em saber como isto vai acabar, ou se não acabou já, sem disso nos apercebermos.
Então vejamos:
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«Exmo. Senhor Presidente da Assembleia da República
O Bloco de Esquerda tomou conhecimento, através da comunicação social, da possível existência de um crédito concedido pelo BPN à Amorim Energia para a compra de uma participação na Galp.
Segundo a notícia, o crédito, da ordem dos 1600 milhões de euros, teria sido concedido pelo BPN à Amorim Energia em 2006, antes do processo de nacionalização. A mesma fonte avança que o empréstimo não chegou a ser pago pela holding ao BPN, mantendo-se assim a divida de 1600 milhões de euros durante todo o período em que o Banco esteve na posse do Estado.
Acresce a esta informação o facto de a Amorim Energia ser uma holding detida, não apenas por Américo Amorim, mas que tem como accionistas a Santoro Holding Financial, de Isabel dos Santos, e a Sonangol. Como é conhecido, a Santoro Holding Financial, para além de accionista da Amorim Energia, é também accionista maioritária do Banco Internacional de Crédito, a quem o Estado irá vender o BPN. Desta forma, a venda do BPN, com os seus créditos, ao BIC, poderá implicar que o crédito de 1600 milhões de euros seja pago pela Amorim Energia a um banco que tem como principal accionista a própria devedora.
A confirmar-se, a situação acima descrita configura mais um episódio inaceitável de falta de transparência associado ao processo de reprivatização do BPN. O Banco Português de Negócios, nacionalizado em 2008, representa, neste momento, cerca de 1000 euros por contribuinte em Portugal, e um prejuízo directo para o Estado de pelo menos 2,4 mil milhões de euros.
Em nome da transparência e do direito à informação que assiste a todos os contribuintes que pagaram e estão a pagar o prejuízo do BPN, o Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda gostaria de ver esclarecidas algumas questões relacionadas com a situação acima descrita.
Atendendo ao exposto, e ao abrigo das disposições constitucionais e regimentais aplicáveis, o Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda vem por este meio dirigir ao Governo, através do Ministério das Finanças, as seguintes perguntas:
1. Confirma o Governo a existência de um crédito, por liquidar, da Amorim Energia ao BPN? Em caso afirmativo, qual o seu valor?
2. Caso exista, como explica o Governo a não execução do referido crédito para fazer face aos prejuízos associados ao BPN, durante os anos em que o banco esteve na posse do Estado?
3. Confirma o Governo que o referido activo se encontra num dos três veículos constituídos pela Caixa e transferidos para o Tesouro?
4. Perante o cenário de venda do BPN ao BIC, qual a situação do referido activo? Ficará em posse do Estado ou será incluído no pacote a privatizar?
5. Pode o Governo divulgar a lista de todos os créditos, incluídos nos veículos transferidos para o Tesouro, acima dos 250 milhões de euros?

Palácio de São Bento, 08 de Agosto de 2011.
O Deputado
João Semedo»

quinta-feira, setembro 01, 2011

O Coelho saiu da Toca

DE VISITA a Espanha, Pedro Passos Coelho, em entrevista ao jornal EL PAIS, e manifestando cobardia política, acabou por dizer lá fora, aquilo que não teve coragem para dizer cá dentro, isto é, que quem é detentor das grandes fortunas e quem aufere rendimentos de capital pode respirar fundo e ir de fim-de-semana descansado, pois Passos Coelho já manifestou a sua discordância em tributá-los, porque isso, garante ele, em vez de atrair fortunas para investirem no país e criar riqueza (onde, onde?), conduziria à fuga de capitais para o estrangeiro (como se isso não acontecesse já). Curiosamente, o seu “delfim” Ângelo Correia, à margem de uma conferência na Universidade de Verão do PSD, afinou pelo mesmo diapasão, que não senhor, que estas medidas são um mal necessário e que os mais ricos, quanto a impostos, pois claro, já têm a sua conta, e coisa e tal.
Dito isto, fiz umas contas por alto e cheguei à conclusão que cada vez que um senhor accionista vai levantar os dividendos das suas acções, não é difícil imaginar quantas dezenas, centenas ou milhares de postos de trabalho ele vai criar, contribuindo para a reanimação da economia nacional, ou então, quantos "porches" e "lamborghinis" vai encomendar, em quantas "regatas" vai participar, quantas propriedades e obras de arte vai acrescentar ao seu património, quantas festanças vai frequentar, quantas empresas-fantasma vai criar, assim contribuindo (à sua maneira) para a reanimação da economia nacional.
Ao mesmo tempo que o Coelho saía da toca por terras de Espanha, cá em Portugal, o ministro das finanças, Vítor Gaspar, num exercício deveras demorado e muito sincopado, tocou uma música diferente: sentenciou que a estratégia orçamental é carregar a população trabalhadora com mais impostos, sobretudo a função pública e trabalhadores com salários elevados (como se quem é bem remunerado a trabalhar por conta de outrem, tivesse pretensões a ser rico), fazer cortes nos benefícios fiscais das despesas com a habitação, a saúde e a educação, ao passo que os cortes na despesa do Estado (e não nas prestações sociais) vão aguardar melhores dias. Quanto às mais-valias mobiliárias são timidamente agravadas em 1% (uma insignificância!). Entretanto, fazendo um jeito ao PS, que tinha reclamado a medida, as empresas com lucros superiores a 1,5 milhões de euros pagarão, no próximo ano, um imposto extra de 3%, o que quer dizer por via disso, haverá justificação para não haver reinvestimentos, e o pretexto para mais uma mão cheia de falências e despedimentos. A receita a conseguir com as sete medidas principais ronda os 1300 milhões de euros. Para além do que ontem foi anunciado, as receitas do aumento no IVA darão ao Estado mais 1190 milhões de euros.
Entretanto, o senhor Coelho, antes de voltar para a toca, achou por bem fechar a sua lengalenga com mais um aviso sério: ainda faltam as restantes 70 (setenta) medidas para concretizar…

quarta-feira, agosto 31, 2011

Entre Mulas e Bailinhos

AS CONTAS, melhor, os prejuízos de uma empresa detida pelo Governo Regional da Madeira e a extinção de uma sociedade que promovia obras rodoviárias, em regime de parceria público-privada, numa manobra de traficância financeira, foram parar às contas do Estado, agravando o défice das contas públicas em 223 milhões de euros, situação que irá ter que ser colmatada com mais uns quantos "empréstimos" que o governo irá garantir, fazendo mais uma visita aos bolsos dos portugueses. Entre os Bailinhos da Madeira no Chão da Lagoa e uns quantos coices da Mula da Cooperativa, Alberto João Jardim e a próspera corte que o rodeia, continuam a somar e a seguir em frente, sempre a bailar, a facturar e sem medo de ninguém.

ADENDA - Quando o deputado e vice-presidente da bancada do PSD, Carlos Abreu Amorim, afirmou em entrevista que Alberto João Jardim era um bom governante e responsável por uma obra extraordinária, será que já sabia disto?

segunda-feira, agosto 29, 2011

Despacho com Vista para o Tejo


«(...) Um cidadão português, que sempre desejou ter uma casa com vista para o Tejo, descobriu finalmente umas águas-furtadas algures numa das colinas de Lisboa que cumpria essa condição. No entanto, uma das assoalhadas não tinha janela.
Falou então com um arquitecto amigo para que ele fizesse o projecto e o entregasse à câmara de Lisboa, para obter a respectiva autorização para a obra. O amigo dissuadiu-o logo: que demoraria bastantes meses ou mesmo anos a obter uma resposta e que, no final, ela seria negativa. No entanto, acrescentou, ele resolveria o problema.
Assim, numa sexta-feira ao fim da tarde, uma equipa de pedreiros entrou na referida casa, abriu a janela, colocou os vidros e pintou a fachada. O arquitecto tirou então fotos do exterior, onde se via a nova janela e endereçou um pedido à CML, solicitando que fosse permitido ao proprietário fechar a dita cuja janela.
Passado alguns meses, a resposta chegou e era avassaladora: invocando um extenso número de artigos dos mais diversos códigos, os serviços da câmara davam um rotundo não à pretensão do proprietário de fechar a dita cuja janela.
E assim, o dono da casa não só ganhou uma janela nova, como ficou com toda a argumentação jurídica para rebater alguém que, algum dia, se atreva a vir dizer-lhe que tem de fechar a janela! (...)»

Excerto de um artigo de Nicolau Santos, in EXPRESSO online. O título do post é de minha autoria.

domingo, agosto 28, 2011

Registo para Memória Futura (50)

«(...) A Madeira também tem razões de queixa do poder central e Alberto João Jardim, que continua a ter o apoio dos madeirenses e é responsável por uma obra extraordinária, é muito injustiçado. (...) A haver uma diferença [com o resto do país], é que a Madeira tem sido bem governada – é a segunda região mais rica do país, num salto impressionante, tendo em conta a pobreza em que vivia há 30 anos. (...)»

Excertos da entrevista concedida por Carlos Abreu Amorim, deputado e vice-presidente da bancada do PSD, ao semanário SOL de 26 de Agosto de 2011

sábado, agosto 27, 2011

O Melhor do Pior


SABEMOS que Portugal é um país pequeno, que há pouco espaço, mas o mais preocupante é o reduzido discernimento de algumas cabeças pensantes. Este exemplo demonstra-o bem. Um destes dois objectos está no local errado. Nem o ar condicionado funcionará em condições, nem a sinalética toponímica cumpre a sua função.
Rua do Sacramento, em Lisboa, em 26 de Agosto de 2011.Foto de F.Torres.Clicar para aumentar.

quarta-feira, agosto 24, 2011

Lavar os Cestos da Vindima

AS sucessivas heranças que vão passando de uns governos para outros, muitas delas recheadas de grandes e onerosas fraudes - como parece ser agora o caso das facturas não contabilizadas e por pagar do Instituto do Desporto de Portugal, no valor de 6,78 milhões de euros (1,360 milhões de contos), de que ninguém reclama o pagamento, o que é curioso, para não dizer suspeito - são sempre "resolvidas" pelo ilimitado bolso dos contribuintes, abafadas com a rápida extinção das instituições onde se geraram as ilegalidades, sem serem apuradas responsabilidades, deixando à solta, alegremente impunes, os seus autores e beneficiários, quando o braço da Justiça, sobretudo nestes casos, devia ser longo, expedito e rigoroso.
Entre o terem sido encontradas incógnitas facturas numa sala da instituição, e serem um suposto "mal-entendido", explicação avançada pelo ex-secretário de estado do desporto, Laurentino Dias, são devidas explicações ao país, pois cesto a cesto, milhão a milhão, faz-se a vindima, e até ao lavar dos cestos ainda é vindima.
O caso veio a público numa sessão da Comissão Parlamentar de Educação, Ciência e Cultura. O agora deputado Laurentino Dias, após ter avançado com a tese do "mal-entendido”, ausentou-se dos trabalhos da sessão, provavelmente para diligenciar a rápida e cabal explicação do sucedido, e nós vamos ficar à espera.

domingo, agosto 21, 2011

Registo para Memória Futura (49)

NO TOTAL, em 2011, as 25 maiores fortunas portuguesas, somam 17,4 mil milhões de euros, mais 17,8% do que em 2010. Estas fortunas equivalem a 10,1% do PIB português de 2010 (preços de mercado), isto apesar da crise, da recessão, do endividamento, do aumento de impostos, do desemprego galopante, das falências em cascata, do crescimento da pobreza, e quando Warren Buffett, o terceiro homem mais rico do mundo, feitas as contas, vem dizer, em tom de provocação (só pode ser isso), que os mais ricos deviam contribuir com mais qualquer coisita, para aliviar os males do mundo e todos os outros que andam a pagar por eles, e para eles.

sábado, agosto 20, 2011

Tubarões há Muitos!


SABEDORES de que a variante humana se passeia, alegre e intocável, por todo o território nacional, com a crise a passar-lhes ao lado, alguns exemplares de tubarões autênticos, de barbatana ameaçadora e dente afiado, vieram rondar as praias de Vila do Bispo, na esperança de que os veraneantes, habituados como estão a serem rilhados de todas as formas e feitios, se deixassem abocanhar. Tiveram pouca sorte. Os nadadores-salvadores deram pela intromissão, e forçaram os banhistas a saírem da água. Já sabíamos que tubarões há muitos, porém, a vantagem destes é que não conseguem passar despercebidos.

quarta-feira, agosto 17, 2011

Revisitando o Quarteto de Alexandria (Clea)

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Alexandria, a capital da memória! Todos os escritos que eu fui buscar aos vivos e aos mortos, até eu próprio me tornar numa espécie de “post-scriptum” de uma carta que nunca foi remetida. (…) Agora encontrava-me perante a natureza do tempo, essa doença da alma humana. Tive de admitir a minha derrota como cronista. E todavia, de forma bastante curiosa, o mero acto de escrever dotou-me ainda de outra espécie de amadurecimento, pelo próprio fracasso das palavras que se afundam e se perdem uma após outra nas insondáveis cavernas da imaginação. (considerações de Darley, o narrador)

- Passaram-se muitas coisas depois de ter começado a guerra. O doutor Balthazar esteve muito doente. Sabe das intrigas de Hosnani na Palestina? Toda a organização se desmantelou. Os egípcios tentam confiscar-lhe os bens. Já se apoderaram de muita coisa. Sim, agora são pobres e longe de estarem livres de apuros. Ela tem residência fixa em Karm Abu Girg. Há muito tempo que ninguém a vê. Por privilégio especial, ele trabalha como condutor de ambulâncias nas docas. Muito perigoso. Durante um bombardeamento, ele perdeu um olho e um dedo. (…)
- Mas a guerra tem também outras vantagens. Corto o cabelo a todo o exército. A minha barbearia está sempre cheia. Três salões, doze empregados! Você vai ver, é estupendo. Como diz o nosso amigo Pombal: “você agora faz a barba aos mortos enquanto eles ainda estão vivos”. (Mnemjian, o barbeiro, põe Darley, o narrador, ao corrente do que se passou na sua ausência)

Eu tinha-a gasto como a um velho par de meias e o absoluto dessa desaparição surpreendeu-me e revoltou-me. Podia o “amor” gastar-se assim? Melissa, repeti, ouvindo o eco desse nome bem-amado ressoar no silêncio. O nome de uma planta triste, o nome de um peregrino a Elêusis. Era ela agora menos que um perfume ou que um sabor? Seria simplesmente um feixe de referências lioterárias gatafunhadas nas margens de um poema insignificante? (…) Melissa não passara de um dos muitos disfarces do amor. (Darley, o narrador, conjecturando sobre Melissa)

- Eu que julgava saber tudo sobre o amor – disse ele com ar sonhador, como falando com a sua imagem, enquanto compunha a barba com os dedos – nunca tinha imaginado uma coisa semelhante. Se há um ano me tivessem dito as coisas que estou prestes a contar-lhe, eu teria respondido: Bah! Isso não passa de uma obscenidade trovadoresca! São detritos da Idade Média. (confidências de Pombal)

Parecia muito mais magra. Erguendo alto o candelabro aproximou-se um passo e, depois de mergulhar ansiosamente os seus olhos nos meus, pousou os lábios num beijo gelado e breve sobre a minha face direita. Aquilo era frio como um obituário, seco como um pergaminho. (Darley, o narrador, reencontra Justine)

- A morte de Narouz recaiu sobre Nessim porque os coptas do povo dizem que foi ele quem a ordenou. Tornou-se para ele numa espécie de maldição familiar. A mãe dele está doente, mas afirma que nunca mais voltará a esta casa. (…) E assim aqui nos encontramos os dois encerrados. Passos as noites lendo – sabe o quê? – um maço de cartas de amor que ela abandonou. Cartas de amor de Mountolive! Mais confusão, mais recantos inexplorados. (confissões de Justine a Darley, o narrador)

O homem inventou a música para confirmar a sua solidão. (pensamento de Clea)

Mas que tarefa! Ficamos para aqui, enquanto o tempo passa, a fazer conjecturas. Todas as espécies de tempo que se escoam pela ampulheta, o tempo de uma eternidade, o tempo de um instante e o tempo do esquecimento; o tempo do poeta, do filósofo, da mulher grávida, do calendário… (dissertação de Balthazar)

Ela estava sentada no mesmo lugar onde (naquele primeiro encontro) eu tinha visto Melissa contemplando a sua xícara de café com um ar de ceptismo divertido, o queixo apoiado nas mãos. (…) Mas agora não era Melissa quem estava ali, era Clea, com a sua cabeça loura debruçada sobre a xícara de café, guardando um ar de meditação infantil. (Darley, o narrador, reencontra Clea)

A chuva caía em torrentes, como sucede frequentemente em Alexandria antes da alvorada, refrescando o ar, lavando as folhas ressequidas das palmeiras e dos jardins municipais, as grades de ferro… (…) Do porto, os odores de alcatrão, do peixe e das redes salgadas inundando as ruas vazias para enfrentar as rajadas inodoras do deserto… (imagens de Alexandria)

E se a personalidade humana for uma ilusão? E se, como nos diz a biologia, cada célula do nosso corpo é substituída por outra num período de sete anos? Quando muito, o que eu tenho nos braços é uma fonte de carne, jorrando continuamente, e no meu espírito um arco-íris de poeira. (pensamentos de Darley, o narrador)

Ela encontrava-se à janela vendo por detrás das cortinas corridas a aurora romper sobre os telhados da cidade árabe, nua e esbelta como um lírio do oriente.
(…) Chamei docemente Clea mas ela não me ouviu; voltei a adormecer. Sabia agora que Clea partilharia tudo comigo, sem restrições – sem mesmo ocultar aquele olhar de cumplicidade que as mulheres reservam para os espelhos.
(…) Volto-me para Clea adormecida e ponho-me a estudar o perfil sereno a fim de ingeri-la, bebê-la toda sem perder uma gota, fundindo nas suas as palpitações do meu coração. (…)
- É desleal olhar para uma mulher adormecida. (Darley e Clea)

Comprámos-lhe todos qualquer coisa, com a intenção de lhe restituir quando a tormenta passasse. Os Cervoni compraram os cavalos árabes, Ganzo o automóvel, que depois revendeu a Pombal, e Pierre Balbz o telescópio. Como não tinha lugar onde guardá-lo, Mountolive permitiu-lhe depositá-lo da residência de Verão, um sítio ideal. (recordações de Clea)

Dei por mim lendo estas passagens dos cadernos de Pursewarden com toda a atenção e humor que eles mereciam e sem pensar em ofender-me – para usar a expressão de Clea. (…) Em suma, é sempre salutar saber o que pensa francamente de nós uma pessoa a quem admiramos. (Darley, o narrador, lendo escritos do falecido Pursewarden)

Por exemplo, eu não habitava permanentemente em casa dela, porque quando Clea trabalhava numa tela que reclamasse toda a sua atenção tinha necessidade de vários dias de solidão. (Darley, o narrador, falando sobre Clea)

- Peço-lhe desculpa, mas… é o meu único meio de conhecer as feições das pessoas.
E senti bruscamente os seus dedos doces e tépidos deslocando-se rapidamente sobre o meu rosto, como se estivessem lendo um texto em Braille… (Liza, a noiva cega de Mountolive, conhecendo Darley, o narrador)

Clea tinha ido ao Cairo, e não a esperava. Levei a maleta para o apartamento dela e, sentando-me no chão, abri-a. (…) Comecei a tremer como na presença de um grande génio, a tremer e a balbuciar. Com um choque interior descobri que em toda a literatura conhecida nada existia de comparável! Todas as obras-primas de Pursewarden empalideciam diante dessas cartas de um brilho e de uma prolixidade furiosa e expontânea. (…) Nesta estranha e arrepiante experiência tive por um momento a intuição do verdadeiro Pursewarden – o homem que sempre me escapara. (Darley, o narrador, lendo a correspondência de Pursewarden para sua irmã Liza)

Eu, Darley, tudo o que posso afirmar é que cinco ou seis amantes francesas, várias voltas ao mundo e numerosas aventuras em tempo de paz não me ensinaram tanto como esta guerra. (confissão de Darley, o narrador)

Enquanto eu saía, fechando docemente a porta do quartinho, veio-me ao espírito uma frase de Pursewarden: “o amor mais rico é o que se entrega ao arbítrio do tempo.” (recordação de Darley, o narrador)

Sim, nesse dia surpeendi-me a escrever com a mão trémula as três palavras que todos os rapsodos da Terra pronunciam desde que o mundo é mundo para concitar a atenção do auditório. Palavras que simplesmente anunciam a maturidade de um artista: “era uma vez…”
E senti-me como se o Universo me tivesse piscado o olho!

Apêndice

Sim, ao lado da janela, a cama
Banhada pelo sol daquela tarde,
Separámo-nos às quatro horas
Apenas por uma semana…
Nunca pensei que esses sete dias
Pudessem não ter fim.

NOTA – Ilustração de Fernando Torres

segunda-feira, agosto 15, 2011

Recortes do EXPRESSO

Manuel da Silva Martins, ex-bispo de Setúbal, continua a ser um homem que admiro, tanto pela sua acção e coragem no passado, como por continuar a manifestá-lo no presente, tanto nas palavras como nas ideias. A entrevista que deu ao semanário EXPRESSO é a concretização desta minha permanente admiração.

A "qualidade devida" de Luísa Schmidt deixou-nos a seguinte mensagem: «(...) Por exemplo, "fala-se" na infame intenção de vender a Companhia das Lezírias. Seria uma decisão lesiva a todos os níveis - financeiro, económico, político, cultural, ambiental, estratégico... A começar logo pelas contas. A Companhia das Lezírias dá lucro ao Estado; esse lucro está em progressão sustentada há anos e produz bens transacionáveis. Não é disso que nós precisamos para pagar a dívida? Não é um exemplo de gestão assim que o país precisa de replicar pelo seu território e pelos diversos sectores económicos? (...) Será agora que ficaremos a saber se o actual ministério [da agricultura] e a sua ministra existem, ou se são uma mera convenção a servir de máscara ao "Ministério da Liquidação Geral".»

Disse-nos ainda o Daniel Oliveira: «(...) Houve um tempo em que as famílias da alta sociedade dividiam tarefas por género: os senhores exploravam os pobres, as senhoras organizavam festas cristãs para os ajudar. Infelizmente, a família já não é o que era e as mulheres dos homens ilustres já não têm tempo para se dedicarem à caridade. A empresa trata de tudo: com uma mão paga miseravelmente, com a outra dá um consolo, um ensinamento e um ralhete. Mas ninguém pode dizer que os senhores do Pingo Doce estão sózinhos. Limitam-se a seguir o exemplo do Estado, que enquanto destrói a economia das famílias inventa um abjecto plano de emergência, que transforma o Estado Social numa instituição de caridade. (...)»

sábado, agosto 13, 2011

Adivinhem Quem Governa Portugal

Victor Gaspar, o ministro das finanças do Governo português, confrontado com a ausência de cortes na despesa e o novo aumento de impostos (gás e electricidade) gerador de receita, disse: trata-se de uma opção com resultados mais rápidos para que Portugal atinja as metas orçamentais deste ano.

Por sua vez, Jergen Kroeger, representante da Comissão Europeia na troika, acrescentou: Não se verificará mais aumento de impostos ao longo deste ano. Quanto a 2012, teremos que esperar para avaliar como evolui a situação.

sexta-feira, agosto 12, 2011

Novo Dicionário de Sinónimos

PARA o "novo" Governo reduzir a despesa é qualquer coisa de parecido com um truque de ilusionista: diz-se que é para cortar na despesa mas aumenta-se a receita, agravando taxas e impostos sobre bens essenciais, como o são a electricidade e o gás, convictos que o povo não percebe a diferença. Se o nosso emigrante de luxo, candidato a filósofo, que anda agora pela Sorbonne, era um retinto mentiroso, estes agora são merceeiros que não sabem (ou fingem que não sabem) distinguir a receita da despesa. Nuno Crato que se cuide, pois os seus companheiros de jornada, sem darem cavaco e ao arrepio da Academia, devem andar a elaborar um novo dicionário de sinónimos, ao passo que o povo cá estará para pagar as facturas. Nunca vi a Grécia aqui tão perto...