domingo, dezembro 02, 2007

Luzes na Escuridão

L
Em Portugal, a produção de documentários de cariz histórico não é muita, mas o pouco que tem sido feito é de muita qualidade, e com isto quero destacar “O SÉCULO XX PORTUGUÊS”, da autoria de Luís Marinho e Joana Pontes, de que se aguarda ansiosamente uma reposição ou uma edição em DVD, e o “PORTUGAL UM RETRATO SOCIAL” de António Barreto e Joana Pontes. Com o mesmo padrão de qualidade, chega-nos agora “A GUERRA” de Joaquim Furtado. O presente documentário, percorre de forma cronológica os 13 anos de conflitos armados nas antigas colónias portuguesas. No dizer do seu autor, Joaquim Furtado, este trabalho faz chegar ao domínio público novas informações e opiniões sobre algumas “verdades oficiais” que se foram instalando ao longo dos anos, sendo o resultado de um longo e aprofundado trabalho de pesquisa, e tão diversificada quanto possível, relativamente às múltiplas fontes disponíveis. O realizador visualizou mais de seis mil filmes, oriundos, nomeadamente, dos arquivos da RTP, dos serviços de audiovisuais do Exército, muitos arquivos particulares e realizou cerca de 200 entrevistas a protagonistas que militaram nos vários lados do conflito.
Embora jornalista, Joaquim Furtado adoptou um modelo de exposição que contemplou as diferentes visões com que os protagonistas se identificavam, alguns já falecidos e outros ainda sobrevivos, o que levou a que aquele conflito acabasse por ser assumido, respectivamente e consoante o caso, como uma guerra colonial, do ultramar ou de libertação. Em última análise, o realizador subordinou aquele modelo à preocupação de fazer um enquadramento histórico do trabalho, tão rigoroso quanto possível, com o objectivo de contribuir para que os historiadores se debrucem sobre aquele conturbado período da história portuguesa.
Joaquim Furtado foi o jornalista do Rádio Clube Português que à época da revolução do 25 de Abril de 1974, em pleno estúdio leu o histórico comunicado do Movimento das Forças Armadas, pouco depois da rádio ter sido ocupada, de madrugada, pelos militares revoltosos que puseram fim ao regime. Mais tarde viria a entrar para a RTP, e nos anos 80 começou a pensar neste projecto, o qual foi adiado por várias vezes, regressando a ele só depois de ter saído da estação pública de televisão, em 1998, quando se demitiu da direcção. Quando teve finalmente disponibilidade para voltar ao projecto, foi encontrar mais material do que esperava, em milhares de filmes, 500 horas de gravações, que suscitaram entrevistas a algumas pessoas que foi identificando nas imagens.
Decorridos apenas 6 episódios, suspeito que despontou mais uma luz na escuridão. Quando a série terminar (diz-se que tem 18 episódios), voltarei a tecer algumas considerações adicionais sobre “A GUERRA”.

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