APESAR de fazer figura disso, deve evitar-se chamar “palhaço” a Sua Truculência, o régulo Alberto João Jardim, pois isso é estar a ofender, gravemente, os verdadeiros profissionais da nobre arte de fazer rir. Já quanto ao dedo em riste que ele costuma sacudir furiosamente, no auge dos seus discursos, deixo à imaginação de cada um, o que ele poderá fazer com ele.
quinta-feira, outubro 06, 2011
Sua Truculência
APESAR de fazer figura disso, deve evitar-se chamar “palhaço” a Sua Truculência, o régulo Alberto João Jardim, pois isso é estar a ofender, gravemente, os verdadeiros profissionais da nobre arte de fazer rir. Já quanto ao dedo em riste que ele costuma sacudir furiosamente, no auge dos seus discursos, deixo à imaginação de cada um, o que ele poderá fazer com ele.
quarta-feira, outubro 05, 2011
O Exemplo que vem da Islândia
O Landsdomur, tribunal especial de Reykjavik, vai julgar o ex-primeiro-ministro islandês, Geeir Haarde, pela sua implicação e responsabilidade no colapso do sistema financeiro do país, em 2008, quando chefiava o governo. Há situações que não se suplantam nem satisfazem com a mera invocação da responsabilidade política, e este é um bom exemplo, que não requer mais comentários. Apenas que frutifique.
sábado, outubro 01, 2011
A Paródia da Justiça
«As
quase 23 horas que Isaltino Morais passou na cadeia - entre as 20h de
quinta-feira e as 18h52 de ontem [sexta-feira] - abriram mais uma brecha na
credibilidade da Justiça portuguesa. Com base numa decisão do Tribunal
Constitucional (TC), que rejeitou um recurso da defesa de Isaltino, um
procurador do Ministério Público (MP) promoveu a prisão do presidente da Câmara
de Oeiras e uma juíza ordenou a sua execução. Sem que nenhum dos dois soubesse
que havia outro recurso no TC, com efeitos suspensivos sobre a condenação -
cujo prazo para entrega de alegações só termina na próxima quinta-feira. Quando
souberam, por inciativa dos advogados e por diligências próprias, nenhum se
opôs à libertação. (...)»
Excerto da notícia do semanário EXPRESSO
de 1 de Outubro de 2011
Meu comentário: Ainda hei-de ouvir dizer
que o culpado da falta de informação e do desnorte da Justiça, neste e noutros
casos, seja imputado a algum problema informático, talvez ao incipiente Citius,
pois os computadores sempre tiveram as costas largas, e os informáticos sabem
bem do que se fala. Isaltino tem advogados competentes, que conhecem o terreno que
pisam, e não rejeitam tirar partido destes desleixos da justiça portuguesa, ao
traduzirem-nos em pedidos de indemnização ao Estado, que se reflectirão, fatalmente, no bolso dos
contribuintes, os quais serão convocados para colmatar a ofensa. Isto já não
falando na aposta, desenhada ao pormenor, pelos ditos, competentíssimos e
certeiros causidíacos, da prescrição dos crimes de que Isaltino é acusado. Conclusão:
A Justiça portuguesa é uma paródia, continuando a contribuir substancialmente
para o anedotário nacional, e Isaltino, e outros quejandos, riem-se
perdidamente.
sexta-feira, setembro 30, 2011
Marco Catão vs Isaltino Morais
«Isaltino Morais, presidente da Câmara Municipal de Oeiras, foi detido, por volta das 20 horas de quinta-feira, pelo Grupo de Investigação Criminal da PSP de Oeiras, no "cumprimento de um mandado de detenção". O autarca foi levado para a zona prisional anexa à Polícia Judiciária (PJ), na Rua Gomes Freire, em Lisboa, onde deverá cumprir os dois anos de cadeia a que foi condenado pelo Supremo Tribunal de Justiça, por fraude fiscal, abuso de poder, corrupção passiva para acto ilícito e branqueamento de capitais. (...)»
Excerto da notícia do DIÁRIO DE NOTÍCIAS
on-line de 30 de Setembro de 2011
Meu comentário: Isaltino Morais não
seguiu os conselhos de Marco Pórcio Catão, magistrado, político e militar romano
que viveu entre 234 e 149 A.C., quando dizia que não censurava os que tiravam
partido dos saques dos inimigos derrotados, mas que, no seu caso, preferia
rivalizar em virtude com os mais virtuosos a competir em riqueza com os ricos
ou em cobiça com os rapaces.
quinta-feira, setembro 29, 2011
Memórias de uma Aula no Liceu de Setúbal
Barreiro,
4 de Outubro de 1967 (Quarta-feira)
SEGUNDO
dia de aulas. Continua o desassossego, com o pessoal a trocar beijos, abraços e
confidências, depois desta longa separação que foram 3 meses e meio de férias.
Estávamos todos fartos do verão, com saudades uns dos outros. A sala é a mesma
do ano passado, no 1º andar e cheirava a nova, tudo encerado e polido, apesar
do material já ser mais do que velho. Somos o 7.º A e como não chumbou nem veio
ninguém de
novo, a pauta é exactamente igual à do ano passado. Eu sou o n.º 34, e fico
sentada na segunda fila, do lado da janela, cá atrás, que é o lugar dos mais
altos. Hoje
tivemos, pela primeira vez, Organização Política e apareceu-nos um professor
novo, acho que é a primeira vez que dá aulas em Setúbal, dizem que veio corrido
de um liceu de Coimbra, por causa da política.
Já
ontem se falava à boca cheia dele, havia malta muito excitada e contente porque
dizem que ele é um fadista afamado. Tenho realmente uma vaga ideia de ouvir o
meu tio Diamantino falar dele, mas já não sei se foi por causa da cantoria se
por causa da política. A Inês contou que ouviu o pai comentar, em casa, que o
homem é todo revolucionário, arranja sarilhos por todo o lado onde passa. Ela
diz que ele já esteve preso por causa da política, é capaz de ser comunista.
Diferente dos outros professores, é de certeza. Quando entrou na sala, já tinha
dado o segundo toque, estava quase no limite da falta. Entrou por ali a dentro,
todo despenteado, com uma gabardine na mão e enquanto a atirava para cima da
secretária, perguntou-nos:
-
Vocês são o 7.º A, não são? Desculpem o atraso mas enganei-me e fui parar a
outra sala. Não faz mal. Se vocês chegarem atrasados também não vos vou chatear.
Tinha
um ar simpático, ligeiro, um visual que não se enquadrava nada com a imagem de
todos os outros professores. Deu para perceber que as primeiras palavras,
aliadas à postura solta e descontraída, começavam a
cativar toda a gente. A Carolina virou-se para trás e disse-me que já o tinha
visto na televisão, a cantar Fado de Coimbra. Realmente o rosto não me era
estranho. É alto, feições correctas, embora os dentes não sejam um modelo de
perfeição e é bem parecido, digamos que um homem interessante para se olhar. O
Artur soprou-me que ele deve ter uns 36 anos e acho que sim, nota-se que já é
velho. Depois das primeiras palavras, sentou-se na secretária, abriu o livro de
ponto, rabiscou o que tinha a escrever e ficou uns cinco minutos, em silêncio,
a olhar o pátio vazio, através das janelas da sala, impecavelmente limpas.
Enquanto
ele estava nesta espécie de marasmo nós começámos a bichanar uns com os outros,
cada um emitindo a sua opinião, fazendo conjecturas. Às tantas, o bichanar foi
subindo de tom e já era uma algazarra tão grande que parece tê-lo acordado.
Outro qualquer professor já nos teria pregado um raspanete, coberto de ameaças,
mas ele não disse nada, como se não tivesse ouvido ou, melhor, não se importasse.
Aliás, aposto que nem nos ouviu. O ar dele, enquanto esteve ausente, era tão
distante que mais parecia ter-se, efectivamente, evadido da sala. Quando
recomeçou a falar connosco, em pé, em cima do estrado, já tinha ganho o
primeiro round de simpatia. Depois, veio o mais surpreendente:
-
Bem, eu sou o vosso novo professor de Organização Política, mas devo dizer-vos
que não percebo nada disto. Vocês já deram isto o ano passado, não foi? Então
sabem, de certeza, mais que eu.
Gargalhada
geral.
-
Podem rir porque é verdade. Eu não percebo nada disto, as minhas disciplinas,
aquelas em que me formei, são História e Filosofia, não tenho culpa que me
tivessem posto aqui, tipo castigo, para dar uma matéria que não conheço, nem me
interessa. Podia estudar para vir aqui desbobinar, tipo papagaio, mas não estou
para isso. Não entro em palhaçadas.
Voltámos
a rir, numa sonora gargalhada, tipo coro afinado, mas ele ficou impávido e
sereno. Continuava a mostrar um semblante discreto, calmo, simpático.
-
Pois é, não vou sobrecarregar a minha massa cinzenta com coisas absolutamente
inúteis e falsas. Tudo isto é uma fantochada sem interesse. Não vou perder um
minuto do meu estudo com esta porcaria.
Começámos
a olhar uns para outros, espantados; nunca na vida nos tinha passado pela
frente um professor com tamanha ousadia.
-
Eu estudaria, isso sim, uma Organização Política que funcionasse, como noutros
países acontece, não é esta fantochada que não passa de pura teoria. Na prática
não existe, é uma Constituição carregada de falsidade. Portugal vive numa
democracia de fachada, este regime que nos governa é uma ditadura desumana e
cruel.
Não
se ouvia uma mosca na sala. Os rostos tinham deixado cair o sorriso e estavam
agora absolutamente atónitos, vidrados no rosto e nas palavras daquele homem
ímpar. O que ele nos estava a dizer é o que ouvimos comentar, todos os dias,
aos nossos pais, mas sempre com as devidas recomendações para não o repetirmos
na rua porque nunca se sabe quem ouve. A Pide persegue toda a gente como uma
nuvem de fumo branco, que se sente mas não se apalpa.
-
Repito: eu não percebo nada desta disciplina que vos venho leccionar, nem quero
perceber. Estou-me nas tintas para esta porcaria. Mas, atenção, vocês é outra
coisa. Vocês vão ter que estudar porque, no final do ano, vão ter que fazer
exame para concluírem o vosso 7.º ano e poderem entrar na Faculdade. Isso,
vocês têm que fazer. Estudar. Para serem homens e mulheres cultos para poderem
combater, cada um onde estiver, esta ditadura infame que está a destruir a
vossa pátria e a dos vossos filhos. Vocês são o amanhã e são vocês que têm que lutar
por um novo país.
- Não
vão precisar de mim para estudar esta materiazinha de chacha, basta estudarem
umas horas e empinam isto num instante. Isto não vale nada. Eu venho dar aulas,
preciso de vir, preciso de ganhar a vida, mas as minhas aulas vão ser aulas de
cultura e política geral. Vão ficar a saber que há países onde existem regimes
diferentes deste, que nos oprime, países onde há liberdade de pensamento e de
expressão, educação para todos, cuidados de saúde que não são apenas para os privilegiados,
enfim, outras coisas que a seu tempo vos ensinarei. Percebem? Nós temos que
aprender a não ser autómatos, a pensar pela nossa cabeça. O Salazar quer fazer
de vocês, a juventude deste país, carneiros, mas eu não vou deixar que os meus
alunos o sejam. Vou abrir-lhes a porta do conhecimento, da cultura e da
verdade. Vou ensinar-lhes que, além fronteiras, há outros mundos e outras
hipóteses de vida, que não se configuram a esta ditadura de miséria social e cultural.
- Outra
coisa: vou ter que vos dar um ponto por período porque vocês têm que ter notas
para ir a exame. O ponto que farei será com perguntas do vosso livro que terão
que ter a paciência de estudar. A matéria é uma falsidade do princípio ao fim,
mas não há volta a dar, para atingirem os vossos mais altos objectivos. Têm que
estudar. Se quiserem copiar é com vocês, não vou andar, feita toupeira, a
fiscalizá-los, se quiserem trazer o livro e copiar, é uma decisão vossa, no
entanto acho que devem começar a endireitar este país no sentido da
honestidade, sim porque o nosso país é um país de bufos, de corruptos e de
vigaristas. Não falo de vocês, jovens, falo dos homens da minha idade e mais velhos,
em qualquer quadrante da sociedade. Nós temos sempre que mostrar o que somos,
temos que ser dignos connosco para sermos dignos com os outros. Por isso, acho
que não devem copiar. Há que criar princípios de honestidade e isso começa em
vocês, os futuros homens e mulheres de Portugal. Não concordam? Bem, por hoje é
tudo, podem sair. Vemo-nos na próxima aula.
Espantoso.
Quando ele terminou estava tudo lívido, sem palavras. Que fenómeno é este que
aterrou em Setúbal? Já me esquecia de escrever. Esta ave rara, o nosso
professor de Organização Política, chama-se Zeca Afonso.
NOTA
– Texto não assinado, recebido por e-mail.
O Jardim é como uma Madeira sem Flores
EMBORA
continue a pavonear-se, de inauguração em inauguração, com o taxímetro da
dívida sempre em contagem crescente, o régulo Alberto João Jardim, já não diz
coisa com coisa. Num dia diz que não há nenhum buraco nas contas, para no dia
seguinte dizer que escondeu esse buraco em legítima defesa. Num dia diz que o
buraco é qualquer de coisa como 5 mil milhões euros, para logo a seguir dizer
que é uma coisita pequena, uma coisita de nada. Num dia pede que o Estado
português dê a independência à Madeira, para no dia seguinte dizer que é contra
a independência da Madeira e que as suas palavras foram um desabafo contra os
interesses financeiros e económicos do cont'nente. Logo a seguir veio agradecer
a decisão da Procuradoria-Geral da República de abrir um inquérito-crime ao
caso de ocultação da dívida pública da região, nada temendo e que até é um
favor que lhe fazem. E todas estas contradições desenrolaram-se no curto espaço
de uma semana, entre entrevistas, comícios, sandochas e copos de três.
E no
meio desta bandalheira, lá vem o régulo multi-usos, todo lampeiro, depois de
ter despachado mais uma inauguração, desta vez as patéticas obras de
alargamento de uma rua, sempre rodeado pela moldura de tropa indígena, ataviada
de fatinhos domingueiros e com perucas cheias de laca, cuja função é debitarem
risos aparvalhados de aprovação pelas graçolas badalhocas do homenzinho que
tanto faz de rei como de bobo, que logo remata que é preciso dar pancada em
quem ofende o povo madeirense, comprometendo-se a continuar a lutar contra o
Estado central até a região conseguir os seus direitos. Por cá, o governo
garante que na próxima sexta-feira irão ser divulgados todos os pormenores do
cambalacho madeirense, muito embora fique para mais tarde a decisão, assaz
importante, de quem vai assumir os custos daquela jardinada, que por omissão só
beneficia o infractor nas eleições legislativas regionais.
É por estas e por outras que acho que o presidente do
Governo Regional da Madeira se está a tornar uma aberração botânica, uma
espécie de Jardim sem flores. E a Madeira que se cuide, pois corre o risco de
ficar sem norte, sem siso, sem dinheiro e com um tresloucado à solta…quarta-feira, setembro 28, 2011
Ponto da Situação
TODOS
os dias há novidades. Estão a vir às pinguinhas, com pézinhos de lã, para não
assustarem e não doerem muito. Grão a grão vamo-nos habituando, ficando
insensíveis, vendo desfilar os buracões no orçamento e aceitando os apertos sem
tugir nem mugir, até chegarmos ao patamar da Grécia.
O
Governo quer isentar as empresas do dever de informarem a Autoridade para as
Condições do Trabalho (ACT) sobre as alterações aos horários laborais. Assim
sendo, as crianças vão deixar de ver o pais, os divórcios vão disparar, em
contraste com a indústria de sacos-cama que vai ganhar um grande impulso.
O
ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, afirmou que o aumento das tarifas
de electricidade vai ser muito menor do que os 30 e os 55 por cento que têm
andado a ser anunciados, respectivamente para os consumidores particulares e as
empresas. Seja muito ou pouco, o aumento prepara-se para levar à falência mais
uns milhares de empresas, e por arrastamento, muitos mais portugueses e
respectivas famílias.
Carlos
Moedas, secretário de estado adjunto do Primeiro-ministro, admite que para 2012
a recessão irá ser mais profunda que o previsto.
Victor
Gaspar, Ministro das Finanças, conclui que o pior ainda está para vir.
Embora
Hillary Clinton tenha vaticinado que Portugal está no caminho certo para a
resolução da dívida soberana, e o Presidente norte-americano Barack Obama tenha
atribuído o fracasso do Euro à ausência de regulação do sector financeiro, por
cá ainda não se conseguiu apurar quem é o responsável pelo que está a
acontecer, havendo quem prefira simplificar, continuando a deitar as culpas
para os sindicatos e os trabalhadores portugueses, que continuam a ser o
principal obstáculo à competitividade das empresas, preferindo receber
subsídios em vez de trabalharem, a serem gastadores e a terem um nível de vida
superior às suas possibilidades.
segunda-feira, setembro 26, 2011
O Confessionário
OS PROJECTOS apresentados pela maioria PSD/CDS, pelo PCP e pelo BE para criminalizar o enriquecimento ilícito dos titulares de altos cargos públicos, foram todos aprovados na generalidade, na sessão da passada sexta-feira na Assembleia da República. Quanto ao projecto do PS, foi rejeitado por esses mesmos partidos (com excepção do PEV que se absteve), pois consideraram que apenas criminalizava as falsas declarações ou a inexistência de declarações sobre rendimentos. Entretanto, António José Seguro veio lamentar-se para o Facebook - que parece ter-se tornado o confessionário, por excelência, de alguns políticos cá do burgo - a propósito da insensibilidade dos outros partidos, em relação à proposta do PS, que teria tanto de bem-intencionada como de inócua.
Já
João Marcelino, director do DIÁRIO DE NOTÍCIAS, em editorial, veio acrescentar
mais algumas achegas à questão, isto é, que "o PS, quinze dias depois do
Congresso de Braga, onde o combate à corrupção andou de boca em boca, (...)
continua a ser o partido que não quer que os portugueses titulares de cargos
públicos tenham de eventualmente explicar de onde lhes vieram as casas, os
carros topo de gama e as contas bancárias incompatíveis com os ordenados
praticados pelo Estado. Porquê?"
A
resposta talvez não seja difícil de encontrar, se atendermos aos incontáveis
casos de súbito, veloz e avantajado enriquecimento, que por cá têm proliferado,
difíceis de explicar apenas através dos vencimentos auferidos com o desempenho
de cargos públicos, e de umas episódicas quanto inofensivas ofertas de caixas
de robalos. Há também quem diga que a lei, a ser aplicada com rigor, faria triplicar
a população dos estabelecimentos prisionais do país, com o consequente
agravamento do défice. Outros ainda, mais radicais, são peremptórios: se me
oferecessem o lugar e a oportunidade, eu cá aproveitava-me também…
domingo, setembro 25, 2011
Auto do Jardim das Delícias
O JULGAMENTO do processo-crime contra os quatro
ex-administradores do Banco Comercial Português (BCP), incluindo Jardim
Gonçalves e Filipe Pinhal, foi adiado 'sine die' devido à sobreposição de datas
com o processo movido pela CMVM, que também abrange estes arguidos, os quais
têm direito a estar presentes em ambos os julgamentos. Embora estes senhores sejam
conhecidos por possuírem muitos e valiosos talentos, não se lhes conhece o dom
da ubiquidade. Quanto à Justiça portuguesa, continua a ser fértil em atrasos,
erros e incidentes processuais, que quando bem explorados pelos senhores
advogados, transformam os processos em comédias para todos os gostos. Esta acusação
do Ministério Público data de Junho de 2009, e mais de dois (2) anos depois ainda
estamos neste impasse. Gil Vicente se por cá aparecesse, teria assunto de sobra
para mais um dos seus admiráveis autos; talvez um Auto do Jardim das Delícias…
quinta-feira, setembro 22, 2011
Prémio Nobel da Paz
O
PRESIDENTE norte-americano, Barack Obama, confirmou ao líder da Autoridade
Palestiniana, Mahmoud Abbas, que vai vetar a tentativa de os palestinianos
serem reconhecidos como Estado pela Organização das Nações Unidas.
Assim,
o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, sensibilizado com tanto
apoio, fez um sonoro elogio a Obama, declarando-o merecedor de uma “medalha de
honra”. Face a esta postura do presidente dos E.U.A. (que foi, espantem-se,
Prémio Nobel da Paz em 2009), em relação à pretensão dos palestinianos, os
israelitas vão respirar de alívio, aprofundar a ocupação da Cisjordânia e ao
mesmo tempo continuar a matar neles. Entre a defesa de uma causa justa, e a
satisfação dos interesses judaicos, que podem condicionar a sua futura
recondução na presidência, Obama escolheu a opção que mais contradiz o que dele
se esperava: ser um símbolo de mudança e um construtor de PAZ.
terça-feira, setembro 20, 2011
Segredos de Estado
CAVACO
Silva e Passos Coelho reuniram e fecharam-se em copas, tratando o assunto das
"acções directas" e dos encobrimentos do Alberto João, como se não
passassem de palhaçadas e traquinices de um fulano mal comportado, a quem tudo
se desculpa e que convém manter sob reserva, como se a coisa merecesse o tratamento
equivalente a um segredo de estado. Cavaco e Coelho acabaram por optar por um
silêncio comprometedor, como se nada se passasse, dando corpo à ideia de que
quem cala, consente. Onde é que eu já vi isto? Ah, já sei! Foi na sequência do
envolvimento com o caso BPN, quando Cavaco Silva teve igual relutância em
sanear Dias Loureiro do Conselho de Estado.
Entretanto,
o Tribunal de Contas detectou que há mais 220 milhões de euros descobertos nas
contas públicas da Madeira, elevando o buraco financeiro para valores próximos
dos mil e novecentos milhões de euros, enfim, coisa pouca, apenas mais uns
trocos para arredondar o buraco. Em resumo: tudo isto fede...
segunda-feira, setembro 19, 2011
Brincar às Laranjadas
O
SOBA Alberto João, vinte e quatro horas depois de ter negado a existência de
uma dívida oculta nas contas do Governo Regional da Madeira, deu o dito por não
dito, reconhecendo que afinal sempre a dissimulou, diz ele que numa manobra de
"legítima defesa", contra a nova Lei das Finanças Regionais que não
tolera gastos à "tripa forra", e o governo do Sócrates, que não era
sério, talvez porque mentia tanto ou mais do que ele.
É fácil de ver que este cavalheiro, empoleirado em mais de trinta anos de poder ininterrupto, e sempre bem guardado e protegido, já experimentou de tudo. Faltava-lhe apenas dar o golpe de mestre e brincar às escondidas com a legalidade. Estou com grande curiosidade para ver quais vão ser os resultados práticos da laranjada doméstica que vai ter lugar, para debater o assunto, entre os correligionários Cavaco Silva e Passos Coelho em pessoa, e com a figura tutelar do atrevido e insolente Alberto João Jardim a pairar entre eles.
É fácil de ver que este cavalheiro, empoleirado em mais de trinta anos de poder ininterrupto, e sempre bem guardado e protegido, já experimentou de tudo. Faltava-lhe apenas dar o golpe de mestre e brincar às escondidas com a legalidade. Estou com grande curiosidade para ver quais vão ser os resultados práticos da laranjada doméstica que vai ter lugar, para debater o assunto, entre os correligionários Cavaco Silva e Passos Coelho em pessoa, e com a figura tutelar do atrevido e insolente Alberto João Jardim a pairar entre eles.
sábado, setembro 17, 2011
Eclipses Orçamentais
É
MUITO difícil que o encobrimento orçamental de 1,6 mil milhões de euros da
Região Autónoma da Madeira, tenha passado despercebido, sem ninguém ter dado
por ele. Na minha terra, contas são contas, e não se pode gastar o que não há,
assim como não é possível esconder os gastos do que se tinha e deixou de ter.
Por isso, apreciei sobremaneira, o encolher de ombros e a expressão de papalvo
desentendido de Victor Constâncio, o ex-governador de um Banco de Portugal que
fez tanta regulação bancária, ao ponto de deixar o BPN andar à deriva por aí,
servindo de fachada para uma gigantesca roubalheira, e que agora se foi acoitar
no BCE como vice-presidente de Jean-Claude Trichet. Já o "economista"
Cavaco Silva, ex-apoiante e subscritor da saga BPN, defensor intransigente do
são tomense emigrante de luxo Dias Loureiro, e agora Presidente da República,
diz que o assunto é grave, exibe os seus habituais esgares de consternação
artificial, mas fica-se por aí, à espera que os próximos eclipses astronómicos,
sejam eles do Sol ou da Lua, sirvam para esconder mais qualquer coisita. A
verdade é que talvez seja oportuno relembrar que a Grécia está como está,
porque houve grandes encobrimentos orçamentais, que foram dando como saudável,
ao longo dos anos, um país à beira do colapso, ao ponto de estar como hoje se
encontra.
O
descalabro madeirense, velho de tanto tempo quantos os anos de caciquismo
jardinista, e respectivas cumplicidades, não pode ser varrido para debaixo de
tapete, ou disso lavar-se as mãos, como cínicamente o faz Pedro Passos Coelho,
ao dizer que aquele é um problema das escolhas políticas da Madeira e do
PSD-Madeira, e que ambos vão ter que o resolver, o que não é verdade, pois quem
vai ser chamado para isso, voltando a revirar os bolsos do avesso, são os
"cubanos" do costume. 0 problema é que a Madeira não se pode
"extinguir", como se fosse uma qualquer direcção-geral ou organismo
público, mas o mesmo já não digo do seu intragável, cabotino e impenitente
presidente do governo regional, e de todos aqueles que lhe têm dado apoio e cobertura.
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quarta-feira, setembro 14, 2011
Preocupações
MARIA
de Belém Roseira, a novel presidente do PS (mas ainda sua líder parlamentar
interina), diz que o partido está "preocupadíssimo" com a
actualização do memorando de entendimento assinado com a 'troika', ao mesmo
tempo que lamenta a falta de "cortesia" do Governo, ao não dar a
"mínima das informações" sobre tal matéria, fazendo por ignorar que o
PS também está envolvido nos compromissos assumidos.
Maria
de Belém já devia saber que os fretes que se fazem não exigem reciprocidade, e
não vale a pena estar a mostrar-se ofendida com a tal desconsideração,
ensaiando uma espécie de choro sobre o leite derramado. Nas votações ocorridas
na Assembleia da República, na passada semana, e excluindo todos os discursos
recheados de intenções, para o observador atento, continua a não haver dúvidas,
de que lado do espectro político o "novo" PS se continua a posicionar,
reforçando uma folgada maioria de direita.
domingo, setembro 11, 2011
Qual 11 de Setembro?
DE
HÁ uma semana a esta parte, temos vindo a ser bombardeados (passe a expressão!)
pelos habituais comentadores residentes - não por falta de outros temas, mas
porque este “vende” sempre bem - que voltam a perorar sobre o 11
de Setembro de 2001 (não confundir com o chileno 11 de Setembro de 1973),
aquela data fatídica que o indigesto filho dos Bush resolveu instituir como o
"dia em que o mundo mudou" (como se o mundo não mudasse todos os
dias...), e que depois foi ficando como emblema para introduzir a planetária
"guerra ao terrorismo", outra coisa que é tão velha, como a mais
velha profissão do mundo. Há outras datas bem mais marcantes e mensageiras de
mudança que o tal 11 de Setembro de 2001, como a implosão da União Soviética,
essa sim, data que imprimiu uma mudança de rumo à Humanidade, e por sinal, sem
derramamento de sangue, embora com não poucos efeitos perversos. Citando outras
maldades, são afloradas, de vez em quando, e de raspão, as carnificinas da
Primeira Guerra Mundial, do Holocausto, dos sucessivos genocídios que têm
brotado por esse mundo fora, mas nada que se compare à veemência com que é
tratado o 11 de Setembro. E já que se fala de carnificinas, porque não
recuarmos até às fogueiras da Santa Inquisição, outra barbaridade praticada em
nome de Deus, e com a chancela da Santa Madre Igreja?
Assim, todos os anos, o 11 de Setembro é evocado, porém, este ano com mais acutilância, passada que correu uma década, como se fosse uma peregrinação obrigatória, à semelhança de quem vai até à Cova da Iria. E na nossa praceta, até há uma senhora escrevinhadora que arranca uma conclusão de antologia, quando garante que aquilo não foi apenas um massacre de pessoas, mas sim o primeiro que visou uma civilização, e ao falar de civilização, penso eu que estaria a referir-se à civilização dos MacDonalds, da Coca Cola, de Wall Street, da CIA, do Pentágono, de Guantánamo e outras tantas marcas de prestígio. Infelizmente, esqueceu-se de falar de umas quantas contabilidades que faltam fazer sobre as vítimas civis que a guerra do Afeganistão e do Iraque provocaram (e que deixam as 2.982 vítimas nova-iorquinas a uma grande distância), à sombra do pretexto e da retaliação, tanto do 11 de Setembro, como daquela ameaça fantasma de umas quantas armas de destruição maciça, que foram fabricadas pelas mentes perversas de um punhado de políticos, tão criminosos e alucinados como aqueles que andam por aí a brandir o sagrado Corão.
Face a este débito opinativo, apenas posso deixar registada a minha mágoa e comiseração, em relação aos cidadãos americanos (e não só) que naquele dia 11 de Setembro foram engolidos pela voragem da destruição das Torres Gémeas, sem saberem o que lhes estava a acontecer, bem como em relação a todos os civis afegãos e iraquianos, que antes e depois de 11 de Setembro deixaram de estar entre nós, vítimas inocentes de drones e bombardeamentos cirúrgicos, sem saberem o que lhes estava a acontecer. Eu sei!
Assim, todos os anos, o 11 de Setembro é evocado, porém, este ano com mais acutilância, passada que correu uma década, como se fosse uma peregrinação obrigatória, à semelhança de quem vai até à Cova da Iria. E na nossa praceta, até há uma senhora escrevinhadora que arranca uma conclusão de antologia, quando garante que aquilo não foi apenas um massacre de pessoas, mas sim o primeiro que visou uma civilização, e ao falar de civilização, penso eu que estaria a referir-se à civilização dos MacDonalds, da Coca Cola, de Wall Street, da CIA, do Pentágono, de Guantánamo e outras tantas marcas de prestígio. Infelizmente, esqueceu-se de falar de umas quantas contabilidades que faltam fazer sobre as vítimas civis que a guerra do Afeganistão e do Iraque provocaram (e que deixam as 2.982 vítimas nova-iorquinas a uma grande distância), à sombra do pretexto e da retaliação, tanto do 11 de Setembro, como daquela ameaça fantasma de umas quantas armas de destruição maciça, que foram fabricadas pelas mentes perversas de um punhado de políticos, tão criminosos e alucinados como aqueles que andam por aí a brandir o sagrado Corão.
Face a este débito opinativo, apenas posso deixar registada a minha mágoa e comiseração, em relação aos cidadãos americanos (e não só) que naquele dia 11 de Setembro foram engolidos pela voragem da destruição das Torres Gémeas, sem saberem o que lhes estava a acontecer, bem como em relação a todos os civis afegãos e iraquianos, que antes e depois de 11 de Setembro deixaram de estar entre nós, vítimas inocentes de drones e bombardeamentos cirúrgicos, sem saberem o que lhes estava a acontecer. Eu sei!
quinta-feira, setembro 08, 2011
Aviso
O QUE será que Pedro Passos Coelho quis insinuar, quando disse que "em Portugal, há direito de manifestação, há direito à greve. São direitos que estão consagrados na Constituição e que têm merecido consenso alargado em Portugal, mas nós não confundiremos o exercício dessas liberdades com aqueles que pensam que podem incendiar as ruas e ajudar a queimar Portugal". E mais ainda: "Pode haver quem se entusiasme com as redes sociais e com aquilo que vê lá fora, esperando trazer o tumulto para as ruas de Portugal".
Provavelmente,
não houve ninguém que dissesse a Passos Coelho que os meninos não devem brincar
com fósforos, e já sendo crescidos, nos tempos que correm, ameaçar com a
intimidação, polícia de choque e afins, não é a melhor forma de governar um
país.
quarta-feira, setembro 07, 2011
Registo para Memória Futura (51)
«O
Ministério da Educação nomeou novos directores regionais de Educação no dia 2,
no preciso dia em que anunciou a extinção daqueles órgãos. Entre os nomeados
destaca-se o até agora presidente da Associação Nacional de Professores, João
Grancho, que vai liderar a Direcção Regional de Educação do Norte até ao final
de 2012, altura em que o processo [de extinção] fica concluído.»
Notícia do
DIÁRIO DE NOTÍCIAS on-line de 6 de Setembro de 2011
Meu comentário:
Para quê novas indigitações, se os organismos têm a morte anunciada? Terá sido
a necessidade premente de dar emprego aos boys alaranjados, mesmo que com um
contrato a prazo, o que motivou estas nomeações?
terça-feira, setembro 06, 2011
Más Companhias
Anders
Fogh Rasmussen, o novel secretário-geral da NATO, desloca-se na próxima
quinta-feira a Lisboa, estando previstos encontros com o primeiro-ministro, o
Presidente da República e os ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa,
durante os quais, além dos habituais cumprimentos, serão abordados assuntos
relacionados com a situação na Líbia, as mudanças no Comando de Oeiras, a vinda
da STRIKEFORNATO para Portugal, a reconfiguração da participação portuguesa nas
missões da NATO e a futura participação dos caças F-16 da Força Aérea
Portuguesa, no policiamento aéreo da Islândia, tudo iniciativas tão necessárias
a Portugal como o pão para a boca. Como é óbvio, estas iniciativas não estão
abrangidas por qualquer plano de austeridade, pois uma coisa é a inadiável e perpétua
guerra contra o terrorismo e os inimigos da civilização, e outra coisa é a luta
contra o subdesenvolvimento, o empobrecimento, a miséria, e as nefastas
consequências do obsoleto estado social, que como toda a gente sabe é de
inspiração comunistóide.
Aliás, o senhor Rasmussen, é a pessoa certa no lugar certo. Oriundo da família política do centro-direita, foi um corajoso e resoluto primeiro-ministro da Dinamarca durante oito anos. Sendo um teórico da linha neo-liberal e inimigo declarado do estado social, enquanto teve poder para isso, dedicou-se à sua demolição. Foi também um convicto e fervoroso crente de que Saddam Houssein era detentor de um poderoso arsenal de armas de destruição maciça, logo exacerbado apoiante da invasão do Iraque de 2003, tendo feito questão de que a Dinamarca se empenhasse na participação da força multinacional estacionada em Camp Danevang, perto de Bassora, com meio milhar de militares. Como é fácil de ver, é uma pessoa que não deixa os seus créditos por mãos alheias, sendo os seus atributos muito apreciados entre os seus pares.
A avó Bernarda, com a sua habitual propensão para o gracejo, quando viu a foto do senhor, saiu-se com um curioso comentário: "ai Jesus, abrenúncio, o homem coitadinho não tem culpa da cara que tem, mas o certo é que não ficava nada a destoar em qualquer filme de gangsters...
Aliás, o senhor Rasmussen, é a pessoa certa no lugar certo. Oriundo da família política do centro-direita, foi um corajoso e resoluto primeiro-ministro da Dinamarca durante oito anos. Sendo um teórico da linha neo-liberal e inimigo declarado do estado social, enquanto teve poder para isso, dedicou-se à sua demolição. Foi também um convicto e fervoroso crente de que Saddam Houssein era detentor de um poderoso arsenal de armas de destruição maciça, logo exacerbado apoiante da invasão do Iraque de 2003, tendo feito questão de que a Dinamarca se empenhasse na participação da força multinacional estacionada em Camp Danevang, perto de Bassora, com meio milhar de militares. Como é fácil de ver, é uma pessoa que não deixa os seus créditos por mãos alheias, sendo os seus atributos muito apreciados entre os seus pares.
A avó Bernarda, com a sua habitual propensão para o gracejo, quando viu a foto do senhor, saiu-se com um curioso comentário: "ai Jesus, abrenúncio, o homem coitadinho não tem culpa da cara que tem, mas o certo é que não ficava nada a destoar em qualquer filme de gangsters...
segunda-feira, setembro 05, 2011
Fácil, Mais Fácil, Cada Vez Mais Fácil
O
Partido Comunista Português e o Bloco de Esquerda apresentaram no plenário da
Assembleia da República, através de iniciativas independentes, as suas
propostas para solucionar o problema dos trabalhadores a falsos recibos verdes.
Na passada sexta-feira, 2 de Setembro, PS, PSD e CDS-PP, cada um com os seus
argumentos, chumbaram ambas as iniciativas, embora, ironia das ironias,
manifestem que estão empenhados na sua erradicação, mas não dando um único
passo nesse sentido.
O PSD utilizou o já normal argumento da chantagem do desemprego para justificar a continuação da precariedade, isto é, antes a precariedade que mais desemprego, só faltando dizer que acabar com esta ignomínia, no meio da crise que o país o vive, seria desrespeitar e pôr em causa os objectivos traçados e acordados com a troika. Contudo, não se dispensou de dizer que a concretizar-se a aprovação de tais iniciativas, aquelas iriam tirar o ganha-pão aos milhares de trabalhadores que são efectivamente independentes, o que corresponde a um rotundo disparate.
O CDS põe trabalhadores e patrões em pé de igualdade - como se nas relações laborais não existisse uma parte mais fraca - justificando que a inversão do ónus da prova não pode ser utilizada, havendo que fazer prova de que os recibos verdes correspondem a uma forma de subversão dos modelos e regras de contratação. Tanto o PSD como o CDS-PP, além de hipocrisia e argumentos falaciosos, manifestam ignorância da realidade e dos mecanismos subjacentes às relações laborais, ficando a pairar a ideia de que o conhecimento e as suas relações com este meio, sempre foram, e continuam a ser, muito superficiais.
O PS, na sua nova linha política (versão António José Seguro), mais comedida em relação à precariedade, reconhece-a agora como má, depois de anos a suportar um Governo (a versão José Sócrates) que ajudou a implementá-la como modelo no mundo do trabalho, contudo, sugere que o problema possa ser solucionado por consenso entre as partes (trabalhadores e empregadores) e não através de iniciativas legislativas, como se as ilegalidades pudessem ser objecto de qualquer negociação particular. À falta de melhor argumento, a bancada rosa fez dissertações à volta de nódoas de gordura.
Conclusão: vai continuar a ser fácil despedir, mais fácil pagar menos, e cada vez mais fácil explorar muitíssimo.
No meu blog CARTÓRIO DO ESCREVINHADOR podem ser consultadas as propostas do Partido Comunista Português e do Bloco de Esquerda.
domingo, setembro 04, 2011
O Preço da Salvação
«(…)
Quando se trata de taxar grandes fortunas os analistas tornam-se filosóficos:
mas o que é um rico?, perguntam. Fazia falta um destes analistas no Evangelho
segundo São Mateus. Quando Jesus dissesse que é mais fácil um camelo entrar
pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus, o analista
havia de contrapor: “Mas, Senhor, o que raio é um rico? Abstendo-vos de usar
conceitos vagos e populistas”. No entanto, Jesus Cristo, talvez por ser filho
de quem é, pode dizer o que lhe apetece sem ser acusado de demagogia. Uma sorte
que Jerónimo de Sousa não tem. (…) Américo Amorim constitui, por isso, um
mistério tanto para a fiscalidade como para a teologia. Sendo o homem mais rico
de Portugal, talvez não entre no reino de Deus. No entanto, na qualidade de
pobre de espírito, tem entrada garantida.»
Excerto do artigo de opinião de Ricardo
Araújo Pereira, intitulado “Ceci n’est pas un riche”, publicado na revista
VISÃO de 1 de Setembro de 2011. O título do post é de minha autoria.
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