sexta-feira, fevereiro 28, 2014

O Horror Ortográfico

Com os votos da maioria PSD/CDS-PP, foi aprovada na Assembleia da República a constituição de um grupo de trabalho (mais uma pantominice) que irá acompanhar a aplicação do novo Acordo Ortográfico, conhecido como AO90.

Reverter o processo, fazendo-o volta à estaca zero, dificilmente aconteceria, pois sairia molestado o tão propalado quanto patético "orgulho nacional". Tentar salvá-lo seria uma tarefa ingrata, pois não é melhorável o que é irrecuperável. Acompanhar a sua aplicação é uma solução picaresca, como receitar um placebo para tratar uma doença crónica. De uma forma ou de outra, os estragos já foram feitos, continuando a contaminar e a lançar o caos entre quem usa a língua portuguesa, por muitos e largos anos, sendo dificilmente estabilizada, isto se alguma vez o for. O sistema educacional, propulsor e roda-mandante das línguas vivas, será o que maiores dificuldades e prejuízos sofrerá, pois terá que lidar com uma língua que foi anarquizada por mixordeiros que andaram a brincar aos laboratórios de linguística-experimental, pelos políticos cretinos e ávidos de protagonismo, pelos vassalos dos meios de comunicação social, e por editores e livreiros pouco escrupulosos, mais preocupados com as suas margens de lucro que com os efeitos perversos dos subprodutos com que inundam as escolas do país.

A verdade é que a indiferença e o conformismo que se instalou entre os portugueses, levará a que prevaleça a ideia de que mais ou menos pontapés na ortografia, tanto faz, e todas as confusões que surgirem entre PACTO e PATO, FACTO e FATO, ESPECTADORES ou ESPETADORES, mais as outras excentricidades e facultatividades que forem contaminando a língua, não trarão grande mal ao mundo. Resumindo: é para se ir gostando, por força da habituação, e nada será como dantes. Na verdade, vai ser muito pior. O tempo e o uso dirão de sua justiça.

quinta-feira, fevereiro 27, 2014

A Reconstrução

O EDMUNDO começou a ficar deveras saturado, e não era caso para menos. Desde que se conhecia como gente que o país tinha sido assolado por cinco crises, e em todas elas ele fora massacrado com aumentos de impostos, ajustamentos salariais, perda de direitos, aumento de preços e cortes em tudo o fosse convertível em combustível para alimentar a prometida recuperação económica, e a reconstrução do que outros haviam arruinado. Agora, esta última era ainda mais grave, tão grave que para fazer a tal reconstrução os governantes impuseram que (quase) toda a gente cedesse ao Estado cinquenta por cento dos seus rendimentos e bens patrimoniais, fossem eles móveis ou imóveis. Se em tempos diziam que o país estava primeiro, e as pessoas depois - como se o país não fosse feito de pessoas -, a conversa agora era outra, mais a atirar para o sentimento: tudo aquilo era feito em benefício das gerações futuras. O Edmundo ficou indignado, disse que era demais, queria revoltar-se, mas quando os executores fiscais começaram a congelar-lhe fatias do ordenado, a amordaçar-lhe a conta bancária e a expropriar-lhe uma parcela da casa de habitação, começou a ser atormentado por uma dor aguda que começava no dedo mínimo do pé esquerdo, subia pela perna acima, apanhava-lhe o braço e continuava a trepar até ao pescoço. Foi ao hospital mas disseram-lhe que a coisa não era grave e que acabava por passar com o tempo. Numa noite insone a dor foi tão aguda e persistente que ao levantar-se, adormeceu em definitivo.

Dois anos depois, ainda não estava debelada aquela crise e já começava a despontar uma outra, enrodilhada nas franjas e pontas soltas da anterior. Entretanto o Edmundo mantinha-se a "fazer tijolo", dando os restos mortais ao manifesto, em proveito daquela e das outras reconstruções que se seguiram.

Da Série "Contos Instantâneos"

quarta-feira, fevereiro 26, 2014

Sempre que ouço falar do Novo Acordo Ortográfico, puxo logo de um pano encharcado!

Na próxima Sexta-Feira, dia 28 de Fevereiro, a «Petição pela desvinculação de Portugal ao "Acordo Ortográfico de 1990" (AO90)» subirá a plenário da Assembleia da República, onde será apreciada em conjunto com pelo menos (os ora apresentados) três Projectos de Resolução sobre a mesma matéria, os quais serão posteriormente votados. Entretanto, Madalena Homem Cardoso, representante dos peticionários, fez chegar uma CARTA ABERTA AOS 230 DEPUTADOS À ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA. Para quem sustenta que é urgente e necessário preservar a Língua Portuguesa, este é um documento de leitura obrigatória.

A carta pode ser lida AQUI no CARTÓRIO DO ESCREVINHADOR

sexta-feira, fevereiro 21, 2014

Entre Uma Espreguiçadela e Dois Bocejos

FINALMENTE, e depois de muitos esforços e diligências, a Guiné Equatorial conseguiu, finalmente, recolher a desejada unanimidade para ser admitida, como membro de pleno direito, da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). É governada há 35 anos pelo ditador Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, o oitavo governante mais rico do mundo, acusado de beneficiar e deixar proliferar a corrupção, violar constantemente os direitos humanos, usando e abusando da pena de morte. Tendo decretado que o português é uma das três línguas oficiais do país, ao lado do espanhol e do francês, esta adesão é vista como uma forma de Teodoro Obiang romper o seu persistente isolamento internacional. O nosso ministro Rui(doso) Machete, em mais uma das suas tiradas antológicas, disse que "Portugal se sente à vontade com esta decisão", isto é, Portugal, entre uma espreguiçadela e dois bocejos, lá vai dizendo para os seus botões: com a vocação universalista do Novo Acordo Ortográfico, e no meio de tantos malandros, mais malandro, menos malandro, até nem faz grande diferença.

quarta-feira, fevereiro 19, 2014

Uma Singular Curiosidade


Há lançamentos de livros e lançamentos de livros. Habitualmente comparece o autor e convidados, estes últimos a desempenharem também o papel de apresentadores da obra e do seu autor, e depois o público que vai assistir e levar os primeiros exemplares autografados. Desta vez teve lugar no CCB a apresentação do livro de entrevistas a Vítor Gaspar, ex-ministro das Finanças da maioria PSD/CDS-PP, da autoria de Maria João Avillez, com uma curiosa e singular originalidade: a presença do próprio entrevistado e biografado.

A apresentação (não propriamente do livro mas do entrevistado) coube ao "socialista", ex-comissário europeu e reputado "xadrezista" António Vitorino, e para além da autora, lá estava o próprio entrevistado e biografado (como já atrás referi), que como "estrela" do acontecimento, debitou algumas coisas, fa_lan_do pau_sa_da_men_te, como é seu hábito, para que não seja esquecido nem confundido com qualquer outra alminha de nome Vítor Gaspar (só na lista telefónica são mais que muitos), pois não há nada como o seu a seu dono.

Para compor o quadro, marcaram presença na assistência alguns membros do actual (des)Governo, bem como umas quantas "sumidades" do "espectro cultural" indígena, talvez desejosos de se assumirem como testemunhas daquela homenageosa "prova de vida", de um dos indivíduos que em co-autoria com outros meliantes, mais estragos provocou a Portugal e aos portugueses.

terça-feira, fevereiro 18, 2014

Influências

Fátima, Fado e Futebol são três entidades que sempre ocuparam substanciais parcelas do imaginário português. Fátima deve ter alguma responsabilidade nas luzes ao fundo do túnel e no "milagre económico" que anda a ser propalado pelo ministro da Economia, e quanto ao Fado, deve ter muito a ver com as guitarradas com diariamente somos embalados, sobre "saídas limpas" do programa de ajustamento, ida aos mercados, perdões fiscais, sorteios de facturas, promessas de descida do IRS, e outras pantominices, para ocultar os cortes e penhoras que cravaram a garra na vida das Mariquinhas, por andarem a viver acima das suas possibilidades. Quanto ao Futebol, é vê-los, os que nos governam, de há alguns anos a esta parte, a venderem, ao desbarato, os "anéis" do "plantel", a tratarem as questões de Estado com os pés, e não com a cabeça, e os poucos que usam a cabeça, fazendo questão de só usar a carapaça e não o miolo. Depois, quando os jogos não correm de feição, ou os ardis e imposturas não produzem resultados, têm por costume culpar os árbitros, neste caso o Tribunal Constitucional.

Surrealismo

A agência LUSA noticiou que uma auditoria levada a cabo pela Inspecção Geral de Finanças detectou que funcionários e ex-funcionários do Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT) andaram a receber, desde 2010, vencimentos acima do que estipulava o quadro remuneratório em vigor para cargos dirigentes no Estado, devendo os beneficiários proceder à devolução do que receberam indevidamente. Ao ler-se esta notícia conclui-se que não havia ninguém, ao nível da administração do IMT, que fosse responsável, tanto pela existência das tabelas remuneratórias ilegais, como pela assinatura das respectivas folhas de pagamento, e que nessa qualidade tivesse que responder perante quem de direito. Em resumo: proliferam por aí obscuros e controversos institutos em autogestão, para os "boys" se governarem, abichando salários acima do que manda a lei, depois diz-se que quem vive acima das possibilidades do país, são os trabalhadores e reformados. E o mais lamentável é que estes casos estão a tornar-se um lugar comum, quase uma coisa banal, a cair no saco roto da indiferença geral.

sexta-feira, fevereiro 14, 2014

Remédio Santo

O Governo tem andado a embandeirar em arco e a autopromover-se com a suposta descida de umas décimas da taxa de desemprego. Por isso, insatisfeito com o rumo das coisas, achou por bem aprovar medidas para contrariar o fenómeno: sem acordo dos parceiros sociais, instituiu novas regras para o despedimento dos trabalhadores, baseadas em critérios de avaliação do desempenho, medida esta que não está muito disseminada no meio empresarial português. Ora o ministro Mota Soares, teve o arrojo de sublinhar que a lei também passa por ser um incentivo para que as empresas que não possuem mecanismos de avaliação, o adoptem, passando assim a dispor de mais um instrumento, uma espécie de remédio santo, para levar a cabo os tais despedimentos. Foi assim mesmo, sem meias palavras, que aquele necrófago abrilhantou a medida. Deixo aqui um conselho aos portugueses em geral, e aos trabalhadores em particular: na próxima ronda de eleições, não se esqueçam de voltar a voltar nesta gentalha!

Isto Dá Que Pensar

«Absolvidos. Foi este o veredicto a que chegou nesta sexta-feira o colectivo de juízes das Varas Criminais de Lisboa na leitura do acórdão do processo das contrapartidas dos submarinos, que ilibou todos os dez arguidos, três alemães e sete portugueses (...)»

Excerto da notícia do jornal PÚBLICO de 14 de Fevereiro de 2014

Meu comentário: Respeito e obedeço à Justiça, porém, casos há em que não subscrevo as suas decisões, e aí o respeito começa a dissipar-se.

terça-feira, fevereiro 04, 2014

Registo Para Memória Futura (95)

O TRIBUNAL Administrativo de Círculo de Lisboa rejeitou a providência cautelar apresentada pelo Ministério Público para suspender a venda das obras de Joan Miró em Londres, num leilão da Christie's. No seu "douto" despacho, o Tribunal indica que aquilo que se apurou foi que quem "adquiriu" as 85 obras (ou tomou posse, em face da nacionalização do BPN) foram duas sociedades anónimas de capitais exclusivamente públicos, concretamente, a Parvalorem, S.A. e a Parups, e não o Estado. Isto é, as empresas são do Estado, único accionista através da Direcção Geral do Tesouro e Finanças, mas por obra e graça de vá-se lá saber o quê, muito embora seja dono daquele património, não é ouvido nem achado, muito menos responsável pela sua alienação. Acresce que a autorização de expedição das obras para Londres foi manifestamente ilegal, coisa pouca, quando tudo o resto está (diz o Tribunal) em conformidade.

Já não bastava Portugal ter sido saqueado de milhares de obras de arte, pelas hostes napoleónicas, no decurso das invasões francesas, ocorridas há duzentos anos atrás, para agora o episódio se voltar a repetir, sob a batuta de um impune bando de malfeitores, por cá nascidos e mal criados, acobertados por uma Justiça que dorme, sofre de sonambulismo e quando acorda, pelo sim, pelo não, emparceira com a parte mais poderosa, isto é, com os bandoleiros. Porém, pior ainda é possível! Mais dia, menos dia, ainda hei-de ver o Mosteiro dos Jerónimos ou a Torre de Belém serem vendidos em hasta pública. Com direito a Te Deum e missa cantada.

segunda-feira, fevereiro 03, 2014

Philip Seymour Hoffman


O ACTOR Philip Seymour Hoffman, de 46 anos, foi encontrado morto no seu apartamento em Manhattan, Nova Iorque, tendo sido uma overdose de heroína a causa provável da morte.

Meu comentário: Ainda há poucos dias estive a rever o filme de 2007, "Antes Que o Diabo Saiba Que Morreste" do realizador Sidney Lumet. Mesmo que a ficção teimasse em tropeçar com a vida real, aquela impertinente toxicodependência não conseguiu apagar um grande e talentoso actor.