quinta-feira, janeiro 31, 2008

O POVO

O
O povo é sempre ignorado.
Tudo o que sente e não diz,
Tem mergulhada a raiz
Num mistério irrevelado.
- Contudo, se canta o fado,
O povo é quase feliz.

Desabafa, em tom plangente,
O seu peso de existir.
Quem o escuta, julga ouvir
O que no íntimo sente.
- O povo fica contente,
E a alma por exprimir.

O que sofre, quando chora,
Sonhos grandes e pequenos,
Paixões trágicas, serenos
Amores, revoltas… embora!
- Tudo quanto à voz aflora
Ou à guitarra, é o menos.

Tudo isto está distante
Cem léguas da alma dele.
É como do fruto a pele
E o brilho do diamante.
- O povo é mais importante,
O povo é maior do que ele.

Poema de Carlos Queiroz in EPÍSTOLA AOS VINDOUROS E OUTROS POEMAS, Edições Ática, 1989.
José Carlos Queiroz Nunes Ribeiro (1907-1949) foi poeta do segundo modernismo português, tendo sido colaborador da revista PRESENÇA, conjuntamente com Fernando Pessoa e Almada Negreiros. A Obra poética de Carlos Queiroz, pouco divulgada, está editada em dois livros pela Editora Ática. O primeiro livro tem como data de publicação 1984, intitula-se Desaparecido – Breve Tratado de Não Versificação, sendo a compilação dos dois livros publicados em vida por Carlos Queiroz. O segundo livro tem como data de publicação 1989, intitula-se Épistola aos Vindouros e Outros Poemas, sendo constituído por uma colectânea de poemas dispersos, por diversas publicações da época e alguns inéditos, recolhidos por David Morão Ferreira, com a ajuda de uma das Filhas do Poeta.
Informação obtida em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Queiroz_Ribeiro

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