terça-feira, novembro 27, 2007

Lá Estaremos!

A

Opinião a Reter

O
“Numa escola pública de Lisboa, cada aluno tem por missão verificar o que come cada colega, sobretudo se petisca guloseimas. Seguidamente, cada um destes vigilantes dá conta das suas averiguações ao professor de Educação Cívica. Presume-se que, da posse dessas informações, o dito professor tirará matéria para mostrar os benefícios da boa alimentação.

Os meninos de hoje não devem ser menos prosélitos do que os seus antepassados da Mocidade e dos Pioneiros. A alimentação deve preocupá-los, tal como os contaminantes comunistas e fascistas ocuparam o imaginário dos seus avós e pais.

Dentro de algum tempo será a vez de quererem regular as opiniões. Aí não falarão de segurança alimentar mas sim de pornografia, dos sites perigosos, dos blogues… E, nesse dia, que não vem longe, nas aulas de Formação Cívica, cada aluno será responsável por ver e relatar o que faz cada colega quando se liga à Internet.”
A
Helena Matos, in INFELIZMENTE ELES NÃO ESTÃO DOIDOS, jornal Público de 2007-Nov-26

segunda-feira, novembro 26, 2007

Carta Aberta

C
Carta aberta ao Senhor Presidente da República Portuguesa

Ílhavo, 22 de Outubro de 2007

Senhor Presidente da República Portuguesa

Excelência:

Disse V. Excia, no discurso do passado dia 5 de Outubro, que os professores precisavam de ser dignificados e eu ouso acrescentar: “Talvez V. Excia não saiba bem quanto!”

1. Sou professor há mais de trinta e seis anos e no ano passado tive o primeiro contacto com a maior mentira e o maior engano (não lhe chamo fraude porque talvez lhe falte a “má-fé”) do ensino em Portugal que dá pelo nome de Cursos de Educação e Formação (CEF).
A mentira começa logo no facto de dois anos nestes cursos darem equivalência ao 9º ano, isto é, aldrabando a Matemática, dois é igual a três!
Um aluno pode faltar dez, vinte, trinta vezes a uma ou a várias disciplinas (mesmo estando na escola) mas, com aulas de remediação, de recuperação ou de compensação (chamem-lhe o que quiserem mas serão sempre sucedâneos de aulas e nunca aulas verdadeiras como as outras) fica sem faltas. Pode ter cinco, dez ou quinze faltas disciplinares, pode inclusive ter sido suspenso que no fim do ano fica sem faltas, fica puro e imaculado como se nascesse nesse momento.
Qual é a mensagem que o aluno retira deste procedimento? Que pode fazer tudo o que lhe apetecer que no final da ano desce sobre ele uma luz divina que o purifica ao contrário do que na vida acontece. Como se vê claramente não pode haver melhor incentivo à irresponsabilidade do que este.

2. Actualmente sinto vergonha de ser professor porque muitos alunos podem este ano encontrar-me na rua e dizerem: ”Lá vai o palerma que se fartou de me dizer para me portar bem, que me dizia que podia reprovar por faltas e, afinal, não me aconteceu nada disso. Grande estúpido!”

3. É muito fácil falar de alunos problemáticos a partir dos gabinetes mas a distância que vai deles até às salas de aula é abissal. E é-o porque quando os responsáveis aparecem numa escola levam atrás de si (ou à sua frente, tanto faz) um magote de televisões e de jornais que se atropelam uns aos outros. Deviam era aparecer nas escolas sem avisar, sem jornalistas, trazer o seu carro particular e não terem lugar para estacionar como acontece na minha escola.
Quando aparecem fazem-no com crianças escolhidas e pagas por uma empresa de “casting” para ficarem bonitos (as crianças e os governantes) na televisão.
Os nossos alunos não são recrutados dessa maneira, não são louros, não têm caracóis no cabelo nem vestem roupa de marca.
Os nossos alunos entram na sala de aula aos berros e aos encontrões, trazem vestidas camisolas interiores cavadas, cheiram a suor e a outras coisas e têm os dentes em mísero estado.
Os nossos alunos estão em estado bruto, estão tal e qual a Natureza os fez, cresceram como silvas que nunca viram uma tesoura de poda. Apesar de terem 15/16 anos parece que nunca conviveram com gente civilizada.
Não fazem distinção entre o recreio e o interior da sala de aula onde entram de boné na cabeça, “headphones” nos ouvidos continuando as conversas que traziam do recreio.
Os nossos alunos entram na sala, sentam-se na cadeira, abrem as pernas, deixam-se escorregar pela cadeira abaixo e não trazem nem esferográfica nem uma folha de papel onde possam escrever seja o que for.
Quando lhes digo para se sentarem direitos, para se desencostarem da parede, para não se virarem para trás olham-me de soslaio como que a dizer “Olha-me este!” e passados alguns segundos estão com as mesmas atitudes.

4. Eu não quero alunos perfeitos. Eu quero apenas alunos normais!!!
Alunos que ao serem repreendidos não contradigam o que eu disse e que ao serem novamente chamados à razão não voltem a responder querendo ter a última palavra desafiando a minha autoridade, não me respeitando nem como pessoa mais velha nem como professor. Se nunca tive de aturar faltas de educação aos meus filhos por que é que hei-de aturar faltas de educação aos filhos dos outros? O Estado paga-me para ensinar os alunos, para os educar e ajudar a crescer; não me paga para os aturar! Quem vai conseguir dar aulas a alunos destes até aos 65 anos de idade?
Actualmente só vai para professor quem não está no seu juízo perfeito mas se o estiver, em cinco anos (ou cinco meses bastarão?...) os alunos se encarregarão de lhe arruinar completamente a sanidade mental.
Eu quero alunos que não falem todos ao mesmo tempo sobre coisas que não têm nada a ver com as aulas e quando peço a um que se cale ele não me responda: “Por que é que me mandou calar a mim? Não vê os outros também a falar?”
Eu quero alunos que não façam comentários despropositados de modo a que os outros se riam e respondam ao que eles disseram ateando o rastilho da balbúrdia em que ninguém se entende.
Eu quero alunos que não me obriguem a repetir em todas as aulas “Entram, sentam-se e calam-se!”
Eu quero alunos que não usem artes de ventríloquo para assobiar, cantar, grunhir, mugir, roncar e emitir outros sons. É claro que se eu não quisesse dar mais aula bastaria perguntar quem tinha sido e não sairia mais dali pois ninguém assumiria a responsabilidade.
Eu quero alunos que não desconheçam a existência de expressões como “obrigado”, “por favor” e “desculpe” e que as usem sempre que o seu emprego se justifique.
Eu quero alunos que ao serem chamados a participar na aula não me olhem com enfado dizendo interiormente “Mas o que é que este quer agora?” e demorem uma eternidade a disponibilizar-se para a tarefa como se me estivessem a fazer um grande favor. Que fique bem claro que os alunos não me fazem favor nenhum em estarem na aula e a portarem-se bem.
Eu quero alunos que não estejam constantemente a receber e a enviar mensagens por telemóvel e a recusarem-se a entregar-mo quando lho peço para terminar esse contacto com o exterior pois esse aluno “não está na sala”, está com a cabeça em outros mundos.
Eu sou um trabalhador como outro qualquer e como tal exijo condições de trabalho! Ora, como é que eu posso construir uma frase coerente, como é que eu posso escolher as palavras certas para ser claro e convincente se vejo um aluno a balouçar-se na cadeira, outro virado para trás a rir-se, outro a mexer no telemóvel e outro com a cabeça pousada na mesa a querer dormir?
Quando as aulas são apoiadas por fichas de trabalho gostaria que os alunos, ao sair da sala, não as amarrotassem e deitassem no cesto do lixo mesmo à minha frente ou não as deixassem “esquecidas” em cima da mesa.
Nos últimos cinco minutos de uma aula disse aos alunos que se aproximassem da secretária pois iria fazer uma experiência ilustrando o que tinha sido explicado e eles puseram os bonés na cabeça, as mochilas às costas e encaminharam-se todos em grande conversa para a porta da sala à espera que tocasse. Disse-lhes: “Meus meninos, a aula ainda não acabou! Cheguem-se aqui para verem a experiência!” mas nenhum deles se moveu um milímetro!!!
Como é possível, com alunos destes, criar a empatia necessária para uma aula bem sucedida?
É por estas e por outras que eu NÃO ADMITO A NINGUÉM, RIGOROSAMENTE A NINGUÉM, que ouse pensar, insinuar ou dizer que se os meus alunos não aprendem a culpa é minha!!!

5. No ano passado tive uma turma do 10º ano dum curso profissional em que um aluno, para resolver um problema no quadro, tinha de multiplicar 0,5 por 2 e este virou-se para os colegas a perguntar quem tinha uma máquina de calcular!!! No mesmo dia e na mesma turma outro aluno também pediu uma máquina de calcular para dividir 25,6 por 1. Estes alunos podem não saber efectuar estas operações sem máquina e talvez tenham esse direito. O que não se pode é dizer que são alunos de uma turma do 10º ano!!!
Com este tipo de qualificação dada aos alunos não me admira que, daqui a dois ou três anos, estejamos à frente de todos os países europeus e do resto do mundo. Talvez estejamos só que os alunos continuarão a ser brutos, burros, ignorantes e desqualificados mas com um diploma!!!

6. São estes os alunos que, ao regressarem à escola, tanto orgulho dão ao Governo. Só que ninguém diz que os Cursos de Educação e Formação são enormes ecopontos (não sejamos hipócritas nem tenhamos medo das palavras) onde desaguam os alunos das mais diversas proveniências e com histórias de vida escolar e familiar de arrepiar desde várias repetências e inúmeras faltas disciplinares até famílias irresponsáveis.
Para os que têm traumas, doenças, carências, limitações e dificuldades várias há médicos, psicólogos, assistentes sociais e outros técnicos, em quantidade suficiente, para os ajudar e complementar o trabalho dos professores?
Há alunos que têm o sublime descaramento de dizer que não andam na escola para estudar mas para “tirar o 9º ano”.
Outros há que, simplesmente, não sabem o que andam a fazer na escola…
E, por último, existem os que se passeiam na escola só para boicotar as aulas e para infernizar a vida aos professores. Quem é que consegue ensinar seja o que for a alunos destes? E por que é que eu tenho de os aturar numa sala de aula durante períodos de noventa e de quarenta e cinco minutos por semana durante um ano lectivo? A troco de quê? Da gratidão da sociedade e do reconhecimento e do apreço do Ministério não é, de certeza absoluta!

7. Eu desafio seja quem for do Ministério da Educação (ou de outra área da sociedade) a enfrentar (o verbo é mesmo esse, “enfrentar”, já que de uma luta se trata…), durante uma semana apenas, uma turma destas sozinho, sem jornalistas nem guarda-costas, e cumprir um horário de professor tentando ensinar um assunto qualquer de uma unidade didáctica do programa escolar.
Eu quero saber se ao fim dessa semana esse ilustre voluntário ainda estará com vontade de continuar. E não me digam que isto é demagogia porque demagogia é falar das coisas sem as conhecer e a realidade escolar está numa sala de aula com alunos de carne, osso e odores e não num gabinete onde esses alunos são números num mapa de estatística e eu sei perfeitamente que o que o Governo quer são números para esse mapa, quer os alunos saibam estar sentados numa cadeira ou não (saber ler e explicar o que leram seria pedir demasiado pois esse conhecimento justificaria equivalência, não ao 9º ano, mas a um bacharelato…).
É preciso que o Ministério diga aos alunos que a aprendizagem exige esforço, que aprender custa, que aprender “dói”! É preciso dizer aos alunos que não basta andar na escola de telemóvel na mão para memorizar conhecimentos, aprender técnicas e adoptar posturas e comportamentos socialmente correctos.

Se V.Excia achar que eu sou pessimista e que estou a perder a sensibilidade por estar em contacto diário com este tipo de jovens pergunte a opinião de outros professores, indague junto das escolas, mande alguém saber. Mas tenha cuidado porque estes cursos são uma mentira…

Permita-me discordar de V. Excia mas dizer que os professores têm de ser dignificados é pouco, muito pouco mesmo…

Atenciosamente

Domingos Freire Cardoso
Professor de Ciências Físico-Químicas
Rua José António Vidal, nº 25 C
3830 - 203 ÍLHAVO
E-mail:
dfcardos@gmail.com

domingo, novembro 25, 2007

Invasões

I
Aconselho vivamente a leitura do ensaio histórico do investigador Vasco Pulido Valente, recentemente publicado com o sugestivo título de “Ir Prò Maneta” (Alêtheia Editores, 2007). Relata e traça um pormenorizado retrato dos vários estratos sociais portugueses, das suas motivações e forma como enfrentaram as invasões dos exércitos napoleónicos - com especial relevo para a primeira, comandada pelo general Junot em 1808 - em inusitadas insurreições e levantamentos patrióticos, sem esquecer que quando os ingleses desembarcaram em Lavos, perto da Figueira da Foz, para nos virem ajudar, já o povo amotinado, de norte a sul, apenas armado de paus, chuços e piques, tinha libertado nove décimos do país.
Duzentos anos depois, os portugueses bem podem reflectir e tirar algumas conclusões sobre o comportamento dos nossos antepassados. O conhecimento da História também tem essa prodigiosa função que é a de, em momentos muito precisos, perante outros tipos de pilhagens e sevícias, ajudar a reanimar a identidade, a combatividade e a auto-estima dos povos.

quinta-feira, novembro 22, 2007

Habituem-se!

H
Em Fevereiro de 2005, António Vitorino, respondendo aos jornalistas sobre a pouca informação que girava à volta da constituição do futuro governo, afirmou, por mais de uma vez, com a sua habitual impertinência, que o Governo de Sócrates não seria formado "na comunicação social e pela comunicação social", e que em termos de governação, "em Portugal é preciso ter teimosia, e ter determinação". Para que não restassem dúvidas, sublinhou as suas declarações com um peremptório, quase ameaçador, "Vamos continuar. Habituem-se!".
Ao princípio ainda se pensava que esta advertência era dirigida exclusivamente aos jornalistas, mas com o correr do tempo concluiu-se que a mensagem era dirigida a toda a sociedade portuguesa, dando a entender que aquele "vamos continuar” e “habituem-se!" prenunciava a confrontação eminente, contra tudo e contra todos, não para melhorar mas para piorar o estado geral da nação. Quase 3 anos depois daquelas palavras de António Vitorino, os resultados estão à vista:
1 - A passiva maioria absoluta do PS, tornou-se o sustentáculo de uma das mais preocupantes derivas autoritárias, desde a restauração das liberdades democráticas, em 25 de Abril;
2 – José Sócrates Pinto de Sousa estava determinado a fazer regredir socialmente o país para níveis próximos do século XIX, e se o povo não souber responder em conformidade, ele vai consegui-lo.

Mudanças na Ortografia da Língua Portuguesa

M
A partir de Janeiro de 2008, Brasil, Portugal e os países da CPLP – Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste - terão a ortografia unificada.

O português é a terceira língua ocidental mais falada, após o inglês e o espanhol. A ocorrência de ter duas ortografias atrapalha a divulgação do idioma e a sua prática em eventos internacionais. Sua unificação, no entanto, facilitará a definição de critérios para exames e certificados para estrangeiros. Com as modificações propostas no acordo, calcula-se que 1,6% do vocabulário de Portugal seja modificado. No Brasil, a mudança será bem menor: 0,45% das palavras terão a escrita alterada. Mas apesar das mudanças ortográficas, serão conservadas as pronúncias típicas de cada país.

O que vai mudar na ortografia em 2008:

- As paroxítonas terminadas em "o" duplo, por exemplo, não terão mais acento circunflexo. Ao invés de "abençôo", "enjôo" ou "vôo", os brasileiros (e os outros) terão que escrever "abençoo", "enjoo" e "voo";
- mudam-se as normas para o uso do hífen no meio das palavras; O hífen vai desaparecer do meio de palavras, com excepção daquelas em que o prefixo termina em `r´, casos de "hiper-", inter-" e "super-". Assim passaremos a ter "extraescolar", "aeroespascial" e "autoestrada".
- Não se usará mais o acento circunflexo nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do substantivo dos verbo "crer", "dar", "ler","ver" e seus decorrentes, ficando correta a grafia "creem", "deem", "leem" e "veem";
- Criação de alguns casos de dupla grafia para fazer diferenciação, como o uso do acento agudo na primeira pessoa do plural do pretérito perfeito dos verbos da primeira conjugação, tais como "louvámos" em oposição a "louvamos" e "amámos" em oposição a "amamos";
- O trema (brasileiro) desaparece completamente. Estará correto escrever "linguiça", "sequência", "frequência" e "quinquênio" ao invés de lingüiça, seqüência, freqüência e qüinqüênio;
- O alfabeto deixa de ter 23 letras para ter 26, com a incorporação de "k", "w" e "y"; - O acento deixará de ser usado para diferenciar "pára" (verbo) de "para" (preposição);
- No Brasil, haverá eliminação do acento agudo nos ditongos abertos "ei" e "oi" de palavras paroxítonas, como "assembléia", "idéia", "heróica" e "jibóia". O certo será assembleia, ideia, heroica e jiboia;
- Em Portugal, desaparecem da língua escrita o "c" e o "p" nas palavras onde ele não é pronunciado, como em "acção", "acto", "adopção" e "baptismo". O certo será ação, ato, adoção e batismo;
- Também em Portugal elimina-se o "h" inicial de algumas palavras, como em "húmido", que passará a ser grafado como no Brasil: "úmido";
- Portugal mantém o acento agudo no e e no o tônicos que antecedem m ou n, enquanto o Brasil continua a usar circunflexo nessas palavras: académico/acadêmico, génio/gênio, fenómeno/fenômeno, bónus/bônus.
F
Fontes: Banco de Dados da Língua Portuguesa – FFCLH USP (2007), Revista Isto É, Folha de São Paulo, Agência Lusa e Semanário "SOL"

sábado, novembro 17, 2007

Colecções Particulares

C
Uma semana antes das eleições, o Paulo Portas mandou digitalizar mais de 60 mil páginas de documentos que transitaram pelo seu gabinete no Ministério da Defesa. Se em vez de digitalização, estivéssemos a falar de fotocópias tradicionais, e se cada documento fosse apenas uma página de A4, ele fez sair do ministério, surripiando material para o seus arquivos particulares, nada mais, nada menos, que 120 resmas de papel, de documentação altamente sigilosa, para não dizer de segredos de estado. Então, na altura, ninguém deu por nada, ninguém dá um passo, ninguém mexe uma palha, ninguém faz uma “vistoria” à casa daquele Portas, e responsabiliza o tunante?

sábado, novembro 10, 2007

Pobreza e Riqueza em Portugal

P
“Nos últimos cinco anos (a acreditar-se na visão optimista da estatística oficial) os dez maiores grupos portugueses de empresas da indústria e da banca registaram lucros consolidados de cerca de 5.500 milhões de Euros, isto é, 10 empresas geraram um crescimento de +122% nos seus resultados financeiros, enquanto que, no mesmo período, o PIB nacional apenas conseguia um modesto registo de +14,7% (a distribuir pelos referidos 5 anos), portanto, oito vezes inferior ao que foi produzido pelas citadas 10 empresas privadas. Se tivermos somente em atenção os resultados dos 4 bancos que integram esse “pelotão da frente” (CGD, BCP, BES e BPI), veremos que só à sua parte o crescimento somou 72,5%.
Foi neste período que os governos de direita do PS e do PSD/CDS desenvolveram as suas teses do “apertar o cinto por causa do défice público” e avançaram políticas de desmembramento do Serviço Nacional de Saúde, de redução de âmbito da Segurança Social, da venda a privados das dívidas do Estado e de um sector crescento do património nacional, da progressiva liberalização dos despedimentos e do estabelecimento das bases de um Estado centralizado e autoritário.
O país serve, na perspectiva dos governantes, para financiar os projectos de uma elite do sector privado.”
Jorge Messias, em ODIARIO.INFO em 2007 Setembro 30

O Analfabeto Político

O
“O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa nos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguer, do sapato e do remédio depende das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.”
Bertold Brecht (1898-1956), poeta, dramaturgo e encenador

segunda-feira, novembro 05, 2007

A Ilha

A
Título: A Ilha
Título Original: The Island
Ano da estreia: 2005
Realização: Michael Bay
Guião: Caspian Tredwell-Owen e Alex Kurtzman
Género: Ficção Científica – Acção
Actores principais: Ewan McGregor e Scarlett Johansson

Embora classificado como tal, este filme, em rigor, já não se enquadra no género de ficção científica, porque o que nos transmite é uma realidade que já está ali ao virar da esquina, fruto do “aperfeiçoamento” das técnicas de clonagem, da sua inevitável industrialização e comercialização, e que só ainda não abandonou o segredo dos laboratórios, por força das questões éticas que têm acompanhado os progressos da engenharia genética. No entanto, isso não impediu que à volta do tema tivesse sido construído um argumento robusto e credível, que só pecou por os criadores do filme terem querido extrair muitos “subprodutos” fílmicos de efeito fácil, recorrendo a uma montagem vertiginosa, perseguições e muita pirotecnia, que têm tanto de supérfluas como de desnecessárias, tentando levar a história mais longe, quando a “energia” da ideia nuclear já estava esgotada, ou melhor dizendo, subvertida.
A acção localiza-se algures neste século XXI e decorre num complexo tecnológico que, baseando-se em avançadas técnicas de clonagem, explora a criação de réplicas humanas, para clientes com suficiente capacidade financeira para poderem dispor de uma cópia de si próprios, funcionando aqueles como banco de órgãos, para que eles, os originais, pudessem beneficiar de um prolongamento da vida, sem que os transplantes corram o habitual risco de rejeições por incompatibilidade. Ainda não é a eternidade, mas apenas uma promessa, um primeiro grande passo.
Como se trata de seres humanos e não da ovelha “Dolly”, e para manter a estabilidade da sua população, o tal centro tecnológico recorria a duas piedosas mentiras: a vida sobre a superfície da terra tinha-se tornado impossível, irremediavelmente condenada pela contaminação ambiental, e a obtenção de passaporte para abandonar aquele mundo subterrâneo e aceder a uma certa ilha paradisíaca, apenas era possível através de um regular sorteio, que mantinha mobilizada e na expectativa toda a população de imitações. Acontece que não era uma ilha o que esperava os felizes contemplados, mas apenas e tão só a sala de transplantes. Em dado momento pensei que iria novamente ser introduzido naquela velha questão que “Brade Runner” ou “Inteligência Artificial” (é fatal a comparação) tão genialmente abordaram. Mas não. Centrado numa ideia-chave que a acção do filme se propunha desenvolver, isto é, qualquer coisa como “eles não querem que tu saibas quem tu és”, há um momento em que o filme podia ter enveredado pela exploração do filão inesgotável da problemática e da confrontação entre a condição humana e as suas réplicas. Contudo, Michael Bay não entendeu assim, preferindo mudar de rumo, encaminhando a narrativa para a acção pura e dura, e transformando as vítimas em improváveis e pouco credíveis “denunciadores” e “heróis libertadores” de uma “indústria” que, em termos reais, nunca se deixaria infiltrar por sabotadores, de forma tão ingénua e pouco convincente. A linha de força inicial esbate-se para dar lugar à banalidade. Se “a ilha” e a “contaminação”, no contexto do filme, são duas mentiras que servem para manter uma população de clones sob controlo e na expectativa de alcançar uma espécie de paraíso, também o filme em si mesmo, relativamente à sua responsabilidade perante o espectador, se vai transformando numa espécie de auspiciosa promessa não cumprida.
Há filmes que são obras de arte, enquanto que outros, embora pretensiosos ou bem intencionados, não passam de produtos mais ou menos comerciais. Com um terço inicial a prometer um filme recheado de substância e densidade, Michael Bay, com alguns créditos já firmados, não resiste à tentação do espectáculo visual, acabando por resvalar para o puro entretenimento. A banda sonora é sofrível, a fotografia é excelente, e quanto a Scarlett Johansson e Ewan McGregor, têm representações competentes e dignas, embora, por mais que se esforcem, não consigam salvar a honra do convento.
Esta “A Ilha”, com todas as condições e atributos para se classificar como um grande filme, ansiando um lugar entre os eleitos, acaba por escolher o caminho fácil e efémero, mas nem sempre garantido, de ser um produto apetecível, porém perecível, que depois de digerido, logo se esquece.

domingo, outubro 28, 2007

Pelo SIM ao Referendo

P
Sou pelo SIM ao referendo, destinado à ratificação do Tratado da União Europeia (ou Tratado de Lisboa), porque Portugal é domínio dos portugueses, a Europa dos europeus, e não dos políticos que nos governam, efémera, nem sempre sagazmente, e quantas vezes animados por razões egoístas, triviais e mesquinhas. Assim sendo, subscrevo na totalidade este clarividente escrito de José Pacheco Pereira, publicado no jornal PÚBLICO de 27 de Outubro de 2007, e posteriormente no seu blogue ABRUPTO.
Aos políticos também cabe a função pedagógica de decifrarem o conteúdo das leis e dos tratados, afinal, obra deles, e pelos vistos, que a alguns deles, pelas mais variadas, e quantas vezes, obscuras razões, interessará manter longe do debate e afastado do entendimento e escrutínio dos povos.

Puro Ilusionismo

P
O professor Vital Moreira, partidário de que o Tratado da União Europeia (ou de Lisboa) não deve ser referendado pelos eleitores, mas apenas ratificado pelos parlamentares da Assembleia da Republica, explicou o seu raciocínio no blogue Causa Nossa. Entre outras coisas, diz ele o seguinte: “Os que defendem o referendo sobre o Tratado de Lisboa já experimentaram lê-lo? E acham que algum cidadão comum consegue passar da segunda página? Não será tempo de deixar de brincar aos referendos?”. Assim, de uma assentada, matou dois coelhos com uma única cajadada, atribuindo aos portugueses o ignominioso perfil de estúpidos e incapazes de discernirem o conteúdo do dito tratado, e lançando mais uma acha para a fogueira em que a participação democrática se está a consumir e a debilitar.
Aliás, ele não fez mais do que secundar o ministro dos negócios estrangeiros Luís Amado, quando aquele alegou que «os tratados internacionais não têm que ser referendados. É para isso que existem os parlamentos», acrescentando mais à frente que «os tratados são, de uma maneira geral, muito complexos. Difíceis de apreender em termos de uma simples pergunta a um eleitor».
No auge desta diarreia mental que toca as raias da falta de decência intelectual, com o objectivo de atenuar a prepotência da sua anterior tese, o senhor Vital Moreira (VM), desta vez secundado pela senhora deputada Ana Gomes (AG), vieram sugerir que aos portugueses, pela via referendária, apenas lhes deveria ser permitido perguntar se DESEJAM OU NÃO SAIR da União Europeia. Alicerçando o seu pensamento no falso princípio de que quem é contra o tratado é contra a União Europeia, o que corresponde a uma grosseira simplificação, diz VM que “(…) depois de entrado em vigor o novo Tratado, pode ser convocado um referendo, cumprindo os requisitos constitucionais, com a seguinte simples e clara pergunta: Portugal deve sair da UE?". Não discordando da forma, mas apenas do conteúdo, logo a seguir vem AG acrescentar que «o referendo que haverá a levar a cabo em Portugal, não se deve centrar no Tratado, mas sobre a questão de fundo: queremos nós, portugueses, continuar a participar na construção do projecto europeu consubstanciado na UE?».
Além da pura subversão do instituto do referendo (menos referendo e mais sondagem de opinião, como muito bem diz Victor Dias), naquela ordem de ideias e para aqueles doutos senhores, primeiro somos dados como incapazes para saber as linhas com que a Europa se cose, para logo a seguir, num assomo de generosidade, abrirem mão do referendo, limitando-nos a decidir se queríamos CONTINUAR OU NÃO na União Europeia, mas sendo-nos vedado emitir opinião sobre as políticas e orientações dessa mesma União Europeia, consubstanciadas nos grandes documentos constituintes e tratados. Eis a forma como se transforma a democracia em puro ilusionismo.

quinta-feira, outubro 25, 2007

Para NÃO ESQUECER

P
«O PS entende que é necessário reforçar a legitimação democrática do processo de construção europeia, pelo que defende que a aprovação e ratificação do Tratado deva ser precedida de referendo popular, amplamente informado e participado, na sequência de uma revisão constitucional que permita formular aos portugueses uma questão clara, precisa e inequívoca.»
- Programa eleitoral do PS/2005, na base do qual Sócrates chegou a primeiro-ministro

terça-feira, outubro 23, 2007

Novas do Burgo

N
Porreiro, Pá!

Os políticos que estiveram em Lisboa, na madrugada de 19 de Outubro a aprovar o tratado da União Europeia, bem podem bambolear-se com o seu “feito”, mas uma coisa é certa: os povos europeus, de leste a oeste, poucos foram os que foram ouvidos em referendo sobre a anterior constituição (tendo-a rejeitado), e sobre esta novel versão, em forma de tratado, quase ninguém sabe do que trata, logo a “coisa” foi decidida nas suas costas. Muito espectáculo e pouco conteúdo, eis o que sobra. Diz quem está bem informado que o tratado tem 95% do cadáver da finada constituição, mais uns 5% de arranjos e maquilhagem, com o objectivo de parecer material novo. O assunto Europa é demasiado sério para que se queira fazer tábua-rasa dos interesses dos povos, logo, este simulacro de democracia apenas vai afastar, cada vez mais, os cidadãos europeus de um projecto que tem cada vez menos a ver com eles. Quanto a Portugal, como sempre, os seus representantes portaram-se condignamente, como bons e disciplinados alunos, mantendo-se também razoáveis estalajadeiros, sem reivindicações, e ipso facto, exibindo-nos com a habitual fórmula de pobretes mas alegretes. Portanto, tendo o povo votado e gerado esta maioria absoluta, pugnemos para que eles realizem as suas promessas. Assim, que venha esse prometido referendo!
No fecho dos trabalhos, o porreiríssimo e sonoro desabafo do presidente em exercício sr. Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates, para o seu guia espiritual sr. José, também conhecido por Durão Barroso, é bem ilustrativo da leviandade com que tudo isto está a ser encarado. Consumada mais uma finta aos povos da Europa, balbuciou para os indiscretos microfones um “porreiro, pá!”, que os jornalistas estrangeiros tiveram dificuldade em interpretar. Nestas ocasiões, sem ser preciso recorrer ao inglês técnico, o velho português corrente serve.

Felizes e Contentes

O Sr. João Deus Pinheiro (PSD) e o Sr. António Victorino (PS) estiveram na RTP, em monocórdica cavaqueira, a comentarem a aprovação do tratado da União Europeia, dito de Lisboa, reeditando o divertido papel de Sr. Feliz e do Sr. Contente de outros tempos. Quanto à ERC (Entidade Reguladora da Comunicação), continua a não ter opinião sobre a ausência de partilha pelas outras faixas de opinião, dos programas e tempos da televisão pública, paga por TODOS os contribuintes, continuando assim a dar sucessivas provas da sua perfeita e indecorosa inutilidade.

A Grande Bandalheira

O procurador-geral da República, dr. Fernando Pinto Monteiro, numa entrevista que deu ao semanário Sol, em 20-10-2007, fez algumas afirmações que me deixaram atónito. Pensa ele que existe um grande exagero no recurso às escutas telefónicas, muito embora, todos o sabemos, aquelas apenas possam ser efectuadas mediante mandato judicial. Em abono deste estado a que se chegou, desconfia ele que o seu próprio telemóvel se encontra sob escuta, atendendo aos ruídos esquisitos que aquele emite. Finalmente, diz ele que não sabe como lidar e controlar esta situação. Se ele não sabe, porque levantou a lebre? Se ele não sabe, o que lá está a fazer? Se ele não sabe, quem saberá? Se escutas nestas condições não podem ser usadas como meio de prova em tribunal, porque são feitas? Será mera chantagem ou estará em curso alguma operação destinada a instalar um certo clima de intimidação? Depois de ter sido descoberto, há uns anos atrás, um microfone no gabinete do anterior procurador-geral, talvez esta seja a cereja a coroar a bandalheira nacional.

Pornografia Financeira

“ (…) Sem surpresas. Já estamos habituados a que legalidade e moralidade sejam parentes muito afastados. Vivemos na quase total imoralidade escorada numa discutível, mas sempre muito eficiente, legalidade. O que aconteceu no BCP (favorecimento do filho de Jardim Gonçalves com o perdão de dívidas ao banco no valor de 12 milhões de euros) e a ligeireza das justificações já apresentadas são um insulto à inteligência de todos os portugueses. (…)”
In HISTÓRIA EXEMPLAR de João Marques dos Santos, jornal Correio da Manhã de 2007-10-19

Atrasos
A
O relógio do Arco da Rua Augusta foi finalmente reparado. Na inauguração do acontecimento, só faltou a ministra da cultura ter rematado com uma declaração deste tipo:
- Agora, sim, estamos em condições de recuperar o tempo perdido…

segunda-feira, outubro 15, 2007

Contra a Corrente

C
Em 26 de Janeiro de 1784, numa carta para a sua filha, Benjamim Franklin, inventor do pára-raios e um dos fundadores da independência americana, escreveu que o peru, em vez da águia-careca, seria o símbolo nacional mais adequado para os Estados Unidos. E explicou as suas razões: «A águia-careca é um pássaro de mau caráter; tal como os homens que vivem para enganar e roubar, ela é uma ave medíocre e asquerosa. O peru é um pássaro respeitável e, acima de tudo, um autêntico indígena americano.» Ora bem, quando chegou a altura de decidir, os políticos americanos ignoraram o sábio conselho de Benjamim Franklin e escolheram a águia-careca. Daí para cá, foi o que se sabe.

(…)
“A guerra do Iraque é um empreendimento vasto e complexo. Para levar a cabo o seu inquérito, The Nation concentrou-se sobre alguns temas-chave da ocupação, pedindo aos veteranos que contassem em detalhe as suas experiências durante os patrulhamentos, as saídas em caravana, os controles de estrada, os raids e a captura de suspeitos. Desta colecção de testemunhos destaca-se um tema comum. Os combates nas zonas urbanas densamente povoadas têm levado ao uso arbitrário da força, e à morte, sob o fogo das tropas de ocupação, de milhares de inocentes.”
(…)
“O ódio contra os iraquianos descrito pelos veteranos ao The Nation foi confirmado por um relatório do Pentágono publicado em 4 de Maio. Segundo essa sondagem, conduzida pela Direcção dos Serviços Médicos do Exército, somente 47% dos soldados e 38% dos fuzileiros pensam que os civis devem ser tratados com respeito e dignidade. Somente 55% dos soldados e 40% dos fuzileiros afirmam que denunciariam um camarada de unidade que matasse ou ferisse um não-combatente inocente. Estas atitudes traduzem o limitado contacto que as tropas de ocupação dizem ter com os iraquianos. Eles raramente vêem o inimigo. Vivem abrigados nos seus acampamentos fortemente fortificados, que apenas são alvo de ataques de morteiro. Eles não saem para o exterior das suas bases, senão para entrar em combate. A crescente frustração de combater um inimigo invisível e sofrer os efeitos das bombas deflagradas junto à borda das estradas, com o seu regular custo em mortos e feridos americanos, levaram muito militares a declarar a guerra aberta a todos os iraquianos.”
(…)
Chris Hedges et Laila Al-Arian, jornal The Nation de 30.7.2007

Nunca interrompam o vosso inimigo quando ele está a cometer um erro.
Napoleão Bonaparte, estadista francês (1769-1821)

(…) Os acontecimentos mais recentes que envolveram a RTP, José Rodrigues dos Santos e o (jornal) PÚBLICO, com troca de acusações, processos disciplinares, são mais um lembrete da condição de servidão da RTP ao Governo. O presidente do conselho de administração fala do que aconteceu na sua "empresa" e com o seu "empregado", como se estivéssemos perante um mero problema laboral. A linguagem é enganadora porque se se trata de uma "empresa" então a cadeia hierárquica é outra, começa no verdadeiro presidente do conselho de administração, José Sócrates, primeiro-ministro; no administrador executivo, Santos Silva, ministro; e quando se chega ao topo da RTP estamos mais ao nível do director-geral, que depois decide as chefias mais abaixo, incluindo o cargo crucial de director de informação. (…)
José Pacheco Pereira in jornal PÚBLICO de 13 de Outubro de 2007

O Caçador e a Rede - Estendia um Caçador suas redes. Um Melro, que o viu, perguntou-lhe o que fazia. Respondeu-lhe o Caçador, que edificava uma cidade; e acabando de espalhar as redes, escondeu-se. O Melro, dando-lhe crédito, chegou-se para ver o novo edifício, e caiu na rede. Saiu o Caçador para apanhá-lo, e o Melro lhe disse mui indignado: Homem falso, e enganador, se assim edificas tal cidade, poucos habitadores lhe acharás.(Esopo, tradução do grego por Manuel Mendes) transcrita in blog ABRUPTO de José Pacheco Pereira em 2007-10-15

“As políticas para o ensino foram boçais e destituídas de visão estratégica. A ministra e os seus ajudantes mostraram ter cabeças tayloristas, convencidas que gerir passa por fazer, pela força e pelo medo, com que os professores executem as suas ideias inconsistentes. Qualquer mudança, desde que reduzisse, economizasse e afrontasse os professores, foi considerada moderma e progressistas.”
Santana Castilho, in 2006/2007: O ANO DA CHIBATA, jornal Público de 19 Julho 2007

“Quem tenta enganar um país com a autenticidade da sua licenciatura, é porque está preparado para enganar o país com outras coisas.”
Conclusão de um amigo, quando meditou sobre a licenciatura em Direito que podia ter obtido, a partir de 1974 e anos seguintes, com sucessivas passagens administrativas (bastava assistir às aulas), e não o fez por respeito a si próprio.

“A elaboração deste Tratado (da União Europeia) foi feita em circuito fechado. A discussão em segredo. A aprovação será furtiva. Para os dirigentes europeus, A União é mais importante que a democracia. E a Europa mais importante que os europeus.”…“Os dias que aí vêm são o princípio da morte da democracia nacional. Sem que haja uma democracia europeia que a substitua e a melhore. È pena que a presidência portuguesa seja a agência funerária. Que o primeiro-ministro português seja o mestre-de-cerimónias. E que o cangalheiro, presidente da Comissão, seja também português. Triste vocação!”
António Barreto, in UMA SEMANA NEGRA, jornal Público de 2007-10-14

Já o rei D. Carlos I, de regresso a Portugal, depois das faustosas paródias de Paris, num assomo da grande consideração em que tinha os seus súbditos, resmungava para quem o quisesse ouvir: "lá vamos outra vez ao encontro dos nossos piolhosos".

O destino dos portugueses é terem promessas de mel e governos de fel.
F.Torres num momento de desalento.

“A ICAR [Igreja Católica Apostólica Romana] foi a voz do feudalismo quando as transformações económicas e sociais se encarregaram de o liquidar, defendeu o absolutismo monárquico contra o liberalismo, a monarquia contra a república, o nazismo contra a democracia. As posições reaccionárias foram sempre bandeiras dos padres, bispos e Papas, assumidas com particular zelo nos dois últimos pontificados.”
Carlos Esperança in DIÁRIO ATEÍSTA

(…) Eu acho que o Tarcisio Bertone [secretário de estado do Vaticano] tem razão: existe realmente uma tentativa para silenciar o catolicismo. E vou prová-lo.
(…) considerem o caso do canal estatal RTP 1: no Sábado, dia 13 de Outubro, apenas 7h15m em 21 horas e 30 minutos de emissão foram preenchidas por programas exclusivamente sobre Fátima; na programação de domingo, o canal do Estado dedicou somente oito horas e meia em vinte e uma a Fátima, o que significa que 60% da emissão não foi monopolizada pelo fatimismo!
(…) Portanto, só me resta dizer aos católicos que a parte afectiva do meu cérebro está solidária com eles, e que chora indignada por serem tão horrendamente silenciados. Coitadinhos!
Ricardo Alves in DIÁRIO ATEÍSTA em 2007-10-14

sábado, outubro 13, 2007

Compadres

C
Vital Moreira está para o PS (isto é, Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates) assim como Vasco Graça Moura estava para Cavaco Silva, nos seus tempos “áureos” de governação. Ambos são teólogos, sumos-sacerdotes e emanação de um certo estado das coisas, que eles acham que é um ESTADO INTERESSANTE.

sexta-feira, outubro 12, 2007

Onde é que eu já ouvi isto?

O
A propósito de uma intervenção nas instalações do Sindicato dos Professores da Zona Centro, o Ministério da Administração Interna, mais conhecido por ministério das polícias, veio esclarecer que «a colheita de informações sobre os preparativos de uma manifestação em lugares públicos é imprescindível para que a polícia possa preparar o seu dispositivo para o evento para assegurar a ordem e tranquilidade públicas, nomeadamente garantindo a segurança das pessoas, manifestantes ou não, e ordenado o trânsito de pessoas e de veículos na zona» . Por este andar, chegaremos ao dia, tal como outrora, em que o ajuntamento de mais de duas pessoas será considerado uma manifestação ou perturbação da ordem pública. Cuidemo-nos! Uns certos senhores neo-qualquer-coisa andam por aí a dizer que apenas querem ser os defensores da democracia e da "ordem e tranquilidade públicas", mas, se tal convier, o que eles querem é outra coisa. Onde é que eu vi e já ouvi disto?

quinta-feira, outubro 11, 2007

Ridículo e Preocupante

R
No Portugal legalista há dois tipos de manifestações: as legais e as ilegais. Serão ilegais, logo sujeitas à aplicação de coima, aquelas que acontecem sem que previamente hajam sido comunicadas e autorizadas pelas autoridades (penso que no caso seja o Governo Civil). No Portugal socretino também há dois tipos de manifestações, sobretudo quando o primeiro-ministro PS (Pinto de Sousa) se desloca às suas mediáticas inaugurações; as legais e as ilegais. Só que nestes casos especiais, estarão “legais” os apoiantes que aplaudem o cavalheiro e a sua comitiva, ao passo que estarão “ilegais” os que o contestam, com “direito” a serem isolados e identificados pelas forças policiais, e depois talvez criminalizados. Entre o ridículo e o preocupante, penso que nos devemos começar a preocupar.

Genéricos

G
No telejornal de 10 de Outubro, o ministro Teixeira dos Santos disse que sobre o Orçamento de Estado para 2008, apenas podia dar informações genéricas. Como há dois tipos de ministros, isto é, ministros-de-marca e ministros-genéricos, este ministro-genérico é compreensível que só possa dar informações genéricas. Ora, um ministro-genérico, comandado por um engenheiro-genérico, nunca pode levar o país a vislumbrar uma luz-de-marca ao fundo do túnel, mas apenas uma simplória e virtual luz-genérica.

quarta-feira, outubro 10, 2007

A Voz do Dono

A
José Rodrigues dos Santos, apresentador da RTP, canal público de televisão, concedeu uma entrevista ao PÚBLICO/PÚBLICA, onde veio denunciar a ocorrência de pressões e interferências, desde 2004, altura em que era director de informação, por parte do poder político, no sentido de determinar as orientações editoriais e os alinhamentos daquela estação, sobretudo em matéria de informação, pondo em causa a sua independência. A administração vem agora dizer que quer apurar todas as responsabilidades, supondo-se que pretenda controlar os danos causados pelas declarações de Rodrigues do Santos, tentando reduzir a denúncia de carácter eminentemente político, a um simples problema de natureza laboral.
Tudo isto não é nada que não fosse já falado à boca pequena, pois alguém está a entregar-se ao exercício de funções que excedem as suas competências, e isso vê-se nos programas de informação e “grande informação”, onde é notório que paira a omnipresença da “voz do dono”. A televisão é aquela “senhora” que nos entra pela casa dentro sem pedir licença, e os governos sabem isso. Moldar o que lemos, o que vemos e o que ouvimos ao sabor dos seus critérios, desejos e intenções é um fruto demasiado apetitoso, e está ali, mesmo à mão de semear.
Já tardava, mas aconteceu. José Rodrigues dos Santos vestiu a pele da raposa, teve a grande coragem de falar com todas as letras, e o resultado está à vista: a capoeira entrou em alvoroço.