terça-feira, setembro 25, 2007

Submarino!

S
“Sócrates, um produto híbrido, uma espécie de Blair à portuguesa, na sua prática é muito mais social-democrata do que socialista, e isso dificulta o trabalho da oposição. Está a tentar aplicar o programa que o PSD não cumpriu de todo em todo.”
Miguel Veiga, fundador do PSD, in jornal Público de 23 Setembro 2007

Uma História de Encantar

U
O episódio de Abraão e seu filho Isaac é um dos capítulos mais abomináveis da Bíblia. Conta a história de um pai que se dispôs a cortar a garganta ao filho, porque uma divindade paranóica e sanguinária o ordenou, querendo com isso testar, pretensamente, a fidelidade de Abraão.
Dizem os rabinos, padres e catequistas que esta história odiosa é bem demonstrativa da fé inquebrantável daquele patriarca, da sua fidelidade e temor perante os desígnios de Deus. O selvático acto apenas não foi consumado porque no último momento o tal Deus, finalmente convencido da lealdade do ansião, enviou um esforçado e supersónico anjo suster o braço armado do infanticida. Porém, esses mesmos clérigos esquecem-se de revelar que é imenso o exército de criminosos e sado-masoquistas que se inspiram neste e noutros execráveis feitos bíblicos, neles encontrando sentido e razão para as suas taras e perversões.
Se o acontecimento tivesse tido lugar nos tempos modernos, e se o infanticídio de Isaac se concretizasse, porque o anjo não chegou a tempo, e Abraão fosse preso, em tribunal iríamos, certamente, ouvi-lo argumentar em sua defesa, com a seguinte frase lapidar:
- Limitei-me a cumprir ordens que vieram de cima!
Reunido o colectivo de juízes, seria decidido enjaular o arguido, atendendo às suas barbas brancas, até ao juízo final. À luz do direito canónico, seria o anjo, culpado de negligência e descuido, logo condenado a mudar de patrão, isto é, ir acolitar belzebu.
Porém, ficou sempre no ar aquela expressão que tem tanto de fria como de pretensamente evasiva: “limitei-me a cumprir ordens”. Tal e qual como o disseram, quando levados à barra dos tribunais, os comandantes e carrascos dos campos de extermínio do III Reich, os oficiais e a tropa das divisões SS que aniquilaram milhares de civis durante o vandalismo nazi, os esbirros da DINA, polícia política de Pinochet, os assassinos e torturadores da PIDE/DGS, policia política de Oliveira Salazar, os fascistas da OVRA de Benito Mussolini, os voluntários dos pelotões de fuzilamento de Francisco Franco, os “Tonton Macoute” e os “Leopardos” da dinastia Duvalier que tiranizou o Haiti. Tal como também o repetiram os esbirros da SIDE, polícia política da ditadura argentina, o KGB e os guardas dos campos de trabalho do Gulag soviético, os comandos de Fujimori e de Mugabe, os tecno-científicos e assépticos supliciadores do Campo Delta em Guantanamo e Abu Ghraib, os cabecilhas que levaram à prática a chacina organizada pelo regime de Pol Pot, os militares que na Birmânia, em 1988, abafaram os protestos pró-democracia, com a chacina de 3.000 manifestantes, e hoje continuam a sustentar o regime militar do generalíssimo tirano Than Shue e as milícias exterminadoras (algumas acolitadas por monges e freiras católicas) do holocausto ruandês. Isto para só falar de alguns, porque a lista, só dos tempos modernos, é muito mais longa do que se pode imaginar.
Ainda assim, esta história de encantar, do patriarca Abraão e do seu filho Isaac, continua ainda hoje a ser servida às criancinhas, nas aulas de catequese, dando um sublime exemplo de como o amor divino pode e deve suplantar o amor paternal, e não só. Meninos, ponham os olhos no Abraão. Quando vier uma ordem “de cima”, não há “mas” nem “meios mas”. É cumprir e acabou-se!

sábado, setembro 22, 2007

SOBRE A LIBERDADE

S
Junto extractos de dois textos da autoria de John Pilger, que julgo essenciais para compreendermos os tempos que estamos a viver. Porém, antes de mais, tracemos uma curta biografia, como apresentação do autor.
John Pilger, nascido em 1939 e de nacionalidade australiana, tem desenvolvido intensa actividade como jornalista, correspondente de guerra, escritor e realizador de documentários, nomeadamente sobre as realidades do Camboja e de Timor Leste (Death of a Nation: The Timor Conspiracy, 1994). Ao longo dos últimos cinquenta anos tem-se preocupado em investigar e denunciar os crimes e violações dos direitos humanos, cometidos pelos governos ocidentais, sobretudo os E.U.A. e a Inglaterra, sob a cobertura da democracia, sendo por isso mesmo apelidado de radical de esquerda. A deturpação das liberdades, também é uma das suas constantes preocupações.

A Liberdade Morre em Silêncio
por John Pilger

Pode isto estar a acontecer na Grã-Bretanha?, perguntam as pessoas. Certamente que não. Um sistema democrático secular não pode ser varrido. Os direitos humanos básicos não podem ser tornados abstractos. Aqueles que outrora se reconfortavam dizendo que um governo trabalhista nunca cometeria um crime tão gigantesco no Iraque podem agora abandonar a última ilusão, a de que a sua liberdade é inviolável.

A agonia da liberdade na Grã-Bretanha não é notícia. As piruetas do primeiro-ministro e do seu gémeo político, o chanceler, são notícia, embora de mínimo interesse público. Olhando atrás, para a década de 1930, quando as sociais-democracias estavam distraídas e poderosas cliques impunham os seus caminhos totalitários através do silêncio, a advertência é clara. O Legislative and Regulatory Reform Bill já passou pela sua segunda leitura parlamentar sem que despertasse o interesse da maior parte dos deputados trabalhistas nem dos jornalistas da corte, ainda que seja absolutamente totalitário no seu objectivo.

Esta lei é apresentada pelo governo como uma simples medida para simplificar a desregulamentação, ou para "livrar-se da burocracia", ainda que a única burocracia que ela realmente moverá é aquela do exame parlamentar da legislação do governo, incluindo esta notável lei. Isto significará que o governo pode mudar secretamente o Parliament Act, e a constituição e as leis podem ser derrubadas por decreto da Downing Street. Blair demonstrou o gosto pelo poder absoluto com o seu abuso da prerrogativa real, a qual utilizou para ultrapassar o parlamento indo para a guerra e libertando-se dos marcos dos julgamentos dos tribunais superiores, tal como aquele que declarou ilegal a expulsão de toda a população das Ilhas Chagos, agora ocupadas por uma base militar americana (Diego Garcia). A nova lei marca o fim da verdadeira democracia parlamentar. Nos seus efeitos, isto é equiparável ao facto de o Congresso dos EUA ter abandonado no ano passado a Bill of Rights.

Aqueles que deixam de ouvir estes passos no caminho para a ditadura deveriam olhar para os planos do governo quanto a bilhetes de identidade (ID cards), descritos no seu manifesto como "voluntários". Eles serão obrigatórios e ainda piores. Um bilhete de identidade será diferente de uma licença de condução ou de um passaporte. Será conectado a uma base de dados chamada NIR (National Identity Register), onde os seus sinais particulares serão armazenados. Isto incluirá as suas impressões digitais, um rastreamento (scan) da sua íris, a sua residência, estatuto social e inúmeros outros pormenores acerca da sua vida. Se você deixar de comparecer a uma entrevista a fim de ser fotografado e de lhe serem tiradas as impressões digitais, poderá ser multado em mais de 2.500 libras.

Todo o estabelecimento que vende álcool ou cigarros, toda agência de correios, toda farmácia e todo banco terá um terminal NIR onde poderão pedir-lhe para "provar quem é". Cada vez que você usar o cartão, seja para levantar dinheiro ou efectuar uma transacção, será efectuado um registo no NIR, e o governo sabê-lo-á. Os negócios privados terão pleno acesso ao NIR. Se você se candidatar a um emprego, o seu cartão terá de ser apresentado. Se quiser um passe do Metro de Londres, ou um cartão de fidelidade a um supermercado, ou uma linha telefónica ou um telemóvel ou uma conta Internet, o seu ID card terá de ser exibido.

Por outras palavras, haverá um registo dos seus movimentos, suas chamadas telefónicas e hábitos de compra, até mesmo da espécie de medicamentos que toma. Estas bases de dados, que podem ser armazenados num dispositivo do tamanho de uma mão, serão vendidas a partes terceiras sem o seu conhecimento. O ID card não será sua propriedade e a Secretaria do Interior (Home Secretary) terá o direito de revogá-lo ou suspendê-lo a qualquer momento sem explicação. Isto pode impedi-lo de ter acesso à sua conta bancária.

Os ID cards não travarão terroristas, como admitiu agora o secretário do Interior, Charles Clarke. Os bombistas de Madrid também usavam ID cards. Em 26 de Março o governo actuou para silenciar a oposição parlamentar aos cartões, anunciando que uma comissão investigaria a forma de evitar que a Câmara dos Lordes bloqueasse aquela legislação. Os apoiantes próximos de Blair não querem o debate. Tal como o fanático da Downing Street, a "crença sincera" na sua própria veracidade é suficiente. Quando a London School of Economics publicou um longo estudo onde arrasa efectivamente a justificação do governo para levar em frente a adopção dos cartões, Clarke insultou-a por alimentar uma "campanha de medo nos meios de comunicação".

Este governo foi reeleito com o apoio de apenas um quinto dos votos elegíveis. Qualquer que seja a respeitabilidade que as famosas sequências em estúdios de televisão tentem dar-lhe, Blair está demonstradamente desacreditado como mentiroso e criminoso de guerra.

Com a lei do sequestro constitucional agora a alcançar as suas etapas finais, e a criminalização de protestos pacíficos, os ID cards são concebidos para controlar as vidas dos cidadãos comuns (assim como para enriquecer as novas companhias favorecidas pelo Labour que construirão os respectivos sistemas informáticos). Um grupo pequeno, determinado e profundamente anti-democrático está a matar a liberdade na Grã-Bretanha, assim como a matou literalmente no Iraque. Esta é a notícia. "O caleidoscópio foi sacudido", disse Blair na conferência de 2001 do Partido Trabalhista. "As peças estão em movimento. Logo ficarão ajustadas outra vez. Antes que o façam, vamos reordenar este mundo em torno de nós".

17/Abril/2006


A Morte da Liberdade
por John Pilger

Na véspera do Natal fiz uma breve visita a Brian Haw , cuja figura arqueada a andar passo a passo era apenas visível através do nevoeiro gélido. Cerca de quatro anos e meio atrás Brian acampou na Praça do Parlamento com um cartaz cheio de fotografias que mostravam o terror e o sofrimento impostos às crianças iraquianas pelas políticas britânicas. A efectividade da sua acção ficou demonstrada em Abril último, quando o governo Blair baniu qualquer expressão de oposição dentro do raio de um quilómetro do parlamento. O supremo tribunal determinou a seguir que, como a sua presença antecedeu o banimento, Brian era uma excepção.

Dia após dia, noite após noite, estação após estação, ele permanece como um farol, a iluminar o grande crime do Iraque e a covardia da Câmara dos Comuns. Enquanto conversávamos, dois homens trouxeram-lhe uma refeição de Natal e vinho aquecido. Eles agradeceram-lhe, apertaram a sua mão e foram embora. Ele nunca os havia visto antes. "Isto é típico do público", disse ele. Um homem num fato listrado e de gravata emergiu do nevoeiro, carregando uma pequena coroa de flores. "Pretendo colocar isto no Cenotáfio [1] e ler em voz alta os nomes dos mortos no Iraque", disse ele a Brian, que o preveniu: "Você passará a noite na prisão, companheiro". Nós observámo-lo a caminhar a passos largos e a depor a sua coroa. Sua cabeça inclinou-se, ele parecia estar a murmurar. Trinta anos atrás, observei dissidentes a fazerem algo semelhante do lado de fora das muralhas do Kremlin.

Quando a noite o cobriu, ele estava feliz. Em 7 de Dezembro, Maya Evans, uma chefe de cozinha vegetariana (vegan) com 25 anos, foi condenada por infringir o novo Serious Organised Crime and Police Act pois leu em voz alta no Cenotáfio os nomes dos 97 soldados britânicos mortos no Iraque. Tão grave foi o seu crime que foram precisos 14 polícias em duas carrinhas para a prender. Ela foi multada e aplicaram-lhe um registo criminal para o resto da sua vida.

A Liberdade Está a Morrer

John Catt, de 80 anos, serviu na RAF (Royal Air Force) durante a Segunda Guerra Mundial. Em Setembro último ele foi interpelado pela polícia em Brighton por trazer vestida uma T-shirt "ofensiva", a qual sugeria que Bush e Blair deviam ser julgados por crimes de guerra. Ele foi preso sob o Terrorism Act e algemado, com os braços por trás das costas. O registo oficial da prisão diz que a "finalidade" de investigá-lo era o "terrorismo" e que as "bases para a intervenção" eram "carregar cartaz e T-shirt com informação anti-Blair" (sic).

Ele está à espera de julgamento.
Tais casos podem ser comparados a outros que permanecem secretos e para além de qualquer forma de justiça: aqueles de nacionalidade estrangeira mantidos na Prisão Belmarsh que nunca foram acusados, e muito menos submetidos a julgamento. Eles são mantidos "como suspeitos". Algumas das "provas" contra eles, sejam quais forem, admitiu agora o governo, podiam ter sido extraídas sob tortura em Guantanamo e Abu Ghraib. Eles são presos políticos propriamente ditos. Enfrentam a perspectiva de serem expulsos do país para os braços de um regime que pode torturá-los até à morte. As suas famílias isoladas, incluindo crianças, estão silenciosamente a enlouquecer.

E Para Quê?

Entre 11 de Setembro de 2001 e 30 de Setembro de 2005, um total de 895 pessoas foram presas sob o Terrorism Act. Apenas 23 foram condenadas por ofensas cobertas pelo acto. Quanto a terroristas reais, as identidades de dois dos bombistas do 7 de Julho, incluindo o organizador suspeito, eram conhecidas do MI5, ainda que nada tenha feito. E Blair quer dar mais poder aos serviços de segurança. Tendo ajudado a devastar o Iraque, ele está agora a matar a liberdade no seu próprio país.

Considere eventos paralelos nos Estados Unidos. Em Outubro último, um médico americano, amado pelos seus pacientes, foi punido com 22 anos de prisão por fundar uma instituição de caridade, "Ajuda aos necessitados" ("Help the Needy"), que ajudou crianças no Iraque afligidas pelo bloqueio económico e humanitário imposto pelos EUA e pela Grã-Bretanha. Ao colectar dinheiro para crianças a morrerem de diarreia, o Dr. Rafil Dhafir rompeu um sítio que, segundo a UNICEF, havia provocado a morte de meio milhão com idade inferior a cinco anos. John Ashcroft, o então procurador-geral dos EUA, chamou o Dr. Dhafir, um muçulmano, de "terrorista", uma descrição ridicularizada até mesmo pelo juiz numa farsa de julgamento politicamente motivada.

O caso Dhafir não é extraordinário. No mesmo mês, três juizes de tribunais de comarca (circuit court) americanos decidiram a favor do "direito" do regime de Bush aprisionar um cidadão americano "indefinidamente" sem o acusar de qualquer crime. Este foi o caso de José Padilla, um criminoso insignificante que alegadamente visitou o Paquistão antes ser preso no aeroporto de Chicago há três anos e meio. Ele nunca foi acusado e nenhuma prova foi apresentada contra ele. Agora atolado na complexidade legal, o caso põe George W. Bush acima da lei e revoga a Carta de Direitos (Bill of Rights). Na verdade, em 14 de Novembro, o Senado americano votou com efeito no sentido de banir o “habeas corpus” ao aprovar uma emenda que subverte uma decisão da Suprema Corte permitindo aos prisioneiros de Guantanamo terem acesso a um tribunal federal. Assim, a pedra de toque da mais celebrada liberdade da América foi inutilizada. Sem “habeas corpus”, um governo pode simplesmente trancar num lugar escondido os seus opositores e por em prática uma ditadura.

Uma tirania relacionada e insidiosa está a ser imposta por todo o mundo. Para todas as suas atribulações no Iraque, Bush pôs em execução as recomendações de uma messiânica teoria da conspiração chamada "Projecto para o novo século americano" ("Project for the New American Century" ou PNAC). Redigido pelos seus patrocinadores ideológicos pouco antes de ele chegar ao poder, o documento prevê que a sua administração se comporte como uma ditadura militar, por trás de uma fachada democrática: "a cavalaria da nova fronteira americana", guiada por uma mistura de paranóia e megalomania. Mais de 700 bases americanas estão agora dispostas estrategicamente em países submissos, nomeadamente à porta das fontes de combustíveis fosseis e em torno do Médio Oriente e da Ásia Central. A agressão "antecipativa" ("pre-emptive") faz parte desta política, incluindo a utilização de armas nucleares. A indústria da guerra química foi fortalecida. Tratados de mísseis foram rasgados. O espaço foi militarizado. O aquecimento global foi abraçado. Os poderes do presidente nunca foram maiores. O sistema judicial foi subvertido, juntamente com as liberdades civis. Ray McGovern, antigo analista sénior da CIA que outrora preparava o resumo diário destinado à Casa Branca, contou-me que os autores do PNAC e aqueles que agora estão a ocupar posições do poder executivo costumavam ser conhecidos em Washington como "os dementes" ("the crazies"). "Deveríamos agora estar muito preocupados acerca do fascismo", afirmou ele.

Na sua épica aceitação do Prémio Nobel da Literatura, em 7 de Dezembro, Harold Pinter falou de "uma vasta tapeçaria de mentiras, sobre a qual nos alimentamos". Perguntou porque "a brutalidade sistemática, as atrocidades generalizadas, a supressão implacável do pensamento independente" da Rússia estalinista eram bem conhecidas no ocidente ao passo que os crimes de Estados dos EUA são apenas "registados superficialmente, muito menos documentados e ainda menos reconhecidos".

Reinou um silêncio. Por todo o mundo, a extinção e o sofrimento de incontáveis seres humanos podem ser atribuídos ao desenfreado poder americano. "Mas você não saberia disto", disse Pinter. "Isto nunca aconteceu. Nada alguma vez aconteceu. Mesmo enquanto estava a acontecer isto não estava a acontecer. Isto não importava. Não era de interesse".

Para seu crédito, o Guardian publicou todas as palavras da advertência de Pinter. Para sua vergonha, embora não seja surpreendente, a estação de televisão do estado ignorou-as. Houve toda aquela flatulência da Newsnight acerca das artes, toda aquela presunção reciclada para as câmaras na entrega do Booker Prize, mas a BBC não podia dar espaço ao maior dramaturgo vivo da Grã-Bretanha, assim honrado, e contar a verdade.

Para a BBC, aquilo simplesmente nunca acontece, assim como a matança de meio milhão de crianças pelo assédio medieval dos EUA ao Iraque durante a década de 1990 nunca aconteceu, assim como os julgamentos Dhafir e Padilla e o voto do Senado a banir a liberdade nunca aconteceram. Os prisioneiros políticos de Belmarsh mal existem, e um grande e corajoso pelotão da polícia metropolitana nunca arrastou para longe Maya Evans quando ela chorou publicamente pelos soldados britânicos mortos por causa de nada, excepto o poder apodrecido.

Destituída de ironia, mas com um riso dissimulado, a locutora Fiona Bruce introduziu, como notícia, um filme natalício de propaganda acerca dos cães de Bush. Isto aconteceu. Agora imaginem Bruce a ler o seguinte: "Aqui estão notícias atrasadas. Apenas desde 1945 até 2005 os Estados Unidos tentaram derrubar 50 governos, muitos deles democracias, e esmagar 30 movimentos populares que combatiam regimes tirânicos. Neste processo, 25 países foram bombardeados, provocando a perda de vários milhões de vidas e o desespero de muitos milhões" (com agradecimentos a Rogue State, de William Blum, publicado pela Common Courage Press).
O ícone de horror do domínio de Saddam Hussein é um filme de 1988 de corpos petrificados de pessoas na cidade curda de Halabja, mortos num ataque com armas químicas. O ataque foi mencionado uma quantidade de vezes por Bush e Blair e o filme foi mostrado muitas vezes pela BBC. Naquele momento, como sei por experiência pessoal, o Foreign Office tentava encobrir o crime em Halabja. Os americanos tentavam lançar as culpas sobre o Irão. Hoje, numa era de imagens, não há imagens do ataque com armas químicas sobre Faluja em Novembro de 2004. Isto permitiu aos americanos negarem-no, até que foram apanhados recentemente por investigadores que utilizavam a internet. Para a BBC, as atrocidades americanas simplesmente não aconteceram.

Em 1999, enquanto filmava em Washington e no Iraque, tomei conhecimento da verdadeira escala do bombardeamento daquilo que os americanos e britânicos chamavam então as "no-fly zones" do Iraque. Durante os 18 meses iniciados em 14 de Janeiro de 1999 os aviões americanos efectuaram 24 mil missões de combate sobre o Iraque, onde quase todas as missões eram de metralha ou bombardeamento. "Deitámos abaixo até a última cabina de toilete", protestou um oficial americano. "Ainda há algumas coisas deixadas [por bombardear], mas não são muitas". Isto foi há sete anos atrás. Nos últimos meses, o assalto aéreo sobre o Iraque multiplicou-se; o efeito sobre o terreno não pode ser imaginado. Para a BBC, isto não aconteceu.

A farsa negra estende-se àqueles pseudo-humanitários, que nunca viram pessoalmente os efeitos de bombas de fragmentação e munições “air-burst” [2] , mas continuam a evocar os crimes de Saddam para justificar o pesadelo no Iraque e proteger um primeiro ministro traidor e colaboracionista (quisling) que liquidou o seu país e tornou o mundo mais perigoso. Curiosamente, alguns deles insistem em descrever-se como "liberais" e de "centro-esquerda", mesmo "anti-fascistas". Eles pretendem alguma respeitabilidade, suponho. Isto é compreensível, uma vez que no campeonato da carnificina, Saddam Hussein foi ultrapassado há muito por aquele herói da Downing Street — que agora apoia um ataque ao Irão.

Isto não poderá mudar até nós, no ocidente, olharmos ao espelho e confrontarmos a verdade objectiva e o narcisismo do poder aplicado em nosso nome, seus extremos e seu terrorismo. O habitual duplo padrão não funciona mais; há agora milhões como Brian Haw, Maya Evans, John Catt e o homem em fato listrado, com a sua coroa de flores. Olhar ao espelho significa entender que uma ordem violenta e anti-democrática está a ser imposta por aqueles cujas acções são pouco diferentes das acções de fascistas. A diferença costumava ser a distância. Agora eles estão a trazê-las para casa.
NOTAS
(1) Cenotáfio: monumento fúnebre erigido em memória de alguém, mas que não guarda o seu corpo.
(2) As munições “air burst” explodem no ar, a uma altitude que pode ser variada, a fim de obter o máximo efeito.

O original deste artigo encontra-se publicado em New Statesman . Tradução de JF.

Divina Premonição

D
G.W.Bush soma e segue em presidenciais bacoradas, e a opinião pública americana não consegue encontrar explicação ou enquadramento para esta nova gaffe do seu líder “cristão renascido”. Desta vez lembrou-se de atribuir a Saddam Hussein a responsabilidade pela morte de Mandela, mais exactamente, pela morte de todos os Mandelas, quando é certo que Nelson Mandela ainda se encontra vivo e recomenda-se, ao passo que o Saddam Hussein e os seus rebentos já por cá não andam, e isso deve-se exactamente às caçadas levadas a cabo pelos pisteiros e tropas do próprio Bush. Só por isto se pode ver como é grande a desordem que vai naquela cabeça!
Ainda assim, há quem avance que Bush, nos seus pios diálogos de “tu cá, tu lá” com o “Senhor”, haja sido prematuramente informado do falecimento de Mandela, mas o certo é que não é preciso ser bruxo nem crente para saber que, tanto Mandela como qualquer um de nós, o que tem de mais certo é vir um dia a morrer.

Memórias da Faina Maior

M
O amigo “bloger” do site CAXINAS…
que teve a “ousadia” de aproveitar as fotos do meu “post” sobre os HERÓIS DO MAR, fez muito bem ter-se apropriado, e está perdoado. Em minha opinião, estes pequenos tesouros (as fotos da campanha do lugre LABRADOR, em 1939) são para serem partilhados. Falta apenas explicar a origem das fotos, coisa que nada tem de misterioso. Meu pai, em princípio dos anos 1940 trabalhou no Grémio dos Armadores da Pesca do Bacalhau. Já não me lembro de qual era a sua função, mas sei que se deslocava assiduamente e convivia com muita gente relacionada com a faina, desde as “secas” do Seixal até à Costa Nova, Aveiro e Ílhavo. Aquelas fotografias foram muitas vezes exibidas em reuniões de família, só que nunca soube (ou não me lembro) quem as deu a meu pai. Ele, porém, comportou-se como um fiel depositário. Uma a uma, estavam todas documentadas no verso, com a data e o nome do LABRADOR sempre bem visível. Entretanto, continua a persistir o mistério de quem foi o seu autor. Falecido o meu pai e revisitado o espólio de velhos álbuns de fotografias, chegou a altura de aproveitar os benefícios da NET e entregar aquelas imagens únicas ao domínio público. Voltando ao meu pai, direi apenas que a sua curta passagem por aquele emprego no Grémio foi de tal modo impregnante que, era eu ainda um petiz, alimentado a caldos de farinha Maizena, Amparo e Trinta e Três, e já o meu pai tinha elegido a posta de bacalhau com batatas e couve-flor, como o seu pequeno-almoço de eleição, coisa que me deixava incrédulo. Embora sem pitada de bacalhau no meu ADN, o pior momento do dia era quando era obrigado a ingerir uma colher de sopa do repugnante óleo de fígado de bacalhau, considerado um soberbo suplemente alimentar. Talvez por isso, tomei-lhe o gosto e não enjeitei o desafio. Hoje, sou capaz de me alimentar com bacalhau, 2 vezes por dia, 365 dias no ano, sem enjoar, como talvez não enjoassem os caxineiros, durante as suas duríssimas vidas, nos longos meses de heróica Faina Maior.

quarta-feira, setembro 19, 2007

Adivinha

A
Qual é a coisa quem é quem, que é corredor-engenheiro-independente e foi recebido por um presidente-idiota-chapado?

segunda-feira, setembro 17, 2007

Educação Para Quê?

E
Eis uma visão de horror, com os meus cumprimentos ao blog ANTEROZÓIDE.

Ao Cuidado de Vital Moreira

A
O senhor Vital Moreira, no blogue CAUSA NOSSA, teceu um curioso comentário sobre a flexisegurança, notável pela sua esterilidade, que me deixou estupefacto. Nunca pensei que, vindo dele, o autor de A ORDEM JURÍDICA DO CAPITALISMO, a dita flexisegurança, afinal, a expressão acabada de um novo modelo de exploração, se resumisse, na óptica do autor, a um mero problema grafológico ou de maior ou menor cacofonia.

Fidelidades

F
Tal como é comum entre as mais variadas religiões, também existe uma espécie de fundamentalismo ateu, o qual se sente na obrigação de espancar, sem dó nem piedade, não só todas as religiões, como todos os seus crentes. Debater ou argumentar é uma coisa bem diferente de caluniar, e até aqui, ateus e crentes não têm tido um comportamento que se possa chamar de civilizado. Ora quem não tem religião, nem escrituras, nem crenças, nem deuses, nem santos, nem papas, deve-se abster de tais propósitos, já que, certamente, também não apreciará ver-se a si, e aos que perfilham as suas ideias, serem vilipendiados e perseguidos. O fanatismo embota o espírito e a capacidade de reflexão, e em casos extremos chega mesmo a matar.
Assim como há quem não seja adepto de qualquer clube desportivo, ou embora vivendo num estado democrático, nunca tenha aderido a qualquer partido político, também é compreensível e aceitável que haja quem não abrace qualquer religião. Não ter religião é um direito tão legítimo como o de ser católico, anglicano, protestante, adventista, muçulmano, judeu, budista, hinduísta ou testemunha de geová. O direito à diferença, o respeito e a coexistência pacífica entre confissões religiosas, e entre estas e quem não foi tocado pela fé, é a matriz que revela o nível cultural de uma sociedade, ao passo que a laicidade do estado tem por função assegurar que ninguém será priviligiado ou prejudicado, à custa da sua opção religiosa, ou da ausência dela.
Quanto a mim, e para que não haja confusão, as coisas passam-se mais ou menos assim: as minhas lealdades têm a ver com princípios e amizades consolidadas, mais do que qualquer outra coisa. Quanto às religiões, embora curioso e com um pouco de estudioso, sou ateu, e ponto final, parágrafo.

sábado, setembro 15, 2007

Momices e Beatices

M
Vi no jornal “PÙBLICO” a fotografia de uma cerimónia que, tirando a distância temporal, me fez lembrar as velhas inaugurações do salazarismo, coadjuvadas pela santa madre igreja, e emolduradas pelos beatos do regime. Para compor a fotografia, lá estava o primeiro-ministro Pinto de Sousa, benzendo-se com ar convicto e contrito, ladeado por uma ministra de esferovite e cartão prensado. Devia poupar-se a nossa república laica, a esta obscena salada mista de benzeduras, palavreado propagandístico, exibicionismo e espectáculo pimba.
Entretanto, o Centro Escolar de S.Martinho de Mouros lá estava, fresco, luminoso e funcional, no dizer do feroz primeiro-ministro Pinto de Sousa, repleto de alunos e professores, acabadinho de sair das pranchetas dos arquitectos e das betoneiras dos empreiteiros, subcontratados pelos construtores ganhadores do concursinho camarário, a ilustrar um novo tipo de paixão, onde se confunde betão com educação. Este governo apenas se empenha em soluções facilitistas que confundem modernidade com eficácia, e que acabam por soar a falsas, tanta é a publicidade para vender o produto. Quem descarta Camões, Vieira, Eça, Pessoa e afins, quem dispensa professores e quer reduzir tudo a computadores com banda larga e quadros interactivos, acaba agora a arriscar num décimo segundo ano “obrigatório”, que rapidamente se tornará mais “facultativo”, porque o curioso nunca substituirá o profissional, nem a improvisação o planeamento. Ah, já me esquecia de disparar a minha pedrada mensal! Tenham cuidado com quem nunca se embeveceu com as aventuras de Júlio Verne, Salgari ou dos “Cinco”. A tendência é para serem disfuncionais e serôdios leitores do Harry Potter, sendo que eles (os nossos inabilitados ministros) estão convencidos que com esta “poção mágica”, apadrinhada pelo feiticeiro de Sousa, também vão conseguir erradicar o nosso sistémico insucesso e abandono escolar, sem que isso implique ter que adoptar outras medidas, sobretudo de carácter social. Mas para isso, talvez um dia tenham que vir até à boca de cena do país, prestar contas e receber o veredicto.

quarta-feira, setembro 05, 2007

O Portugal livre e democrático ficará grato

A
O primeiro-ministro Pinto de Sousa apresentou uma queixa-crime contra o autor do blog DO PORTUGAL PROFUNDO, António Balbino Caldeira, por aquele haver exibido informações e dados que questionam a licitude do percurso académico e da licenciatura em engenharia, do citado político. Mais do que pretender punir o autor do blog, é quase certo que o objectivo desta acção é chegar mais longe, visando instalar entre a sociedade portuguesa, o sobejamente conhecido temor de intervir, criticar, comentar ou dar opinião, sobretudo se aquelas intervenções forem incómodas, polémicas ou desalinhadas do pensamento oficial. Onde é que eu já vi isto ?! Quem o faz sabe que, mais tarde ou mais cedo todos começaremos a espreitar por cima do ombro, antes de abrirmos a boca, subvertendo o direito democrático e constitucional de ter acesso à verdade, à justiça e à liberdade de expressão, princípios de que não devemos abdicar, sob pretexto algum.A cidadania interveniente só será plena se todos nós nos unirmos na ressalva daqueles direitos, solidarizando-nos com o autor DO PORTUGAL PROFUNDO. Ainda não é uma trincheira para defender com tudo o que temos à mão, um combate de vida ou de morte, mas diz a prudência que não devemos facilitar, e uma rosnadela não faz mal a ninguém. Dê um passo em frente e subscreva esta PETIÇÃO. O Portugal livre e democrático ficará grato.

terça-feira, setembro 04, 2007

Aqui Nasceu...

A
Aqui nasceu mais de meia Lisboa (eu incluído) entre 1917 e 1970. Com o fraco contributo das novas gerações para o restabelecimento do equilíbrio demográfico, e as ideias vanguardistas do ministro (?) de Campos, que entende que as ambulâncias são o lugar ideal para as parturientes darem à luz, este grande imóvel ainda vai acabar num imponente empreendimento imobiliário.

segunda-feira, setembro 03, 2007

Sempre de Cócoras...

S
Para sabermos até que ponto continuamos de cócoras perante os E.U.A., quase perpétuos inquilinos da Base das Lages, leia-se este artigo da autoria de Armando Mendes, publicado no "DIÁRIO INSULAR" em 25 de Fevereiro de 2007, e novamente divulgado pela euro-deputada Ana Gomes, em 1 de Março de 2007, no blog ABA DA CAUSA.

sexta-feira, agosto 31, 2007

Leitura Obrigatória

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Capa da edição actual da obra “A Campanha do Argus”

Em Maio de 2006, a propósito da descoberta, entre o espólio familiar, de algumas fotografias da campanha do bacalhau de 1939, em que o protagonista era o lugre “Labrador”, dediquei o meu artigo intitulado “HERÓIS DO MAR, a relembrar, de uma forma abreviada, o que foram, até meados dos anos 70 do século passado, as campanhas e a respectiva faina da pesca do bacalhau, levadas a cabo por Portugal, nos inóspitos bancos da Gronelândia e Terra Nova.
Com uma primeira edição portuguesa em 1951, voltou agora a ser reeditado, desta vez pela editora Cavalo de Ferro, uma obra única, que muito boa gente ansiava que voltasse aos escaparates. Corri a comprá-la. Trata-se do livro intitulado “A Campanha do Argus”, da autoria de Allan Villiers (1903-1982), Comandante da Marinha Australiana e activo colaborador do National Geographic Magazine, o qual no ano de 1950 acompanhou, a par e passo, a campanha da frota bacalhoeira portuguesa, a bordo do lugre “Argus”. Da experiência nasceu um livro inesquecível. A actual edição, tem uma introdução da autoria do Historiador e Director do Museu Marítimo de Ílhavo, Álvaro Garrido, a qual é, só por si, uma síntese contextualizadora de grande valor.
Traduzida em várias línguas, aquela obra chegou a andar próximo de ser considerada um “best seller”. Sem ser propriamente uma crónica de viagem, uma reportagem ou um relato linear do dia-a-dia da faina da pesca, actualmente, continua a ocupar com destaque, o lugar de clássico, entre a literatura que tem como tema central a navegação à vela, e em que, neste caso particular, o actor principal é a faina da pesca do bacalhau à linha, com a característica única de os tripulantes portugueses - numa antecipação da versatilidade que hoje se quer impor ao mundo do trabalho - serem simultaneamente, marinheiros, pescadores e operários.
Passe de largo a ideia de que estou a fazer publicidade dissimulada, aqui fica o meu veredicto: para quem tenha a aspiração de conhecer, com grande rigor e pormenor, o que eram aquelas campanhas de pesca que duravam, entre seis e oito meses, e que são um misto de relato do trabalho quase sobre-humano e de saga inesquecível, a leitura desta obra torna-se obrigatória.
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Comandante Allan Villiers, autor de “A Campanha do Argus”
Nascido em 1903, Melbourne, Austrália, falecido em 1982, Oxford, Reino Unido.

quinta-feira, agosto 23, 2007

Culturas Transgénicas

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Há quem diga que Portugal está ingovernável. Na minha modesta opinião, acho que isto é uma inverdade, própria de quem não tem assunto e se deleita, permanentemente, a dizer mal do país. O Verão, mais exactamente o tradicional mês de Agosto, é uma tradição entre nós; mesmo que chova ou sopre vento, sempre será o mês em que os portugueses, em vez de trocar de itinerários, adoram voltar a cruzar-se, desta vez de calções e chinelos, tanto com amigos como com inimigos.
Porém, tempo de férias não é tempo de cessação de responsabilidades. Direi mais: para quem aceita ficar de piquete no governo, são responsabilidades acrescidas, com direito, daqui a uns anos, à torre-espada, ordem do infante, ou qualquer outra comenda de encomenda.
Mas o que hoje me traz aqui são outras coisas. Já não quero falar do INEM que troca os nomes das terras e deixa morrer portugueses aos pares, nem do ministro pi-pi da agricultura Jaime Silva que num acesso de solidária indignação, disponibilizou o seu “staff” jurídico do Ministério da Agricultura (?) para apoiar o agricultor de milho transgénico, vandalizado por um projecto de rascunho de maqueta de movimento ecologista, que contaria entre as suas fileiras com alguns “filhos-família”, o que justificou o tratamento “ligth-soft” da nossa GNR. Quando sabemos que por cá ninguém sabe bem o que são transgénicos, menos ainda o ministro das agriculturas, alguém sempre terá que assegurar a continuidade do espectáculo mediático, a simular um cheirinho a solidariedade “socialista”, mesmo que se atropelem os limites e atribuições do mandato.
Porém, tal como vinha dizendo, o que me trás aqui hoje é outra coisa: nada mais, nada menos, que dois exemplos da utilização do “nosso” querido Plano Tecnológico, e do seu avatar que dá pelo nome de Simplex. Assim sendo, precisemos:
A biografia do primeiro-ministro Pinto de Sousa, disponibilizada na Wikipedia, nos parágrafos onde eram referidos os aspectos polémicos da sua licenciatura pela Universidade Independente, foram alterados por mão amiga, a partir de um computador do governo. A origem do acto de branqueamento (há quem lhe chame vandalismo) das atribulações académicas do senhor Sousa foi descoberta por uma recente ferramenta informática, que permite localizar a partir de que servidor e computador foram desencadeadas as intromissões e respectivas manipulações do conteúdo do site. Um dos assessores do primeiro-ministro não nega que essas alterações hajam tido origem no gabinete ou secretariado do senhor Sousa, mas recusa a ideia de que a ordem tenha partido do próprio, logo, estaremos perante uma qualquer zelosa e indignada “margarida moreira”, que teria aproveitado o período do almoço, para num acesso de profícua lealdade, arredondar as arestas vivas do perfil do “patrão”. O mês de Agosto, por ser de férias, seria propício a estes “raids moralizadores”, mas continua a haver quem não vá de férias e se mantenha atento e vigilante. Tal foi o caso do autor do blog “0 DE CONDUTA”, que advertiu a comunidade desta maldade.
Por outro lado, o Luís Filipe Menezes, autarca do Norte e eterno candidato a líder do PSD, conhecido por ser um inimigo figadal dos “sulistas e elitistas”, resolveu criar um blog, para animar as suas pretensões de vir a ocupar o poleiro-mestre do partido, mas alguém descobriu que todos os artigos que assina, como sendo da sua lavra, não passam de apropriações (nem sequer são plágios) de artigos de outros sites, que vai coleccionando para dar a entender que também ele sabe cavalgar a onda intelecto-tecnológica, neste caso sem mexer uma palha nem pagar direitos de autor. É a tentação do “copy-past” ao serviço de uma solução híbrida de Simplex e Plano Tecnológico. Como diria Einstein, o mal não está nas inovações tecno-científicas, mas sim no uso que delas se faz.
Portanto, seja com origem no governo ou na “oposição de plástico”, vai sendo com isto que a “silly season” nos presenteia e entretém. À falta de melhor, o simplex e o plano tecnológico lá vão servindo para estas coisas…

terça-feira, agosto 14, 2007

segunda-feira, agosto 13, 2007

Portugueses de Gema

P
Em 1580 Portugal perdeu a independência, “sofrendo” a integração na coroa espanhola, depois do desastre sebastianista de Alcácer-Quibir, porque a linha sucessória estava esgotada e não existia um candidato para ocupar o trono. No século XXI iremos provavelmente perder a independência política a favor de uma união política com Espanha, porque os políticos e o povo que os elegeu, deixaram que o país se afundasse, sem que ninguém lhe atirasse uma bóia salvadora, sobrando apenas um grande exército de oportunistas e novos ricos, bem comidos e bem bebidos, com muito património imobiliário e fartas contas nos paraísos fiscais, feitos à custa do desvio dos subsídios europeus e do esbulho do povo trabalhador e contribuinte.
A propósito da tal perda de independência, de vez em quando aparecem aqueles que andaram a abrir a cova, mas que se recusam a enterrar o morto, debitando um chorrilho de balelas e discursatas patrioteiras, como foi o caso do ex-ministro Martins da Cruz (aquele das cunhas e facilidades para o ingresso da filha na faculdade), que a propósito de José Saramago acreditar na integração de Portugal na Espanha e no contexto ibérico, ripostou que o Saramago “não defende os interesses de Portugal” e “deveria deixar a política para os políticos e a estratégia para os estrategas”. De facto, está à vista o resultado. Este Martins da Cruz provou ser capaz, durante a sua passagem pelo ministério dos Negócios Estrangeiros, de defender com unhas e dentes os interesses dos E.U.A. na sua agressão contra o Iraque, logo, imagine-se o que não seria ele capaz de fazer por Portugal, na eminência de uma integração ibérica? Tanto políticos como estrategas bem podem limpar as mãos à parede com o trabalho que têm andado a fazer, nos últimos trinta anos. Por cá, a coberto da democracia, outra coisa não fizeram, senão ajudar a desconstruir o país e a lançar os alicerces de mais um “estado falhado”. Em boa verdade, muitos destes espécimes, nunca calçariam umas botas, nem vestiriam um camuflado, nem empunhariam uma arma para defender os “interesses” de Portugal, porque, além de terem vendido ao desbarato, e a coberto da sua passagem pelos governos, os nacos mais apetitosos do país, paralelamente, apenas se preocuparam, ao longo das suas vidas, em defender, apenas e só, os seus próprios interesses e os dos compadres do seu círculo. Em caso de “invasão”, e na melhor das hipóteses, seriam os primeiros a “desertar”, para irem apresentar as suas credenciais e exibir provas de lealdade junto do “invasor”.

domingo, agosto 12, 2007

O Preço da Vida em Portugal

O
Apesar de haver quem pense que a vida não tem preço, o director do serviço de cardiologia do Hospital de Faro, contra-ataca com um argumento de peso: “se um desfibrilador salvar uma vida de dois em dois anos é rentável”. Vem isto a propósito de a jornalista Catarina Gomes ter trazido para a luz do dia a informação de que apenas 37 das 244 viaturas do INEM (Instituto Nacional de Emergência Médica) e 37 das VMER (Viaturas Médicas de Emergência e Reanimação) possuírem desfibriladores em funcionamento. Caso fosse interpelado acerca desta situação, o (ir)responsável ministerial pela saúde portuguesa teria dito que há dois anos atrás estávamos muito pior, e a recuperação tem sido muito positiva, não fosse o custo dos aparelhos atingir a exorbitância de 2.000 euros (400 contos) cada um. De facto, na mão desta gente, a vida dos portugueses continua pela hora da morte…

terça-feira, agosto 07, 2007

Ai, Timor!

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Timor, após a sua independência, já passou por quase tudo. Depois de ter sido trucidado durante um quarto de século pela vizinha Indonésia, vê-se sujeito agora às exigências e limitações impostas pela Austrália, a qual parece pôr e dispor do território como se de um quintal se tratasse. Depois de Timor ter sido apelidado de “estado falhado” é a vez de se apresentar como uma “democracia falhada”. Tudo isto porque foram feitas eleições, venceu a Fretilin, mas aquele partido, apesar de ter sido o mais votado, foi arredado da capacidade de formar governo, por obra e graça de um curioso e sui generis conceito de democracia. Não é assim que Ramos Horta e Alexandre Gusmão alcançarão a ansiada pacificação da população daquele jovem país. Os timorenses mereciam melhor.

Falta de Assunto

F
Depois da OPA à PT e ao BPI, é a vez da assembleia de accionistas do banco Millennium BCP ocupar os cabeçalhos da comunicação social portuguesa, como se disso dependesse a sobrevivência nacional. Será isto sinal dos tempos, ou apenas uma mera falta de assunto?