domingo, maio 08, 2011

Música para o Festim

OH MARIA, hoje não vamos ouvir música de câmara! Hoje vou dar música, ou melhor, vou fazer uma comunicação ao país. E assim, o Presidente, baixou as mangas, vestiu o fatinho, afivelou um semblante circunspecto, trocou a pacatez do Facebook pelo auditório das televisões em horário nobre, e decidiu vir dizer-nos que está vivo, atento e preocupado, só que um bocadinho mais aliviado. O assunto, tinha a ver com a assistência financeira ao país, sob a forma de empréstimo, e como se previa decorreu naquela habitual toada monocórdica, generalista e pachorrenta, que não aquece nem arrefece.

O interesse da intervenção destinava-se essencialmente aos cidadãos distraídos, que por uma razão ou por outra, não se aperceberam que andou por cá uma missão tripartida, vulgo "troika", constituída pelo FMI-UE-BCE, a fazer um programa de governo que satisfizesse as exigências dos financiadores da emergência financeira e eminente bancarrota. Sua Excelência voltou a insistir numa música de se tornou popular entre os comentadores, isto é, que continuamos a viver acima das nossas possibilidades, a gastar mais do que aquilo que produzimos e a endividarmo-nos permanentemente perante o estrangeiro, metendo no mesmo saco o povo que vive na penúria e continua a ser cruelmente esbulhado pelo Estado, à mistura com o governantes que se refestelam à mesa do orçamento a encher os bolsos dos padrinhos, compadres e amigos, e com os banqueiros que se regalam a dois carrinhos, esbulhando o povo e o Estado. Sua Excelência, para deixar as tintas bem carregadas, faz coro com as pitonizas do “estado mínimo”, e insiste em co-responsabilizar o povo, pelo desbarato das contas públicas, pela incompetência, negligência e as incorrectas soluções políticas adoptadas, acrescentando, de forma paternalista, que o empréstimo de 78 mil milhões de Euros foi celebrado tendo em vista o interesse dos portugueses e das famílias, os quais sempre estiveram em primeiro lugar nas preocupações das governações, o que não é bem verdade.

A banca a operar em Portugal obteve do Banco Central Europeu (BCE), entre 2008 e 2010, a módica quantia de 82.614 milhões de Euros, pela qual pagou 1% de juro, ou seja 826 milhões de Euros. No mesmo período, cobrando juros de 5,05% e 6,87%, a banca embolsou, segundo fonte do Banco de Portugal, um resultado líquido de 3.828 milhões de Euros. Se nos ativermos apenas ao ano de 2010, os cinco maiores bancos nacionais tiveram lucros superiores a 3,9 milhões de Euros por dia, e pagaram menos 55% de impostos que em 2009. Ou seja, os bancos cavalgaram as mais variadas práticas de agiotagem e especulação, estiveram directa ou indirectamente relacionados com a crise, beneficiaram com ela e são os mesmos que agora exigem, por intermédio dos governos que influenciam, que sejam os trabalhadores a suportar a maior fatia de sacrifícios, com a penúria, a pobreza e o desemprego a atingirem números insuportáveis, e a nível social a ocorrerem rupturas que se prevêm altamente críticas e problemáticas.

Entretanto, da ajuda de 78 mil milhões de Euros, proposta pela “troika”, entre 2011 e 2013, só aos bancos irá caber uma tranche de 12 mil milhões de Euros, isto é, quase a sexta parte (15,4%) do empréstimo. Não admira que estejam sorridentes e que declarem, em coro com José Sócrates, que o resultado destas negociações, para eles, foi francamente positivo. A verdade é que, seja qual for a letra que se cante e a música que se toque, as hienas, os chacais e os lobos vestidos de cordeiros, mesmo exibindo fisionomias condoídas, todos se chegam à frente para esbulhar quem ainda pode ser esbulhado, e entrar animadamente no festim.

quinta-feira, maio 05, 2011

O Troca-Tintas

HÁ algumas semanas atrás, mais exactamente em 20 de Março deste ano, aquando da perspectiva de rejeição do PEC4 pela Assembleia da República, Sócrates garantia aos portugueses que não estava disponível para governar o país com a ajuda do Fundo Monetário Internacional (FMI), tendo-se posteriormente demitido. Anteontem (3 de Maio), frente às câmaras de TV e com o bibelot Teixeira dos Santos ao lado, o troca-tintas levou a cabo mais uma das suas habituais pantominas. Assegurou que “o Governo conseguiu um bom acordo”, limitando-se a apontar o que aquele não contemplava, escondendo todo o restante, e dando a ilusão de que o seu impacto tinha sido atenuado, por obra e graça da intervenção do governo, e aproveitando-se desse ardil para reclamar e facturar créditos eleitorais. Como é claro, e apesar de ter dito o contrário, o certo é que, seja com FMI ou sem FMI, o troca-tintas anda impaciente por voltar a ganhar eleições e ser novamente governo.


NOTA - Após a conferência de imprensa sem direito a perguntas, estranhei que os jornais on-line exibissem do evento uma foto de Sócrates, sem Teixeira dos Santos e tirada noutro local, logo noutra altura. Só hoje vim a saber que na dita conferência de imprensa, não foram permitidos fotógrafos, para além do(s) creditado(s) oficialmente. Curiosamente, nenhum meio de comunicação referiu esta originalidade.

terça-feira, maio 03, 2011

Governo de Gestão

O MINISTRO da defesa canta louvores de circunstância sobre a beneplácita execução de Osama Bin Laden, em vez do competente e esperado julgamento, ao passo que o presidente Aníbal manda ao presidente Obama um telegrama de regozijo. O ministro das finanças desapareceu de circulação, o ministro da economia, idem, idem, aspas, aspas, enquanto que dos restantes membros do governo, nem água vai, nem água vem, apenas silêncio absoluto. Já o primeiro-ministro, como lhe compete, anda a fazer propaganda eleitoral com a inauguração das novas e velhas escolas, isto é, anda a falar das cores, dos espaços, da arquitectura, das tecnologias, da modernidade, das oportunidades e das noites sem dormir com a preocupação das inovações, em duas palavras, a fazer exactamente aquilo que se esperava que fizesse um feirante de promessas de contrafacção, ou o desacreditado líder de um descongestionado governo de gestão, que vai deixando o terreno livre para que o triunvirato FMI-UE-BCE tome conta do país devoluto.

Políticas Ruinosas e Responsabilidade Política

NÃO é meu hábito escrever “postais de amor” a pessoas que dizem verdades, porque as verdades, mesmo doendo, mas porque são verdades, passam sempre incólumes, e o que nos deve preocupar são as mentiras e as malfeitorias. No entanto, desta vez abro uma excepção com o prof. Eduardo Catroga, quando ele diz que “o fartar vilanagem de Sócrates foi uma tragédia nacional [e que] as gerações mais jovens deviam pôr este Governo em tribunal”, muito embora eu não restringisse esse anseio de justiça apenas aos mais jovens, pois o esbanjamento, confisco e ruína da sociedade portuguesa abrange todas as gerações, sobretudo as de menores recursos, e não incriminaria apenas Sócrates, mas para o rigoroso apuramento de responsabilidades, recuaria até aos governos de Cavaco Silva, de que o prof. Catroga fez parte. Embora saibamos que aos políticos apenas se pode pedir responsabilidades políticas, e que os resultados eleitorais são os únicos passíveis de sancionar as suas acções enquanto políticos, não é menos verdade que devia haver limites para tal imunidade, sobretudo quando se acorrentam as futuras gerações a compromissos ruinosos e intoleráveis, e que parece não terem outro objectivo senão o de criarem condições de perpetuação no poder, de uma dada força política, isto é, tornar o país refém das soluções e promessas que ninguém mais consegue assegurar, a não ser o político-ilusionista.

segunda-feira, maio 02, 2011

Resultados da "ajuda" à Grécia

«Há um ano o FMI ocupou a Grécia, altura certa para se saber o que lá aconteceu depois do resgate do país. Boa altura, também, para se saber o que por cá pode acontecer se for para a frente o plano de rendição que a troika do PS, do PSD e do CDS está a negociar. Só que não parece haver muita vontade em fazer essa análise: para além de notícias de ocasião, nenhum proeminente analista ou editor parece empenhado em promover uma vasta informação e debate sobre as consequências da "ajuda" do FMI à Grécia.

Há um ano, a dívida da Grécia a 10 anos atingia juros insustentáveis, próximos dos 9%; há dias, no mercado secundário, eram de 13,35% (e os juros da dívida a 2 e a 5 anos estavam, respectivamente, a 17,9% e 15,6%)! Ou seja: depois do FMI e a UE terem "ajudado" a Grécia com 110 mil milhões de euros, os mercados "não se acalmaram". As consequências da "ajuda" à Grécia são indisfarçáveis: recessão profunda, dezenas de milhares de pensionistas na miséria, centenas de milhares de desempregados sem qualquer rendimento; cortes salariais de 7% na função pública e de mais de 12% no sector privado, cortes de 30% no subsídio de férias e de 60% no subsídio de Natal; alterações na lei dos despedimentos; um plano de privatizações de 65 mil milhões de euros até 2015; taxa reduzida de IVA a 11% e normal a 23%, diminuição de 20% no salário mínimo.

Isto é ajuda? É inevitável? Há comentadores e analistas que insistem em apelos à falsa unidade e responsabilidade, que amedrontam o país e omitem ou menorizam as alternativas. Participar em falsos consensos só é possível para quem executa as políticas que levaram Portugal ao abismo. Por isso, neste 25 de Abril, há que responsabilizar quem nos conduziu a esta situação e insistir nas alternativas
!»

Artigo de opinião de Honório Novo, economista e deputado do PCP, publicado no JORNAL DE NOTÍCIAS on-line.

domingo, maio 01, 2011

De Chicago 1886 a Portugal 2011

O recado tem 125 anos, e é dirigido aos economistas, aos gestores, às empresas, principalmente aos governos, e a toda a sociedade em geral, e diz o seguinte: os trabalhadores serão sempre a força motriz e a principal riqueza das nações, e eles sabem isso.

sábado, abril 30, 2011

Já Podemos ir ao Fundo Descansados

O SUBMARINO "Arpão" é esperado hoje em Lisboa e vem juntar-se ao seu gémeo "Tridente", ficando assim reequipada a nossa esquadra de submersíveis, a qual implicou um esforço orçamental de mil milhões de euros (preço especial), o que para nós, e atendendo às actuais circunstâncias, é uma verba quase insignificante.

Entre as principais características destacam-se as capacidades furtivas, grande autonomia em navegação à superfície e em imersão, armamento sofisticado, sistema de salvamento de emergência, jangadas salva-vidas accionáveis até à profundidade de colapso, sistema de ar respirável de emergência, com tomadas dispersas por todo o navio, uma plataforma de salvamento em cada compartimento estanque, dotações de emergência para 7 dias, dois compartimentos estanques até à profundidade de colapso e fatos de escape para cada elemento da guarnição até 180 metros. Em resumo, já não precisamos de andar preocupados; podemos ir ao fundo, mas vamos descansados…

sexta-feira, abril 29, 2011

As Incoerentes Coerências do “lobby” Bancário

Fernando Ulrich (BPI):
29 Outubro - "Entrada do FMI em Portugal representa perda de credibilidade"
26 Janeiro - "Portugal não precisa do FMI"
31 Março - "Por que é que Portugal não recorreu há mais tempo ao FMI?"

Santos Ferreira (BCP):
12 Janeiro - "Portugal deve evitar o FMI"
2 Fevereiro - "Portugal deve fazer tudo para evitar recorrer ao FMI"
4 Abril - "Ajuda externa é urgente e deve pedir-se já"

Ricardo Salgado (BES):
25 Janeiro - "Não recomendo o FMI para Portugal"
29 Março - "Portugal pode evitar o FMI"
5 Abril - "É urgente pedir apoio... já"

NOTA – Recebido por e-mail

Registo para Memória Futura (38)

«O problema de Portugal não é tanto a dívida pública mas o financiamento da banca e a dívida privada»

Declaração de Dominique Strauss-Kahn, director-geral do Fundo Monetário Internacional
(FMI)

«Quando se olha no concreto para a dívida, verifica-se que a maior parte é privada e não pública. Ou seja, o povo português não viveu acima das suas possibilidades. O que houve foi um sector financeiro e grupos económicos que, na ânsia do lucro, especularam, recorreram a essa dívida, ficando os encargos para o País» - o que quer dizer que «parte significativa da "ajuda externa" agora em negociação vai direitinha para a banca portuguesa»

Declaração de Jerónimo de Sousa, secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP)

quinta-feira, abril 28, 2011

Criatividade Delituosa

O CASO que se segue, no seu aspecto formal, faz-me lembrar aquela história que li há alguns anos, em que dois amigos, um deles artista plástico e o outro filósofo positivista, passeavam no campo, quando a dada altura o artista exclamou:
- Que linda casa está ali naquela encosta maravilhosa!
- Mas não há casa nenhuma naquela encosta, respondeu o positivista.
- Não faz mal, vamos construir uma, retorquiu o artista.

O site DESPESA PÚBLICA (www.despesapublica.com), lançado por um grupo de cidadãos no Dia da Liberdade, 25 de Abril, com o lema "Saiba onde, como e por quem é gasto o dinheiro dos contribuintes", permite concluir o seguinte: existem contratos e adjudicações feitos por ajuste directo, por entidades da administração central, regional ou local, a empresas ainda inexistentes ou criadas pouco dias antes, operações que envolveram valores globais de cerca de 800 mil euros.
Diz a agência LUSA que os casos mais extremos são o dos Serviços Municipalizados de Abrantes, que terão adjudicado uma prestação de serviços a uma sociedade ROC (Revisores Oficiais de Contas) mais de um ano e meio (606 dias) antes de esta ter sido criada, e a Direcção Geral dos Impostos ter adjudicado a compra de uma envelopadora por 14.450 euros a uma empresa que só foi constituída 15 dias depois. Dá que pensar, ou será que isto é uma perversão da chamada “empresa na hora”, a tal que antes de ser já o era?
Sem esquecermos que os contratos e adjudicações por ajuste directo são uma das formas de subverter a tão desejada recuperação económica, que seria fomentada através da competitividade entre empresas, e cujos malefícios são geralmente atribuídos à rigidez das relações laborais e ao Código do Trabalho, temos que acrescentar a isto a proliferação de quadrilhas organizadas que, fruto de boas e delituosas relações, têm acesso e actuam impunemente nos vários patamares da administração pública.

quarta-feira, abril 27, 2011

De Inauguração em Inauguração

DE VISITA a Santo Tirso, um dos concelhos do país com mais desemprego, para inaugurar a remodelação de mais uma escola, sua impertinência o primeiro-ministro do governo de gestão, José Sócrates, entre as loas e banalidades com que costuma abusar da nossa paciência e inteligência, disse que «daqui a uns anos, quando se olhar para trás» estes anos «serão classificados como a maior crise dos últimos 100 anos», acrescentando que «o facto de termos dificuldades não pode contribuir para que se obscureça todos os progressos que o país fez nestes últimos seis anos». E com a frase fácil a resvalar para mais uma mentirola, e a merecer um pano encharcado, ainda acrescentou: «Eu não contribuirei para que isso aconteça».
Pois não, não é preciso. O que tinha para contribuir, já contribuiu, e agradecemos encarecidamente, que não volte a contribuir. Em 5 de Junho vamos fazer por isso.

terça-feira, abril 26, 2011

Danças e Contra-Danças de Quem Anda na Vida...

QUANDO o semanário EXPRESSO me vem contar pormenores do encontro de 13 de Abril, em que José Sócrates e Passos Coelho andaram aos gritos, quando discutiam assuntos relacionados com a intervenção do FMI, e aquilo ter acontecido depois de o engenheiro incompleto ter dito que para dançar o tango eram precisos dois, as minhas memórias activaram-se, e veio-me logo à ideia aquele filme de 1999, realizado por Joel Schumacher, e com o título "Destino de Um Ex-Combatente" (original: Flawless). A história conta as andanças e tribulações de um ex-polícia nova-iorquino, reformado, sozinho, deprimido, sem raízes nem amizades, conservador inflexível, alojado numa pensão de quinta categoria, que costumava frequentar, sempre bem ataviado e melhor engraxado, os bailes das associações recriativas do bairro, frequentadas por mulheres que faziam pela vida. Um dia, numa daquelas tardes dançantes, o tal ex-polícia, pavoneando-se, galante e atiradiço, foi assediado por uma das senhoras "suspeitas", com um lânguido "queres dançar comigo?", ao qual ele respondeu com um altivo e rotundo "não, não danço com putas!".
Ora, os últimos desenvolvimentos desta típica intriga doméstica, repleta de arrufos, altercações, acusações e ciumeiras, entre Sócrates e Coelho, como é compreensível, acabam por colocar dúvidas sobre quem quer ter a iniciativa de dançar, pois o tango, é bom lembrá-lo, implica paixão e entrega de corpo e alma, sem reservas. Será Sócrates que quer bailar e Coelho anda a fazer-se esquisito, ou será o inverso? E se quisermos ir um bocado mais longe, perguntar-se-á quem será que quer dormir com quem, ou então qual deles aceita prostituir-se? Afinal, interessante é verificar que qualquer destas três questões é falsa, porque ambos os sujeitos se têm revesado nas iniciativas, adoptando o estilo do jogo combinado, ora agora zangas-te tu, ora agora zango-me eu, muito embora, na vertigem da crise, as cóleras e indignações pareçam genuínas. Na verdade, e bem vistas as coisas, nós é que andamos a ser tangueados…

segunda-feira, abril 25, 2011

25 DE ABRIL

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo

Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)

II - Liberdade

Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.

Sophia de Mello Breyner Andresen – Mar Novo

domingo, abril 24, 2011

Há 37 Anos Faltavam Poucas Horas Para Que Fosse Assim…

«Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os estados socialistas, os corporativos e o estado a que isto chegou. Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos! De maneira que, quem quiser vem comigo para Lisboa e acabamos com isto. Quem for voluntário, sai e forma. Quem não quiser vir não é obrigado e fica aqui!»

Na madrugada de 25 de Abril de 1974, na parada da Escola Prática de Cavalaria de Santarém, todos os 240 homens que ouviram estas palavras, ditas da forma serena mas firme, tão característica do Capitão Fernando José Salgueiro Maia (1944-1992), formaram de imediato à sua frente. Depois seguíram para Lisboa e marcharam sobre a ditadura e fez-se História, acrescento eu.

Fonte: Wikipédia

sábado, abril 23, 2011

Outro Galo Cantaria...

UMA procissão religiosa nocturna em Amarante, ocorrida na via pública, sem a competente autorização, sem serem respeitadas as regras de segurança mínimas, e desprovida de qualquer enquadramento de autoridades, foi abalroada por um veículo automóvel, do qual resultaram três mortos, oito feridos graves e quatro ligeiros. Falando de dispositivos de segurança e afins, se em vez de uma procissão fosse uma manifestação contra o governo ou o FMI, outro galo cantaria...

Escolha Acertada…

PARA concorrer às próximas eleições legislativas e não ficar atrás do PSD com a candidatura Nobre, o PS-R (partido Sócrates reconstruído) saiu-se com esta escolha acertada, ficando provado que para se ser deputado basta ter antebraço para votar.

Imagem retirada do JORNAL “i” (Faça clique para aumentar)

sexta-feira, abril 22, 2011

Registo para Memória Futura (37)

ACUSADA pela direcção de Informação de quebra de confiança, a jornalista Sofia Branco foi demitida de editora da agência Lusa, por se ter recusado a escrever em 18 de Fevereiro de 2011, 24 horas antes de ser dita, uma frase do primeiro-ministro, que lhe estava a ser ditada ao telefone por um assessor de José Sócrates.

quinta-feira, abril 21, 2011

Momento Lacão, Sentença Sem Perdão

O INTRADUZÍVEL ministro dos Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão, produziu ontem, perante a Comissão Permanente da Assembleia da República, uma sentença que me deixou estarrecido, quase à beira de me sentir na pele de um qualquer Miguel de Vasconcelos. Declarou ele que, dado o sensível momento que se vive de envolvimento com as instâncias internacionais, isto é, o FMI & Companhia, que quem levanta, sistematicamente, dúvidas sobre a transparência, rigor e idoneidade das Contas Públicas nacionais, compromete as negociações, e com isso está a assumir uma inadequada atitude anti-patriótica.
Depois de Jorge Coelho ter ameaçado com aquele "quem se mete com o PS, leva!", e António Vitorino ter recomendado aquele triunfante genérico “habituem-se!” quando ocorreu a maioria absoluta do PS em 2005, chegou agora o “momento Lacão”, com aquela avaliação de carácter, que fica a meio caminho entre o anti-patriota e a alta-traição, mas que pode muito bem levar a vias de facto, e sabe-se lá, acabar de forma dramática.
Como é fácil de perceber, esta factura ficará a expensas do lastimoso bolso de (quase) todos os portugueses, essa espécie de contribuintes que nunca verá o real valor do que andou a pagar ao Estado, convertido em prestações sociais decentes. Claro está que não falo de todos os outros que acham que isto assim é que está bem, e que não se deve incomodar aquela gente gira que anda bem montada, veste-se bem, vai às modas, vai a festas, é accionista, tem gestores de fortuna, joga nos bancos, nos casinos, nos dados, na roleta, no golfe (com IVA a taxa reduzidíssima), e que não quer saber de desgraças.

terça-feira, abril 19, 2011

Os Superiores Interesses do País

O Presidente da República anda a falar da reserva que se deve adoptar, no que respeita às negociações em curso com o FMI & Companhia, por estar em causa o superior interesse nacional, como se isso não tivesse nada a ver com os interesses dos portugueses. A sua prometida “magistratura activa”, não passa da magistratura do silêncio e do consentimento. Ao silêncio do passado, quer acrescentar mais silêncio no presente, querendo passar uma esponja sobre o facto de as dificuldades a que o país chegou, terem sido obra do governo e dos seus apoiantes de ocasião, onde se inclui a própria Presidência da República, enquando assistiu impávida e serena, ao desenrolar da crise, sem ter mexido uma palha.

Cavaco Silva, do alto da sua coxa cátedra, envia conselhos e manda-nos aguardar pianinho, enquanto se fazem as "análises e discussões técnicas da situação portuguesa", com que a "troika" anda a preparar a nossa caminha. Se tivesse estado atento (ou fosse de seu interesse), teria verificado que, de há alguns anos a esta parte, houve muita gente que andou a fazer diagnósticos e a sugerir soluções, não própriamente coincidentes com os seus pontos de vista e os do governo. Como é fácil de perceber, a machadada que agora se anuncia sobre a nossa soberania, tem mais a ver com os “superiores interesses do país” que ele defende, e com a factura que a agiotagem do FMI & Companhia irá cobrar, isto é, um empobrecimento generalizado do tecido social, garantidas as alavancas do poder e salvaguardados os interesses do grande capital, sobretudo financeiro.

sábado, abril 16, 2011

Ninguém Confirma nem Desmente!

EM gravação da TSF, fica-se a saber que, em entrevista à Reuters, Teixeira dos Santos admitiu com toda a naturalidade que parte do resgate financeiro pedido por Portugal venha a servir para ajudar a banca.
Entretanto, já se fala que a parada da ajuda externa pode subir até aos 100.000 milhões de euros.

quinta-feira, abril 14, 2011

Astrologia e Política

UMBERTO Eco, a dado passo do seu romance "O Pêndulo de Foucault" escreveu que «as pessoas nascem sempre sob o signo errado, e estar no mundo de forma digna significa corrigir dia a dia o próprio horóscopo». Mesmo não sendo um apaixonado pela astrologia, penso que a ideia, sobretudo agora que há mais um signo (A Serpente), mais do que dirigida ao comum dos mortais, deveria ser honestamente adoptada pelos políticos e governantes, na medida em que é das suas decisões e comportamentos, que resultam as boas ou más consequências para quem é governado. E os portugueses, com imensas razões de queixa, que o digam!

quarta-feira, abril 13, 2011

Anedota da Semana

«As contas públicas portuguesas são transparentes.»

Declaração em directo para as TVs, em 13 de Abril de 2011 pelas 13h 10m, do ministro Pedro Silva Pereira, após os partidos políticos terem sido recebidos pelo primeiro-ministro Sócrates, na sequência da solicitação do pedido de ajuda externa, solicitado pelo Governo.

Registo para Memória Futura (36)

«O ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, defendeu hoje, no Luxemburgo, que um Governo estável que garanta a governabilidade de Portugal só pode ser encontrada à direita do PS e nunca com uma aliança de esquerda.»

Excerto da notícia do jornal "i" de 13 de Abril de 2011

segunda-feira, abril 11, 2011

Ser e Parecer

«Não há nada mais difícil do que tentar parecer que somos boas pessoas, quando na realidade não o somos.»

Do filme “Where the Truth Lies” (Onde está a verdade?)

domingo, abril 10, 2011

O Que é Isso da Islândia?

O texto que se segue, recebi-o em três e-mails distintos, embora assinados por pessoas diferentes. Como não sei quem é o verdadeiro autor, publico-o assim mesmo, com as respectivas desculpas. O assunto é de grande oportunidade, e na comunicação social portuguesa, fala-se pouco ou quase nada sobre o assunto, porque a cortina de silêncio, interessa a muita gente, sobretudo a que está pouco identificada com os interesses do nosso país. O título do post é de minha autoria.

«Não é impunemente que não se fala da Islândia (o primeiro país a ir à bancarrota com a crise financeira) e na forma como este pequeno país perdido no meio do mar, deu a volta à crise.

Ao poder económico mundial, e especialmente o Europeu, tão proteccionista do sector bancário, não interessa dar notícias de quem lhes bateu o pé e não alinhou nas imposições usurárias que o FMI lhe impôs para a ajudar.

Em 2007 a Islândia entrou na bancarrota por causa do seu endividamento excessivo e pela falência do seu maior Banco que, como todos os outros, se afogou num oceano de crédito mal parado. Exactamente os mesmo motivos que tombaram a Grécia, a Irlanda e Portugal.

A Islândia é uma ilha isolada com cerca de 320 mil habitantes, e que durante muitos anos viveu acima das suas possibilidades graças a estas "macaquices" bancárias, e que a guindaram falaciosamente ao 13º no ranking dos países com melhor nível de vida (numa altura em que Portugal detinha o 40º lugar).

País novo, ainda não integrado na UE, independente desde 1944, foi desde então governado pelo Partido Progressista (PP), que se perpetuou no Poder até levar o país à miséria. Aflito pelas consequências da corrupção com que durante muitos anos conviveu, o PP tratou de correr ao FMI em busca de ajuda. Claro que a usura deste organismo não teve comiseração, e a tal "ajuda" ir-se-ia traduzir em empréstimos a juros elevadíssimos (começariam nos 5,5% e daí para cima), que, feitas as contas por alto, se traduziam num empenhamento das famílias islandesas por 30 anos, durante os quais teriam de pagar uma média de 350 Euros/mês ao FMI. Parte desta ajuda seria para "tapar" o buraco do principal Banco islandês.

Perante tal situação, o país mexeu-se, apareceram movimentos cívicos despojados dos velhos políticos corruptos, com uma ideia base muito simples: os custos das falências bancárias não poderiam ser pagos pelos cidadãos, mas sim pelos accionistas dos Bancos e seus credores. E todos aqueles que assumiram investimentos financeiros de risco, deviam agora aguentar com os seus próprios prejuízos.

O descontentamento foi tal que o Governo foi obrigado a efectuar um referendo, tendo os islandeses, com uma maioria de 93%, recusado a assumir os custos da má gestão bancária e a pactuar com as imposições avaras do FMI.

Num instante, os movimentos cívicos forçaram a queda do Governo e a realização de novas eleições. Foi assim que em 25 de Abril (esta data tem mística) de 2009, a Islândia foi a eleições e recusou votar em partidos que albergassem a velha, caduca e corrupta classe política que os tinha levado àquele estado de penúria. Um partido renovado (Aliança Social Democrata) ganhou as eleições, e conjuntamente com o Movimento Verde de Esquerda, formaram uma coligação que lhes garantiu 34 dos 63 deputados da Assembleia). O partido do poder (PP) perdeu em toda a linha.

Daqui saiu um Governo totalmente renovado, com um programa muito objectivo: aprovar uma nova Constituição, acabar com a economia especulativa em favor de outra produtiva e exportadora, e tratar de ingressar na UE e no Euro logo que o país estivesse em condições de o fazer, pois numa fase daquelas, ter moeda própria (coroa islandesa) e ter o poder de a desvalorizar para implementar as exportações, era fundamental.

Foi assim que se iniciaram as reformas de fundo no país, com o inevitável aumento de impostos, amparado por uma reforma fiscal severa. Os cortes na despesa foram inevitáveis, mas houve o cuidado de não "estragar" os serviços públicos tendo-se o cuidado de separar o que o era de facto, de outro tipo de serviços que haviam sido criados ao longo dos anos apenas para serem amamentados pelo Estado.

As negociações com o FMI foram duras, mas os islandeses não cederam, e conseguiram os tais empréstimos que necessitavam a um juro máximo de 3,3% a pagar nos tais 30 anos. O FMI não tugiu nem mugiu. Sabia que teria de ser assim, ou então a Islândia seguiria sozinha e, atendendo às suas características, poderia transformar-se num exemplo mundial de como sair da crise sem estender a mão à Banca internacional. Um exemplo perigoso demais.

Graças a esta política de não pactuar com os interesses descabidos do neo-liberalismo instalado na Banca, e de não pactuar com o formato do actual capitalismo (estado de selvajaria pura) a Islândia conseguiu, aliada a uma política interna onde os islandeses faziam sacrifícios, mas sabiam porque os faziam e onde ia parar o dinheiro dos seus sacrifícios, sair da recessão já no 3º Trimestre de 2010.

O Governo islandês (comandado por uma senhora de 66 anos) prossegue a sua caminhada, tendo conseguido sair da bancarrota e preparando-se para dias melhores. Os cidadãos estão com o Governo porque este não lhes mentiu, cumpriu com o que o referendo dos 93% lhe tinha ordenado, e os islandeses hoje sabem que não estão a sustentar os corruptos banqueiros do seu país nem a cobrir as fraudes com que durante anos acumularam fortunas monstruosas. Sabem também que deram uma lição à máfia bancária europeia e mundial, pagando-lhes o juro justo pelo que pediram, e não alinhando em especulações. Sabem ainda que o Governo está a trabalhar para eles, cidadãos, e aquilo que é sector público necessário à manutenção de uma assistência e segurança social básica, não foi tocado.

Os islandeses sabem para onde vai cada cêntimo dos seus impostos. Não tardarão meia dúzia de anos, que a Islândia retome o seu lugar nos países mais desenvolvidos do mundo. O actual Governo Islandês, não faz jogadas nas costas dos seus cidadãos. Está a cumprir, de A a Z, com as promessas que fez. Se isto servir para esclarecer uma única pessoa que seja deste pobre país aqui plantado no fundo da Europa, que por cá anda sem eira nem beira ao sabor dos acordos milionários que os seus governantes acertam com o capital internacional, e onde os seus cidadãos passam fome para que as contas dos corruptos se encham até abarrotar, já posso dar por bem empregue o tempo que levei a escrever este artigo.»

Comentários finais:


Diz o jornal PÚBLICO on-line de hoje: «Os islandeses rejeitaram em referendo, pela segunda vez, reembolsar o Reino Unido e a Holanda em 3,9 mil milhões de euros – o dinheiro que estes governos pagaram aos seus cidadãos que investiram na conta Icesave, de um dos bancos islandeses que faliu em 2008, quando o sistema financeiro do país entrou em colapso.»


Acrescento eu: o povo de um país não tem que ser responsabilizado pelas trapaças consentidas pelos seus governos. Para isso há os tribunais, as cadeias e as grandes fortunas que se amontoaram, à custa de vigarices embrulhadas em cantos de sereia.

E se Fossem Privatizar… (2)

NÃO costumo ter o hábito de me repetir desnecessáriamente, mas neste caso acho que se impõe. Em Itália, país que é governado pelo delinquente Silvio Berlusconi, criatura que José Saramago, criativamente, classificou como "a coisa", foi decidido "vender" a "exploração" do Coliseu de Roma, obra construída entre os anos 70 e 90 d.C., desde a sua imagem até ao espaço própriamente dito, a uma empresa privada que comercializa calçado. A emblemática obra, cuja construção foi iniciada pelo imperador Vespasiano e inaugurada por Tito, passa assim da esfera pública para a privada, à boa maneira de quem entende que tudo é negociável e privatizável, com a agravante de que o contrato desta polémica "concessão" também não foi revelado, mantendo-se confidencial, vá-se lá saber porque motivo.
Em Março, a propósito da intenção de Pedro Passos Coelho pretender privatizar a Caixa Geral de Depósitos, recorri ao jargão de José Saramago para emoldurar o assunto. Agora porque a questão, embora ocorrendo em Itália, volta a repetir-se, com a vantagem de coincidir com o tema a que o escritor se referia, isto é, a escandalosa privatização de monumentos históricos, biso com as suas genuínas e certeiras palavras: «... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos»

(*) in Diário de 1 de Setembro 1995 - Cadernos de Lanzarote - Diário III

sábado, abril 09, 2011

Sócrates, o Grande Mestre do Embuste

O ENGENHEIRO incompleto e demissionário José Sócrates, ainda não disse (ou mandou dizer) que é mais uma hedionda mentira, e nós, conhecendo-o como uma pessoa que entre outras aptidões e virtudes, nunca falta à verdade, achamos que isto é mais uma cabala, montada para decapitar a sua credibilidade.

Diz o semanário SOL, na sua edição de 8 de Abril, baseando-se em informações prestadas por elementos da Comisssão Europeia, que estiveram envolvidos nas negociações, que quando José Sócrates assinou em Bruxelas, no passado dia 11 de Março, o acordo com as medidas do PEC IV, sem disso ter dado prévio conhecimento ao Presidente da República, à Assembleia da República, aos partidos políticos e aos parceiros sociais, ficou também estabelecido que a esse acordo se seguiria um pedido de ajuda externa a Portugal, no valor de 80 mil milhões de euros. Este compromisso seria o resultado de negociações entretanto ocorridas, durante o mês de Fevereiro, entre o Governo, o Banco Central Europeu (BCE), a Comissão Europeia (CE) e o Grupo Euro, tendo como desenlace o encontro de Sócrates e Teixeira dos Santos com a chanceler Angela Merkel.

sexta-feira, abril 08, 2011

As Grades – Exílio

Quando a pátria que temos não a temos
Perdida por silêncio e por renúncia
Até a voz do mar se torna exílio
E a luz que nos rodeia é como grades

Sophia de Mello Breyner Andresen – Livro Sexto

quinta-feira, abril 07, 2011

Haja Fartura que a Fome Ninguém a Atura

PARA acrescentar ao facto da administração da Carris se ter auto-recompensado, em 2010, com quatro novas viaturas topo de gama em ALD, apesar de a empresa apresentar prejuízos acumulados no valor de €776,6 milhões, sabe-se agora que o ex-administrador da Portugal Telecom (PT) Rui Pedro Soares, que abandonou a empresa em 17 de Fevereiro de 2010, na sequência do processo "Face Oculta", recebeu em 2010 cerca de €1,2 milhões resultantes de indemnização e salário até quando desempenhou funções, sendo €648,7 mil de indemnização, €104,2 mil de remuneração fixa e €459,4 mil de prémio anual sobre o exercício de 2009. O mesmo tratamento recebeu Fernando Soares Carneiro, também ex-administrador da PT que saiu igualmente no seguimento do processo "Face Oculta", em 22 de Fevereiro de 2010, o qual arrecadou um total de €1,8 milhões, sendo €973 mil de indemnização, €175 mil por compromisso de não concorrência, €201 mil de remuneração fixa e €459,4 mil de prémio anual sobre o ano de 2009.

Tudo isto vem escarrapachado no Relatório e Contas de 2010 da PT, e atesta bem a prodigalidade com que são pagos (ou se fazem pagar) os representantes da "boyada" que infesta cada metro quadrado do país, a qual contribuiu substancialmente para chegarmos ao ponto em que estamos.

quarta-feira, abril 06, 2011

Auditoria às Contas Públicas, Já!

JÁ o tinha dito no meu artigo de 27 de Março último, e volto a repeti-lo. Como é facilmente compreensível, não se deve ir para novo acto eleitoral, do qual sairá um novo governo (se calhar não tão novo como isso), sem saber, com isenção e rigor, o que é que sucedeu nos últimos seis (6) anos às contas públicas, deixando essa tarefa à imaginação, e conversa fiada dos protagonistas políticos, sempre tão loquazes no auge das campanhas eleitorais. Ao não querer falar no assunto, quem é que se quer proteger? Ir para eleições sem préviamente ser efectuada uma auditoria externa às contas públicas, é uma forma de o eleitorado ser uma vez mais enganado, continuando a desconhecer o verdadeiro estado em que foi deixado o "estado da Nação", e arriscando-se este, ingénuamente, a voltar a entregar o ouro que resta, nas mãos de conhecidos tratantes, ou então, na eventualidade de algum novo governo entrar em funções, ouvi-lo durante os próximos anos, como desculpa para a persistência dos maus resultados, a queixar-se amargamente da má governação de quem o antecedeu.

ADENDA – Soube-se há uma hora atrás, que o governo de gestão, depois de ter sido pressionado pelos banqueiros, e de ter negado com veemência que estava em negociações, decidiu pedir ajuda financeira à Comissão Europeia. Essa é também mais uma razão, para exigir que a verdade das contas públicas seja conhecida.

Um Nome e Um Parecer a Reter

«Edmundo Martinho, presidente do Instituto de Segurança Social defendeu esta manhã [4 de Abril] que o valor do subsídio de desemprego deveria ser progressivamente reduzido, para incentivar o regresso ao mercado de trabalho.
(...)

Com a redução dos salários, aumento do desempregro e facilitação dos despedimentos, esta proposta de redução progressiva do subsídio de desemprego é mais uma das chaves necessárias para fechar toda a classe trabalhadora na chantagem dos patrões. Trabalhamos por menos dinheiro ou seremos facilmente despedidos. Estando no desemprego, não teremos outra hipótese que não aceitar a primeira proposta que surgir, com o salário mais baixo possível. (...)»

Transcrição parcial do blog PRECÁRIOS INFLEXIVEIS

terça-feira, abril 05, 2011

Umberto Eco

UMBERTO Eco, o catedrático semiólogo, filósofo, linguista, ensaísta, romancista, de nacionalidade italiana, nascido em 1932, concedeu uma fascinante entrevista a Carlos Vaz Marques, publicada na revista LER Livros & Leitores (passe a publicidade) de Abril de 2011, e que aconselho vivamente. É uma entrevista em que Umberto Eco se desdobra entre a conversa sem compromisso, a aula improvisada, as reflexões em voz alta, senão mesmo a honesta confissão, acabando por dar razão a quem pretende considerá-lo um dos intelectuais vivos, que mais tem influenciado a nossa época, com a sua visão clara e penetrante das coisas. Mas, melhor mesmo, é ler a tal entrevista! Reproduzo apenas um destaque da entrevista, onde Eco afirma que «O livro manterá sempre o seu charme e a sua função. Tenho na minha colecção incunábulos com 500 ou 600 anos, como se tivessem sido imprimidos ontem. Ora nós não temos provas científicas de quanto tempo poderá durar um suporte magnético. Não sabemos sequer se as velhas disquetes duravam 10 anos ou cem anos porque já não há forma de as ler. Estamos frente ao vazio.». Vazios podem ser os tempos, porém, bem rico é o engenho e a arte deste homem, a quem ninguém consegue ficar indiferente.

domingo, abril 03, 2011

Das Convicções às Soluções

A ESQUERDA em Portugal está numa encruzilhada e confronta-se com uma questão urgente: com o país a desmoronar-se como entidade soberana, e os portugueses encostados à parede, a verem que as soluções vão ser mais promessas de paraísos, depois da travessia dos infernos, que fazer? Deixar ficar tudo como está, fechar-se nos seus quintais, insistir na denúncia e na contestação, ou avançar para a construção de uma solução? Já tive muitas convicções, ainda me sobram algumas, mas ilusões já não tenho nenhumas. No ponto em que nos encontramos, apenas domina a confrangedora realidade. Daqui desta bancada de observador e escrevinhador, sugiro que se pense numa coligação entre entre o PCP, o BE e o PEV, com um programa consistente, sem questiúnculas sobre a pureza dos princípios ideológicos, a oportunidade da acção e outras alegações em que habitualmente se envolvem. Os três partidos, valem no seu conjunto (como eu já disse em tempos), em números redondos, quase vinte (20) por cento do eleitorado português. Nessa base, eu arriscava construir uma coligação que daria algum ânimo - que não se deve confundir com ilusão - a muitos milhares de cidadãos portugueses, que se vêm sem perspectiva e sem futuro, uns já encurralados na pobreza e na exclusão, outros na eminência de lá caírem. Se a esquerda descartar esta hipótese, é quase garantido que a História não os absolverá. No meu fraco entendimento, insisto em dizer que esta ideia não é absurda, nem disparatada, nem peregrina. Como é habitual dizer-se, faço questão de a subscrever como um cheque em branco - o que é, diga-se de passagem, um grande risco - mas se calhar, não tão grande como o de ficar calado e de braços cruzados, dizendo que quanto a isso nem pensar, ou que o melhor é deixar tudo com está.


DISSE o Jorge Bateira do blog Ladrões de Bicicletas - escrito que me impressionou pela sua clareza, simplicidade e oportunidade – que "não há, em Portugal, uma esquerda à esquerda dos socialistas disponível para participar em soluções de poder." Diz ele, e bem, que isto é "uma originalidade nacional. Por essa Europa fora partidos ecologistas ou mais à esquerda mostraram, em vários momentos históricos, disponibilidade para governar. E nunca como agora essa disponibilidade foi tão urgente. O que está em causa na Europa [e sobretudo em Portugal] é resistir a uma avalanche que ameaça não deixar pedra sobre pedra no edifício do Estado Social. (...) Mas Portugal tem outra originalidade, em que é acompanhado pela Alemanha e mais um ou outro país europeu: a esquerda à esquerda dos socialistas representa quase vinte por cento dos eleitores. Se quisesse usar a sua força em funções executívas teria um poder extraordinário. (…) Para a utilização desse poder seria necessário, antes de mais, que BE e PCP, em vez de se controlarem mutuamente no seu purismo ideológico, se entendessem no muito em que estão de acordo. E seria necessário que os dois quisessem cumprir a sua obrigação histórica, num momento que exige tanta responsabilidade [e intervenção]. E seria, por fim, necessário que os socialistas não fizessem questão, como fazem [e sempre têm feito], de escolher a direita, do PSD ao CDS, como aliada preferencial (...)” É preciso enviar uma mensagem “dizendo ao PS que, depois da provável travessia do deserto e de se ver livre de um Sócrates sem credibilidade nem pensamento político, tem uma escolha a fazer: ou continua a navegar no pântano político - o que levou o País a esta desgraça -, ou escolhe um lado no combate que se avizinha à escala europeia. Um combate pelo Estado Social e contra a mercantilização de todos os domínios da nossa vida, a precarização das relações sociais e a degradação da democracia. E que para esse combate tem aliados prontos para assumir responsabilidades de poder e para pagar a fatura de fazer essa escolha em tempos difíceis."


QUANDO os eleitores votam no PCP, no BE ou no PEV, não o fazem apenas por desporto ou masoquismo; fazem-no na convicção de que estão a reforçar a sua ligação a estes partidos e a impulsioná-los para assumirem responsabilidades, já não aceitando de bom grado que os partidos de esquerda se disponibilizem a cooperar, apenas e só, naquilo que conseguem controlar na totalidade, remetendo-se, fora disso, ao aconchego das suas trincheiras. Sem falar nas autarquias, há 30 anos que vejo a votação de esquerda ficar reduzida à actividade parlamentar, cada vez mais exígua, porque o voto, dado o acantonamento e isolamento destas forças políticas, começa a ser entendido pelo eleitorado, como voto quase inútil. Os partidos de esquerda, se querem cumprir um desígnio nacional e patriótico, devem acordar num modelo, coerente e com pés para andar, de resistência ao descalabro, dentro da área do poder, agora que se começa a ganhar forma o sonho de Francisco Sá Carneiro, isto é, a Grande Maioria, constituída por um Presidente, um Governo e uma maioria parlamentar. É certo que a democracia tem soluções, mas não tem “a solução”. Mas também é verdade que a democracia pode ser um instrumento, um meio, sem ser um fim em si mesmo, para conter a derrocada, e o advento dos salvadores da pátria, com a reedição de uma “união nacional” de novo tipo. É necessário recentrar a questão do poder, isto é, quem o exerce, como o exerce e para quem o exerce. O povo quer vê-los, aos partidos de esquerda, ombro a ombro, a acertarem iniciativas, a contrairem responsabilidades, a romperem com as políticas que têm levado o país para o abismo, a serem parte da solução, e não como alguém que aguarda, auto-marginalizando-se, que o apocalipse vá consumindo o que ainda sobra, para então entrar em cena, com a Grande Solução.

sexta-feira, abril 01, 2011

Biografias de Cordel

HOJE que é o tradicional “dias das mentiras”, para variar, apetece-me falar de trivialidades. Assim, falemos das biografias de cordel, que são uma epidemia, e quase todas têm as mesmas características em comum: são demasiado prematuras, habitualmente encomendadas a jornalistas dispostos a escrever sobre um certo cavalheiro ou madame, cuja imagem precisa de ser bem embrulhada para ser vendável, elogiosas a tal ponto, que raramente correspondem à realidade, servindo apenas para enfatizar e dar brilho ao cavalheiro ou madame em questão. Começou com o sublime José Sócrates, o tal "menino de ouro do PS", e agora, para não destoar, com Pedro Passos Coelho que se anuncia como "um homem invulgar". É obra! Ainda ontem andavam de fraldas e com ranho no nariz, e hoje até já têm biografia nos escaparates das livrarias. Cá por mim, e à falta de coisa com mais substância, prefiro o Almanaque Borda d’Água.

quinta-feira, março 31, 2011

O Governo e as Contas do Merceeiro

«O défice público registado por Portugal durante o ano passado foi de 8,6 por cento, um valor que fica acima dos 7,3 por cento previstos pelo Governo. A dívida pública superou a barreira dos 90 por cento pela primeira vez. Os dados hoje divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística confirmam que a inclusão das imparidades do BPN nas contas públicas e a inclusão no perímetro das Administrações Públicas de três empresas de transporte - a Refer, o Metro de Lisboa e o Metro do Porto - tiveram um impacto nos valores do défice e da dívida que são entregues a Bruxelas. A execução das garantias do BPP também teve impacto negativo.»

Excerto da notícia do jornal PÚBLICO on-line, em 31 de Março de 2011

Meu comentário - Com uma dúzia de celas disponíveis e alguns mandatos de captura, talvez se resolvesse o problema da impunidade com que este bando de malfeitores e flibusteiros anda a levar o país à bancarrota.

quarta-feira, março 30, 2011

E o Povo, Pá?

Subscrevo o conteúdo do primeiro post deste blog, publicado em 2011 Março 28.

Não desistam!

Faça clique na imagem para uma visita.

Como é que isto há-de funcionar?

Muito melhor que SUDOKU, e com força de Lei, temos este passatempo publicado em Diário da República:

O Art. 1º do Decreto-Lei 35/2010 de 15 de Abril começa da seguinte forma:

«Os artigos 143.º e 144.º do Código do Processo Civil aprovado pelo Decreto -Lei n.º 44 129, de 28 de Dezembro de 1961, alterado pelo Decreto -Lei n.º 47 690, de 11 de Maio de 1967, pela Lei n.º 2140, de 14 de Março de 1969, pelo Decreto -Lei n.º 323/70, de 11 de Julho, pela Portaria n.º 439/74, de 10 de Julho, pelos Decretos -Leis n.os 261/75, de 27 de Maio, 165/76, de 1 de Março, 201/76, de 19 de Março, 366/76, de 15 de Maio, 605/76, de 24 de Julho, 738/76, de 16 de Outubro, 368/77, de 3 de Setembro, e 533/77, de 30 de Dezembro, pela Lei n.º 21/78, de 3 de Maio, pelos Decretos -Leis n.os 513 -X/79, de 27 de Dezembro, 207/80, de 1 de Julho, 457/80, de 10 de Outubro, 224/82, de 8 de Junho, e 400/82, de 23 de Setembro, pela Lei n.º 3/83, de 26 de Fevereiro, pelos Decretos -Leis n.os 128/83, de 12 de Março, 242/85, de 9 de Julho, 381 -A/85, de 28 de Setembro e 177/86, de 2 de Julho, pela Lei n.º 31/86, de 29 de Agosto, pelos Decretos -Leis n.os 92/88, de 17 de Março, 321 -B/90, de 15 de Outubro, 211/91, de 14 de Junho, 132/93, de 23 de Abril, 227/94, de 8 de Setembro, 39/95, de 15 de Fevereiro, 329 -A/95, de 12 de Dezembro, pela Lei n.º 6/96, de 29 de Fevereiro, pelos Decretos -Leis n.os 180/96, de 25 de Setembro, 125/98, de 12 de Maio, 269/98, de 1 de Setembro, e 315/98, de 20 de Outubro, pela Lei n.º 3/99, de 13 de Janeiro, pelos Decretos -Leis n.os 375 -A/99, de 20 de Setembro, e 183/2000, de 10 de Agosto, pela Lei n.º 30 -D/2000, de 20 de Dezembro, pelos Decretos -Leis n.os 272/2001, de 13 de Outubro, e 323/2001, de 17 de Dezembro, pela Lei n.º 13/2002, de 19 de Fevereiro, e pelos Decretos--Leis n.os 38/2003, de 8 de Março, 199/2003, de 10 de Setembro, 324/2003, de 27 de Dezembro, e 53/2004, de 18 de Março, pela Leis n.º 6/2006, de 27 de Fevereiro, pelo Decreto -Lei n.º 76 -A/2006, de 29 de Março, pelas Leis n.º 14/2006, de 26 de Abril e 53 -A/2006, de 29 de Dezembro, pelos Decretos -Leis n.os 8/2007, de 17 de Janeiro, 303/2007, de 24 de Agosto, 34/2008, de 26 de Fevereiro, 116/2008, de 4 de Julho, pelas Leis n.os 52/2008, de 28 de Agosto, e 61/2008, de 31 de Outubro, pelo Decreto -Lei n.º 226/2008, de 20 de Novembro, e pela Lei n.º 29/2009, de 29 de Junho, passam a ter a seguinte redacção: (…)»

terça-feira, março 29, 2011

E se Fossem Privatizar…

PASSOS Coelho, o putativo candidato a primeiro-ministro, admite, entre outros leilões, saldos e promoções, vir a privatizar a Caixa Geral de Depósitos (CGD). Não me consigo conter, e recorro ao vernáculo de José Saramago (*), quando disse, sobre a mesma temática, «... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos».

(*) in Cadernos de Lanzarote - Diário III

segunda-feira, março 28, 2011

Serviço Rápido e Completo

NUMA resposta escrita a uma pergunta enviada pela Bloomberg, e que foi hoje revelada por aquela agência, o Presidente da República Cavaco Silva, mesmo antes de transmitir a informação ao país (os maus exemplos aprendem-se depressa), assegurou que recebeu a garantia dos partidos PS, PSD e CDS-PP do seu "compromisso inequívoco" de apoio às metas já estabelecidas de redução do défice, e à estratégia de consolidação orçamental, já anunciadas pelo Governo demissionário de José Socrates, "por forma a garantir a trajectória de sustentabilidade da dívida pública".Para que o serviço fique completo, e a magistratura passe de “activa” a “acelerada”, falta apenas (se não o fez já) que a Presidência da República envie um e-mail à senhora Angela Merkel, com conhecimento aos restantes membros da União Europeia, revelando o tal compromisso e as respectivas garantias.

Buracos Negros (5)

Armando Vara, arguido do processo "Face Oculta", e por esse motivo suspenso e depois demitido das suas funções como administrador do Millennium BCP, foi agraciado, no ano de 2010, com 260.000 euros de remunerações, mesmo sem ter estado ao serviço, bem como um acerto de contas de 562.192 euros por ter saído antes do mandato, o que perfaz a simpática maquia de 882.192 euros (176.863 contos, na moeda antiga). Sem contabilizar as caixas de robalos que se poderiam comprar com esta verba, uma coisa é certa: com este aconchego financeiro, é garantido que a crise lhe está a passar ao lado.


«O antigo director da delegação de Braga do Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social (IGFSS), Fernando Salgado, vai ser julgado no Tribunal de Famalicão por alegadamente se ter apoderado de mais de 187 mil euros que eram destinados aos cofres do Estado.»


Excerto da notícia do JORNAL DE NOTÍCIAS de 27 de Março 2011


Numa altura em que se fala de combater o défice e reduzir as despesas do aparelho de Estado, o Governo aumenta os montantes que podem ser gastos por ajuste directo e sem concurso público. Assim, ministros, autarcas e directores-gerais, a partir de 1 Abril de 2011, estão autorizados a gastar mais dinheiro, sem concurso público nem visto do Tribunal de Contas. No caso dos directores-gerais o montante passa de 100 mil para 750 mil euros, os presidentes de câmara podem decidir por ajuste directo até 900 mil euros (até agora o máximo era de 150 mil), o primeiro-ministro passa de 7,5 para 11,2 milhões de euros, e os ministros de 3,75 para 5,6 milhões. Esta iniciativa do Governo (Decreto-Lei 40/2011) foi publicada na véspera do debate parlamentar do Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC IV), que acabou por ser chumbado na Assembleia da República. Enfim, como diz o ditado, “faz o que eu digo, não faças o que eu faço”.


Informação colhida do DIÁRIO DE NOTÍCIAS de 27 de Março de 2011

domingo, março 27, 2011

Sugestão

AS ELEIÇÕES nos clubes de futebol portugueses deviam começar a ser monitorizadas por observadores internacionais, não digo que das Nações Unidas ou da União Europeia, mas penso que a U.E.F.A. era uma escolha razoável.

Quem Tem Medo da Verdade dos Números?

AÍ ESTÁ um assunto que bem podia e devia ser decidido pela Assembleia da República, mesmo com a discordância de Cavaco Silva e da toda-poderosa União Europeia: uma completa e rigorosa auditoria externa às contas do Estado.
Eu pessoalmente, acredito que o problema dos défices é uma farsa, senão mesmo uma mentira pegada, levada a cabo por encenadores, manipuladores e mentirosos diplomados, que, umas vezes como sinal de escassez, outras como de abundância, tem servido para tudo, menos para administrar o país e reflectir a sua situação real.
Tanto o Governo como Cavaco Silva, e sobretudo este último, que diz ser adepto da verdade dos números, e se tem vindo a queixar de escassez de informação, passariam a dispor de dados suplementares sobre o estado das contas públicas, para tomarem as decisões acertadas, e quanto à União Europeia, que sustenta que os eventuais resultados de tal auditoria poderiam perturbar ainda mais os sacrossantos mercados, a experiência diz-nos que os agiotas, quando entendem que devem especular e ferrar os dentes, não estão à espera de boas ou más notícias.

sábado, março 26, 2011

Com Amigos Destes...

O PSD admite a possibilidade de uma nova subida do IVA, que poderá aumentar para 24 ou 25 por cento, para evitar o congelamento das pensões mais baixas e o corte nas mais elevadas. Em linguagem corrente, isto significa que os reformados não são fritos com o congelamento das suas exíguas pensões, mas são churrascados com o aumento do IVA, que incide sobre todos os bens de consumo. Com amigos destes, os reformados (e não só) não precisam de inimigos...

quarta-feira, março 23, 2011

Distribuir Responsabilidades e Arranjar Desculpas

HÁ DOIS meses atrás, alguém do PS (partido Sócrates) reclamava, dizendo que o Presidente da República é alguém que não se deve meter onde não é chamado.
Anteontem, o vetusto Mário Soares, veio dizer que Cavaco Silva, no contexto actual, não devia sacudir a água do capote, mas sim empenhar-se na solução da crise política.
Ontem, a dirigente do PS, Edite Estrela, declarou que o Presidente falou tardiamente e não agiu quando devia, para evitar a crise política decorrente do PEC.
Entretanto, Manuel Alegre rompeu o silêncio que vinha mantendo desde as eleições presidenciais, para afirmar que a crise política deve muito a Cavaco, o qual incendiou o ambiente no país, com o seu discurso de tomada de posse.
Por sua vez, o próprio Cavaco Silva afirmou que a rapidez com que a crise evoluiu, reduziu substancialmente a sua margem de manobra para actuar preventivamente na crise política, e que entretanto vai recolher o máximo de informação sobre o assunto, o que pressupõe que não tem ido aos treinos, além de andar bastante distraído.
Preocupados, uns de uma maneira, outros de outra, em distribuírem responsabilidades e arranjarem desculpas, com isto chega-se à conclusão que não é só o país que está em crise, por obra e graça das malfeitorias da governação, mas também a clarividência de muitos dos actores e opinantes políticos de segunda linha.

II – Jardim

Alguém diz:
«Aqui antigamente ouve roseiras» -
Então as horas
Afastam-se estrangeiras,
Como se o tempo fosse feito de demoras.

Sophia de Mello Breyner Andresen – Poesia

terça-feira, março 22, 2011

A Internacionalização da Mentira

NO FINAL da reunião extraordinária dos ministros das Finanças da Zona Euro, ocorrida ontem, 21 de Março, em Bruxelas, e onde Teixeira dos Santos também esteve presente, Jean-Claude Juncker, ao ser questionado sobre a possibilidade de o novo Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC IV) vir ainda a ser negociado e alterado, lembrou que o mesmo foi avalizado e aprovado na cimeira de há duas semanas, isto é, 11 de Março, pela Comissão Europeia e pelo Banco Central Europeu, nos moldes em que foi apresentado pelo Governo português, logo não via nenhuma razão para que os seus termos e objectivos fossem agora alterados. José Sócrates, não satisfeito em ser o campeão nacional da aldrabice, achou por bem internacionalizar-se, ao dizer que o que tinha levado a Bruxelas eram apenas tópicos e intenções, e que por cá, o pacote de medidas do PEC IV continuava aberto a negociação com os partidos da oposição, isto depois de, numa primeira investida, ter tentado chantagear as oposições com a ameaça do caos e do papão FMI, caso rejeitassem o novo pacote de austeridade.

segunda-feira, março 21, 2011

Há Cada Um!

EM Bruxelas, à entrada para uma reunião de ministros das finanças da União Europeia, Teixeira dos Santos disse que se o governo se demitisse, ele acompanhava. O que é que aconteceria se não acompanhasse?
Há cada um!

Apostas e Jogatanas

«Eu creio que estamos há demasiado tempo a jogar aos dados com o destino da economia portuguesa e dos portugueses. Creio que deveria haver mais responsabilidade política no país, tenho-o dito recorrentemente há mais de um ano.»

Meu comentário - Estas foram palavras do ministro Luís Amado, ditas em Bruxelas, à entrada para uma reunião de ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia. Como é óbvio, quando este senhor se refere que alguém tem andado na jogatana, e também a fazer muitas “apostas”, com a economia portuguesa e os portugueses, só pode estar a referir-se ao Governo de que faz parte...

domingo, março 20, 2011

Só Meia Indisponibilidade

O ENGENHEIRO incompleto José Sócrates, revelou durante a apresentação da sua moção de recandidatura como secretário-geral do PS, que não está disponível para governar o país com a ajuda do Fundo Monetário Internacional (FMI). Era bom que também se tivesse lembrado de dizer que não estava disponível para governar o país com a quarta versão do seus famigerados Planos de Estabilidade e Crescimento (PEC IV). Não ficávamos descansados, mas pelo menos, a indisponibilidade para maltratar os portugueses, seria total.

sábado, março 19, 2011

Dois Pesos e Duas Medidas

GOSTAVA de ter visto o Conselho de Segurança das Nações Unidas actuar com a mesma rapidez e eficácia, e autorizar o uso de todas as medidas necessárias, para proteger a população palestiniana, tanto na Cisjordânia como na Faixa de Gaza, contra os ataques de Israel às populações civis, da mesma forma que se disponibilizou para enfrentar as forças do ditador Muamar Khadafi, que massacram o seu próprio povo.
Será que o petróleo líbio tem alguma coisa a ver com este invulgar frenesim humanitário?

A Cimeira do Governo Sombra

ONTEM de manhã, estava a tomar o pequeno-almoço quando o anão Serapião apareceu de repente, sem avisar, em cima da mesa, a aspirar o aroma das torradas acabadas de fazer.
- Como que é que entraste? Perguntei eu.
- Entrei ontem, dentro do saco das compras da tua mulher, respondeu ele.
- E dormiste onde?
- Atrás da máquina de lavar a louça. Esteve um belo borralho toda a noite…
- Pois é, entra-se por aqui dentro e já nem se diz, nem água vai, nem água vem…
- Precisava de descansar, e já não sou nenhum garoto…
- Pois é, já não és nenhum garoto mas estás sujo, cheiras mal, por onde andaste Serapião?
- Nem imaginas! Mas olha tenho aqui uma coisa que te interessa…
- O que é, não me digas que voltaste a espiar o “animal feroz”?
- Nada disso. É muito melhor!
- Não me venhas com conversa fiada…
- Nem pensar! Assisti ao conselho de ministros do governo sombra.
- Qual governo sombra, o do PSD?
- Nada disso. Aninhei-me num cantinho da pasta do Ricardo do BES e assisti à cimeira dos banqueiros, que toma decisões mais importantes que as do próprio governo.
- Homessa! E onde é que eles se reúnem?
- É na casa do Ricardo.
- E quem é que faz a ligação com o governo, propriamente dito?
- É sempre o Salgado…
- Quem é que lá apareceu?
- Ora, os do costume, o Fernando, o Ricardo, o Ferreira e os outros dois.
- Sabes qual foi o motivo da cimeira?
- Sei, continuam a dizer que eles é que estão à rasca e que os accionistas não querem saber de crises...
- Têm alguns planos?
- Têm! Vão avançar com o plano B. Vão tirar o tapete ao engenhóquio e vão-se voltar para o Pedro “rabbit”.
- Olha lá, oh Serapião, queres uma torradinha com manteiga ou com marmelada?
- Nada, de manhã nunca como nada, mas dava-me jeito um cafezinho pingado… sem açúcar…
Bocejou, sentou-se de pernas cruzadas ao lado do açucareiro e foi bebendo o café às colheres, ao mesmo tempo que eu aguardava, na expectativa, mais alguma informação. Limpou os bigodes com a manga do casaco e continuou:
- Os gajos ficaram muito zangados com a implementação daquela coisa das taxas especiais a aplicar sobre o passivo de todas as instituições financeiras. Se a coisa tivesse ficado só no papel, sem a porcaria da portaria regulamentadora, isto é, em águas de bacalhau, ainda se continham, mas agora assim… Além disso, eles já não sabem onde é que o gajo vai arranjar mais dinheiro para os bancos se recapitalizarem…
- E achas que isso é o motivo para tirar o apoio ao Sócrates? Perguntei eu.
- Claro que sim, oh meu, são muitos milhões! Então não vês que eles apenas o ampararam enquanto ele lhes foi fazendo os fretes e deixando empochar. Agora, que pisou o risco, vão descartá-lo e está na altura de fazer a agulha. Eles são os primeiros a dizer que não têm amigos, apenas interesses… e o “menino de ouro” está acabado, não vai adiantar muito mais…
- Isso é que eles fazem com todos, retorqui eu.
- Pois, mas há outra coisa! Eles também não confiam em chantagistas… percebeste?
- Claro que percebo.
- Entretanto, também falaram no outro...
- Qual outro?
- O dos robalos, que passa a vida a tirar cera dos ouvidos e macacos do nariz. Dizem eles que não podem voltar a apostar em cavalos coxos…
- E ficaram por aí?
- Não! Quase no fim da reunião fizeram um telefonema. O Faria é que falou em nome de todos, falou muito baixinho, não percebi se era raspanete ou outra coisa qualquer, mas parece-me que do outro lado estava o Teixeira dos Bancos...
- Estiveste aquelas horas todas sem comer?
- Qual quê, depois deles saírem trinquei um croquete que eles deixaram ficar...
- E como é que saíste da reunião?
- Não saí, deixei-me ficar.
- Não percebo…
- Meti-me dentro do cesto dos papéis da sala de reuniões, esperei que viesse a empregada da limpeza despejá-lo, e hoje de manhã fiz a viagem calmamente, no camião do lixo, até aos arredores. Como vês as últimas 48 horas foram passadas no meio dos lixos. E se queres saber, não notei diferença nenhuma…

sexta-feira, março 18, 2011

No Meio é que está a Virtude

Não vai ser em 2008 como o Governo queria, nem em 2011 como o Eurostat pretendia. De qualquer modo, os portugueses devem começar a contar com o respectivo peditório (a única coisa que o(s) Governo(s) sabe(m) fazer com eficácia) que há-de aparecer por aí, mascarado de qualquer coisa parecida com um PEC.

«O registo nas contas públicas de 2010 das perdas suportadas pelo Estado português com o BPN é, neste momento, o desfecho mais provável das discussões entre o Eurostat e as autoridades portuguesas sobre o modelo contabilístico a seguir nesta matéria. O défice desse ano fica assim ameaçado por um agravamento que pode ir até aos 2000 milhões de euros, o valor aproximado das imparidades do BPN.
(...)
Tudo parece indicar, apurou o PÚBLICO, que o modelo adoptado pelo Eurostat conduza a um registo das imparidades calculadas para o BPN nas contas públicas de 2010
(...)
O défice para 2010, que o Governo apontou para 7,3 por cento, mas que mais recentemente deu indicações de poder chegar aos 6,9 por cento, pode sair fortemente prejudicado. Os cerca de 2000 milhões de euros em causa correspondem a 1,1 por cento do PIB
.»

Excertos da notícia do jornal PÚBLICO de 17 de Março de 2011

quinta-feira, março 17, 2011

Registo para Memória Futura (35)

«O Tribunal da Relação de Guimarães considerou prescritos dois dos três crimes pelos quais foi condenada a antiga presidente da Câmara de Felgueiras, Fátima Felgueiras, no âmbito do processo 'Saco Azul'

Jornal CORREIO DA MANHÃ de 14 de Março de 2011

Meu comentário: Fátima Felgueiras, ex-fugida à justiça e a contas com a mesma desde 2003, está exultante, vendo as acusações que havia contra ela, caírem umas, prescreverem outras. Pode ir em paz e está perdoada, porque nesta terra o crime compensa, os processos só pecam por serem uma maçada, pois até as custas judiciais dos membros de cargos públicos, são pagas pelo erário público. A justiça portuguesa, contaminada pela má influência do poder político, bem pode limpar as mãos à parede com o lindo serviço que tem andado a prestar.

quarta-feira, março 16, 2011

Regresso ao Passado

Cavaco Silva, numa cerimónia de homenagem aos antigos combatentes, não se conseguiu conter, e decidiu fazer um regresso ao passado em grande estilo, dizendo que «importa que os jovens deste tempo se empenhem em missões e causas essenciais ao futuro do país com a mesma coragem, o mesmo desprendimento e a mesma determinação com que os jovens de há 50 anos assumiram a sua participação na guerra do Ultramar». Indiferente a feridas ainda não cicatrizadas, e não contente em projectar sobre a actual geração, o patético saudosismo de um passado ainda não totalmente apaziguado, acrescentou ainda que são merecedores do nosso profundo respeito os militares de etnia africana que de forma valorosa lutaram ao lado dos portugueses.Há dias em que os membros da classe política, para não poluírem o ambiente, já que não é possível retê-los em casa, deviam evitar abrir a boca.

Buraco Negro (4)

«A procuradora Maria Correia Fernandes, casada com o ministro da Justiça, Alberto Martins, recebeu em 2010 a quantia de 72 mil euros [para pagamento de um suplemento remuneratório por acumulação de funções]. O pagamento foi feito pelo ministério contra a opinião da hierarquia do Ministério Público que afirmou que a magistrada não tinha direito a tal verba. A decisão foi tomada pelo antigo secretário de Estado João Correia depois de o seu antecessor, Conde Rodrigues, ter indeferido o pagamento.»

DIÁRIO DE NOTÍCIAS on-line de 15 de Março de 2011

terça-feira, março 15, 2011

Sai Mais um Anti-PEC para o Buraco Número Seis

OS CAMPOS de golfe deverão voltar a ser tributados à taxa reduzida de IVA, de seis por cento, em vez dos 23 por cento que estavam a ser aplicados desde o início do ano, no quadro do Orçamento do Estado (OE) para 2011.
Esta decisão de não penalizar o sector do golfe com a taxa máxima de 23 por cento promete gerar polémica, uma vez que surge no preciso momento em que novas medidas de austeridade são anunciadas tanto para este ano como para 2012 e 2013, afectando, sobretudo, os pensionistas, serviços de saúde e prestações sociais, medidas que, na opinião de José Sócrates, “não são para cobrir qualquer buraco orçamental, mas sim para garantir aos parceiros europeus que o objectivo do défice de 4,6 por cento será atingido”.

segunda-feira, março 14, 2011

Guardiães do Respeitinho

«Quanto mais corrupto é o Estado, mais numerosas são as suas leis»
Publius (Gaius) Cornelius Tacitus - (55 - 120 d.C.) Historiador romano, orador, questor, pretor ( em 88), cônsul (em 97), procônsul da Ásia (aproximadamente em 110-113)

OS GUARDIÃES da justiça portuguesa, estão-se a preparar, com pompa e circunstância, para fazer um lindo enterro ao processo do caso Freeport. A machada final tem a ver com a decisão sobre o processo disciplinar levantado pelo Procurador Geral da República Pinto Monteiro, contra os procuradores Paes Faria e Vitor Magalhães, por aqueles terem incluído no despacho final de acusação as 27 perguntas que deveriam ter sido colocadas a José Sócrates e ao ministro da Presidência, Pedro Silva Pereira, as quais acabaram por não ser feitas, por falta de tempo útil. Fala-se em 4 meses de suspensão de funções, com perda de vencimento e tempo de reforma, e eles garantem que nem sequer aceitam uma mera advertência. O respeitinho é muito bonito e continua a ser uma das matrizes da nossa justiça. Por isso, já se ouve o suspiro de alívio do engenheiro-faz-de-conta e também primeiro-ministro José Sócrates.

domingo, março 13, 2011

Três Estilos Diferentes

ISABEL Alçada, a ministra da educação, socorrendo-se do seu habitual estilo coloquial, chegou à brilhante e magistral conclusão de que "é natural que as pessoas que não têm emprego se sintam inseguras". O lendário senhor de La Palisse não diria melhor. Por isso, nada me admirava que, mais dia, menos dia, aparecesse por aí um novo livro da série "Uma Aventura", que bem pode ter por título "Uma Aventura com Jovens à Rasca", pois os cinco que protagonizam as aventuras, já crescidinhos e com óptimos currículos, não conseguem entrar no mercado de trabalho.
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Por sua vez, o engenheiro-faz-de-conta José Sócrates, que também é primeiro-ministro, disse compreender que os jovens da “Geração à Rasca” se manifestem e exprimam a sua frustração, mas garantiu que este Governo está a defender os seus interesses, adoptando "políticas de modernidade" e "para o futuro". Antes disso, tinha afirmado que está “confortável” com estas novas medidas de austeridade que quer aplicar. O mais mentiroso dos mentirosos, não poderia ser mais objectivo e clarividente.
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Já o sinistro ideólogo Augusto Santos Silva, que acumula com as funções de ministro da defesa, pouco preocupado com as pessoas, mas muito preocupado com as ideias, acusou todos aqueles que não apoiarem as medidas de austeridade do Governo - que até têm (diz ele) a compreensão e a colaboração activa do conjunto dos portugueses - de não merecerem a confiança das pessoas, por estarem a desertar a meio de um esforço nacional. Este ministro, quando agita o dedo indicador, é temível, logo os portugueses têm que ter muito cuidado com as suas opções, pois em tempo de guerra contra o terrorismo, a crise internacional e os mercados, a deserção pode muito bem ser punível com tribunal marcial, senão mesmo com o pelotão de fuzilamento.

sábado, março 12, 2011

Um Dia Muito Diferente

AS MANIFESTAÇÕES da “Geração à Rasca” presentearam-nos hoje com um dia muito diferente. Anteciparam os Primeiros de Maio de 2011, festa do trabalho mas também de luta pelo trabalho, e deixaram Sócrates com as orelhas a escaldar. Ele que se cuide.

Registo para Memória Futura (34)

«(…) Zeca Afonso (…) não foi um homem de liberdade (…)»

In crónica “Estou à Rasca”, da autoria do jornalista Miguel Sousa Tavares, publicada no semanário EXPRESSO de 12 de Março de 2011.

sexta-feira, março 11, 2011

O Anão Serapião

HOJE de manhã, estava eu sentado à mesa, a pôr em ordem alguns papéis, e o meu anãozinho Serapião veio fazer-me uma visita. Com o atrevimento habitual, saltou-me aqui para o ombro esquerdo, e sem cerimónias perguntou-me:
- Então, ainda andas de candeias às avessas com o Sócrates?
- Já não o trato há muito tempo por Sócrates. A minha preferência agora vai para outros atributos, como engenheiro incompleto, engenheiro-faz-de-conta, engenhóquio, pantomineiro, enfim, o que calha… respondi eu, a espreitar a sua figura patusca pelo canto do olho.
- A propósito, estou a ver-te mais corado, mas também mais branco e mais gordo!
- É da idade e do muito trabalho que tenho, respondeu ele, sentando-se no ombro, traçando a perna e agarrando-se à gola da minha camisa.
- Trabalho da treta, à moda do nosso engenheiro, não?
- Não, o meu trabalho é de outro tipo. Graças ao meu reduzido tamanho, tem mais a ver com coscuvilhice. É como se fossem escutas sem telefone. Posso entrar onde quiser, deixar-me ficar quieto como se fosse um bibelot, e o resto é canja…
- Não me digas que já andaste a espiar o nosso primeiro! Diz-me lá então se é verdade que o engenhóquio ficou assim com muito cabelo branco porque trabalha muito, sobretudo a ensaiar as suas aparições e os discursos por esse país fora.
- Ah, tu ainda acreditas nisso? É falso! Ele fez um pacto, não vou dizer com quem, para não ferir susceptibilidades, mas nesse pacto ficou lavrado que a outra parte o deixava governar, mas sempre que ele dissesse uma mentira, aparecia-lhe mais um cabelo branco. Estás a ver, não estás?
- Se estou! Os poucos cabelos brancos que ele tinha há seis anos atrás, e os que tem agora, dá bem uma ideia dos barretes que ele tem andado a enfiar por aí…
- Se fossem só barretes…
- O quê, para lá das que se sabem, há mais alguma caldeirada?
- Há, mas agora não posso adiantar mais nada. Está no segredo dos deuses, de tal forma que nem o Presidente da República sabe.
- Não me digas? Vá lá, diz lá! Eh pá, sempre fomos amigos, oh Serapião…
- Com essa da amizade é que me deitaste abaixo…
- Vá lá Serapião, é uma vez sem exemplo. Estou em pulgas…
- É aquela coisa do PEC IV…

quinta-feira, março 10, 2011

Tome Nota

Muito embora mudar o futuro esteja, fundamentalmente, nas mãos dos mais “novos”, este protesto também é para os mais “velhos”, que devem solidarizar-se, e dar uma ajuda.

terça-feira, março 08, 2011

O Fulano não gosta que lhe estraguem as festas

Sócrates passa 365 dias do ano em corsos e carnavaladas, mas na verdadeira quadra, sente-se na obrigação de ir mais longe, e brincar com coisas sérias. Em Viseu, ao ser interrompido na sua prédica, antes de uma jantarada, por elementos que se diziam pertencer ao movimento "Geração à Rasca", e que apenas queriam falar sobre os seus problemas, apesar de terem pago o jantar, foram corridos da sala - parece que com alguma brutalidade - enquanto o engenheiro-faz-de-conta gracejava, dizendo que "estamos no Carnaval e a verdade é que no Carnaval ninguém leva a mal".
A um sonso deste calibre, não se lhe deve deixar os movimentos livres. Deixo uma sugestão: da próxima vez, se o fulano não quiser conversar, atirem-lhe com sapatos ou chinelos, os mais velhos e mais sujos que tiverem lá em casa! Certamente que ele não vai levar a mal…

NOTA – Esta sugestão não é para levar a sério, trata-se apenas de uma fantasia minha. As tentativas de diálogo nunca devem começar nem acabar com tareia. Além disso, se tal sucedesse, o “engenhóquio” teria um pretexto para se vitimizar, utilizando o acontecimento a seu favor.

Como Manipular Estatísticas

NO FORMULÁRIO do CENSOS 2011, quem trabalha a recibos verdes mas tem um local fixo dentro de uma empresa, subordinação hierárquica e um trabalho definido, deve assinalar a opção trabalhador por conta de outrem. Resultado: NÃO HÁ FALSOS RECIBOS VERDES EM PORTUGAL, o que é uma pura vigarice.
O Instituto Nacional de Estatística (INE) diz que a “coisa” está de acordo com as recomendações internacionais, e que “lá dentro”, esta questão foi objecto de amplo debate, estão a ver não estão? É preciso muito cuidado com esta gente que recheia os institutos públicos, onde são cozinhadas estas pérolas de excelência, em conluio com os mandarins do governo. Espero que este assunto não morra aqui.

segunda-feira, março 07, 2011

Registo para Memória Futura (33)

Na altura (Abril de 2009) houve quem lhe chamasse o novo hino nacional.
Outros disseram que tinha renascido a canção de intervenção,
Porque o “que faz falta é avisar a malta”.
Alguns garantiram que dava protagonismo ao “engenheiro”,
Outros que era um grito de revolta.
Para mim, nem precisava de música,
Bastava a letra para sabermos
Qual o estado da nação.

SEM EIRA NEM BEIRA

Anda tudo do avesso
Nesta rua que atravesso
Dão milhões a quem os tem
Aos outros um passou-bem

Não consigo perceber
Quem é que nos quer tramar
Enganar / Despedir
E ainda se ficam a rir
Eu quero acreditar
Que esta merda vai mudar
E espero vir a ter
Uma vida bem melhor

Mas se eu nada fizer
Isto nunca vai mudar
Conseguir / Encontrar
Mais força para lutar…

(Refrão)
Senhor engenheiro
Dê-me um pouco de atenção
Há dez anos que estou preso
Há trinta que sou ladrão
Não tenho eira nem beira
Mas ainda consigo ver
Quem anda na roubalheira
E quem me anda a comer

É difícil ser honesto
É difícil de engolir
Quem não tem nada vai preso
Quem tem muito fica a rir
Ainda espero ver alguém
Assumir que já andou
A roubar / A enganar
o povo que acreditou

Conseguir encontrar mais força para lutar
Mais força para lutar
Conseguir encontrar mais força para lutar
Mais força para lutar…

(Refrão)
Senhor engenheiro
Dê-me um pouco de atenção
Há dez anos que estou preso
Há trinta que sou ladrão
Não tenho eira nem beira
Mas ainda consigo ver
Quem anda na roubalheira
E quem me anda a foder

Há dez anos que estou preso
Há trinta que sou ladrão
Mas eu sou um homem honesto
Só errei na profissão

Letra e música da banda “Xutos e Pontapés” em Abril de 2009. Curiosamente, ou talvez não, as estações de rádio fizeram-se desentendidas e, quase unanimemente, não divulgaram a canção, argumentando que a letra continha excessos de linguagem. Portanto, faça-se justiça, voltando a pô-la no ar.

Entretanto, um ano e nove meses depois…

QUE PARVA QUE EU SOU!

Sou da geração sem remuneração
E não me incomoda esta condição
Que parva que eu sou
Porque isto está mal e vai continuar
Já é uma sorte eu poder estagiar
Que parva que eu sou
E fico a pensar
Que mundo tão parvo
Onde para ser escravo é preciso estudar

Sou da geração "casinha dos pais"
Se já tenho tudo, pra quê querer mais?
Que parva que eu sou
Filhos, maridos, estou sempre a adiar
E ainda me falta o carro pagar
Que parva que eu sou
E fico a pensar
Que mundo tão parvo
Onde para ser escravo é preciso estudar

Sou da geração "vou queixar-me pra quê?"
Há alguém bem pior do que eu na TV
Que parva que eu sou
Sou da geração "eu já não posso mais!"
Que esta situação dura há tempo demais
E parva não sou
E fico a pensar,
Que mundo tão parvo
Onde para ser escravo é preciso estudar

Canção apresentada pelo Grupo Os Deolinda, nos Coliseus do Porto e de Lisboa, em Janeiro de 2011. Música e letra: Pedro da Silva Martins.

E já agora, dois meses depois…

A LUTA É ALEGRIA

Por vezes dás contigo desanimado
Por vezes dás contigo a desconfiar
Por vezes dás contigo sobressaltado
Por vezes dás contigo a desesperar

De noite ou de dia, a luta é alegria
E o povo avança é na rua a gritar

De pouco vale o cinto sempre apertado
De pouco vale andar a lamuriar
De pouco vale o ar sempre carregado
De pouco vale a raiva para te ajudar

De noite ou de dia, a luta é alegria
E o povo avança é na rua a gritar

E tráz o pão e tráz o queijo e tráz o vinho
E vem o velho e vem o novo e o menino
E tráz o pão e tráz o queijo e tráz o vinho
E vem o velho e vem o novo e o menino
Vem celebrar esta situação e vamos cantar contra a reacção

Não falta quem te avise toma cuidado
Não falta quem te queira manter calado
Não falta quem te deixe ressabiado
Não falta quem te venda o próprio ar

De noite ou de dia, a luta é alegria
E o povo avança é na rua a gritar

E tráz o pão e tráz o queijo e tráz o vinho
E vem o velho e vem o novo e o menino
E tráz o pão e tráz o queijo e tráz o vinho
E vem o velho e vem o novo e o menino
Vem celebrar esta situação e vamos cantar contra a reacção

A luta continua quando o povo sai à rua!

A canção tem letra de Nuno (Jel) e música de Vasco Duarte (Falâncio), foi interpretada pelos Homens da Luta, venceu o concurso do Festival da Eurovisão 2011 em 5 de Março de 2011, e vai representar Portugal em Dusseldorf, na Alemanha.

sábado, março 05, 2011

Deriva - VIII

Vi as águas os cabos vi as ilhas
E o longo baloiçar dos coqueirais
Vi lagunas azuis como safiras
Rápidas aves furtivos animais
Vi prodígios espantos maravilhas
Vi homens nus bailando nos areais
E ouvi o fundo som de suas falas
Que já nenhum de nós entendeu mais
Vi ferros e vi setas e vi lanças
Oiro também à flor das ondas finas
E o diverso fulgor de outros metais
Vi pérolas e conchas e corais
Desertos fontes trémulas campinas
Vi o rosto de Eurydice das neblinas
Vi o frescor das coisas naturais
Só do Preste João não vi sinais

As ordens que levava não cumpri
E assim contando tudo quanto vi
Não sei se tudo errei ou descobri

Sophia de Mello Breyner Andresen – Navegações – 1982

quinta-feira, março 03, 2011

Buraco Negro (3)

"Estão três mil milhões [de Euros] disponíveis para fazer face à necessidade de recapitalização dos bancos (...) se for necessário usá-los, serão usados e devemos ver isto sem qualquer tipo de complexo".

Declaração de Carlos Costa Pina, secretário de Estado do Tesouro, em entrevista ao Etv (Económico TV), no mesmo dia em que se fala que está em estudo a hipótese de os funcionários públicos virem a receber o Subsídio de Natal em Títulos do Tesouro, solução que poderá muito bem ter a ver com as “medidas mais profundas” que a chanceler Ângela Merkel pediu a Sócrates para implementar.

Registo para Memória Futura (32)

«A austeridade estaria paga em 2011 caso se combatesse eficazmente a fraude e evasão fiscais. Em 2009, segundo o gabinete de estudos da CGTP, as receitas fiscais perdidas e as contribuições sociais por pagar seriam de 9900 milhões de euros, um pouco menos do pacote aprovado para reduzir o défice orçamental.(…)»

Excerto do jornal PÚBLICO de 1 de Março de 2011

quarta-feira, março 02, 2011

Buraco Negro (2)

«O actual Governo [do engenhoso] José Sócrates já criou 42 grupos de trabalho, 20 comissões, dois conselhos, dois grupos consultivos, uma coordenação nacional, um observatório e uma estrutura de missão desde que tomou posse no final de 2009. A pesquisa efectuada pelo PÚBLICO nos despachos publicados em Diário da República permitiu concluir que há grupos de trabalho que se sobrepõem a comissões, e comissões que se justapõem a outras e à actividade que deveria ser realizada por organismos e entidades já existentes na Administração Pública. (...)»
.
Excerto de notícia do jornal PÚBLICO de 28 de Fevereiro 2011

terça-feira, março 01, 2011

Ai, a Credibilidade!

Sócrates, o primeiro-ministro-arquitecto-engenheiro incompleto, volta a insistir que é preciso trazer o défice para os quatro vírgula qualquer coisa, para que o país ganhe credibilidade. Como é evidente, não são apenas os números que dão credibilidade ao país, mas sim a idoneidade de quem os conjuga e manipula. Para compor o coro, seguem-se as ameaças do ministro-barítono Teixeira dos Bancos, a prometer mais uns quantos apertos nos tratos de polé (austeridade) à população, para agradar aos “mercados” (leia-se, quem costuma emprestar-nos capital), porque senão não conseguimos atravessar o Rubicão. Em “português técnico” isto traduz-se em mais uns quantos cortes no cabaz das compras, no papel higiénico, na ida ao dentista e outros excessos, a que os mal habituados e abastados portugueses se costumam entregar, logo já não vale a pena dizer que não sabemos onde isto vai parar, porque a verdade é que já lá estamos. Quando a austeridade passa a ser a mãe da credibilidade, não é preciso gastar mais latim; a solução passa por mudar de governo, não de país.