A
Como preâmbulo anoto o seguinte:
O site PORTUGAL DIÁRIO noticia o seguinte: “Fiscais e polícias municipais identificaram, com vista à aplicação de coimas, um utilizador de câmara de filmar com tripé que não possui licença de ocupação da via pública.”
Logo a seguir o semanário EXPRESSO acrescenta: “António Limão, repórter de imagem da RTP, nem queria acreditar... "Isto deve ser para os Apanhados", pensou para os seus botões. Na quinta-feira de manhã, quando filmava no Terreiro do Paço, em Lisboa, acompanhado pelo jornalista Luís Fonseca, foi abordado por um fiscal municipal. Este perguntou-lhe se tinha licença de ocupação da via pública, pois estavam a utilizar uma câmara com tripé… "O tratamento é igual para todos", disse-lhes o fiscal. E informou que actuava ao abrigo de "um regulamento que existe na Câmara desde 1991". De acordo com estas normas, quem for apanhado sem licença de ocupação da via pública paga uma coima entre um e 4,5 salários mínimos.”
A reacção imediata, é a vontade de rir, mas há coisas que merecem atenção, pois não são tão inocentes ou desajustadas quanto parecem. Senão vejamos:
Para além das mais inconcebíveis e despropositadas proibições e interdições que grassam por aí, de fotografar ou filmar, que carecem de fundamento e ninguém consegue razoavelmente explicar - seja elas as mais insignificantes coisas, ou os mais incríveis ou inofensivos lugares - conta-se agora que, porque a ocupação da via pública necessita de autorização especial, também não é permitido montar um tripé para filmar ou fotografar na dita via pública, sob de pena do infractor sofrer uma coima. Nem o dejecto do canídeo passeador ou o descontraído escarro do espécime humano são tratados com tanta subtileza! O artista que monta o seu cavalete no Jardim da Estrela ou na Praça do Império, para pintar a sua tela, também estará abrangido por esta postura camarária? O homem-estátua que fica ali no passeio público da Rua Augusta, semi-congelado, na sua postura e expressão, a deliciar quem passa, também é um perigoso invasor do património urbano?
Vamos fazer comparações. Lembram-se das famigeradas licenças de isqueiro, do tempo da ditadura salazarenta, e dos pidescos fiscalotes que andavam pela baixa lisboeta, à cata do primeiro que acendesse um cigarro e não tivesse a dita licença, para passar a multa e apreender a pederneira? Pois bem, com esta postura (que dizem ser camarária, dos idos de 1991) o ridículo (ou talvez não) tomou definitivamente conta deste patético lugarejo! Só posso concluir uma coisa: os zelosos fazedores e mandantes dos mais absurdos e incríveis regulamentos e normas deste tipo, transportam consigo um problema muito grave, que não foi detectado a tempo, antes de ocuparem o seu posto de trabalho: o seu cérebro, fonte daquelas preciosas ideias, está directamente ligado ao intestino grosso, e o resultado está bem à vista. Assim, por este andar virá o dia em que o acto de parar para conversar com alguém, ou apenas apertar o atacador dos sapatos, também será considerado ocupação indevida da sacra via pública, logo passível de licença camarária, e o cívico lá estará, de esferográfica em riste para rabiscar a respectiva multazinha, ao mesmo tempo que vai dizendo: - Enquanto o autuo, não fique aí parado, circule, circule!
Onde é que eu já ouvi isto? Se não reclamarmos, se não nos acautelarmos, não sei onde iremos parar.
Disse.
Como preâmbulo anoto o seguinte:
O site PORTUGAL DIÁRIO noticia o seguinte: “Fiscais e polícias municipais identificaram, com vista à aplicação de coimas, um utilizador de câmara de filmar com tripé que não possui licença de ocupação da via pública.”
Logo a seguir o semanário EXPRESSO acrescenta: “António Limão, repórter de imagem da RTP, nem queria acreditar... "Isto deve ser para os Apanhados", pensou para os seus botões. Na quinta-feira de manhã, quando filmava no Terreiro do Paço, em Lisboa, acompanhado pelo jornalista Luís Fonseca, foi abordado por um fiscal municipal. Este perguntou-lhe se tinha licença de ocupação da via pública, pois estavam a utilizar uma câmara com tripé… "O tratamento é igual para todos", disse-lhes o fiscal. E informou que actuava ao abrigo de "um regulamento que existe na Câmara desde 1991". De acordo com estas normas, quem for apanhado sem licença de ocupação da via pública paga uma coima entre um e 4,5 salários mínimos.”
A reacção imediata, é a vontade de rir, mas há coisas que merecem atenção, pois não são tão inocentes ou desajustadas quanto parecem. Senão vejamos:
Para além das mais inconcebíveis e despropositadas proibições e interdições que grassam por aí, de fotografar ou filmar, que carecem de fundamento e ninguém consegue razoavelmente explicar - seja elas as mais insignificantes coisas, ou os mais incríveis ou inofensivos lugares - conta-se agora que, porque a ocupação da via pública necessita de autorização especial, também não é permitido montar um tripé para filmar ou fotografar na dita via pública, sob de pena do infractor sofrer uma coima. Nem o dejecto do canídeo passeador ou o descontraído escarro do espécime humano são tratados com tanta subtileza! O artista que monta o seu cavalete no Jardim da Estrela ou na Praça do Império, para pintar a sua tela, também estará abrangido por esta postura camarária? O homem-estátua que fica ali no passeio público da Rua Augusta, semi-congelado, na sua postura e expressão, a deliciar quem passa, também é um perigoso invasor do património urbano?
Vamos fazer comparações. Lembram-se das famigeradas licenças de isqueiro, do tempo da ditadura salazarenta, e dos pidescos fiscalotes que andavam pela baixa lisboeta, à cata do primeiro que acendesse um cigarro e não tivesse a dita licença, para passar a multa e apreender a pederneira? Pois bem, com esta postura (que dizem ser camarária, dos idos de 1991) o ridículo (ou talvez não) tomou definitivamente conta deste patético lugarejo! Só posso concluir uma coisa: os zelosos fazedores e mandantes dos mais absurdos e incríveis regulamentos e normas deste tipo, transportam consigo um problema muito grave, que não foi detectado a tempo, antes de ocuparem o seu posto de trabalho: o seu cérebro, fonte daquelas preciosas ideias, está directamente ligado ao intestino grosso, e o resultado está bem à vista. Assim, por este andar virá o dia em que o acto de parar para conversar com alguém, ou apenas apertar o atacador dos sapatos, também será considerado ocupação indevida da sacra via pública, logo passível de licença camarária, e o cívico lá estará, de esferográfica em riste para rabiscar a respectiva multazinha, ao mesmo tempo que vai dizendo: - Enquanto o autuo, não fique aí parado, circule, circule!
Onde é que eu já ouvi isto? Se não reclamarmos, se não nos acautelarmos, não sei onde iremos parar.
Disse.