quarta-feira, dezembro 05, 2012

Conselho de Estado Alternativo


HÁ TRÊS dias (desde Sexta-Feira 30 de Novembro) que o Presidente da República tem mantido reuniões com o Conselho de Estado Alternativo, composto pelos banqueiros portugueses, isto é, com alguns dos donos de Portugal, nomeadamente, os presidentes dos conselhos de administração ou comissões executivas do Banco Espírito Santo, Banco Português de Investimento, Banco Comercial Português, Caixa Geral de Depósitos, Montepio Geral, Banco Santander-Totta, Caixa Central de Crédito Agrícola Mútuo e Banif, e só agora é que soubemos. Parece que está muito preocupado com a "estabilidade financeira dos bancos", queria saber como estão a correr os negócios e também, provávelmente, se eles precisam de mais alguma coisa.

segunda-feira, novembro 26, 2012

Sobre a Cavacal Amnésia

O Presidente da República em 21 de Novembro de 2012, durante a sessão de abertura do Congresso das Comunicações, afirmou que o país precisa de “ultrapassar estigmas” e voltar a olhar para os sectores que esqueceu nas últimas décadas: o mar, a agricultura e a indústria. É preciso descaramento!

Ora o desaparecimento das pescas, da agricultura e de amplos sectores do tecido industrial não resulta de um acto de amnésia colectiva, nem de uma chaga que tenha aparecido por geração expontânea, ou caído do céu aos trambolhões. Cavaco Silva finge-se desentendido e debita a sua homilia, como se não tivesse nada a ver com o assunto. Cavaco esquiva-se, quer passar uma esponja sobre o seu passado, varrer para debaixo do tapete tudo o que tem a sua assinatura, mas, na verdade, foi o próprio Aníbal Cavaco Silva, enquanto primeiro-ministro de Portugal, entre 6 de Novembro de 1985 e 28 de Outubro de 1995, que aproveitando a ainda fresca adesão à Comunidade Económica Europeia em 1986, se encarregou de iniciar o desmantelamento das pescas, da agricultura e de amplos sectores do tecido industrial, à sombra de uns promissores quadros comunitários de apoio que foram desperdiçados das mais variadas formas, sujeitando esses sectores a um processo de erosão, que tinha por finalidade transformar o país, não num produtor e exportador de bens, mas apenas num promissor mercado consumidor daquilo que importávamos da triunfante Europa Connosco.

O que foram as drásticas reduções (quotas) impostas pela UE sobre os nossos lacticínios, o concentrado de tomate e as pescas, senão uma forma capciosa de estrangular e desbaratar os nossos sectores produtivos. Isto para já não falar dos largos milhões de subsídios compensatórios, destinados à modernização do país, e que acabaram dissipados e desbaratados por uma corte de pseudo-empresários, quantas vezes com lautos proventos para as suas contas bancárias e nulos efeitos para a economia. Portanto, não vale a pena fazer fintas ou tergiversar, quando Cavaco diz agora, alinhavando conselhos e recadinhos, com o seu habitual ar seráfico, que é desejável que voltemos ao mar, depois de ele próprio ter contribuído para nos expulsar de lá, pondo os barcos parados e as tripulações em terra. A verdade é que chegámos onde chegámos, por ele ter trabalhado afincada e determinadamente para isso. O país que hoje somos está profundamente contaminado pelos genes de 10 (dez) anos de cavaquismo, e invocar estigmas e esquecimentos, é apenas mais uma chapada de areia lançada para os olhos dos desmemoriados e dos incautos.

sexta-feira, novembro 23, 2012

O Ouro e o Silêncio

Sua Pesporrência o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, a propósito dos seus prolongados silêncios, veio dar mais um ar da sua graça (ou insolência), afirmando que o seu silêncio é de ouro, e que o elevado preço do metal não permite desperdícios. Registe-se que disse isto, preocupadíssimo com o desejo de passar despercebido, no meio da turbulência e dos graves problemas que atravessam o país, e da uma conjuntura política nacional, que tantos estragos anda a provocar no tecido económico e social do país. Curioso comportamento este, para quem já se auto-intitulou "provedor do povo português"!

Recorde-se que quando não está ausente ou em prolongado retiro espiritual, o pesporrente Cavaco escolhe os apontamentos redondos e breves no Facebook, ou as piadinhas irónicas para a plateia da comunicação social, como forma bizarra de se mostrar preocupado e ser interventivo, tal como prometeu na sua mensagem de Ano Novo de 2012. Aguardemos o que terá para nos dizer (ou acrescentar), daqui a alguns dias, aquando da sua próxima mensagem de Ano Novo de 2013.

domingo, novembro 18, 2012

Estória Breve: Glória e Renúncia


HÁ CINQUENTA anos, mais precisamente em 1939, ano do início da Segunda Guerra Mundial, que o senhor Ernesto Martins, vindo não se sabe de onde, se tinha instalado na aldeia do Chão de Barrocos, e iniciara a sua actividade de serralheiro. Dessa altura em diante, naquele concelho, não havia casa ou propriedade que não ostentatasse alguma coisa da autoria do senhor Ernesto, cuja obra se multiplicava por um número incalculável de portas, portões, armações para alpendres, janelas de marquises, gradeamentos, varandins, escadas de caracol, utensílios de lareiras, e até algum mobiliário de jardim, incluindo estufas envidraçadas. Nas épocas em que o trabalho da sua arte escasseava, deitava a mão a trabalhos de canalizador, electricista, cataventos e até reparava bicicletas, alcatruzes e motores de rega. Chegou mesmo a inventar um prodigioso sistema de abertura e fecho de portões, que por não ter registado a patente, veio mais tarde a ser copiado e explorado com grande êxito por uma empresa belga.
 
Excepto a curta presença diária da dona Bemvinda, que lhe tratava da casa e das refeições, vivia só e não se lhe conhecia família. Vivia para o seu trabalho, era pouco falador, porém, houvesse o que houvesse, tivesse muito ou pouco trabalho, chovesse ou fizesse sol, o senhor Ernesto reservava sempre duas ou três horas diárias, dizia ele, para estudo, pesquiza e experimentação na sua oficina, cuja entrada estava permanentemente vedada a todos, e que ele tratava carinhosamente como o seu “laboratório”. Correspondia-se com gente ilustre da Alemanha, Itália, França e Estados Unidos da América, mas não se sabia muito bem com que fim, pois não se lhe conheciam cursos, competências ou aptidões intelectuais, e muito menos conhecimentos de outras línguas. Mas a verdade é que recebia e enviava correio para outros países, sendo muitos os que se roíam de curiosidade para saber a que outras actividades se dedicava, mas acima de tudo, com quem se correspondia, e a propósito de quê. Talvez fosse um daqueles refugiados da guerra, dizia-se à boca pequena. Nos últimos anos a curiosidade da vizinhança agudizou-se, ao ponto de o senhor Castanheira, o velho distribuidor de correio, ser assediado com perguntas sobre a identidade dos destinatários do correio do senhor Ernesto, tendo até havido quem tivesse pedido, insistentemente, para ele deixar dar umas espreitadelas ao conteúdo das missivas, ao que ele respondeu escandalizado, oh minhas senhoras, então não sabem que a correspondência é coisa sagrada e a sua violação um abuso?
 
E assim se foi mantendo o mistério até que um dia, sem que ninguém estivesse a contar com isso, o senhor Ernesto faleceu durante o sono, plácidamente, sem qualquer vestígio de sofrimento. Mesmo antes de começar a ser combinado o seu funeral, logo houve quem corresse a profanar o secretismo do seu “laboratório”. Perante uma dona Bemvinda escandalizada, foi tudo virado do avesso, mas nada de especial foi encontrado. Entre o fraco espólio havia uma bancada, duas cadeiras, as habituais ferramentas de serralheiro, máscaras e ferros de soldadura, um candeeiro, um ou outro trabalho inacabado, uma salamandra com cinzas, provávelmente das tais cartas que recebia do estrangeiro, uma pilha de jornais antigos, um maço de folhas de papel em branco e duas cintas de envelopes, mas nada de livros, nem apontamentos, nem aparelhómetros esquisitos, nem frascos de substâncias, nem almofarizes, nem retortas, nem tubos de ensaio. Quem imaginara aquele retiro como um antro de mistérios mirabolantes e manipulações alquímicas, sentiu-se defraudado. Excepto uma gravura antiga da cidade de Palermo, pendurada na parede da cozinha, na acanhada e espartana residência do senhor Ernesto, também nada havia de excepcional.
 
Três dias depois foi o seu funeral, e mais uma vez o espanto e a incredulidade, percorreram toda a aldeia do Chão de Barrocos, quando apareceram no cemitério cinco estrangeiros, trazidos por dois táxis, que se mantiveram, afastados e silenciosos, a assistir às exéquias. Não trocaram palavra com ninguém, e conforme chegaram, assim se foram embora, sempre silenciosos e taciturnos, ficando a pairar no ar mais outro perturbante mistério: quem seriam e quem os informara, com tão eficaz rapidez, do passamento do senhor Ernesto? Passaram dois meses, e entretanto, alguém que fez questão de manter o anonimato, mandara fazer uma placa para a campa do senhor Ernesto, com as iniciais E.M. e as datas Agosto 1906-Novembro 1989, respectivamente os meses e anos de nascimento e falecimento, encomenda essa que voltou novamente a acicatar a coscuvilhice aldeã e a despoletar novo mistério: embora E.M. fossem as iniciais correspondentes a Ernesto Martins, quem seria a pessoa que sabia exactamente o seu mês e ano de nascimento, e que teve a preocupação de mandar esculpir a placa para perpetuar a sua memória?
 
Estas perguntas ficaram para sempre sem resposta, no entretanto, aconteceu um caso insólito. Um jornalista, tendo tido conhecimento, através de um amigo do Chão de Barrocos, dos misteriosos enigmas que envolviam a vida e morte desse tal serralheiro, resolveu fazer uma pequena investigação para tentar tirar a coisa a limpo. E a primeira coisa que fez foi consultar o obituário do jornal do concelho, deparando-se então com uma anacrónica fotografia do senhor Ernesto. Fotografia que não era a de um octogenário - como era suposto que fosse - mas sim a de um homem trintão, talvez a única que fora encontrada para ilustrar a notícia do falecimento. O tal jornalista, que era um bom fisionomista, à vista do retrato do senhor Ernesto, foi assaltado por aquela sensação de já se ter cruzado com aquele rosto, fosse ele de carne e osso, ou através de uma mera fotografia. Assim, durante três dias, foi revolvendo o arquivo de fotografias do jornal, até que os seus esforços foram compensados. Comparado o retrato do senhor Ernesto com a foto recém-descoberta, que estava devidamente identificada, era óbvio que se tratavam da mesma pessoa. E chegou à seguinte conclusão: O senhor Ernesto Martins, ou apenas E.M., vindo de nenhures para o Chão de Barrocos em 1939, e nascido em Agosto de 1906, era a mesmíssima pessoa que o genial cientista italiano de nome Ettore Majorana, físico teórico responsável pela descoberta dos neutrinos e da fissão nuclear, nascido em 1906 na Catânia, Sicília, misteriosamente desaparecido em 1938, acreditando-se que se tenha auto-exilado, renunciando à glória, descontente com o rumo que o mundo e a ciência estavam a tomar, e cujo paradeiro nunca mais foi descoberto ou revelado.

terça-feira, novembro 13, 2012

Porque Estamos na Mesma Jangada

… e todas as outras que estão convocadas para hoje, tanto na Grécia como em Itália.

«A Europa, toda ela, deverá deslocar-se para o Sul, a fim de, em desconto dos seus abusos colonialistas antigos e modernos, ajudar a equilibrar o mundo. Isto é, Europa finalmente como ética.»   José Saramago

Registo para Memória Futura (74)

«Com as reformas estruturais temos a ambição de ser uma das economias mais dinâmicas da Europa», declarou o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho no encontro empresarial luso-alemão que decorreu em 12 de Novembro de 2012, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, com a presença da chanceler alemã Angela Merkel.

ADENDA - O Banco de Portugal reviu hoje em baixa as suas previsōes para a economia nacional, antecipando uma contracção de 1,6% em 2013, acima do 1% previsto pelo Governo. A nova previsão consta do Boletim Económico de Outono, hoje divulgado pela instituição liderada por Carlos Costa. (jornal PÚBLICO de 13.NOV.2012)

ADENDA 2 - Na conferência de imprensa que se seguiu à reunião dos "Amigos da Coesão", e numa resposta em inglês a uma questão colocada pela imprensa internacional, o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, afirmou hoje, em Bruxelas, que a austeridade é a única forma de ultrapassar a crise num país com um elevado nível de endividamento, como é o caso de Portugal. (DIÁRIO DE NOTÍCIAS em 13.Nov.2012)

ADENDA 3 - O primeiro-ministro Pedro Passos Coelho reagiu hoje aos dados do Instituto Nacional de Estatística que revelam que a taxa de desemprego subiu no terceiro trimestre para 15,8%, um novo recorde, face aos 15% observados no trimestre anterior, afirmando que "o desemprego é um processo pelo qual o país tem que passar". (DIÁRIO ECONÓMICO de 14.Nov.2012)

segunda-feira, novembro 12, 2012

A Chancelera Coiso e Tal

A CHANCELERA Angela Merkel veio até à periferia da sua granja para apreciar como se estavam a portar os mandriões da Lusitânia, e avistar-se durante meia dúzia de horas com alguns dos seus capatazes, contribuindo para a poluição do meio ambiente. Os portugueses, uns com protestos, outros com cartas abertas e artigos de opinião, outros ainda com refinado desprezo, cumpriram razoávelmente a sua obrigação de lhe darem a entender que não é bem-vinda.

Em resumo: ladeada pelo gauleiter Passos Coelho - uma miniatura convencida que é um gigantone - veio tirar o cavalinho da chuva, balbuciando que não tem nada a ver com a austeridade portuguesa, que não é mentora do Coelho, que estamos a reajustarmo-nos muito bem, muito embora a situação seja séria e difícil, mas que tudo indica que estamos preparados para aguentar muitíssimo mais, e coiso e tal. Na verdade, e atendendo às circunstâncias, veio fazer uma visita ao doente e desejar as melhoras.

Entretanto, sob os auspícios da febre leiloeira e privatizadora do património nacional, fica por saber o que é que os empresários alemães vieram cá comprar.

sábado, novembro 10, 2012

Um Sábado com Jorge de Sena

 
Liberdade, Liberdade, Tem Cuidado Que Te Matam

Da prisão negra em que estavas
a porta abriu-se p´ra rua.
Já sem algemas escravas,
igual à cor que sonhavas,
vais vestida de estar nua.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

Na rua passas cantando,
e o povo canta contigo.
Por onde tu vais passando
mais gente se vai juntando,
porque o povo é teu amigo.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

Entre o povo que te aclama,
contente de poder ver-te,
há gente que por ti chama
para arrastar-te na lama
em que outros irão prender-te.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

Muitos correndo apressados
querem ter-te só p´ra si;
e gritam tão de esganados
só por tachos cobiçados,
e não por amor de ti.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

Na sombra dos seus salões
de mandar em companhias,
poderosos figurões
afiam já os facões
com que matar alegrias.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

E além do mar oceano
o maligno grão poder
já se apresta p´ra teu dano,
todo violência e engano,
para deitar-te a perder.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

Com desordens, falsidades,
economia desfeita;
com calculada maldade,
Promessas de felicidade
e a miséria mais estreita.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

Que muito povo se assuste,
julgando que és tu culpada,
eis o terrível embuste
por qualquer preço que custe
com que te armam a cilada.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

Tens de saber que o inimigo
quer matar-te à falsa fé.
Ah tem cuidado contigo;
quem te respeita é um amigo,
quem não respeita não é.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

Poema de Jorge de Sena (1919-1978), escrito em Santa Bárbara (EUA), 4 de Junho de 1974

sexta-feira, novembro 09, 2012

Espírito Santo com Mão de Ferro

A PRESIDENTE do Banco Alimentar Contra a Fome, uma tal Isabel Jonet, já tinha dito, há uns tempos atrás, que o Estado deveria desvincular-se das suas tarefas de apoio social (subsídios de desemprego, rendimento social de inserção, etc.) restringindo a concessão dessas prestações a gente que, oportunísticamente, prefere a delas beneficar, mesmo que exíguas, a ter um emprego (e onde os há?), dando a entender que tal seria uma prática generalizada, o que não é verdade. Ao dizer isto, a tal Jonet que periódicamente nos vem pedir encarecidamente, que façamos a nossa solidária contribuição para aliviar a fome de quem é pobre, anda a ocultar, de uma forma astuta e demagógica, o ónus da proliferação da corrupção e oportunismo das élites e classes altas, transferindo-a para os pequenos ardis de alguns poucos aproveitadores desses benefícios sociais.

Agora volta a insistir - aproveitando os tempos de antena que as televisões lhe concedem - declarando que os pobres, afinal, levam vida de lordes, comem que nem uns alarves, divertem-se à grande e à francesa, pelo que não haverá miséria em Portugal. Afinal, os vasculhadores dos contentores de lixo que todas as noites, a partir das 22 horas, visitam o meu bairro, antes de aparecerem os carros da recolha de lixo, não passam de tarados e masoquistas. Ora não havendo miséria, era aconselhável que a dona Jonet providenciasse para que o seu Banco Alimentar Contra a Fome, em vez de recolher e distribuir alimentos aos tais pseudo-carenciados, sei lá, talvez fosse mais produtivo reconverter a sua actividade, passando a ministrar cursos de culinária.

Mas há mais: há uma grande contradição entre o que esta tal Jonet diz e o que faz, constituindo um grande mistério o que ela pensa alcançar com tão contraditório desempenho, isto é, ir dando esmola aos pobres com uma mão, ao mesmo tempo que os humilha com a outra, estando-se nas tintas para as causas e veículos da pobreza. Só falta sugerir que bons eram os tempos daqueles pobrezinhos de estimação, que recolhiam reverentemente os nossos donativos, cabisbaixos e agradecidos. Ou será que quer substituir o actual e patético Ministério da Solidariedade por um Ministério da Caridade, regulado por uns estatutos repescados do antigo Movimento Nacional Feminino, e orientado pela doutrina de que as barriguinhas devem estar minimamente aconchegadas, para que os espíritos não se revoltem? Já agora, gostava de tirar isto a limpo! É que não gosto de ser enganado por santinhas e sacerdotes, que só agora estão a mostrar o seu verdadeiro rosto, e as linhas com que se cosem.

terça-feira, novembro 06, 2012

O Queixinhas e o Encoberto

O PRESIDENTE "encoberto" Cavaco Silva recebeu António José (in)Seguro para ouvir as suas queixinhas e dar-lhe alguns conselhos. Como é habitual, da audiência pouco ou nada se soube, mas admito que o (in)Seguro tenha voltado a repetir que é adepto de uma austeridade inteligente, isto é, que se reforme o Estado Social mas sem o triturar, ao passo que o "encoberto" Cavaco lhe tenha dito mais ou menos isto: - Olhe, faça como eu: esteja atento, continue a abster-se violentamente, vá dizendo umas coisas, mas mantenha-se distante do Governo. Oh António, não se meta, deixe os rapazes trabalharem!

segunda-feira, novembro 05, 2012

Porque Valoriza o Diálogo...

António José (in)Seguro esteve reunido hoje em São Bento com o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, durante uma hora e cinquenta minutos, para uma "troika de impressões".

sábado, novembro 03, 2012

Oposição Abstencionista

EM RESPOSTA à carta que Pedro Passos Coelho enviou a António José (in)Seguro, exortando-o a colaborar na “refundação” das funções do Estado, com o concurso do FMI e do Banco Mundial, o PS (partido Seguro) respondeu que não será muleta do Governo para aviltar a dignidade nacional, dando cobertura a que estrangeiros decidam que modelo e que medidas o Estado português deve adoptar para atingir esse fim, mas, pelos vistos, também não levantará um dedo que seja para contrariar estas intenções.

Sindicalismo por Impulsos

A CGTP convocou para dia 14 de Novembro de 2012 uma Greve Geral, contra as medidas de austeridade e o empobrecimento que têm sido impostos ao país, e por novas políticas económicas e sociais. A UGT não aderiu a esta jornada de luta argumentando que é uma iniciativa sectária e divisionista, por não ter havido consultas prévias entre ambas as centrais sindicais, muito embora alguns sindicatos afectos àquela estrutura tenham aderido. É sabido que em dias de greve, todos os quadros sindicais, por força das circunstâncias e das tarefas de coordenação que lhes cabem, não têm mãos a medir em termos de trabalho, mas, curiosamente, o secretário-geral da UGT, João Proença, veio agora dizer que também fará greve, mas apenas por solidariedade individual com o seu sindicato, a FESAP, tendo dado indicações para que lhe descontem um dia de salário. Mesmo admitindo que a solidariedade é um elo muito forte e a adesão à greve um direito inquestionável, por mais que me esforce, custa-me a entender que espécie de sindicalismo é este.

sexta-feira, novembro 02, 2012

Do Estado de Direito ao Estado de Sítio

EU JÁ tinha vaticinado que este Governo não iria deixar chegar as eleições de 2015, desperdiçando a grande oportunidade que é ter um Presidente, um Governo e uma Maioria. Contornando a Constituição, e levando em frente o tão ansiado desmantelamento do Estado Social, salta agora à vista que que o objectivo é a "refundação" e "aperfeiçoamento" do Estado Pluto-Cleptocrático (dos ricos e ladrões), sob a coordenação e orientação dos ilustres Ulriches, Salgados, Borges, Ferrazes & Companhia, e com a benção do patriarca Policarpo, que aconselha os portugueses a não fazerem ondas e a terem muito respeitinho com as decisões de quem nos (des)governa, porque a santa madre igreja manda dar a outra face quando somos esbofeteados, e depois recolhermo-nos à protecção de Nossa Senhora e à paz das sacristias.

Quem quiser saúde, educação ou justiça tem que as pagar, quem quiser ter reforma ou subsídio de desemprego tem que ir falar com os bancos e as seguradoras que eles tratam disso, quem tiver fome que vá bater à porta da Caritas ou do Banco Contra a Fome, já que os impostos que pagamos servem apenas para pagar juros e amortizar os empréstimos do Estado, equilibrar as contas públicas, pagar as rendas aos amigalhaços das Parcerias Público-Privadas e pouco mais. Quanto aos salários têm que vir por aí abaixo, porque sem isso, dizem eles, o país não é competitivo nem sustentável, e quanto à Constituição, como disse o banqueiro Ulrich, não passa de uma "ditadura" que impede o país de se “modernizar” ao gosto dos capitalistas e especuladores, e tolhe os movimentos aos seus homens-de-mão da política, que "tratam da saúde" aos portugueses.

Desenganem-se os que pensam que isto é mais uma prova de incompetência, ou uma garotada de Coelhos, Relvas e Gaspares, porque não é. Eles sabem perfeitamente o que querem e para onde vão, e não olham a meios para atingirem os seus fins, mesmo que para isso tenham que tecer, à margem dos programas e promessas eleitorais, uma espécie de golpe de Estado, com o "apoio técnico" do FMI e do Banco Mundial. Ora a pergunta que faço é simples: vamos ficar a ver este banditismo acontecer?

terça-feira, outubro 30, 2012

Declaração de Guerra

O ORÇAMENTO de Estado para 2013 que o Governo apresentou à discussão na Assembleia da República, não é um instrumento para governar o país; nos seus verdadeiros propósitos é uma autêntica declaração de guerra contra os portugueses.

domingo, outubro 28, 2012

Governar à Bolina

Assim como há várias formas de navegar, também há várias formas de governar. Uma delas é à bolina, governando em desacordo com as promessas, contra a opinião pública, aos bordos, vagueando e ziguezagueando. Anuncia-se uma medida, fica-se a ver as reacções, e depois, consoante o grau dos protestos, das duas uma: ou se avança com a medida para a pôr em prática, ou se recua, fazendo-a substituir por outra, tanto ou mais gravosa que a anterior. É a táctica dos recuos simulados, para baralhar e cansar a opinião pública, esvaziando de sentido a contestação.

Como esta táctica acaba por provocar erosão no governo e nos partidos que o apoiam, o Governo socorre-se de umas quantas iniciativas para desintoxicar o ambiente, que desta vez tomou a forma de uma pequena remodelação de secretários de Estado, seguida de umas jornadas parlamentares conjuntas do PSD e do CDS-PP, evento profusamente transmitido em directo para dentro das casas dos portugueses, para dar a ideia de que, custe o que custar, a unidade da coligação está restaurada, todos estão determinados a levar a coisa até ao fim e que tudo corre às mil maravilhas. Ontem, essa jornada parlamentar acabou com uns apelos lancinantes do primeiro-ministro para que o PS (partido (in)Seguro) abandone a ideia da austeridade inteligente e as respectivas abstenções violentas, apoiando a cruzada que o Governo tem em curso, para acabar de espatifar o país e o Estado Social. Entretanto, António José (in)Seguro fez de conta que não percebeu e pediu mais explicações: - Olha lá ó Coelho, explica cá à gente, tim-tim por tim-tim, o que é isso da refundação do acordo com a troika, que permita fazer uma profunda reforma do Estado... Não me digas que estás a pensar numa maioria de 2/3 para acabar - usando a expressão do banqueiro Fernando Ulrich - com a "ditadura" da Constituição?

quarta-feira, outubro 24, 2012

O Que Dizem os Filmes


“Grandes coisas têm pequenos começos”

Citação do robot andróide David (Michael Fassbender) no filme Prometheus de Ridley Scott

terça-feira, outubro 23, 2012

Casa dos Segredos em Versão RTP

«A PRIMEIRA DECISÃO DA NOVA ADMINISTRAÇÃO DA RTP foi contratar uma agência de comunicação. Eu pensava que toda a RTP servia para “comunicar” pelo que não precisava de agências de comunicação para nada. É como se um jornal contratasse assessores de imprensa. A não ser que o jogo seja outro.» 

Post de José Pacheco Pereira no seu blog ABRUPTO em 22 de Outubro de 2012. O título deste post é de minha autoria.

domingo, outubro 21, 2012

Exportações de Vento em Popa

«(...)
Na verdade, o ministro [Victor Gaspar] disse mais: o povo português é o melhor povo do mundo e o maior activo de Portugal. Portanto, do ponto de vista económico, fazem todo o sentido os incentivos do Governo à emigração: qualquer país procura exportar o seu maior activo. Quando se diz que Portugal não é forte na produção de bens transaccionáveis, tal não é verdade. Produzimos povo muito bom (o melhor do mundo, aliás) e exportamo-lo cada vez mais. Não admira. Quem quer povo, em princípio, não se contenta com menos do que o melhor, e isso explica o apetite dos mercados internacionais pela nossa produção de gente.

(...)»

Excerto da crónica de Ricardo Araújo Pereira, intitulada "Miss Povo 2012" e publicada na revista VISÃO de 18 de Outubro 2012. O título do post é de minha autoria.

Meu comentário: Ao Ricardo faltou dizer que este “povo melhor do mundo”, mesmo não sendo exportado, isto é, “convidado” à emigração, enquanto por cá anda a arrastar as botas, também tem os seus simpáticos atractivos, ao ser compelido a despejar os bolsos, generosamente e sem um queixume, ao grito de “mãos ao ar!”, desde que não seja indigente (pois não pode ser taxado quem não tem recursos) ou muitíssimo rico (pois não deve ser taxado quem acautela a sua fortuna, fazendo-a emigrar para os paraísos fiscais, ou então investe de forma tão patriótica e abnegada, tudo o que tem, na reanimação económica da pátria).

sábado, outubro 20, 2012

Manuel António Pina

NO MEIO das desenfreadas pobrezas que nos perseguem, Manuel António Pina (1943-2012) deixou-nos mais ricos.

Caricatura da autoria de Fernando Campos, no seu blog O SÍTIO DOS DESENHOS

quarta-feira, outubro 17, 2012

Mais Conselheiro Borges

DIZ o jornal PÚBLICO que António Borges, o preclaro consultor do Governo para as privatizações veio em defesa do ministro das Finanças para dizer que Víctor Gaspar é "muito bom" e que é uma "sorte enorme" tê-lo como ministro português, isto depois do FMI ter apontado para 2013, uma contracção do PIB que poderá chegar aos 5,3%, ao passo que o tal ministro "muito bom" apenas arriscou um patético e simplório 1%. É caso para dizer que, sorte, sorte teve o Ali Bábá que só teve que enfrentar 40 ladrões...

Entretanto a coligação PSD/CDS-PP, já não foi tão bafejada pela sorte como os ingratos portugueses, pois os malefícios financeiros do sonso Gaspar têm gerado mau ambiente no seio daquela união de facto, que passou a comportar-se como um casal à beira da ruptura. Já não conversam, aparecem de cenho carregado, cada um anda para seu lado, não dormem juntos, rasteiram-se à boca-pequena, mordem-se à socapa, ao mesmo tempo que se vão desdobrando em declarações, dizendo que está tudo bem, que estão de boa saúde, apenas para manter as aparências. Por este andar não falta muito que o Borges seja chamado para dar uma mãozinha à esfrangalhada coligação, desta vez como conselheiro matrimonial.

«Ó Imaginativo Gaspar, Assim Também Eu»

«Não acredito que se possa dizer, como Vítor Gaspar, que não há alternativa, que nada é possível para além deste Orçamento. Se essa é a disposição do ministro, se essa é a melhor coisa que tem para dizer, não demonstra nem grande inteligência política nem grande maleabilidade. Se perante o desafio, que é passar o défice para 4,5%, nada lhe ocorre - mas mesmo nada - senão taxar brutalmente em sede de IRS (justamente os que não podem fugir ao fisco), posso dizer-lhe que assim também eu - e tenho tanto currículo para ministro das Finanças como, digamos, Miguel Relvas.

Os impostos são mortais. São como dizia Benjamin Franklin, a única coisa que, em conjunto com a morte, temos por certo na vida; Churchill acrescentava que não há nada a que se possa chamar 'um bom imposto' e o velho Milton Friedman, da escola de Chicago, alertava que cada vez mais os que trabalham pagam impostos para os que nada produzem. Mas Platão, há 2.500 anos já avisava: os justos pagarão mais impostos do que os injustos, mesmo que tenham o mesmo rendimento.

Esta história não é nova. O que é inteiramente inesperado é que a mão pesada dos Governos - mais à direita ou mais à esquerda - recaia sempre sobre os mesmos: aqueles que se esforçam e trabalham. E que os responsáveis, feitas as contas, ainda nos venham dizer que é essa a única alternativa.»

Comentário de Henrique Monteiro no EXPRESSO online em 16 de outubro de 2012.

Meu comentário: Se é com isto que Victor Gaspar faz conta de retribuir ao país a caríssima educação que teve, cá por mim dispenso tal obséquio.

domingo, outubro 14, 2012

O Cúmulo da Ignomínia e da Pouca Vergonha

O SUBSÍDIO de desemprego passa a pagar 6% de TSU. Com isto o governo de Pedro Passos Coelho faz aquilo que a maioria dos ladrões não fazem: roubar os pobres e necessitados.

quinta-feira, outubro 11, 2012

Vandalismo Neoliberal

AO MESMO tempo que diz querer mitigar o aumento de impostos, o Governo avançou com mais medidas penalizadoras dos trabalhadores, quer ao propor o despedimento de perto de 50.000 trabalhadores contratados a prazo na Administração Pública, como forma de diminuição da despesa pública, potenciando uma baixa generalizada do nível dos salários, tanto no sector público como privado, quer ao fazer subir a idade da reforma na função pública para os 65 anos, já no próximo ano, numa antecipação de dois anos face ao que estava acordado.

Se a primeira é o maior despedimento colectivo de que há memória, já a segunda, bem podem dizer que promove a equidade relativamente à idade de reforma do sector privado, que vai aumentar em dois anos as contribuições para a emagrecida segurança social, a qual se encontra descapitalizada devido aos desvios dos seus fundos para outros fins, pois a verdade é que a medida desrespeita um regime de transição anteriormente acordado, com isso sabotando os projectos de vida de milhares de trabalhadores, e adiando a renovação dos quadros na função pública, com a nefasta consequência de acabar por ser uma medida que vai aumentar o desemprego, restringindo a entrada no mercado de trabalho aos jovens.

quarta-feira, outubro 10, 2012

Alice (Vieira) no País dos Enganos


IMAGINEMOS que Alice ia a passear pelo campo, tropeçou num buraco e foi sugada para o País dos Enganos, onde as bandeiras são hasteadas de pernas para o ar, onde há um Coelho dos Passos, um Gato das Relvas e um Chapeleiro Gaspar que fazem a cabeça em água ao povo das Formigas, mais um Rei de Copas que devora bolo-rei confeccionado pela Cigarra Soprano, e uma Rainha de Copas chamada Conceição, que por tudo e por nada grita "foi engano!", fingindo dirigir uma orquestra de sapateiros anões que tocam rabecão, e que nas horas vagas se dedicam a escolher livros, mesmo sem os lerem, para as criancinhas se cultivarem, cantando um-dó-li-tá e escolhendo à sorte sobre uma lista de títulos...

PASSADO o devaneio da ficção, regressemos à realidade, para constatar que o livro de poesia para adultos "O que dói às aves", de Alice Vieira (mais conhecida pela sua obra dedicada a crianças e adolescentes) foi recomendado pelas sumidades intelectualóides do Plano Nacional de Leitura, para crianças de sete e oito anos. Só depois de a autora ter denunciado, escandalizada, que aquela obra não se destinava a crianças e adolescentes, dado ter um conteúdo dirigido a adultos já bem crescidinhos, a dita foi retirada da lista de obras que o organismo considerava aconselháveis para a iniciação na literatura portuguesa. Isto significa que até no aconselhamento e iniciação literária dos jovens, o país entrou em colapso. Foi um engano, disse a coordenadora, que afinal não coordena coisa nenhuma. É fácil de perceber que o serviço está entregue a uma equipa de trolhas pseudo-intelectuais, que manejam as suas escolhas ao deus-dará, sem sequer se darem ao trabalho de consultar as badanas e contracapas das obras eleitas, quanto mais de as abrir ou soletrar. Isto é o resultado que dá ter ministros da Educação a quedarem-se com sorrisos patetas nos lábios, a verem a banda passar, como se isto não tivesse nada a ver com eles.

domingo, outubro 07, 2012

Prioridades Seguras

«Não sei se consigo, mas ao menos luto.»

Afirmação de António José Seguro, durante uma digressão por França e Alemanha, referindo-se às dificuldades tremendas que tem encontrado para contrariar o programa de austeridade do governo de Passos Coelho, isto depois de se ter abstido de votar as moções de censura do BE e do PCP, e quando ainda não é garantido que vote contra o Orçamento de Estado para 2013.

Assim, não se sabe bem a que tipo de luta Seguro se está a referir, porém, não me admirava que tivesse a ver com a tal proposta para reduzir o número de deputados da Assembleia da República, inexcedível prioridade das prioridades nos tempos que correm, na medida de apenas visará emagrecer a representação parlamentar das oposições incómodas, contribuindo para deixar caminho livre às políticas de ruína e ladroagem desbragada do actual governo PSD/CDS-PP.

Descubram as Semelhanças


«Sei muito bem o que quero e para onde vou.»

Frase do discurso de tomada de posse de António de Oliveira Salazar como ministro das Finanças, em 29 de Abril de 1928.

«Nós sabemos para onde vamos.»

Frase pronunciada pelo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, em 6 de Outubro de 2012, referindo-se às medidas de austeridade do seu governo, como solução para conduzir o país à recuperação económica.

sexta-feira, outubro 05, 2012

Enganos que Falam Verdade

A BANDEIRA nacional é o símbolo da soberania da República, da independência, da unidade e integridade de Portugal é a adoptada pela República instaurada pela Revolução de 5 de Outubro de 1910. Exibida de forma invertida, equivale a um pedido de socorro, significando que o país está sob ocupação. Foi o que aconteceu ao ser hasteada hoje, 5 de Outubro de 2012, última vez em que é feriado nacional.

quinta-feira, outubro 04, 2012

Registo para Memória Futura (73)


O Governo PSD/CDS-PP ignorou deliberadamente estas quatro (4) propostas da CGTP Intersindical, destinadas a alargar às grandes empresas, às grandes fortunas e aos rendimentos do capital, a tão apegoada equidade nos sacrifícios, decorrentes do défice e da dívida soberana, e que permitiria arrecadar 5.965,6 milhões de euros.
Embora já saibamos o que valem as promessas na boca do Governo, este acabou por adiantar, timidamente, que iria (talvez) rever as taxas as transações financeiras, sendo logo apupado com um coro de protestos pelos senhores banqueiros. Nada mais foi preciso para que remetesse para as calendas a tal distribuição equitativa dos sacrifícios. Em compensação, e com os olhos postos em quem trabalha, seja pensionista ou reformado, o Governo - e não esqueçamos que todos eles são gente abjecta e vingativa - foi peremptório: ai não quisesteis o nosso remédio da TSU? Pois então tomai lá disto, para saberem como elas mordem! E assim fez. Aplicou um agravamento generalizado de 35% no IRS, e prometeu uma escalada alucinada no IMI, tudo isto anunciado pela voz pausadamente inexpressiva do ministro Victor “powerpoint” Gaspar, que veio substituir o ausente Coelho, que anda lá por fora em descontraída digressão, isto para não falar no manifesto desprezo pelos cidadãos portugueses, que foi colocá-los no fim da fila das suas preocupações comunicacionais. Entre ajustamentos, reajustamentos e consolidações orçamentais, a verdade é que este bando de malfeitores continua a exercer represálias sobre quem trabalha, levando o país ao desastre e à miséria.

Entretanto, faltou acrescentar a este pacote, um pormenor, que não é tão pequeno como isso. É que até ao final de Dezembro de 2012, os contribuintes portugueses ainda terão que desembolsar 3.4 mil milhões de euros, para saldar (?) a grande falcatrua que foi o caso BPN, o que significa, contas feitas, que os contribuintes irão ser espoliados de 6.5 mil milhões de euros, mais juros e contingências, tudo em benefício de uns quantos facínoras que se bamboleiam por aí, mais os novos proprietário que ficaram com o “bem-bom” do que restou, por uns simpáticos 40 milhões de euros. É obra! É bom relembrar, conforme o fez o jornal PÚBLICO, que a falência do BPN foi provocada por uma megafraude que teve repercussões políticas, pois o banco tinha políticos no activo, nomeadamente da esfera do PSD, entre os seus clientes, accionistas ou nos seus órgãos sociais. Os casos mais emblemáticos são os de Oliveira Costa e do ex-ministro de Cavaco Silva e ex-conselheiro de Estado Manuel Dias Loureiro. Quanto a Cavaco Silva, é bom lembrá-lo, também provou do pote, gostou e ficou a lamber os beiços.
O que acontece é que este episódio do BPN tem a ver (e muito) com todos os assaltos que são perpetrados ao bolso dos portugueses, apesar de haver a intencional preocupação de o descontextualizar da crise portuguesa. Por essas e outras, e bem vistas as coisas, eu acho que os portugueses, independentemente da Greve Geral de 14 de Novembro, têm razões de sobra para se indignarem, e deviam voltar à rua já hoje.

ADENDA - Depois de o Governo ter andado a repetir, dia sim, dia sim, que os portugueses andaram a fazer vida de lordes, a gastarem à tripa forra, mais do que permitiam as possibilidades do país, isto apesar de terem os mais baixos salários da Europa, foi a vez do patriarca Policarpo vir botar faladura e dizer que os portugueses são também parte responsável pelo descalabro em que se encontra o país. Na sua magnânima avaliação, disse ele, que tudo isto é resultado de exigirmos do Estado, mais do que ele pode dar, mas não referiu a obrigação que cabe a esse mesmo Estado de bem administrar e melhor redistribuir. Esqueceu-se de assinalar e enumerar a corja de bandoleiros que desviaram e gastaram em beneficio dos outros bandos que por aí andam, o que por direito pertencia aos supostos mal comportados e gastadores contribuintes. Sua Eminência devia persignar-se, confessar-se, recitar um milhão de pais-nossos como penitência, depois recolher-se em retiro espiritual, e deixar de dizer homilias recheadas de patacoadas, que só ofendem quem está desempregado, quem tem que sobreviver com salários miseráveis ou anda a respigar nos caixotes do lixo.

quarta-feira, outubro 03, 2012

A Coerência da Incoerência

EM 1 de Outubro de 2012, o vice-presidente da bancada do Partido Socialista José Junqueiro acusou Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, de andar de "mão dada com a direita", a propósito de aquele ter afirmado que o PS se demitiu de ser força de oposição à coligação PSD/CDS-PP. Disse isto sem se rir, e foi ainda mais longe, acusando Jerónimo de Sousa de ser um dos responsáveis por existir actualmente um governo de direita, na medida em que ao votar ao lado da direita, contra o PEC IV (Plano de Estabilidade e Crescimento) - produto de um suposto governo de esquerda, apenas no espírito mas não de facto - levou a que José Sócrates se demitisse.

Dois dias depois, em 3 de Outubro de 2012, o PS (partido submisso) do mesmo José Junqueiro, ancorado num pretenso sentido de responsabilidade por ter subscrito o memorando da troika, por se considerar oposição responsável e alternativa ao Governo, e rejeitar “populismos fáceis”, declarou que se irá abster (expressão máxima de coerente incoerência) na votação das Moções de Censura do PCP e do BE, dirigidas contra o Governo da coligação PSD/CDS-PP, as quais irão ser discutidas e votadas na sessão da Assembleia da República de 4 de Outubro de 2012.

A ver vamos o que resultará desta estrábica “lucidez” política.

terça-feira, outubro 02, 2012

Gente Sinistra e Perigosa (3)

OS PACOTES de austeridade, bem como o futuro de Portugal, decidem-se e são aprovados em Bruxelas, e os bandoleiros do Governo de Passos Coelho escondem-se e calam-se, já nem se dignando informar os portugueses, de quais as novas desgraças que planearam e contrataram.

BE e PCP respondem com moções de censura, ao passo que o PS (partido submisso) continua a sentir-se confortável com a sua teoria da "austeridade inteligente", no "sentido de responsabilidade", e a refugiar-se nas "abstenções violentas", provávelmente à espera de entrar para o tal governo de salvação nacional, de iniciativa presidencial, para continuar a ajudar à missa.

segunda-feira, outubro 01, 2012

Regressem ao Sítio de Onde Vieram!

«Estado deu benefícios fiscais a empresas de 2,6 mil milhões em dois anos. Valor dos benefícios fiscais a empresas em 2010 e 2011 equivale a mais de metade da austeridade exigida em 2013.

Os benefícios fiscais concedidos pelo Estado português ascenderam a 2,6 mil milhões de euros, entre 2010 e 2011. Os incentivos fiscais concedidos em dois anos representam assim mais de metade do esforço de consolidação previsto para o próximo ano que, segundo o ministro das Finanças é da ordem dos 4,9 mil milhões de euros para atingir a meta do défice orçamental de 4,5%.

No ano em que Portugal pediu a assistência financeira internacional foram até concedidos benefícios em sede de IRC a mais 3.353 empresas, ainda que a despesa fiscal total, no final desse ano, tenha registado uma diminuição de 133 milhões de euros face a 2010.

A publicitação da lista com as empresas que tiveram benefícios fiscais e respectivos montantes referentes a 2011, no Portal das Finanças, surge um dia depois de ter sido publicada informação relativa a 2010. No ano passado, os benefícios fiscais somaram 1.237 milhões de euros, menos 9,7% face à despesa fiscal do ano anterior que foi de 1.370 milhões de euros. Entre as duas listas mantêm-se uma constante: a maior fatia de benefícios concedidos pelo Estado continuou a ir para a Zona Franca da Madeira.

Zona Franca absorve maiores benefícios.

Em 2011, o universo de empresas abrangidas somou as 14.189 as entidades, mais 3.353 face a 2010.

Na lista disponibilizada, as principais beneficiárias continuam na Zona Franca da Madeira. No topo da lista, surge a CSN Europe Lda que recebeu 187 milhões de euros, seguindo-se Namisa Europe, Unipessoal Lda com 120 milhões de euros e em terceiro lugar vem o Millennium BCP Participações SGPS, Sociedade Unipessoal Lda, também da Zona Franca, com incentivos fiscais de 98,3 milhões de euros. Em quarto lugar da lista de entidades que tiveram mais benefícios fiscais surge a Caixa Económica Montepio Geral com 53,4 milhões de euros.

Segundo os dados das Finanças, no top 50 dos incentivos fiscais constam empresas como a VW AutoEuropa, a Efacec Capital SGPS, a Corticeira Amorim SGPS, a Universidade Aberta, a SIBS SGPS, GalpEnergia e Pingo Doce Distribuição Alimentar. Todas acima dos três milhões de euros de benefícios em sede de IRC.»

Notícia de Lígia Simões e Paula Cravina de Sousa, publicada no DIÁRIO ECONÓMICO on-line de 28/09/12 - 17:30

Meu comentário: Ver os apoios de recapitalização que a banca tem recebido com as tranches da troika, não estarem a ser aplicados no financiamento das empresas e da economia em geral, saber que o Governo não extinguiu a Fundação Social Democrata da Madeira, que está a ser investigada pelo Ministério Público, no âmbito de uma generalizada infecção de corrupção e desvios de dinheiros públicos, saber que a Segurança Social apresenta um défice de 694 milhões, depois das transferências de fundos de pensões da banca, destinadas a salvar as contas de 2011, suspeitar que o Governo tem em estudo um corte generalizado no subsídio de desemprego, bem como estar a preparar uma proposta de aumento de impostos para o próximo ano, incluindo o IRS, para compensar a devolução parcial dos subsídios de Natal e de férias retirados ao sector público e pensionistas, ao mesmo tempo que mantem simbólicamente colectadas, quando não fiscalmente ignoradas, as grandes fortunas e os lautos rendimentos de capital, ouvir o economista, eminente cavaquista e também conselheiro de Estado Victor Bento, que já em 2009 defendia a descida dos salários, reclamar agora que a idade de reforma deve ser alargada, para que os portugueses trabalhem até tombarem para o lado, para depois ouvir Passos Coelho, e mais uns quantos facínoras da política, dizerem com aquela conhecida expressão de falso martírio e comiseração, que os sacrifícios estão a ser partilhados por todos e que não há alternativas, dá vontade de dizer: - Façam meia volta e regressem ao sítio de onde vieram!

domingo, setembro 30, 2012

O Borges é Três Vezes FDP

A CRIATURA não merece muitas palavras, mas convém estarmos atentos à sua loquacidade fecal, porque o meliante tem lugar cativo à mesa do orçamento e emparceira com o Governo, influenciando (ou arquitectando) as suas perversas decisões. Assim, sem receio de errar, podemos dizer que o Borges é três vezes um refinado FDP; a primeira porque é um Figurão Dos Poderosos (desde que não sejam ignorantes, claro está!), a segunda porque é um Fanático Das Privatizações, e a terceira porque é um Fabricante De Precariedade. E mais não digo.

quinta-feira, setembro 27, 2012

Austeridade ao Retardador


É GARANTIDO que as novas medidas de austeridade que o Governo já tem delineadas, apenas chegarão ao domínio público depois de ocorrer a manifestação da CGTP, a ter lugar no sábado, dia 29 de Setembro. Percebe-se que o Governo queira retardar a sua divulgação para não potenciar os protestos e a indignação dos portugueses, mas talvez venham a ter mais uma surpreza.

domingo, setembro 23, 2012

Cantar e Acordar


ALGÉM disse um dia destes que os portugueses se sentiam desiludidos e atraiçoados pelos políticos da oposição, e que o resultado era as manifestações de protesto serem cada vez menos concorridas, dando a sensação que o povo, apesar de estar a ser selváticamente espoliado pelo governo, mantinha-se ancorado nos tradicionais brandos costumes, estava possuído de grande desânimo, tinha baixado os braços e desistido de lutar. Na verdade, também eu já começava a duvidar que alguma vez, por mais faíscas que saltassem, não chegavam para incendiar a indignação, trazendo os protestos para a rua, com a adequada força, expontaneidade e determinação. Nesse aspecto, e em situações semelhantes, a resposta rápida, a audácia e arrojo dos espanhóis, sempre me impressionou.

Finalmente, por cá, a fervura começou a levantar, primeiro a 15 de Setembro, e depois a 21, pela madrugada dentro, com uma participação verdadeiramente inovadora e desafiante, frente ao Palácio de Belém (com várias réplicas espalhadas pelo resto do país), enquanto decorria o Conselho de Estado, e não tanto por causa da tal suposta traição dos políticos da oposição. E quando digo inovadora, isso significa que a população decidiu tomar a iniciativa da contestação, e com isso restituiu aos partidos da oposição a força que lhes estava a faltar, embora possa parecer que se inverteram os papeis, passando os partidos de condutores a conduzidos. Ora, por vezes, em política, acontecem destes fenómenos; é de baixo que irrompe impetuosamente a força da razão, ao passo que as cúpulas não têm outro remédio senão subscrevê-la e dar-lhe expressão política.

É certo que o caldo se entornou com aquela tentativa de voltar a expoliar os trabalhadores com o criminoso aumento da TSU, mas o governo não vai desistir dos seus intentos. Se não é por via da TSU, outros expedientes eles encontrarão, para subtrair a quem trabalha ou está reformado, aquele apetecivel mês de salário ou de reforma de que eles se querem apropriar à viva força (sempre quero ver que posição irão assumr o PS e a UGT), um passo importante para impor a austeridade como modelo dominante e definitivo, baseado no empobrecimento generalizado, na erosão dos direitos sociais e na supressão de expectativas, mantendo incólumes as grandes fortunas e os rendimentos do capital. Portanto, convém manter à mão aquela letra de José Gomes Ferreira, e a música de Fernando Lopes Graça, para nos mantermos despertos, e voltarmos a sair à rua, sempre que os salteadores sejam tentados a repetir a proeza. Nesta altura, voltar a adormecer, é um risco que o povo não pode correr.

Acordai
acordai
homens que dormis
a embalar a dor
dos silêncios vis
vinde no clamor
das almas viris
arrancar a flor
que dorme na raíz

Acordai
acordai
raios e tufões
que dormis no ar
e nas multidões
vinde incendiar
de astros e canções
as pedras do mar
o mundo e os corações

Acordai
acendei
de almas e de sóis
este mar sem cais
nem luz de faróis
e acordai depois
das lutas finais
os nossos heróis
que dormem nos covais
Acordai!

sábado, setembro 22, 2012

Aberrações e Originalidades

VAI HAVER um grupo de acompanhamento, denominado "conselho de coordenação da coligação", olarilolé, destinado a gerir o relacionamento dos parceiros da coligação PSD/CDS-PP, para já, com a obrigação de diáriamente se beijarem e abraçarem. A partir de agora os portugueses já podem voltar a dormir descansadíssimos, pois as relações e a oscilação dos humores entre os membros do Governo passarão a ser filtrados, amortecidos e normalizados pelo tal conselho, o que significa que quando um ministro propõe que se mate o contribuinte, e outro diga que o melhor é esfolá-lo vivo, para evitar discórdias, lá virá o "grupo de acompanhamento" aconselhar que se fiquem por umas escoriações ou pequenas mutilações, mas nunca soluções radicais.

Acho que era mesmo um orgão deste tipo que o governo estava a precisar, evitando que suas excelências andem por aí desacompanhadas, ausentes, instáveis, irritadiças, indecisas, deprimidas e intratáveis, esquecendo tanto as suas obrigações recíprocas, bem como as que devem ser asseguradas com o país. Parece que a Presidência da República vê com muito bons olhos esta inciativa, e se o Presidente for do mesmo partido dos da coligação, melhor ainda, pois é como se fosse Deus com os anjos. Por isso, seja uma aberração ou uma originalidade, que venha o diabo e escolha.

sexta-feira, setembro 21, 2012

Mistificações

A COMUNICAÇÂO social, escrita e audio-visual, continua a ter uma escolha muito restrita nos seus paineis de comentadores. Parece que o pais está reduzido a meia dúzia de "sábios", escolhidos a dedo. Tudo gente que dá opiniões redondas, pitorescas e inofensivas, como se estivessem a encher chouriços. São sempre os mesmos que palestram e botam faladura, "madrinhas" e "padrinhos" do tipo Helena Matos e Ângelo Correia, este último a terçar armas pelo "afilhado" Coelho, garantindo que tudo isto à volta da TSU, são mal-entendidos e garotadas dos inexperientes CDSs, parceiros de coligação do PSD, a confirmar uma teoria de desculpabilização que continua a ganhar corpo, e que eu já tinha vindo a referir.

A estes soma-se o sempre omnipresente caga-sermões Mário Soares, a debitar uma solução "à grega", para solucionar a crise política portuguesa, isto é, muda-se de protagonistas sem se mudar de políticas, sem consulta eleitoral, logo sem gastos, sem propostas nem soluções, para darmos um salto em frente e chegarmos à mesma situação da Grécia, mais depressa do que imaginávamos. Acrescente-se a isto o caga-sentenças Marcelo Rebelo de Sousa, o impagável Camilo Lourenço, o sempre-em-pé António Barreto e o honorável Medina Carreira. Todos a mistificarem, receitando emplastros para desinfectarem uma estabilidade e realidade que o Governo todos os dias se encarrega de dinamitar, a quererem impingir-nos gato por lebre, e a dizerem que o grande problema do Governo é uma insuficiência de comunicação (só falta culpar o acordo ortográfico!). Se bem percebo, está na hora de passar a modelar e calibrar as medidas de austeridade, bem como a forma de as transmitir (ou não transmitir) a quem vai sofrer na pele os seus efeitos, de forma suave e adoçicada, para abafar os protestos, não fazer ondas nem provocar estragos.

No meio de tudo isto, fica-me a dúvida se o Presidente da República convocou o Conselho de Estado (mais o Gaspar e a sua folha de Excel) para se aconselhar e tentar controlar os danos provocados pelas alterações na TSU, dando um puxão de orelhas ao Coelho, se para dar um ralhete à troika, se apreensivo com a fraca popularidade e credibilidade do Governo (e já agora, também da sua) ou se motivado pelo facto da coligação PSD/CDS-PP estar presa por arames, não se ouvir falar de conselhos de ministros, substituídos por cimeiras dos generais Pedro e Paulo, acusados de andarem a convocar os seus estados-maiores e conselhos de guerra, e apenas comunicarem entre si por meio de mensagens cifradas e estafetas.

No meio dos improvisos da classe política e das badalhoquices dos comentadores de meia-tijela, nota positiva para a escritora Maria Tereza Horta, por rejeitar ser agraciada por Pedro Passos Coelho, "uma pessoa empenhada em destruir o país", muito embora se considere honrada com o Prémio D. Dinis, pelo seu romance "As Luzes de Leonor". Isto prova que ainda há pessoas decentes, que não se disponibilizam para salamaleques nem se dobram por dez réis de mel coado.

quarta-feira, setembro 19, 2012

Aprender com os Filmes





«Os juízes servem para fazer justiça, aplicando a lei, só que a lei nem sempre é justa»

Opinião do juiz Philippe, desempenhado pelo actor Philippe Noiret (1930-2006) no filme A Grande Farra (La Grande Bouffe) de 1973, realizado por Marco Ferreri.

terça-feira, setembro 18, 2012

Pedro e Paulo, mais o António


PEDRO decide garrotar os trabalhadores portugueses com o agravamento da TSU e do IRS, dizendo que não há alternativa. Vem depois o Paulo (após um grande silêncio, para finalmente fazer coro com o resto do mundo), dizer que não concorda e a brandir o seu desvelado patriotismo para justificar a continuação no governo, digamos que sob protesto. Ao ver que a solução deu para o torto, Paulo sacaneia o parceiro Pedro da coligação, fazendo-se passar por virgem púdica e ofendida, a fim de se desvincular das malfeitorias perpetradas por Pedro, e com isso vir a colher dividendos junto dos portugueses. Pelo meio, alguém que me explique o que é isso de um imposto extraordinário sobre as PPPs, solução alternativa defendida pelo António da abstenção violenta, que logo serviu para aparecerem os defensores de um governo de salvação nacional a três, uma coisa que até dava muito jeito ao Pedro e ao Paulo, para diluir responsabilidades. Então e a renegociação das rendas das tais PPPs? E os rendimentos do capital? E os lucros das grandes empresas? E os dividendos dos accionistas? E as grandes fortunas que se andam a passear, cá dentro e lá fora?

Quanto ao povo, no passado 15 de Setembro, à margem de convocatórias partidárias e sindicais, e com um enérgico protesto a nível nacional, levantou-se e deu sinal de que não quer continuar a ser albardado.

Entretanto, fica por explicar como é que esta coligação funciona, e se o seu objectivo é governar ou apenas tiranizar o povo. Não acredito muito na teoria da ingenuidade, da inexperiência ou da incompetência dos seus membros. Penso que embrulhados e desculpabilizados por essa teoria, passo a passo, com muita paciência e alguma turbulência artificial pelo meio, vão levando a água ao seu moinho. Para dramatizar, Bruxelas já vai ameaçando que se a TSU não for para a frente, suspendem a próxima tranche, em nome da Merkel, do Euro e do raio que os parta a todos. A crise política que se avizinha serve para pôr o país de quarentena, na calha para abandonar o Euro, e se repararmos bem, na Grécia o percurso foi mais ou menos o mesmo.

quinta-feira, setembro 13, 2012

Gente Sinistra e Perigosa (2)


FALHOU a troika, o Governo reincide, vai mais longe que a troika e falha também, porém, o tratamento escolhido continua a ser uma desalmada fuga em frente, feita de receitas extraordinárias (as privatizações) e outras permanentes (as reduções salariais), até ao descalabro total. Nessa altura já estaremos todos (menos os do costume) vestidos de andrajos e calçados de alparcatas, a dormirmos debaixo da ponte e a irmos buscar o saquinho de géneros à Caritas ou ao Banco Alimentar Contra a Fome. Por este andar teremos consultas nos hospitais só às segundas, quartas e sextas, e aulas do ensino público obrigatório só às terças, quintas e sábados. Às quartas-feiras, à noite - conhecida como noite do optimista - teremos que ouvir a homilia do Coelho, acolitado pelo Gaspar com o seu discurso "robótico", em que eles prometem uma terra de mel e fartura, à custa de novas medidas de austeridade, até que apareça a luz ao fundo túnel. Ao domingo vai-se à missa, para não cairmos em tentação, e agradecermos o pão que o diabo amassou por conta do Passos Coelho.

O problema é que os portugueses têm estado a avaliar incorrectamente este Governo PSD/CDS-PP, pensando que eles não passam de um grupelho de miúdos do jardim infantil, que decidiram brincar aos governos, fazendo do país um laboratório, e da vida das pessoas uma bancada exprimental das suas teorias económicas. Nada mais errado! Não são amadores, nem trambolhos, nem incompetentes; esta gente sabe perfeitamente o que está a fazer e ao que vão. São fanáticos austeritários, insensíveis ao facto de estarem a vandalizar pessoas. Na verdade, estamos a ficar sequestrados por malfeitores de grosso calibre, muito mais que candidatos a delinquentes, que sabem perfeitamente o que querem, o que estão a fazer, e para benefício de quem. Isto é o que dá quando começa a tardar dar-lhes a resposta adequada, remetendo-os para o sítio de onde vieram.

terça-feira, setembro 11, 2012

Uma História para a História


EM 20 de Julho de 2012 e com o título "Vulnerabilidades" teci algumas considerações sobre o historiador Rui Ramos, enquanto autor de comentários na imprensa, e que por arrastamento me levaram à História de Portugal, de que ele foi coordenador e co-autor, que estava a ser oferecida pelo semanário EXPRESSO, e cuja leitura só naquela altura eu estava a iniciar. Estava longe de imaginar que se iria instalar, tanto na imprensa como na blogosfera, uma acesa polémica sobre a tal História de Portugal, a propósito das críticas que o historiador Manuel Loff fez da obra. Algumas semanas decorridas, o artigo que o professor Fernando Rosas dedicou à polémica, parece-se que a encerra, pouco mais havendo a dizer, mas mesmo mau foi quando no seu início, uma polémica que se adivinhava boa, se tentou matá-la com acusações de calúnia pessoal, ou ainda quando Maria Filomena Mónica sugeriu que Manuel Loff fosse ostracizado e os seus escritos censurados. Para tirar dúvidas, no CARTÓRIO DO ESCREVINHADOR estão coligidos alguns dos escritos que alimentaram a controvérsia.

Quanto à obra (a tal História de Portugal) propriamente dita, cuja leitura só agora estou a terminar, sobretudo nos capítulos pós-implantação da República, e no que respeita ao período da ditadura do Estado Novo, não gostei do que li, pois Rui Ramos ao enveredar pelo artifício da sistemática comparação do modelo português, com outros regimes seus contemporâneos, socorrendo-se da citação de muitos autores que encaravam a ditadura salazarista, com alguma benevolência, e não querendo expor-se demasiado, eu diria, quase desresponsabilizando-se, deixando a pairar no ar um "estão a ver, não fui eu que disse!", acaba por fazer uma História asséptica, branqueada, amena, descaracterizada, desbastada, desvinculada de ideias, que nada tem a ver com uma visão desapaixonada e questionadora da verdade histórica. Não é propriamente uma falsificação da História, mas sim uma criativa e aligeirada interpretação da História, além de que os factos históricos baseados em opiniões e testemunhos, viciados ou contaminados por preconceitos, tal como as pequenas e grandes omissões, não são propriamente falsificações, mas podem levar a que sejam manipulados resultados e conclusões. A minuciosa escolha das fontes e das citações, pelo facto de terem sido pronunciadas por outros, não liberta o historiador de responsabilidades. O historiador é mais médico legista que cirurgião estético ou anestesista. Tal como não basta dizer meias verdades; uma coisa é dizer apenas que um automóvel anda porque tem rodas, outra coisa é dizer que um automóvel anda porque tem rodas, um motor que as faz faz rodar e alguém que o conduz. Bem, e quanto ao período posterior à revolução do 25 de Abril de 1974, esta História deixa um bocado a desejar, e o facto de ser uma síntese não é desculpa. É mais panfleto que História propriamente dita, pois o senhor historiador Rui Ramos não esteve com meias medidas, e decidiu mesmo acertar contas com os ventos da História e com as pessoas de quem não gosta. Em resumo: nove fascículos depois, prevalece a minha opinião inicial. Gosto menos de Rui Ramos como comentador do que como historiador, muito embora como historiador também não o considere grande espingarda.

E já que falamos de História e de historiadores, e da tentação que é fazer cirurgia estética sobre os períodos históricos mais negros e controversos, queria terminar com dois apontamentos.

O primeiro tem a ver com uma notícia que chegou até nós,  em Janeiro de 2012, e que dava conta que o Presidente do Chile, Sebastian Piñera, fez aprovar pelo Conselho Nacional de Educação, uma disposição destinada a permitir a alteração da palavra “ditadura” nos manuais escolares, substituindo-a por "regime militar", sempre que era referido o período em que o general Augusto Pinochet governou o país entre 1973 e 1990, depois de ter deposto com um golpe militar o legítimo governo de Salvador Allende, deixando atrás de si mais de 3.000 mortos e desaparecidos, a par de uma repressão feroz, com perseguições e graves violações dos direitos humanos. De uma assentada, uma simples mudança de expressão, pretende varrer para debaixo do tapete todas as ignomínias praticadas durante aquele período negro. O objectivo é provocar a banalização e diluição, junto das camadas jovens, daquele período da História Chilena. E já agora, não me venham contrapor, como desculpa, os crimes e os "apagões" levados a cabo sobre a história soviética, durante o período estalinista, pois isso é matéria que já foi devidamente posta no seu lugar, e não serve para equilibrar os pratos da balança, antes pelo contrário.

O segundo apontamento, é mais um convite. Que leiam o excelente texto que o escritor Mário de Carvalho publicou no Facebook, e que tomei a liberdade de transcrever no CARTÓRIO DO ESCREVINHADOR. Intencional ou não, como forma de remate da polémica Manuel Loff vs Rui Ramos, deixo que cada um faça o seu julgamento, e que no fim prevaleça, indiferente a ventos e marés, a sempre omnipresente verdade, pois a História dita "normalizada", maquilhada, adoçada ou sujeita a reconstruções plásticas, é coisa que não se deve tolerar.

Ilustração: “História” do pintor grego Nikolaos Gysis (1892)

domingo, setembro 09, 2012

Gente Sinistra e Perigosa


AS NOVAS medidas de austeridade são clarividentes e quase não precisam de ser descodificadas. Ao passarem a ter a Taxa Social Única agravada em 7%, são os trabalhadores que passam a financiar  com um mês de ordenado os desv(ar)ios orçamentais, ao passo que os patrões são contemplados com uma redução de 5,75% dessa mesma Taxa Social Única. Quanto aos rendimentos da riqueza, lucros das grandes empresas e do sacrossanto capital, mantêm-se intocáveis, e os bancos que deveriam aprestar-se a financiar a economia, continuam a passar incólumes e fazerem ouvidos de mercador às necessidades daquela. Cortes nas Fundações e renegociação das rendas das Parcerias Público-Privadas, é coisa para se ver mais tarde, com calma, depois de amigavelmente sopesada. Diz Pedro Passos Coelho, o sinistro primeiro-ministro deste flibusteiro governo PSD/CDS-PP, que o agravamento para os trabalhadores se destina a promover a equidade dos sacrifícios (equidade é a tua tia, pá!) e a compensar o chumbo que afectou os anteriores cortes de subsídios, decretado pelo Tribunal Constitucional, ao passo que o desconto para as empresas se destina a reduzir os custos do trabalho, fomentando o emprego e estancando o desemprego. Depois do anúncio destas medidas, o atrevido Coelho ainda teve o descaramento de ir para o Facebook fazer mais uma promessa: "Amigos, os sacrifícios ainda não terminaram...". Amigo era a tua tia, pá!

Entretanto, configura-se no horizonte mais um assalto ao bolso dos contribuintes, com a prometida redução do número de escalões do IRS, medida que foi "vendida" como sendo destinada a simplificar o sistema fiscal e a promover a sempre omnipresente competitividade (não se sabe bem de quê), mas que na realidade se vai traduzir num agravamento generalizado daquele imposto, como consequência do alargamento dos parâmetros de incidência dos escalões.

A fazerem política de corso, esta gente é sinistra, e Pedro Passos Coelho passa de político potencialmente perigoso, a perigoso de facto.

sexta-feira, setembro 07, 2012

Só Me Apetece Dizer Coisas Desagradáveis


Alberto da Ponte, ex-administrador da Sociedade Central de Cervejas, numa manobra táctica de incomensurável alcance, foi nomeado pelo imprevisível ministro Relvas, administrador da RTP. Olhos nos olhos, e para quem o quis ouvir, o senhor da Ponte sentenciou que Pedro Passos Coelho é o melhor primeiro-ministro que Portugal teve, depois de Francisco Sá Carneiro. Cá para mim, que ninguém nos ouve, acho que a prolongada exposição ao malte e a inalação dos vapores do lúpulo e da cerveja, provoca perturbações do raciocínio.

quarta-feira, setembro 05, 2012

A Anedota Continua Dentro de Momentos

PORQUE lhe foi solicitado, o Ministério Público (MP), na pessoa da directora do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), Cândida Almeida (a mesma que garante que em Portugal não há corrupção nem políticos corruptos), assegurou ao líder do CDS-PP e também ministro dos Negócios Estrangeiros Paulo Portas, que não foram recolhidos, afectando a sua pessoa,  indícios da prática de ilícito de natureza criminal no processo dos submarinos. Esta é a terceira vez, nos últimos sete anos, que o líder do CDS-PP formula o mesmo pedido ao MP, e é a terceira vez que a resposta é sempre a mesma, fazendo lembrar as actas adicionais de um seguro de vida que é peródicamente renovado.

Se eu ou o meu vizinho do lado, pedíssemos amanhã ao mesmo Ministério Público, em nosso nome, uma declaração igual, a resposta seria provávelmente a mesma, isto caso o MP se dignasse responder. Ora o que eu e o meu vizinho do lado gostávamos de saber primeiro, é se houve comissões, luvas, corrupção, isto é, se houve dolo, se o MP continua a investigar e se a investigação faz progressos, e não se recaem suspeitas sobre o senhor A ou o senhor B.

Entretanto, se confrontado com outras perguntas incómodas, este mesmo MP não terá problemas em dizer que o processo e as investigações estão sob a alçada do segredo de justiça... isto enquanto não sobrevier algum  arquivamento, seja pelo motivo X ou a razão Y...
A anedota continua dentro de momentos; só vamos ter que esperar.

terça-feira, setembro 04, 2012

Mais Ortografices


É RARO o dia em que não tropeço em mais uma aberração, fruto das simplificadoras emanações ortográficas dos nossos preclaros linguistas, inspirados inventores de uma maquineta que produz frases com duplo sentido, ou de sentido duvidoso. Atente-se no seguinte exemplo:

Apesar de limpos e asseados, de fato não se pode entrar,

que tanto pode significar que apesar de limpos e asseados, a verdade é que não se pode entrar,

como também pode significar que apesar de limpos e asseados, com este tipo de vestuário não se pode entrar.

É por estas e outras que cada vez se torna mais urgente a revogação deste Acordo Ortográfico 90, ou pelo menos, a sua revisão nos aspectos mais conflituosos, levada a cabo por técnicos habilitados e competentes, para que não se transforme em mais um instrumento de desentendimento entre os portugueses.

NOTA - Felizmente que é a língua inglesa que é usada nas reuniões conjuntas que ocorrem entre os técnicos portugueses do Ministério das Finanças, e os que acompanham a troika, nas suas deslocações trimestrais, para avaliação do estado de cumprimento do memorando de resgate, porque então não sei o que seria, com os técnicos portugueses a dizerem "alhos" e os membros da troika a perceberem "bugalhos", ou outra coisa ainda pior.

domingo, setembro 02, 2012

Registo para Memória Futura (72)


«(...) Em algumas instituições da nossa vida pública e privada, vai sendo muito penalizador dizer-se o que se pensa, mesmo em instituições em que a verdade e a liberdade deviam estar antes de tudo, como é o caso das Universidades.»

Parágrafo final da missiva do professor António Manuel Hespanha dirigida aos seus alunos, após ter sido dispensado (saneado) de dar aulas na Universidade Autónoma de Lisboa, na sequência de críticas que terá formulado no programa "Prós e Contras" da RTP1, sobre a falta de investimento no ensino superior privado, e de lá ter dito o que passo a citar:

«Portugal é dominado por cerca de 1.500 a 2.000 pessoas que funcionam em circuito fechado - passam da oposição para a situação, depois para o Governo de onde saltam para empresas públicas, para bancos, para empresas privadas ligadas ao Estado, para conselhos de administração de televisões e empresas de média, para a direcção de jornais, voltam de novo ao Governo, etc. - sempre as mesmas pessoas em animado carrossel, que falam entre si e para si, e tratam fundamentalmente dos seus interesses, enquanto o resto dos habitantes de Portugal são a Gleba a quem tudo é retirado e nada tem.»

Não comento. Mais palavras são desnecessárias.

sexta-feira, agosto 31, 2012

Expliquem-me, Como Se Eu Fosse Muito Burro!


NUMA ALTURA em que ainda nada está decidido (isto a fazer fé nas afirmações do primeiro-ministro Coelho) sobre o modelo de alienação da RTP, e sendo a actual administração daquela entidade, uma mera gestora do actual modelo, logo não lhe cabendo posicionar-se, institucionalmente, em relação às eventuais soluções que aí vierem, custa-me a perceber o seu público repúdio de uma hipotética concessão ou privatização do serviço, demitindo-se em bloco, o que para além de parecer uma curiosa forma de pressão do gerente sobre o patrão, também dá a ideia de estar a exorbitar nas suas funções. Ou então - e aí já começo a perceber mais qualquer coisa - com a sua demissão, e ao assumir-se como virgem ofendida, está a disfarçar um frete ao Governo, abrindo-lhe o caminho e facilitando-lhe as manobras futuras.

Independentemente de eu considerar que se está na presença de mais um escandaloso ataque aos direitos constitucionalmente consagrados, desmembrando sem cerimónia um serviço público de televisão, que o país paga e reclama, fico à espera do comunicado daquela pitoresca administração, divulgando os prosaicos fundamentos da sua decisão, e estou curioso quanto ao desenvolvimento dos futuros episódios desta telenovela.

quarta-feira, agosto 29, 2012

Terão Ficado Esquecidos no Parque Infantil?


«A exigência de identificação fiscal dos dependentes nas declarações de IRS entregues a partir de 2010 motivou uma forte descida do número de pessoas alegadamente a cargo dos contribuintes. A redução foi tão acentuada que o Fisco admite que milhares de filhos declarados, até 2009, eram ‘fictícios’, tendo sido portanto atribuídos benefícios indevidos.

Em 2009, as famílias declararam ter 2.173.270 filhos menores de 25 anos a cargo. Volvidos dois anos - e já com a obrigação de colocar o número de identificação fiscal na declaração de IRS -,este número baixou para 2.038.796. São menos 134,474 dependentes de 2009 para 2011, de acordo com os dados obtidos pelo Económico junto do Ministério das Finanças. (...)»

Excerto da notícia do DIÁRIO ECONÓMICO on-line de 28 Agosto de 2012

Meu comentário: Assim sendo, e com os meios informáticos que tem à sua disposição, a Direcção Geral de Contribuições e Impostos não podia tirar isso a limpo, não vão os petizes terem-se perdido numa ida às compras, ou terem ficado esquecidos no parque infantil?

segunda-feira, agosto 27, 2012

Os Grandes Negócios da Austeridade

A PAR do buraco do ozono, do aquecimento global e do derretimento das calotas polares, começam a aparecer as más notícias, as primeiras anunciadas pela eminência parda das privatizações (António Borges), e as segundas, ditas pausadamente pela eminência parda das finanças (Victor Gaspar).

Nas primeiras incluem-se a perspectiva da privatização dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, o encerramento do canal RTP2 e a privatização ou concessão a privados do canal RTP1, que os cidadãos irão continuar a financiar com o dinheiro da taxa de audiovisual cobrada nas suas facturas da energia, engordando as pobres, sacrificadas e coitadinhas das entidades privadas que vierem a ser contempladas. Neste suspeito negócio o governo garante um lucro de 20 milhões de euros a quem ficar com a RTP, o que significa que o governo garante aos outros aquilo que não consegue assegurar enquanto gestor de um serviço público, constitucionalmente consagrado. Está prometido que quando o delfim Miguel Relvas voltar a pisar triunfalmente os relvados, será ele (quem afinal tutela a comunicação social), que irá anunciar ao povo qual é o modelo adoptado para mais esta expropriação.

As segundas más notícias vieram embrulhadas no anúncio de que a execução orçamental entrou numa derrapagem de 3,9 mil milhões de euros, e que para tapar o buraco irão ser descarregadas mais medidas de austeridade sobre os trabalhadores e cidadãos contribuintes. Conforme prometido na festarola do PSD do Pontal, será o eminente e condoído primeiro-ministro que dirá ao povo, com a mão no peito e a voz embargada, como será concretizado mais este confisco. Os tratantes deste governo continuam a tentar iludirmos com as causas da crise, escondendo que tudo tem que ver com os convivas escolhidos, com os vinhos, iguarias e acepipes servidos à mesa do banquete do orçamento, mais a incompetência dos chefes de mesa, bem como o dissimulado propósito de aproveitar a maré para liquidar tudo o que tenha a ver com o estado social. Depois, fingem não perceber que é a própria imposição da austeridade que é a causa do colapso das receitas fiscais, logo geradora da impossibilidade de cumprimento da tal mirífica promessa de um défice orçamental de 4,5%. Qualquer merceeiro semi-analfabeto sabe que com empresas a fecharem as portas, estas a deixarem de ser colectadas em impostos, colocando os seus trabalhadores no desemprego, e estes por sua vez, sem rendimentos de trabalho, não podendo pagar impostos, estão reunidas as condições, não para a prometida e apressada recuperação económica já em 2013, mas sim para que a crise continue a engrossar imparável, até um ponto irreversível.

Na verdade, tudo o que este bando de gente desavergonhada vai dizendo e fazendo, fingindo que o seu propósito é a domesticação do défice orçamental e o regresso aos mercados, mais não são do que pretextos para levarem a cabo o mais desbragado empobrecimento do país e dos portugueses, a liquidação do estado social, a par do sistemático desmantelamento do tecido económico e do sector empresarial do Estado, a favor dos abutres que pairam à espreita do convite para o festim das privatizações, com os seus saldos e pechinchas. Podemos não acreditar, mas as crises e a austeridade que habitualmente lhes anda associada, sempre foram potenciadoras de óptimas oportunidades de negócio, tanto para as elites do costume, como para os outros que também querem engordar e progredir na vida, mesmo que à custa da miséria alheia.

domingo, agosto 26, 2012

Nunca Nenhum Homem Tinha Chegado Tão Longe

 
NEIL Armstrong, nascido a 5 de Agosto de 1930 em Wapakoneta, Ohio, E.U.A., falecido em Columbus em 25 de Agosto de 2012, foi o primeiro homem a pisar a superfície lunar em 20 de Julho de 1969. Foi um privilegiado; depois disso, todas as noites, com os pés assentes na Terra e olhando o céu, podia contemplar o local onde era quase certo nunca mais voltaria.

sábado, agosto 25, 2012

Se Estou Errado, Emendem-me!


NÃO SÃO amigáveis nem recomendáveis, sejam eles quais forem, os governos e regimes intolerantes que perseguem, seja de que forma for, os seus incómodos poetas e cantores de intervenção, sejam eles Zecas, Reginas, Alegres, Buarques ou Pussys Riots.