terça-feira, dezembro 25, 2007

Informações Adicionais

A

Saída dos dóris do lugre LABRADOR para mais uma faina

A propósito da campanha de 1939 do lugre bacalhoeiro LABRADOR, comecei em 2006 com o meu artigo intitulado HERÓIS DO MAR, fiz-lhe uma adenda a que chamei MEMÓRIAS DA FAINA MAIOR, assinalei um notável acontecimento editorial apelando a esta LEITURA OBRIGATÓRIA, e aqui estou de novo a fazer uma viagem (imaginária) através daquele fenómeno único que foi a pesca do bacalhau, levada a cabo pelos armadores e pescadores portugueses, nos ignotos bancos da Terra Nova e da Gronelândia, lá para os confins da terra, paredes meias com o Círculo Polar Ártico, desde o século XVI até ao último quartel do século XX.
Agora é chegada a altura de fornecer algumas informações adicionais que entretanto fui colhendo aqui e ali.

O Lugre LABRADOR, ex-dinamarquês "Lydia" foi construído em 1919 nos estaleiros navais de Korsor, na Dinamarca. Foi depois adquirido pela Sociedade Lisbonense da Pesca do Bacalhau, Lda. para a campanha de 1935.

A tripulação do lugre LABRADOR (nome, “alcunha”, data nascimento e origem), naquela campanha de 1939, foi a seguinte:

Júlio de Jesus Cristo, 5/9/1908, S.Tiago, Sesimbra
Inácio Pequicho Belo, 23/6/1910, Nazaré
José Alves Moreira, 1903, Porto
João Fernandes Bonito, “Cova”, 14/7/1884, Ílhavo, Aveiro
Francisco Loureiro, 2/7/1905, Buarcos, Figueira da Foz
Emílio Fernandes Vigis, 11/11/1904, Pederneira, Nazaré
Manuel Dourado Fernandes Torrão
Isac da Costa Marques
Francisco Alves Moreira, 19/12/1898, Vila Nova de Gaia, Santa Marinha, Porto
Moisés Matias da Cruz, Vila Nova de Gaia, Santa Marinha, Porto
José Pedro Correia Júnior, 16/7/1908, Olhão, Fuzeta
Manuel Pereira Cageira
José Custódio de Barros, “José da Amância”, 29/9/1908, Figueira da Foz
João Pedro da Florência, 25/2/1907, Nazaré
Rodrigo Ceia Espada, 4/11/1898, Buarcos, Figueira da Foz
António Sousinha Remígio, 2/1/1910, Pederneira, Nazaré
António dos Santos Grilo, 13/1/1912, Buarcos, Figueira da Foz
Domingos Francisco Terroso, “Maragato”, 1866, Póvoa do Varzim
Bento da Costa Marques
José de Oliveira da Velha
Manuel Francisco Arteiro, “Buchudo”, 22/4/1896, Póvoa do Varzim
José Arrais
Jaime Rodrigues Pereira, 26/12/1907, Salvador de Matosinhos, Vila do Conde
Manuel Nunes Vidal
Manuel Remígio, 27/10/1893, Nazaré
Moisés Francisco Milhases
Pedro Martins
João Maria dos Santos
Jardelino dos Santos Louro
Joaquim José Milho Júnior
Manuel Costa Marques
Manuel de Jesus Caseiro
Alberto Remígio Belo, 6/3/1902, Nazaré
Manuel d’Oliveira Frade, 21/9/1909, Ílhavo, Aveiro
António Balaia
Francisco José Badalo Júnior
José Maria Pachita
Manuel Faria Júnior, “Lopes Faria”, 16/9/1897, Vila do Conde
Belmiro André Fangueiro, 15/2/1908, Póvoa do Varzim
José Ferreira da Costa
David Faria, 9/3/1919, Poça da Barca, Vila do Conde
José Francisco Cirineu
Manuel Sacramento Marnoto
Joaquim Ferreira da Joana, 23/10/1902, Nazaré
Júlio Ovídio Lourenço
João Rodrigues Pereira
Daniel Rocha
Francisco Gregório Soares
João Pereira Gateira
Alexandre Remígio, 8/5/1890, Nazaré
José Magano Fernandes
António Maria das Neves
Francisco Delgado,
Paulo Rodrigues Pereira, “Casquilho”, 10/4/1903, Vila do Conde, Viana do Castelo
José de Castro
António Joaquim dos Santos Saltão, 25/5/1898, Buarcos, Figueira da Foz
Luís dos Santos Abade
João Tioprepido
Manuel Francisco dos Santos Júnior
Manuel Fernandes Pereira Ramalheira
Domingos Gavino Novo, 10/3/1913, Vila do Conde
António Ribeiro da Costa
Manuel Gomes Moreira, 12/4/1912, Vila Nova de Gaia, Santa Marinha, Porto

Embora o texto que se segue relate que o LABRADOR, na campanha de 1942, possuía uma tripulação de apenas 41 homens, e Alan Villiers no apêndice do seu livro A CAMPANHA DO ARGUS refira que eram apenas 32 os pescadores do LABRADOR na campanha de 1950, a relação de nomes que recolhi no site do Museu Marítimo de Ílhavo
, informa que foram 63 os homens que integraram a tripulação daquele lugre na campanha de 1939. Desconheço qual a razão para tal disparidade de números.

“O LABRADOR era um lugre de 3 mastros, comandado pelo capitão Simões Picado, com 41 homens de tripulação. Em 1942 navegava para o Grande Banco da Terra Nova, quando na tarde do dia 24 de Maio foi interceptado por um cruzador-auxiliar inglês, que por sinais de bandeiras o obrigou a parar imediatamente. O navio ferrou o pano e esperou. De seguida recebeu uma baleeira do navio inglês, com 2 oficiais que verificaram toda a documentação e o destino que levava. Pediram ao capitão Picado para comunicar com um navio já no Grande Banco, para terem a certeza de que este não estava a mentir. Respondeu-lhe o "Normandie", saudando-o a desejar boa chegada, boa saúde para todos e boa pesca. Os oficiais ingleses deram-se por satisfeitos deixaram o LABRADOR mas, antes de sairem pediram desculpa pelo incómodo e disseram gentilmente: "C'est la guerre". O navio largou pano e reiniciou a viagem para os pesqueiros. Após algumas milhas navegadas fica sob denso e cerrado nevoeiro, guarda avançada da chegada ao Grande Banco. Na madrugada do dia seguinte vê-se no meio de monstruosos vultos que lhe passavam pela proa e pela popa, a barlavento e a sotavento. Tinha caído no meio de um comboio de navios, que deveriam estar à espera do cruzador-auxiliar que o havia visitado no dia anterior. A situação foi horrível, os navios navegavam com os faróis de navegação apagados, pareciam fantasmas. O LABRADOR ia-se safando como podia, ora trancando o leme a um bordo, ora ao outro, na tentativa de evitar um abalroamento eminente. Houve momentos de pavor e pânico quando a proa de um navio inglês bateu no pobre lugre de madeira. Valeu a experiência do capitão Picado que ordenou "leme todo a bombordo" na tentativa de minimizar as avarias que o seu navio poderia sofrer pelo embate. Mesmo assim o cargueiro apanhou o LABRADOR pela amura de estibordo e destroçou-o desde a proa até à meia-nau. No meio desta tragédia, um tripulante do lugre caiu ao mar que felizmente foi salvo pelos seus companheiros. O navio abalroador seguiu o seu destino ignorando o acidente. O capitão Simões Picado e a sua tripulação verificavam, com alegria, que o navio podia salvar-se e começar a faina da pesca, mesmo sem arribar para reparações provisórias das avarias. Fica aqui bem vincado a heroicidade destes homens e a dureza desta faina. A sua finalidade era pescar e pescar sempre bacalhau, fosse em que condições fosse.”
Dados e texto recolhidos do blog NÓS E O MAR


Lido o livro A CAMPANHA DO ARGUS e visto o filme do mesmo nome, efectuado na mesma altura pelo Comandante Alan Villiers (um talentoso escritor e um repórter perspicaz), fica-me um amargo de boca à mistura com uma singela nostalgia daquela época, onde em sucessivas campanhas-epopeias de trabalho duro, de que quase não há História, excepto os diários de bordo dos vetustos lugres, estudos especializados e o meritório trabalho de investigação, recolha e sistematização levado a cabo pelo Museu Marítimo de Íhavo, fica sempre uma frase que balbucio e se repete, ecoando até à Terra Nova, Estreito de Davis, Península do Labrador, Gronelândia, Baía de Baffin, onde uma epopeia de trabalho penoso, foi levada a cabo por tão poucos, para dar de comer a tantos, em tempos que já lá vão. Esta saga, foi magistralmente registada pelo Comandante Alan Villiers, quando diz no seu livro A CAMPANHA DO ARGUS:
“…
Os perigos da vida de pescador dos bancos são tradicionais e em nada se alteraram com o tempo. Existe o perigo de afundar, de ser engolido pelo mar, de se perder no nevoeiro, de ser abalroado por algum navio ou de ser esmagado contra o seu próprio navio no mar aberto. Sozinho no Atlântico Norte, frequentemente longe da vista do navio-mãe e a centenas de milhas da costa mais próxima, a bordo de um pequeno bote de fráfeis tábuas sem motor nem energia, sem dispor sequer de um leme, usando uma vela caseira e um ou dois remos como única forma de avançar pelo mar fora, obrigado a sobrecarregar o dóri para que a empreitada valha a pena e forçado a enfrentar a água turbulenta e o nevoeiro cerrado dos bancos, ou as águas traiçoeiras e tempestuosas da Gronelândia, nunca sabendo se quando abandona o navio de manhã há-de regressar à noite, comendo comida fria o dia inteiro, sem poder contar com abrigo e exposto aos elementos como uma jangada ou um pedaço de madeira à deriva, é certo que, se o pescador não fosse animado pela religião e pelas seculares tradições que o antecederam, nunca se aventuraria a aceitar aquela vida. Se a pesca com dóris fosse uma indústria nova, não haveria pescadores.
…”
Ainda sobre o lugre LABRADOR, Alan Villiers no seu livro atrás citado, naquela campanha bacalhoeira de 1950, volta a dar notícias dele, nos seguintes termos:
“…
A pesca do LABRADOR estava a correr muito mal, em parte porque os pescadores não estavam habituados ao uso do trol (do inglês “trawl”, aparelho de pesca com 500 a 1.000 anzóis), que tinham adoptado pela primeira vez nesta campanha. Todos os pescadores detestavam inovações. O LABRADOR era um lugre de pouco mais de 300 toneladas que sempre fora cheio através da pesca à zagaia ou de linhas com um anzol só. Mas nessa campanha, o navio tinha sido equipado com uma câmara frigorífica para o isco, pelo que começou a poder usar o trol.
…”
Extratos de A CAMPANHA DO ARGUS, de Alan Villiers, Cavalo de Ferro Editores, Lda. - 2006

Como informação final, está registado que o lugre bacalhoeiro LABRADOR naufragou por água aberta durante a campanha de 1958, em Virgin Rock's, na Gronelândia, quando a pesca do bacalhau com dóris e à linha já estava em decadência, face às frotas de arrastões, que se encarregavam de “limpar” os bancos de pescado, e “dizimar” com grande eficácia, os cardumes de vorazes bacalhaus.
Em boa verdade pode dizer-se que os veleiros, navegadores e pescadores portugueses foram uma raça que se extinguiu, à custa das tropelias e armadilhas do progresso, bem como da incompetência dos políticos. Só resta saber quem se extinguirá a seguir a eles.

segunda-feira, dezembro 24, 2007

Histórias deste Millenium

“...
É claro que eu sei que o Banco de Portugal (que há uns tempos achou que nada de grave se passava no BCP) tem poderes de supervisão sobre a actividade bancária mas confesso que, em concreto, não sei ao abrigo de que normas ou fundamentos legais se está verificando esta intervenção do Banco de Portugal (obviamente articulada com o Governo) na vida interna do BCP, sendo entretanto evidente que nada tenho contra o que se destinar a proteger os interesses de depositantes e accionistas.
Mas a questão mais grossa que quero levantar (é a tal observação final) é que, segundo a 1ª página do último Expresso, «o Banco de Portugal (BdP) e a Comissão do Mercado de Valores Imobiliários (CMVM) consideram "gravíssimas" as operações feitas pelo BCP com sociedades «offshore».
Lendo isto, quem está fora destes meandros e dos segredos dos deuses, fica naturalmente a pensar que a grande base para a intervenção do Banco de Portugal no BCP é fragilização deste e dos seus administradores pelas suspeitas ou investigações em curso sobre operações «gravíssimas».
Ora, é neste ponto que convém ficarmos todos atentos e vigilantes no presente e no futuro. É que, se há operações e ilícitos «gravíssimos» por parte do BCP, isso não é coisa que possa ficar esquecida, enterrada, impune ou perdoada só porque os actuais administradores e principais accionistas do BCP aceitam as «directivas» ou «pressões» do Banco de Portugal.
Se Deus quiser, estaremos cá para ver
.”

Victor Dias, in O Governo, o Banco de Portugal e o BCP, no blog O TEMPO DAS CEREJAS, em 2007-12-23

A Voz do Dono

“…
A nova administração da RTP é um sinal claro. A anterior (a de Almerindo Marques que transitou entretanto para as Estradas de Portugal) estava ao serviço do Governo, mas Sócrates queria mais, queria um acesso directo que não estava tão fácil como no tempo de Morais Sarmento. Esse incómodo levava o Governo por outros caminhos.
Agora, Luís Marinho, o único director de informação em décadas que no exercício das suas funções fez um elogio ditirâmbico ao primeiro-ministro e foi almoçar com ele sem conhecimento da administração, o único director de informação em décadas que conseguiu uma reacção fortíssima dos jornalistas da RTP contra si em plenários em Lisboa e Porto, o único director de informação a quem não se conhece qualquer ideia significativa nem qualquer mudança positiva na informação, que deixa um legado de crítica generalizada da sociedade à informação pró-governamental, este mesmo Marinho é premiado com a promoção à administração. A mediocridade e os relacionamentos compensam.
…”
Eduardo Cintra Torres in MAIS RTP, MAIS GOVERNO, jornal Público de 2007-Dez-22

sábado, dezembro 22, 2007

Crise no Millennium BCP

C
Portugal é uma frota de barquinhos, que conforme vão metendo água, os ratos (1), sempre eles, cumprindo a tradição, são os primeiros a abandonar as tábuas do destroço.
A
(1) Para além de nome de roedor, no dicionário de sinónimos rato também pode ser comparado a espertalhão, manhoso, tratante, velhaco, larápio, ladrão ou gatuno.

UM POEMA DE NATÁLIA

U
Há noites que são feitas dos meus braços

E um silêncio comum às violetas
E há sete luas que são sete traços
De sete noites que nunca foram feitas.

Há noites que levamos à cintura
Como um cinto de grandes borboletas
E um risco a sangue na nossa carne escura
Duma espada à bainha dum cometa.

Há noites que nos deixam para trás
Enrolados no nosso desencanto
E cisnes brancos que só são iguais
À mais longínqua onda do seu canto.

Há noites que nos levam para onde
O fantasma de nós fica mais perto:
E é sempre a nossa voz que nos responde
E só o nosso nome estava certo.

Há noites que são lírios e são feras
E a nossa exactidão de rosa vil
Reconcilia no frio das esferas
Os astros que se olham de perfil.

Poema de Natália Correia in Rosa do Mundo - 2001 Poemas para o Futuro
edição da Assírio & Alvim

quinta-feira, dezembro 20, 2007

Pequena Galeria III


PEis mais 5 composições de tinta acrílica sobre tela, da autoria do meu estimado e talentoso amigo Joaquim Guerreiro (nome artístico QUIM ZÉ).
Na sequência do que já se podia ver na
PEQUENA GALERIA e na PEQUENA GALERIA II , o ritmo das formas e a intensidade das cores continuam a marcar presença nos temas. Para os respectivos interessados, aqui fica o respectivo contacto E-MAIL (quimfaisca@iol.pt).
P







sábado, dezembro 15, 2007

A Democracia Exige

A

A
Eu não era euro-céptico, mas agora, depois das traficâncias cometidas com este “tratado” que já foi “constituição”, e porque não gosto de ser enganado, passei a sê-lo.

NOTA: O logotipo pode ser usado e distribuído.

sexta-feira, dezembro 14, 2007

Estas São As Minhas

A
Porque o Natal não tem que ser sempre associado ao Presépio ou ao Pai Natal

Primeiros Passos Para Uma Discussão Sobre a Eutanásia

P
Em Janeiro deste ano, no meu artigo a propósito do referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez (IVG), prometi voltar ainda este ano a outro assunto polémico, neste caso a eutanásia. Aqui estou a cumprir o prometido.
Penso que esta questão, embora de natureza semelhante à IVG, dado dizer respeito à inviolabilidade da vida humana, tem facilitada a sua reflexão e debate, na medida em que o protagonista central, ao contrário do feto, é habitualmente um indivíduo adulto, na maior parte dos casos, possuidor de discernimento e vontade própria. Portanto, paremos para pensar. Da discussão nascerá a luz.
p
No dicionário: Eutanásia - (do grego EU, boa, e THANATOS, morte)
Significado na antiguidade clássica (Grécia e Roma): morte por piedade, morte suave, morte bela e honrosa.
Significado actual: eliminação sem dor de doentes incuráveis, dados como perdidos, apressando-lhes o fim. Habitualmente esta prática implica o consentimento dos familiares do doente, por aquele se encontrar no estado de vida vegetativa.
Outras condutas equiparáveis:
Suicídio assistido: Suicídio de um doente, assistido e auxiliado por uma segunda pessoa de sua confiança, por pedido expresso do primeiro.
Rejeição de excesso terapêutico: Renúncia de tratamentos paliativos, os quais apenas servem para adiar uma morte inevitável.
Conduta brutal: durante o III Reich (1933-1945), no quadro da eugenia, a eutanásia foi oficialmente legitimada e legalizada pelo regime nazi, para que pudessem ser metodicamente eliminados todos os doentes mentais, bem como outros indivíduos portadores de doenças degenerativas e deficiências físicas, que pudessem ameaçar, através dos seus eventuais descendentes, os critérios nacional-socialistas de pureza racial. O programa alemão de eutanásia, organizado pelo Professor Werner Heyde, e realizado com uma obstinação patológica, fez 200.000 vítimas alemãs, servindo de ensaio e modelo para outras formas de extermínio de estrangeiros e pessoas indesejáveis, nos campos de concentração. Foi a partir daí que a eutanásia passou a ser equiparada, a vários níveis, com outras práticas, tão indignas quanto monstruosas, logo classificada como crime.
P
O facto de 80% dos médicos oncológicos portugueses estarem dispostos a recusarem a prática da eutanásia, tal como acontece com a interrupção da gravidez, não tem a ver com a bondade ou iniquidade da prática da eutanásia, mas sim com a objecção de consciência, determinada pelo juramento de Hipócrates e princípios éticos ou religiosos adoptados pelo médico.
Deste modo, a eutanásia não deve ser considerada uma medida boa ou má, pelo simples facto de haver ou não pessoas dispostas a consenti-la ou a levá-la a cabo.
P
A inviolabilidade da vida humana tem a ver com o DEVER que obriga o ser humano a respeitar a vida do seu semelhante, enquanto bem alheio, mas não deve ser confundido com o DIREITO que assiste ao ser humano de dispor da sua própria vida, enquanto bem pessoal e intransmissível. Assim sendo, não deve ser confundido o direito à vida com o dever ou obrigação de viver.
P
“Viver é um direito, não uma obrigação.”
Foram estas as palavras de Ramón Sanpedro, tetraplégico espanhol que esteve imobilizado numa cama durante 29 anos, e que conseguiu por termo à vida com a ajuda da sua companheira, em Janeiro de 1998. Travou durante 5 anos uma renhida batalha com os tribunais espanhóis, os quais sempre lhe negaram o pedido que havia formulado de ter direito ao suicídio assistido, pois considerava uma humilhante escravidão, a situação de estar lucidamente preso a um corpo morto.
P
Sobretudo o suicídio assistido e a rejeição de excesso terapêutico não quebram o conceito de inviolabilidade do direito à vida, na medida em que resultam de decisões íntimas, maduramente ponderadas, não sendo o mero produto de mentes turvadas e distorcidas, como algumas pessoas pretendem fazer crer.
P
O direito definiu a inviolabilidade da vida humana, não como um princípio absoluto, mas como um aspecto da condição humana. Há que reconhecer o direito de fazer cessar a própria vida, em pé de igualdade com o direito de continuar a viver essa mesma vida. A separar estes conceitos existe um grau de sensibilidade perante o sofrimento, um estado pessoal e intransmissível, que não é mensurável, mas que pode determinar o desejo ou não de continuar a viver. Embora opostos, viver ou não viver, são ambos direitos humanos, logo invioláveis.
Resumindo: há que moralizar, desmistificar e descriminalizar a prática da eutanásia. Ela deve ser encarada, não como uma “solução administrativa”, mas como uma solução natural. Deve ser interpretado como a decisão que de quem está impossibilitado de executar o gesto final, pelos seus próprios meios, e que recorre à mão amiga, para assegurar a dignidade do seu desejo final.
P
Quanto às religiões e suas crenças, já sabemos o que pensam sobre o assunto: se Deus pode tirar a vida de forma arbitrária e caprichosa, tal sempre foi entendido e desculpabilizado como a vontade divina; se é um humano que pratica a eutanásia, tal acto é um pecado (quando não crime cível) que supõe, tanto para o agente activo como passivo, no mínimo, a pena de arderem no inferno até ao fim dos tempos,.
P
Já fez um ano que Rafael Soares, no blog A TOUPEIRA, em 13 Dez 2006, disse o seguinte:
“A morte voluntária é mais dramática justamente por ser interdita. Não fora isso e talvez fosse menos dura de suportar pelos que ficam, pelos que esperam. Estou em crer que é assunto que deve ser mais amplamente debatido. Tem a ver, convenhamos, com os direitos humanos. O direito que cada um tem, ou devia ter, para escolher o momento de partir. O direito a uma morte suave e não punitiva. … Queria, isso sim, saber que podia resolver o desenlace duma vida, a minha, como e quando me aprouvesse. Como pode alguém pretender-se livre e autónomo se não dispõe de si próprio? …”
Subscrevo as suas palavras. Espero que a sociedade portuguesa faça a necessária e competente reflexão sobre o assunto. Por mim, estou disponível para dar o segundo passo.

quarta-feira, dezembro 12, 2007

Vigilante 2

G
Questionada sobre a localização do novo aeroporto de Lisboa, esta gaivota, frequentadora habitual dos telhados centenários de Alcochete, teria feito o seguinte comentário:
- Queria ver-vos a aterrarem aqui…
G

sábado, dezembro 08, 2007

Jamaisgate

J
O senhor ministro Mário Lino, que eu admiro sobremaneira, por ser um expoente máximo de coerência, determinação, pragmatismo e estabilidade emocional (além de ser um óptimo desencravador de fotocopiadoras), afirmou peremptoriamente, sem vacilar e sem se rir, que “jamais” disse que “jamais” haveria a construção de um novo aeroporto na margem sul do Tejo. Ora acontece que eu, tal como muitos outros perversos e tortuosos compatriotas, a tal ponto metemos na cabeça, a propósito sabe-se lá de quê, que o ministro teria pronunciado tais palavras, à mistura com referências de que a tal margem sul é um deserto, que a confusão está instalada. Uma coisa é certa: só podemos estar redondamente equivocados! Sei de fonte segura que as próprias televisões, também elas convencidas de que o ministro teria debitado tais afirmações, andam a vasculhar desesperadamente os seus arquivos de gravações de vídeo, sabe-se lá com que intenções. Tanto pode ser para encontrar a fatídica reportagem e embaraçar o ministro (o que acho um procedimento asqueroso), como para destruir o incómodo registo e falsificar a nossa História, o que é também eticamente censurável, além de terem que ser pagos substanciais direitos autorais aos herdeiros do Richard Nixon. Como acho que o ministro é um exemplo de coerência, determinação, rigor, pragmatismo e estabilidade emocional, somos obrigados, eu, bem como outros milhares de portugueses, mais as rádios e as televisões, a darmos o braço a torcer e levados a acreditar piamente que tais afirmações “jamais” foram pronunciadas, as suas gravações não existem, só continuando a subsistir tal ideia nas nossas mentes cavilosas, porque passamos a vida a cozinhar verdades com mentiras de baixo nível (vejam-se também as falsidades tecidas à volta da engenhosa licenciatura do Pinto de Sousa), apenas com a finalidade de denegrir os políticos autênticos. É por estas e por outras que não somos dignos de ter o impoluto senhor Lino como ministro das nossas obras públicas.

Vigilante

V
Uma gaivota em posição atenta e vigilante, instalada num dos candeeiros do molhe de Alcochete, na manhã de 7 de Dezembro de 2007, a ver o cortejo dos chefes de estado, a passarem ao longe, rumo à cimeira da África com a União Europeia.
V

sexta-feira, dezembro 07, 2007

Para a História da Cidade

P
A partir de hoje e nos próximos dias, o Parque das Nações, em Lisboa, vai apresentar a maior concentração por metro quadrado, de delinquentes e trapaceiros, de que há memória, na história da cidade, protegidos pelo maior dispositivo policial de todos os tempos. Porreiro, pá!

quinta-feira, dezembro 06, 2007

Nunca Reuniu!

N
A Comissão de Acompanhamento de Aplicação do Regime de Protecção no Desemprego nunca reuniu, apesar de estar há muitos meses constituída
X
O Decreto-lei n.º 220/2006, de 3 de Novembro, prevê, no art. 83º, a constituição de uma Comissão de Acompanhamento de aplicação da legislação e refere ainda, que a mesma deve ser constituída através dum despacho do Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, a proferir no prazo de três meses a contar da publicação do presente decreto-lei.
Esta Comissão, só foi constituída depois da CGTP-IN ter questionado o Governo na altura, dado que o prazo previsto no diploma não foi cumprido, tendo vindo em 10 de Maio de 2007 a ser publicado o despacho 8392/2007 com um atraso de 3 meses.
A 1ª reunião da Comissão foi agendada 4 meses depois da sua constituição, ou seja, para 12 de Setembro, mas esta acabou por ser adiada para data oportuna, sem qualquer justificação e sem previsão da data de realização de nova reunião.
A CGTP-IN questionou hoje, o Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, de quais as razões para a Comissão ainda não ter começado a funcionar e exigir o seu funcionamento de imediato, dado a importância de acompanhar a aplicação da legislação e, tanto mais, que a Comissão tem a obrigação de realizar, no prazo máximo de 3 anos, uma avaliação global dos novos mecanismos legais introduzidos, e já está quase a completar um ano da entrada em vigor em pleno deste diploma.
X
DIF/CGTP-IN Lisboa, 13.10.2007
Comentário meu: É por estas e por outras que o Governo socretino foge da CGTP como o diabo da cruz.

quarta-feira, dezembro 05, 2007

Palavras do Eça

P
“Este governo não cairá porque não é um edifício, sairá com benzina porque é uma nódoa.”

In O CONDE DE ABRUNHOS, escrito em 1878 por Eça de Queirós

Será Este O País Que Queremos?

S
Da autoria de Ana Benavente, Professora Universitária e militante do PS, foi publicado no jornal Público de 2007 Dezembro 2, o texto que abaixo se transcreve, dando-nos mais uma boa oportunidade para reflectirmos sobre o actual estado da nação.
B
«1. Não sou certamente a única socialista descontente com os tempos que vivemos e com o actual governo.Não pertenço a qualquer estrutura nacional e, na secção em que estou inscrita, não reconheço competência à sua presidência para aí debater, discutir, reflectir, apresentar propostas. Seria um mero ritual.Em política não há divórcios. Há afastamentos. Não me revejo neste partido calado e reverente que não tem, segundo os jornais, uma única pergunta a fazer ao secretário-geral na última comissão política. Uma parte dos seus actuais dirigentes são tão socialistas como qualquer neoliberal; outra parte, outrora ocupada com o debate político e com a acção, ficou esmagada por mais de um milhão de votos nas últimas presidenciais e, sem saber que fazer com tal abundância, continuou na sua individualidade privilegiada. Outra parte, enfim, recebendo mais ou menos migalhas do poder, sente que ganhou uma maioria absoluta e considera, portanto, que só tem que ouvir os cidadãos (perdão, os eleitores ou os consumidores, como queiram) no final do mandato.Umas raríssimas vozes (raras, mesmo) vão ocasionando críticas ocasionais.
B
2. Para resolver o défice das contas públicas teria sido necessário adoptar as políticas económicas e sociais e a atitude governativa fechada e arrogante que temos vivido?Teria sido necessário pôr os professores de joelhos num pelourinho? Impor um estatuto baseado apenas nos últimos sete de carreira? Foi o que aconteceu com os “titulares” e “não titulares”, uma nova casta que ainda não tinha sido inventada até hoje. E premiar “o melhor” professor ou professora? Não é verdade que “ninguém é professor sozinho” e que são necessárias equipas de docentes coesas e competentes, com metas claras, com estratégias bem definidas para alcançar o sucesso (a saber, a aprendizagem efectiva dos alunos)?Teria sido necessário aumentar as diferenças entre ricos e pobres? Criar mais desemprego? Enviar a GNR contra grevistas no seu direito constitucional? Penalizar as pequenas reformas com impostos? Criar tanto desacerto na justiça? Confirmar aqueles velhos mitos de que “quem paga é sempre o mais pequeno”? Continuar a ser preciso “apanhar” uma consulta e, não, “marcar” uma consulta? Ouvir o senhor ministro das Finanças (os exemplos são tantos que é difícil escolher um, de um homem reservado, aliás) afirmar que “nós não entramos nesses jogos”, sendo os tais “jogos” as negociações salariais e de condições de trabalho entre Governo e sindicatos. Um “jogo”? Pensava eu que era um mecanismo de regulação que fazia parte dos regimes democráticos.
C
3.Na sua presidência europeia (são seis meses, não se esqueça), o senhor primeiro-ministro mostra-se eufórico e diz que somos um país feliz.Será? Será que vivemos a Europa como um assunto para especialistas europeus ou como uma questão que nos diz respeito a todos? Que sabemos nós desta presidência? Que se fazem muitas reuniões, conferências e declarações, cujos vagos conteúdos escapam ao comum dos mortais. O que é afinal o Tratado de Lisboa? Como se estrutura o poder na Europa? Quais os centros de decisão? Que novas cidadanias? Porque nos continuamos a afastar dos recém-chegados e dos antigos membros da Europa? Porque ocupamos sempre (nas estatísticas de salários, de poder de compra, na qualidade das prestações dos serviços públicos, no pessimismo quanto ao futuro, etc., etc.) os piores lugares? Porque temos tantos milhares de portugueses a viver no limiar da pobreza?Que bom seria se o senhor primeiro-ministro pudesse explicar, com palavras simples, a importância do Tratado de Lisboa para o bem-estar individual e colectivo dos cidadãos portugueses, económica, social e civicamente.
D
4.Quando os debates da Assembleia da República são traduzidos em termos futebolísticos, fico muito preocupada. A propósito do Orçamento do Estado para 2008, ouviu-se: “Quem ganha? Quem perde? que espectáculo!”.“No primeiro debate perdi”, dizia o actual líder do grupo parlamentar do PSD, “mas no segundo ganhei” (mais ou menos assim). “Devolvam os bilhetes…”, acrescentava outro líder, este de esquerda.E o país, onde fica? Que informação asseguram os deputados aos seus eleitores? De todos os partidos, aliás. Obrigada à TV Parlamento; só é pena ser tão maçadora.Órgão cujo presidente é eleito na Assembleia, o Conselho Nacional de Educação festeja 20 anos de existência. Criado como um órgão de participação crítica quanto às políticas educativas, os seus pareceres têm-se tornado cada vez mais raros. Para mim, que trabalho em educação, parece-me cada vez mais o palácio da bela adormecida (a bela é a participação democrática, claro). E que dizer do orçamento para a cultura, que se torna ainda menos relevante? É assim que se investe “nas pessoas” ou o PS já não considera que “as pessoas estão primeiro”?
F
5. Sinto-me num país tristonho e cabisbaixo, com o PS a substituir as políticas eventuais do PSD (que não sabe, por isso, para que lado se virar).Quanto mais circo, menos pão. Diante dos espectáculos oficiais bem orquestrados que a TV mostra, dos anúncios de um bem-estar sem fim que um dia virá (quanto sebastianismo!), apetece-me muitas vezes dizer: “Aqui há palhaços”. E os palhaços somos nós. As únicas críticas sistemáticas às agressões quotidianas à liberdade de expressão são as do Gato Fedorento.Já agora, ficava tão bem a um governo do PS acabar com os abusos da EDP, empresa pública, que manda o “homem do alicate” cortar a luz se o cidadão se atrasa uns dias no seu pagamento, consumidor regular e cumpridor… Quando há avarias, nós cortamos-lhes o quê? Somos cidadãos castigados!
O país cansa!Os partidos são necessários à democracia mas temos que ser mais exigentes. Movimentos cívicos…procuram-se (já há alguns, são precisos mais). As anedotas e brincadeiras com o “olhe que agora é perigoso criticar o primeiro-ministro” não me fazem rir. Pela liberdade muitos deram a vida. Pela liberdade muitos demos o nosso trabalho, a nossa vontade, o nosso entusiasmo. Com certeza somos muitos os que não gostamos de brincar com coisas tão sérias, sobretudo com um governo do Partido Socialista!”

segunda-feira, dezembro 03, 2007

A Visita do Velho Ditador

A
Há um programa da SIC NOTÍCIAS que dá pelo nome de OPINIÃO PÚBLICA, e que tinha por hábito trazer para a discussão pública temas da actualidade nacional. Hoje, 3 de Dezembro, fomos brindados com um programa dedicado a Salazar e à sua afilhada Micas, no qual o velho ditador foi tema de dissertação entre os interessados. Com tantos problemas agudos a pairarem sobre a actualidade portuguesa, como diria o diácono dos Remédios, não havia necessidade! Pouco ou nada acrescentou àquilo que já sabíamos sobre a lúgubre figura de Salazar, apenas tendo servido para fazer uma “romagem” ao passado, ao mesmo tempo que se tentou emprestar um rosto humano a quem não passou do carcereiro da nação portuguesa, durante quase meio século.

domingo, dezembro 02, 2007

Informação a Reter

I
“Tendo em conta a sua preocupação com a validade das fontes jornalísticas, que tanto abalam a credibilidade da informação que recebemos, creio que esta informação é importante e útil. Como se sabe, na passada Sexta-Feira houve uma greve da função pública. A sempre zelosa DREN enviou, por esse motivo, uma ordem aos conselhos executivos das escolas sob sua jurisdição proibindo as escolas de fornecerem aos meios de comunicação informações sobre o número de professores e funcionários que tinham feito greve. "Recomendava" a mesma mensagem que os jornalistas deveriam ser encaminhados para o gabinete da ministra da educação para obterem qualquer informação nesse sentido, como se a referida ministra ou os membros do seu gabinete soubessem o que se estava a passar nas escolas todas do país. O objectivo desta proibição é, aparentemente, o de controlar a informação e depois poder lançar os números "oficiais" ridículos de adesão às greves que o ministério tem por hábito divulgar, sem que pareçam isso mesmo, ridículos e irreais.
Não sei se estas "orientações" foram uma prática corrente nas outras direcções regionais de educação ou em outros ministérios, mas são por si só graves e reveladores de um pensamento muito redutor em termos de liberdade de expressão.”
A
(Paulo Agostinho in blog ABRUPTO de 2007.Dez.2)

Luzes na Escuridão

L
Em Portugal, a produção de documentários de cariz histórico não é muita, mas o pouco que tem sido feito é de muita qualidade, e com isto quero destacar “O SÉCULO XX PORTUGUÊS”, da autoria de Luís Marinho e Joana Pontes, de que se aguarda ansiosamente uma reposição ou uma edição em DVD, e o “PORTUGAL UM RETRATO SOCIAL” de António Barreto e Joana Pontes. Com o mesmo padrão de qualidade, chega-nos agora “A GUERRA” de Joaquim Furtado. O presente documentário, percorre de forma cronológica os 13 anos de conflitos armados nas antigas colónias portuguesas. No dizer do seu autor, Joaquim Furtado, este trabalho faz chegar ao domínio público novas informações e opiniões sobre algumas “verdades oficiais” que se foram instalando ao longo dos anos, sendo o resultado de um longo e aprofundado trabalho de pesquisa, e tão diversificada quanto possível, relativamente às múltiplas fontes disponíveis. O realizador visualizou mais de seis mil filmes, oriundos, nomeadamente, dos arquivos da RTP, dos serviços de audiovisuais do Exército, muitos arquivos particulares e realizou cerca de 200 entrevistas a protagonistas que militaram nos vários lados do conflito.
Embora jornalista, Joaquim Furtado adoptou um modelo de exposição que contemplou as diferentes visões com que os protagonistas se identificavam, alguns já falecidos e outros ainda sobrevivos, o que levou a que aquele conflito acabasse por ser assumido, respectivamente e consoante o caso, como uma guerra colonial, do ultramar ou de libertação. Em última análise, o realizador subordinou aquele modelo à preocupação de fazer um enquadramento histórico do trabalho, tão rigoroso quanto possível, com o objectivo de contribuir para que os historiadores se debrucem sobre aquele conturbado período da história portuguesa.
Joaquim Furtado foi o jornalista do Rádio Clube Português que à época da revolução do 25 de Abril de 1974, em pleno estúdio leu o histórico comunicado do Movimento das Forças Armadas, pouco depois da rádio ter sido ocupada, de madrugada, pelos militares revoltosos que puseram fim ao regime. Mais tarde viria a entrar para a RTP, e nos anos 80 começou a pensar neste projecto, o qual foi adiado por várias vezes, regressando a ele só depois de ter saído da estação pública de televisão, em 1998, quando se demitiu da direcção. Quando teve finalmente disponibilidade para voltar ao projecto, foi encontrar mais material do que esperava, em milhares de filmes, 500 horas de gravações, que suscitaram entrevistas a algumas pessoas que foi identificando nas imagens.
Decorridos apenas 6 episódios, suspeito que despontou mais uma luz na escuridão. Quando a série terminar (diz-se que tem 18 episódios), voltarei a tecer algumas considerações adicionais sobre “A GUERRA”.

terça-feira, novembro 27, 2007

Lá Estaremos!

A

Opinião a Reter

O
“Numa escola pública de Lisboa, cada aluno tem por missão verificar o que come cada colega, sobretudo se petisca guloseimas. Seguidamente, cada um destes vigilantes dá conta das suas averiguações ao professor de Educação Cívica. Presume-se que, da posse dessas informações, o dito professor tirará matéria para mostrar os benefícios da boa alimentação.

Os meninos de hoje não devem ser menos prosélitos do que os seus antepassados da Mocidade e dos Pioneiros. A alimentação deve preocupá-los, tal como os contaminantes comunistas e fascistas ocuparam o imaginário dos seus avós e pais.

Dentro de algum tempo será a vez de quererem regular as opiniões. Aí não falarão de segurança alimentar mas sim de pornografia, dos sites perigosos, dos blogues… E, nesse dia, que não vem longe, nas aulas de Formação Cívica, cada aluno será responsável por ver e relatar o que faz cada colega quando se liga à Internet.”
A
Helena Matos, in INFELIZMENTE ELES NÃO ESTÃO DOIDOS, jornal Público de 2007-Nov-26

segunda-feira, novembro 26, 2007

Carta Aberta

C
Carta aberta ao Senhor Presidente da República Portuguesa

Ílhavo, 22 de Outubro de 2007

Senhor Presidente da República Portuguesa

Excelência:

Disse V. Excia, no discurso do passado dia 5 de Outubro, que os professores precisavam de ser dignificados e eu ouso acrescentar: “Talvez V. Excia não saiba bem quanto!”

1. Sou professor há mais de trinta e seis anos e no ano passado tive o primeiro contacto com a maior mentira e o maior engano (não lhe chamo fraude porque talvez lhe falte a “má-fé”) do ensino em Portugal que dá pelo nome de Cursos de Educação e Formação (CEF).
A mentira começa logo no facto de dois anos nestes cursos darem equivalência ao 9º ano, isto é, aldrabando a Matemática, dois é igual a três!
Um aluno pode faltar dez, vinte, trinta vezes a uma ou a várias disciplinas (mesmo estando na escola) mas, com aulas de remediação, de recuperação ou de compensação (chamem-lhe o que quiserem mas serão sempre sucedâneos de aulas e nunca aulas verdadeiras como as outras) fica sem faltas. Pode ter cinco, dez ou quinze faltas disciplinares, pode inclusive ter sido suspenso que no fim do ano fica sem faltas, fica puro e imaculado como se nascesse nesse momento.
Qual é a mensagem que o aluno retira deste procedimento? Que pode fazer tudo o que lhe apetecer que no final da ano desce sobre ele uma luz divina que o purifica ao contrário do que na vida acontece. Como se vê claramente não pode haver melhor incentivo à irresponsabilidade do que este.

2. Actualmente sinto vergonha de ser professor porque muitos alunos podem este ano encontrar-me na rua e dizerem: ”Lá vai o palerma que se fartou de me dizer para me portar bem, que me dizia que podia reprovar por faltas e, afinal, não me aconteceu nada disso. Grande estúpido!”

3. É muito fácil falar de alunos problemáticos a partir dos gabinetes mas a distância que vai deles até às salas de aula é abissal. E é-o porque quando os responsáveis aparecem numa escola levam atrás de si (ou à sua frente, tanto faz) um magote de televisões e de jornais que se atropelam uns aos outros. Deviam era aparecer nas escolas sem avisar, sem jornalistas, trazer o seu carro particular e não terem lugar para estacionar como acontece na minha escola.
Quando aparecem fazem-no com crianças escolhidas e pagas por uma empresa de “casting” para ficarem bonitos (as crianças e os governantes) na televisão.
Os nossos alunos não são recrutados dessa maneira, não são louros, não têm caracóis no cabelo nem vestem roupa de marca.
Os nossos alunos entram na sala de aula aos berros e aos encontrões, trazem vestidas camisolas interiores cavadas, cheiram a suor e a outras coisas e têm os dentes em mísero estado.
Os nossos alunos estão em estado bruto, estão tal e qual a Natureza os fez, cresceram como silvas que nunca viram uma tesoura de poda. Apesar de terem 15/16 anos parece que nunca conviveram com gente civilizada.
Não fazem distinção entre o recreio e o interior da sala de aula onde entram de boné na cabeça, “headphones” nos ouvidos continuando as conversas que traziam do recreio.
Os nossos alunos entram na sala, sentam-se na cadeira, abrem as pernas, deixam-se escorregar pela cadeira abaixo e não trazem nem esferográfica nem uma folha de papel onde possam escrever seja o que for.
Quando lhes digo para se sentarem direitos, para se desencostarem da parede, para não se virarem para trás olham-me de soslaio como que a dizer “Olha-me este!” e passados alguns segundos estão com as mesmas atitudes.

4. Eu não quero alunos perfeitos. Eu quero apenas alunos normais!!!
Alunos que ao serem repreendidos não contradigam o que eu disse e que ao serem novamente chamados à razão não voltem a responder querendo ter a última palavra desafiando a minha autoridade, não me respeitando nem como pessoa mais velha nem como professor. Se nunca tive de aturar faltas de educação aos meus filhos por que é que hei-de aturar faltas de educação aos filhos dos outros? O Estado paga-me para ensinar os alunos, para os educar e ajudar a crescer; não me paga para os aturar! Quem vai conseguir dar aulas a alunos destes até aos 65 anos de idade?
Actualmente só vai para professor quem não está no seu juízo perfeito mas se o estiver, em cinco anos (ou cinco meses bastarão?...) os alunos se encarregarão de lhe arruinar completamente a sanidade mental.
Eu quero alunos que não falem todos ao mesmo tempo sobre coisas que não têm nada a ver com as aulas e quando peço a um que se cale ele não me responda: “Por que é que me mandou calar a mim? Não vê os outros também a falar?”
Eu quero alunos que não façam comentários despropositados de modo a que os outros se riam e respondam ao que eles disseram ateando o rastilho da balbúrdia em que ninguém se entende.
Eu quero alunos que não me obriguem a repetir em todas as aulas “Entram, sentam-se e calam-se!”
Eu quero alunos que não usem artes de ventríloquo para assobiar, cantar, grunhir, mugir, roncar e emitir outros sons. É claro que se eu não quisesse dar mais aula bastaria perguntar quem tinha sido e não sairia mais dali pois ninguém assumiria a responsabilidade.
Eu quero alunos que não desconheçam a existência de expressões como “obrigado”, “por favor” e “desculpe” e que as usem sempre que o seu emprego se justifique.
Eu quero alunos que ao serem chamados a participar na aula não me olhem com enfado dizendo interiormente “Mas o que é que este quer agora?” e demorem uma eternidade a disponibilizar-se para a tarefa como se me estivessem a fazer um grande favor. Que fique bem claro que os alunos não me fazem favor nenhum em estarem na aula e a portarem-se bem.
Eu quero alunos que não estejam constantemente a receber e a enviar mensagens por telemóvel e a recusarem-se a entregar-mo quando lho peço para terminar esse contacto com o exterior pois esse aluno “não está na sala”, está com a cabeça em outros mundos.
Eu sou um trabalhador como outro qualquer e como tal exijo condições de trabalho! Ora, como é que eu posso construir uma frase coerente, como é que eu posso escolher as palavras certas para ser claro e convincente se vejo um aluno a balouçar-se na cadeira, outro virado para trás a rir-se, outro a mexer no telemóvel e outro com a cabeça pousada na mesa a querer dormir?
Quando as aulas são apoiadas por fichas de trabalho gostaria que os alunos, ao sair da sala, não as amarrotassem e deitassem no cesto do lixo mesmo à minha frente ou não as deixassem “esquecidas” em cima da mesa.
Nos últimos cinco minutos de uma aula disse aos alunos que se aproximassem da secretária pois iria fazer uma experiência ilustrando o que tinha sido explicado e eles puseram os bonés na cabeça, as mochilas às costas e encaminharam-se todos em grande conversa para a porta da sala à espera que tocasse. Disse-lhes: “Meus meninos, a aula ainda não acabou! Cheguem-se aqui para verem a experiência!” mas nenhum deles se moveu um milímetro!!!
Como é possível, com alunos destes, criar a empatia necessária para uma aula bem sucedida?
É por estas e por outras que eu NÃO ADMITO A NINGUÉM, RIGOROSAMENTE A NINGUÉM, que ouse pensar, insinuar ou dizer que se os meus alunos não aprendem a culpa é minha!!!

5. No ano passado tive uma turma do 10º ano dum curso profissional em que um aluno, para resolver um problema no quadro, tinha de multiplicar 0,5 por 2 e este virou-se para os colegas a perguntar quem tinha uma máquina de calcular!!! No mesmo dia e na mesma turma outro aluno também pediu uma máquina de calcular para dividir 25,6 por 1. Estes alunos podem não saber efectuar estas operações sem máquina e talvez tenham esse direito. O que não se pode é dizer que são alunos de uma turma do 10º ano!!!
Com este tipo de qualificação dada aos alunos não me admira que, daqui a dois ou três anos, estejamos à frente de todos os países europeus e do resto do mundo. Talvez estejamos só que os alunos continuarão a ser brutos, burros, ignorantes e desqualificados mas com um diploma!!!

6. São estes os alunos que, ao regressarem à escola, tanto orgulho dão ao Governo. Só que ninguém diz que os Cursos de Educação e Formação são enormes ecopontos (não sejamos hipócritas nem tenhamos medo das palavras) onde desaguam os alunos das mais diversas proveniências e com histórias de vida escolar e familiar de arrepiar desde várias repetências e inúmeras faltas disciplinares até famílias irresponsáveis.
Para os que têm traumas, doenças, carências, limitações e dificuldades várias há médicos, psicólogos, assistentes sociais e outros técnicos, em quantidade suficiente, para os ajudar e complementar o trabalho dos professores?
Há alunos que têm o sublime descaramento de dizer que não andam na escola para estudar mas para “tirar o 9º ano”.
Outros há que, simplesmente, não sabem o que andam a fazer na escola…
E, por último, existem os que se passeiam na escola só para boicotar as aulas e para infernizar a vida aos professores. Quem é que consegue ensinar seja o que for a alunos destes? E por que é que eu tenho de os aturar numa sala de aula durante períodos de noventa e de quarenta e cinco minutos por semana durante um ano lectivo? A troco de quê? Da gratidão da sociedade e do reconhecimento e do apreço do Ministério não é, de certeza absoluta!

7. Eu desafio seja quem for do Ministério da Educação (ou de outra área da sociedade) a enfrentar (o verbo é mesmo esse, “enfrentar”, já que de uma luta se trata…), durante uma semana apenas, uma turma destas sozinho, sem jornalistas nem guarda-costas, e cumprir um horário de professor tentando ensinar um assunto qualquer de uma unidade didáctica do programa escolar.
Eu quero saber se ao fim dessa semana esse ilustre voluntário ainda estará com vontade de continuar. E não me digam que isto é demagogia porque demagogia é falar das coisas sem as conhecer e a realidade escolar está numa sala de aula com alunos de carne, osso e odores e não num gabinete onde esses alunos são números num mapa de estatística e eu sei perfeitamente que o que o Governo quer são números para esse mapa, quer os alunos saibam estar sentados numa cadeira ou não (saber ler e explicar o que leram seria pedir demasiado pois esse conhecimento justificaria equivalência, não ao 9º ano, mas a um bacharelato…).
É preciso que o Ministério diga aos alunos que a aprendizagem exige esforço, que aprender custa, que aprender “dói”! É preciso dizer aos alunos que não basta andar na escola de telemóvel na mão para memorizar conhecimentos, aprender técnicas e adoptar posturas e comportamentos socialmente correctos.

Se V.Excia achar que eu sou pessimista e que estou a perder a sensibilidade por estar em contacto diário com este tipo de jovens pergunte a opinião de outros professores, indague junto das escolas, mande alguém saber. Mas tenha cuidado porque estes cursos são uma mentira…

Permita-me discordar de V. Excia mas dizer que os professores têm de ser dignificados é pouco, muito pouco mesmo…

Atenciosamente

Domingos Freire Cardoso
Professor de Ciências Físico-Químicas
Rua José António Vidal, nº 25 C
3830 - 203 ÍLHAVO
E-mail:
dfcardos@gmail.com

domingo, novembro 25, 2007

Invasões

I
Aconselho vivamente a leitura do ensaio histórico do investigador Vasco Pulido Valente, recentemente publicado com o sugestivo título de “Ir Prò Maneta” (Alêtheia Editores, 2007). Relata e traça um pormenorizado retrato dos vários estratos sociais portugueses, das suas motivações e forma como enfrentaram as invasões dos exércitos napoleónicos - com especial relevo para a primeira, comandada pelo general Junot em 1808 - em inusitadas insurreições e levantamentos patrióticos, sem esquecer que quando os ingleses desembarcaram em Lavos, perto da Figueira da Foz, para nos virem ajudar, já o povo amotinado, de norte a sul, apenas armado de paus, chuços e piques, tinha libertado nove décimos do país.
Duzentos anos depois, os portugueses bem podem reflectir e tirar algumas conclusões sobre o comportamento dos nossos antepassados. O conhecimento da História também tem essa prodigiosa função que é a de, em momentos muito precisos, perante outros tipos de pilhagens e sevícias, ajudar a reanimar a identidade, a combatividade e a auto-estima dos povos.

quinta-feira, novembro 22, 2007

Habituem-se!

H
Em Fevereiro de 2005, António Vitorino, respondendo aos jornalistas sobre a pouca informação que girava à volta da constituição do futuro governo, afirmou, por mais de uma vez, com a sua habitual impertinência, que o Governo de Sócrates não seria formado "na comunicação social e pela comunicação social", e que em termos de governação, "em Portugal é preciso ter teimosia, e ter determinação". Para que não restassem dúvidas, sublinhou as suas declarações com um peremptório, quase ameaçador, "Vamos continuar. Habituem-se!".
Ao princípio ainda se pensava que esta advertência era dirigida exclusivamente aos jornalistas, mas com o correr do tempo concluiu-se que a mensagem era dirigida a toda a sociedade portuguesa, dando a entender que aquele "vamos continuar” e “habituem-se!" prenunciava a confrontação eminente, contra tudo e contra todos, não para melhorar mas para piorar o estado geral da nação. Quase 3 anos depois daquelas palavras de António Vitorino, os resultados estão à vista:
1 - A passiva maioria absoluta do PS, tornou-se o sustentáculo de uma das mais preocupantes derivas autoritárias, desde a restauração das liberdades democráticas, em 25 de Abril;
2 – José Sócrates Pinto de Sousa estava determinado a fazer regredir socialmente o país para níveis próximos do século XIX, e se o povo não souber responder em conformidade, ele vai consegui-lo.

Mudanças na Ortografia da Língua Portuguesa

M
A partir de Janeiro de 2008, Brasil, Portugal e os países da CPLP – Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste - terão a ortografia unificada.

O português é a terceira língua ocidental mais falada, após o inglês e o espanhol. A ocorrência de ter duas ortografias atrapalha a divulgação do idioma e a sua prática em eventos internacionais. Sua unificação, no entanto, facilitará a definição de critérios para exames e certificados para estrangeiros. Com as modificações propostas no acordo, calcula-se que 1,6% do vocabulário de Portugal seja modificado. No Brasil, a mudança será bem menor: 0,45% das palavras terão a escrita alterada. Mas apesar das mudanças ortográficas, serão conservadas as pronúncias típicas de cada país.

O que vai mudar na ortografia em 2008:

- As paroxítonas terminadas em "o" duplo, por exemplo, não terão mais acento circunflexo. Ao invés de "abençôo", "enjôo" ou "vôo", os brasileiros (e os outros) terão que escrever "abençoo", "enjoo" e "voo";
- mudam-se as normas para o uso do hífen no meio das palavras; O hífen vai desaparecer do meio de palavras, com excepção daquelas em que o prefixo termina em `r´, casos de "hiper-", inter-" e "super-". Assim passaremos a ter "extraescolar", "aeroespascial" e "autoestrada".
- Não se usará mais o acento circunflexo nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do substantivo dos verbo "crer", "dar", "ler","ver" e seus decorrentes, ficando correta a grafia "creem", "deem", "leem" e "veem";
- Criação de alguns casos de dupla grafia para fazer diferenciação, como o uso do acento agudo na primeira pessoa do plural do pretérito perfeito dos verbos da primeira conjugação, tais como "louvámos" em oposição a "louvamos" e "amámos" em oposição a "amamos";
- O trema (brasileiro) desaparece completamente. Estará correto escrever "linguiça", "sequência", "frequência" e "quinquênio" ao invés de lingüiça, seqüência, freqüência e qüinqüênio;
- O alfabeto deixa de ter 23 letras para ter 26, com a incorporação de "k", "w" e "y"; - O acento deixará de ser usado para diferenciar "pára" (verbo) de "para" (preposição);
- No Brasil, haverá eliminação do acento agudo nos ditongos abertos "ei" e "oi" de palavras paroxítonas, como "assembléia", "idéia", "heróica" e "jibóia". O certo será assembleia, ideia, heroica e jiboia;
- Em Portugal, desaparecem da língua escrita o "c" e o "p" nas palavras onde ele não é pronunciado, como em "acção", "acto", "adopção" e "baptismo". O certo será ação, ato, adoção e batismo;
- Também em Portugal elimina-se o "h" inicial de algumas palavras, como em "húmido", que passará a ser grafado como no Brasil: "úmido";
- Portugal mantém o acento agudo no e e no o tônicos que antecedem m ou n, enquanto o Brasil continua a usar circunflexo nessas palavras: académico/acadêmico, génio/gênio, fenómeno/fenômeno, bónus/bônus.
F
Fontes: Banco de Dados da Língua Portuguesa – FFCLH USP (2007), Revista Isto É, Folha de São Paulo, Agência Lusa e Semanário "SOL"

sábado, novembro 17, 2007

Colecções Particulares

C
Uma semana antes das eleições, o Paulo Portas mandou digitalizar mais de 60 mil páginas de documentos que transitaram pelo seu gabinete no Ministério da Defesa. Se em vez de digitalização, estivéssemos a falar de fotocópias tradicionais, e se cada documento fosse apenas uma página de A4, ele fez sair do ministério, surripiando material para o seus arquivos particulares, nada mais, nada menos, que 120 resmas de papel, de documentação altamente sigilosa, para não dizer de segredos de estado. Então, na altura, ninguém deu por nada, ninguém dá um passo, ninguém mexe uma palha, ninguém faz uma “vistoria” à casa daquele Portas, e responsabiliza o tunante?

sábado, novembro 10, 2007

Pobreza e Riqueza em Portugal

P
“Nos últimos cinco anos (a acreditar-se na visão optimista da estatística oficial) os dez maiores grupos portugueses de empresas da indústria e da banca registaram lucros consolidados de cerca de 5.500 milhões de Euros, isto é, 10 empresas geraram um crescimento de +122% nos seus resultados financeiros, enquanto que, no mesmo período, o PIB nacional apenas conseguia um modesto registo de +14,7% (a distribuir pelos referidos 5 anos), portanto, oito vezes inferior ao que foi produzido pelas citadas 10 empresas privadas. Se tivermos somente em atenção os resultados dos 4 bancos que integram esse “pelotão da frente” (CGD, BCP, BES e BPI), veremos que só à sua parte o crescimento somou 72,5%.
Foi neste período que os governos de direita do PS e do PSD/CDS desenvolveram as suas teses do “apertar o cinto por causa do défice público” e avançaram políticas de desmembramento do Serviço Nacional de Saúde, de redução de âmbito da Segurança Social, da venda a privados das dívidas do Estado e de um sector crescento do património nacional, da progressiva liberalização dos despedimentos e do estabelecimento das bases de um Estado centralizado e autoritário.
O país serve, na perspectiva dos governantes, para financiar os projectos de uma elite do sector privado.”
Jorge Messias, em ODIARIO.INFO em 2007 Setembro 30

O Analfabeto Político

O
“O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa nos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguer, do sapato e do remédio depende das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.”
Bertold Brecht (1898-1956), poeta, dramaturgo e encenador

segunda-feira, novembro 05, 2007

A Ilha

A
Título: A Ilha
Título Original: The Island
Ano da estreia: 2005
Realização: Michael Bay
Guião: Caspian Tredwell-Owen e Alex Kurtzman
Género: Ficção Científica – Acção
Actores principais: Ewan McGregor e Scarlett Johansson

Embora classificado como tal, este filme, em rigor, já não se enquadra no género de ficção científica, porque o que nos transmite é uma realidade que já está ali ao virar da esquina, fruto do “aperfeiçoamento” das técnicas de clonagem, da sua inevitável industrialização e comercialização, e que só ainda não abandonou o segredo dos laboratórios, por força das questões éticas que têm acompanhado os progressos da engenharia genética. No entanto, isso não impediu que à volta do tema tivesse sido construído um argumento robusto e credível, que só pecou por os criadores do filme terem querido extrair muitos “subprodutos” fílmicos de efeito fácil, recorrendo a uma montagem vertiginosa, perseguições e muita pirotecnia, que têm tanto de supérfluas como de desnecessárias, tentando levar a história mais longe, quando a “energia” da ideia nuclear já estava esgotada, ou melhor dizendo, subvertida.
A acção localiza-se algures neste século XXI e decorre num complexo tecnológico que, baseando-se em avançadas técnicas de clonagem, explora a criação de réplicas humanas, para clientes com suficiente capacidade financeira para poderem dispor de uma cópia de si próprios, funcionando aqueles como banco de órgãos, para que eles, os originais, pudessem beneficiar de um prolongamento da vida, sem que os transplantes corram o habitual risco de rejeições por incompatibilidade. Ainda não é a eternidade, mas apenas uma promessa, um primeiro grande passo.
Como se trata de seres humanos e não da ovelha “Dolly”, e para manter a estabilidade da sua população, o tal centro tecnológico recorria a duas piedosas mentiras: a vida sobre a superfície da terra tinha-se tornado impossível, irremediavelmente condenada pela contaminação ambiental, e a obtenção de passaporte para abandonar aquele mundo subterrâneo e aceder a uma certa ilha paradisíaca, apenas era possível através de um regular sorteio, que mantinha mobilizada e na expectativa toda a população de imitações. Acontece que não era uma ilha o que esperava os felizes contemplados, mas apenas e tão só a sala de transplantes. Em dado momento pensei que iria novamente ser introduzido naquela velha questão que “Brade Runner” ou “Inteligência Artificial” (é fatal a comparação) tão genialmente abordaram. Mas não. Centrado numa ideia-chave que a acção do filme se propunha desenvolver, isto é, qualquer coisa como “eles não querem que tu saibas quem tu és”, há um momento em que o filme podia ter enveredado pela exploração do filão inesgotável da problemática e da confrontação entre a condição humana e as suas réplicas. Contudo, Michael Bay não entendeu assim, preferindo mudar de rumo, encaminhando a narrativa para a acção pura e dura, e transformando as vítimas em improváveis e pouco credíveis “denunciadores” e “heróis libertadores” de uma “indústria” que, em termos reais, nunca se deixaria infiltrar por sabotadores, de forma tão ingénua e pouco convincente. A linha de força inicial esbate-se para dar lugar à banalidade. Se “a ilha” e a “contaminação”, no contexto do filme, são duas mentiras que servem para manter uma população de clones sob controlo e na expectativa de alcançar uma espécie de paraíso, também o filme em si mesmo, relativamente à sua responsabilidade perante o espectador, se vai transformando numa espécie de auspiciosa promessa não cumprida.
Há filmes que são obras de arte, enquanto que outros, embora pretensiosos ou bem intencionados, não passam de produtos mais ou menos comerciais. Com um terço inicial a prometer um filme recheado de substância e densidade, Michael Bay, com alguns créditos já firmados, não resiste à tentação do espectáculo visual, acabando por resvalar para o puro entretenimento. A banda sonora é sofrível, a fotografia é excelente, e quanto a Scarlett Johansson e Ewan McGregor, têm representações competentes e dignas, embora, por mais que se esforcem, não consigam salvar a honra do convento.
Esta “A Ilha”, com todas as condições e atributos para se classificar como um grande filme, ansiando um lugar entre os eleitos, acaba por escolher o caminho fácil e efémero, mas nem sempre garantido, de ser um produto apetecível, porém perecível, que depois de digerido, logo se esquece.

domingo, outubro 28, 2007

Pelo SIM ao Referendo

P
Sou pelo SIM ao referendo, destinado à ratificação do Tratado da União Europeia (ou Tratado de Lisboa), porque Portugal é domínio dos portugueses, a Europa dos europeus, e não dos políticos que nos governam, efémera, nem sempre sagazmente, e quantas vezes animados por razões egoístas, triviais e mesquinhas. Assim sendo, subscrevo na totalidade este clarividente escrito de José Pacheco Pereira, publicado no jornal PÚBLICO de 27 de Outubro de 2007, e posteriormente no seu blogue ABRUPTO.
Aos políticos também cabe a função pedagógica de decifrarem o conteúdo das leis e dos tratados, afinal, obra deles, e pelos vistos, que a alguns deles, pelas mais variadas, e quantas vezes, obscuras razões, interessará manter longe do debate e afastado do entendimento e escrutínio dos povos.

Puro Ilusionismo

P
O professor Vital Moreira, partidário de que o Tratado da União Europeia (ou de Lisboa) não deve ser referendado pelos eleitores, mas apenas ratificado pelos parlamentares da Assembleia da Republica, explicou o seu raciocínio no blogue Causa Nossa. Entre outras coisas, diz ele o seguinte: “Os que defendem o referendo sobre o Tratado de Lisboa já experimentaram lê-lo? E acham que algum cidadão comum consegue passar da segunda página? Não será tempo de deixar de brincar aos referendos?”. Assim, de uma assentada, matou dois coelhos com uma única cajadada, atribuindo aos portugueses o ignominioso perfil de estúpidos e incapazes de discernirem o conteúdo do dito tratado, e lançando mais uma acha para a fogueira em que a participação democrática se está a consumir e a debilitar.
Aliás, ele não fez mais do que secundar o ministro dos negócios estrangeiros Luís Amado, quando aquele alegou que «os tratados internacionais não têm que ser referendados. É para isso que existem os parlamentos», acrescentando mais à frente que «os tratados são, de uma maneira geral, muito complexos. Difíceis de apreender em termos de uma simples pergunta a um eleitor».
No auge desta diarreia mental que toca as raias da falta de decência intelectual, com o objectivo de atenuar a prepotência da sua anterior tese, o senhor Vital Moreira (VM), desta vez secundado pela senhora deputada Ana Gomes (AG), vieram sugerir que aos portugueses, pela via referendária, apenas lhes deveria ser permitido perguntar se DESEJAM OU NÃO SAIR da União Europeia. Alicerçando o seu pensamento no falso princípio de que quem é contra o tratado é contra a União Europeia, o que corresponde a uma grosseira simplificação, diz VM que “(…) depois de entrado em vigor o novo Tratado, pode ser convocado um referendo, cumprindo os requisitos constitucionais, com a seguinte simples e clara pergunta: Portugal deve sair da UE?". Não discordando da forma, mas apenas do conteúdo, logo a seguir vem AG acrescentar que «o referendo que haverá a levar a cabo em Portugal, não se deve centrar no Tratado, mas sobre a questão de fundo: queremos nós, portugueses, continuar a participar na construção do projecto europeu consubstanciado na UE?».
Além da pura subversão do instituto do referendo (menos referendo e mais sondagem de opinião, como muito bem diz Victor Dias), naquela ordem de ideias e para aqueles doutos senhores, primeiro somos dados como incapazes para saber as linhas com que a Europa se cose, para logo a seguir, num assomo de generosidade, abrirem mão do referendo, limitando-nos a decidir se queríamos CONTINUAR OU NÃO na União Europeia, mas sendo-nos vedado emitir opinião sobre as políticas e orientações dessa mesma União Europeia, consubstanciadas nos grandes documentos constituintes e tratados. Eis a forma como se transforma a democracia em puro ilusionismo.

quinta-feira, outubro 25, 2007

Para NÃO ESQUECER

P
«O PS entende que é necessário reforçar a legitimação democrática do processo de construção europeia, pelo que defende que a aprovação e ratificação do Tratado deva ser precedida de referendo popular, amplamente informado e participado, na sequência de uma revisão constitucional que permita formular aos portugueses uma questão clara, precisa e inequívoca.»
- Programa eleitoral do PS/2005, na base do qual Sócrates chegou a primeiro-ministro

terça-feira, outubro 23, 2007

Novas do Burgo

N
Porreiro, Pá!

Os políticos que estiveram em Lisboa, na madrugada de 19 de Outubro a aprovar o tratado da União Europeia, bem podem bambolear-se com o seu “feito”, mas uma coisa é certa: os povos europeus, de leste a oeste, poucos foram os que foram ouvidos em referendo sobre a anterior constituição (tendo-a rejeitado), e sobre esta novel versão, em forma de tratado, quase ninguém sabe do que trata, logo a “coisa” foi decidida nas suas costas. Muito espectáculo e pouco conteúdo, eis o que sobra. Diz quem está bem informado que o tratado tem 95% do cadáver da finada constituição, mais uns 5% de arranjos e maquilhagem, com o objectivo de parecer material novo. O assunto Europa é demasiado sério para que se queira fazer tábua-rasa dos interesses dos povos, logo, este simulacro de democracia apenas vai afastar, cada vez mais, os cidadãos europeus de um projecto que tem cada vez menos a ver com eles. Quanto a Portugal, como sempre, os seus representantes portaram-se condignamente, como bons e disciplinados alunos, mantendo-se também razoáveis estalajadeiros, sem reivindicações, e ipso facto, exibindo-nos com a habitual fórmula de pobretes mas alegretes. Portanto, tendo o povo votado e gerado esta maioria absoluta, pugnemos para que eles realizem as suas promessas. Assim, que venha esse prometido referendo!
No fecho dos trabalhos, o porreiríssimo e sonoro desabafo do presidente em exercício sr. Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates, para o seu guia espiritual sr. José, também conhecido por Durão Barroso, é bem ilustrativo da leviandade com que tudo isto está a ser encarado. Consumada mais uma finta aos povos da Europa, balbuciou para os indiscretos microfones um “porreiro, pá!”, que os jornalistas estrangeiros tiveram dificuldade em interpretar. Nestas ocasiões, sem ser preciso recorrer ao inglês técnico, o velho português corrente serve.

Felizes e Contentes

O Sr. João Deus Pinheiro (PSD) e o Sr. António Victorino (PS) estiveram na RTP, em monocórdica cavaqueira, a comentarem a aprovação do tratado da União Europeia, dito de Lisboa, reeditando o divertido papel de Sr. Feliz e do Sr. Contente de outros tempos. Quanto à ERC (Entidade Reguladora da Comunicação), continua a não ter opinião sobre a ausência de partilha pelas outras faixas de opinião, dos programas e tempos da televisão pública, paga por TODOS os contribuintes, continuando assim a dar sucessivas provas da sua perfeita e indecorosa inutilidade.

A Grande Bandalheira

O procurador-geral da República, dr. Fernando Pinto Monteiro, numa entrevista que deu ao semanário Sol, em 20-10-2007, fez algumas afirmações que me deixaram atónito. Pensa ele que existe um grande exagero no recurso às escutas telefónicas, muito embora, todos o sabemos, aquelas apenas possam ser efectuadas mediante mandato judicial. Em abono deste estado a que se chegou, desconfia ele que o seu próprio telemóvel se encontra sob escuta, atendendo aos ruídos esquisitos que aquele emite. Finalmente, diz ele que não sabe como lidar e controlar esta situação. Se ele não sabe, porque levantou a lebre? Se ele não sabe, o que lá está a fazer? Se ele não sabe, quem saberá? Se escutas nestas condições não podem ser usadas como meio de prova em tribunal, porque são feitas? Será mera chantagem ou estará em curso alguma operação destinada a instalar um certo clima de intimidação? Depois de ter sido descoberto, há uns anos atrás, um microfone no gabinete do anterior procurador-geral, talvez esta seja a cereja a coroar a bandalheira nacional.

Pornografia Financeira

“ (…) Sem surpresas. Já estamos habituados a que legalidade e moralidade sejam parentes muito afastados. Vivemos na quase total imoralidade escorada numa discutível, mas sempre muito eficiente, legalidade. O que aconteceu no BCP (favorecimento do filho de Jardim Gonçalves com o perdão de dívidas ao banco no valor de 12 milhões de euros) e a ligeireza das justificações já apresentadas são um insulto à inteligência de todos os portugueses. (…)”
In HISTÓRIA EXEMPLAR de João Marques dos Santos, jornal Correio da Manhã de 2007-10-19

Atrasos
A
O relógio do Arco da Rua Augusta foi finalmente reparado. Na inauguração do acontecimento, só faltou a ministra da cultura ter rematado com uma declaração deste tipo:
- Agora, sim, estamos em condições de recuperar o tempo perdido…

segunda-feira, outubro 15, 2007

Contra a Corrente

C
Em 26 de Janeiro de 1784, numa carta para a sua filha, Benjamim Franklin, inventor do pára-raios e um dos fundadores da independência americana, escreveu que o peru, em vez da águia-careca, seria o símbolo nacional mais adequado para os Estados Unidos. E explicou as suas razões: «A águia-careca é um pássaro de mau caráter; tal como os homens que vivem para enganar e roubar, ela é uma ave medíocre e asquerosa. O peru é um pássaro respeitável e, acima de tudo, um autêntico indígena americano.» Ora bem, quando chegou a altura de decidir, os políticos americanos ignoraram o sábio conselho de Benjamim Franklin e escolheram a águia-careca. Daí para cá, foi o que se sabe.

(…)
“A guerra do Iraque é um empreendimento vasto e complexo. Para levar a cabo o seu inquérito, The Nation concentrou-se sobre alguns temas-chave da ocupação, pedindo aos veteranos que contassem em detalhe as suas experiências durante os patrulhamentos, as saídas em caravana, os controles de estrada, os raids e a captura de suspeitos. Desta colecção de testemunhos destaca-se um tema comum. Os combates nas zonas urbanas densamente povoadas têm levado ao uso arbitrário da força, e à morte, sob o fogo das tropas de ocupação, de milhares de inocentes.”
(…)
“O ódio contra os iraquianos descrito pelos veteranos ao The Nation foi confirmado por um relatório do Pentágono publicado em 4 de Maio. Segundo essa sondagem, conduzida pela Direcção dos Serviços Médicos do Exército, somente 47% dos soldados e 38% dos fuzileiros pensam que os civis devem ser tratados com respeito e dignidade. Somente 55% dos soldados e 40% dos fuzileiros afirmam que denunciariam um camarada de unidade que matasse ou ferisse um não-combatente inocente. Estas atitudes traduzem o limitado contacto que as tropas de ocupação dizem ter com os iraquianos. Eles raramente vêem o inimigo. Vivem abrigados nos seus acampamentos fortemente fortificados, que apenas são alvo de ataques de morteiro. Eles não saem para o exterior das suas bases, senão para entrar em combate. A crescente frustração de combater um inimigo invisível e sofrer os efeitos das bombas deflagradas junto à borda das estradas, com o seu regular custo em mortos e feridos americanos, levaram muito militares a declarar a guerra aberta a todos os iraquianos.”
(…)
Chris Hedges et Laila Al-Arian, jornal The Nation de 30.7.2007

Nunca interrompam o vosso inimigo quando ele está a cometer um erro.
Napoleão Bonaparte, estadista francês (1769-1821)

(…) Os acontecimentos mais recentes que envolveram a RTP, José Rodrigues dos Santos e o (jornal) PÚBLICO, com troca de acusações, processos disciplinares, são mais um lembrete da condição de servidão da RTP ao Governo. O presidente do conselho de administração fala do que aconteceu na sua "empresa" e com o seu "empregado", como se estivéssemos perante um mero problema laboral. A linguagem é enganadora porque se se trata de uma "empresa" então a cadeia hierárquica é outra, começa no verdadeiro presidente do conselho de administração, José Sócrates, primeiro-ministro; no administrador executivo, Santos Silva, ministro; e quando se chega ao topo da RTP estamos mais ao nível do director-geral, que depois decide as chefias mais abaixo, incluindo o cargo crucial de director de informação. (…)
José Pacheco Pereira in jornal PÚBLICO de 13 de Outubro de 2007

O Caçador e a Rede - Estendia um Caçador suas redes. Um Melro, que o viu, perguntou-lhe o que fazia. Respondeu-lhe o Caçador, que edificava uma cidade; e acabando de espalhar as redes, escondeu-se. O Melro, dando-lhe crédito, chegou-se para ver o novo edifício, e caiu na rede. Saiu o Caçador para apanhá-lo, e o Melro lhe disse mui indignado: Homem falso, e enganador, se assim edificas tal cidade, poucos habitadores lhe acharás.(Esopo, tradução do grego por Manuel Mendes) transcrita in blog ABRUPTO de José Pacheco Pereira em 2007-10-15

“As políticas para o ensino foram boçais e destituídas de visão estratégica. A ministra e os seus ajudantes mostraram ter cabeças tayloristas, convencidas que gerir passa por fazer, pela força e pelo medo, com que os professores executem as suas ideias inconsistentes. Qualquer mudança, desde que reduzisse, economizasse e afrontasse os professores, foi considerada moderma e progressistas.”
Santana Castilho, in 2006/2007: O ANO DA CHIBATA, jornal Público de 19 Julho 2007

“Quem tenta enganar um país com a autenticidade da sua licenciatura, é porque está preparado para enganar o país com outras coisas.”
Conclusão de um amigo, quando meditou sobre a licenciatura em Direito que podia ter obtido, a partir de 1974 e anos seguintes, com sucessivas passagens administrativas (bastava assistir às aulas), e não o fez por respeito a si próprio.

“A elaboração deste Tratado (da União Europeia) foi feita em circuito fechado. A discussão em segredo. A aprovação será furtiva. Para os dirigentes europeus, A União é mais importante que a democracia. E a Europa mais importante que os europeus.”…“Os dias que aí vêm são o princípio da morte da democracia nacional. Sem que haja uma democracia europeia que a substitua e a melhore. È pena que a presidência portuguesa seja a agência funerária. Que o primeiro-ministro português seja o mestre-de-cerimónias. E que o cangalheiro, presidente da Comissão, seja também português. Triste vocação!”
António Barreto, in UMA SEMANA NEGRA, jornal Público de 2007-10-14

Já o rei D. Carlos I, de regresso a Portugal, depois das faustosas paródias de Paris, num assomo da grande consideração em que tinha os seus súbditos, resmungava para quem o quisesse ouvir: "lá vamos outra vez ao encontro dos nossos piolhosos".

O destino dos portugueses é terem promessas de mel e governos de fel.
F.Torres num momento de desalento.

“A ICAR [Igreja Católica Apostólica Romana] foi a voz do feudalismo quando as transformações económicas e sociais se encarregaram de o liquidar, defendeu o absolutismo monárquico contra o liberalismo, a monarquia contra a república, o nazismo contra a democracia. As posições reaccionárias foram sempre bandeiras dos padres, bispos e Papas, assumidas com particular zelo nos dois últimos pontificados.”
Carlos Esperança in DIÁRIO ATEÍSTA

(…) Eu acho que o Tarcisio Bertone [secretário de estado do Vaticano] tem razão: existe realmente uma tentativa para silenciar o catolicismo. E vou prová-lo.
(…) considerem o caso do canal estatal RTP 1: no Sábado, dia 13 de Outubro, apenas 7h15m em 21 horas e 30 minutos de emissão foram preenchidas por programas exclusivamente sobre Fátima; na programação de domingo, o canal do Estado dedicou somente oito horas e meia em vinte e uma a Fátima, o que significa que 60% da emissão não foi monopolizada pelo fatimismo!
(…) Portanto, só me resta dizer aos católicos que a parte afectiva do meu cérebro está solidária com eles, e que chora indignada por serem tão horrendamente silenciados. Coitadinhos!
Ricardo Alves in DIÁRIO ATEÍSTA em 2007-10-14

sábado, outubro 13, 2007

Compadres

C
Vital Moreira está para o PS (isto é, Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates) assim como Vasco Graça Moura estava para Cavaco Silva, nos seus tempos “áureos” de governação. Ambos são teólogos, sumos-sacerdotes e emanação de um certo estado das coisas, que eles acham que é um ESTADO INTERESSANTE.

sexta-feira, outubro 12, 2007

Onde é que eu já ouvi isto?

O
A propósito de uma intervenção nas instalações do Sindicato dos Professores da Zona Centro, o Ministério da Administração Interna, mais conhecido por ministério das polícias, veio esclarecer que «a colheita de informações sobre os preparativos de uma manifestação em lugares públicos é imprescindível para que a polícia possa preparar o seu dispositivo para o evento para assegurar a ordem e tranquilidade públicas, nomeadamente garantindo a segurança das pessoas, manifestantes ou não, e ordenado o trânsito de pessoas e de veículos na zona» . Por este andar, chegaremos ao dia, tal como outrora, em que o ajuntamento de mais de duas pessoas será considerado uma manifestação ou perturbação da ordem pública. Cuidemo-nos! Uns certos senhores neo-qualquer-coisa andam por aí a dizer que apenas querem ser os defensores da democracia e da "ordem e tranquilidade públicas", mas, se tal convier, o que eles querem é outra coisa. Onde é que eu vi e já ouvi disto?

quinta-feira, outubro 11, 2007

Ridículo e Preocupante

R
No Portugal legalista há dois tipos de manifestações: as legais e as ilegais. Serão ilegais, logo sujeitas à aplicação de coima, aquelas que acontecem sem que previamente hajam sido comunicadas e autorizadas pelas autoridades (penso que no caso seja o Governo Civil). No Portugal socretino também há dois tipos de manifestações, sobretudo quando o primeiro-ministro PS (Pinto de Sousa) se desloca às suas mediáticas inaugurações; as legais e as ilegais. Só que nestes casos especiais, estarão “legais” os apoiantes que aplaudem o cavalheiro e a sua comitiva, ao passo que estarão “ilegais” os que o contestam, com “direito” a serem isolados e identificados pelas forças policiais, e depois talvez criminalizados. Entre o ridículo e o preocupante, penso que nos devemos começar a preocupar.

Genéricos

G
No telejornal de 10 de Outubro, o ministro Teixeira dos Santos disse que sobre o Orçamento de Estado para 2008, apenas podia dar informações genéricas. Como há dois tipos de ministros, isto é, ministros-de-marca e ministros-genéricos, este ministro-genérico é compreensível que só possa dar informações genéricas. Ora, um ministro-genérico, comandado por um engenheiro-genérico, nunca pode levar o país a vislumbrar uma luz-de-marca ao fundo do túnel, mas apenas uma simplória e virtual luz-genérica.

quarta-feira, outubro 10, 2007

A Voz do Dono

A
José Rodrigues dos Santos, apresentador da RTP, canal público de televisão, concedeu uma entrevista ao PÚBLICO/PÚBLICA, onde veio denunciar a ocorrência de pressões e interferências, desde 2004, altura em que era director de informação, por parte do poder político, no sentido de determinar as orientações editoriais e os alinhamentos daquela estação, sobretudo em matéria de informação, pondo em causa a sua independência. A administração vem agora dizer que quer apurar todas as responsabilidades, supondo-se que pretenda controlar os danos causados pelas declarações de Rodrigues do Santos, tentando reduzir a denúncia de carácter eminentemente político, a um simples problema de natureza laboral.
Tudo isto não é nada que não fosse já falado à boca pequena, pois alguém está a entregar-se ao exercício de funções que excedem as suas competências, e isso vê-se nos programas de informação e “grande informação”, onde é notório que paira a omnipresença da “voz do dono”. A televisão é aquela “senhora” que nos entra pela casa dentro sem pedir licença, e os governos sabem isso. Moldar o que lemos, o que vemos e o que ouvimos ao sabor dos seus critérios, desejos e intenções é um fruto demasiado apetitoso, e está ali, mesmo à mão de semear.
Já tardava, mas aconteceu. José Rodrigues dos Santos vestiu a pele da raposa, teve a grande coragem de falar com todas as letras, e o resultado está à vista: a capoeira entrou em alvoroço.

Mais que Tiques Autoritários

M
Quem não gosta de assobios e manifestações de desagrado é o primeiro-ministro PS (Pinto de Sousa) que, desta vez, resolveu endereçar o seu tom histérico-desabrido, a quem não estava de acordo com ele, fazendo com que a GNR isolasse os descontentes em plena via pública, rotulando-os de sindicalistas-funcionários-comunistas a soldo, sabe-se lá com que intenções. O Cavaco pedia que o deixassem trabalhar, e o Pinto de Sousa não quer que o incomodem. As palavras são outras, mas a escola é a mesma. Este último, depois de ter dito que uma coisa são os professores e outra são os sindicatos desses mesmos professores, o Sindicato dos Professores da Região Centro, com sede na Covilhã, recebeu a visita de dois agentes da PSP “à paisana”, que levaram panfletos e interpelaram quem lá estava, sobre pormenores de uma concentração de professores, programada para ser levada a cabo, durante uma visita de Pinto de Sousa, à Escola Secundária Frei Heitor Pinto, daquela cidade. Embora classificada pelos agentes como uma acção “de rotina”, o sindicato qualificou de “repugnante e deplorável” aquela intromissão da autoridade, fazendo lembrar os raides que a extinta PIDE/DGS, no antigo regime, desencadeava contra as instalações e os dirigentes das associações de classe. Diz este governo socretino e os seus megafones de serviço, que nós, os cidadãos escaldados e endurecidos, não nos actualizámos, não aprendemos nada, enfim, parámos no tempo, andamos a exagerar, mas o que é um facto é que os casos acontecem, e nas manifestações e protestos, até aparecem uns senhores que ninguém conhece (são os profissionais que o afirmam), disfarçados de repórteres de imagem, a filmar e fotografar os manifestantes, matéria que irá actualizar a base de dados dos descontentes, sabe-se lá com que fins. De facto, isto já é muito mais do que aquela imagem com que nos querem convencer, de que estes casos não passam de meros episódios de excesso de zelo ou tiques autoritários, de algumas figuras subalternas, desenquadradas e desconhecedoras dos direitos, liberdades e garantias que o regime democrático deve assegurar. Para que isto aconteça é necessário que venham ordens de cima e seja percorrida uma cadeia de comando, que não é ingénua nem inocente, pois, se assim não fosse, estaríamos a viver uma espécie de teatro colombiano, em que os coronéis se comportam como senhores feudais da sua circunscrição. Portanto, grave ou muito grave é que a PSP e a GNR estejam a ser “pau para toda a obra”, nestas acções superiormente direccionadas, e, em contrapartida, não se consiga vê-las a cumprir as suas funções triviais, com a episódica argumentação de que faltam meios humanos e outros. Assim, acabam a fazer as vezes de polícia política, com algumas e notórias vantagens, a que talvez não seja estranho o novo conceito de flexibilidade laboral. E quanto aos prometidos inquéritos para apurar responsabilidades, penso eu que não passarão de meros “fait-divers”, também conhecidos, em bom português, por manobras de diversão. Cuidemo-nos!
Isto está a tornar-se uma prática corrente. Estas intervenções começam sempre por serem manobras intimidativas, passarão à provocação e acabarão em repressão pura e simples, encapotada em defesa da democracia e combate ao terrorismo. Hoje foram os sindicalistas, amanhã seremos nós, vulgares cidadãos. Acordemos e cuidemo-nos!

sábado, outubro 06, 2007

No Aniversário da República

N
No dia 5 de Outubro o Presidente da República fez um discurso em que o tema central foi a problemática da educação, o qual foi bem recebido pela generalidade dos agentes daquele sector, e apontado como uma crítica às iniciativas mais polémicas do governo socretino. Sinal do estado lamentável a que a Nação chegou, foi a ministra (?) da Educação, previamente sabedora do tema da dissertação, não ter comparecido, talvez receosa de algum justificado concerto de assobios ou, quiçá, manifestação espontânea. Quanto ao primeiro-ministro PS (Pinto de Sousa), foi o último a chegar (talvez esquivando-se a encontros impertinentes), e no fim da cerimónia, instado pelos jornalistas a pronunciar-se sobre a temática da intervenção do PR, ele, mestre em escamoteação, colou-se oportunistamente ao discurso presidencial, acabando a debitar as engenhosas trivialidades do costume e, como é seu hábito, virando as costas, de súbito, às perguntas mais incómodas.

quarta-feira, outubro 03, 2007