quinta-feira, janeiro 12, 2012

Sete Meses Depois…

… O ESTADO do protectorado está, em traço grosso, mais ou menos assim:
 
O secretário de Estado da Juventude, Alexandre Miguel Mestre, começou por aconselhar os jovens a deixarem a sua zona de conforto, isto é, o desemprego, a arrumarem a mochila e a emigrarem. A seguir veio o senhor primeiro- ministro suplente reforçar a dose, convidando os professores a emigrarem, indo fazer pela vida noutros países de expressão portuguesa. Logo a seguir tomou a palavra o pitoresco eurodeputado Paulo Rangel, sugerindo a criação de uma loja de emigração, humanizando assim a forma de recambiar os portugueses para o estrangeiro, como quem diz, se aqui não há trabalho, todos daqui para fora, já! A Jerónimo Martins, como quem não quer a coisa, seguiu o conselho e foi capitalizar para a Holanda. Antes foi a crise internacional, depois foi a tirania dos mercados, agora é a troika que não dá tréguas, com os zelosos feitores PSD/CDS-PP a obedecerem, chegando mesmo a superarem as expectativas mais exigentes dos fiscais da União Europeia, e por isso a receberem rasgados elogios e palmadinhas nas costas.

Entretanto, foi montada uma telenovela com muitos episódios, intrigas e confusão a rodos, em que o ministro das Finanças diz uma coisa, o senhor primeiro-ministro suplente Passos Coelho o seu contrário, para logo a seguir os protagonistas serem rendidos, cabendo a vez ao esplendoroso senhor primeiro-ministro efectivo José Relvas dizer coisas, que logo a seguir são desmentidas pelo governador do Banco de Portugal ou pelos relatórios do Instituto Nacional de Estatística. Vamos ter que tomar mais medidas! Qual quê, não vão ser precisas mais medidas! A recessão vai-se agravar! Nada disso, a recessão bater em retirada! Vejamos um caso concreto: o ministro das Finanças declara que a transferência dos fundos de pensões da banca não vai ter encargos para os portugueses (oh, que alívio!); horas depois o Banco de Portugal vem dizer que a transferência daqueles fundos implica um aumento de despesa pública, o que poderá obrigar à adopção de medidas de consolidação adicionais (oh, que caraças!). Alternar protagonistas, trocar papéis, dizer e desdizer, garantir e desmentir, para confundir a opinião pública, parece ser o objectivo destes cavalheiros. Com Sócrates andávamos a flanar no paraíso virtual, com Passos Coelho vivemos no hotel da barafunda. Quanto à senhora Manuela Ferreira Leite, introduziu na telenovela, um momento particularmente dramático . Sugeriu ela que a partir dos 70 anos de idade, ou pagamos o serviço ou não temos direito a fazer a hemodiálise. Esqueceu-se, contudo, de acrescentar que se suspendermos a democracia - como ela em tempos vaticinou - nem vale a pena perguntar a idade aos doentes hemofílicos. Vão todos para casa e seja o que zeus quiser.
Para compor o cenário, os tachos das empresas e organismos públicos continuam a mudar de mãos, com os galfarros do PSD e do CDS-PP a fazerem o papel de figurantes da tal telenovela, disputando os lugares em aberto, à razão de cem cães a um osso. Luís Montenegro, líder parlamentar do PSD, tem a seu cargo a partitura e os arranjos da música de fundo.

Quanto ao PS (partido Seguro), não se percebendo bem se é da situação ou se está na oposição, continua a investir num comedido arrastar de pés, para que caia no esquecimento que foi ele quem acabou o trabalhinho de espatifar o país, que abriu o caminho à crise, que foi ele quem chamou os salteadores da troika, quem lhes entregou as chaves da casa e os códigos do multibanco, para eles levarem o que lhes apetecesse. Agora, uma vez por outra, lá vai dizendo que está inconsolável, mas que é preciso manter os compromissos assumidos, para que não nos apelidem de irresponsáveis e caloteiros, ao mesmo tempo que vai deixando que o país seja despejado, até só sobrarem os contornos do mapa.

Já o senhor presidente Cavaco, lamuriento e com aquela expressão compungida de santinho de pau carunchoso, como se não tivesse nada a ver com o que se está a passar, vai cantando as Janeiras e semana sim, semana não, vem lembrar-nos que Portugal é maior do que a crise que vivemos (oxalá!), que os Portugueses conseguem ultrapassar-se a si próprios (sobretudo se forem pela direita), que é preciso fazer sacrifícios e arranjar muita paciência. Nos tempos livres vai garatujando umas opiniões redondas e uns conselhos práticos no Facebook, porque a função exige tirar partido da coisa, e viva o velho.

quarta-feira, janeiro 11, 2012

Uma Quarta-Feira com Viriato Soromenho Marques

Todos Contra Todos

Transcrição integral do artigo de opinião de Viriato Soromenho Marques, publicado no jornal DIÁRIO DE NOTÍCIAS de 5 de Janeiro de 2012. Tal como foi publicado, o texto respeita o novo Acordo Ortográfico. A foto é de Klaus Regling, CEO do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF).

«Se o BE tiver razão, 19 das 20 empresas do PSI-20 estão localizadas para efeitos fiscais fora de Portugal. Virgínia Alves explicou bem, no DN de 3 de janeiro [ontem], como a família Soares dos Santos, detentora de 56% do grupo Pingo Doce, realizou, às claras, uma das maiores fugas ao fisco da história portuguesa. No penúltimo dia de 2011, fugiram para a Holanda 4,6 mil milhões de euros, o que ridiculariza o investimento chinês com a aquisição da parte que o Estado detinha na EDP. Recentemente, ficámos a saber que a própria CGD tinha interesses num paraíso fiscal situado nas Ilhas Caimão, num curioso jogo de masoquismo fiscal do Estado português. A Holanda, utilizando a anarquia fiscal europeia, vai recolhendo os dividendos de um esforço que não lhe pertence. A Alemanha, escudada na retórica luterana da sua chanceler, vai beneficiando do pânico que ela própria fomenta. Com efeito, uma das razões pelas quais o euro continua bastante forte reside no facto de a maioria dos capitais que fogem da Grécia, de Portugal, da Itália ou da Espanha não serem transformados em dólares, libras ou ienes, mas sim em euros que transitam da periferia em crise para bancos e fundos de investimento na Alemanha. Entre 2010 e 2012, Portugal vai pagar 21 mil milhões de euros em juros. Não admira que Klaus Regling, o chefe alemão do FEEF, recorde aos seus compatriotas que os resgates têm sido um ótimo negócio para a economia alemã. A Europa está a tornar-se um sítio pouco recomendável. Quem hoje manda parece querer transformar aquele que foi um projeto orgulhoso e exemplar num gigantesco "estado de natureza". A história mostra que onde o federalismo falha, a guerra nunca falta aos seus compromissos.»

terça-feira, janeiro 10, 2012

Aventais e Cilícios

TODA a turbulência que tem girado à volta dos casos associados com o secretismo e obscuridade das lojas maçónicas, sejam elas a Mozart49, a Salieri94 ou a Debussy63, das traficâncias e relações pouco recomendáveis que lá se cultivam, é uma questão menor e insignificante, na medida em que não passa de uma manobra de diversão para ocultar o problema principal do país, que é o desmantelamento do estado social, e a austeridade espoliadora a que os portugueses estão a ser sujeitos. Tudo o que nos distraia destas questões centrais são sempre bem vindas pelo Governo, venham elas das reviravoltas do campeonato da Liga, da barafunda provocada pela implementação da Televisão Digital Terrestre, do caso Duarte Lima, do julgamento do “rei Ghob” ou da teia de relações que possa existir entre membros da Maçonaria. Vendilhões, espiões e centuriões que, por entre jogos de bastidores, têm o péssimo hábito de se servirem das influentes posições que ocupam em orgãos de Estado e do aparelho administrativo, para, impunemente e sob protecção, mercadejarem informações previligiadas com o exterior, sempre os houve, e não apenas no recato das lojas maçónicas. Nesta matéria, o virtuosismo português, chega ao ponto de a corrupção envolvendo banqueiros e negócios de sucateiros, acabar por ganhar ramificações com tentativas de aquisição de estações de televisão, patrocinadas pelo Governo.

Em Portugal, a Maçonaria e a Carbonária Portuguesa foram determinantes na queda da monarquia em 1910, e durante a ditadura salazarista a Maçonaria até desempenhou um significativo papel de resistência passiva ao regime. Se não forem infiltradas ou tomadas de assalto por criminosos e malfeitores, como foi o caso da loja P2 (Propaganda Due), na Itália dos anos 80, e que deu origem à operação “mãos limpas”, as lojas maçónicas são grémios semi-clandestinos, autênticos viveiros de clientelas, onde sempre se conviveu, conspirou, intrigou, onde se trocam favores e cartões de visita, se fazem combinações e ajustes de contas, se tecem alianças e se criam laços de interesses, é certo que nem sempre com os mais inocentes objectivos. As lojas maçónicas fazem parte de um pequeno-grande mundo, que engloba partidos políticos, confissões e seitas religiosas - quiça a Opus Dei -, grupos jantaristas e tertúlias disto e daquilo, uns mais fechados que outros, todos sujeitos a deserções e infiltrações, por onde vai passando gente digna e respeitável, e outra não tanto, que se sentem ligados por interesses comuns. Na verdade, se alguém está decidido a conspirar, corromper ou traficar, tanto o pode fazer ali, na quietude das celas dos retiros espirituais ou na penumbra das lojas de pedreiros, como nos parques de sucata ou na balbúrdia da Feira da Ladra, debaixo das tendas de roupa de contrafação.
 
O verdadeiro problema é outro, e não tem nada a ver com aventais, esquadros, compassos ou cilícios. Tem a ver sim, não só com o grande e opaco mundo da corrupção e venalidade, que campeiam por todo o tecido da sociedade, mas sobretudo, com aqueles que sabendo o que se passa, e tendo meios e poder para o travarem, o sustentam, o lubrificam, fechando os olhos, assobiando para o lado, fazendo-se desentendidos e deixando correr o marfim. Em casos extremos, lá simulam mudar qualquer coisinha, mas apenas para que tudo, no essencial, continue na mesma. É a velha questão da promiscuidade entre o poder político e o poder económico, feito umas vezes às escâncaras, e outras de forma mais recatada e dissimulada, de que se continuam a alimentar os grandes interesses privados, com grande prejuízo para os interesses da colectividade, enquanto nação.

domingo, janeiro 08, 2012

Amargo e Doce

FRANCISCO Soares dos Santos, patrão da Jerónimo Martins (Pingo Doce) veio confessar para a TV que exportou os capitais para a Holanda, apenas e só porque o sistema fiscal português não tem estabilidade nem é de confiança, e também porque precisa de facilidades de financiamento para os seus investimentos, coisas que não existem em Portugal. É caso para perguntar: ainda quer mais isenções, privilégios e facilidades?

Como é óbvio, os motivos invocados não me convencem. Deixo a resposta ao cuidado do Fernando Campos, autor do blog O SÍTIO DOS DESENHOS, pois não consigo resistir aos certeiros, cruéis e oportunos retratos que ele traça, tanto com o pincel como com a caneta. São uma delícia para trazer debaixo de olho. No caso presente, apreciem AQUI, como aquilo que é doce, pode pagar tão pouco.

sábado, janeiro 07, 2012

Pas(s)os Doble e Canções de Embalar


PEDRO Passos Coelho afirmou que 2012 é um ano de viragem económica para o país. 

Depois da canção de embalar vieram os pas(s)os doble, e a viragem económica está mais uma vez à vista: quase 15 mil pensionistas, detentores de pensões acumuladas da Segurança Social e outras entidades nacionais ou estrangeiras, alguns deles com pensões abaixo dos 550 euros, vão ter o valor da pensão reduzido, com cortes de 21,5%. Com este assalto aos pensionistas, o governo demonstra ser cobardolas, pois escolhe como alvo o sector mais frágil, menos organizado, logo com menor poder reivindicativo. Para sacudir a água do capote, o ministério do homem da Vespa veio dizer que a lei que permite mais este esbulho remonta a 2007 e é da autoria do governo de José Sócrates (só que foi aprovada pela maioria PS e PSD), tendo-se escusado a divulgar o critério usado para os cortes, que se suspeita terem sido cegos,

Dizem os especialistas que Portugal não é a Grécia. De acordo, mas por este andar vai ser muito pior. Os meninos do governo que continuem a esticar a corda, e depois não se queixem!

sexta-feira, janeiro 06, 2012

Admirável Teixeirismo

O EXECUTIVO da Câmara Municipal de Loures, numa sessão camarária presidida pelo presidente da autarquia, senhor Carlos Teixeira, aprovou com os votos a favor do PS, e contra da CDU e do PSD, a atribuição do nome daquele mesmo senhor Carlos Teixeira, a uma das artérias que dá acesso ao novo Hospital Beatriz Angelo.

Todos os narcisistas, pacóvios e pantomineiros de alto calibre necessitam de se auto-elogiar  com iniciativas deste tipo, a fim de elevarem a sua auto-estima e tentarem entrar, sorrateiramente, pela porta dos fundos, num qualquer livreco de historietas. Avelino Ferreira Torres, ex-autarca de Marco de Canavezes e celebridade falhada, fez escola e deixou seguidores, porém, a História, naturalmente, não os recordará!

Este presidencial delírio está mais bem contado AQUI e AQUI

ADENDA – Diz-me um amigo melhor informado que a tal sessão camarária não foi presidida por Carlos Teixeira, fazendo-se substituir, o que dá para perceber. Seja assim ou assado, faça-se o esclarecimento, em abono da verdade a que temos direito.

Piñera Lava Mais Branco


O CONSELHO Nacional de Educação do governo chileno de Sebastian Piñera, alterou para "regime militar" a denominação com que era identificada nos manuais escolares a ditadura do general Augusto Pinochet, que governou o Chile, entre 1973 e 1990, debaixo de uma brutal e sanguinária repressão política, que se saldou pelo desaparecimento de 3.225 cidadãos, além da prisão e tortura de mais de 37.000 pessoas.
A senadora Isabel Allende, filha do Presidente Salvador Allende, deposto pelo golpe militar que levou Pinochet ao poder, insurgiu-se contra esta tentativa de branqueamento da História Chilena, recordando que o que assolou o Chile, durente 17 anos, foi uma ditadura feroz, com as mais graves violações dos direitos humanos, com perseguições, assassínios, desaparecimentos e a total ausência de liberdade.
Na verdade, de norte a sul e de leste a oeste, amaciar a linguagem dos manuais escolares costuma ser o primeiro passo que é dado para falsificar a História, lavando o rasto de sangue e ignomínias, deixado à sua passagem, pelos ditadores e seus sequazes. 

quarta-feira, janeiro 04, 2012

Registo para Memória Futura (57)

«Nós confiamos totalmente na apreciação do Senhor Presidente da República. Seja num sentido ou noutro nós estamos completamente de acordo.»

Declaração de António Zorrinho, líder parlamentar do PS (partido Seguro), sobre as dúvidas de constitucionalidade que a Lei do Orçamento de Estado teria suscitado ao Presidente da República, e que levaria (ou não) ao pedido de submissão da mesma à fiscalização sucessiva do Tribunal Constituicional. A Lei do Orçamento de Estado acabou por ser promulgada pelo Presidente em 30 de Dezembro de 2011, sem qualquer pedido de averiguação da sua constitucionalidade, acabando por ir ao encontro da atitude de neutralidade colaborante que o PS escolheu.

terça-feira, janeiro 03, 2012

Emigrantes

HORAS antes de 2011 terminar, e acolhendo a ideia de emigração que o Governo tem vindo a cultivar, a família Soares dos Santos, accionista maioritária do Grupo Jerónimo Martins (proprietário da cadeia Pingo Doce) entusiasmou-se e deu o exemplo, embora por outras razões. Para fugir aos impostos portugueses, abdicou do patriotismo e deslocalizou toda a sua massa accionista (353 milhões de acções) para a sua subsidiária na Holanda, passando assim a beneficiar de uma fiscalidade muito mais benévola. Horas depois de ter sido levada a cabo esta manifesta operação de exportação de capitais, num país que está a ser vendido a retalho e a preços de saldo, o discurso de Cavaco Silva, na mensagem de Ano Novo, reclamando maior equidade fiscal, uma mais justa repartição dos sacrifícios e apelando ao repúdio da ganância e dos lucros fáceis, mais do que cair em saco roto, deixou a pairar no ar um nauseabundo cheiro a hipocrisia.

domingo, janeiro 01, 2012

A Dinâmica do N.A.O. (*)


LUÍS de Camões, Alexandre Herculano, Eça de Queirós, Fernando Pessoa, José Gomes Ferreira e Sophia de Mello Breyner Andresen - e isto só para citar alguns nomes da literatura portuguesa, entre muitos mais - nunca imaginaram que a expressão linguística, catapultada pelo Novo Acordo Ortográfico (N.A.O.), chegasse tão longe, à beira de nos considerarmos criadores de uma espécie de “novilíngua”.

A "coisa" é tão dinâmica e intuitiva que até foi necessário publicar um "Guia prático para perceber o Acordo Ortográfico", promovido pela revista VISÃO, a fim de que o cidadão comum consiga entender os fundamentos da "coisa", nomeadamente determinadas opções ortográficas, ou ainda a introdução das chamadas "facultatividades", isto é, a possibilidade da mesma palavra ter mais do que uma grafia permitida, o que não deve ser confundido com o criativo neologismo.

Quanto a mim, vou continuar a ignorar o Novo Acordo Ortográfico, exprimindo-me, o melhor que sei, segundo as regras do antigo modelo. Não é que eu seja contra acordos ortográficos, ou hostil a inovações, mas uma coisa são acordos com cabeça, tronco e membros, e outra são aberrações e piruetas linguísticas que descaracterizam o instrumento com que nos devíamos entender. 

(*) Novo Acordo Ortográfico

sábado, dezembro 31, 2011

Entrevista em Cima do Ano Novo


Pergunta – Diga-me, por favor, qual é o seu maior desejo para 2012?

Resposta – Que o Governo vá para o desemprego, tão depressa quanto possível...

terça-feira, dezembro 27, 2011

Entrevista à Beira do Novo Ano

Pergunta - O que acha da perspectiva apontada por Pedro Passos Coelho de que 2012 irá ser um ano de grandes mudanças?

Resposta - Acho bem, desde que o Governo se mude todinho, para o deserto de Gobi... 

segunda-feira, dezembro 26, 2011

Maus Hábitos, Bons Recursos e Notáveis Excepções


Caso 1 - Um homem de 35 anos, desempregado e com um filho, foi condenado a dois anos de prisão efectiva por roubar fio de cobre e conduzir sem carta, de acordo com um acordão do Tribunal Judicial de Setúbal. (in DIÁRIO DE NOTÍCIAS on-line)

Caso 2 - Mantendo um (mau) hábito que, por regra, aparece sempre associado a casos mediáticos, envolvendo personalidades graúdas da vida política nacional, e não só, Fernando Pinto Monteiro, o sempre atento procurador-geral da República, por suspeita de ter havido fuga de informação, ordenou a abertura de um inquérito disciplinar, pensa-se que ao procurador Rosário Teixeira, responsável pela investigação do caso Duarte Lima, implicado no caso BPN. Depois das primeiras reacções à notícia, a procuradoria-geral da República veio esclarecer (ou rectificar) que o inquérito foi dirigido “contra incertos”, e não contra qualquer procurador em especial. 

Caso 3 - Isaltino Morais anda há oito (8) anos a contas com um processo judicial, pelos crimes de participação económica em negócio, corrupção passiva, branqueamento de capitais, abuso de poder e fraude fiscal. Em 2009 é condenado a sete (7) anos de prisão e à perda do mandato autárquico, como presidente da Câmara Municipal de Oeiras, tendo recorrido da sentença para a segunda instância. O resultado é a redução da pena para dois (2) anos e a anulação da perda de mandato. É avançado novo recurso para o Supremo Tribunal de Justiça, com o objectivo de anular a pena de prisão efectiva, o que não se verifica, e pelo contrário, sobe para o dobro a indemnização cível a que Isaltino estava sujeito a pagar. Em Setembro de 2011 é detido pela PSP, no cumprimento de um mandado de detenção, para menos de 24 horas depois ser libertado, por existir (mais) um recurso pendente. O recurso é negado. Isaltino pede o afastamento da juíza, o que é também negado. Entre maus hábitos e muitos e bons recursos, a justiça portuguesa continua sem ver que os pesos e medidas estão adulterados. Assim, Isaltino continua em liberdade, empenhado em desmantelar o processo, e risonho recomenda-se, com os vários crimes de que é acusado, à beira da prescrição.

Caso 4 - Uma magistrada que se encontrava com baixa médica e hospitalizada, devido a intervenção cirúrgica recente, contrariando o conselho médico, regressou ao Tribunal de Aveiro, por sua conta e risco, para retomar os trabalhos relacionados com o julgamento do processo Face Oculta. Evitou assim que a interrupção das diligências, motivadas pela sua ausência, levassem à anulação das 11 sessões do julgamento já realizadas, obrigando à repetição dos depoimentos para a produção de prova.

Conclusão - Oscilando entre o muito bom e o péssimo, o Ministério Público e a Justiça portuguesa, vagamente independentes do poder político, e com a Procuradoria-Geral da República pelo meio a ajudar à festa, são casos patológicos de incoerência, pois nunca sabemos o que dali pode sair… Não admira! Começa com os copianços nos exames do Centro de Estudos Judiciários, e acaba (até ver), não só no arquivamento dos processos de licenciaturas fraudulentas (dizem que por falta de provas), como também na destruição de escutas telefónicas (suspeita-se que por terem provas a mais), as quais eram denunciadoras de atentados contra o Estado de direito.

sábado, dezembro 24, 2011

Feliz Natal


Natividade

Paula Rego, 2002
Pasta s/papel, 54x52 cm - Capela do Palácio de Belém

Um Sábado com Daniel Oliveira - Facebook is watching you

MINHA INTRODUÇÃO – Embora já não dispense o E-MAIL como forma de comunicação por excelência, querem saber porque nunca fui grande adepto do FACEBOOK, do TWITTER e outras redes sociais? A resposta está mais à frente! Se é certo que nada tenho a esconder (quem sou, o que faço e o que penso, são do domínio público), não me sinta particularmente ameaçado, nem sequer seja uma pessoa muito medrosa (pois já passei várias vezes pelos túneis e subterrâneos do "castelo-fantasma"), há engrenagens que me deixam de pé atrás, pois parece que nos tempos que correm tudo tem custos dissimulados, ou como diria o senhor Afonso da mercearia cá do bairro, tudo tem um preço, e não há almoços grátis. O artigo que se segue, da autoria de Daniel Oliveira e publicado no EXPRESSO Online, confirma as minhas suspeitas e talvez responda às vossas dúvidas. 

Facebook is watching you 

Por Daniel Oliveira

«Max Schrems é um estudante de direito, austríaco, de 24 anos. Por curiosidade, fez o que a nenhum de nós ocorreu: quis saber que informações tinha a empresa Facebook sobre ele, mesmo depois de ter deixado de ser membro daquela rede social. Ou seja, depois de sair da rede, o que lá tinha ficado. 

Os seus piores receios foram largamente ultrapassados pela realidade: estava lá tudo. Depois de muitas pressões e ameaças recebeu, talvez por desleixo, diretamente da Califórnia, um CD com toda as informações que a empresa mantinha: 1.200 páginas (quando impressas) de dados pessoais, divididos por 57 categorias, recolhidos ao longo dos três anos em que esteve na rede. Como o próprio recorda, nem a CIA ou o KGB alguma vez tiveram tanta informação sobre um cidadão comum. 

Até mensagens trocadas com outros utilizadores, que ele entretanto apagara e julgava terem desaparecido, lá estavam, guardadas na base de dados da empresa. É como se um Estado abrisse toda a correspondência dos seus cidadãos e fosse guardando todas as informações. Tudo, desde que alguma vez tenha sido referido (em público ou em mensagens privadas), podia ser encontrado. Desde a orientação sexual à participação em manifestações políticas. Basta procurar através de palavras-chave. Multipliquem isto por 800 milhões de utilizadores em todo o Mundo. E lembrem-se que a timeline recentemente criada por Zuckerberg reduziu ainda mais a privacidade destas pessoas. 

É claro que tudo isto viola as leis europeias para bases de dados. Não seria um problema para a empresa, já que as leis americanas dão menos garantias na defesa do direito à privacidade dos cidadãos. Acontece que o Facebook tem, provavelmente para fugir aos impostos (que na Irlanda são muito "simpáticos" para as empresas), uma segunda sede em Dublin. Ou seja, pelo menos os usuários europeus estão defendidos pelas leis da União. Por isso, o jovem Max recolheu, na sua página Europe versus Facebook, 22 queixas contra a empresa e enviou-as à Autoridade Irlandesa de Proteção de Dados. E tem uma base legal sólida: nenhuma empresa pode guardar informação que foi apagada pelos seus detentores legais (que é cada um de nós). E a prova de que o faz tem Max Schrems naquele CD. Garante a empresa que terá sido um engano. O comissário irlandês para a proteção de dados está a investigar se aconteceu a extraordinária coincidência da única pessoas que conseguiu a informação armazenada sobre si ter recebido tão exaustivo material sobre a sua própria vida. 

Diz-se, com razão, que manter uma ditadura é mais difícil na era da Internet. Basta ver a recente onda de liberdade que varreu o mundo árabe para o confirmar. A censura (recordo a Wikileaks, que também mostrou as enormes fragilidades da segurança e da privacidade na Internet) é mais difícil, assim como a manipulação política. Mas tudo tem o reverso da medalha. Se é verdade que a liberdade de expressão nunca teve tão poderoso instrumento nas mãos, as tentações securitárias também não. Nem a STASI, uma das mais meticulosas polícias políticas da história, conseguiu alguma vez saber tanto sobre os cidadãos como algumas das empresas em que parecemos depositar tanta confiança. 

A esmagadora maioria das empresas não se regem pelo respeito pela democracia, pelos direitos cívicos ou por quaisquer valores políticos e morais. E estão dispostas a abdicar de quase tudo se o seu lucro estiver em perigo. Basta recordar como, durante demasiado tempo, a Google colaborou com a censura na China e como só a pressão de muitos "clientes" a levaram a recuar para não depositar grandes esperanças nestas multinacionais da era moderna. Não sei se alguma vez as informações que o Facebook tem sobre centenas de milhões de cidadãos serão fornecidas a Estados, anunciantes ou seguradoras. Sei que o mesmo poder que recusamos a Estados democráticos, sujeitos a leis e ao escrutínio público, temos de recusar, por maioria de razão, a qualquer empresa. 

É claro que já não dispensamos o uso da Internet e das redes sociais. Mas temos de aprender a viver com elas.Obrigando estas empresas a cumprir as mesmas leis que exigimos a todos e deixando de viver na ilusão de que estes espaços públicos, detidos por empresas, são privados. Ou um dia ainda nos arrependeremos amargamente da nossa tonta boa-fé.»

Publicado no EXPRESSO Online

MINHA CONCLUSÃO – Já que o Daniel Oliveira falou da colaboração que a Google aceitou manter com o governo chinês, no cerceamento da liberdade de informação, talvez seja oportuno relembrar que a multinacional IBM, entre 1930 e 1940, forneceu uma extensa panóplia de equipamentos informáticos, bem como a respectiva assistência técnica, ao III Reich de Adolf Hitler (*), cuja finalidade era efectuar o registo e recensamento dos judeus, e com isso optimizar e simplificar a consequente operação de extermínio, conhecida por Solução Final ou Holocausto. E a IBM, embora soubesse a que fim se destinavam os seus equipamentos, bem como a sua esforçada e continuada colaboração, fechava os olhos, porque negócios são negócios, e os pregaminhos morais não são para aí chamados. De facto, não é hábito dos grandes capitalistas e negociantes, andarem de braço dado com a moral, e sobretudo com os direitos humanos.

Nos dias de hoje, as tecnologias da informação e a Internet são, de facto, responsáveis por um grande salto, tanto quantitativo como qualitativo, na divulgação das ideias e na aproximação das pessoas, mas o facto dessa democratização andar intimamente associada aos meios e recursos, como sejam os motores de busca e as redes sociais, já quanto aos processos internos de gestão daquelas ferramentas, não há a garantia que sejam igualmente democráticos e caprichem pela pureza de intenções. 


Nota * – Tema ampla e profundamente tratado no livro “IBM e o Holocausto” de Edwin Black, publicado pela Editora Campus.

sexta-feira, dezembro 23, 2011

Depois de Casa Arrombada...

O secretário-geral do PS, António José Seguro, garantiu hoje que o partido vai estar "muito atento" à privatização da EDP, considerando ser "muito importante" que a empresa "mantenha a capacidade estratégica no nosso país".

Do suplemento DINHEIRO VIVO do DIÁRIO DE NOTÍCIAS on-line de 23 de Dezembro 2011

Meu comentário: Naturalmente que escusamos de ficar descansados…

Nota MÁXIMA, Apesar de Tudo o Resto…

EM 7 de Novembro de 2010, a propósito da astúcia geo-política dos dirigentes chineses, escrevi que “a China sabe o que faz. Penetra [ou iria penetrar] na Europa através do seu elo mais frágil, um Portugal com uma actividade económica diminuta, cheio de brechas e de carências, já colonizado por muitos, e à espera de ser colonizado por muitos mais”. Ora, ao tomar entre mãos 21,35% do capital da EDP, a China Three Gorges viu abrirem-se as portas de alguns dos mais apetecíveis e promissores mercados europeus e mundiais da energia, nomeadamente, na área das renováveis. Independentemente do facto desta privatização lesar profundamente a soberania e o interesse nacional, colocando na dependência de interesses estrangeiros, um potencial estratégico como é o da energia, se em 2010, face às expectativas, já dava à China a nota 19, hoje, mesmo sendo o vencedor quem é, e mantendo sobre ele as minhas reservas e reticências, subo-a para 20.

Com a perspectiva de termos um novo protagonista a banquetear-se à nossa custa, vamos agora ver como se vai comportar a nossa escandalosa Factura da Energia, aquela que de consumos, própriamente ditos, apenas tem 34%, e cujos restantes 66% são de taxas e impostos, que servem para pagar tudo e mais uma massagem tailandesa. Como diria o senhor Gervásio do talho cá do bairro, "sorte, sorte, teve o Ali-Babá, que só teve que lidar com 40 ladrões!". A minha esperança é que tudo o que é privatizável, também é nacionalizável.

quinta-feira, dezembro 22, 2011

Prendas no Sapatinho


(Com)Passos Coelho e António (In)Seguro estiveram reunidos em São Bento, a pedido do primeiro, com uma agenda confidencial e sem declarações no final do encontro, que durou 40 minutos. Imagino que não se devem ter limitado a trocar prendas de Natal entre si, mas aproveitaram a oportunidade para embrulharem mais umas quantas surpresas, para distribuirem pelos portugueses, já no início de 2012.

E nem de propósito, sabe-se agora que em reunião do Conselho Permanente de Concertação Social, o Governo, com o objectivo de promover a competitividade, e com ela o relançamento da economia, vai propor a eliminação do período suplementar de três dias de férias, reduzindo o seu número para 22 dias úteis, uma autêntica prenda no sapatinho para as associações patronais. É caso para perguntar: e porque não vão promover e relançar um par de coisas que eu cá sei?

terça-feira, dezembro 20, 2011

Duques e Conselheiros Acácios


O FACTO já tem uns dias, mas nunca é tarde para voltar a lembrá-lo. João Duque, um “tudólogo” arranjado à pressa para “coordenar” um grupo de trabalho que teria por objectivo, entre outras coisas, definir o conceito de serviço público na comunicação social, sugeriu que a RTP internacional devia ser tutelada directamente pelo Governo (tipo braço armado de uma espécie de Ministério da Propaganda à Joseph Goebbels), com o magnânimo objectivo de expandir uma imagem positiva do país, mesmo que ela não correspondesse à realidade. Isto é, teríamos um canal que só emitiria ficção, pura e dura, e lá pelo meio, propagandite governamental e sabe-se lá mais o quê. Manifestamente, os portugueses andam um bocado arredados da sorte; só nos saem duques e conselheiros acácios!

segunda-feira, dezembro 19, 2011

A Ilustre Geração


Kim-Jong-Il, o querido líder, filho de Kim-Il-Sung, o grande líder, arrumou as malas e bateu as suas botas de fabrico chinês. Naquela caricatura de paraíso terrestre, milhões de pétalas de flores, vergaram-se ao peso do triste evento, mas amanhã, secas as lágrimas, aleluia, o sol resplandecerá, e biliões delas desaboracharão para saudar o senhor que se segue, Kim-Jong-Un, o adorável líder.

Estou Um Bocado Farto Disto...


Excerto de uma entrevista concedida pelo futebolista Luís Figo ao jornal PÚBLICO de 17 de Dezembro de 2011
(...)
Pergunta - Hoje é também visto como um empresário. Diz-se que tem investimentos na área do imobiliário, hotelaria, combustíveis, etc. O que nos pode dizer sobre isto?

Resposta - Nada... Tenho vários negócios, muitos deles em Portugal, apesar de eu querer vender tudo o que tenho no meu país. Pago muitos impostos, ao contrário do que muita gente pensa. 

Pergunta - Mas quer vender tudo em Portugal por pagar muitos impostos?

Resposta - Não, quero vender porque estou um bocado farto disto. Mas o que eu estava dizer é que dou trabalho a muita gente e pago muito de IVA. Estou a dizer isto apenas para responder aos que dizem que eu não contribuo para o país.
(…)
Meu comentário: Oh Luís, tem graça que nós também estamos um bocado fartos disto, não só por causa do IVA, mas também por muitas outras razões, só que pouco ou nada temos para vender, excepto a nossa força de trabalho, ao contrário de outros para quem a crise é um maná, e até lhe chamam um figo… Veja lá que nos fartamos de trabalhar e dizem que somos mandriões, pouco competitivos e uns previligiados, depois cortam-nos o salário, o subsídio de Férias e de Natal, passamos a trabalhar mais meia hora por dia, carregam-nos com aumentos de preços, taxas e impostos, mandam-nos apertar o cinto ou então emigrar, em última instância mandam-nos para casa, e entretanto, vão dizendo que ainda temos que contribuir mais, só que já não sabemos com quê. E para cúmulo da nossa desdita, até já deixou de se ouvir aquele pregão que cantava assim:”quem quer figos, quem quer almoçar...”.

domingo, dezembro 18, 2011

Um Domingo com Rui Tavares - até ao ponto de não retorno

Aconselho a leitura deste notável artigo de Rui Tavares, publicado no jornal PÚBLICO de 13 de Dezembro de 2011, com o título “Até ao ponto de não retorno”. A foto é de 1888 e documenta o início da construção da Torre Eiffel.

«Da janela do avião vejo uma enorme cidade, espalhada em todas as direções como um líquen dourado na paisagem escura. Um anel prateado no centro da-quela nebulosa dourada marca o perímetro da cidade, com as suas portas a distâncias qua-se regulares. Que cidade será? Será Paris? Nesse caso deveremos procurar um ténue arco negro, uma espécie de boca entreaberta que deverá ser o rio Sena. E, para tirar as teimas: se dirigirmos os olhos para o quadrante em cima e à direita (viajo de Bruxelas para Lisboa, sentado junto a uma janela do lado esquerdo do avião) deverei conseguir localizar… por ali algures… lá está ela — a Torre Eiffel, a esta distância parecendo apenas um pequeno alfinete dourado espetado nas luzes da cidade.

A Torre Eiffel foi inaugurada nos duzentos anos da Revolução Francesa, em 1889, mas em 1900 era ainda a porta de entrada para a gente de todo o mundo que veio ver a Exposição Universal e respirar o seu otimismo elétrico (a Sala das Máquinas, com os seus geradores, era uma das maravilhas para forasteiros de todas as nações). E a Exposição Universal de Paris foi a porta de entrada para um novo século, voluntarista, industrial, otimista, liberal, comercial, pacífico. Um século que não veio a acontecer. Menos de década e meia depois, toda a Europa estava em guerra, e arrastada por ela o resto do mundo. Porquê? As cabeças coroadas fizeram as suas declarações, um ou outro presidente da república (havia poucos) procedeu às suas demonstrações, houve promessas de soluções satisfatórias — mas nada conseguiu inverter o plano inclinado para uma guerra de milhões de mortos, que ninguém nunca entendeu bem, nem então, nem hoje. No fim de 1918, chegou a paz, sustentada no idealismo dos Quatorze Pontos do Presidente Wilson dos EUA. Em 1919, vieram as negociações de paz, sob o pano de fundo das reparações e das dívidas — “havemos de fazer a Alemanha pagar!”, dizia então um líder dos conservadores britânicos, “a Alemanha há-de pagar até guinchar!”.

Pensei na enorme Paris que vi e tento imaginar no que terá sido a ocupação militar de uma cidade daquelas. Por este defeito de imaginação de que padece o nosso tempo, não consigo chegar lá. Por defeito de imaginação da nossa época, as coisas que aconteceram na Europa há poucas gerações parecem ter acontecido noutro mundo, com outras regras, com outros humanos.

Levo como incumbência, durante esta viagem de avião, pensar em três perguntas: até que ponto somos Europeus? se não houver identidade europeia, não serei eu um incorrigível otimista, ao supor que ainda assim nos possamos entender democraticamente à escala deste continente? e, vendo os acontecimentos recentes na União Europeia, vale a pena fazer aquilo que faço no Parlamento Europeu?

A ideia é escrever um texto — este texto — mas não é só a viagem de avião que me distrai. (Curiosamente, nem gosto muito de Paris, apesar de, ou por causa de, lá ter vivido quatro anos. Se me pedirem patriotismo, direi primeiro Lisboa, certamente até Rio de Janeiro, antes de pensar em qualquer capital europeia.) O que me distrai é o dia de hoje.

E, se há dia para ser pessimista, é hoje.

Hoje, dia 9 de dezembro de 2011, foi um dos piores dias da Europa do novo século, talvez o pior. Não tenhamos qualquer ilusão. Na madrugada de hoje, os 27 chefes de governo da União foram de uma irresponsabilidade colossal. Chegaram a uma cimeira com uma crise da moeda euro que só é intratável por culpa deles. Não resolveram essa crise. E criaram uma crise nova na União.

A realidade desta crise tem varrido com debates teóricos sobre se somos europeus ou não somos. Num dia como hoje, isto é secundário quando comparado com a dimensão do que aconteceu e que talvez ainda não tenha sido digerido completamente por muito gente. Recapitulemos.

Os líderes da zona euro, com Merkel e Sarkozy à cabeça, e com a vergonhosa anuência de todos os outros, deram um golpe de morte à União Europeia. O novo tratado em que se lançaram vai ter de ser construído, por razões legais, fora da União. A construção que resultar daqui será puramente intergovernamental, porventura com a Comissão Europeia convocada para fazer de polícia. Esta será uma confederação feita à força mas que nunca terá força para lidar com as debilidades de uma moeda federal. Sim, houve conversa sobre dar 200 mil milhões ao FMI e ampliar o FEEF até 400 mil milhões, um dia destes. Entretanto, só a Itália precisará de, em janeiro, renovar 50 mil milhões da sua dívida. Fevereiro, mais cem mil milhões. Março, outros cem mil milhões. Abril, de novo cem mil milhões. Em quanto já vamos? Pouco importa: dinheiro desse não se encontra em lado nenhum. E a

Espanha? A aplicação da austeridade em países como a Espanha, que já têm 20% de desemprego (e 45% de desemprego jovem) levará a níveis insustentáveis de tensão social. E os outros países? É quase inevitável que alguns entrem em incumprimento, outros em convulsão. A depressão económica será o destino da Europa como um todo. Para contrariar isto, a grande conquista da cimeira foi inserir limites à dívida na constituição e aplicar sanções semi-automáticas aos prevaricadores. Poderiam até tatuar os limites na testa e aplicar as sanções sob a forma de choques elétricos. 

O que é insustentável não se sustentará.

Entretanto, toda e qualquer esperança de democracia à escala europeia morrerá se este plano for avante. O Parlamento Europeu será mantido à margem, com uma boa desculpa: é uma instituição da União, tornada obsoleta pelo novo tratado. Algumas medidas virão a ser votadas nos parlamentos nacionais, é claro, por mero pró-forma. As decisões serão tomadas no eixo Berlim-Frankfurt, com gesticulação de Paris e um verniz de Bruxelas. Os governos bem tentarão atingir os limites do défice para reconquistar ao menos um pouco de independência, mas sem efeito. Se o pânico nos mercados não os derrubar já nas próximas semanas ou meses, a depressão chegará para impossibilitar o exercício nos próximos anos. Após cada fracasso dos governos periféricos chegarão mais imposições do centro. Alguém julga que isto será politicamente sustentável sequer a médio-prazo? O nacionalismo agressivo tomará conta de partes significativas do eleitorado.

Otimista, eu? Só se for um otimista trágico.

Há, no entanto, qualquer coisa aqui que está para lá do otimismo ou do pessimista.

É isto: salvo catástrofe natural (e mesmo as consequências dessas podem ser minoradas) tudo o que acontece aos humanos é obra de humanos. Tudo aquilo que é mau nas sociedades humanas, e tudo o que se consegue fazer de bom, saiu de nós. De uma maneira ou de outra, aquilo que humanos conseguem fazer, outros humanos conseguem desfazer. A “ganância estúpida” que Keynes lamentou em 1919 é humana. A “prudente generosidade” que Marshall concretizou após 1945 também. Exigir o pagamento de dívidas até toda a gente se lixar é humano. Perdoar dívidas para suster um dano maior também. A escravidão e a abolição, ambas humanas. Os humanos podem escolher.

O que foi feito na Europa nos últimos tempos tem de ser invertido, e depois reformulado. Tudo o que é antidemocrático, absurdo e irrealista pode ser substituído por coisas democráticas, que façam sentido e sejam sustentáveis. E quem tem de fazer isso somos nós. Porquê? Porque os marcianos não virão cá fazer por nós. Porque os mortos já não podem. Porque os vindouros ainda não podem. Não há mais ninguém: só nós.

Será certamente mais fácil, refazendo o trajeto desde a inauguração da Exposição Universal até à IIª Guerra Mundial, ser pessimista. Mas não é por alarmismo que se deve regressar à história europeia. É para dar sentido de responsabilidade e de possibilidade às pessoas.

A pergunta certa, por isso, não é se “vale a pena”. A pergunta certa é o que podemos fazer antes que seja irremediável. Devemos transcender diferenças menores para responder a estas necessidades maiores: evitar uma segunda depressão e conquistar a democracia europeia. Para o conseguir, esta geração de líderes, com a irresponsabilidade de todos, de Merkel a Sarkozy, de Cameron a Passos Coelho, terá de ser suplantada por um discurso público, cívico, fraterno, que inverta este plano inclinado de rancor e recriminação.

Estamos muito atrasados, mas o mesmo vale agora para qualquer um de nós. Somos europeus? Temos de ser. Até que ponto? Até ao ponto de não retorno. Antes que se chegue lá.»

sábado, dezembro 17, 2011

Portugal Tele_com(placente)

PARA QUE que os senhores accionistas possam fazer face ao generalizado agravamento do custo de vida, resultante dos cortes no subsídio de Natal, dos aumentos dos transportes, da factura da electricidade e das taxas moderadoras do Serviço Nacional de Saúde, a Portugal Telecom, sensível aos problemas sociais daí resultantes, decidiu antecipar o pagamento de um dividendo intercalar bruto de 0,215 euros por acção, referente aos lucros do exercício de 2011, estando o pagamento agendado para o próximo dia 4 de Janeiro.

quinta-feira, dezembro 15, 2011

Três Rumores de Corredor

O iPad2 do primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, teria sido sequestrado pelas autoridades angolanas, e adiada a sua devolução, como forma de pressão para que fossem aligeiradas as condições de aquisição do BPN, por parte do BPI. Vozes discordantes dizem que esta história não passa de uma cabala, e que a verdade é que o iPad teria sido visto à venda no mercado Roque Santeiro, por meia dúzia de quanzas;

José Guedes não é o “estripador de Lisboa”, garante uma fonte que pretende manter o anonimato. Conhecidos que são os seus dotes de actor, teria sido contratado pela “pequena troika” para criar uma manobra de diversão, destinada a desviar a atenção dos portugueses da turbulência política e dos problemas sociais que o país enfrenta. Terá obtido a garantia de que seria ilibado e libertado antes do Ano Novo (para ir assistir ao fogo de artíficio do Funchal), no entanto, ignora-se o valor do “cachet”;

Os dois manifestantes que foram detidos nas imediações da Assembleia da República, no dia da greve geral, por terem desrespeitado ordens e ofendido as forças policiais, foram condenados a seis meses de prisão, com pena suspensa por um ano. Já os agentes policiais infiltrados entre os manifestantes, e que de lá provocaram os seus próprios camaradas, potenciando os desacatos, diz-se que irão ser distinguidos com condecorações e promoções.

quarta-feira, dezembro 14, 2011

A Lei é Dura...

Isaltino Morais, a bambolear-se e a aspirar a sua charutada, vai-se safando por entre prazos, lapsos e esquecimentos, estafetas que se enganaram no número da porta, juízes a abarrotarem de trabalho, mais alguns recursos e outras tantas prescrições, até à prescrição final. A lei será dura, mas é a lei, com a condição de ser apenas para os outros, por exemplo, os que andam em auto-estradas sem pagar portagens.

segunda-feira, dezembro 12, 2011

Newt Gingrich, Contador de Histórias


«Temos que nos lembrar que a Palestina não existe como Estado. Ainda no início do século XX era parte do império Otomano (...) Penso que temos tido um povo palestiniano inventado quando, na verdade, o que temos são árabes (...) que tiveram a oportunidade de ir para qualquer outro lugar, mas que por várias razões decidiram manter desde a década de 1940 esta guerra contra Israel».

Dissertação de Newt Gingrich, candidato à nomeação republicana para as eleições presidenciais de 2012 nos E.U.A., em entrevista à estação de TV Canal Judaico.

domingo, dezembro 11, 2011

Um Domingo com Filipe Luís - O Quarto Reich


A guerra pode ter já recomeçado

A inflamada declaração de Angela Merkel, numa entrevista à televisão pública alemã, ARD, em que sugere a perda de soberania para os países incumpridores das metas orçamentais, bem como a revelação sobre o papel da célebre família alemã Quandt, durante o Terceiro Reich, ligam-se, como peças de puzzle, a uma cadeia de coincidências inquietantes. Gunther Quandt foi, nos anos 40, o patriarca de uma família que ainda hoje controla a BMW e gere uma fortuna de 20 mil milhões de euros. Compaghon de route de Hitler, filiado no partido Nazi, relacionado com Joseph Goebbels, Quandt beneficiou, como quase todos os barões da pesada indústria alemã, de mão-de-obra escrava, recrutada entre judeus, polacos, checos, húngaros, russos, mas também franceses e belgas. Depois da guerra, um seu filho, Herbert, também envolvido com Hitler, salvou a BMW da insolvência, tornando-se, no final dos anos 50, uma das grandes figuras do milagre económico alemão. Esta investigação, que iliba a BMW mas não o antigo chefe do clã Quandt, pode ser a abertura de uma verdadeira caixa de Pandora. Afinal, o poderio da indústria alemã assentaria diretamente num sistema bélico baseado na escravatura, na pilhagem e no massacre. E os seus beneficiários nunca teriam sido punidos, nem os seus empórios desmantelados.

As discussões do pós-Guerra, incluíam, para alguns estrategas, a desindustrialização pura e simples da Alemanha - algo que o Plano Marshal, as necessidades da Guerra Fria e os fundadores da Comunidade Económica Europeia evitaram. Assim, o poderio teutónico manteve-se como motor da Europa. Gunther e Herbert Quandt foram protagonistas deste desfecho.

Esta história invoca um romance recente de um jornalista e escritor de origem britânica, a viver na Hungria, intitulado "O protocolo Budapeste". No livro, Adam Lebor ficciona sobre um suposto diretório alemão, que teria como missão restabelecer o domínio da Alemanha, não pela força das armas, mas da economia. Um dos passos fulcrais seria o da criação de uma moeda única que obrigasse os países a submeterem-se a uma ditadura orçamental imposta desde Berlim. O outro, descapitalizar os Estados periféricos, provocar o seu endividamento, atacando-os, depois, pela asfixia dos juros da dívida, de forma a passar a controlar, por preços de saldo, empresas estatais estratégicas, através de privatizações forçadas. Para isso, o diretório faria eleger governos dóceis em toda a Europa, munindo-se de políticos-fantoche em cargos decisivos em Bruxelas - presidência da Comissão e, finalmente, presidência da União Europeia.

Adam Lebor não é português - nem a narração da sua trama se desenvolve cá. Mas os pontos de contacto com a realidade, tão eloquentemente avivada pelas declarações de Merkel, são irresistíveis. Aliás, "não é muito inteligente imaginar que numa casa tão apinhada como a Europa, uma comunidade de povos seja capaz de manter diferentes sistemas legais e diferentes conceitos legais durante muito tempo." Quem disse isto foi Adolf Hitler. A pax germânica seria o destino de "um continente em paz, livre das suas barreiras e obstáculos, onde a história e a geografia se encontram, finalmente, reconciliadas" - palavras de Giscard d'Estaing, redator do projeto de Constituição europeia.

É um facto que a Europa aparenta estar em paz. Mas a guerra pode ter já recomeçado.

Artigo de Filipe Luís, publicado na revista VISÃO em 5 de Outubro de 2011

sábado, dezembro 10, 2011

Já não há Negócios da China…


 … agora há grandes prendas de NATAL nos sapatinhos de Américo Amorim, Isabel dos Santos & Companhia. 

O presidente do Banco BIC, Mira Amaral, confirmou a assinatura do contrato para a venda do BPN, tendo revelado que já deu um sinal de 25% dos 40 milhões de euros, valor total da aquisição. O remanescente será pago aquando da transacção final que, segundo o acordado, terá de acontecer até 31 de Março de 2012. Quanto ao número de funcionários, Mira Amaral revelou que até Janeiro serão escolhidos os trabalhadores dos serviços centrais, enquanto que os funcionários das agências serão escolhidos após a decisão final sobre quantas e quais as agências que o BIC quer ficar, tendo-se já comprometido a ficar com 150 balcões de uma rede comercial de 200. Recorde-se que o acordo inicial prevê que sejam integrados pelo menos 750 dos funcionários do 1.600 trabalhadores do grupo BPN. As rescisões dos restantes trabalhadores ficaram a cargo do Estado, o qual deverá injectar entre 550 a 800 milhões de euros no BPN (pagos pelos contribuintes), antes da venda ao BIC. O valor vai depender do grau de degradação dos rácios do banco.

Os restantes pormenores desta suculenta prenda de Natal irão serão conhecidos, em tempo oportuno, conforme se forem desenrolando as várias etapas do acordo de aquisição.

Contas feitas por alto, a burla cometida no BPN por Oliveira e Costa & Companhia, ascendeu ao astronómico valor de 9.710 milhões de euros. A nacionalização do banco, decretada pelo governo de José Sócrates em Novembro de 2008, com a desculpa do contágio ao restante sector financeiro, levou a que fossem injectados 2.000 milhões de euros para assegurar a sua viabilidade, verba que distribuída pelos 10 milhões de portugueses (caso todos pudessem pagar), caberia a cada um cerca de 971 euros. Como é óbvio, tal verba apenas foi paga pelos que contribuem para o erário público. Com a venda do BPN por 40 milhões de euros e a promessa de uma nova injecção de dinheiros públicos, que oscila entre 550 e 800 milhões de euros, é relativamente fácil de perceber qual o valor da prenda que foi oferecida a Américo Amorim, Isabel dos Santos & Companhia.

sexta-feira, dezembro 09, 2011

Tão Amigos Que Nós Éramos...


TIVE um imperdoável esquecimento ao deixar passar em branco que José Sócrates, afinal, não está a frequentar nenhum curso de filosofia, mas sim um curso de ciência política. Tenha a informação origem num lapso ou aldrabice de quem a deu, tanto faz; importante mesmo é que ele está por Paris, e cada vez que abre a boca, mesmo que seja a debitar teorias bizarras ou a garantir que estudou economia, continua a ser notícia de primeira página e de abertura dos telejornais, e a ser citado na blogosfera, como é agora o caso.

Mas o que eu acho mesmo lamentável é que Diogo Freitas do Amaral, que foi seu ministro e acérrimo defensor – é verdade, do Sócrates traficante de banha da cobra e das suas "corajosas" políticas - tenha vindo agora desencar o dito, nas televisões e em horário nobre, passando uma esponja sobre todos os postais e cartas de amor com que o incensou, acusando-o de ter dito as barbaridades que disse, e ainda, por ter sido o principal responsável por todas as calamidades e descalabros em que o país se encontra. Esta traição, dita assim, tem um sabor amargo, e parece que estou a ouvir Sócrates a exclamar indignado, tal como Júlio César ao ser apunhalado no Senado: Também tu Diogo? E tão amigos que nós éramos...

quinta-feira, dezembro 08, 2011

Do Inglês Técnico ao Economês

«Para pequenos países como Portugal e Espanha, pagar a dívida é uma ideia de criança (…) as dívidas dos países, pelo menos foi o que eu estudei em economia, são por definição eternas. As dívidas gerem-se, foi assim que eu estudei.»

Afirmações de José Sócrates perante uma plateia de estudantes universitarios da secção latino-americana da Sciences Po, a escola onde o ex-primeiro ministro estuda Ciência Política.

Super Ministério

NÃO admira que a ministra Conceição Cristas ande super atarefada e confunda as informações que os secretários de Estado lhe transmitem. Pudera! Está à frente de um super ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente, do Ordenamento do Território e mais um Par de Botas.

Render da Guarda

DEPOIS de terem os bolsos bem recheados, e no respeito pela tradição, os "boys" do PS estão a ser rendidos pelos "boys" do PSD e do CDS. E depois não querem que se diga que é tudo farinha do mesmo saco...

quarta-feira, dezembro 07, 2011

De Volta à Escravatura

O CAPITAL ATACA

«O Governo aprovou hoje, em Conselho de Ministros, uma proposta de lei que "estabelece um aumento excepcional e temporário dos períodos normais de trabalho de trinta minutos ou de duas horas e trinta minutos por semana"

Cabeçalho da notícia do DIÁRIO DE NOTÍCIAS on-line de 7 de Dezembro de 2011

OS TRABALHADORES DEFENDEM-SE
(…)
Artigo 21.º

(Direito de resistência)

Todos têm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos, liberdades e garantias e de repelir pela força qualquer agressão, quando não seja possível recorrer à autoridade pública.
 
Da Constituição da República Portuguesa, VII Revisão Constituicional de 2005

terça-feira, dezembro 06, 2011

O Mal e a Caramunha

«(...) Tais alegações [de que elementos da PSP teriam participado, infiltrados entre os manifestantes, no dia da Greve Geral, como provocadores] não tiveram até agora um desmentido claro da parte da Direcção Nacional da PSP ou do MAI. O que seria bem fácil: bastaria que a PSP ou o MAI, que decerto conhecem as imagens divulgadas na NET onde os alegados provocadores são concretamente identificados, virem dizer que tais pessoas não são (se não forem) agentes da PSP. Estranho é que tal não tenha ainda sucedido, o que mais justifica as graves suspeitas de que, no dia 24, a PSP terá feito o mal e a caramunha

Conclusão do artigo de Manuel António Pina, intitulado "Um estranho silêncio", publicado no JORNAL DE NOTÍCIAS em 6 de Dezembro de 2011. O sublinhado e o título do post são de minha autoria.

segunda-feira, dezembro 05, 2011

Corredor da Morte ou Ditadura Merkozy?

DIZEM os jornalistas - penso que bem informados - que os beijoqueiros Merkel e Sarkozy se preparam durante a próxima pré-cimeira de quarta-feira para acertar agulhas para uma espécie de "refundação" da Europa, para “salvar” o Euro, alterando os tratados, com o objectivo de reforçarem a governação económica e o aumento da disciplina orçamental na zona euro, como forma de se blindarem contra os assaltos dos corsários dos "mercados", que eles tanto detestam como incensam, consoante o lado de que sopra o vento, ou para onde lhes dá mais jeito. 

Há quem diga que isto é apenas mais uma manobra para adiar a implosão do Euro, ou então, subjugar o resto da Europa aos ditames do eixo franco-alemão. Seja um ou outro o objectivo, a verdade é que a ser levada em frente esta pretensão, recorrer-se-á (mais uma vez) a um processo de ratificação simples e rápido, que contorna as morosas e nada desejáveis surpresas que pudessem surgir, caso se tivesse que passar por aprovações parlamentares, senão mesmo referendos sobre a matéria. Dizem eles que a democracia é uma coisa muito bonita, mas há que dispor de tempo para nos rebolarmos e deleitarmos com ela e com os seus processos, o que não será agora o caso, dada a urgência de medidas. Consultar o povo nunca! Divulgar apenas o que for decidido, sim, e viva o velho!

O Euro, uma coisa que tinha pretensões de ser a moeda de qualquer coisa com estatuto de unidade política-económica, não passa afinal de um projecto órfão e inacabado. Está no corredor da morte e os carrascos têm pressa, seja para o garrotarem já, ou lá mais para a frente, depois de mais uns quantos recursos. Comutar a pena de morte em prisão perpétua, poderá acarretar custos para as soberanias e a própria democracia, como já hoje vai sucedendo. Resultado: a meio do jogo, mudam-se as regras do mesmo, com decisões tomadas à porta fechada, vai-se dizendo que tudo isto é feito para bem dos povos (até já há ministros que choram, pressagiando os tempos que se avizinham), mas os europeus (mais uma vez) não são ouvidos nem achados sobre o modelo que vai ser adoptado, e mais grave ainda, sobre o futuro que lhes estão a traçar.

domingo, dezembro 04, 2011

Um Domingo com José-Augusto de Carvalho


De Inês e de nós


Pedro e Inês

Aqui, e muito para além do mito,
Amor teceu a flor da fantasia,
bordada de delírios de ambrosia,
viçosa de arrebois e de infinito!

Sortílegas, as águas do Mondego
ainda rememoram melopeias
que foram sangue a circular nas veias
do nosso mais fatal desassossego!

Na Fonte dos Amores, que secou,
na Quinta que das Lágrimas perdura,
no peito, a rubra flor que já murchou...

Sofrido de saudade e de amargura,
eu sou a nau que foi e não voltou
do sonho de evasão e de loucura...


José-Augusto de Carvalho
24 de Maio de 2006 - Viana do Alentejo * Évora * Portugal

sábado, dezembro 03, 2011

Recapitalizar a banca SIM, favorecer os banqueiros NÃO


Artigo de Octávio Teixeira, economista e ex-deputado do PCP, publicado em NEGÓCIOS on-line em 29 de Novembro de 2011. O título do post é o mesmo do artigo.

«O sistema bancário é "o coração que faz circular o sangue da economia". Assim, o sistema bancário é um efectivo bem público.

E sendo-o, é ao Estado que deve competir a sua propriedade e gestão. Sucede que a situação actual não é essa. Mas nem por ser predominantemente privado o Estado poderá correr o risco de ver deflagrar o sistema.

Ora, é generalizadamente reconhecido que os erros e a irresponsabilidade dos banqueiros conduziram à necessidade de recapitalização dos bancos para salvaguardar esse bem público, para que eles possam exercer a sua função de concessão de crédito à economia real.

Sendo privados, para a recapitalização os bancos devem recorrer aos seus accionistas, ou aos seus activos tal como, por discriminação ideológica, a troika impõe à CGD. Todos os bancos os têm. Mas, porque valiosos e rentáveis, os banqueiros não querem vendê-los preferindo recorrer ao Estado para satisfazer as necessidades financeiras da recapitalização. Deveria ser-lhes imposta a venda dos activos necessários e só na medida em que se mostrassem insuficientes poderiam recorrer aos fundos públicos.

Mas ao entrar no capital de um qualquer banco o Estado tem não só o direito como a obrigação de passar a ser um accionista em plenitude. Não é admissível que o Governo, por vontade própria e com o apoio dos ultraliberais BP e BCE, invista 12 mil milhões e se proponha assumir o papel de um accionista cego, mudo e surdo, de um accionista que o não é.

A proposta do Governo, que os bancos arrogantemente ainda consideram pouco, não é uma efectiva participação do Estado no capital dos bancos. É, isso sim, a injecção nos bancos de volumosos dinheiros públicos para beneficiar os interesses e a gula insaciável dos banqueiros.»

sexta-feira, dezembro 02, 2011

(Des)acordo Ortográfico


SE ANDA tanta gente empenhada em espatifar o país com o seu empobrecimento generalizado, porque não se há-de aproveitar a boleia e estropiar também a língua portuguesa?

Por isso, gosto tanto, tanto, do novo acordo ortográfico, que só não aderi a ele, não vá a minha ignorância ou insensatez, levar-me a usá-lo de modo incorrecto, de tal forma que os meus compatriotas (e sobretudo o professor Malaca Casteleiro) não me consigam entender…

quinta-feira, dezembro 01, 2011

Sabem o que é "abstenção construtiva"?

Nem queiram saber! No dizer de Vital Moreira, a "abstenção construtiva" do PS produziu alguns resultados tangíveis na austeridade veiculada pelo Orçamento de Estado para 2012, e algumas horas depois, a expressão usada por António José Seguro foi descodificada, e os resultados ficaram logo à vista: Pedro Passos Coelho prometeu mais medidas de austeridade para o ano que se inicia daqui a um mês.

Dá-lhe com Força GARAJAU!


«O tribunal Judicial do Funchal absolveu esta tarde Eduardo Welsh do crime de difamação por abuso de liberdade de imprensa, de que era acusado pelo Ministério Público, por ter publicado uma fotomontagem do presidente do governo regional da Madeira, Alberto João Jardim, com as vestes de Hitler, na capa do quinzenário “Garajau”, de que era director

Notícia do jornal PÚBLICO on-line de 29 de Novembro de 2011

quarta-feira, novembro 30, 2011

just in case!...


Transcrição integral do oportuno artigo de opinião da jornalista São-José Almeida, publicado no jornal PÚBLICO de 12 de Novembro de 2011. O título do post é o mesmo do artigo.

 «Começo por fazer a minha declaração de interesses. Não tenho carta de condução, nem carro, nem quem me conduza. Dependo inteiramente de transportes públicos. E moro na periferia de Lisboa. Para chegar à capital e ao meu emprego, bem como a qualquer local onde me desloque nas minhas actividades quotidianas, dependo de transportes públicos. Mais concretamente de comboio e de autocarro, que também me conduzem de volta a casa.

Dito isto e numa semana em que fiquei bloqueada em casa pela greve de transportes, venho publicamente discordar da grande maioria dos que têm criticado os autores de um estudo, divulgado pela comunicação social, que prevê cortes na oferta de transportes, dizendo que estes autores não percebem nada do que estão a fazer. Percebem, sim, muito. E não só de transportes.

Na reestruturação da rede de transportes urbanos, preparada por esta comissão, não está apenas em causa a redução de custos que é usada como argumento justificativo directo. É dos livros que os transportes públicos são serviços estratégicos e que o seu custo moderado e acessível a todos é assegurado pelo Estado, precisamente porque, sem eles, a economia e a sociedade não funcionam. E mesmo a intenção de privatização levaria a um emagrecimento, mas não obrigatoriamente ao tipo de
cortes que estão previstos. Quem fez este estudo, insisto, não age apenas por mero espírito contabilístico e é tudo menos ignorante sobre aquilo que tem como objectivos profundos.

Há razões estratégicas e ideológicas para o tipo de cortes estudado, numa conjuntura como a que se vive em Portugal e na Europa. Este tipo de opções foi tomado em locais onde foi aplicada a chamada "receita de austeridade", de orientação neoliberal, como aconteceu na Argentina e antes no Chile de Pinochet - a primeira experiência histórica do neoliberalismo em acção para inverter o funcionamento de uma sociedade democrática. O objectivo de tal estratégia é cristalino e está inscrito de forma transparente no estudo divulgado. É afastar do centro das cidades, do centro do poder de decisão politica e econ6mica, a contestação. E retirar do centro das cidades fora do normal horário laboral, em que são necessárias ao funcionamento da economia, as populações que aí podem manifestar-se, amotinar-se, revoltar-se contra esse mesmo poder.


Vejamos então, para que não haja dúvidas. É proposto o fecho de 23 carreiras de autocarros em Lisboa, depois da hora laboral, a maioria das quais ligando as periferias. É proposto que outras 24 carreiras sejam encurtadas em percurso ou em período de funcionamento. A proposta prevê ainda a supressão da ligação fluvial de Lisboa à Trafaria/Porto Brandão e ao Montijo fora dos dias uteis e das horas de ponta. E a ligação Lisboa ao Seixal poderá sofrer uma destas duas soluções. Já o metropolitano, se este estudo virasse lei, veria a circulação com a velocidade reduzida de 60 para 45 km/h fora das boras de ponta e a fechar às 23h na Linha Verde e às 21h30 na Linha Azul entre a Pontinha e a Amadora e na Linha Amarela entre o Campo Grande e Odivelas.

Quem domina o poder e impõe à Europa as novas regras de empobrecimento forçado das populações e de perda de direitos, em favor do aumento do lucro das grandes empresas financeiras e dos donos do mundo e suas aristocracias reinantes, sabe que está a correr um risco imenso e que está a brincar com o fogo em termos de estabilidade social. Sabe que está a provocar a instabilidade e o fim da paz
social conseguida pelo pacto social europeu do pós II Guerra Mundial. 

Uma instabilidade que provoca sentimentos antidemocráticos e antieuropeus, uma vez que as populações vêem o seu bem-estar roubado precisamente pelas instituições de representação democrática e pela União Europeia. Uma União Europeia que não consegue assegurar a solidariedade entre Estados, que não consegue ser solidária com as populações de países em situação difícil como a Grécia ou Portugal, pelo contrário, que martiriza as populações com mais e mais austeridade, alimenta o regresso dos nacionalismos e da xenofobia. Ainda esta semana foi divulgado um estudo do think-tank britânico. Vemos que mostra o crescimento da extrema-direita nacionalista, xenófoba, anti-islâmica e anti-imigração na Europa.

Quem está a comandar esta revolução que impõe uma regressão hist6rica à Europa sabe assim bem o tipo de situações explosivas que tem a minarem-lhe o caminho para o sucesso. E sabe que a revolta das populaçôes pode estar no horizonte. Teve até jâ o exemplo nas revoltas nas periferias de Paris há uma década e este ano já nas periferias de Londres, que se alastraram ao centro. É a este risco de explosâo social que Mario Soares se referiu recentemente (Diario de Noticias,08/11/2011), ao alertar para a iminência de um regresso da guerra à Europa, se a Uniâo Europeia e o euro falirem. Nao já uma guerra clássica entre blocos politico-ideológicos e geoestratégicos, nem sequer de cariz nacionalista entre paises, mas uma guerra de novo tipo, uma guerra civil larvar que está em embrião nas revoltas das periferias.

Quando os pobres sâo cada vez mais e cada vez mais pobres, quando as expectativas de carreira, de sucesso, de bem-estar, de felicidade são cada vez menos e a vida se torna cada vez mais periférica e concentracionária, o risco de explosão social descontrolada aumenta. É dos manuais. Tanto que os mesmos manuais ensinam que, associado à receita de austeridade, deve vir sempre o plano de cortes de transportes que ligam as periferias ao centro.

Mais vale ir prevenindo... just in case!..
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terça-feira, novembro 29, 2011

Governo de Combate


SE ESTE é um “governo de combate”, como garantiu há dias um qualquer assessor ou secretário de Estado do governo de Passos Coelho, aí está uma boa oportunidade para os seus elementos se passarem a deslocar nas novas viaturas blindadas “Pandur”, que tantas e grossas dores de cabeça têm dado (sobretudo com os problemas técnicos e as famigeradas contrapartidas), desde que foram adjudicadas à Steyr-Daimler-Puch em 2005, para substituirem as velhas “Chaimite”, e que bem precisam que alguém teste a sua eficácia.

O Ministro da Austeridade


O MINISTRO da (in)segurança social, Mota Soares, trocou a VESPA pessoal em que habitualmente se deslocava (e que foi usada até à pouco tempo pelo ministro, em vários episódios de publicidade enganosa), por um AUDI A7 de 80.000 euros (16.000 contos em antigos escudos), pago com o dinheiro dos contribuintes. Eis como os governantes gerem entre si, na teoria e na prática, as medidas de austeridade que apregoam e aplicam aos governados.

segunda-feira, novembro 28, 2011

Filmes Para Esquecer


Título: Invasão Mundial: Batalha Los Angeles
Original: Battle Los Angeles 

Origem: E.U.A. 
Ano: 2011
Duração: 116 minutos

Realizador: Jonathan Liebesman
Argumento: Christopher Bertolini
Principais intérpretes: Aaron Eckhart, Michelle Rodriguez and Bridget Moynahan

Meu comentário: Filme de ficção científica (ou será antes ficção futurológica?), que aborda uma invasão alienígena, que era para acontecer ou teria acontecido em 03-11-11 (não dei por nada!). Muito centrado na preocupação de enaltecer a valentia e abnegação de um corpo de Marines dos EUA, encarregado de resgatar alguns civis que ficaram para trás, aquando da evacução de Los Angeles, os heróis acabam por enfrentar uma horda de viscosos e peçonhentos invasores extraterrestres, sequiosos das reservas de água do planeta. Embora sem alheiras nem robalos, é um filme que nos mostra, no decorrer da acções de guerra e destruição, o crescimento de um colossal parque de sucata, que faria crescer água na boca ao nosso compatriota Manuel Godinho. Em resumo, uma sucata de filme...

domingo, novembro 27, 2011

Registo para Memória Futura (56)

EM RESPOSTA a um pedido de esclarecimento feito pelo deputado do PCP, Honório Novo, sobre os encargos relaccionados com a ajuda financeira a Portugal, o Ministério das finanças respondeu o seguinte: 

O total do crédito concedido pela "troika" do FMI-UE-BCE (Fundo Monetário Internacional, União Europeia e Banco Central Europeu) a Portugal, no âmbito do resgate financeiro, é de 78 mil milhões de euros. 

Os juros correspondes ao valor total do empréstimo a pagar ao longo do prazo, ascendem a 34,4 mil milhões de euros.

As comissões a pagar por Portugal pelos empréstimos concedidos pela 'troika' atingirão um total de 655 milhões de euros até 2014.

Assim, a dívida global a pagar ascende a 113,055 mil milhões de euros.

Como tudo isto irá ter que ser pago pela carteira dos portugueses, em teoria e admitindo que todos poderiam “contribuir” em pé de igualdade, o “esforço” que irá ser exigido a cada um de nós, corresponderá à módica quantia de 11.305 euros, qualquer coisa como 2.266 contos em moeda antiga, com a agravante de se não ficarmos pior, corremos o risco de ficar na mesma.

sábado, novembro 26, 2011

Nova Aritmética Jardinal


Na Região Autónoma da Madeira está em curso uma revolução na aritmética, e o fenómeno já é conhecido como “Teorema do Jardim”, e explica-se de forma muito simples: para o cálculo de maiorias parlamentares, basta a presença em plenário de UM (1) deputado de qualquer grupo parlamentar, para que o seu voto valha por todos os restantes membros desse grupo parlamentar, mesmo que estejam ausentes.

Os resultados práticos desta alteração ao Regimento, promovida pelo PSD-M (com os votos contra de toda a oposição), são evidentes. Simplifica os processos, vai tornar mais funcional e produtiva a Assembleia Regional, vai reduzir ao mínimo as presenças, economizando-se em deslocações, electricidade e senhas de presença, além de que os deputados podem ir tratar da sua vidinha, que a sua ausência não afecta as votações. Finalmente, a revolucionária medida vai neutralizar eventuais discordâncias dentro dos grupos parlamentares, e dar um novo perfil e alento à “democracia” jardinal. Resta saber se o Governo de Passos Coelho, recorrendo à sua maioria parlamentar, não irá copiar o “teorema” e tentar adoptá-lo nos trabalhos da Assembleia da República.

Falta dizer que esta decisão encerra uma grande coragem de âmbito científico. Assim, de uma penada, Arquimedes de Siracusa, Euclides de Alexandria, Hipócrates de Quíos e Pitágoras de Sammos (e isto para só falar de alguns matemáticos da Antiguidade), além de ignorantes e desactualizados, ficam reduzidos à categoria de lixo aritmético, pois o número UM (1) passou de valor SINGULAR a valor PLURAL, e pode valer o que um homem quiser. Embora os bacanos do PSD nacional continuem a dizer que não têm nada a ver com as patacoadas e aberrações dos correlegionários madeirenses, gostava de saber o que é que o Tribunal Constitucional tem a dizer sobre esta pitoresca inovação da caixinha de surpresas jardinal.