quinta-feira, abril 26, 2012

Rescaldo de Abril (2)

"Essa associação [Associação 25 de Abril] tomou uma atitude que é perfeitamente razoável tendo em consideração aquilo que é a sua posição enquanto organização da sociedade civil. Todos os cidadãos, quaisquer que sejam e quaisquer que são as funções que desempenham, têm o direito de ter opinião, de a expressar, mesmo que seja uma opinião crítica".

Declaração do general Ramalho Eanes, ex-Presidente da República, à saída da sessão solene das comemorações do 25 de Abril, que decorreu na Assembleia da República, a propósito da recusa de participação da Associação 25 de Abril naquela cerimónia.

quarta-feira, abril 25, 2012

Rescaldo de Abril (1)

UM AMIGO meu quando leu o meu post EM ABRIL, VONTADES MIL, contrapôs-me a seguinte questão: então, porque é que o PS, o PCP, o BE e o PEV, tão críticos e combativos em relação à actuação deste governo, não fizeram também gazeta às comemorações na Assembleia da República, como foi o caso da Associação 25 de Abril e outras individualidades, deixando o Governo, mais o PSD e CDS-PP a falarem sózinhos? Perante o primeiro impacto deste comentário, engoli em seco, mas depois reconsiderei e percebi que a situação não é comparável. Aos eleitos pelo povo não lhes competia recusarem-se a participar. Dispõem de um mandato popular, foi-lhes dado o uso da palavra - e outra coisa não era de esperar –, para dizerem de sua justiça e apontarem as suas razões (e não foram poucas!). Quanto aos convidados, que neste momento se representam apenas a si próprios, e a quem estava vedado discursar, tiveram que se remeter a um incómodo silêncio. Se eu fosse convidado e não pudesse desabafar, tal como foi o caso da Associação 25 de Abril, também não participaria no arranjo floral de que o Governo se rodeou, para branquear aquilo que vai destruindo nos outros 364 dias do ano. Também declinaria o convite e não poria lá os pés. Se fosse deputado, outro galo cantaria.

Não Deixemos Fechar as Portas!

(…)

Mesmo que tenha passado
às vezes por mãos estranhas
o poder que ali foi dado
saiu das nossas entranhas.
Saiu das vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
onde um povo se curvava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.

E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe.
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu.


(…)

Excerto do poema «As Portas que Abril Abriu» de José Carlos Ary dos Santos, Julho-Agosto de 1975. A versão integral do poema pode ser lida aqui no CARTÓRIO DO ESCREVINHADOR.

terça-feira, abril 24, 2012

Em Abril, Vontades Mil

(...)
Entendemos ser oportuno tomar uma posição clara contra a iniquidade, o medo e o conformismo que se estão a instalar na nossa sociedade e proclamar bem alto, perante os Portugueses, que: 

- A linha política seguida pelo actual poder político deixou de reflectir o regime democrático herdeiro do 25 de Abril configurado na Constituição da República Portuguesa;

- O poder político que actualmente governa Portugal, configura um outro ciclo político que está contra o 25 de Abril, os seus ideais e os seus valores; 

Em conformidade, a A25A anuncia que:

- Não participará nos actos oficiais nacionais evocativos do 38.º aniversário do 25 de Abril;

- Participará nas Comemorações Populares e outros actos locais de celebração do 25 de Abril;

- Continuará a evocar e a comemorar o 25 de Abril numa perspectiva de festa pela acção libertadora e numa perspectiva de luta pela realização dos seus ideais, tendo em consideração a autonomia de decisão e escolha dos cidadãos, nas suas múltiplas expressões. 

Porque continuamos a acreditar na democracia, porque continuamos a considerar que os problemas da democracia se resolvem com mais democracia, esclarecemos que a nossa atitude não visa as Instituições de soberania democráticas, não pretendendo confundi-las com os que são seus titulares e exercem o poder.
(...) 

Excerto do Manifesto da Associação 25 de Abril, divulgado em 23 de Abril 2012. O título do post é de minha autoria.

domingo, abril 22, 2012

Adão Barata - Um Homem de Abril

Transcrição parcial do voto de pesar expresso pelos Eleitos da CDU na Assembleia de Freguesia de Bucelas. 

«No passado dia 29 de Agosto [de 2008] faleceu Adão Manuel Ramos Barata com 63 anos de idade. Vereador da Câmara Municipal de Loures de 1998 a 1999, Presidente da Câmara de 2000 a 2001 e novamente Vereador de 2002 a 2007. Foi Presidente da Junta de Freguesia de Carnide, exerceu cargos na Parque Expo, nos SMAS de Loures, no MARL e na Associação Nacional dos Municípios Portugueses.

Desde a sua juventude, participou activamente no movimento associativo estudantil, na luta e resistência à ditadura. Militante do Partido Comunista Português desde 1975, desempenhou funções em vários organismos do Partido.

As suas qualidades humanas e cívicas fazem de Adão Barata uma figura impar do Poder Local Democrático. No exercício dos cargos para que foi eleito pela Povo do Concelho de Loures, sublinhou sempre a sua condição de político empenhado no progresso social e a sua opção pelas mais desfavorecidos. Adão Barata foi sempre um homem genuinamente preocupado com os seus concidadãos, permanentemente disponível para encontrar soluções de consenso, sempre pronto para oferecer a sua amizade. Os Munícipes de Loures, a quem dedicou os últimos anos da sua vida, beneficiaram da forma isenta, competente e solidária como exerceu os cargos que estes lhe confiaram.

Para além da sua biografia política e dos cargos que exerceu, Adão Barata destacou-se pela relacionamento fraterno que tinha com toda a gente, pela prestigio que lhe era reconhecido e o carinho que tantos lhe dispensavam. Todos aqueles que de perto conviveram com Adão Barata jamais poderão esquecer o legado de Homem e de Politico que a todos deixou.

Em 1999 foi agraciado com a Insígnia de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique, concedida pelo Presidente da Republica. Em 8 de Dezembro de 2007 foi condecorado com a Medalha de Honra da Freguesia de Bucelas (grau ouro). Em 26 de Julho de 2008 foi condecorado com a Medalha de Honra do Concelho de Loures.

Mesmo durante a sua doença e já não estando a exercer nenhum cargo politico, o Eng. Adão Barata preocupou-se com o processo da deslocalização da GNR de Bucelas e deu um precioso contributo para a construção do futuro quartel, demonstrando o seu afecto pela população de Bucelas.
(…)»
Na próxima quarta-feira, dia 25 de Abril de 2012, às 11 horas, decorrerá a cerimónia de descerramento da placa da rua com o nome de Adão Barata, na Urbanização do Parque das Oliveiras, em Camarate.

terça-feira, abril 17, 2012

A Vida é Uma Fiesta

A Fiesta Espanhola

Juan Carlos de Borbón, Rei de Espanha, não quer saber de desgraças. Embora o seu país também esteja à beira de entrar no clube dos resgatados, com cinco milhões e meio de desempregados, uma complexa crise económica e financeira, e o governo Rajoy a usar as mesmas receitas que Passos Coelho aqui pelo protectorado da Lusitânia, Sua Magestade Sereníssima, sendo Chefe de Estado, decidiu dar o seu contributo para enfrentar a crise, embora à sua maneira. Assim, fez questão de manter os seus reais hábitos e ausentou-se para o Botswana, longe das dificuldades e dos protestos, com o objectivo de participar num safari, para desenferrujar a carabina e adicionar mais uns exemplares à sua colecção de troféus, pois um rei que não faça as suas caçadas, quer chova ou faça sol, não é rei, não é nada, sendo necessário manter a tradição, isto é, as casas reais, são isso mesmo, um viveiro de foliões.

Desta vez teve azar! Sofreu um acidente no acampamento, caiu mal, fez fracturas e teve que ser recambiado para lhe fazerem umas intervenções cirúrgicas. Apesar do contratempo, e ainda sem se saber quem é que pagou esta fiesta - coisa que andará entre 40.000 e 50.000 euros -, parece que daqui a 45 dias Sua Alteza já estará apto para mandar aparelhar o iate real e participar nas regatas oceânicas, às quais raramente falta, continuando assim a envolver-se de corpo e alma, lado a lado com o seu povo, no combate à crise, muito embora as cabeças coroadas tenham prioridades que não são compreendidas nem se enquadram na escala de valores dos outros mortais. Reflectindo sobre isto, só o facto de serem de alta estirpe consegue explicar a sua altivez e indiferença perante as agruras e sofrimento dos povos, mas não evita que se esboçe uma conclusão: para os membros da realeza, todas as crises não passam de "faits divers", e a vida, ou melhor, a boa vida, continua a ser uma festa permanente. 

A Fiesta Lusitana

E já que falamos de reais folias, e como introdução, convém lembrar o nosso rei D.Carlos. À volta de 1900, num dos seus regressos a Portugal, depois de participar em largas festanças e coboiadas em Paris, a gastar os adiantamentos do erário público, apesar do país ter noventa por cento de analfabetos, e serem poucos os que usavam calçado, Sua Magestade, dizia eu, entre agastado e desdenhoso, queixava-se para a sua comitiva, nestes termos: “lá voltamos para junto dos nossos piolhosos…”.

Caiu a monarquia, mas as festas não ficaram por ali. Maria de Lurdes Rodrigues, ex-ministra da Educação de José Sócrates, embora não tenha (que se saiba) sangue azul, nem ande a calcorrear as savanas, em perseguição de caça grossa, ficou-se agora a saber que é uma personagem que gosta de organizar festas, e isto porque a sua passagem pelo Ministério da Educação, foi marcada pela criação da empresa pública Parque Escolar, especialmente destinada a coordenar a requalificação das escolas necessitadas de obras, iniciativa que ela própria classificou como uma grande festa.

Antes disso, os alunos, na grande maioria dos casos, ou eram acondicionados em pavilhões pré-fabricados que eram autênticos contentores, idênticos aos que servem para alojar os trabalhadores da construção civil, ou então andavam a aprender em instalações degradadas, com janelas sem vidraças, salas onde chovia, onde não havia ginásios nem refeitórios, e as retretes estavam sempre entupidas. Agora, muitas centenas de milhões de euros depois, e fruto da tal requalificação das instalações degradadas da rede escolar pública, surgiram autênticos monumentos, alguns deles onde imperam os mármores, candeeiros bem bonitos, modernos e originais, a par de algum luxo de pasmar. Não houve meio termo; do oito passou-se para o oitenta, muito embora eu seja de opinião que gastar dinheiro com a educação é o melhor investimento que os países podem fazer. Mas cuidado, a educação não são só bons edifícios! É também serem utilizados por professores motivados, alunos entusiastas e a aprender, e muitas outras coisas mais. Como é compreensível, todas estas obras custaram muitos milhões de euros, obras essas que ultrapassaram largamente o inicialmente contratado e autorizado, fora as outras que nunca foram autorizadas, enfim, coisas que se tornou habitual definir como “derrapagens”, expressão "técnica" que serve para esconder do cidadão comum, tudo aquilo que acaba em festas de arromba, onde também se incluem aeroportos que só funcionam duas vezes por semana, autoestradas quase sem movimento, a par de hospitais recentes, totalmente equipados, mas que têm dois terços das instalações fechadas. Em última análise, o mundo em que vive a Milú, não é o mundo dos comuns mortais, sei lá, talvez o País das Maravilhas, e já que estivemos a falar de realeza, talvez ela incarne uma espécie de Rainha de Paus, a mandar cortar a cabeças a torto e a direito.

A verdade é que eu não estou a inventar nada, foi a própria Maria de Lurdes Rodrigues que o disse, perante a Comissão Parlamentar de Inquérito, com aquela articulação de voz que nos deixa na dúvida, se de facto sabe o que diz, ou se está a gozar com o parceiro. Meus senhores - disse ela - a Parque Escolar foi uma grande festa para o país... foi um programa de êxito e de festa para as escolas, para os alunos, para os arquitectos e para a economia portuguesa. E já agora podia ter continuado por aí fora, citando mais alguns participantes nessa e noutras festas, como as Parcerias Público Privadas, os “brindes” aos bancos, a colecção Joe Berardo, as licenças de software da Microsoft, as consultoras económicas e os escritórios de advogados, o “magalhães” da J.P.Sá Couto, ou aqueles que receberam lautos honorários sem terem mexido uma palha. A ser assim como ela diz, e como festa sem dança, não é festa, não é nada, já agora, gostava de os ver dançar a todos.

segunda-feira, abril 16, 2012

A Caminho da Democracia de Contrafacção

«(...)
O que se passou foi que o presidente da Câmara de Lisboa [António Costa] ia já a caminho da Maternidade Alfredo da Costa para a visitar quando recebeu um telefonema da direcção desta instituição informando-o de que o administrador regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo a proibira de receber o autarca, sob pena de processo disciplinar. Mais: segundo a RTP, todos os clínicos da Maternidade estão proibidos de falar com a comunicação social, isto num país cuja Constituição garante que "todos têm o direito de exprimir e divulgar livremente o seu pensamento pela palavra, pela imagem ou por qualquer outro meio (...) sem impedimentos nem discriminações".

Pelos vistos não foi só em matéria laboral que já chegamos à China.»


Excerto do artigo de Manuel António Pina, intitulado "Notícias da China da Europa", publicado em 13 de Abril de 2012 no JORNAL DE NOTÍCIAS. O título do post é de minha autoria.

sábado, abril 14, 2012

Três Estocadas para Acabar com um País

DE UMA assentada, e com uma pressa inaudita (neste jogo de andar de cócoras queremos ser sempre os primeiros), a troika par(a)lamentar constituída pelo PSD+CDS/PP+PS, um triunvirato constituído pelos partidos que se auto-intitulam do "arco da governação" (com o PS a exibir o seu "violentíssimo" voto a favor), foram amarfanhadas três coisas caras a qualquer povo, maior e vacinado, e que preza a sua dignidade. Eu podia dar uma ordem diferente às três questões, mas como entendo que todas elas estão intimamente relacionadas, escolhi a desordem alfabética. D de democracia, C de Constituição e S de soberania. 

A primeira foi a Democracia, ao rejeitarem dar a voz aos portugueses, convocando um referendo, para sabermos se sim ou não aceitamos os termos e condições do Tratado Orçamental. Passo a passo, os cidadãos estão a deixar de ter poder de intervenção e decisão, tanto no que diz respeito às políticas nacionais, como nas que à União Europeia dizem respeito, remetendo para o sotão dos trastes, aquilo que em tempos se denominou como sendo a luz que iluminava uma mirífica Europa dos Cidadãos, e que afinal não passava de publicidade enganosa. 

A segunda foi a Constituição Portuguesa, na medida em que aquele Tratado entra em conflito com as disposições e os vínculos que a Constituição estabelece, relativamente às políticas e opções orçamentais, tocando mesmo nas prerrogativas e orgânica judicial. Seja em que circunstância e momento for, qualquer tratado internacional que o Estado português subscreva, não pode derrogar, anular ou rever, o que está estabelecido na Constituição Portuguesa.

A terceira foi a Soberania nacional, ao aceitarem que a União Europeia, através de um Tratado Orçamental que é um autêntico agente repressivo, se sobreponha às opções políticas e orçamentais dos governos. Dispõe de um poder discricionário, que além do direito de visto prévio, caso não sejam cumpridas as regras, pode chegar à imposição de gravosas sanções pecuniárias, transformando os países em protectorados de um mandatário todo-poderoso, que neste caso é a Alemanha, que sob esta forma anseia ascender ao IV Reich.

Lamentável foi ver o PS (partido Seguro), depois de assegurar que iria votar a favor do Tratado Orçamental, a pedir batatinhas e a fazer beiçinho à maioria PSD-CDS/PP, quando soube que aqueles não iriam retribuir com a votação a favor, das suas adendas ao Tratado, uma colectânea de virtuosas recomendações para limpar a sua má consciência, a que o mordomo para todo o serviço Vital Moreira, apelidou de um "bom achado" em matéria de limpeza a seco.

Depois de vermos o povo humilhado e sodomizado sob as mais variadas formas, de ver o país a ser vendido a retalho e a preços de saldo aos abutres esfomeados que pairam lá do alto sobre a presa, a ser escaqueirado o Estado Social, e a serem entregues a outros as decisões que a nós competia tomar, o povo português parece continuar a dar-se bem com os seus brandos costumes, e a não ter razão de queixa daquilo que o cerca e da forma como o estão a albardar.

quarta-feira, abril 11, 2012

Um Presidente Claro, Conciso e Eficaz


O Presidente da República quando se arrisca a sair de Belém para mergulhar no país real, tem sempre que se cruzar com a maçada dos jornalistas, que o vão questionando sobre os temas da actualidade política nacional. Na sua última saída, mais exactamente para assistir à inauguração das novas instalações da Microsoft Portugal, interrogado sobre se vai receber do Banco de Portugal, os subsídios de férias e de natal da sua reforma, para poder fazer face às suas despesas domésticas, foi muito claro: disse, preto no branco, que sobre aquele assunto já disse tudo o que tinha a dizer, que nunca mais se pronunciará sobre os subsídios da sua pensão, e ponto final. Logo a seguir, questionado sobre a justificação para ter promulgado em tempo recorde o semi-clandestino diploma de Pedro Passos Coelho, que congelou as reformas antecipadas aos funcionários públicos, Cavaco Silva invocou “razões de interesse nacional”, muito embora possa não estar de acordo com a coisa, bem como com as outras duzentas coisas que lhe passaram pelas mãos, mas em que apôs o seu autógrafo, provávelmente por uma questão de patriotismo, e de outros tantos indubitáveis interesses nacionais. E foi tudo, ponto final, parágrafo.

Continuo a admirá-lo porque, quando abre a boca - e porque se auto-intitula provedor do povo - consegue transmitir-me uma sensação que me deixa logo esclarecido, seguro, calmo e tranquilo. Sem ele, o que seria de nós? Continua a ser a personificação da subtileza, da clareza, concisão e eficácia, e quanto ao que vem daquelas bandas, os portugueses escusam de ficar descansados, porque, estou convicto, nada de mal nos acontecerá.

domingo, abril 08, 2012

Pascoal Pantominice em Roda Livre


Miguel "corta" Relvas, em mais um exercício de toca-e-foge, e com a autoridade que lhe advém de acumular as funções de ministro da propaganda, com um part-time como ministro dos assuntos parlamentares, veio desmentir o deslize confessional que o "seu" primeiro-ministro Passos Coelho fez ao confessor, o diário alemão Die Welt, garantindo que não senhor, custe o que custar, e sem contar com todos os imponderáveis, Portugal voltará aos mercados em Setembro de 2013, e que não se vislumbra, para já (note-se!), nenhum segundo pedido de resgate, dando a ideia que estes dois, mais o "vagaroso" Victor Gaspar e o “empastelado” Álvaro, andam a aconselhar-se com oráculos desavindos. Mas não é isso! Os Sócrates, Lellos, Vitalinos, Lacões e mais uns quantos, que com a sua pantominice orquestraram toda aquela confusão de triste memória, espatifando o país durante seis longos anos, ao mesmo tempo que simulavam governar, em versão “sempre em festa”, ganhou raízes com as “novas oportunidades” e tornou-se a imagem de marca dos partidos do chamado "arco da governação". Agora, estes últimos (PSD, mais CSD/PP a reboque ) são um bocado piores, uma autêntica calamidade. No meio de toda esta turbulência e funambulismo, estão a finalizar o que os outros começaram, a dar de comer aos amigos esfomeados, aos ricos que querem ficar mais ricos (esses, ninguém os ouve reclamar!), a empanturrar o país com austeridade, empurrando-o, devagarinho, para a penúria e a bancarrota, e pelo caminho a fazer muitas baixas, entre os honestos trabalhadores portugueses.

Aconselharam-me a não publicar isto, porque estamos no Domingo de Páscoa, tempo de folares, abraços e de concórdia, tempo de júbilo pelo resgate que Jesus assumiu, por todos os pecados do mundo. Ah, sim! Eu, que não sou crente, muito embora respeite as crenças, e porque acho que alhos não se devem confundir com bugalhos, deixo aqui a pergunta: e agora, o que faria o Nazareno?

sábado, abril 07, 2012

Em Defesa da Língua Portuguesa

«(...)
Uma coisa será oficializar-se o que o uso já consagrou, ajustar-se a norma a uma evolução natural, espontânea, que já se verificou no correr do tempo; outra bem diferente, e inadmissivel, é o Estado pretender mudar a lingua por decreto, tentar operar nela uma "evolução artificial" [neste caso através do novo Acordo Ortográfico] sejam quais forem as motivações. A língua é algo vivo e delicado, a respeitar, com reverente humildade, na sua antiguidade e no seu futuro. Não é por as águas territoriais portuguesas pertencerem a Portugal que o Estado Português pode achar-se no direito de contaminá-las. Há valores que lhe são superiores, há matérias que lhe estão vedadas (como as do foro íntimo dos cidadãos), e a própria democracia está em perigo se o Estado desconhece os seus limites.
(...)
Todos os cidadãos portugueses têm o direito (e o dever) de desobediência (art. 21º da CRP) e de objecção de consciência (art. 41º nº 6 da CRP) perante recomendações governamentais que atentem contra os seus direitos, liberdades e garantias.
(...)»

Dois excertos do antológico e lapidar texto de Madalena Homem Cardoso, sob a forma de carta dirigida ao ministro da Educação e Ciência, Nuno Crato, em defesa da Língua Portuguesa, e contra a manifesta aberração a que foi dado o nome de Acordo Ortográfico. O texto completo, que aconselho vivamente, pode ser lido aqui no CARTÓRIO DO ESCREVINHADOR.

sexta-feira, abril 06, 2012

A Engrenagem


MIGUEL Relvas começou por dizer que os subsídios de férias e natal eram para acabar, para logo a seguir o governo desmentir. Vem depois um tal Peter Weiss acrescentar que talvez a suspensão possa transformar-se em extinção, para logo a seguir Moedas e Gaspar, este último a explicar tudo (até os lapsos) “vagarosamente”, virem retorquir que acabar nem pensar, pois o esbulho, como incialmente previsto, é só até ao fim de 2013. Finalmente Passos Coelho vem rectificar, afirmando que serão apenas repostos em 2015, e em prestações suaves, por precaução e para não magoar as calosidades e contas do Estado.

Como é fácil de constatar, tornou-se um lugar comum de todos os governos, os ministros contradizerem-se entre si. Já nos governos anteriores era assim! Não penso que seja distração, descoordenação ou negligência; estou convicto que essas discrepâncias são deliberadamente propositadas, um novo tipo de lubrificação da engrenagem política, na medida em que armam confusão, provocam a erosão das promessas e das garantias, bem como um vazio à volta da governação, propício a que estes continuem a ganhar tempo para fazerem o seu trabalho de desmantelamento, explorando e aprofundando o caminho desbravado por Sócrates. O nunca esquecido projecto sá-carneirista da “santíssima” trindade, constituída por uma maioria parlamentar, um governo e um presidente, enquanto durar, tem que ser aproveitada depressa e ao máximo, na missão de não ser deixada pedra sobre pedra deste empecilho chamado estado social. O novelo de contradições em que aparentam enredar-se, não é incompetência, é apenas criminosa determinação! Não são gente séria, são bandoleiros! Vão descredibilizando a política, ao mesmo tempo que, pé ante pé, levam a água ao seu moinho, sob a tutela da presidencial figura de Cavaco Silva, que não actua, mantém-se distanciado e não tuge nem muge, atrás daquele sorriso seráfico e mumificado. 

Assim, entre os portugueses vai-se instalando o desânimo, o espírito do "não vale a pena" e do "são todos iguais e não são para levar a sério", pois digam A ou B, vamos tê-los sempre à perna, a empurrar-nos para a mesma rua sem saída, isto é, em perda continuada e quiça irreversível. É intenção do governo PSD/CDS-PP, emoldurados com a abstenção violenta do PS, que paguemos finalmente, e depois de tanto tempo de espera, o atrevimento de termos apoiado o levantamento e a revolução de 25 de Abril, que paguemos, com miséria, suor e lágrimas, a enxurrada das cleptocráticas Parcerias Público-Privadas, e que paguemos, já agora, as multas de excesso de velocidade do “senador” Mário Soares. Quanto aos pobres, que se amanhem! Tudo isso com a agravante de que o brando povo português, entre dois copos de tinto, à porta do estádio ou à boca das urnas, tem sempre memória curta e perdoa com facilidade.

quinta-feira, abril 05, 2012

Nem Mais!

«(...) Um Estado que prefere proteger os credores estrangeiros em lugar dos seus funcionários e pensionistas é um Estado que não se respeita a si próprio. Para defender o Estado português, exige-se aos governantes algo mais do que pôr a bandeira de Portugal na lapela do casaco: exige-se que protejam os cidadãos portugueses.»

Palavras finais de um post de Luís Menezes Leitão no blog DELITO DE OPINIÃO

quarta-feira, abril 04, 2012

Perguntem aos Gregos


PETER Weiss, chefe adjunto da missão da troika - ela sim a verdadeira governadora deste protectorado - admite que Bruxelas venha a transformar em definitivo o corte dos subsídios de férias e de Natal a funcionários públicos, trabalhadores de algumas unidades do Sector Empresarial do Estado, reformados da função pública e pensionistas do sector privado, exceptuando, no último caso, os beneficiários dos fundos de pensões da banca.

Em resposta àquela incendiária intenção, Carlos Moedas, o secretário de Estado adjunto do "nosso" primeiro-ministro, guardião da nossa suposta e pitoresca soberania, diz que aquilo não pode ser, e que a extorsão apenas é válida até 2013. Sempre quero ver o que vale a tímida opinião dos paus-mandados dos tosquiadores da troika, pois é sabido o que valem estas reacções, que balouçam entre o provisóriamente definitivo e o definitivamente provisório, destinadas apenas a marcar posição, mas se houver dúvidas, perguntem aos gregos como é que está a ser com eles.

segunda-feira, abril 02, 2012

Poesia por Abril Adentro – Irreverência


Irreverência
(Vilancete)

Mote

Apoiada no quadril,
traz a moça a cantarinha.
Vem da fonte e vem asinha.

Voltas

Diz-se de «Abril, águas mil»!
E tanta sede que eu tinha,
naquela manhã de Abril!
Mas a moça vinha asinha
e negou-me a cantarinha
que apoiava no quadril...

Fiquei-me quase febril
devido à sede que tinha!
E nem sei mais se de Abril
ou se da moça que vinha
apoiando a cantarinha
no bailado do quadril... 

Autor: José-Augusto de Carvalho – Viana, Alentejo, 30 de Março de 2012

domingo, abril 01, 2012

Parece Mentira!

O DIÁRIO DE NOTÍCIAS que se intitula um jornal de referência (seja lá o que isso for), não está a contribuir para o correcto uso da língua portuguesa. Na sua versão online de 1 de Abril de 2012, noticiou que a «GNR detém três espanhóis por furtar carros do rali», quando o que seria correcto era dizer que a GNR detém três espanhóis por furtarem carros do rali. Com o uso da concordância, sempre soa e se percebe melhor, e não há razão para que, perdendo-se Portugal, se perca também a língua.

quarta-feira, março 28, 2012

Mais Uma Patacoada


O INEFÁVEL e incorrigível professor Vital Moreira, numa salomónica sentença, lavrada no seu post intitulado "Estado de necessidade", no blog CAUSA NOSSA, disse o seguinte: 

«Quando uma empresa pública, como os Estaleiros de Viana, incorre em défices sistemáticos e acumula dívidas sobre dívidas, onerando desmesuramente as responsabilidades financeiras do Estado, a única solução é a privatização, para recapitalizar a empresa, alcançar uma gestão mais eficiente e preservar os postos de trabalho. Neste quadro, as objecções partidárias e sindicais não fazem sentido, tanto mais que não se trata de um sector estratégico para o Estado. O mesmo vale obviamente para a TAP.» 

Não é preciso ser um grande cientista para reconhecer que quando as empresas do sector empresarial do Estado são colocadas em dificuldades financeiras, por obra e graça de gestores incompetentes ou negligentes, a solução é demiti-los e substituí-los por outros, e não correr a privatizar as ditas empresas, pois muitas das vezes, a gestão danosa e desastrosa, tem exactamente esse objectivo. E o que se faz aos "meninos" que levaram as empresas em questão a esses escandalosos estados de necessidade? Corremos a premiá-los com uma licença sabática, um lugar no Governo ou uma sinecura noutra empresa do sector empresarial do Estado, para eles continuarem o seu meritório trabalhinho, em paz e sossego. E quando a gestão envolve ilegalidades, a justiça para que serve? Além disso, quem disse que os estaleiros e as transportadoras aéreas não são sectores estratégicos, não digo para o Estado, mas sim para o país? Oh professor, tenha dó, por amor de Zeus!

terça-feira, março 27, 2012

Será Que Ninguém os Prende?


OS NOVOS accionistas da EDP e da REN, respectivamente, a Three Gorges no caso da EDP e a State Grid e Oman Oil Company no caso da REN, vão receber 180 milhões de euros em dividendos de 2011, muito embora apenas tenham entrado para o corpo de accionistas em 2012. Compraram a preço de saldo e ainda por cima com direito a bónus. Com um descaramento difícil de classificar, o benemérito de serviço, neste caso o ministério das Finanças, explicou que “o preço de aquisição oferecido abrange a totalidade dos respectivos direitos de voto inerentes às acções à data em que o preço foi acordado entre as partes, incluindo os direitos aos dividendos referentes aos resultados do exercício de 2011, que serão distribuídos em 2012”. E depois ainda dizem que os portugueses andam a viver acima das possibilidades do país, e que é preciso fazer sacríficios para pôr as contas do Estado em ordem! Fica a pergunta: por este escandaloso negócio, e outros esbulhos que se seguirão, ninguém leva presos Coelho, Gaspar & Companhia?

segunda-feira, março 26, 2012

Causa e Consequência, Túneis e Pontes, Jogo e Anti-Jogo


O BALBUCIANTE ministro das finanças Victor Gaspar, já começou a queixar-se que as receitas de impostos estão a decair, ao passo que aumentam as despesas com os subsídios de desemprego. Ora se aumentam os desempregados, é óbvio que estes deixem de pagar impostos, que recorram aos centros de emprego e passem a receber subsídio, ao mesmo tempo que se contraem no consumo, e que isso origine menor colecta de IVA. Por outro lado, as falências em cascata originam desemprego e queda substancial das receitas fiscais, provenientes do sector empresarial. Como continua a não haver milagres nem bruxedos, o ministro das finanças já devia saber, ou esqueceu-se, que em economia, tudo é causa e consequência.

Mas não! Prefere andar a grafitar analogias com travessias de pontes, num país em que as pontes e viadutos carecem de cuidadosa manutenção, logo têm tendência para não serem percursos cem por cento seguros. Depois da estafada analogia com o túnel e a tal luz que despontaria lá ao fundo, prenunciando a saída das trevas da crise, o ministro usou a travessia de uma qualquer ponte, travessia essa que estaria agora pelo meio, para fazer a ligação entre a crise e a recuperação, rumo ao desafogo.

Mas não basta dizer-se que sim, que talvez, ou que também. Para lançar a confusão, ou voltar a baralhar o jogo, para manter os comentadores ocupados, dizendo e desdizendo-se, veio agora o primeiro-ministro e também líder do PSD Pedro Passos Coelho, no rescaldo do congresso do seu partido, dizer que está convicto que o desemprego vai parar de crescer no final deste ano e que o País iniciará a recuperação económica em 2013. Assim mesmo, sem mais nem menos, como um autêntico prodígio alquímico, contrariando todos os factos, dados e contas que se andam a fazer. Qual será o oráculo que ele anda a consultar?

domingo, março 25, 2012

Filmes Pela Noite Dentro – Sangue do Meu Sangue


Título: Sangue do Meu Sangue
Ano: 2011

Realizador: João Canijo
Argumento: João Canijo
Origem: Portugal
Duração: 140 min
Género: Drama 

Actores: Rafael Morais, Nuno Lopes, Rita Blanco, Beatriz Batarda, Fernando Luís, Cleia Almeida, Anabela Moreira, Marcello Urgeghe, Teresa Madruga 

Meu comentário: “Sangue do Meu Sangue” pode apreciar-se em duas versões: uma longa, de 190 minutos, concebida para uma mini-série de 3 episódios, e outra de 140 minutos, destinada às salas de cinema. Vi as duas versões e optei pela segunda.

“Sangue do Meu Sangue” é CINEMA maiúsculo, tanto na forma como no conteúdo. É o retrato de uma família humilde, a viver numa casa acanhada, meio cubículo, meio contentor, de um bairro social da periferia de Lisboa, aprisionado pela vaga dos novos pobres que nele se acolhem, decrépito e problemático, cercado de construção precária e improvisada, destinada a alojar vidas precárias e improvisadas. É o retrato cru deste Portugal do início do século XXI, microcosmos de um velho Portugal, envelhecido e decadente, a coexistir com um novo Portugal, onde o trabalho honesto e esforçado vai vivendo paredes meias com a partilha da escassez, da pobreza, e de todo o tipo de sordidez e criminalidade que lhe anda associada. Tudo é excessivo, desde as vidas, os dramas, as dores, o calão, os diálogos cruzados em ambiente claustrofóbico, onde o ruído persistente se cruza com as sonoridades próprias da inexistência de privacidade, imagem de marca destas bolhas suburbanas. É um filme de mulheres, cada qual com o seu tipo diferente de força, guardiãs de famílias desfocadas, a enfrentar as crueldades e as cores fortes da sua condição. É um filme repleto de arestas vivas deixadas pelas suas personagens, pelos seus ódios e paixões, exactamente iguais às do mundo dito normal, só que numa escala diferente. O trabalho dos actores é extraordinário, a todos cabendo um desempenho excelente. O periclitante cinema português, em contra-ciclo com o que é habitual em tempos de crise, está a dar-nos alegrias, com o trabalho de João Canijo a ocupar lugar de destaque. Se fosse da minha competência atribuir notas, “Sangue do Meu Sangue” merecia 8 numa escala de 10.