DEPOIS de terem andado a convencer-nos que
devíamos deixar o egoísta e poluidor transporte particular à porta de casa,
recorrendo aos transportes colectivos, e deles colhendo benefícios, tais como o
serem desconcentradores de tráfego e mais amigos do ambiente, o Governo decidiu
premiar a nossa adesão aos mesmos, retaliando com a redução das carreiras,
alargando a frequência daquelas e aumentando o preço das tarifas. Agora, para
que não vejamos a prometida luz ao fundo do túnel, o Metro de Lisboa, a mando
do Governo, está a estudar a possibilidade de encerrar a rede a partir das 23
horas, sendo que algumas estações poderão antecipar o encerramento para as 21h.
Bem pesados os malefícios destas medidas desincentivadoras, só há uma conclusão
a tirar: com amigos destes os portugueses não precisam de inimigos.
sábado, outubro 29, 2011
sexta-feira, outubro 28, 2011
Quem Tira aos Pobres…
EMBORA não seja crente, não sou indiferente ao que
postulam as encíclicas Rerum Novarum do papa Leão XIII, datada de 1891, a Mater
et Magistra de João XXIII, de 1961, e a Populorum Progressio de Paulo VI, de
1967. Entretanto, nos tempos que correm, ainda não ouvi ninguém dizer, com
indignação e veemência, que quem tira aos pobres ofende a Deus.
quinta-feira, outubro 27, 2011
Orfandade
ALGUÉM alguma vez viu, em algum lugar, ser criada uma MOEDA sem o suporte de um ESTADO? Não viu, nunca existiu, nem existirá, e o que actualmente existe com o nome de EURO está condenado a fracassar, por ter a pretenção de ser a moeda de uma desunião europeia. Toda a porta tem a sua casa, todo o ministro o seu governo e todo o comandante o seu navio, salvo os projectos surrealistas, as anedotas de salão e os navios-fantasma.
quarta-feira, outubro 26, 2011
Novos Tempos, Novas Teorias
PEDRO
Passos Coelho, durante uma conferência promovida pelo DIÁRIO ECONÓMICO, assegurou
que Portugal apenas pode sair da crise empobrecendo, tanto em termos relativos
como absolutos, paradoxo que contraria tudo o que se sabe sobre economia, isto
é, que apenas se conseguem ultrapassar as situações de crise económica, criando
riqueza, e não o seu contrário. Já Paulo Portas, durante uma sessão da Comissão
Parlamentar de Assuntos Europeus, vaticinou que os caminhos para a salvação do
país, estão repletos de sacrifícios e de dor, expressões que associadas ao
empobrecimento garantido por Passos Coelho, têm o seu quê de fatalismo bíblico.
Há
uns anos atrás fomos confrontados com uma doutrina muito querida a G.W.Bush,
que abrangendo aplicações desde a área militar até à àrea económica, dava pelo
nome de "destruição criativa", uma coisa com pretensões a ser um novo
paradigma civilizacional. Será que esta espécie de empobrecimento controlado de
Pedro Passos Coelho, no seguimento do que António José Seguro sugeriu, quando
disse que os portugueses deviam interiorizar a austeridade, isto é, aceitá-la
como um facto consumado e coisa sua, postura a que deu o bizarro nome de
"austeridade inteligente", tudo isto associado ao misticismo de Paulo
Portas, são caminhos convergentes para a versão lusitana de uma nova teoria
económica, ou será que tudo isto não passa de uma técnica para amedrontar os
portugueses, fazendo-os acreditar que são os principais culpados pelo
descalabro, e que todos vivemos afinal, sem decoro, numa riqueza faustosa?
Porque
é preciso manter a higiene em níveis aceitáveis, que tal aqueles senhores deixarem
de bolsar tantas obscenidades e provocações?
terça-feira, outubro 25, 2011
Uma Pergunta Inofensiva
A QUE
propósito e com que fundamento a Assembleia da República nomeou o deputado
Ricardo Rodrigues, para o
Conselho Geral do Centro de Estudos Judiciários, quando o dito cavalheiro, por
não poucas e gravosas razões - entre as quais o ser especialista em acções directas sobre bens alheios - é reconhecido como uma pessoa pouco recomendável?
sexta-feira, outubro 21, 2011
As sombras sortílegas
No caminho, assentou a canseira.
Nem vestígios das tuas pegadas.
Solitárias, as velhas estradas
sob um manto de sol e poeira.
Do
que foste ou não foste, não mais
a
memória guardou o registo.Neste Mundo de Cristo sem Cristo,
são de inércia e renúncia os sinais.
Sob
a noite, as estradas paradas,
rememoram
silêncios em guardae sortílegas sombras vadias...
São as horas, no tempo cansadas,
a velar a promessa que tarda
duma aurora que nunca verias...
José-Augusto de Carvalho
16 de Outubro de 2011.Viana * Évora * Portugal
quarta-feira, outubro 19, 2011
Pensões e Hotéis de 5 Estrelas
CONTRARIANDO
as palavras do ministro das Finanças Victor Gaspar, que disse durante a
apresentação do Orçamento de Estado para 2012 não haver grupo social que não
seja chamado a contribuir para este esforço, veio a ver-se, as pensões
vitalícias auferidas pelos antigos titulares de cargos políticos, não eram abrangidas
pelo esforço adicional de austeridade que, como se sabe, será exigido aos
funcionários públicos e pensionistas, como punição por serem os mais bem pagos
do país e andarem a gastar acima das suas possibilidades.
No
dia seguinte, confrontado com o abismo entre as palavras e os factos, o
ministro Victor Gaspar acabou por reconhecer que a coisa tem que ser corrigida,
adiantando mesmo que se irá mais longe, aplicando limitações ao escandaloso número
de pensões que os políticos podem acumular.
Eu
já estava preocupadíssimo e a questionar os meus botões, mas afinal, tanto Mário
Soares como Jorge Sampaio e Almeida Santos, entre muitos outros coleccionadores
de pensões vitalícias, já não estarão naquele desesperado estado de
necessidade, senão mesmo de indigência, em que eu os imaginava, ao ponto de
serem dispensados de contribuir com o seu quinhão para a superação da crise.
terça-feira, outubro 18, 2011
Registo para Memória Futura (53)
«Em
Portugal não existem indignados, apenas resignados.»
Declaração de um cidadão frente à
Assembleia da República, quando confrontado com a exígua presença de uma
vintena de resistentes da acção do dia 15 de Outubro.
segunda-feira, outubro 17, 2011
De Surpresa em Surpresa
ESTA
CAIXINHA de surpresas do défice das contas públicas é inesgotável. O problema poderia
ter sido resolvido com uma auditoria feita a tempo e horas, e de uma vez por
todas, mas assim dá muito mais jeito, com o aparecimento de buracos,
buraquinhos e buracões, a pedido e conforme as necessidades. Elas, as
surpresas, vão chegando em pequenas doses, pé-ante-pé, aos bochechos ou a
conta-gotas, para não provocarem sobressaltos ou reacções adversas, mas a
verdade é que todos os dias há uma nova surpresa. A mais recente, e mesmo em
cima da discussão do Orçamento de Estado para 2012, informa-nos que os cortes
dos subsídios de Natal e de férias a funcionários públicos e pensionistas que ganhem mais de mil euros não vão chegar para cobrir o buraco do Banco Português de Negócios (BPN), o tal que nas palavras do presciente, pretérito e lastimável ex-ministro Teixeira dos Santos, "praticamente não teria custos para os contribuintes". Entre a inexcedível capacidade de cálculo do senhor Teixeira dos Santos e as contas feitas às três pancadas pelo senhor Victor Gaspar, faltará qualquer coisa como uma bagatela de 150 milhões de euros que, ficamos já avisados, serão incluídos no próximo raide carteirista que o governo se proponha efectuar sobre os contribuintes.
Estou certo que havemos de voltar a ouvir falar do infindável caso do BPN. Já o mesmo não digo do exilado voluntário Manuel Dias Loureiro, calma e pacificamente aboletado em Cabo Verde, a aguardar pacientemente que o assunto caia no esquecimento, pois se até os inefáveis tribunais se consideraram incompetentes para julgar o caso...
Estou certo que havemos de voltar a ouvir falar do infindável caso do BPN. Já o mesmo não digo do exilado voluntário Manuel Dias Loureiro, calma e pacificamente aboletado em Cabo Verde, a aguardar pacientemente que o assunto caia no esquecimento, pois se até os inefáveis tribunais se consideraram incompetentes para julgar o caso...
domingo, outubro 16, 2011
Atordoar, Congelar e Extorquir
Artigo do economista Eugénio Rosa, publicado
em 14.10.2011. O título do post é de minha autoria.
Mais 7.000 milhões € de riqueza para os
patrões, nada para os trabalhadores, corte de 1.682 milhões € no rendimento dos
pensionistas e de 952 milhões € aos trabalhadores da função pública, mas os rendimentos
do capital continuam a ser poupados aos sacrificios: eis o que Passos Coelho
anunciou
Tal
como sucedeu com o subsidio do Natal em que praticamente os atingidos pelo IRS
extraordinário foram apenas os trabalhadores e pensionistas, que têm de pagar
ainda este ano mais 800 milhões € de IRS segundo as contas do próprio governo,
tendo sido poupado os rendimentos do capital (dividendos, juros, mais-valias),
também agora Passos Coelho anunciou para 2012 mais medidas de austeridade em
que os atingidos são outra vez os trabalhadores, os pensionistas e os
aposentados. Novamente os rendimentos de capital (dividendos, juros e
mais-valias) ficam imunes aos sacrifícios.
A
sobretaxa de IRC a aplicar às empresas com lucros elevados e o novo escalão de
IRS aos rendimentos mais elevados foi criada por este governo com o objectivo
de enganar a opinião pública. Em primeiro lugar, os valores a obter com elas
são irrisórios (menos de 100 milhões € em cada) quando comparamos com os
sacrifícios que estão a ser impostos aos trabalhadores e pensionistas. Em
segundo lugar, porque não atinge a principal fonte de enriquecimento dos
grandes patrões, que são os rendimentos de capital, ou seja, dividendos, mais-valias,
juros, etc., E estes rendimentos ou continuam isentos (a maioria), ou então
aqueles que pagam IRS (apenas uma pequena parcela) estão sujeitos a uma taxa
liberatória de 21,5% ou ainda menos que não é aumentada.
Para
os grandes patrões não são as remunerações sujeitas a IRS que, embora
gigantescas quando comparadas com as recebidas pela generalidade dos
trabalhadores, constituem a principal fonte da sua riqueza, já que elas
representam apenas uma pequeníssima parcela quando as comparamos com os
dividendos, juros, e mais-valias que são recebidas através de sociedades
gestoras de participações sociais (SGPS) ou de Fundos, ou que são transferidas
para empresas que criaram no estrangeiro, como a Amorim Energia sediada na
Holanda através da qual recebe os dividendos da GALP, e que, de acordo com a
lei fiscal portuguesa (artº 14 e 51 do Código do IRS, e artº 22º, 23º, 27º e
32º do Estatuto dos Benefícios Fiscais), todos eles estão isentas de pagamento
de impostos. Para além disso, os grandes patrões facilmente fogem ao escalão
mais elevado de IRS: Para isso, basta que reduzam a sua remuneração (até dão um
“ar” de que estão a fazer também sacrifícios) e depois recebem esse valor
através de dividendos cuja esmagadora maioria continuarão isentos
É
evidente que ao poupar novamente os rendimentos do capital, este governo, para
além de mostrar o seu espírito de classe, e que interesses defende, vai
aumentar ainda mais as desigualdades e a injustiça em Portugal, e as
dificuldades das famílias das classes médias e de baixos rendimentos
Para
que se possa ficar com uma ideia clara da dimensão desse ataque, e dos
benefícios para os patrões, vamos quantificar apenas três das medidas
anunciadas por Passos Coelho: o aumento de meia hora de trabalho por dia cuja
produção reverte integralmente para os patrões, o corte no subsidio de férias e
de Natal aos reformados e aposentados com pensões superiores a 1000€/mês e
também aos trabalhadores da Função Pública.com remunerações superiores a 1000
euros/mês.
O aumento de meia hora no horário de
trabalho diário dá por ano aos patrões mais 7.002 milhões € de riqueza
Se
dividirmos o valor do PIB previsto pelo INE para 2011 (171.320,6 milhões €)
pela população empregada (4.893.000
portugueses no 2º Trimestre de 2011 segundo o INE) obtém-se 35.013 €/
ano por empregado. Dividindo este valor pelo número médio anual de horas de
trabalho obtém 19€/PIB/por hora. Se multiplicarmos este valor pelo número médio
de dias de trabalho por ano, e depois por meia hora dia e seguidamente pelo número
de trabalhadores por conta de outrem (3.200.000 sem incluir os trabalhadores da
Função Pública) obtém-se 7.002.681.382 de euros. E ainda mais que a redução
prevista pelo governo na Taxa Social Única paga pelos patrões. É esta
gigantesca riqueza que o governo PSD/CDS pretende dar de mão - beijada aos
patrões. Tudo para os patrões, nada para
os trabalhadores produtores de riqueza: - este é o lema do governo PSD/CDS.
O governo do PSD/CDS pretende fazer mais
um corte de 1.682 milhões nos rendimentos dos pensionistas e de 952 milhões nos
trabalhadores da função pública
Em 2011, as pensões de todos os reformados e
aposentados foram congeladas. E os preços até Setembro deste ano já aumentaram
3,6%. Em 2012, o governo pretende congelar novamente a esmagadora maioria das
pensões (apenas as inferiores ao limiar da pobreza é que poderão ser
actualizadas). Como tudo isto já não fosse suficiente o governo pretende ficar
com o subsídio de férias e de Natal dos reformados e aposentados com pensões
superiores a 1000€. Em 2012, na Segurança Social estimamos que sejam atingidos
cerca de 200.000 reformados com uma pensão média ponderada que rondará os
1890€/mês, e na CGA 235.000 com uma pensão média ponderada de 1970€/mês. Dois
meses de pensão para estes 435.000 pensionistas representarão um corte nos seus
rendimentos que estimamos em 1.682 milhões euros por ano. Também é intenção do
governo ficar com o subsídio férias e de Natal dos trabalhadores da Função
Pública em 2012 com remunerações superiores a 1000€/mês. Se tal intenção se
concretizar, estes trabalhadores, que nos últimos anos, já perderem cerca de
14% no seu poder de compra sofrerão mais um corte nos seus rendimentos que
estimamos em 952,6 milhões € em 2012. Em 2011 estes trabalhadores tiveram suas
remunerações congeladas, e em 2012 e em
2013 as suas remunerações continuarão congeladas. Para além disso, os
trabalhadores da Função Pública e os pensionistas que recebem mais de 485€ e
menos de 1000€ sofrerão um aumento da taxa de IRS igual a um subsídio.
sexta-feira, outubro 14, 2011
Então e os Ricos, Pá?
Colagem sobre o discurso do
primeiro-ministro Pedro Passos Coelho na apresentação do Orçamento do Estado
para 2012
(...)
Não preciso de vos dizer que vivemos momentos da maior gravidade. Todos os
Portugueses estão a sentir nas suas vidas os efeitos de um terrível
estrangulamento financeiro da nossa economia.
- Todos os portugueses não! Então e os
ricos, pá?
(...)
O ajustamento terá de ser muito profundo. Isso implica um esforço adicional aos
objetivos já exigentes a que estávamos comprometidos para 2012. E significa que
neste orçamento que será apresentado aos Portugueses nos próximos dias teremos
de fazer um esforço redobrado de consolidação.
- Esforço redobrado de consolidação é
uma expressão muito vaga! Então e os ricos, pá?
(...)
Por tudo isto, o orçamento para 2012 é absolutamente decisivo e coincide com o
momento em que muito duramente enfrentamos a realidade. Em tempos de
emergência, o tempo é ainda mais precioso, o rigor ainda mais indispensável, a
coesão interna ainda mais necessária.
- Coesão para os beneficiários do
costume se rirem da austeridade, não! Então e os ricos, pá?
(...)
o Governo decidiu permitir a expansão do horário de trabalho no setor privado
em meia hora por dia durante os próximos dois anos, e ajustar o calendário dos
feriados.
- Trabalhar de borla não! Então e os
ricos, pá?
(...)
Estas medidas respondem diretamente à necessidade de recuperar a
competitividade da nossa economia e evitam o desemprego exponencial que a
degradação da situação das nossas empresas produziria. Este é o modo mais
eficaz e mais seguro de operar um efeito de competitividade.
- Onde é que já se viu aumentar a
jornada de trabalho para evitar o desemprego? Então e os ricos, pá?
(...)
Este Governo não se limita a pedir sacrifícios e a impor limites. Queremos
resolver os nossos problemas com mais trabalho, mais ideias, mais espírito de
entreajuda e cooperação entre todos. Este é o meio mais adequado para, no meio
de tantas restrições, ampliarmos a nossa capacidade económica de criação de
riqueza.
- A propósito de cooperação e sacrifícios,
então e os ricos, pá?
(...)
Não nos devemos permitir decisões de último recurso. Temos de salvaguardar o
emprego. É a pensar na conjugação das necessidades financeiras com a prioridade
do emprego que o orçamento para 2012 prevê a eliminação dos subsídios de férias
e de Natal para todos os vencimentos dos funcionários da Administração Pública
e das Empresas Públicas acima de 1000 euros por mês.
- Então os rendimentos de capitais não
contribuem para nada, pá?
(...)
Os vencimentos situados entre o salário mínimo e os 1000 euros serão sujeitos a
uma taxa de redução progressiva, que corresponderá em média a um só destes
subsídios. Como explicaremos em breve aos partidos políticos, aos sindicatos e
aos parceiros sociais, esta medida é temporária e vigorará apenas durante a
vigência do Programa de Assistência Económica e Financeira.
- Então as grandes fortunas não
contribuem para nada, pá?
(...)
No orçamento para 2012 haverá cortes muito substanciais nos sectores da Saúde e
da Educação. Neste aspecto, fomos até onde pudemos ir - no combate ao
desperdício, nos ganhos de eficiência.
- Não foram até onde deviam ir! Então e
os ricos, pá?
(...)
No caso do IVA, teremos de obter mais receitas do que o que estava desenhado no
Memorando de Entendimento. Para este efeito, o orçamento para 2012 reduz
consideravelmente o âmbito de bens da taxa intermédia do IVA, embora assegure a
sua manutenção para um conjunto limitado de bens cruciais para sectores de
produção nacional, como a vinicultura, a agricultura e as pescas.
- Então e os ricos, pá?
(...)
Como sabem, a redução das pensões de reforma era uma medida prevista no
Memorando de Entendimento. Tal como para os salários da Administração Pública e
das Empresas Públicas, teremos de eliminar os subsídios de férias e de Natal
para quem tem pensões superiores a 1000 euros por mês. As pensões abaixo deste
valor e acima do salário mínimo sofrerão em média a eliminação de um só destes
subsídios.
- Então e os ricos, pá?
(...)
Compreendo muito bem a frustração de todos os Portugueses que olham para trás,
para estes últimos anos, e se perguntam como foi possível acumular tantos erros
e somar tantos excessos. Tivemos tantas oportunidades para inverter o rumo e
limitámo-nos a encolher os ombros.
- Então e os ricos, pá?
(...)
Um orçamento do Estado é muito mais do que um simples exercício de
contabilidade. Nele estão vertidas escolhas políticas fundamentais. Escolhas
para o nosso presente e para o nosso futuro.
- As escolhas políticas fundamentais,
esqueceram um pormenor! Então e os ricos, pá?
(...)
Está inscrito um novo rigor no respeito pela lei e pelo Estado de Direito, pelo
princípio da responsabilidade social, o que significa que seremos implacáveis
com a evasão fiscal e agravaremos a tributação das transferências para
off-shores e paraísos fiscais.
- De promessas temos nós um saco cheio!
Então e os ricos, pá?
(...)
Temos de olhar para os exemplos recentes de países que, optando por fazer os
seus processos de ajustamento com inteligência e responsabilidade, souberam
ultrapassar as suas dificuldades bem mais rapidamente do que diziam as
previsões e abriram um período de prosperidade que seria impossível de outro
modo.
- Então e a Grécia não te diz nada, pá?
(...)
Quis nesta ocasião falar a todos os Portugueses porque mais do que nunca o
cumprimento dos objetivos nacionais, a cabal execução do orçamento para 2012, a
superação da emergência nacional depende em absoluto do contributo de todos.
- Do contributo de todos, não! Então e
os ricos, pá?
(...)
Depende da competência e liderança do Governo, da diligência e dedicação das
Administrações Públicas, da inovação e criatividade dos empresários, da
confiança e serenidade dos investidores, do profissionalismo e energia dos
trabalhadores. Depende da cooperação dos parceiros sociais, do dinamismo das
instituições da sociedade civil, do diálogo construtivo com os partidos da
oposição, em particular com o maior partido da oposição que tem nesta matéria
uma oportunidade de evidenciar um elevado sentido de responsabilidade e de
serviço ao País.
- Ah sim, então e os ricos, pá?
terça-feira, outubro 11, 2011
Registo para Memória Futura (52)
"Alguma coisa está a acontecer. O que é, não é exactamente claro, mas podemos, finalmente, estar a ver o surgimento de um movimento popular que, ao contrário do Tea Party (*), está irritado com as pessoas certas."
Comentário
do economista norte-americano Paul Krugman, galardoado com o Prémio Nobel da
Economia de 2008, sobre o movimento Occupy Wall Street, o qual, tendo-se
iniciado no centro financeiro de Nova Iorque, rapidamente se estendeu a outras
cidades dos E.U.A., tais como Boston, Chicago, Los Angeles, Portland, São
Francisco, entre outras, manifestando-se contra a ausência de repercussões
legais sobre os responsáveis e beneficiários da crise financeira nos Estados
Unidos, Europa e outras partes do mundo, e exigindo medidas contra as desigualdades
sociais, a voracidade empresarial e o sistema capitalista como um todo.
(*) Tea Party – Movimento social e político norte-americano, populista, conservador, de ultradireita, constituído em 2009 após a eleição do presidente Barack Obama. Embora seja uma miscelânea de variados grupos ultra-radicais, as suas opiniões coincidem, em linhas gerais, com as do Partido Republicano. Defende uma política fiscal conservadora e tem por objectivo contestar as principais medidas de cariz social da administração Obama, nomeadamente os pacotes de estímulo para o relançamento da economia e, fundamentalmente, o projecto de reforma do sistema de Saúde. Consideram que os Estados Unidos estão à beira de resvalar para uma experiência socialista, e sob essa pretensa ameaça, trabalham afincadamente para evitar a reeleição de Barack Obama.
segunda-feira, outubro 10, 2011
Chamar os Bois pelos Nomes
«(...)
As coisas estão neste estado porque se fizeram (e continuam a fazer) escolhas
políticas criminosas. Porque os governos são estúpidos? Não. Porque são
politicamente corruptos. Quando vemos António Borges a dirigir o Departamento
Europeu do FMI e Mario Draghi à frente do Banco Central Europeu e sabemos que
os dois foram vice-presidentes da Goldman Sachs - que foi quem ganhou com a
crise do "subprime" e que ajudou a Grécia a mascarar a verdadeira
dimensão do seu défice -, percebemos de quem estamos reféns. De gente com um
currículo que deveria ser considerado cadastro.»
Excerto do artigo de opinião de Daniel
Oliveira, intitulado "Capitalismo de Candonga", e publicado no
semanário EXPRESSO de 8 de Outubro de 2011. O título do post é de minha
autoria.
domingo, outubro 09, 2011
O Protectorado sob Ocupação
«(...) O Diário Económico avançou na sua edição "online" de hoje que Pedro Passos Coelho escreveu uma carta a Durão Barroso a pedir o envio de uma equipa de técnicos da Comissão Europeia para acompanhar em permanência, no Ministério das Finanças, as reformas impostas pelo memorando com a "troika" (Comissão, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional), tendo fonte comunitária confirmado à Lusa que o presidente do executivo comunitário deu o seu parecer favorável.
De
acordo com o Diário Económico, a equipa de cinco técnicos, liderada por Herve
Carré, antigo diretor do gabinete oficial de estatísticas da UE (Eurostat), irá
ajudar as autoridades portuguesas a "agilizar a aplicação das reformas
estruturais que estão a ser impostas pelo BCE, Comissão e FMI, ajudando a
potenciar a aplicação dos cerca de 15 mil milhões de euros de fundos
estruturais, de que Portugal beneficiará nos próximos anos, nas várias
alterações legislativas que saltarão para o terreno com o Orçamento do Estado
do próximo ano".»
Excerto da notícia do DIÁRIO DE NOTÍCIAS
de 8 de Outubro de 2011
Meu
comentário: Passos Coelho vai lavando as mãos, ao mesmo tempo que deixa no ar a
ideia de que não lhe compete governar, na verdadeira acepção da palavra, mas
sim fazer cumprir os compromissos assumidos com a "troika", acrescidos
de mais umas coisitas de sua iniciativa, para não haver razões de queixa e deixar
boa impressão. Assim, os censores e questores da EU, virão até ao protectorado
para supervisionarem o cozinhado do Orçamento de Estado para 2012, e
alinhavarem as condições para um segundo empréstimo, com o seu cortejo de mais
austeridade e empobrecimento generalizado, o tal que os optimistas do costume,
em planeada manobra de contra-informação, continuam a garantir que não será
necessário.
quinta-feira, outubro 06, 2011
Uma História de Maçãs
A primeira maçã desprendeu-se de uma macieira, e por ter batido na cabeça de Isaac Newton, levou a que este tivesse a ideia de formular as leis da gravitação universal. Com isso prendeu-nos à Terra.
A
segunda maçã veio pela mão de Steve Jobs, tornou-se o logotipo de todos os produtos
da Apple Macintosh por ele criada, ajudando
com isso a dar asas à nossa criatividade e imaginação.
Steven
Paul Jobs nasceu em São Francisco, Califórnia, em 24 de Fevereiro de 1955 e
faleceu em Palo Alto, Califórnia, em 5 de Outubro de 2011, vítima de cancro.
Foi inventor e empresário do sector informático, sendo grande inovador nesta
área. Em 2005, frente a uma plateia de estudantes da Universidade de Stanford, nos EUA,
disse que “a morte é muito provavelmente a melhor invenção da
vida, e lembrar-me de que todos estaremos mortos em breve é a ferramenta mais
importante que encontrei para me ajudar a fazer as grandes escolhas na vida”.
Sua Truculência
APESAR de fazer figura disso, deve evitar-se chamar “palhaço” a Sua Truculência, o régulo Alberto João Jardim, pois isso é estar a ofender, gravemente, os verdadeiros profissionais da nobre arte de fazer rir. Já quanto ao dedo em riste que ele costuma sacudir furiosamente, no auge dos seus discursos, deixo à imaginação de cada um, o que ele poderá fazer com ele.
quarta-feira, outubro 05, 2011
O Exemplo que vem da Islândia
O Landsdomur, tribunal especial de Reykjavik, vai julgar o ex-primeiro-ministro islandês, Geeir Haarde, pela sua implicação e responsabilidade no colapso do sistema financeiro do país, em 2008, quando chefiava o governo. Há situações que não se suplantam nem satisfazem com a mera invocação da responsabilidade política, e este é um bom exemplo, que não requer mais comentários. Apenas que frutifique.
sábado, outubro 01, 2011
A Paródia da Justiça
«As
quase 23 horas que Isaltino Morais passou na cadeia - entre as 20h de
quinta-feira e as 18h52 de ontem [sexta-feira] - abriram mais uma brecha na
credibilidade da Justiça portuguesa. Com base numa decisão do Tribunal
Constitucional (TC), que rejeitou um recurso da defesa de Isaltino, um
procurador do Ministério Público (MP) promoveu a prisão do presidente da Câmara
de Oeiras e uma juíza ordenou a sua execução. Sem que nenhum dos dois soubesse
que havia outro recurso no TC, com efeitos suspensivos sobre a condenação -
cujo prazo para entrega de alegações só termina na próxima quinta-feira. Quando
souberam, por inciativa dos advogados e por diligências próprias, nenhum se
opôs à libertação. (...)»
Excerto da notícia do semanário EXPRESSO
de 1 de Outubro de 2011
Meu comentário: Ainda hei-de ouvir dizer
que o culpado da falta de informação e do desnorte da Justiça, neste e noutros
casos, seja imputado a algum problema informático, talvez ao incipiente Citius,
pois os computadores sempre tiveram as costas largas, e os informáticos sabem
bem do que se fala. Isaltino tem advogados competentes, que conhecem o terreno que
pisam, e não rejeitam tirar partido destes desleixos da justiça portuguesa, ao
traduzirem-nos em pedidos de indemnização ao Estado, que se reflectirão, fatalmente, no bolso dos
contribuintes, os quais serão convocados para colmatar a ofensa. Isto já não
falando na aposta, desenhada ao pormenor, pelos ditos, competentíssimos e
certeiros causidíacos, da prescrição dos crimes de que Isaltino é acusado. Conclusão:
A Justiça portuguesa é uma paródia, continuando a contribuir substancialmente
para o anedotário nacional, e Isaltino, e outros quejandos, riem-se
perdidamente.
sexta-feira, setembro 30, 2011
Marco Catão vs Isaltino Morais
«Isaltino Morais, presidente da Câmara Municipal de Oeiras, foi detido, por volta das 20 horas de quinta-feira, pelo Grupo de Investigação Criminal da PSP de Oeiras, no "cumprimento de um mandado de detenção". O autarca foi levado para a zona prisional anexa à Polícia Judiciária (PJ), na Rua Gomes Freire, em Lisboa, onde deverá cumprir os dois anos de cadeia a que foi condenado pelo Supremo Tribunal de Justiça, por fraude fiscal, abuso de poder, corrupção passiva para acto ilícito e branqueamento de capitais. (...)»
Excerto da notícia do DIÁRIO DE NOTÍCIAS
on-line de 30 de Setembro de 2011
Meu comentário: Isaltino Morais não
seguiu os conselhos de Marco Pórcio Catão, magistrado, político e militar romano
que viveu entre 234 e 149 A.C., quando dizia que não censurava os que tiravam
partido dos saques dos inimigos derrotados, mas que, no seu caso, preferia
rivalizar em virtude com os mais virtuosos a competir em riqueza com os ricos
ou em cobiça com os rapaces.
quinta-feira, setembro 29, 2011
Memórias de uma Aula no Liceu de Setúbal
Barreiro,
4 de Outubro de 1967 (Quarta-feira)
SEGUNDO
dia de aulas. Continua o desassossego, com o pessoal a trocar beijos, abraços e
confidências, depois desta longa separação que foram 3 meses e meio de férias.
Estávamos todos fartos do verão, com saudades uns dos outros. A sala é a mesma
do ano passado, no 1º andar e cheirava a nova, tudo encerado e polido, apesar
do material já ser mais do que velho. Somos o 7.º A e como não chumbou nem veio
ninguém de
novo, a pauta é exactamente igual à do ano passado. Eu sou o n.º 34, e fico
sentada na segunda fila, do lado da janela, cá atrás, que é o lugar dos mais
altos. Hoje
tivemos, pela primeira vez, Organização Política e apareceu-nos um professor
novo, acho que é a primeira vez que dá aulas em Setúbal, dizem que veio corrido
de um liceu de Coimbra, por causa da política.
Já
ontem se falava à boca cheia dele, havia malta muito excitada e contente porque
dizem que ele é um fadista afamado. Tenho realmente uma vaga ideia de ouvir o
meu tio Diamantino falar dele, mas já não sei se foi por causa da cantoria se
por causa da política. A Inês contou que ouviu o pai comentar, em casa, que o
homem é todo revolucionário, arranja sarilhos por todo o lado onde passa. Ela
diz que ele já esteve preso por causa da política, é capaz de ser comunista.
Diferente dos outros professores, é de certeza. Quando entrou na sala, já tinha
dado o segundo toque, estava quase no limite da falta. Entrou por ali a dentro,
todo despenteado, com uma gabardine na mão e enquanto a atirava para cima da
secretária, perguntou-nos:
-
Vocês são o 7.º A, não são? Desculpem o atraso mas enganei-me e fui parar a
outra sala. Não faz mal. Se vocês chegarem atrasados também não vos vou chatear.
Tinha
um ar simpático, ligeiro, um visual que não se enquadrava nada com a imagem de
todos os outros professores. Deu para perceber que as primeiras palavras,
aliadas à postura solta e descontraída, começavam a
cativar toda a gente. A Carolina virou-se para trás e disse-me que já o tinha
visto na televisão, a cantar Fado de Coimbra. Realmente o rosto não me era
estranho. É alto, feições correctas, embora os dentes não sejam um modelo de
perfeição e é bem parecido, digamos que um homem interessante para se olhar. O
Artur soprou-me que ele deve ter uns 36 anos e acho que sim, nota-se que já é
velho. Depois das primeiras palavras, sentou-se na secretária, abriu o livro de
ponto, rabiscou o que tinha a escrever e ficou uns cinco minutos, em silêncio,
a olhar o pátio vazio, através das janelas da sala, impecavelmente limpas.
Enquanto
ele estava nesta espécie de marasmo nós começámos a bichanar uns com os outros,
cada um emitindo a sua opinião, fazendo conjecturas. Às tantas, o bichanar foi
subindo de tom e já era uma algazarra tão grande que parece tê-lo acordado.
Outro qualquer professor já nos teria pregado um raspanete, coberto de ameaças,
mas ele não disse nada, como se não tivesse ouvido ou, melhor, não se importasse.
Aliás, aposto que nem nos ouviu. O ar dele, enquanto esteve ausente, era tão
distante que mais parecia ter-se, efectivamente, evadido da sala. Quando
recomeçou a falar connosco, em pé, em cima do estrado, já tinha ganho o
primeiro round de simpatia. Depois, veio o mais surpreendente:
-
Bem, eu sou o vosso novo professor de Organização Política, mas devo dizer-vos
que não percebo nada disto. Vocês já deram isto o ano passado, não foi? Então
sabem, de certeza, mais que eu.
Gargalhada
geral.
-
Podem rir porque é verdade. Eu não percebo nada disto, as minhas disciplinas,
aquelas em que me formei, são História e Filosofia, não tenho culpa que me
tivessem posto aqui, tipo castigo, para dar uma matéria que não conheço, nem me
interessa. Podia estudar para vir aqui desbobinar, tipo papagaio, mas não estou
para isso. Não entro em palhaçadas.
Voltámos
a rir, numa sonora gargalhada, tipo coro afinado, mas ele ficou impávido e
sereno. Continuava a mostrar um semblante discreto, calmo, simpático.
-
Pois é, não vou sobrecarregar a minha massa cinzenta com coisas absolutamente
inúteis e falsas. Tudo isto é uma fantochada sem interesse. Não vou perder um
minuto do meu estudo com esta porcaria.
Começámos
a olhar uns para outros, espantados; nunca na vida nos tinha passado pela
frente um professor com tamanha ousadia.
-
Eu estudaria, isso sim, uma Organização Política que funcionasse, como noutros
países acontece, não é esta fantochada que não passa de pura teoria. Na prática
não existe, é uma Constituição carregada de falsidade. Portugal vive numa
democracia de fachada, este regime que nos governa é uma ditadura desumana e
cruel.
Não
se ouvia uma mosca na sala. Os rostos tinham deixado cair o sorriso e estavam
agora absolutamente atónitos, vidrados no rosto e nas palavras daquele homem
ímpar. O que ele nos estava a dizer é o que ouvimos comentar, todos os dias,
aos nossos pais, mas sempre com as devidas recomendações para não o repetirmos
na rua porque nunca se sabe quem ouve. A Pide persegue toda a gente como uma
nuvem de fumo branco, que se sente mas não se apalpa.
-
Repito: eu não percebo nada desta disciplina que vos venho leccionar, nem quero
perceber. Estou-me nas tintas para esta porcaria. Mas, atenção, vocês é outra
coisa. Vocês vão ter que estudar porque, no final do ano, vão ter que fazer
exame para concluírem o vosso 7.º ano e poderem entrar na Faculdade. Isso,
vocês têm que fazer. Estudar. Para serem homens e mulheres cultos para poderem
combater, cada um onde estiver, esta ditadura infame que está a destruir a
vossa pátria e a dos vossos filhos. Vocês são o amanhã e são vocês que têm que lutar
por um novo país.
- Não
vão precisar de mim para estudar esta materiazinha de chacha, basta estudarem
umas horas e empinam isto num instante. Isto não vale nada. Eu venho dar aulas,
preciso de vir, preciso de ganhar a vida, mas as minhas aulas vão ser aulas de
cultura e política geral. Vão ficar a saber que há países onde existem regimes
diferentes deste, que nos oprime, países onde há liberdade de pensamento e de
expressão, educação para todos, cuidados de saúde que não são apenas para os privilegiados,
enfim, outras coisas que a seu tempo vos ensinarei. Percebem? Nós temos que
aprender a não ser autómatos, a pensar pela nossa cabeça. O Salazar quer fazer
de vocês, a juventude deste país, carneiros, mas eu não vou deixar que os meus
alunos o sejam. Vou abrir-lhes a porta do conhecimento, da cultura e da
verdade. Vou ensinar-lhes que, além fronteiras, há outros mundos e outras
hipóteses de vida, que não se configuram a esta ditadura de miséria social e cultural.
- Outra
coisa: vou ter que vos dar um ponto por período porque vocês têm que ter notas
para ir a exame. O ponto que farei será com perguntas do vosso livro que terão
que ter a paciência de estudar. A matéria é uma falsidade do princípio ao fim,
mas não há volta a dar, para atingirem os vossos mais altos objectivos. Têm que
estudar. Se quiserem copiar é com vocês, não vou andar, feita toupeira, a
fiscalizá-los, se quiserem trazer o livro e copiar, é uma decisão vossa, no
entanto acho que devem começar a endireitar este país no sentido da
honestidade, sim porque o nosso país é um país de bufos, de corruptos e de
vigaristas. Não falo de vocês, jovens, falo dos homens da minha idade e mais velhos,
em qualquer quadrante da sociedade. Nós temos sempre que mostrar o que somos,
temos que ser dignos connosco para sermos dignos com os outros. Por isso, acho
que não devem copiar. Há que criar princípios de honestidade e isso começa em
vocês, os futuros homens e mulheres de Portugal. Não concordam? Bem, por hoje é
tudo, podem sair. Vemo-nos na próxima aula.
Espantoso.
Quando ele terminou estava tudo lívido, sem palavras. Que fenómeno é este que
aterrou em Setúbal? Já me esquecia de escrever. Esta ave rara, o nosso
professor de Organização Política, chama-se Zeca Afonso.
NOTA
– Texto não assinado, recebido por e-mail.
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