sábado, janeiro 05, 2008

Capitais Públicos e Interesses Privados

C
Carlos:
Tomei boa nota do pedido que me fizeste por e-mail e aqui te envio alguns extractos do artigo do sociólogo António Barreto, publicado no jornal Público de 30 Dezembro de 2007, com o título “PS, SA”, e que ainda não tinha ido parar ao “papelão”. A exemplo de outras análises já efectuadas (e com as quais nem sempre concordo), e que pretendem dissecar a realidade política portuguesa, esta é muito clarificadora e serve para explicar muita coisa.
Aqui vai:
“Quem quiser perceber as últimas movimentações do Governo e do Banco de Portugal no BCP, na Caixa Geral de Depósitos e na RTP terá que se interrogar sobre os seus antecedentes e o seu contexto. E não poderá esquecer outras intervenções do Governo, eventualmente menos ruidosas, em casos de fusões e compras ou vendas de empresas, de privatizações, de concursos públicos e de nomeações de administradores por parte do Estado.

Mantendo embora as formas de democracia parlamentar, o poder político vive cada vez mais obcecado pelo poder económico, pelos favores das empresas e pelos investimentos que possam ilustrar a boa obra do Governo.

Através dos seus direitos de accionista ou de outros direitos menos palpáveis, a influência do Governo nas grandes decisões económicas só tem o seu equivalente na influência dos grupos económicos nas decisões do Governo.

O PS mantém-se uma associação, mas parece estar a desenvolver-se como uma sociedade anónima de capitais públicos e interesse privado. O PS procura transformar-se num grupo económico com poder efectivo. Através da presença do governo em sectores estratégicos, este partido adquire um papel de peso na economia. Até há pouco tempo, essa posição era essencialmente a do PSD. Mas o equilíbrio alterou-se. Ainda se mantêm zonas de partilha entre os dois, mas a maioria absoluta de Sócrates foi um instrumento decisivo para a irresistível ascensão financeira do PS. Os três maiores bancos portugueses têm, a partir de agora, relações especiais com o Governo e os socialistas. Temos banqueiros no Governo e socialistas na banca.”
Perspicaz!
Por hoje é tudo. Dá depois o teu parecer.

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