domingo, março 18, 2012

Ser e Parecer


O ECONOMISTA António Borges foi vice-presidente da Goldman Sachs, o banco norte-americano que aprecia desempenhos, gerando notação financeira e "aconselhando" governos (caso da Grécia, a quem ajudou a esconder o seu astronómico défice), ao mesmo tempo que acarinha as famílias mais ricas do mundo. O mesmo senhor é agora consultor da Parpública, a empresa que gere o processo das privatizações e da renegociação das Parcerias Público-Privadas. Agora, vai aceitar as funções de vogal não executivo no conselho de administração do grupo Jerónimo Martins. A acumulação de ambas as funções, levantou dúvidas, e muito bem, quanto à eventualidade de ambos os cargos não serem compatíveis, ou a sua simultaniedade não ser aconselhável, em termos de transparência. Entretanto, o Ministério das Finanças emitiu um comunicado em que diz não existirem "incompatibilidades ou conflitos de interesses", pelo que António Borges pode ficar descansado e ir em paz, com a respectiva benção do ministro Victor Gaspar.

Ora, a questão que se põe, e que pelos motivos óbvios não pode ser imediatamente clarificada, é que nada nos garante que o grupo Jerónimo Martins não venha a ser, no futuro, um potencial candidato às privatizações que estão na calha, e aí, António Borges, como detentor de informação previligiada, pode vir a dar uma ajuda considerável, sem que a coisa se saiba. Assim sendo, não nos queiram fazer passar por parvos, passando certificados de duvidosa garantia. Manda a transparência e algum sentido de ética que, tal como aconteceu com Calpúrnia, a mulher de César, não bastando que fosse séria, também era preciso que o parecesse. Neste caso, a solução é simples: se o Grupo Jerónimo Martins quer António Borges, pois então que o leve, e que se arranje outro que o venha substituir na Parpública. Gente desempregada é o que há mais por aí...

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