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Porreiro, Pá!
Os políticos que estiveram em Lisboa, na madrugada de 19 de Outubro a aprovar o tratado da União Europeia, bem podem bambolear-se com o seu “feito”, mas uma coisa é certa: os povos europeus, de leste a oeste, poucos foram os que foram ouvidos em referendo sobre a anterior constituição (tendo-a rejeitado), e sobre esta novel versão, em forma de tratado, quase ninguém sabe do que trata, logo a “coisa” foi decidida nas suas costas. Muito espectáculo e pouco conteúdo, eis o que sobra. Diz quem está bem informado que o tratado tem 95% do cadáver da finada constituição, mais uns 5% de arranjos e maquilhagem, com o objectivo de parecer material novo. O assunto Europa é demasiado sério para que se queira fazer tábua-rasa dos interesses dos povos, logo, este simulacro de democracia apenas vai afastar, cada vez mais, os cidadãos europeus de um projecto que tem cada vez menos a ver com eles. Quanto a Portugal, como sempre, os seus representantes portaram-se condignamente, como bons e disciplinados alunos, mantendo-se também razoáveis estalajadeiros, sem reivindicações, e ipso facto, exibindo-nos com a habitual fórmula de pobretes mas alegretes. Portanto, tendo o povo votado e gerado esta maioria absoluta, pugnemos para que eles realizem as suas promessas. Assim, que venha esse prometido referendo!
No fecho dos trabalhos, o porreiríssimo e sonoro desabafo do presidente em exercício sr. Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates, para o seu guia espiritual sr. José, também conhecido por Durão Barroso, é bem ilustrativo da leviandade com que tudo isto está a ser encarado. Consumada mais uma finta aos povos da Europa, balbuciou para os indiscretos microfones um “porreiro, pá!”, que os jornalistas estrangeiros tiveram dificuldade em interpretar. Nestas ocasiões, sem ser preciso recorrer ao inglês técnico, o velho português corrente serve.
Felizes e Contentes
O Sr. João Deus Pinheiro (PSD) e o Sr. António Victorino (PS) estiveram na RTP, em monocórdica cavaqueira, a comentarem a aprovação do tratado da União Europeia, dito de Lisboa, reeditando o divertido papel de Sr. Feliz e do Sr. Contente de outros tempos. Quanto à ERC (Entidade Reguladora da Comunicação), continua a não ter opinião sobre a ausência de partilha pelas outras faixas de opinião, dos programas e tempos da televisão pública, paga por TODOS os contribuintes, continuando assim a dar sucessivas provas da sua perfeita e indecorosa inutilidade.
A Grande Bandalheira
O procurador-geral da República, dr. Fernando Pinto Monteiro, numa entrevista que deu ao semanário Sol, em 20-10-2007, fez algumas afirmações que me deixaram atónito. Pensa ele que existe um grande exagero no recurso às escutas telefónicas, muito embora, todos o sabemos, aquelas apenas possam ser efectuadas mediante mandato judicial. Em abono deste estado a que se chegou, desconfia ele que o seu próprio telemóvel se encontra sob escuta, atendendo aos ruídos esquisitos que aquele emite. Finalmente, diz ele que não sabe como lidar e controlar esta situação. Se ele não sabe, porque levantou a lebre? Se ele não sabe, o que lá está a fazer? Se ele não sabe, quem saberá? Se escutas nestas condições não podem ser usadas como meio de prova em tribunal, porque são feitas? Será mera chantagem ou estará em curso alguma operação destinada a instalar um certo clima de intimidação? Depois de ter sido descoberto, há uns anos atrás, um microfone no gabinete do anterior procurador-geral, talvez esta seja a cereja a coroar a bandalheira nacional.
Pornografia Financeira
“ (…) Sem surpresas. Já estamos habituados a que legalidade e moralidade sejam parentes muito afastados. Vivemos na quase total imoralidade escorada numa discutível, mas sempre muito eficiente, legalidade. O que aconteceu no BCP (favorecimento do filho de Jardim Gonçalves com o perdão de dívidas ao banco no valor de 12 milhões de euros) e a ligeireza das justificações já apresentadas são um insulto à inteligência de todos os portugueses. (…)”
In HISTÓRIA EXEMPLAR de João Marques dos Santos, jornal Correio da Manhã de 2007-10-19
Atrasos
A
O relógio do Arco da Rua Augusta foi finalmente reparado. Na inauguração do acontecimento, só faltou a ministra da cultura ter rematado com uma declaração deste tipo:
- Agora, sim, estamos em condições de recuperar o tempo perdido…