«As pessoas têm sempre medo daquilo que desconhecem»
Dr. Frederick Treves in “O Homem Elefante” (The Elephant Man) de David Lynch, 1980
domingo, julho 31, 2011
sábado, julho 30, 2011
Revisitando o Quarteto de Alexandria (Justine)
Consultar este post para prévia apreciação global do QUARTETO DE ALEXANDRIA.
QUEM é quem, ao longo de todo o Quarteto:
Alexandria, a cidade mágica, sempre presente
O Narrador, professor e candidato a escritor cujo nome não é revelado
Justine, a esposa de Nessim
Nessim, o rico negociante copta
Melissa, a dançarina de cabaré
Balthazar, o médico e cabalista
David Mountolive, o embaixador britânico
Cohen, o peleiro, antigo amante de Melissa
Clea, a pintora
Pombal, o diplomata
Pursewarden, o diplomata e escritor
Scobie, o decadente oficial da Ordem do Império Britânico
Mnemjian, o barbeiro anão e corcunda, natural de Babilónia
Jacob Arnauti, primeiro marido de Justine
Capodístria, o homem da pala negra
Selim, o criado de Nessim
Hamid, o criado berbere do Narrador
Recolha de citações:
As nossas acções quotidianas nada mais são que os ouropéis que velam o vestido de ouro – a essência da forma. É na sua arte que o artista encontra, pela imaginação, um feliz compromisso com tudo quanto o feriu na vida quotidiana, e não para escapar ao seu destino, como faz o homem vulgar, mas para realizá-lo da forma mais adequada e completa que lhe for possível. (reflexão do Narrador)
- Olha! Cinco imagens diferentes da mesma pessoa. Se eu fosse escritor tentaria descrever uma personagem assim, através de uma visão prismática. Porque será que não podemos ver mais do que um perfil de uma só vez? (comentário de Justine, numa visita à modista)
Lastimo-o, diz ela. Tem o coração empedernido e tudo quanto lhe resta são os cinco sentidos, como os fragmentos de um copo quebrado. (Justine classificando Capodístria)
Na sua vida passional ela era directa, como um machado que cai. Recebia os beijos como a tela recebe as pinceladas do pintor. (…) Ela toma o amor como uma planta absorve a água, naturalmente, cegamente. (Jacob Arnauti numa avaliação de Justine, sua ex-mulher)
Encontro-me no centro do corpo da cidade, no seu sistema génito-urinário; é um lugar excelente para perder quaisquer ilusões. (afirmação de Balthazar, referindo-se às suas funções no hospital de Alexandria)
Ah!, minha querida, depois de todas as obras dos filósofos sobre a alma e dos cientistas sobre o corpo, que existe que possamos afirmar conhecer, realmente, sobre o homem? Que afinal de contas ele não é mais do que uma passagem para os líquidos e para os sólidos, um cano de carne. (Balthazar conversando com Justine)
E que posso dizer da própria Cabala? Alexandria é uma cidade de seitas e evangelhos. E, para cada asceta, ela produziu sempre um religioso libertino. (congeminações do Narrador)
Falo-lhe agora como membro da Cabala e não a título pessoal. Amar apaixonadamente, ainda que à própria mulher, é cometer adultério. (advertência de Balthazar a Justine)
Compreendi, então, a verdade do amor: um absoluto que tudo aceita ou tudo despreza. Os outros sentimentos, a compaixão, a ternura, e assim por diante, só existem à periferia, são aquisições da vida social e do hábito. (considerações do Narrador)
É preciso ser-se extraordinariamente ignorante para crer em Deus. Creio que, pela minha parte, soube sempre o bastante para não cair nessa armadilha. (confissão de Pursewarden ao Narrador)
Fui chefe de escuteiros, depois de reformado. Mas tive que sair de Inglaterra, meu velho. A tensão era excessiva para mim. Esperava a cada semana ler no News of the World: «Mais um jovem vítima dos imundos desejos do seu monitor»
(…)
O monitor que me antecedeu apanhou vinte anos de cadeia. (confissão de Scobie ao Narrador. Nos anos 40 e 50 do século passado, ainda o magnata da informação Rupert Murdoch (n.1931) era um "teenager", provávelmente com outras ambições, e já o jornal "News of the World" tinha tradição de não olhar a meios para andar a esgravatar a vida privada dos cidadãos britânicos. Esta menção de Scobie é bem exemplificativa daquela característica.)
É fácil escrever sobre beijos, diz Arnauti, mas onde a paixão devia ser plena de sinais e de chaves, isso só serve para calafetar os nossos pensamentos, sem fornecer nenhum conhecimento novo. (considerações do Narrador, sobre um escrito da autoria de Arnauti)
Às vezes divago e lanço-me contra a parede quando me lembro das loucuras que podem parecer insignificantes aos outros ou aos olhos de Deus – se é que existe algum Deus. Dirijo-me à pessoa que sempre imaginei vivendo num lugar tranquilo e verdejante como o Salmo 23. (divação de Justine)
Ele nunca compreenderá que é justamente com Deus que é necessário ser-se mais prudente; é Ele que cria uma atracção por tudo quanto de mais vil existe na natureza humana – o sentimente da nossa insuficiência, o nosso receio do desconhecido e os nossos insignificantes fracassos pessoais;e, sobretudo, o nosso egoísmo monstruoso que vê n coroa do martírio o prémio de uma acrobacia difícil de executar. (Pursewarden a falar com o Narrador, sobre o livro que quer escrever e as preocupações que o assaltam)
- Como deve parecer repugnante – disse-me um dia Justine – esta confusão obscena de ideias contraditórias que existem dentro de mim; esta doentia procura de Deus e a minha absoluta incapacidade para me submeter aos mais ligeiros imperativos morais da minha natureza, como, por exemplo, ser fiel ao homem que adoro. (o Narrador descrevendo diálogos com Justine)
De entre todas as espécies de fracassos, cada pessoa escolhe aquele que menos compromete o seu orgulho, que menos o decepciona. (Reflexão do Narrador)
Ainda bem que eu não sou um génio, porque um génio não tem ninguém em quem confiar (…) apaixonamo-nos sempre pelo ser, que a pessoa a quem amamos escolheu para amante. (Nessim confessando-se a Melissa)
Tinha mudado tanto naquelas poucas horas que sentia agora o desejo de que Melissa o visse nu, e apreciasse a sua beleza, que durante tanto tempo tinha permanecido inerte, como um belo vestido esquecido num armário. (Nessim com Melissa)
Reconhecia, com uma espécie de estupor, que Justine já tinha morrido para ele; de imagem interior tinha-se tornado num objecto, um medalhão gravado que se poderia trazer, para sempre, suspenso de um cordão em torno do pescoço. (sentimento de Nessim em relação a Justine)
No porto de Alexandria as sereias mugem e gemem. As hélices dos anvios rasgam as águas esverdeadas das docas. Os iates balançam preguiçosamente, mastros apontados para o céu, respirando sem esforço como ao ritmo da sístole e diástole da Terra.
(…)
As mesmas ruas e as mesmas praças ardem na minha imaginação como Pharos arde na História. Quartos onde amei, mesas de café onde a pressão dos meus dedos sobre um pulso me encadeava enfeitiçado, e eu sentia subir das ruas ardentes os ritmos de Alexandria que só se podiam traduzir em beijos famintos e palavras de amor pronunciadas por vozes roucas e maravilhadas. (contemplações e sensações do Narrador)
Tinham-lhe amarrado o queixo e fechado a boca, o que lhe dava um ar de ter adormecido durante um tratamento de beleza. Felizmente, ela tinha os ohos fechados; não teria suportado o seu olhar. (o Narrador perante o cadáver de Melissa)
Os amantes nunca se combinam bem, não acha? Um deles lança sempre a sua sombra sobre o outro e impede-o de crescer, de modo que aquele que se sente sufocado procura desesperadamente um meio de se evadir, para poder crescer sem entraves. Não é este o drama essencial do amor? (considerações de Clea sobre o amor)
(…)
De Alexandria que te abandona,
Não te deixes iludir e não digas
Que foi sonho ou um logro dos teus sentidos.
(…)
Abre a janela e olha para a rua
E bebe a taça inteira da amargura
E a derradeira embriaguez da multidão mística
E despede-te de Alexandria que te abandona.
NOTA – Ilustração de Fernando Torres
QUEM é quem, ao longo de todo o Quarteto:
Alexandria, a cidade mágica, sempre presente
O Narrador, professor e candidato a escritor cujo nome não é revelado
Justine, a esposa de Nessim
Nessim, o rico negociante copta
Melissa, a dançarina de cabaré
Balthazar, o médico e cabalista
David Mountolive, o embaixador britânico
Cohen, o peleiro, antigo amante de Melissa
Clea, a pintora
Pombal, o diplomata
Pursewarden, o diplomata e escritor
Scobie, o decadente oficial da Ordem do Império Britânico
Mnemjian, o barbeiro anão e corcunda, natural de Babilónia
Jacob Arnauti, primeiro marido de Justine
Capodístria, o homem da pala negra
Selim, o criado de Nessim
Hamid, o criado berbere do Narrador
Recolha de citações:
As nossas acções quotidianas nada mais são que os ouropéis que velam o vestido de ouro – a essência da forma. É na sua arte que o artista encontra, pela imaginação, um feliz compromisso com tudo quanto o feriu na vida quotidiana, e não para escapar ao seu destino, como faz o homem vulgar, mas para realizá-lo da forma mais adequada e completa que lhe for possível. (reflexão do Narrador)
- Olha! Cinco imagens diferentes da mesma pessoa. Se eu fosse escritor tentaria descrever uma personagem assim, através de uma visão prismática. Porque será que não podemos ver mais do que um perfil de uma só vez? (comentário de Justine, numa visita à modista)
Lastimo-o, diz ela. Tem o coração empedernido e tudo quanto lhe resta são os cinco sentidos, como os fragmentos de um copo quebrado. (Justine classificando Capodístria)
Na sua vida passional ela era directa, como um machado que cai. Recebia os beijos como a tela recebe as pinceladas do pintor. (…) Ela toma o amor como uma planta absorve a água, naturalmente, cegamente. (Jacob Arnauti numa avaliação de Justine, sua ex-mulher)
Encontro-me no centro do corpo da cidade, no seu sistema génito-urinário; é um lugar excelente para perder quaisquer ilusões. (afirmação de Balthazar, referindo-se às suas funções no hospital de Alexandria)
Ah!, minha querida, depois de todas as obras dos filósofos sobre a alma e dos cientistas sobre o corpo, que existe que possamos afirmar conhecer, realmente, sobre o homem? Que afinal de contas ele não é mais do que uma passagem para os líquidos e para os sólidos, um cano de carne. (Balthazar conversando com Justine)
E que posso dizer da própria Cabala? Alexandria é uma cidade de seitas e evangelhos. E, para cada asceta, ela produziu sempre um religioso libertino. (congeminações do Narrador)
Falo-lhe agora como membro da Cabala e não a título pessoal. Amar apaixonadamente, ainda que à própria mulher, é cometer adultério. (advertência de Balthazar a Justine)
Compreendi, então, a verdade do amor: um absoluto que tudo aceita ou tudo despreza. Os outros sentimentos, a compaixão, a ternura, e assim por diante, só existem à periferia, são aquisições da vida social e do hábito. (considerações do Narrador)
É preciso ser-se extraordinariamente ignorante para crer em Deus. Creio que, pela minha parte, soube sempre o bastante para não cair nessa armadilha. (confissão de Pursewarden ao Narrador)
Fui chefe de escuteiros, depois de reformado. Mas tive que sair de Inglaterra, meu velho. A tensão era excessiva para mim. Esperava a cada semana ler no News of the World: «Mais um jovem vítima dos imundos desejos do seu monitor»
(…)
O monitor que me antecedeu apanhou vinte anos de cadeia. (confissão de Scobie ao Narrador. Nos anos 40 e 50 do século passado, ainda o magnata da informação Rupert Murdoch (n.1931) era um "teenager", provávelmente com outras ambições, e já o jornal "News of the World" tinha tradição de não olhar a meios para andar a esgravatar a vida privada dos cidadãos britânicos. Esta menção de Scobie é bem exemplificativa daquela característica.)
É fácil escrever sobre beijos, diz Arnauti, mas onde a paixão devia ser plena de sinais e de chaves, isso só serve para calafetar os nossos pensamentos, sem fornecer nenhum conhecimento novo. (considerações do Narrador, sobre um escrito da autoria de Arnauti)
Às vezes divago e lanço-me contra a parede quando me lembro das loucuras que podem parecer insignificantes aos outros ou aos olhos de Deus – se é que existe algum Deus. Dirijo-me à pessoa que sempre imaginei vivendo num lugar tranquilo e verdejante como o Salmo 23. (divação de Justine)
Ele nunca compreenderá que é justamente com Deus que é necessário ser-se mais prudente; é Ele que cria uma atracção por tudo quanto de mais vil existe na natureza humana – o sentimente da nossa insuficiência, o nosso receio do desconhecido e os nossos insignificantes fracassos pessoais;e, sobretudo, o nosso egoísmo monstruoso que vê n coroa do martírio o prémio de uma acrobacia difícil de executar. (Pursewarden a falar com o Narrador, sobre o livro que quer escrever e as preocupações que o assaltam)
- Como deve parecer repugnante – disse-me um dia Justine – esta confusão obscena de ideias contraditórias que existem dentro de mim; esta doentia procura de Deus e a minha absoluta incapacidade para me submeter aos mais ligeiros imperativos morais da minha natureza, como, por exemplo, ser fiel ao homem que adoro. (o Narrador descrevendo diálogos com Justine)
De entre todas as espécies de fracassos, cada pessoa escolhe aquele que menos compromete o seu orgulho, que menos o decepciona. (Reflexão do Narrador)
Ainda bem que eu não sou um génio, porque um génio não tem ninguém em quem confiar (…) apaixonamo-nos sempre pelo ser, que a pessoa a quem amamos escolheu para amante. (Nessim confessando-se a Melissa)
Tinha mudado tanto naquelas poucas horas que sentia agora o desejo de que Melissa o visse nu, e apreciasse a sua beleza, que durante tanto tempo tinha permanecido inerte, como um belo vestido esquecido num armário. (Nessim com Melissa)
Reconhecia, com uma espécie de estupor, que Justine já tinha morrido para ele; de imagem interior tinha-se tornado num objecto, um medalhão gravado que se poderia trazer, para sempre, suspenso de um cordão em torno do pescoço. (sentimento de Nessim em relação a Justine)
No porto de Alexandria as sereias mugem e gemem. As hélices dos anvios rasgam as águas esverdeadas das docas. Os iates balançam preguiçosamente, mastros apontados para o céu, respirando sem esforço como ao ritmo da sístole e diástole da Terra.
(…)
As mesmas ruas e as mesmas praças ardem na minha imaginação como Pharos arde na História. Quartos onde amei, mesas de café onde a pressão dos meus dedos sobre um pulso me encadeava enfeitiçado, e eu sentia subir das ruas ardentes os ritmos de Alexandria que só se podiam traduzir em beijos famintos e palavras de amor pronunciadas por vozes roucas e maravilhadas. (contemplações e sensações do Narrador)
Tinham-lhe amarrado o queixo e fechado a boca, o que lhe dava um ar de ter adormecido durante um tratamento de beleza. Felizmente, ela tinha os ohos fechados; não teria suportado o seu olhar. (o Narrador perante o cadáver de Melissa)
Os amantes nunca se combinam bem, não acha? Um deles lança sempre a sua sombra sobre o outro e impede-o de crescer, de modo que aquele que se sente sufocado procura desesperadamente um meio de se evadir, para poder crescer sem entraves. Não é este o drama essencial do amor? (considerações de Clea sobre o amor)
(…)
De Alexandria que te abandona,
Não te deixes iludir e não digas
Que foi sonho ou um logro dos teus sentidos.
(…)
Abre a janela e olha para a rua
E bebe a taça inteira da amargura
E a derradeira embriaguez da multidão mística
E despede-te de Alexandria que te abandona.
NOTA – Ilustração de Fernando Torres
quinta-feira, julho 28, 2011
Os Beneficiários da Crise
O jornal PÚBLICO de hoje diz o seguinte:
«A fortuna dos 25 mais ricos de Portugal aumentou 17,8 por cento, somando 17,4 mil milhões de euros [isto é, 10,1% do PIB nacional], revela a lista anual da revista EXAME, liderada por Américo Amorim. Após três anos consecutivos de queda [isto é, de crise e recessão], os bilionários conseguiram aumentar os seus activos.»
Esclarecida a dúvida se é a revista EXAME, propriamente dita, ou a lista por ela publicada que é liderada por Américo Amorim (a língua portuguesa é cada vez tratada com menos rigor), apenas falta concluir que o aumento da fortuna dos "nossos" bilionários não tem nada a ver com a máquina de fazer excêntricos dos Jogos da Santa Casa. São sim grandes accionistas, de grandes grandes empresas da energia, petróleos, comunicações, construção, banca, distribuição, etc, que ao contrário do cidadão contribuinte e pagador de crises, têm habitualmente os seus ganhos e pecúlios protegidos da fúria fiscal dos governos, dos fazedores de impostos extraordinários e da eficácia dos cobradores de impostos.
Além de as crises continuarem a ser óptimas “desculpas” para fazer bons “negócios”, volta a deixar-se a pergunta no ar: - Quantos mais pobres são precisos para fazer um rico, cada vez mais rico?
«A fortuna dos 25 mais ricos de Portugal aumentou 17,8 por cento, somando 17,4 mil milhões de euros [isto é, 10,1% do PIB nacional], revela a lista anual da revista EXAME, liderada por Américo Amorim. Após três anos consecutivos de queda [isto é, de crise e recessão], os bilionários conseguiram aumentar os seus activos.»
Esclarecida a dúvida se é a revista EXAME, propriamente dita, ou a lista por ela publicada que é liderada por Américo Amorim (a língua portuguesa é cada vez tratada com menos rigor), apenas falta concluir que o aumento da fortuna dos "nossos" bilionários não tem nada a ver com a máquina de fazer excêntricos dos Jogos da Santa Casa. São sim grandes accionistas, de grandes grandes empresas da energia, petróleos, comunicações, construção, banca, distribuição, etc, que ao contrário do cidadão contribuinte e pagador de crises, têm habitualmente os seus ganhos e pecúlios protegidos da fúria fiscal dos governos, dos fazedores de impostos extraordinários e da eficácia dos cobradores de impostos.
Além de as crises continuarem a ser óptimas “desculpas” para fazer bons “negócios”, volta a deixar-se a pergunta no ar: - Quantos mais pobres são precisos para fazer um rico, cada vez mais rico?
quarta-feira, julho 27, 2011
Registo para Memória Futura (48)
Portugal é citado 32 vezes no ensaio-manifesto UMA DECLARAÇÃO DE INDEPENDÊNCIA EUROPEIA (A European Declaration of Independence) do assassino ultra-direitista norueguês Anders Behring Breivik.
domingo, julho 24, 2011
Últimas Notícias
A Polícia Judiciária investiga o desaparecimento de 800 milhões de Euros do Banco Português de Negócios (BPN), que foram passar férias a uma “offshore” e ainda não voltaram.
Os alemães e os franceses (e os chineses também) são esperados a qualquer momento em Portugal. Supõe-se que vêm aos saldos das privatizações…
Os alemães e os franceses (e os chineses também) são esperados a qualquer momento em Portugal. Supõe-se que vêm aos saldos das privatizações…
sábado, julho 23, 2011
Registos para Memória Futura (47)
Informação colhida no DIÁRIO DE NOTÍCIAS on-line de 21 de Julho de 2011
O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que, este ano, o Governo viole o limite de endividamento, obrigando a que o Orçamento do Estado (OE) de 2011 seja objecto de um rectificativo. O tecto legal é de 20,7 mil milhões, porém o Fundo fala em mais 21,1 mil milhões. A razão desta rectificação tem a ver com a ajuda dos contribuintes aos bancos portugueses.
Meu comentário: É fácil de concluir que não é própriamente o país que está a ser ajudado, mas sim a banca e os seus accionistas.
Informação colhida no DIÁRIO DE NOTÍCIAS on-line de 22 de Julho de 2011
Se o Governo incluísse os dividendos distribuídos pelas empresas aos seus accionistas, no perímetro do novo imposto extraordinário, obteria uma receita de 256 milhões de euros, mais do que os pensionistas e os trabalhadores independentes terão de pagar.
Meu comentário: Com esta medida é fácil de perceber que os contributos e sacrifícios pedidos, não são equitativos.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que, este ano, o Governo viole o limite de endividamento, obrigando a que o Orçamento do Estado (OE) de 2011 seja objecto de um rectificativo. O tecto legal é de 20,7 mil milhões, porém o Fundo fala em mais 21,1 mil milhões. A razão desta rectificação tem a ver com a ajuda dos contribuintes aos bancos portugueses.
Meu comentário: É fácil de concluir que não é própriamente o país que está a ser ajudado, mas sim a banca e os seus accionistas.
Informação colhida no DIÁRIO DE NOTÍCIAS on-line de 22 de Julho de 2011
Se o Governo incluísse os dividendos distribuídos pelas empresas aos seus accionistas, no perímetro do novo imposto extraordinário, obteria uma receita de 256 milhões de euros, mais do que os pensionistas e os trabalhadores independentes terão de pagar.
Meu comentário: Com esta medida é fácil de perceber que os contributos e sacrifícios pedidos, não são equitativos.
sexta-feira, julho 22, 2011
Ideias de Trampa
A FUNDAÇÃO Gates (de Bill e Melinda Gates) concluiu que a sanita e o fluxómetro já deram tudo o que tinham a dar, precisam de ser reinventados, de forma a respeitarem as exigências sanitárias e ecológicas, além de que sejam acessíveis aos 2,5 biliões de pessoas de fracos recursos económicos existentes no mundo, afinal o maior mercado de que há memória, não fosse o seu fraco potencial económico. Assim sendo, a dita Fundação reservou a bonita verba de 30 milhões de euros para a criação de um fundo cujo objectivo é a reinvenção de um dispositivo barato que, além de cumprir os objectivos da tradicional sanita, decantadora dos nossos detritos fisiológicos, vá mais além, dando utilidade à biomassa que vai sendo armazenada, tratando-a e transformando-a em energia, adubos e outras matérias primas. Em resumo: a Fundação Gates está disponível para avaliar e financiar ideias de trampa, contribuindo assim para o bem-estar universal, além de pôr os mais desfavorecidos a terem acesso às tecnologias de ponta.
No entanto, e pelos motivos óbvios, embora a ideia seja louvável, desejável e acarinhável, vem ferida de algum desajuste e incoerência, relativamente à realidade. Se a iniciativa tem por objectivo principal gerar progressos no capítulo sanitário e da higienização, tudo bem, mas não se venha dizer que isso vai satisfazer as necessidades dos mais pobres e necessitados que proliferam por esse mundo fora, pois esses têm uma escala de prioridades bem diferente das nossas, bem aventurados que nunca experimentámos uma vida de contínua luta pela subsistência, e a diária convivência com as carências mais básicas. Além de não possuírem um tecto e trabalho decente, arranjar alimento é a preocupação dominante dos pobres e desfavorecidos, bem à frente das preocupações com o tratamento que pode ser dado às suas fezes, que afinal, e bem feitas as contas, são directamente proporcionais à escassez de alimentos ingeridos. Digam o que disserem, dêem as voltas que lhe derem, a sanita tecnológica nunca será um contributo determinante para a elevação do nível de vida dessas pessoas. Não é com o destino a dar aos resíduos fecais, que se conseguem resolver os apetites da boca e as privações do estômago. Porém, e para tirarmos dúvidas, basta fazer um inquérito junto dos interessados, com uma única pergunta: - O que mais deseja, um trabalho bem remunerado e refeições decentes, ou uma sanita tecnológica onde possa carregar o telemóvel?
No entanto, e pelos motivos óbvios, embora a ideia seja louvável, desejável e acarinhável, vem ferida de algum desajuste e incoerência, relativamente à realidade. Se a iniciativa tem por objectivo principal gerar progressos no capítulo sanitário e da higienização, tudo bem, mas não se venha dizer que isso vai satisfazer as necessidades dos mais pobres e necessitados que proliferam por esse mundo fora, pois esses têm uma escala de prioridades bem diferente das nossas, bem aventurados que nunca experimentámos uma vida de contínua luta pela subsistência, e a diária convivência com as carências mais básicas. Além de não possuírem um tecto e trabalho decente, arranjar alimento é a preocupação dominante dos pobres e desfavorecidos, bem à frente das preocupações com o tratamento que pode ser dado às suas fezes, que afinal, e bem feitas as contas, são directamente proporcionais à escassez de alimentos ingeridos. Digam o que disserem, dêem as voltas que lhe derem, a sanita tecnológica nunca será um contributo determinante para a elevação do nível de vida dessas pessoas. Não é com o destino a dar aos resíduos fecais, que se conseguem resolver os apetites da boca e as privações do estômago. Porém, e para tirarmos dúvidas, basta fazer um inquérito junto dos interessados, com uma única pergunta: - O que mais deseja, um trabalho bem remunerado e refeições decentes, ou uma sanita tecnológica onde possa carregar o telemóvel?
quarta-feira, julho 20, 2011
Revisitando o Quarteto de Alexandria
«Considero a televisão muito educativa. Logo que alguém a liga vou para outra sala ler um livro»
Groucho Marx (1890-1977) - Actor
HABITUALMENTE, para marcar os livros que vou lendo ou relendo, uso os espécimes mais heterogéneos que tenho à mão. Dentro do primeiro volume da obra de que vos vou falar, fui encontrar um bilhete da “carris” dos anos 60, enfim, um resquício do passado. Como curiosidade, junto imagem do mesmo. Entretanto, quase 50 anos volvidos, e depois de algumas fortuitas investidas pelo meio, estou de volta a reler o fascinante Quarteto de Alexandria, de Lawrence Durrell (1912-1990), uma tetralogia composta pelos volumes Justine (1957), Balthazar (1958), Mountolive (1959) e Clea (1960), traduzida por Daniel Gonçalves e publicada pela Editora Ulisseia em 1960.
Se quisesse usar expressões-chave para classificar a obra, diria simplesmente que é notável e fascinante, sob todos os aspectos. Desde a força telúrica que emana da cidade fundada pelo macedónio Alexandre, até aos retratos das personagens que a habitam, que por ela se apaixonam e por ela se deixam devorar, é uma espiral de descobertas, onde tanto se mergulha até águas profundas, como de repente se vem cá acima respirar em grandes haustos. É um teorema sobre a condição e as relações humanas, as íntimas e as outras, de uma riqueza e espessura que nos deixa atónitos, senão mesmo atordoados. É um friso de quatro figuras básicas, que embora sendo centrais, são mais observadores que protagonistas, servindo mais de escalpelo para, entre avanços e recuos na linha do tempo, esgravatarem tudo o que o ser humano tem de bom, mau ou péssimo, expondo-nos a sua anatomia até às vísceras, e cartografando tudo o que determina personalidades e comportamentos. É também a olhadela sobre um tempo de mudança, a época que precede e depois mergulha na Segunda Guerra Mundial, conflito que apenas tocou ao de leve a textura humana daquela cidade-invólucro ou cidade-labirinto, meio mercado, meio bordel, onde se confundem europeus, judeus, árabes, gregos e coptas, uma espécie de Babel, produto de muitas paixões, ódios, encontros e desencontros, diásporas e outras tantas deserções, operando a transição entre o mundo mediterrânico e o deserto, caldeando raças e culturas.
Dizem os estudiosos da obra de Durrell que o Quarteto foi uma obra inspirada na teoria da relatividade, isto é, os acontecimentos, embora dizendo respeito a uma mesma realidade, são interpretados segundo pontos de vista de diferentes, numa espécie de jogo de espelhos, onde se conjugam mistérios com revelações, o antes com o depois, o sagrado com o profano, o falso com o verdadeiro, em que Justine, Balthazar, Mountolive e Clea, cada um à vez, cumprem o papel de observadores múltiplos da mesma história, ao mesmo tempo que são protagonistas de histórias dentro de histórias, qual conjunto de matrioskas, umas vezes como sujeitos ocasionais, apanhados de raspão, outras vezes como autênticos descodificadores da realidade. Em Justine, primeiro volume, são relatados os acontecimentos do ponto de vista do sujeito, ou seja, do narrador da história. Os mesmos acontecimentos voltam a ser descritos em Balthazar e Mountoliove, embora na segunda história, a realidade seja remontada e revista, sob outra perspectiva e entendimento, ao passo que a verdade volta a ser reposta na terceira narrativa. Finalmente, Clea encarrega-se de elaborar a síntese, fechar a abóbada da obra, acertando as contas da realidade com o tempo.
Groucho Marx (1890-1977) - Actor
HABITUALMENTE, para marcar os livros que vou lendo ou relendo, uso os espécimes mais heterogéneos que tenho à mão. Dentro do primeiro volume da obra de que vos vou falar, fui encontrar um bilhete da “carris” dos anos 60, enfim, um resquício do passado. Como curiosidade, junto imagem do mesmo. Entretanto, quase 50 anos volvidos, e depois de algumas fortuitas investidas pelo meio, estou de volta a reler o fascinante Quarteto de Alexandria, de Lawrence Durrell (1912-1990), uma tetralogia composta pelos volumes Justine (1957), Balthazar (1958), Mountolive (1959) e Clea (1960), traduzida por Daniel Gonçalves e publicada pela Editora Ulisseia em 1960.
Se quisesse usar expressões-chave para classificar a obra, diria simplesmente que é notável e fascinante, sob todos os aspectos. Desde a força telúrica que emana da cidade fundada pelo macedónio Alexandre, até aos retratos das personagens que a habitam, que por ela se apaixonam e por ela se deixam devorar, é uma espiral de descobertas, onde tanto se mergulha até águas profundas, como de repente se vem cá acima respirar em grandes haustos. É um teorema sobre a condição e as relações humanas, as íntimas e as outras, de uma riqueza e espessura que nos deixa atónitos, senão mesmo atordoados. É um friso de quatro figuras básicas, que embora sendo centrais, são mais observadores que protagonistas, servindo mais de escalpelo para, entre avanços e recuos na linha do tempo, esgravatarem tudo o que o ser humano tem de bom, mau ou péssimo, expondo-nos a sua anatomia até às vísceras, e cartografando tudo o que determina personalidades e comportamentos. É também a olhadela sobre um tempo de mudança, a época que precede e depois mergulha na Segunda Guerra Mundial, conflito que apenas tocou ao de leve a textura humana daquela cidade-invólucro ou cidade-labirinto, meio mercado, meio bordel, onde se confundem europeus, judeus, árabes, gregos e coptas, uma espécie de Babel, produto de muitas paixões, ódios, encontros e desencontros, diásporas e outras tantas deserções, operando a transição entre o mundo mediterrânico e o deserto, caldeando raças e culturas.
Dizem os estudiosos da obra de Durrell que o Quarteto foi uma obra inspirada na teoria da relatividade, isto é, os acontecimentos, embora dizendo respeito a uma mesma realidade, são interpretados segundo pontos de vista de diferentes, numa espécie de jogo de espelhos, onde se conjugam mistérios com revelações, o antes com o depois, o sagrado com o profano, o falso com o verdadeiro, em que Justine, Balthazar, Mountolive e Clea, cada um à vez, cumprem o papel de observadores múltiplos da mesma história, ao mesmo tempo que são protagonistas de histórias dentro de histórias, qual conjunto de matrioskas, umas vezes como sujeitos ocasionais, apanhados de raspão, outras vezes como autênticos descodificadores da realidade. Em Justine, primeiro volume, são relatados os acontecimentos do ponto de vista do sujeito, ou seja, do narrador da história. Os mesmos acontecimentos voltam a ser descritos em Balthazar e Mountoliove, embora na segunda história, a realidade seja remontada e revista, sob outra perspectiva e entendimento, ao passo que a verdade volta a ser reposta na terceira narrativa. Finalmente, Clea encarrega-se de elaborar a síntese, fechar a abóbada da obra, acertando as contas da realidade com o tempo.
Conforme for progredindo na redescoberta do Quarteto, irei acrescentando alguns apontamentos, feitos basicamente de citações. Tal como há 50 anos atrás, continuo cativo de encantamento por este Quarteto de Alexandria, e insisto em perguntar, como foi possível alguém ter concebido e escrito uma obra assim, tão imensa, intrincada e coerente, quanto exímio e sedutor é o seu discurso? Garanto-vos que é uma experiência inesquecível!
segunda-feira, julho 18, 2011
Balcão de Reclamações
PARECE que há um “desvio” nas contas públicas portuguesas, da ordem dos 2.000 milhões de Euros, que vêm dos exercícios dos governos de José Sócrates. Como é óbvio, as reclamações devem ser apresentadas na esplanada do Café du Pont-Neuf, em Paris, França, à hora a que habitualmente José Sócrates aparece por lá, para atender e despachar.
domingo, julho 17, 2011
Aprender com os Filmes (2)
sábado, julho 16, 2011
A Recusa das Imagens Evidentes
Há noites que são feitas dos meus braços
E um silêncio comum às violetas.
E há sete luas que são sete traços
De sete noites que nunca foram feitas.
Há noites que levamos à cintura
Como um cinto de grandes borboletas.
E um risco a sangue na nossa carne escura
Duma espada à bainha dum cometa.
Há noites que nos deixam para trás
Enrolados no nosso desencanto
E cisnes brancos que só são iguais
À mais longínqua onda do seu canto.
Há noites que nos levam para onde
O fantasma de nós fica mais perto;
E é sempre a nossa voz que nos responde
E só o nosso nome estava certo.
Há noites que são lírios e são feras
E a nossa exactidão de rosa vil
Reconcilia no frio das esferas
Os astros que se olham de perfil.
Natália Correia - (1923-1993)
E um silêncio comum às violetas.
E há sete luas que são sete traços
De sete noites que nunca foram feitas.
Há noites que levamos à cintura
Como um cinto de grandes borboletas.
E um risco a sangue na nossa carne escura
Duma espada à bainha dum cometa.
Há noites que nos deixam para trás
Enrolados no nosso desencanto
E cisnes brancos que só são iguais
À mais longínqua onda do seu canto.
Há noites que nos levam para onde
O fantasma de nós fica mais perto;
E é sempre a nossa voz que nos responde
E só o nosso nome estava certo.
Há noites que são lírios e são feras
E a nossa exactidão de rosa vil
Reconcilia no frio das esferas
Os astros que se olham de perfil.
Natália Correia - (1923-1993)
sexta-feira, julho 15, 2011
“Chicago Boys” em Versão "Brandos Costumes"
É MESMO um programa ambicioso, ao estilo dos "Chicago Boys" (*), embora sem golpe de Estado nem Pinochet. Com umas na calha e outras já em execução, vêm aí medidas que contemplam privatizações ao desbarato, redução drástica das obrigações sociais do Estado, impostos desumanos sobre quem é pensionista ou tem rendimentos de trabalho, e descarada protecção de quem vive de rendimentos e é cliente de "offshores", para onde exporta as fortunas ganhas na especulação financeira.
Há uma grande diferença de estilo relativamente aos governos de Sócrates, muito embora a política, em última análise, seja determinada pelos resultados alcançados e não pelo estilo adoptado. José Sócrates chegava lá por outros caminhos, fazendo e desfazendo às três pancadas, produzindo um excesso de propaganda, à mistura com métodos de carroceiro brigão, ao passo que Pedro Passos Coelho faz questão de exibir uma imagem de competência e profissionalismo, comedida mediatização dos propósitos, simpatia e contenção verbal, que também pode ser entendida como forma de anestesiar os nativos, para atenuar os efeitos do que está para vir, e que nem sequer nos passa pela cabeça.
Já os portugueses, com excepção da banalização dos assaltos a Caixas Multibanco, continuam relativamente quietos e sossegados, fazendo juz à velha classificação de "pobretes mas alegretes", isto é, interiorizando as dificuldades e tentando dar a falsa imagem de que a crise lhes está a passar ao lado, que as “tristezas não pagam dívidas” e as medidas de austeridade são um problema menor, e que apenas os estão a afectar de raspão.
(*) Grupo de aproximadamente 25 jovens economistas chilenos que formularam a política económica da ditadura do general Augusto Pinochet, nas décadas de 1970-80 do século passado, contrariando a política económica do socialista Salvador Allende, derrubado por golpe de estado. Foram os pioneiros do pensamento económico neoliberal, doutrina económica que defende a absoluta liberdade de mercado e restrições à intervenção estatal sobre a economia, só devendo esta ocorrer em sectores imprescindíveis, e ainda assim num grau mínimo, promovendo a desregulação dos mercados e o desmantelamento do “estado social”, e antecipando no Chile, em quase uma década, medidas que só mais tarde seriam adoptadas por Margaret Thatcher no Reino Unido e Ronald Reagan nos E.U.A..
A maioria destes economistas formaram-se na Universidade Pontifícia Católica do Chile, tendo mais tarde obtido a pós-graduação na Universidade de Chicago (daí o nome de “Chicago Boys”), onde pontificava o economista norte-americano Milton Friedman (1912-2006), teórico do neoliberalismo. Foram os responsáveis pelo chamado "Milagre do Chile" (The Miracle of Chile), denominação atribuída pelo próprio Friedman.
Fonte: Wikipédia
Há uma grande diferença de estilo relativamente aos governos de Sócrates, muito embora a política, em última análise, seja determinada pelos resultados alcançados e não pelo estilo adoptado. José Sócrates chegava lá por outros caminhos, fazendo e desfazendo às três pancadas, produzindo um excesso de propaganda, à mistura com métodos de carroceiro brigão, ao passo que Pedro Passos Coelho faz questão de exibir uma imagem de competência e profissionalismo, comedida mediatização dos propósitos, simpatia e contenção verbal, que também pode ser entendida como forma de anestesiar os nativos, para atenuar os efeitos do que está para vir, e que nem sequer nos passa pela cabeça.
Já os portugueses, com excepção da banalização dos assaltos a Caixas Multibanco, continuam relativamente quietos e sossegados, fazendo juz à velha classificação de "pobretes mas alegretes", isto é, interiorizando as dificuldades e tentando dar a falsa imagem de que a crise lhes está a passar ao lado, que as “tristezas não pagam dívidas” e as medidas de austeridade são um problema menor, e que apenas os estão a afectar de raspão.
(*) Grupo de aproximadamente 25 jovens economistas chilenos que formularam a política económica da ditadura do general Augusto Pinochet, nas décadas de 1970-80 do século passado, contrariando a política económica do socialista Salvador Allende, derrubado por golpe de estado. Foram os pioneiros do pensamento económico neoliberal, doutrina económica que defende a absoluta liberdade de mercado e restrições à intervenção estatal sobre a economia, só devendo esta ocorrer em sectores imprescindíveis, e ainda assim num grau mínimo, promovendo a desregulação dos mercados e o desmantelamento do “estado social”, e antecipando no Chile, em quase uma década, medidas que só mais tarde seriam adoptadas por Margaret Thatcher no Reino Unido e Ronald Reagan nos E.U.A..
A maioria destes economistas formaram-se na Universidade Pontifícia Católica do Chile, tendo mais tarde obtido a pós-graduação na Universidade de Chicago (daí o nome de “Chicago Boys”), onde pontificava o economista norte-americano Milton Friedman (1912-2006), teórico do neoliberalismo. Foram os responsáveis pelo chamado "Milagre do Chile" (The Miracle of Chile), denominação atribuída pelo próprio Friedman.
Fonte: Wikipédia
quarta-feira, julho 13, 2011
Registo para Memória Futura (46)
«A CGTP considerou hoje que a aplicação de um imposto extraordinário ao subsídio de Natal evidencia que os rendimentos provenientes da especulação financeira estão mais protegidos que os rendimentos do trabalho.
"Perguntámos ao primeiro ministro se o Governo teria disponibilidade para actuar ao nível do sistema financeiro, por exemplo taxando as operações na banca, mas o primeiro ministro disse que não, o que indicia que a riqueza produzida em especulação financeira é mais protegida que a proveniente do trabalho", disse o secretário-geral da CGTP, Manuel Carvalho da Silva aos jornalistas.
Carvalho da Silva, que falou aos jornalistas no final de uma reunião com o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, considerou que o imposto extraordinário sobre o 13º mês é injusto porque apenas vai ser aplicado a quem apresenta rendimentos englobados para IRS.
"Os verdadeiros detentores da riqueza continuam a ser dispensados de sacrifícios", disse o sindicalista, referindo que metade da riqueza produzida no país não se destina aos que apresentam os seus rendimentos em IRS.»
Transcrição do DIÁRIO DE NOTÍCIAS on-line de 13 de Julho de 2011
"Perguntámos ao primeiro ministro se o Governo teria disponibilidade para actuar ao nível do sistema financeiro, por exemplo taxando as operações na banca, mas o primeiro ministro disse que não, o que indicia que a riqueza produzida em especulação financeira é mais protegida que a proveniente do trabalho", disse o secretário-geral da CGTP, Manuel Carvalho da Silva aos jornalistas.
Carvalho da Silva, que falou aos jornalistas no final de uma reunião com o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, considerou que o imposto extraordinário sobre o 13º mês é injusto porque apenas vai ser aplicado a quem apresenta rendimentos englobados para IRS.
"Os verdadeiros detentores da riqueza continuam a ser dispensados de sacrifícios", disse o sindicalista, referindo que metade da riqueza produzida no país não se destina aos que apresentam os seus rendimentos em IRS.»
Transcrição do DIÁRIO DE NOTÍCIAS on-line de 13 de Julho de 2011
segunda-feira, julho 11, 2011
Cascata de Recados
NOS ÚLTIMOS dias, Sua Elevação o Presidente Aníbal Silva, tem andado numa roda viva, a desdobrar-se em discursos e declarações, umas mais cirúrgicas que outras, seja a propósito de cuidados de saúde, da atrofia da nossa agricultura, ou sobre as agências de rating, essas mercenárias assassinas de estados, a soldo do mercado dos glutões. Diz que não lhe compete governar, mas lá vai teorizando e dando umas dicas. Haver uma Maioria, um Governo e um Presidente da mesma família, cai que nem uma luva. As presidenciais intervenções resumem-se assim:
Sobre as questões da saúde, Sua Elevação teceu a cavacal conclusão de que todos os cidadãos têm direito a cuidados de saúde de qualidade, e ninguém pode ser excluído, mas se o Estado não o conseguir assegurar ou custear - porque há emergência social e estamos numa encruzinhada - deve delegar-se essa função noutras organizações. Como há vários modelos em discussão, isso significa que está aberta a porta para o Estado, passo a passo, se demitir das suas obrigações e passar a bola a quem cobiça o filão da saúde, como é o caso dos privados. Estão a perceber, não estão? Sua Elevação, agente infiltrado de interesses pouco ou nada patrióticos, vai habilidosamente, deitando a escada, preparando o terreno e os espíritos, para o que aí vem.
Sobre a questão agrícola, a presidencial figura não referiu a época de quando foi primeiro-ministro, entre 1985 e 1995, e do quanto contribuiu (sem lhe doer o coração), para o processo de liquidação da agricultura nacional, mas agora, embora pouco criativo, foi muito sucinto, afirmando que os portugueses se devem mobilizar e envolver na produção agrícola, muito embora não tenha dito onde vai ter lugar a distribuição maciça de sementes, regadores, enxadas e ancinhos.
Sobre as (agora) malvadas agências de rating, Sua Elevação acertou o passo e fez coro com a ira e indignação geral dos comentadores de serviço, insistindo que isto foi uma atrocidade desmedida contra Portugal, por via de um objectivo mais alto, que tem por alvo o Euro e a concorrência europeia. Há uns tempos atrás, quando alguns “bota-abaixistas” de esquerda advertiam contra os perigos de nos enredarmos nas armadilhas dos mercados, e que era urgente renegociar a dívida, o sorumbático Aníbal Cavaco esboçava sorrisos de desdém, puxava dos galões académicos, e dizia que era preciso ter confiança, não ligar às agências de rating (nem às más companhias), mas sim acalmar os mercados, seguir em frente, com confiança e determinação, rumo à luz que cintilava ao fundo do túnel. O que temos não é a luz mas sim o precipício, quando se acaba o túnel!
Portanto, e concluindo, podemos ficar descansados. Faço questão, no entanto, de insistir que as professorais intervenções de Sua Elevação deviam ser compiladas, e devidamente comentadas. Por incompreensão e tacanhez, as mentalidades de hoje dificilmente o compreenderão, mas nunca se sabe se estas sonsas e insípidas dissertações não dariam uma preciosa ajuda à posteridade, para perceberem e apreciarem o contributo e protagonismo que Sua Elevação teve – em concorrência com outros trogloditas – no desastroso estado em que foi deixada a nação.
Sobre as questões da saúde, Sua Elevação teceu a cavacal conclusão de que todos os cidadãos têm direito a cuidados de saúde de qualidade, e ninguém pode ser excluído, mas se o Estado não o conseguir assegurar ou custear - porque há emergência social e estamos numa encruzinhada - deve delegar-se essa função noutras organizações. Como há vários modelos em discussão, isso significa que está aberta a porta para o Estado, passo a passo, se demitir das suas obrigações e passar a bola a quem cobiça o filão da saúde, como é o caso dos privados. Estão a perceber, não estão? Sua Elevação, agente infiltrado de interesses pouco ou nada patrióticos, vai habilidosamente, deitando a escada, preparando o terreno e os espíritos, para o que aí vem.
Sobre a questão agrícola, a presidencial figura não referiu a época de quando foi primeiro-ministro, entre 1985 e 1995, e do quanto contribuiu (sem lhe doer o coração), para o processo de liquidação da agricultura nacional, mas agora, embora pouco criativo, foi muito sucinto, afirmando que os portugueses se devem mobilizar e envolver na produção agrícola, muito embora não tenha dito onde vai ter lugar a distribuição maciça de sementes, regadores, enxadas e ancinhos.
Sobre as (agora) malvadas agências de rating, Sua Elevação acertou o passo e fez coro com a ira e indignação geral dos comentadores de serviço, insistindo que isto foi uma atrocidade desmedida contra Portugal, por via de um objectivo mais alto, que tem por alvo o Euro e a concorrência europeia. Há uns tempos atrás, quando alguns “bota-abaixistas” de esquerda advertiam contra os perigos de nos enredarmos nas armadilhas dos mercados, e que era urgente renegociar a dívida, o sorumbático Aníbal Cavaco esboçava sorrisos de desdém, puxava dos galões académicos, e dizia que era preciso ter confiança, não ligar às agências de rating (nem às más companhias), mas sim acalmar os mercados, seguir em frente, com confiança e determinação, rumo à luz que cintilava ao fundo do túnel. O que temos não é a luz mas sim o precipício, quando se acaba o túnel!
Portanto, e concluindo, podemos ficar descansados. Faço questão, no entanto, de insistir que as professorais intervenções de Sua Elevação deviam ser compiladas, e devidamente comentadas. Por incompreensão e tacanhez, as mentalidades de hoje dificilmente o compreenderão, mas nunca se sabe se estas sonsas e insípidas dissertações não dariam uma preciosa ajuda à posteridade, para perceberem e apreciarem o contributo e protagonismo que Sua Elevação teve – em concorrência com outros trogloditas – no desastroso estado em que foi deixada a nação.
domingo, julho 10, 2011
Confissão
Confesso que não sei.
Assim, na praça pública, e desnudo.
E sem recurso à lei,
que impõe saber de mim o nada e o tudo.
Não sei por que reclamo o sol do estio,
as chuvas outonais,
as neves da invernia - céus, que frio
doendo-me de mais!
E o sol da primavera
beijando cada ninho em construção
enquanto o Tempo espera
o parto, em oração.
E quando cada espiga me mitiga
a fome só de vê-la,
escrevo uma cantiga
no lucilar ardente duma estrela.
Poema de José-Augusto de Carvalho
14 de Junho de 2011
Viana * Évora * Portugal
Assim, na praça pública, e desnudo.
E sem recurso à lei,
que impõe saber de mim o nada e o tudo.
Não sei por que reclamo o sol do estio,
as chuvas outonais,
as neves da invernia - céus, que frio
doendo-me de mais!
E o sol da primavera
beijando cada ninho em construção
enquanto o Tempo espera
o parto, em oração.
E quando cada espiga me mitiga
a fome só de vê-la,
escrevo uma cantiga
no lucilar ardente duma estrela.
Poema de José-Augusto de Carvalho
14 de Junho de 2011
Viana * Évora * Portugal
sábado, julho 09, 2011
A Família Teixeira
A Câmara Municipal de Loures é o que há de mais parecido com uma empresa familiar, onde tudo se confunde. Senão vejamos:
Carlos Teixeira – Presidente da Câmara Municipal de Loures;
Graça Teixeira – Esposa do Presidente, é directora-delegada do SMAS;
Joana Calçada – Filha do Presidente, é adjunta da vereadora socialista Sónia Paixão;
Paulo Gualdino – Cunhado do Presidente, é chefe de gabinete do SMAS;
António Baldo – Cunhado do Presidente, é chefe de gabinete do Presidente;
Maria Montserrat – Namorada do filho do Presidente, é Adjunta do Presidente;
Constantino Teixeira – Irmão do Presidente, tem funções na Valor Sul, empresa participada pela Câmara.
O Presidente Teixeira garante que está tudo legal, que não houve qualquer favorecimento e nada lhe pesa na consciência. A mim custa-me a acreditar…
Carlos Teixeira – Presidente da Câmara Municipal de Loures;
Graça Teixeira – Esposa do Presidente, é directora-delegada do SMAS;
Joana Calçada – Filha do Presidente, é adjunta da vereadora socialista Sónia Paixão;
Paulo Gualdino – Cunhado do Presidente, é chefe de gabinete do SMAS;
António Baldo – Cunhado do Presidente, é chefe de gabinete do Presidente;
Maria Montserrat – Namorada do filho do Presidente, é Adjunta do Presidente;
Constantino Teixeira – Irmão do Presidente, tem funções na Valor Sul, empresa participada pela Câmara.
O Presidente Teixeira garante que está tudo legal, que não houve qualquer favorecimento e nada lhe pesa na consciência. A mim custa-me a acreditar…
sexta-feira, julho 08, 2011
Enganei-me!
quinta-feira, julho 07, 2011
Então e os Vendilhões, Senhor?
NOS ÚLTIMOS tempos, o cardeal patriarca de Lisboa, Don José Policarpo, cada vez que abre a boca e mete uma colherada nos assuntos da República, passando por cima das questões da fé e da cristandade, nas quais ele é especialista, o resultado é perder mais uns quantos crentes para a sua causa, isto é, a Igreja Católica.
Desta vez, coube em sorte, debruçar-se sobre o imposto extraordinário de 50% que vai afectar o subsídio de Natal, na parte que excede o ordenado mínimo nacional. Considera ele que é uma medida equilibrada porque não atinge os portugueses com menores rendimentos nem discrimina ninguém. Desvalorizou a medida, dizendo mesmo que, pessoalmente, a “coisa” não lhe faz impressão… Mas esqueceu-se de falar daqueles que, não tendo subsídio de Natal, coitadinhos (logo não são atingidos pelo excepcional imposto, o que é uma graça), continuam a banquetear-se com mais-valias bolsistas e privatizações, são donos e accionistas disto e daquilo, e lá vão sobrevivendo com os exíguos rendimentos que os “offshores” e outras fontes de riqueza lhes vão disponibilizando, olari-lolé. Don José não disse para rezarmos novenas, mas continuando a falar das obrigações dos portugueses, acrescentou que estes "não podem pensar só no seu bem e na sua comodidade", devendo apoiar o governo e as suas medidas, para que possamos cumprir os acordos com a “troika”, acalmar os mercados financeiros, encher o peito de ar, recuperar confiança, pôr o país a funcionar e étecetera e tal. Queria dizer com isto que os portugueses têm que se esforçar e contribuir para salvar a pobre banca que está nas lonas, os agiotas e especuladores, e todas as almas caridosas que andaram (e andam) a contribuir para se chegar ao estado em que estamos. Don José esqueceu-se também – e aqui a omissão é grave - de aconselhar os portugueses que deviam seguir o exemplo de Jesus, o qual não teve meias medidas, quando chegou a altura de expulsar os vendilhões do Templo.
Desta vez, coube em sorte, debruçar-se sobre o imposto extraordinário de 50% que vai afectar o subsídio de Natal, na parte que excede o ordenado mínimo nacional. Considera ele que é uma medida equilibrada porque não atinge os portugueses com menores rendimentos nem discrimina ninguém. Desvalorizou a medida, dizendo mesmo que, pessoalmente, a “coisa” não lhe faz impressão… Mas esqueceu-se de falar daqueles que, não tendo subsídio de Natal, coitadinhos (logo não são atingidos pelo excepcional imposto, o que é uma graça), continuam a banquetear-se com mais-valias bolsistas e privatizações, são donos e accionistas disto e daquilo, e lá vão sobrevivendo com os exíguos rendimentos que os “offshores” e outras fontes de riqueza lhes vão disponibilizando, olari-lolé. Don José não disse para rezarmos novenas, mas continuando a falar das obrigações dos portugueses, acrescentou que estes "não podem pensar só no seu bem e na sua comodidade", devendo apoiar o governo e as suas medidas, para que possamos cumprir os acordos com a “troika”, acalmar os mercados financeiros, encher o peito de ar, recuperar confiança, pôr o país a funcionar e étecetera e tal. Queria dizer com isto que os portugueses têm que se esforçar e contribuir para salvar a pobre banca que está nas lonas, os agiotas e especuladores, e todas as almas caridosas que andaram (e andam) a contribuir para se chegar ao estado em que estamos. Don José esqueceu-se também – e aqui a omissão é grave - de aconselhar os portugueses que deviam seguir o exemplo de Jesus, o qual não teve meias medidas, quando chegou a altura de expulsar os vendilhões do Templo.
Crise e Austeridade, a Quanto Obrigas!
«A nova líder [Christine Lagarde] do Fundo Monetário Internacional (FMI) vai ganhar 381 mil euros anuais, o que representa um aumento de 11% em relação ao salário do seu antecessor [Dominique Strauss-Kahn].
(…)
A crise parece não afectar os salários dos altos cargos do Fundo Monetário Internacional. Christine Lagarde, que inicia hoje o seu mandato de directora-geral da instituição por cinco anos, irá receber um vencimento anual total de 551.700 dólares (381.200 euros, em moeda portuguesa antiga 76 mil contos), revelou hoje o FMI.
(...)
O FMI justifica o aumento recebido por Lagarde, a primeira mulher a liderar o Fundo, com a necessidade de "ajuste à inflação".»
Excerto da notícia do DIÁRIO ECONÓMICO de 6 de Julho de 2011
(…)
A crise parece não afectar os salários dos altos cargos do Fundo Monetário Internacional. Christine Lagarde, que inicia hoje o seu mandato de directora-geral da instituição por cinco anos, irá receber um vencimento anual total de 551.700 dólares (381.200 euros, em moeda portuguesa antiga 76 mil contos), revelou hoje o FMI.
(...)
O FMI justifica o aumento recebido por Lagarde, a primeira mulher a liderar o Fundo, com a necessidade de "ajuste à inflação".»
Excerto da notícia do DIÁRIO ECONÓMICO de 6 de Julho de 2011
quarta-feira, julho 06, 2011
Todos os Atalhos Vão Dar ao Mesmo Precipício
AO MESMO tempo que a União Europeia estrebucha com o caos da Grécia (onde até já se vendem pacotes de ilhas do Mar Egeu), atolada nas garras da financeirização da economia, por cá, ninguém consegue segurar a geringonça portuguesa. As agências de rating apertam a tarracha e tratam-nos como lixo, os juros sobem, o Governo protesta, os banqueiros indignam-se, o défice continua a derrapar como uma gangrena, a situação agrava-se e o povo sofre. O endividamento externo e o saco de dinheiro da troika não conseguem cauterizar a imensa ferida provocada pela catastrófica acção governativa dos últimos 6 anos, e a palavra de ordem continua a ser a de financiar os bancos (garantindo os dividendos dos senhores accionistas) à viva força, doa a quem doer. Os bancos andaram a comprar a dívida do Estado, auto-endividando-se, e agora estão tão entalados como o próprio Estado.
O governo ainda não aqueceu o assento das cadeiras do conselho de ministros e já anda a rapar os bolsos dos portugueses (em muitos já só há cotão), com mais taxas e impostos, a peneirar as prestações sociais até à exaustão, privatizando ao desbarato, e não percebendo, ou não querendo perceber que a solução de mais pilhagem e auteridade, é uma fuga às arrecuas, de costas voltadas para o abismo da falência, esfarelando pelo caminho o que resta da frágil economia, potenciando o desemprego e a pobreza generalizada.
Meus senhores, estão à espera de quê? Parem de garantir que o problema português é diferente do problema grego, pois isso é conversa fiada. Os atalhos para onde somos empurrados, vão dar todos ao mesmo precipício. Portanto, torna-se urgente uma imediata auditoria às contas do Estado, a fim de se avaliar em que moldes deverá ser pedida a renegociação da dívida, caso contrário Portugal vai acabar mal, e à Europa pouco lhe importará, pois há sempre a saída do Euro, ou em último caso, a expulsão pura e simples.
NOTA – A imagem não tem valor estatístico. É apenas a expressão gráfica do meu descontentamento (outras vezes rancor) com os políticos que nos têm governado.
O governo ainda não aqueceu o assento das cadeiras do conselho de ministros e já anda a rapar os bolsos dos portugueses (em muitos já só há cotão), com mais taxas e impostos, a peneirar as prestações sociais até à exaustão, privatizando ao desbarato, e não percebendo, ou não querendo perceber que a solução de mais pilhagem e auteridade, é uma fuga às arrecuas, de costas voltadas para o abismo da falência, esfarelando pelo caminho o que resta da frágil economia, potenciando o desemprego e a pobreza generalizada.
Meus senhores, estão à espera de quê? Parem de garantir que o problema português é diferente do problema grego, pois isso é conversa fiada. Os atalhos para onde somos empurrados, vão dar todos ao mesmo precipício. Portanto, torna-se urgente uma imediata auditoria às contas do Estado, a fim de se avaliar em que moldes deverá ser pedida a renegociação da dívida, caso contrário Portugal vai acabar mal, e à Europa pouco lhe importará, pois há sempre a saída do Euro, ou em último caso, a expulsão pura e simples.
NOTA – A imagem não tem valor estatístico. É apenas a expressão gráfica do meu descontentamento (outras vezes rancor) com os políticos que nos têm governado.
O Martírio da Sede
Que importam as ciladas nos caminhos,
se sempre caminhei entre ciladas?
No berço, já ouvia, entre carinhos,
falar de perdições ensanguentadas...
O fim, amortalhado de alvos linhos,
eivava de martírio as caminhadas.
Por que será que a rosa tem espinhos,
com pétalas assim tão perfumadas?
Sonhei, por entre sombras, horizontes
de límpidas manhãs de primavera,
dourando o pão que Maio prometia...
E, agora, quem me nega as frescas fontes
que matem esta sede, nesta espera
que o sonho sempre mais e mais adia?
Poema de José-Augusto de Carvalho
9 de Junho de 2001
Viana - Évora - Portugal
se sempre caminhei entre ciladas?
No berço, já ouvia, entre carinhos,
falar de perdições ensanguentadas...
O fim, amortalhado de alvos linhos,
eivava de martírio as caminhadas.
Por que será que a rosa tem espinhos,
com pétalas assim tão perfumadas?
Sonhei, por entre sombras, horizontes
de límpidas manhãs de primavera,
dourando o pão que Maio prometia...
E, agora, quem me nega as frescas fontes
que matem esta sede, nesta espera
que o sonho sempre mais e mais adia?
Poema de José-Augusto de Carvalho
9 de Junho de 2001
Viana - Évora - Portugal
terça-feira, julho 05, 2011
Entrada de Leão, Saída de Sendeiro
Fernando Nobre quis ser Presidente da República e acabou em terceiro lugar no acto eleitoral de Janeiro deste ano, com 14,1% dos votos. Pouco depois, para as Eleições Legislativas, candidatou-se nas listas do PSD, declarando que só se manteria no Parlamento se fosse eleito Presidente da Assembleia da República. Não conseguiu ser eleito, depois de dois escrutínios, acabando sentado na última fila da bancada do PSD. Por só lhe interessar o cadeirão de segunda figura do Estado, acabou por cumprir o que tinha prometido. Ao fim de duas semanas, depois de iniciada a legislatura, renunciou ao cargo, declarando que se sente mais útil na ajuda humanitária. Aí concordo!
Para quem se orgulhava de não estar comprometido com qualquer partido político, que não estava interessado em ser deputado, mas sentindo-se vocacionado para ser o maestro do sistema parlamentar que olhava de soslaio, o desastre político de Fernando Nobre, só tem uma classificação: entrada de leão, saída de sendeiro.
Para quem se orgulhava de não estar comprometido com qualquer partido político, que não estava interessado em ser deputado, mas sentindo-se vocacionado para ser o maestro do sistema parlamentar que olhava de soslaio, o desastre político de Fernando Nobre, só tem uma classificação: entrada de leão, saída de sendeiro.
segunda-feira, julho 04, 2011
Registo para Memória Futura (45)
«Em casos muito excepcionais, há notícias (…) que não devem ser referidas, não por autocensura ou censura interna, mas porque a sua divulgação seria eventualmente nociva ao interesse nacional. O jornal reserva-se, como é óbvio, o direito de definir, caso a caso, a aplicação deste critério.»
Excerto do Estatuto Editorial do Semanário EXPRESSO
Meu comentário: É difícil conhecer a verdade absoluta, na medida em que ela é a soma de um conjunto de verdades, e algumas delas podem ter ficado na sombra, intencionalmente ou não, marcando a diferença entre a verdade absoluta, coisa rara, e a verdade relativa.
Porque o jornalismo existe para informar e não para condicionar a informação, era desejável que fossem definidos, em termos jornalísticos, os parâmetros do conceito de “interesse nacional”, essa expressão subjectiva que, tal como os “supremos interesses da nação” de outrora, pode ser tudo e não ser nada, caso contrário, com maior ou menor grau de limitações, estamos sempre sujeitos a formas, mais ou menos veladas de censura. Qualquer estagiário sabe que há uma grande diferença entre noticiar que “vai acontecer”, ou noticiar que “já aconteceu”. Qualquer jornalista sabe o que deve ficar a aguardar confirmação, e o que pode ser entregue já, ao domínio público. E os jornalistas mais experientes, sabem que muitas vezes, bem longe do “interesse nacional”, estão em jogo certos interesses, que são constrangidos a manter resguardados, por razões que nada têm a ver com a natural reserva, ou o tal “interesse nacional”, que tem tanto de vago como de castrador. Qual é o proprietário de um jornal, rádio ou estação de TV que gosta de ser objecto de notícias menos abonatórias? Por tudo isto, e mais um par de botas, como agora é hábito dizer-se, cada vez considero mais a profissão de jornalista, uma das mais nobres profissões que uma pessoa pode ter, quando desempenhada com isenção e rigor.
Excerto do Estatuto Editorial do Semanário EXPRESSO
Meu comentário: É difícil conhecer a verdade absoluta, na medida em que ela é a soma de um conjunto de verdades, e algumas delas podem ter ficado na sombra, intencionalmente ou não, marcando a diferença entre a verdade absoluta, coisa rara, e a verdade relativa.
Porque o jornalismo existe para informar e não para condicionar a informação, era desejável que fossem definidos, em termos jornalísticos, os parâmetros do conceito de “interesse nacional”, essa expressão subjectiva que, tal como os “supremos interesses da nação” de outrora, pode ser tudo e não ser nada, caso contrário, com maior ou menor grau de limitações, estamos sempre sujeitos a formas, mais ou menos veladas de censura. Qualquer estagiário sabe que há uma grande diferença entre noticiar que “vai acontecer”, ou noticiar que “já aconteceu”. Qualquer jornalista sabe o que deve ficar a aguardar confirmação, e o que pode ser entregue já, ao domínio público. E os jornalistas mais experientes, sabem que muitas vezes, bem longe do “interesse nacional”, estão em jogo certos interesses, que são constrangidos a manter resguardados, por razões que nada têm a ver com a natural reserva, ou o tal “interesse nacional”, que tem tanto de vago como de castrador. Qual é o proprietário de um jornal, rádio ou estação de TV que gosta de ser objecto de notícias menos abonatórias? Por tudo isto, e mais um par de botas, como agora é hábito dizer-se, cada vez considero mais a profissão de jornalista, uma das mais nobres profissões que uma pessoa pode ter, quando desempenhada com isenção e rigor.
domingo, julho 03, 2011
Novas Fórmulas de “Outsourcing”
PARA o caso de ser assaltado, o posto da Guarda Nacional Republicana (GNR) de Armação de Pêra, tem instalado um sistema de alarme, contratado com a empresa privada de segurança e vigilância Prosegur. Será que não é da competência da GNR assegurar a inviolabilidade das suas próprias instalações, ou será que este posto não possui efectivos? Na verdade, não sei, mas se a moda pega ainda vamos ver o Ministério das Finanças a subcontratar o Cobrador do Fraque para efectuar junto dos contribuintes relapsos a recuperação coerciva dos impostos em atraso, ou o Ministério das Obras Públicas abdicar de ministro, secretários de estado e de instalações, e mudar-se de armas e bagagens para o Grupo Mota-Engil, ou qualquer outra construtora que mantenha concubinato com o governo em funções.
sábado, julho 02, 2011
Somos Oposição Construtiva…
NA APRESENTAÇÃO do programa do governo, o PS (através da voz interina da senhora Maria de Belém Roseira) foi muito claro: tudo o que tenha a ver com o acordo que o PS também assinou com a missão do FMI-UE-BCE, nada a objectar, mas tudo o que vá para além disso, logo se verá. Quer isto dizer que, muito embora o governo tenha uma maioria confortável e não precise de apoio, isso não impede que o PS deixe a pairar no ar o desejo de manter, através de uma “oposição patriótica, séria, responsável, construtiva, mas enérgica”, a defesa intransigente dos interesses dos banqueiros, dos empresários que vão empochar balúrdios com a redução da TSU, da economia do nosso país, que vai de mal a pior, e dos nossos queridos portugueses, que vão ficar sem uma talhada do subsídio de Natal, e o que mais virá depois. Não disseram isto, preto no branco, mas podiam ter dito, para os portugueses perceberem que caldinho está a ser preparado. E escusam de ficar descansados...
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