quarta-feira, março 07, 2012

Notícia Provável - Amanhã Não Há Coisas Para Privatizar

2014 Setembro 16, Terça-Feira - Do nosso correspondente especial em Venda das Raparigas, Inácio Carriço

SEGUNDO um relatório do Instituto Europeu de Estatística, com sede em Bruxelas e tutelado pela Facção Ariete da União Europeia, as privatizações já ocupam o primeiro lugar entre as actividades económicas mais rentáveis de Portugal, embora a matéria-prima corra o risco de começar a faltar. Alguns economistas já avançam mesmo com uma ideia a todos os títulos revolucionária: que se nacionalizem os bens, para depois se voltarem novamente a privatizar, e assim sucessivamente, tal como foi feito em moldes experimentais com o antigo banco BPN. Entretanto, e por agora, para ultrapassar a situação (permitindo que os “mercados” recuperem, e mesmo contra a opinião do Presidente que acha que não se deve abrandar) o primeiro-ministro decidiu dar uma folga à actividade, pelo que amanhã haverá tolerância de ponto no Ministério e não haverá coisas para privatizar.

terça-feira, março 06, 2012

Teatro de Robertos


( Diálogo entre o Quim Roberto e o Roberto Anacleto, enquanto davam milho aos pombos no jardim do Seminário dos Olivais, do qual se junta uma visão do Google Maps) 

- O jornal PÚBLICO fez ontem 20 anos e comemorou o aniversário com a oferta grátis da edição do dia, com a adopção de um novo grafismo, obteve a colaboração do filósofo José Gil como director por um dia, e garantiu no editorial que “trabalha não para dar voz ao mínimo obrigatório, mas ao máximo de perspectivas”.

- E depois, tens alguma coisa contra isso?

- Não, não tenho, mas acontece que dois dias antes o PÚBLICO esqueceu-se de noticiar que o Partido Comunista Português tinha celebrado os seus 91 anos de existência, não é...

segunda-feira, março 05, 2012

Teatrices


(Tó Zé e Anselmo à conversa na esquina do Beco dos Surradores com o Poço do Borratém)

- Sabias que a Lusoponte, no ano passado, contra o que era habitual, cobrou portagens na Ponte 25 de Abril durante o mês de Agosto, e recebeu à mesma do Estado 4,4 milhões de euros de compensação por quebra de receitas?

- Sabia e não fico admirado!

- Homessa! E não ficas admirado porquê?

- Claro que não! o Estado não é obrigado a saber tudo o que se passa no país no mês de Agosto, o memorando da "troika" não mandou fazer cortes à Lusoponte, e além disso, seja com portagens abertas ou fechadas, aquela compensação de 4,4 milhões de euros já se pode considerar um direito adquirido...

sábado, março 03, 2012

Um Sábado Bilingue com José-Augusto de Carvalho


NOTAS DE VIAGEM - 4 

A mão esquerda de Camões é que me guia.
Poeta e vagamundo,
icei-me ao cesto da gávea.
Além de tanto mar, de tanto céu,
tentei enxergar morenas terras de Espanha
areias de Portugal.
Parti na busca ousada de mim.
Abri estradas molhadas de lágrimas
e vestidas de saudade e de escorbuto.
Entrevi, no manso marulhar, apenas a sedução
da sereia desnudada na brancura de noivar
de mantos de espuma e mito.
Perdido de mim na descoberta do mundo,
já não há morenas terras de Espanha
areias de Portugal.
Além de tanto mar, de tanto céu, só esta lenda de mim...

Poema cedido pelo meu estimado amigo José-Augusto de Carvalho. Viana*Évora*Portugal

NOTAS DE VIAJE - 4 

La mano izquierda de Camoens es mi guía.
Poeta y vagabundo,
me icé al cesto de la gavia.
Más allá de tanto mar, de tanto cielo,
intenté divisar morenas tierras de España
arenas de Portugal.
Partí en busca osada de mí.
Abrí rutas mojadas de lágrimas
y vestidas de nostalgia y de escorbuto.
Entreví, en el manso oleaje, apenas la seducción
de la sirena desnuda en la blancura del noviazgo
de mantos de espuma y mito.
Perdido de mí en el descubrimiento del mundo,
ya no hay morenas tierras de España
arenas de Portugal.
Más allá de tanto mar, de tanto cielo, sólo esta leyenda de mí...

(Traducción: Antonio Alfeca)
António Alfeca é um poeta andaluz, a quem devo a honra de me ter traduzido. José-Augusto de Carvalho.

sexta-feira, março 02, 2012

Ministro na Sala de Pânico


HÁ CERCA de mês e meio o ministro das Finanças Victor Gaspar, fez-nos engolir um anti-depressivo, garantindo que este ano de 2012 ia marcar um ponto de viragem (positivo, entenda-se) na recuperação económico-financeira do país, logo nas nossas espectativas. Passos Coelho foi pelo mesmo caminho. Acertou o passo e assegurou que os nossos sacrifícios estavam a frutificar. As Parcerias Público-Privadas continuam de óptima saúde. Pudera! Somos nós que agora as suportamos, e no futuro, os nossos filhos, os nossos netos e bisnetos. Veio a troika e deu nota positiva ao programa de austeridade (também conhecido por pacto de agressão contra trabalhadores e reformados), muito embora o representante do FMI tenha admitido que a contracção iria ser maior que o incialmente previsto. Como se pode ver, só boas notícias, com um ou outro senão pelo meio.

Entretanto, a recessão, as falências, os ordenados em atraso e o desemprego (este agora a atingir 14,8%, e com Cavaco Silva a dizer-se assustado, imaginem!), vêm borrar a pintura e colocar em causa, sua excelência a toda poderosa consolidação orçamental. Hoje, o jornal "i" vem dizer-nos que Victor Gaspar entrou em pânico (gostava de o ver nesses propósitos) com a quebra abrupta das receitas da Segurança Social e do IRS, com as contribuições deste último a diminuirem 43,9 milhões em Janeiro de 2012 face a Janeiro de 2011. Ora, se há reduções nos salários, se há cortes e são eliminados subsídios de férias e natal, se desaparecem empresas e se há destruição de emprego, é óbvio que isso se irá reflectir nas receitas do Estado, por via dos impostos. Se somarmos a isto que o Governo destapou a Caixa de Pandora com a celebração do acordo de (des)Concertação Social, que a UGT subscreveu, e agora João Proença, secretário-geral daquela central sindical vem queixar-se dos resultados, isto é, que a taxa de desemprego cresceu para 14,8%, confirmando-se a existência de mais de um milhão e duzentos mil desempregados, e tudo apontando para que esta escalada continue imparável, assim sendo, em que ficamos?

Os cenários são tudo menos optimistas e a melhor maneira de alguém cair em descrédito é abusar das palavras ao ponto de elas perderem sentido, as suas afirmações deixarem de ter significado e as suas promessas esvaziarem-se e falirem. O pior é que, passo a passo, mais com os actos concretos do que com o palavreado oco, levam o país ao engano e arrastam-no para caminhos sem regresso.

quinta-feira, março 01, 2012

O Grande Embuste


LÊEM-SE as transcrições das escutas das conversas telefónicas trocadas entre o suposto engenheiro José Sócrates (à época primeiro-ministro) e Luís Arouca (à época reitor da Universidade Independente, fábrica de licenciaturas a martelo), publicadas pelo jornal CORREIO DA MANHÃ (CM), e chega-se a uma rápida conclusão: que grandes vigaristas!

Inexplicávelmente, para além dos materiais que o CM tem divulgado sobre a tentativa de encobrimento da batota, e do trabalho de investigação levado a cabo por António Balbino Caldeira, autor do blog DO PORTUGAL PROFUNDO, mais ninguém fala nem acrescenta nada de nada. Vai descendo uma cortina de silêncio sobre este assunto.

O Mar dos Sargaços...


O ECONOMISTA Paul Krugman, Prémio Nobel da Economia de 2008 veio até Portugal receber o triplo doutoramento “honoris causa”, concedido pelas Universidades de Lisboa, Nova e Técnica. De há longo tempo a esta parte que Krugman sempre se tem preocupado com o desempenho de Portugal, em termos económicos, e agora, pisada terra lusa, mais um vez não se escusou a tecer algumas considerações, a deixar algumas mensagens, a fazer algumas críticas, a sugerir alguns caminhos. Percebe-se que tenha sido cauteloso, não querendo ir muito fundo nem muito longe, para não ferir susceptibilidades, pois o problema de Portugal, sendo de natureza económica e financeira, é também, e fundamentalmente, de cariz político, e aí Paul Krugman, distancia-se, para não invadir território que não lhe pertence. Porém, não se remeteu ao silêncio. Adianta mesmo que a adesão de Portugal ao euro, foi um erro, melhor, uma armadilha, porque as economias débeis, como a nossa, sempre podiam operar compensações e equilíbrios, socorrendo-se de um instrumento estratégico próprio, a “sua” moeda. Quanto às privatizações disse para termos muito cuidado, não avançarmos de ânimo leve, para no futuro não termos que nos arrepender. No limite, preferiu deixar avisos, sugerindo que não se abuse do brutal e perverso tratamento de choque da austeridade, e dos seus “ajustamentos”, que não são compensatórios. Tapa-se de um lado e destapa-se do outro, o que quer dizer que ainda não estamos no estado comatoso da Grécia, mas estando assegurada a perspectiva de mais recessão, mais desemprego e mais miséria, se não forem tomadas medidas e precauções, lá chegaremos. Em resumo: no fundamental, Krugman fez um diagnóstico credível, não passou receitas, mas deixou recados. Deixou transparecer, para bom entendedor, que o pior cego é aquele que não quer ver, que Portugal está metido numa camisa de onze varas, ou pior, atolado no Mar dos Sargaços, e que quem vai pagar as facturas e ser trucidado pela espiral de assaltos concertados, são aqueles que nós sabemos, isto é, os do costume.

terça-feira, fevereiro 28, 2012

Perguntas Incómodas


«(...) Tiberius Julius Caesar Augustus, imperador romano entre os anos 14 e 37, resumiu a sua teoria das finanças públicas numa frase: “o dever de um bom pastor é tosquiar as suas ovelhas sem as esfolar”. Conhecia este ditado Dr. Vítor Gaspar?»

Último parágrafo do post de José M.Castro Caldas, intitulado "Parar enquanto é tempo", publicado no blog LADRÕES DE BICICLETAS em 27 de Fevereiro de 2012. 

segunda-feira, fevereiro 27, 2012

Passos Seguros

O QUE hoje governa a Grécia não é um governo democráticamente eleito; é uma "comissão administrativa", nomeada e coordenada por Angela Merkel, que executa as ordens de uma “troika” constituída por representantes da União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional, e destinada a pôr o povo grego de joelhos e na penúria, ao mesmo tempo que lhe vão apontando, com manifesto desprezo e arrogância, o caminho de saída do euro. E como muita gente já se apercebeu, Portugal vai pelo mesmo caminho, no meio das patacoadas do Governo, com a ajuda da “abstenção violenta” do PS, e dando "passos seguros" rumo ao desastre anunciado.

domingo, fevereiro 26, 2012

Registo para Memória Futura (61)

Duarte Marques, líder da Juventude Social Democrata, em entrevista ao jornal PÚBLICO de 23 de Fevereiro de 2012, afirmou que o combate ao desemprego é uma “questão de fé”.

sábado, fevereiro 25, 2012

Mais Dois Assaltos em Perspectiva

Primeiro caso:
 
In Semanário EXPRESSO de 25 de Fevereiro de 2012

SUA EXCELÊNCIA o défice, coitado, está pelas ruas da amargura! Mal o governo embandeira em arco com o resultado dos assaltos que vai fazendo ao bolso dos contribuintes (aos pobres já não pode tirar mais nada, excepto a vida), para aconchegar o maltratado défice, logo aparece na ribalta deste teatrinho lusitano, mais uma consequência desses assaltos. As grandes sumidades em economia e finanças que nos governam, ainda não aprenderam que quando se corta em salários, subsídios de férias e natal, isso se reflecte nos impostos a colectar, receitas com que o orçamento contava. Depois, os estúpidos reincidem! Para tapar o buraco, inventam mais umas sobretaxas sobre os subsídios de férias e Natal, esquecendo-se que isso implicará retração no consumo, logo quebra acentuada no IVA, e assim sucessivamente , até ao desastre final.

Segundo caso:

Em 3 de Fevereiro dissemos que o Orçamento de Estado de 2012 previa a entrega de mais uma bagatela de 600 milhões de euros ao BPN (contribuição do povo), que se somará aos 3,5 mil milhões já lá enterrados, a fim de continuar a recapitalização daquele buraco insaciável. Avança agora o jornal PÚBLICO com a notícia de que o Governo avalizou (ou vai avalizar) novo empréstimo de 300 milhões de euros ao BPN (de uma prometida tranche de 700 milhões), suportado pela CGD (isto é, pela banca paga pelo povo), a fim de satisfazer as exigências de tesouraria e cumprir o estipulado, aquando da venda do “monstro” ao angolano BIC, dos amigos Mira Amaral e Isabel dos Santos (filha do presidente angolano Eduardo dos Santos), pela "simbólica" quantia de 40 milhões de euros, negócio que continua protegido (vá-se lá saber porquê) por um acordo de confidencialidade.

Os portugueses, se não quiserem retaliar, só têm que voltar a entregar a carteira aos ladrões, levantarem os braços bem alto e esperarem pelo próximo assalto. Depois não se queixem…

Inexplicável e Incompreensível

É TÃO incompreensível a falta de explicações do Presidente da República para justificar o cancelamento da sua visita à Escola António Arroio, como inexplicável é a falta de argumentos do Partido Comunista Português para ter votado contra o projecto de lei do Bloco de Esquerda sobre a adopção por casais do mesmo sexo.

quinta-feira, fevereiro 23, 2012

EuroMistério

«O encontro do Eurogrupo, que arrancou cerca das 16:00 em Bruxelas, menos uma hora em Lisboa, não contou com a presença do operador de imagem da estação de Queluz de Baixo [TVI], suspenso preventivamente pelo serviço de imprensa do Conselho Europeu.

"Estamos de consciência tranquila. Fizemos o nosso trabalho e esperamos que o facto da câmara da TVI não estar na sala ajude o Conselho Europeu a fazer o seu trabalho para combater a recessão económica e o desemprego de 24 milhões de europeus", comentou à agência Lusa Pedro Moreira, correspondente da TVI em Bruxelas.» 

Notícia da VISÃO on-line em 20 de Fevereiro de 2012

Meu comentário - Entretanto, continua por explicar o facto de no mesmo dia em que ocorreu a polémica gravação do diálogo travado entre Victor Gaspar e o ministro alemão Wolfgang Schäuble, um outro repórter de imagem, de nacionalidade espanhola, ter captado e gravado uma outra conversa, que foi posteriormente divulgada, ocorrida entre o ministro espanhol da Economia e o comissário Olli Rehn, na qual o primeiro informava o outro, em primeira mão, que a legislação laboral espanhola iria ser reformada, e desse facto nenhuma represália ter acontecido. Haverá dois pesos e duas medidas? Serão caprichos? Será mistério? Talvez sim, talvez não, mas se considerarmos que a representante portuguesa junto das Representações Permanentes, uma tal Maria Rui Fonseca, qual intendente Pina Manique a perseguir jacobinos, foi peremptória ao veicular a opinião de que a TVI deveria ser banida definitivamente destas recolhas de imagens, talvez não estejamos longe da verdade, isto é, que os procedimentos disciplinares dos serviços de imprensa do Conselho Europeu, são levados a cabo apenas a pedido das missões dos países membros, e quando estes se sentem incomodados, mesmo que isso traga prejuízo ao direito de informação.
Democracia, transparência, equidade e outros atributos com que a União Europeia fazia gala em se adornar, estão a ser submergidos por aquilo que se chama política utilitária, ou seja lá o que for. Falta apurar se aquele diálogo travado entre Gaspar e Schäuble não se irá confirmar, acabando o incómodo spot de vídeo por tornar-se numa peça que fez questão de contrariar o espírito “situacionista” a que o jornalismo, infelizmente, se tem vindo a acomodar.

Pagar as Favas


TOMANDO como exemplo o que aconteceu (ou vai acontecer) ao operador de câmara que registou a conversa entre Victor Gaspar e Wolfgang Schäuble, momentos antes do Conselho de Ministros da União Europeia, nem quero imaginar o que irá acontecer ao operador de câmara que teve o “atrevimento” de filmar o marido da presidente da Finlândia, a cometer o venial pecado de "deitar os faróis" para o decote da princesa Maria da Dinamarca, pois nestas alturas há sempre o hábito de voltar a ser o mensageiro (neste caso o operador de câmara, e não o editor da notícia) quem paga as favas.

quarta-feira, fevereiro 22, 2012

Esta Quarta-Feira com Rui Peres Jorge

Transcrição integral do artigo intitulado "A (ir)relevância da eliminação dos feriados" da autoria do jornalista Rui Peres Jorge e publicado no JORNAL DE NEGÓCIOS de 20 Fevereiro 2012.

A (ir)relevância da eliminação dos feriados

«A decisão do Governo de eliminar quatro feriados nacionais em nome da recuperação só não é simplesmente disparatada porque é grave na mensagem política que encerra e nas consequências económicas que poderá ter. 

Álvaro Santos Pereira, o ministro que mais tarde ou mais cedo regressará ao Canadá, país onde se trabalham menos horas que em Portugal, reagiu às críticas ripostando que "quando se tenta fazer reformas profundas, alterar comportamentos, é natural que haja reacções". Os argumentos, cristalinos, vieram depois: "quando não há paragem de produção, cria-se mais riqueza e teremos uma economia mais forte. Só isso". Simples, se fosse verdade.

Segundo os últimos dados disponíveis, referentes a 2010, cada trabalhador português gastou 1.714 horas no emprego, um dos valores mais elevados da Europa e na média da OCDE. Vale no entanto a pena olhar para o ranking dos países. Durante a última década, por exemplo, a pujante Grécia manteve-se no "top-5", superando sempre as duas mil horas de trabalho por ano. Já as débeis Holanda, Alemanha e Noruega foram por regra os países onde os cidadãos trabalham menos horas, nunca ultrapassando as 1.500 horas.

Perante estes dados, se fossemos aplicar a leitura simplista do ministro, seríamos forçados a concluir que é até a trabalhar menos que se fortalece uma economia. Mas o mais notável nesta medida não é a sua óbvia irrelevância para o crescimento. É antes a relevância e a gravidade dos sinais políticos e económicos que carrega.

Em plena crise de emprego e procura, o Governo insiste no erro de aumentar o número de horas de trabalho, ao arrepio das boas práticas internacionais (talvez a Alemanha, que fez exactamente o contrário, possa também ser consultada na frente laboral). 

Todos os indicadores disponíveis mostram que a capacidade utilizada na economia está em mínimos históricos, o que significa que simplesmente não há procura e muitas empresas estão a meio gás. É por isso que um aumento do número de horas não levará a um aumento da produção. Conduzirá sim a despedimentos da mão-de-obra que ficará em excesso, isto num momento em que mais de um milhão de portugueses já não tem trabalho - e em que as contas públicas bem dispensam mais encargos com apoios sociais. 

Trabalhar mais não é só errado como prescrição. É também uma medida enganadora quanto ao diagnóstico. Ao colocar a tónica na extensão (gratuita) das horas trabalhadas, o Governo secundariza os ganhos da produtividade como a variável chave para uma recuperação. E opta por proteger os empregadores em vez de os pressionar - como tão bem faz aos trabalhadores -, arremessando para a obscuridade a urgência das empresas gerirem melhor o tempo e os recursos.

É por tudo isto que os senhores da troika vão naturalmente ignorar a eliminação dos feriados, como aliás fizeram com a proposta de meia hora de trabalho adicional por dia que o Executivo, ingénuo, lhes tentou "vender" como moeda de troca da desvalorização fiscal. A troika deveria contudo ir mais longe, criticando a opção: é que não é tempo para brincar às reformas.»

segunda-feira, fevereiro 20, 2012

O Nosso Agente Infiltrado

SE TEMOS homens com responsabilidades nos serviços de informações portugueses, que se envolvem na passagem de informações a empresas, e que finda a sua comissão de serviço, são depois contratados por essas mesmas empresas, há razões para começar a pensar que os serviços secretos têm outras e nebulosas competências, para além de garantir a segurança do Estado de Direito constitucionalmente estabelecido. 

Se também há procuradores que investigam actividades bancárias suspeitas, e que depois pedem uma licença sem vencimento, mudando-se para outra empresa da área financeira, levando consigo toda a experiência e conhecimentos adquiridos, deixa-se de duvidar, para se passar a ter a certeza, de que a lealdade e isenção não são o forte do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP).

Se isto é possível, isto é, haver alguém detentor de informação previligiada, porventura sigilosa, que se passeia entre os territórios de quem espia e é espiado, de quem investiga e é investigado, comportando-se como um autêntico agente infiltrado, sem que ninguém confira a existência de eventuais conflitos de interesses, que garantias e defesas restam ao Estado, para que possa ser considerado um autêntico Estado de Direito?

sábado, fevereiro 18, 2012

Mau Sinal

SE o Presidente da República foge ao contacto com os cidadãos, ao menor sinal de que vai enfrentar uma manifestação de desagrado, é quase garantido que também nas funções que acumula como Comandante Chefe das Forças Armadas, vai atirar a toalha ao chão, se confrontado com algum hipotético conflito, antes mesmo que seja disparado um tiro. O director da Escola António Arroio, confrontado com a abortagem da visita do Presidente, a poucos metros das instalações, onde os alunos esperavam Cavaco, com as suas reclamações e exigências, diz que "a maior parte dos alunos não se revê neste grupo minúsculo" de manifestantes, e entende que "os protestos são normais nestas idades e neste contexto". A ser assim, não se percebe como uma mera e inofensiva manifestação de folclore juvenil, consegue provocar a deserção de Cavaco Silva.

É por estas e outras que os portugueses cada vez se revêm menos na pessoa deste Presidente da República (e ex-primeiro ministro de triste memória), e também Comandante Chefe das Forças Armadas, salvo seja, que faz meia-volta volver, de rabo entre as pernas, ao menor sinal de uns salpicos de multidão, que não estão dispostos a fazer genuflexões, nem ofertas e provas de bolo-rei.

quinta-feira, fevereiro 16, 2012

Portugueses Para o Exílio, Já!


O DEPUTADO João Almeida do CDS, está exuberante com o seu protagonismo. Usa as instalações da Assembleia da República para destilar o seu ódio e malhar nos funcionários públicos, esses madraços, tecendo algumas considerações a propósito da mobilidade obrigatória a que os funcionários públicos vão ser sujeitos, e da contestação que a medida está a originar. Seguindo o exemplo de outros, como é o caso de Miguel Mestre, Paulo Rangel e Pedro Passos Coelho, que convidaram os jovens e desempregados a seguirem os caminhos da emigração, e de José Pedro Aguiar-Branco a sugerir que quem não se sente bem nas Forças Armadas devia escolher outra profissão, este gaiato desbocado do CDS, dizia eu, aconselha que os funcionários públicos que não se sentem bem com a mobilidade imposta, devem mudar-se para outro emprego. 

Não contentes com as acusações de pieguice, mais as outras violências e maus tratos do costume, com a desculpa dos sacrifícios para salvar Portugal, custe o que custar, ainda vêm as repetidas ameaças com o exílio, dentro e fora de portas. De facto, este Governo PSD/CDS-PP não gosta dos portugueses, e tudo faz para nos ver pelas costas. Embora saibamos que a batalha vai ser dura, é bom que não lhes façamos a vontade.

terça-feira, fevereiro 14, 2012

Registo para Memória Futura (60)


O NOSSO (des)Governo, atendendo ao complicado momento de crise e austeridade que o país vive, e sempre tão prazenteiro no aconselhamento dos portugueses, para que deixem de ser piegas, façam sacrifícios, apertem o cinto e adquiram hábitos de poupança, pois gastam acima das nossas possibilidades, decidiu dar o exemplo e implementar uma patriótica medida. Esta consiste, nada mais, nada menos, que na impressão de 100 exemplares do seu Programa de Governo, em versão super luxuosa, cujo custo final foi a módica quantia de 12.000 euros, ficando cada exemplar por 120 euros, que trocados pela moeda antiga corresponde a 24 contos.

Embora saibamos que todos os governantes têm as suas caganças e pancadas (José Sócrates tinha a mania dos fatinhos por medida), pelas minhas contas, ainda pensei que meia dúzida de exemplares iriam ficar à guarda da respeitável Torre do Tombo, para satisfazerem a curiosidade dos futuros historiadores, mas parece que não. O gabinete do ministro Miguel Relvas informou que os exemplares se destinam ao uso exclusivo do Governo, ficando por explicar qual a dependência dos ministérios em que a dita obra ficará, provávelmente, para consulta das visitas, à boa maneira dos velhos códices medievais, ricamente iluminados, o ai jesus dos mosteiros. Quanto ao sítio onde depositar o cardápio, se eles quiserem eu posso avançar com uma sugestão, e não levo nada por isso...

Do Aleixo, Estas Quadras Que Vos Deixo

Acho uma moral ruim
trazer o vulgo enganado:
mandarem fazer assim
e eles fazerem assado.

Sou um dos membros malditos
dessa falsa sociedade
que, baseada nos mitos,
pode roubar à vontade.

Esses por quem não te interessas
produzem quanto consomes:
vivem das tuas promessas
ganhando o pão que tu comes.

Não me dêem mais desgostos
porque sei raciocinar...
Só os burros estão dispostos
a sofrer sem protestar!

Esta mascarada enorme
com que o mundo nos aldraba,
dura enquanto o povo dorme,
quando ele acordar, acaba.

António Aleixo (1899-1949) Poeta popular português