terça-feira, novembro 13, 2012

Registo para Memória Futura (74)

«Com as reformas estruturais temos a ambição de ser uma das economias mais dinâmicas da Europa», declarou o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho no encontro empresarial luso-alemão que decorreu em 12 de Novembro de 2012, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, com a presença da chanceler alemã Angela Merkel.

ADENDA - O Banco de Portugal reviu hoje em baixa as suas previsōes para a economia nacional, antecipando uma contracção de 1,6% em 2013, acima do 1% previsto pelo Governo. A nova previsão consta do Boletim Económico de Outono, hoje divulgado pela instituição liderada por Carlos Costa. (jornal PÚBLICO de 13.NOV.2012)

ADENDA 2 - Na conferência de imprensa que se seguiu à reunião dos "Amigos da Coesão", e numa resposta em inglês a uma questão colocada pela imprensa internacional, o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, afirmou hoje, em Bruxelas, que a austeridade é a única forma de ultrapassar a crise num país com um elevado nível de endividamento, como é o caso de Portugal. (DIÁRIO DE NOTÍCIAS em 13.Nov.2012)

ADENDA 3 - O primeiro-ministro Pedro Passos Coelho reagiu hoje aos dados do Instituto Nacional de Estatística que revelam que a taxa de desemprego subiu no terceiro trimestre para 15,8%, um novo recorde, face aos 15% observados no trimestre anterior, afirmando que "o desemprego é um processo pelo qual o país tem que passar". (DIÁRIO ECONÓMICO de 14.Nov.2012)

segunda-feira, novembro 12, 2012

A Chancelera Coiso e Tal

A CHANCELERA Angela Merkel veio até à periferia da sua granja para apreciar como se estavam a portar os mandriões da Lusitânia, e avistar-se durante meia dúzia de horas com alguns dos seus capatazes, contribuindo para a poluição do meio ambiente. Os portugueses, uns com protestos, outros com cartas abertas e artigos de opinião, outros ainda com refinado desprezo, cumpriram razoávelmente a sua obrigação de lhe darem a entender que não é bem-vinda.

Em resumo: ladeada pelo gauleiter Passos Coelho - uma miniatura convencida que é um gigantone - veio tirar o cavalinho da chuva, balbuciando que não tem nada a ver com a austeridade portuguesa, que não é mentora do Coelho, que estamos a reajustarmo-nos muito bem, muito embora a situação seja séria e difícil, mas que tudo indica que estamos preparados para aguentar muitíssimo mais, e coiso e tal. Na verdade, e atendendo às circunstâncias, veio fazer uma visita ao doente e desejar as melhoras.

Entretanto, sob os auspícios da febre leiloeira e privatizadora do património nacional, fica por saber o que é que os empresários alemães vieram cá comprar.

sábado, novembro 10, 2012

Um Sábado com Jorge de Sena

 
Liberdade, Liberdade, Tem Cuidado Que Te Matam

Da prisão negra em que estavas
a porta abriu-se p´ra rua.
Já sem algemas escravas,
igual à cor que sonhavas,
vais vestida de estar nua.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

Na rua passas cantando,
e o povo canta contigo.
Por onde tu vais passando
mais gente se vai juntando,
porque o povo é teu amigo.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

Entre o povo que te aclama,
contente de poder ver-te,
há gente que por ti chama
para arrastar-te na lama
em que outros irão prender-te.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

Muitos correndo apressados
querem ter-te só p´ra si;
e gritam tão de esganados
só por tachos cobiçados,
e não por amor de ti.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

Na sombra dos seus salões
de mandar em companhias,
poderosos figurões
afiam já os facões
com que matar alegrias.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

E além do mar oceano
o maligno grão poder
já se apresta p´ra teu dano,
todo violência e engano,
para deitar-te a perder.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

Com desordens, falsidades,
economia desfeita;
com calculada maldade,
Promessas de felicidade
e a miséria mais estreita.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

Que muito povo se assuste,
julgando que és tu culpada,
eis o terrível embuste
por qualquer preço que custe
com que te armam a cilada.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

Tens de saber que o inimigo
quer matar-te à falsa fé.
Ah tem cuidado contigo;
quem te respeita é um amigo,
quem não respeita não é.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

Poema de Jorge de Sena (1919-1978), escrito em Santa Bárbara (EUA), 4 de Junho de 1974

sexta-feira, novembro 09, 2012

Espírito Santo com Mão de Ferro

A PRESIDENTE do Banco Alimentar Contra a Fome, uma tal Isabel Jonet, já tinha dito, há uns tempos atrás, que o Estado deveria desvincular-se das suas tarefas de apoio social (subsídios de desemprego, rendimento social de inserção, etc.) restringindo a concessão dessas prestações a gente que, oportunísticamente, prefere a delas beneficar, mesmo que exíguas, a ter um emprego (e onde os há?), dando a entender que tal seria uma prática generalizada, o que não é verdade. Ao dizer isto, a tal Jonet que periódicamente nos vem pedir encarecidamente, que façamos a nossa solidária contribuição para aliviar a fome de quem é pobre, anda a ocultar, de uma forma astuta e demagógica, o ónus da proliferação da corrupção e oportunismo das élites e classes altas, transferindo-a para os pequenos ardis de alguns poucos aproveitadores desses benefícios sociais.

Agora volta a insistir - aproveitando os tempos de antena que as televisões lhe concedem - declarando que os pobres, afinal, levam vida de lordes, comem que nem uns alarves, divertem-se à grande e à francesa, pelo que não haverá miséria em Portugal. Afinal, os vasculhadores dos contentores de lixo que todas as noites, a partir das 22 horas, visitam o meu bairro, antes de aparecerem os carros da recolha de lixo, não passam de tarados e masoquistas. Ora não havendo miséria, era aconselhável que a dona Jonet providenciasse para que o seu Banco Alimentar Contra a Fome, em vez de recolher e distribuir alimentos aos tais pseudo-carenciados, sei lá, talvez fosse mais produtivo reconverter a sua actividade, passando a ministrar cursos de culinária.

Mas há mais: há uma grande contradição entre o que esta tal Jonet diz e o que faz, constituindo um grande mistério o que ela pensa alcançar com tão contraditório desempenho, isto é, ir dando esmola aos pobres com uma mão, ao mesmo tempo que os humilha com a outra, estando-se nas tintas para as causas e veículos da pobreza. Só falta sugerir que bons eram os tempos daqueles pobrezinhos de estimação, que recolhiam reverentemente os nossos donativos, cabisbaixos e agradecidos. Ou será que quer substituir o actual e patético Ministério da Solidariedade por um Ministério da Caridade, regulado por uns estatutos repescados do antigo Movimento Nacional Feminino, e orientado pela doutrina de que as barriguinhas devem estar minimamente aconchegadas, para que os espíritos não se revoltem? Já agora, gostava de tirar isto a limpo! É que não gosto de ser enganado por santinhas e sacerdotes, que só agora estão a mostrar o seu verdadeiro rosto, e as linhas com que se cosem.

terça-feira, novembro 06, 2012

O Queixinhas e o Encoberto

O PRESIDENTE "encoberto" Cavaco Silva recebeu António José (in)Seguro para ouvir as suas queixinhas e dar-lhe alguns conselhos. Como é habitual, da audiência pouco ou nada se soube, mas admito que o (in)Seguro tenha voltado a repetir que é adepto de uma austeridade inteligente, isto é, que se reforme o Estado Social mas sem o triturar, ao passo que o "encoberto" Cavaco lhe tenha dito mais ou menos isto: - Olhe, faça como eu: esteja atento, continue a abster-se violentamente, vá dizendo umas coisas, mas mantenha-se distante do Governo. Oh António, não se meta, deixe os rapazes trabalharem!

segunda-feira, novembro 05, 2012

Porque Valoriza o Diálogo...

António José (in)Seguro esteve reunido hoje em São Bento com o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, durante uma hora e cinquenta minutos, para uma "troika de impressões".

sábado, novembro 03, 2012

Oposição Abstencionista

EM RESPOSTA à carta que Pedro Passos Coelho enviou a António José (in)Seguro, exortando-o a colaborar na “refundação” das funções do Estado, com o concurso do FMI e do Banco Mundial, o PS (partido Seguro) respondeu que não será muleta do Governo para aviltar a dignidade nacional, dando cobertura a que estrangeiros decidam que modelo e que medidas o Estado português deve adoptar para atingir esse fim, mas, pelos vistos, também não levantará um dedo que seja para contrariar estas intenções.

Sindicalismo por Impulsos

A CGTP convocou para dia 14 de Novembro de 2012 uma Greve Geral, contra as medidas de austeridade e o empobrecimento que têm sido impostos ao país, e por novas políticas económicas e sociais. A UGT não aderiu a esta jornada de luta argumentando que é uma iniciativa sectária e divisionista, por não ter havido consultas prévias entre ambas as centrais sindicais, muito embora alguns sindicatos afectos àquela estrutura tenham aderido. É sabido que em dias de greve, todos os quadros sindicais, por força das circunstâncias e das tarefas de coordenação que lhes cabem, não têm mãos a medir em termos de trabalho, mas, curiosamente, o secretário-geral da UGT, João Proença, veio agora dizer que também fará greve, mas apenas por solidariedade individual com o seu sindicato, a FESAP, tendo dado indicações para que lhe descontem um dia de salário. Mesmo admitindo que a solidariedade é um elo muito forte e a adesão à greve um direito inquestionável, por mais que me esforce, custa-me a entender que espécie de sindicalismo é este.

sexta-feira, novembro 02, 2012

Do Estado de Direito ao Estado de Sítio

EU JÁ tinha vaticinado que este Governo não iria deixar chegar as eleições de 2015, desperdiçando a grande oportunidade que é ter um Presidente, um Governo e uma Maioria. Contornando a Constituição, e levando em frente o tão ansiado desmantelamento do Estado Social, salta agora à vista que que o objectivo é a "refundação" e "aperfeiçoamento" do Estado Pluto-Cleptocrático (dos ricos e ladrões), sob a coordenação e orientação dos ilustres Ulriches, Salgados, Borges, Ferrazes & Companhia, e com a benção do patriarca Policarpo, que aconselha os portugueses a não fazerem ondas e a terem muito respeitinho com as decisões de quem nos (des)governa, porque a santa madre igreja manda dar a outra face quando somos esbofeteados, e depois recolhermo-nos à protecção de Nossa Senhora e à paz das sacristias.

Quem quiser saúde, educação ou justiça tem que as pagar, quem quiser ter reforma ou subsídio de desemprego tem que ir falar com os bancos e as seguradoras que eles tratam disso, quem tiver fome que vá bater à porta da Caritas ou do Banco Contra a Fome, já que os impostos que pagamos servem apenas para pagar juros e amortizar os empréstimos do Estado, equilibrar as contas públicas, pagar as rendas aos amigalhaços das Parcerias Público-Privadas e pouco mais. Quanto aos salários têm que vir por aí abaixo, porque sem isso, dizem eles, o país não é competitivo nem sustentável, e quanto à Constituição, como disse o banqueiro Ulrich, não passa de uma "ditadura" que impede o país de se “modernizar” ao gosto dos capitalistas e especuladores, e tolhe os movimentos aos seus homens-de-mão da política, que "tratam da saúde" aos portugueses.

Desenganem-se os que pensam que isto é mais uma prova de incompetência, ou uma garotada de Coelhos, Relvas e Gaspares, porque não é. Eles sabem perfeitamente o que querem e para onde vão, e não olham a meios para atingirem os seus fins, mesmo que para isso tenham que tecer, à margem dos programas e promessas eleitorais, uma espécie de golpe de Estado, com o "apoio técnico" do FMI e do Banco Mundial. Ora a pergunta que faço é simples: vamos ficar a ver este banditismo acontecer?

terça-feira, outubro 30, 2012

Declaração de Guerra

O ORÇAMENTO de Estado para 2013 que o Governo apresentou à discussão na Assembleia da República, não é um instrumento para governar o país; nos seus verdadeiros propósitos é uma autêntica declaração de guerra contra os portugueses.

domingo, outubro 28, 2012

Governar à Bolina

Assim como há várias formas de navegar, também há várias formas de governar. Uma delas é à bolina, governando em desacordo com as promessas, contra a opinião pública, aos bordos, vagueando e ziguezagueando. Anuncia-se uma medida, fica-se a ver as reacções, e depois, consoante o grau dos protestos, das duas uma: ou se avança com a medida para a pôr em prática, ou se recua, fazendo-a substituir por outra, tanto ou mais gravosa que a anterior. É a táctica dos recuos simulados, para baralhar e cansar a opinião pública, esvaziando de sentido a contestação.

Como esta táctica acaba por provocar erosão no governo e nos partidos que o apoiam, o Governo socorre-se de umas quantas iniciativas para desintoxicar o ambiente, que desta vez tomou a forma de uma pequena remodelação de secretários de Estado, seguida de umas jornadas parlamentares conjuntas do PSD e do CDS-PP, evento profusamente transmitido em directo para dentro das casas dos portugueses, para dar a ideia de que, custe o que custar, a unidade da coligação está restaurada, todos estão determinados a levar a coisa até ao fim e que tudo corre às mil maravilhas. Ontem, essa jornada parlamentar acabou com uns apelos lancinantes do primeiro-ministro para que o PS (partido (in)Seguro) abandone a ideia da austeridade inteligente e as respectivas abstenções violentas, apoiando a cruzada que o Governo tem em curso, para acabar de espatifar o país e o Estado Social. Entretanto, António José (in)Seguro fez de conta que não percebeu e pediu mais explicações: - Olha lá ó Coelho, explica cá à gente, tim-tim por tim-tim, o que é isso da refundação do acordo com a troika, que permita fazer uma profunda reforma do Estado... Não me digas que estás a pensar numa maioria de 2/3 para acabar - usando a expressão do banqueiro Fernando Ulrich - com a "ditadura" da Constituição?

quarta-feira, outubro 24, 2012

O Que Dizem os Filmes


“Grandes coisas têm pequenos começos”

Citação do robot andróide David (Michael Fassbender) no filme Prometheus de Ridley Scott

terça-feira, outubro 23, 2012

Casa dos Segredos em Versão RTP

«A PRIMEIRA DECISÃO DA NOVA ADMINISTRAÇÃO DA RTP foi contratar uma agência de comunicação. Eu pensava que toda a RTP servia para “comunicar” pelo que não precisava de agências de comunicação para nada. É como se um jornal contratasse assessores de imprensa. A não ser que o jogo seja outro.» 

Post de José Pacheco Pereira no seu blog ABRUPTO em 22 de Outubro de 2012. O título deste post é de minha autoria.

domingo, outubro 21, 2012

Exportações de Vento em Popa

«(...)
Na verdade, o ministro [Victor Gaspar] disse mais: o povo português é o melhor povo do mundo e o maior activo de Portugal. Portanto, do ponto de vista económico, fazem todo o sentido os incentivos do Governo à emigração: qualquer país procura exportar o seu maior activo. Quando se diz que Portugal não é forte na produção de bens transaccionáveis, tal não é verdade. Produzimos povo muito bom (o melhor do mundo, aliás) e exportamo-lo cada vez mais. Não admira. Quem quer povo, em princípio, não se contenta com menos do que o melhor, e isso explica o apetite dos mercados internacionais pela nossa produção de gente.

(...)»

Excerto da crónica de Ricardo Araújo Pereira, intitulada "Miss Povo 2012" e publicada na revista VISÃO de 18 de Outubro 2012. O título do post é de minha autoria.

Meu comentário: Ao Ricardo faltou dizer que este “povo melhor do mundo”, mesmo não sendo exportado, isto é, “convidado” à emigração, enquanto por cá anda a arrastar as botas, também tem os seus simpáticos atractivos, ao ser compelido a despejar os bolsos, generosamente e sem um queixume, ao grito de “mãos ao ar!”, desde que não seja indigente (pois não pode ser taxado quem não tem recursos) ou muitíssimo rico (pois não deve ser taxado quem acautela a sua fortuna, fazendo-a emigrar para os paraísos fiscais, ou então investe de forma tão patriótica e abnegada, tudo o que tem, na reanimação económica da pátria).

sábado, outubro 20, 2012

Manuel António Pina

NO MEIO das desenfreadas pobrezas que nos perseguem, Manuel António Pina (1943-2012) deixou-nos mais ricos.

Caricatura da autoria de Fernando Campos, no seu blog O SÍTIO DOS DESENHOS

quarta-feira, outubro 17, 2012

Mais Conselheiro Borges

DIZ o jornal PÚBLICO que António Borges, o preclaro consultor do Governo para as privatizações veio em defesa do ministro das Finanças para dizer que Víctor Gaspar é "muito bom" e que é uma "sorte enorme" tê-lo como ministro português, isto depois do FMI ter apontado para 2013, uma contracção do PIB que poderá chegar aos 5,3%, ao passo que o tal ministro "muito bom" apenas arriscou um patético e simplório 1%. É caso para dizer que, sorte, sorte teve o Ali Bábá que só teve que enfrentar 40 ladrões...

Entretanto a coligação PSD/CDS-PP, já não foi tão bafejada pela sorte como os ingratos portugueses, pois os malefícios financeiros do sonso Gaspar têm gerado mau ambiente no seio daquela união de facto, que passou a comportar-se como um casal à beira da ruptura. Já não conversam, aparecem de cenho carregado, cada um anda para seu lado, não dormem juntos, rasteiram-se à boca-pequena, mordem-se à socapa, ao mesmo tempo que se vão desdobrando em declarações, dizendo que está tudo bem, que estão de boa saúde, apenas para manter as aparências. Por este andar não falta muito que o Borges seja chamado para dar uma mãozinha à esfrangalhada coligação, desta vez como conselheiro matrimonial.

«Ó Imaginativo Gaspar, Assim Também Eu»

«Não acredito que se possa dizer, como Vítor Gaspar, que não há alternativa, que nada é possível para além deste Orçamento. Se essa é a disposição do ministro, se essa é a melhor coisa que tem para dizer, não demonstra nem grande inteligência política nem grande maleabilidade. Se perante o desafio, que é passar o défice para 4,5%, nada lhe ocorre - mas mesmo nada - senão taxar brutalmente em sede de IRS (justamente os que não podem fugir ao fisco), posso dizer-lhe que assim também eu - e tenho tanto currículo para ministro das Finanças como, digamos, Miguel Relvas.

Os impostos são mortais. São como dizia Benjamin Franklin, a única coisa que, em conjunto com a morte, temos por certo na vida; Churchill acrescentava que não há nada a que se possa chamar 'um bom imposto' e o velho Milton Friedman, da escola de Chicago, alertava que cada vez mais os que trabalham pagam impostos para os que nada produzem. Mas Platão, há 2.500 anos já avisava: os justos pagarão mais impostos do que os injustos, mesmo que tenham o mesmo rendimento.

Esta história não é nova. O que é inteiramente inesperado é que a mão pesada dos Governos - mais à direita ou mais à esquerda - recaia sempre sobre os mesmos: aqueles que se esforçam e trabalham. E que os responsáveis, feitas as contas, ainda nos venham dizer que é essa a única alternativa.»

Comentário de Henrique Monteiro no EXPRESSO online em 16 de outubro de 2012.

Meu comentário: Se é com isto que Victor Gaspar faz conta de retribuir ao país a caríssima educação que teve, cá por mim dispenso tal obséquio.

domingo, outubro 14, 2012

O Cúmulo da Ignomínia e da Pouca Vergonha

O SUBSÍDIO de desemprego passa a pagar 6% de TSU. Com isto o governo de Pedro Passos Coelho faz aquilo que a maioria dos ladrões não fazem: roubar os pobres e necessitados.

quinta-feira, outubro 11, 2012

Vandalismo Neoliberal

AO MESMO tempo que diz querer mitigar o aumento de impostos, o Governo avançou com mais medidas penalizadoras dos trabalhadores, quer ao propor o despedimento de perto de 50.000 trabalhadores contratados a prazo na Administração Pública, como forma de diminuição da despesa pública, potenciando uma baixa generalizada do nível dos salários, tanto no sector público como privado, quer ao fazer subir a idade da reforma na função pública para os 65 anos, já no próximo ano, numa antecipação de dois anos face ao que estava acordado.

Se a primeira é o maior despedimento colectivo de que há memória, já a segunda, bem podem dizer que promove a equidade relativamente à idade de reforma do sector privado, que vai aumentar em dois anos as contribuições para a emagrecida segurança social, a qual se encontra descapitalizada devido aos desvios dos seus fundos para outros fins, pois a verdade é que a medida desrespeita um regime de transição anteriormente acordado, com isso sabotando os projectos de vida de milhares de trabalhadores, e adiando a renovação dos quadros na função pública, com a nefasta consequência de acabar por ser uma medida que vai aumentar o desemprego, restringindo a entrada no mercado de trabalho aos jovens.

quarta-feira, outubro 10, 2012

Alice (Vieira) no País dos Enganos


IMAGINEMOS que Alice ia a passear pelo campo, tropeçou num buraco e foi sugada para o País dos Enganos, onde as bandeiras são hasteadas de pernas para o ar, onde há um Coelho dos Passos, um Gato das Relvas e um Chapeleiro Gaspar que fazem a cabeça em água ao povo das Formigas, mais um Rei de Copas que devora bolo-rei confeccionado pela Cigarra Soprano, e uma Rainha de Copas chamada Conceição, que por tudo e por nada grita "foi engano!", fingindo dirigir uma orquestra de sapateiros anões que tocam rabecão, e que nas horas vagas se dedicam a escolher livros, mesmo sem os lerem, para as criancinhas se cultivarem, cantando um-dó-li-tá e escolhendo à sorte sobre uma lista de títulos...

PASSADO o devaneio da ficção, regressemos à realidade, para constatar que o livro de poesia para adultos "O que dói às aves", de Alice Vieira (mais conhecida pela sua obra dedicada a crianças e adolescentes) foi recomendado pelas sumidades intelectualóides do Plano Nacional de Leitura, para crianças de sete e oito anos. Só depois de a autora ter denunciado, escandalizada, que aquela obra não se destinava a crianças e adolescentes, dado ter um conteúdo dirigido a adultos já bem crescidinhos, a dita foi retirada da lista de obras que o organismo considerava aconselháveis para a iniciação na literatura portuguesa. Isto significa que até no aconselhamento e iniciação literária dos jovens, o país entrou em colapso. Foi um engano, disse a coordenadora, que afinal não coordena coisa nenhuma. É fácil de perceber que o serviço está entregue a uma equipa de trolhas pseudo-intelectuais, que manejam as suas escolhas ao deus-dará, sem sequer se darem ao trabalho de consultar as badanas e contracapas das obras eleitas, quanto mais de as abrir ou soletrar. Isto é o resultado que dá ter ministros da Educação a quedarem-se com sorrisos patetas nos lábios, a verem a banda passar, como se isto não tivesse nada a ver com eles.