terça-feira, fevereiro 02, 2010

“O Fim da Linha”

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Passo a transcrever o artigo redigido pelo jornalista Mário Crespo, destinado a ser publicado no JORNAL DE NOTÍCIAS de 1/Fev/2010, mas que o director daquele matutino, José Leite Pereira, rejeitou. Na sequência daquela decisão, o jornalista cessou a sua colaboração naquele jornal. O artigo foi posteriormente publicado no site do Instituto Francisco Sá Carneiro. Contactado o governo para se pronunciar sobre o conteúdo do artigo, aquele respondeu que "o Governo não se ocupa de casos fabricados com base em calhandrices". A verdade é que a liberdade de informação e de opinião, um bem inestimável do 25 de Abril, está a ser sistematicamente condicionada. O recuo e o protesto civilizado, sendo uma solução, não faz ceder a escumalha que detém e usa o poder em benefício de outras causas, que têm muito a ver com duvidosos projectos de poder pessoal, e muito pouco a ver com a democracia e a liberdade de expressão. Exigem-se outras medidas. Avancem os carrosséis!

“Terça-feira dia 26 de Janeiro. Dia de Orçamento. O Primeiro-ministro José Sócrates, o Ministro de Estado Pedro Silva Pereira, o Ministro de Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão e um executivo de televisão encontraram-se à hora do almoço no restaurante de um hotel em Lisboa. Fui o epicentro da parte mais colérica de uma conversa claramente ouvida nas mesas em redor. Sem fazerem recato, fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil (“um louco”) a necessitar de (“ir para o manicómio”). Fui descrito como “um profissional impreparado”. Que injustiça. Eu, que dei aulas na Independente. A defunta alma mater de tanto saber em Portugal. Definiram-me como “um problema” que teria que ter “solução”. Houve, no restaurante, quem ficasse incomodado com a conversa e me tivesse feito chegar um registo. É fidedigno. Confirmei-o. Uma das minhas fontes para o aval da legitimidade do episódio comentou (por escrito): “(…) o PM tem qualidades e defeitos, entre os quais se inclui uma certa dificuldade para conviver com o jornalismo livre (…)”. É banal um jornalista cair no desagrado do poder. Há um grau de adversariedade que é essencial para fazer funcionar o sistema de colheita, retrato e análise da informação que circula num Estado. Sem essa dialéctica só há monólogos. Sem esse confronto só há Yes-Men cabeceando em redor de líderes do momento dizendo yes-coisas, seja qual for o absurdo que sejam chamados a validar. Sem contraditório os líderes ficam sem saber quem são, no meio das realidades construídas pelos bajuladores pagos. Isto é mau para qualquer sociedade. Em sociedades saudáveis os contraditórios são tidos em conta. Executivos saudáveis procuram-nos e distanciam-se dos executores acríticos venerandos e obrigados. Nas comunidades insalubres e nas lideranças decadentes os contraditórios são considerados ofensas, ultrajes e produtos de demência. Os críticos passam a ser “um problema” que exige “solução”. Portugal, com José Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e com o executivo de TV que os ouviu sem contraditar, tornou-se numa sociedade insalubre. Em 2010 o Primeiro-ministro já não tem tantos “problemas” nos media como tinha em 2009. O “problema” Manuela Moura Guedes desapareceu. O problema José Eduardo Moniz foi “solucionado”. O Jornal de Sexta da TVI passou a ser um jornal à sexta-feira e deixou de ser “um problema”. Foi-se o “problema” que era o Director do Público. Agora, que o “problema” Marcelo Rebelo de Sousa começou a ser resolvido na RTP, o Primeiro Ministro de Portugal, o Ministro de Estado e o Ministro dos Assuntos Parlamentares que tem a tutela da comunicação social abordam com um experiente executivo de TV, em dia de Orçamento, mais “um problema que tem que ser solucionado”. Eu. Que pervertido sentido de Estado. Que perigosa palhaçada.”

Mário Crespo

Manias e Lapalissadas

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O NOSSO egrégio e sofisticado ministro das finanças, senhor Teixeira dos Santos (o tal que se enganou redondamente nas contas do orçamento e previsões do défice), declarou que não haverá penalizações nas reformas da função pública, na condição de os funcionários não solicitarem a reforma antecipada. O senhor Jacques de la Palice não diria melhor, isto é, se eu resolver não sair de sair de casa, posso ter quase a certeza absoluta de que não serei atropelado.
Entretanto, na cerimónia de lançamento da primeira pedra do futuro Museu dos Coches, e num momento que quase roçou a intimidade, o nosso engenheiro incompleto, também conhecido por José Sócrates, confessou que sempre teve a mania de que percebia alguma coisa de arquitectura. Neste caso, e apenas neste, estou perfeitamente de acordo com ele. Essa mania, enquanto tal, é apenas um capricho e não a insinuação de alguma recalcada competência, podendo ser comprovada pelos projectos de mamarrachos que ele assinou, quando andou a "fazer pela vida" na Câmara Municipal da Guarda.

segunda-feira, fevereiro 01, 2010

Não Há Duas Sem Quatro

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A CERIMÓNIA de lançamento da primeira pedra do novo Museu dos Coches, à qual deveria comparecer e dar cobertura o engenheiro incompleto (José Sócrates), foi iniciada com hora e meia de atraso. Segundo informação de um elemento da comitiva, que pediu o anonimato, o facto deveu-se à impossibilidade de encontrar uma primeira pedra apropriada, tantas são as cerimónias desta espécie, que a pedreira já não tem mãos a medir para satisfazer as exigências do coitado do nosso trolha acidental...

O MINISTRO das finanças Teixeira dos Santos diz que se enganou nas contas redondamente, em todo o lado, e sobretudo na previsão sobre o défice, e que a coisa não foi intencional (coitado!), o que significa que o ministro das finanças só tem duas alternativas: ou sai de ministro, por indecente, má figura e nos querer fazer passar por estúpidos, ou mete férias e inscreve-se nas Novas Oportunidades para aprender a tabuada…

O JORNALISTA Mário Crespo diz ter conhecimento que José Sócrates, Pedro Silva Pereira e Jorge Lacão (a corja), tiveram uma reunião com um executivo de televisão, onde apelidaram o jornalista de ser “profissionalmente impreparado”, “mentalmente débil”, carecer de internamento psiquiátrico, e constituir “um problema que teria que ter solução”. Insatisfeita com a razia provocada pelo afastamento de Manuela Moura Guedes, Marcelo Rebelo de Sousa e José Manuel Fernandes, na mira da governamentalização de alguns sectores da comunicação social, a corja prepara-se para o passo seguinte, no sentido de silenciar mais algumas vozes incómodas…

HÁ UM MÊS atrás iniciei o caderno deste ano de 2010, sob a égide da corrupção, do lixo e das sucatas, o que se veio a provar não ter sido um exagero, atendendo a que chegou agora ao domínio público a informação de que está sob investigação um grande negócio de facturas falsas em negócios de sucatas, ocorrido entre 1999 e 2003, com um prejuízo para o Estado Português na ordem dos 4,8 milhões de euros, envolvendo a vereadora Guilhermina Rego da Câmara Municipal do Porto, a qual nega qualquer envolvimento no caso (é sempre).
Portanto, mais sucatices e corrupção, eis o que nos espera...

É Uma Série Portuguesa, Com Certeza…

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Recebi por e-mail a seguinte informação:

CHEGA a notícia de que está em preparação uma série televisiva que passará na Rádio Televisão Portuguesa (RTP) em Outubro, por altura da comemoração do 100º aniversário da Proclamação da República - série que, em oito episódios de 50 minutos cada, se propõe falar-nos de «cem anos de política portuguesa, entre 1910 e 2010».
Ora aí está uma excelente ideia!

A notícia prossegue, informando que esses cem anos chegar-nos-ão «através do olhar privilegiado de Mário Soares», que é «a personagem principal» da série e que nos «vai contar as suas memórias».
Ora aí está como se estraga uma excelente ideia!

A notícia diz, também, que «o testemunho de Mário Soares será, depois, cruzado e confrontado com os testemunhos de outras personagens» pertencentes «a todos os quadrantes políticos».
Lendo os nomes dessas «outras personagens» constata-se que estão lá «todos os quadrantes políticos»... menos o dos comunistas...
Ora aí está no que uma excelente ideia pode dar!

Quem está a realizar a série é um cineasta sobrinho de Mário Soares, de seu nome Mário Barroso - apoiado numa «equipa ecléctica de oito intelectuais», ou seja: também pertencentes «a todos os quadrantes políticos».
Lendo os nomes dos oito eclécticos constata-se que nenhum deles é comunista - nem pouco mais ou menos...
Ora aí está a ideia!...

Posto isto, está-se mesmo a ver o que aí vem: é uma série portuguesa, com certeza, é com certeza uma série portuguesa...

NOTA – Estarei atento, aguardando pela exibição da prometida série, sobre cem anos de política portuguesa, entre 1910 e 2010, em que a estrela da companhia será Mário Soares, para avaliar do rigor e credibilidade de tal trabalho, e tecer o meu comentário.

domingo, janeiro 31, 2010

As Sementes da República

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ESTE ANO, no centenário da Implantação da República Portuguesa, as comemorações iniciam-se no Porto, recordando que as sementes do novo regime começaram a germinar no Porto, com a revolta de 31 de Janeiro de 1891, acontecimento ocorrido dezanove anos antes da sua consumação de facto.
A Inês, do blog
RETALHOS DE HISTÓRIA dá-nos uma curta síntese do que se passou há 119 anos.


“Revolta do 31 de Janeiro de 1891

Onde e porquê?

No dia 31 de Janeiro de 1891 deu-se, no Porto, a 1ª tentativa de implantar a República em Portugal.

Os revoltosos estavam descontentes com a situação económico-financeira do país, com a situação social e com as decisões do governo relativas ao Ultimato Inglês de 1890, tendo por isso tentado implantar a República, através deste movimento revolucionário.

O que aconteceu?

A revolta começou na madrugada do dia 31 de Janeiro. Os soldados dirigiram-se para o Campo de Santo Ovídio (hoje em dia, Praça da República) e daí descem a Rua do Almada até à actual Praça da Liberdade. No antigo edifício da Câmara Municipal do Porto, Alves da Veiga proclama o governo provisório da República, hasteando uma bandeira verde e vermelha.

Entretanto, a multidão, que já festejava, sobe a Rua de Santo António e vai em direcção à Praça da Batalha para tomar a estação de Correios e Telégrafos.

Porém, uma carga de artilharia e fuzilaria da Guarda Municipal, posicionada no topo da rua, interrompe bruscamente o cortejo, acabando por ferir tanto militares revoltosos como civis. O balanço foi de 12 mortos e cerca de 40 feridos.

Resultados

Apesar de a revolta ter fracassado, foi considerada o primeiro grande passo em direcção à Implantação da República.

Mais tarde, depois de implantada a República, o nome da Rua de Santo António foi alterado para Rua de 31 de Janeiro, em honra desta revolta e de todas as suas vítimas.”

sábado, janeiro 30, 2010

Os Sumo-Intrujões

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BASTOU que Victor Constâncio tivesse andado por Bruxelas, a tratar do seu futuro exílio dourado, portanto, um bocado arredado dos problemas do país e das contas de mercearia em que costuma atolar-se, para que o défice, esse monstro voraz e implacável, tivesse aproveitado a distracção do sacerdote da suma-intrujice, e tivesse progredido de 9,24 para 9,30, deixando o nosso (in)Constâncio, indignado e amedrontado com tanto atrevimento, o suficiente para que ele se sentisse na obrigação de exibir um ar compungido, entre o preocupado e o assustado, sobre o lindo futuro que nos espera.
Tal como Teixeira dos Santos, também ele é verdadeiro artista que balança entre os anúncios da retoma e a persistência das dificuldades económicas, ajustando as suas declarações às necessidades político-propagandísticas do governo.

"O pelintra pródigo"

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PARA REFLECTIR sobre a pobreza, como potencial geradora de muitas e diversas generosidades, passo a transcrever o artigo de opinião de Manuel António Pina, publicado no JORNAL DE NOTÍCIAS de 27 de Janeiro de 2010.

"A notícia vem no DN: o Governo português comprometeu-se a emprestar a Angola até 200 milhões de dólares. Para isso, apesar de a dívida externa do país ultrapassar já os 100% do PIB (e com as agências de "rating" a anunciar, em face disso, o aumento das taxas de juro da remuneração da dívida), o Governo irá contrair um (mais um) empréstimo.

A boa notícia é que o mais certo é que parte desses milhões, ao menos a das "comissões" e das "contrapartidas", acabe por voltar a penates, seja através das empresas e dos negócios do costume, seja em artigos de "griffe" como relógios de ouro Rolex e Patek Phillipe, pulseiras Dior e H. Stern, roupas Ermenegildo Zegna e até... casacos de peles, comprados nas lojas de luxo de Lisboa sem olhar a preços. De facto, as elites do regime angolano constituem hoje, segundo uma notícia publicada pelo EXPRESSO em finais de 2009, 30% do mercado de luxo português. Que isso nos sirva de conforto, aos pelintras contribuintes portugueses, quando pagarmos a escandalosa factura dos 200 milhões. Porque, como diria o gondoleiro de "Morte em Veneza", haveremos de pagá-la."

sexta-feira, janeiro 29, 2010

O Respeitinho é Uma Coisa Muito Bonita…

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“Cavaco é um ditador! Mandou quatro amigos meus, dos melhores ministros, para a rua, assim, 'com vermelho directo’”, afirmação de Belmiro de Azevedo, fundador e ex-presidente da SONAE, referindo-se a Aníbal Cavaco Silva, em entrevista publicada na revista VISÃO de 28 de Janeiro de 2010.

Meu comentário - Só porque telefona ou manda telefonar com muita frequência, se calhar a queixar-se do jornal PÚBLICO, então o engenheiro incompleto, também conhecido por José Sócrates, só gosta de mandar e já não é ditador? Não há dúvida que o respeitinho é uma coisa muito bonita…

quinta-feira, janeiro 28, 2010

A SAGRES a Todo o Pano

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O NE (Navio Escola) SAGRES iniciou a sua 3ª. viagem de circum-navegação, uma aliciante aventura que aconselhamos a seguir, não a par e passo, mas dia a dia, nó a nó, ou sempre que o vento rode. Acompanhemo-la através deste SITE e votos de boa viagem, tanto para os que embarcaram como para os que ficaram.
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Extracto da primeira entrada no Diário de Bordo, em 19 de Janeiro de 2010
Por Proença Mendes Comandante do NRP "Sagres"
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“Após 2 semanas de trabalho intenso para preparar o melhor possível esta epopeia de um ano, em que houve vários problemas de pessoal e material para resolver ou atenuar, estamos finalmente a navegar para SSW.Este foi também o período em que a Sagres e a sua guarnição tiveram a maior exposição mediática de sempre, o que é altamente motivante para as nossas famílias e um motivo acrescido de orgulho e responsabilidade para os que embarcámos nesta aventura!
Largámos pouco depois das 11:00 após alguns directos para as Rádios e TV's, uma rápida apresentação da viagem às 4 dezenas de jornalistas a bordo, e as despedidas de alguns amigos que fizeram questão de se virem despedir pessoalmente.
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Navegámos um pouco para montante e passámos frente ao Cais de Alcântara já com algumas velas latinas a saudar as centenas de pessoas que assistiram à largada.Os jornalistas desembarcaram frente à Torre de Belém para embarcações da Capitania do Porto de Lisboa e nós seguimos viagem acompanhados de algumas embarcações que só desistiram quando a ondulação começou a ficar mais dura, à saída da barra.
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Esta era para ser uma tarde calma, até porque o vento W não permitia caçar pano redondo (um dia destes explico estas coisas!) mas o motor sobreaqueceu e foi necessário desmontar o arrefecedor - estava obstruído com lodo e detritos. Houve mais uma pequena reparação numa vela e os preparativos para uma reparação mais complicada num verga sécia que prendeu num apêndice do cais, à largada.
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Há vários jovens que estão a fazer a sua primeira saída para o mar, e muitos estão enjoados. Há também muito pessoal a fazer de observador até poder fazer quartos sozinho e, por isso, alguns outros estão a bordadas (quartos de 6 em 6h).
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Já determinei: Amanhã teremos alvorada surda, i.e. apenas para o pessoal que entra de quarto. E sem ruído!
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Não temos sinal de TV, pelo que não pudemos ver se a nossa largada saiu nos telejornais. Mas a TV serviu para uma demonstração das capacidades da Wii do nosso engenheiro. Promete!
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O vento vinha muito fechado e estávamos a progredir abaixo da média necessária mas já abriu e, com o pano latino a ajudar, já temos uma folga que me deixa mais descansado!”

Prémio Nobel da Economia

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ANTEONTEM, dia 26 de Janeiro, pouco antes da meia-noite, hora a que a grande maioria dos portugueses já está de persianas corridas, foi entregue ao Presidente da Assembleia da República, a proposta do governo de Orçamento de Estado para 2010. Pouco à vontade nesta matéria, e nos pormenores de negociações sobre a melhor e a pior maneira de gerir a coisa pública (já me basta o controle das finanças domésticas), faço no entanto dois ou três reparos sobre o assunto.
A estratégia de redução das despesas, logo da redução do défice, continua a passar, não pela luta contra o desperdício, pela cessação dos contratos ruinosos, pela contenção com gastos sumptuários, pela ineficiência e redundância de serviços, pelo termo das fraudes estatísticas, das contas marteladas e das injecções de capital em bancos geridos por malfeitores, mas sim pelo sacrifício da função pública no seu todo, com o congelamento dos salários, penalização das regras de cálculo das pensões e limitações à entrada de novos funcionários. Por outro lado, com os estímulos à economia a continuarem concentrados nas grandes obras públicas (de braço dado com as respectivas relações de amizade), nas novas auto-estradas, no novo aeroporto, na nova ponte sobre o Tejo e no querido TGV, a dívida pública continua a subir a um ritmo tal, que não se sabe bem onde nos levará. Ah, é verdade, programam-se também mais privatizações para abater à dívida pública, ao passo que o país continuar a perder soberania sobre os seus activos estratégicos. Mais ainda: sem acabarem os falsos recibos verdes, os ditos passam a ter uma solução electrónica (mãozinha do choque tecnológico), que não se sabe bem o que seja, nem como possa contribuir para acabar com o imenso exército de trabalhadores precários na administração pública.
Por outro lado, a medida do Governo de obrigar os gestores da banca a pagar uma taxa agravada sobre os seus prémios e outras remunerações variáveis, é uma medida puramente demagógica e populista, destinada a satisfazer apenas uma falsa ideia de justiça tributária, na medida em que não vai trazer receitas significativas para os cofres do Estado. Já a tributação sobre as mais-valias obtidas com a actividade bolsista ou o agravamento dos impostos sobre os lucros pantagruélicos da actividade financeira, continuam a ficar-se pelas promessas eleitorais não cumpridas (não convém incomodar os amigos), a aguardar que o governo e o PS (partido Sócrates), em termos políticos, voltem a ter uma verdadeira "recaída de esquerda".
Resumindo: como diz Manuel Carvalho da Silva, secretário-geral da CGTP Intersindical, este Orçamento do Estado para 2010 não contém medidas para superar a crise, mas sim para aprofundá-la, contendo os ingredientes para agravar as desigualdades e a pobreza em Portugal.Quanto a Teixeira dos Santos, ministro das Finanças que, como ele diz, até consegue trabalhar 24 horas por dia, na noctívaga conferência de imprensa que se seguiu à entrega da proposta orçamental, afiançou que este é um orçamento de "confiança" que "visa continuar a apoiar de forma sustentada o processo de recuperação económica que já começou, mas é consciente dos importantes desafios que temos de vencer". Pelas minhas contas, esta já é a terceira ou quarta vez que o “avô metralha” afiança, contra ventos e marés e sem esboçar um sorriso, que a retoma está no bom caminho.
Antes disso, já Vieira da Silva (um falso socialista), ministro da Economia, da Inovação e do Desenvolvimento, tinha defendido que é muito difícil estimular a economia e simultaneamente corrigir os desequilíbrios das finanças públicas, coisa que este orçamento considera possível alcançar, se recorrermos, tanto como o governo, a grandes doses de autismo e infundamentado optimismo. Talvez por isso Vieira da Silva (também cómico de serviço) tenha sugerido que quem o conseguir fazer é “um sério candidato ao Prémio Nobel da Economia”, e com esta afirmação não sei em quem ele está a pensar, sei lá, talvez em si próprio ou Teixeira dos Santos...
Como diria o meu saudoso amigo JS, só falta acabar a história com um sonoro e patético “meninas à sala que vem aí o nosso Prémio Nobel da Economia…”

quarta-feira, janeiro 27, 2010

A Barreira do Silêncio

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SABE-SE agora que os cerca de 400 cooperantes da brigada médica cubana no Haiti foram a mais importante assistência medico-sanitária concedida ao povo haitiano, durante as primeiras 72 horas após a catástrofe de 13 de Janeiro, os quais realizaram centenas de intervenções cirúrgicas em 5 locais de assistência diferentes, na cidade de Port-au-Prince, à qual se juntou uma brigada cubana de 60 especialistas em catástrofes, elementos do Contingente “Henry Reeve”, que voaram de Cuba com medicamentos, soro, plasma e alimentos.
Entretanto, os grandes meios de comunicação social silenciaram todo este esforço de solidariedade, ao ponto do jornal diário EL PAÍS, na sua edição de 15 de Janeiro, ter ignorado esta presença, e Cuba nem sequer aparecer entre os 23 Estados que já haviam disponibilizado ajuda e assistência às vítimas do sismo. Indiferente a vozes críticas oriundas dos próprios E.U.A., a cadeia televisiva Fox News (EUA) chegou mesmo ao ponto de afirmar que Cuba foi dos poucos países das Caraíbas que não haviam prestado qualquer ajuda ao Haiti.
Tirando esta mentira intencional, que caracteriza um certo tipo de comunicação social, a verdade é que a informação veiculada pela maioria das agências noticiosas mundiais, tem tido como preocupação central o enaltecimento das contribuições e donativos dos países e cidadãos mais abastados do mundo, levantando uma barreira de silêncio sobre quem contribuiu de forma solidária, desinteressada e determinante (e não foi apenas Cuba), para a limitação do sofrimento, miséria e vulnerabilidade do povo haitiano.
Mas a barreira de silêncio não se fica por aqui; consentida ou não, mas sob o pretexto da necessidade de policiamento, restabelecimento da ordem e segurança, parece estar a passar despercebida uma efectiva e maciça ocupação militar do território do Haiti, por parte das forças armadas dos Estados Unidos da América, a qual, a ser verdade, pode ser o embrião de uma futura poderosa base, destinada a ampliar e consolidar a sua influência na região.

terça-feira, janeiro 26, 2010

Capitalismo & Pandemias, SA

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CURIOSAMENTE, até ao momento apenas o CORREIO DA MANHÃ noticiou este escândalo. Passo a transcrever o artigo do jornalista Henrique Custódio. O título do post é da minha autoria.
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«A campanha mundial contra a «pandemia da gripe A» já rendeu cinco mil milhões de euros aos grandes laboratórios farmacêuticos, com o pormenor de a «pandemia» não ter existido, pelo linear facto de... ter sido inventada.
A acusação surge do próprio presidente da Comissão de Saúde da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, o alemão Wolfgang Wodarg, ao afirmar que a campanha da «falsa pandemia da gripe, criada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e outros institutos em benefício da indústria farmacêutica, é o maior escândalo do século em Medicina».
Este médico alemão é também responsável pela proposta a ser debatida com carácter de urgência no Conselho da Europa no próximo dia 25, alegando o exagero da OMS sobre os perigos da gripe A. «O Conselho da Europa», acrescentou Wodarg, «vai organizar um debate sobre a influência da indústria farmacêutica na OMS e, posteriormente, serão informados dos resultados 47 parlamentos da Europa».
Os pormenores da tranquibérnia são avassaladores. António Vaz Carneiro, Professor da Faculdade de Medicina de Lisboa, afirmou ao CM que os organismos científicos internacionais «reagiram de uma forma política, numa situação lamentável». E pormenoriza: «A OMS avançou com a possibilidade, muito reduzida, de haver 71 milhões de mortos no Mundo [vítimas da gripe A]. A verdade é que até hoje morreram 12 mil no Mundo. Valor muito abaixo da gripe sazonal, que só em Portugal mata dois mil por ano».
E esta monumental «previsão» da OMS, de que o Inverno faria 71 milhões de mortos no mundo com a gripe A, ainda por cima foi apresentada como uma «possibilidade reduzida», deixando no ar o terror de uma mortandade dantesca. O que abriu caminho, obviamente, a que a generalidade dos países desenvolvidos (os únicos com dinheiro para gastar) se lançassem numa corrida à vacinação em massa.
As consequências são conhecidas, embora não haja, curiosamente, alarde do caso na comunicação social: as populações começaram a esquivar-se à toma da vacina ao verem os corpos clínicos e de enfermagem a dela também se furtarem; o Inverno, que traria uma mortandade de peste medieval, afinal parece que só «matou» o vírus da gripe A e, de repente, a Alemanha viu-se a braços com 25 milhões de vacinas excedentárias, a França com 50 milhões, a Espanha com 24 milhões, a Holanda com 19 milhões e a Suíça com 4,5 milhões (falando só de alguns casos), o que ao módico preço de 7,5 euros por dose dá uma batelada de milhões de euros deitados à rua, ou, melhor dizendo, lançados nas contas das grandes empresas farmacêuticas, cujos lucros também já estão devidamente contabilizados:
Até ao final deste 1.º trimestre de 2010, a Novartis vai embolsar 428 milhões de euros, a Sanofi 786 milhões, a Roche 1200 milhões e a GSK (norte-americana) uns módicos 2642 milhões.
Tudo graças a uma «pandemia» impingida ao Mundo a contra-relógio por entidades tão responsáveis como a Organização Mundial de Saúde e o Centro de Controlo de Doenças dos EUA e que são, nas palavras do Prof. Vaz Carneiro, «os grandes responsáveis por criarem um pânico infundado» com a gripe A. Aliás, tal como já haviam feito «com as vacas loucas e a gripe das aves»...
Na verdade, a grande pandemia que o Mundo enfrenta é mesmo o sistema capitalista que, obscenamente, até já doenças inventa para multiplicar os lucros.»

segunda-feira, janeiro 25, 2010

Identidade e Credibilidade

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À BEIRA DE COZINHAR com a direita, o “orçamento limiano” para 2010, este é um governo que pouco se tem esforçado por enfrentar, não a crise do desemprego, mas a própria crise de identidade e credibilidade em que mergulhou. A prová-lo está a rejeição por parte do PS (partido Sócrates), com a indiferença da direita, dos critérios de alargamento da atribuição do subsídio de desemprego, proposta pelo PCP, como forma de superar a presente situação de emergência social. A contestá-lo, transcrevo parte da intervenção que Bernardino Soares, líder do grupo parlamentar do Partido Comunista Portugês (PCP), levou a cabo no plenário da Assembleia da República, a qual retrata com enérgica clarividência, a tal crise de credibilidade e de identidade que atrás referi.
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«(...) A situação de mais de 300 mil desempregados sem apoio da prestação do subsídio de desemprego é uma injustiça e um grave problema social. E é ao mesmo tempo um cilindro compressor de salários e direitos. É que um trabalhador sem subsídio de desemprego está muito mais vulnerável no que toca aos seus direitos e salário em novo emprego.Com a eliminação do subsídio de desemprego o Governo sabe que está a ajudar patrões sem escrúpulos a pagar menos e a retirar direitos. (...)Não podemos saber ao certo os custos da aprovação destas medidas, uma vez que isso dependerá da evolução do desemprego e da situação concreta dos trabalhadores nos empregos que perdem. Mas sabemos com certeza que os custos sociais de não fazer estas alterações são insuportáveis. Mesmo assim podemos dizer ao Governo onde pode obter verbas para estas medidas. E nem é preciso invocar os mais de 4 mil milhões injectados pela Caixa Geral de Depósitos (CGD) no Banco Português de Negócios (BPN), ou os milhões perdoados à banca. Basta que o Governo aplique agora os milhões que poupou ao longo destes anos no subsídio de desemprego; basta que o Governo aplique aqui uma parte dos 400 milhões de euros que ficaram por utilizar em 2009 na iniciativa de apoio ao emprego; ou uma parte das sistemáticas isenções nas contribuições para a segurança social que são agora “pau para toda a obra” na política do Governo; ou que tivesse aceitado usar os 60 milhões de euros de diminuição na despesa que registou no orçamento rectificativo para este fim.(...)»

domingo, janeiro 24, 2010

“O MEU HOMEM VITRUVIANO”

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PUBLICADA por Amadeu Carvalho Homem em 21 de Janeiro de 2010, no blog LIVRE E HUMANO, deixo aqui o LINK para o que considero a mais inteligente, despretensiosa e poética interpretação que li sobre o estudo de Leonardo da Vinci.

Caridades ou Oportunidades?

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COMO ACABAR com a pobreza? Com caridades ou com oportunidades? A questão foi colocada pelo JORNAL “i” na sua edição de 23 de Janeiro de 2010, sob o título “E você, o que faz para combater a pobreza? Entre as muitas respostas dadas por várias personalidades da sociedade portuguesa, todas elas sensíveis e preocupadas com o fenómeno, e cada uma à sua maneira a tentar contribuir para o mitigar, destaco a que foi dada pelo economista Carlos Carvalhas, que naturalmente subscrevo. Diz ele o seguinte: “Em Portugal, a grande mancha de pobreza resulta da má distribuição do rendimento nacional. Aliás, os baixos salários de hoje vão ser as baixas pensões de amanhã, o que é preocupante. A única forma de contornar o problema será melhorar a distribuição da riqueza, através de uma política fiscal mais justa e de uma melhoria dos salários e das reformas… Não pertenço ao grupo dos que acham que o problema se pode resolver através de pequenos contributos pessoais. Acredito, antes, que a única forma de ser combatido é através de políticas mais justas. No meu caso, procuro denunciar, apresentar propostas e continuar a luta.”

sábado, janeiro 23, 2010

Ai, D. Policarpo!

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SOU ATEU, mas depois de ler as últimas declarações de D. José Policarpo sobre os géneros, os valores e obrigações do casamento, só me apetece abraçar o politeísmo e entrar numas quantas orgias dionisíacas…

sexta-feira, janeiro 22, 2010

Palavras Que Valem Mil Imagens

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- Que grandeza tem a eternidade? Perguntou o aluno ao professor. Aquele, cruzou os braços, quedou-se pensativo, e pouco depois, entre o período de tempo incomensurável que é para uns, e a duração que não tem começo nem fim para outros, encontrou uma resposta.
- Bem, imaginemos que a Terra é como a conhecemos, com a mesma forma e as mesmas dimensões, porém feita de bronze, e que uma andorinha, de mil em mil anos, roça com as suas asas por ela. Quando por força de tão suave erosão, a Terra tiver deixado de existir, só então começará a eternidade.

quinta-feira, janeiro 21, 2010

Mandem-na para Hogwarts

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INTERPELADA na Assembleia da República sobre o desemprego, a ministra do Trabalho (ou será do Desemprego?) Helena André afirmou que não tinha uma varinha mágica para saber até onde vai crescer o desemprego (o que significa que não faz a mínima ideia até onde ele irá), o que é lamentável, pois é do entendimento geral que a questão não é resolúvel com poções, bruxarias, encantamentos ou passes de mágica (mas podemos mandá-la tirar um curso para a Escola de Hogwarts), mas com medidas concretas e adequadas do foro político. Entretanto, chamou a atenção dos deputados presentes de que está na altura de "refrescar" a problemática do desemprego com novas ideias, provavelmente, baseada no mesmo estratagema que leva o governo, para equilibrar as estatísticas, de tempos a tempos, a "refrescar" os números do desemprego, ao ponto de os "congelar".

Sugestão a José Sócrates

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"Em momentos de crise, a imaginação é mais importante que o conhecimento", foi o que aconselhou o cientista Albert Einstein, só que no caso de José Sócrates, não há imaginação, e muito menos conhecimento. Apenas intolerância, toleima, fatos por medida e muita conversa fiada.

quarta-feira, janeiro 20, 2010

À beira-mágoa…

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Eu soube de um país à beira-mar,
à beira-pesadelo, à beira-pranto…
De insónias e tristezas no cantar,
do sonho, que a tardar, doía tanto!

Eu soube de um país que teve um cais
e um barco que largou ao mundo além…
Que foi e que voltou por entre os ais
e sempre desse além ficou refém…

Eu soube de um país à beira-fado,
guitarra dedilhando a decadência…
Amante, entre grinaldas, mal-amado,
cativo de masmorras e de ausência…

Eu soube de um país que se rendeu,
num dia de novembro, e se perdeu…

Poema de José-Augusto de Carvalho, autor do livro DO MAR E DE NÓS - 25 de Novembro de 2004 - Viana do Alentejo - Évora - Portugal