Já
alguém o disse, e confirma-se: António José Seguro não é líder da Oposição, mas
sim cúmplice da Situação.
sexta-feira, novembro 11, 2011
Registo para Memória Futura (55)
COMO se não bastassem as epifânicas e antológicas tiradas do patético contra-almirante Américo Tomás, quando presidia às inaugurações do antigo regime, o actual Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, há dias, aquando da sua visita a Nelas, fez uma pitoresca sugestão: que o povo português tomasse como exemplo a vida de trabalho dos pastores, isto é, andar de tamancos, pastorear sem descanso nos sete dias da semana, tocar flauta para adormecer o gado, não ir à praia nem fazer férias, não fazer perguntas sobre essa coisa do BPN, não reclamar nem manifestar-se por lhe pagarem pouco, só descer ao povoado para votar, e visitar a família apenas nos dias santos.
Jerónimo de Sousa, oportuno e certeiro, chamou-lhe discurso impregnado de “ruralismo salazarista”. Nem mais!
quarta-feira, novembro 09, 2011
Socialismo Austeritário
NUM
ALMOÇO seguido de conferência, promovido pelo American Club, onde
confraternizou com alguma da nata empresarial portuguesa ( entre os quais
esteve o inenarrável João Rendeiro do BPP), António José Seguro,
secretário-geral do PS [partido (in)Seguro], considerou inaceitável que um
pensionista com uma reforma de 1.000 euros fique sem duas prestações, ao passo
que um trabalhador do sector privado, com 1.500 euros, não dê qualquer
contributo para o esforço nacional.
Considerando
que ele anda a tentar convencer o Governo de Passos Coelho a recuar, apropriando-se
apenas de um subsídio, não percebo porque é que sublinha e enfatiza a falta de
equidade da medida relativamente ao sector privado, achando inaceitável que uns
sejam esbulhados e outros não. Não seria mais razoável opor-se à medida, por
recair exclusivamente sobre quem trabalha, independentemente de pertencer ao
sector público ou privado? Até parece que está a sugerir que essa equidade seja
restabelecida, com a aplicação universal de uma sobretaxa especial sobre todos os
rendimentos do trabalho, uma vez que no sector privado, não pagar subsídios de
Férias ou de Natal apenas beneficia os empresários, os quais arrecadam o seu
valor, o qual por sua vez escapa à colecta dos respectivos impostos. Trocado
por miúdos, é a mesma coisa que dizer, "se não queres perdoar um subsídio
aos funcionários públicos e pensionistas, sê igualitário e aplica uma sobretaxa
a todos, sem contemplações". Transmitido o recado, Seguro ficou-se por aí,
esquecendo-se de referir que escandaloso é ir buscar verbas aos rendimentos de
trabalho, para tapar os buracos orçamentais e garantir a “acalmia” dos mercados,
e mais escandaloso ainda é deixar passar em branco quem nem sequer trabalha,
por usufruir lautos rendimentos de capital,
os quais são tratados com suavidade, não sendo tocados pela rapina governativa.
Eis o socialismo acomodatício e austeritário de António José Seguro em toda a
sua pujança, dizendo o que não devia ter
dito, e esquecendo-se de dizer o que devia ter sido dito. Mas isso não lhe
retardou nem parou a digestão.
"Abstenção Violenta"
«Ando
desde o fim-de-semana a meditar transcendentalmente no que será uma
"abstenção violenta", conceito que, em boa hora, António José Seguro
introduziu na ciência política portuguesa para classificar (ou desclassificar)
a posição do PS quanto ao OE para 2012.
E
não me custa a crer que os deputados socialistas estejam com um problema
semelhante ao meu, decidindo agora a quais caberá abster-se e a quais caberá a
parte da violência (eu proporia o notório Ricardo Rodrigues, especialista em
"acção directa" contra gravadores alheios, para líder da facção
violenta; e, para líder dos abstencionistas, algum daqueles, muitos, no PS como
em outros partidos, "de que no mundo não ficará memória" pois
"vive[m] sem infamar-se ou merecer louvor" e que Dante nem do Inferno
considera dignos).
O
conceito de "abstenção violenta", ainda por cima
"construtiva", levanta perplexidades q.b.. Irá o PS abster-se aos
gritos e partindo a mobília do Parlamento? Irá fazê-lo arrepelando os cabelos (e
convenhamos que tem razões para isso)?, ou Seguro quis dizer
"violeta" e não "violenta"? De facto, ao contrário de
"violenta", que sugere luta, "violeta" sugere
"luto". E "luto" parece palavra mais adequada do que
"luta" para qualificar a resignação (termo mais bonito do que
cumplicidade) do PS face a um Orçamento que Seguro acusa de conter
"medidas violentas e profundamente injustas" e de o ter deixado em
"estado de choque".»
Comentário de Manuel António Pina
publicado no JORNAL DE NOTÍCIAS on-line de 8 de Novembro de 2011.
terça-feira, novembro 08, 2011
Idiotices e Palavra Fácil
SE AS MEDIDAS de
austeridade abrangessem TUDO e TODOS da sociedade portuguesa, de forma
proporcional, relativamente à riqueza, rendimentos de capitais e outras fontes
que agora se mantêm a bom recato ou sob regime especial de protecção, estou
certo que não haveria tantos campeões da idiotice e da palavra fácil, a apelar
à submissão perante a inevitabilidade dos sacrifícios, à renúncia da indignação,
e a promovê-la, a tal AUSTERIDADE, como o remédio para todos os males, um dos
quais (dizem eles) é vivermos acima das nossas possibilidades, claro está, nós,
os que pagamentos impostos e que temos apenas rendimentos de trabalho.
segunda-feira, novembro 07, 2011
Reciclagens e Rebaptismos
INTRODUÇÃO
«Uma
importante arte dos políticos consiste em encontrar novos nomes para
instituições que sob os antigos nomes se tornaram odiosas para o público». Quem
disse isto foi Charles-Maurice de Talleyrand-Périgord (1754-1838), político e
diplomata francês.
FACTOS
Em
1933, foi criada com o nome PVDE (Polícia de Vigilância e Defesa do Estado),
depois em 1945, passou a denominar-se PIDE (Polícia Internacional e Defesa do
Estado) e mais tarde, por volta de 1969, passou a ser conhecida por DGS
(Direcção Geral de Segurança). Agora é o SIRP (Serviço de Informações da
República Portuguesa). Vamos esperar para ver que mutações nos reserva o
futuro.
INTENÇÕES
O
Governo tem a intenção de reforçar os poderes da(s) polícia(s), dotando-a(s) de
uma capacidade que até agora lhes estava vedada: autonomia para decidir sobre o
uso ou não da videovigilância, prerrogativa que até agora estava sob a alçada
exclusiva da Comissão de Protecção de Dados.
Diz
o Ministério da Administração Interna que o objectivo da medida é simplificar
os procedimentos burocráticos e combater a criminalidade organizada, com meios
tão sofisticados como os que aquela possui para levar a cabo as suas maléficas
acções. Em princípio, a medida é para nosso bem, dizem eles. Subsiste, no
entanto, a par desta generosa intenção, algumas legítimas dúvidas, tais como a
definição precisa do que se entende por “marginais”, “criminalidade
organizada”, “terrorismo” e “atentados contra a sociedade e o estado de
direito”, pois sabemos o quão alargada pode ser a gama e o âmbito destas
expressões, consoante sejam mais ou menos sombrios, os objectivos e
necessidades que os poderes políticos queiram atingir.
Actualmente,
há a persepção que o mundo que nos rodeia se está a tornar perigoso, não apenas
devido ao facto de existir uma grande proliferação de criminalidade, mas também
- e não é despiciendo referi-lo – porque os próprios poderes constituídos,
mesmo intitulando-se adeptos do poder democrático, dos direitos humanos, da
cidadania e da privacidade, não rejeitam recorrer a práticas pouco ortodoxas,
para não dizer ilegais, mais próprias de regimes autoritários e policiais,
sempre que outros interesses falam mais alto, e que nada têm a ver com o
combate à criminalidade, nem com a segurança de pessoas e bens. O que se tem
passado com a polícia secreta portuguesa, usando os seus meios e competências,
para servir objectivos que nada têm a ver com as suas atribuições
institucionais, é bem ilustrativo do que digo.
Quanto
ao povo português, tradicionalmente reconhecido como tendo bons costumes, parece
estar acomodado à música de embalar do poder, o que é lamentável, pois poucos são
os que reclamam. A diferença entre o velho “fiscal dos isqueiros”do tempo
salazarista, que multava o cidadão por não ter licença par acender o cigarro
usando a pederneira, e o fiscal que (no futuro) nos vai inquirir e multar pela falta
de factura do café que acabámos de sorver, parece uma anedótica comparação, mas
é bem mais do que isso; é um novo tipo de fascismo que se insinua, trágicamente
consentido pela maioria, que até acha que pagar imposto sobre o ar que
respiramos, não é nada do outro mundo.
À
custa da lenta perda de liberdade e privacidade, o Estado assume-se como
entidade que tudo faz para aumentar a segurança de pessoas e bens, muito embora
a medida, pelo que atrás se disse, seja ambivalente. Sem suspeitar que o
presente pode estar envenenado, o povo concorda, agradado e confiante, sempre
que é fotografado e filmado, ao assistir e participar em eventos, desde jogos
de futebol, até manifestações de cariz cultural, social, político ou contestatário.
Daqui para a frente, julgamos que estamos sob protecção, mas se calhar, mais incertos
e inseguros, pisando terreno movediço e armadilhado, que pode virar-se contra
nós. Basta que haja quem o queira usar, com outros propósitos, que nada têm a
ver com a segurança de pessoas e bens.
O
“1984” de George Orwell, o “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley e o
movimento Anonymous que despontou a partir da banda desenhada e do filme “V de Vingança”
de James McTeigue, já não são futurologia que nos deixem
sorridentes com a sua ousada imaginação, mas sim perplexos e circunspectos, porque
já não sendo própriamente do reino da ficção, o que agora temos que enfrentar, são
desafios que os cidadãos devem questionar, para que a cidadania e a civilização
não sucumbam às mãos de supostas boas intenções, pois delas, como diz o ditado,
está o inferno cheio.
CONCLUSÃO
Gostava de saber o que pensam os portugueses que me lêem, sobre este assunto. Estou disponível para receber contributos, críticas, opiniões, comentários e sugestões, mesmo que sejam anónimos.
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domingo, novembro 06, 2011
A Criatividade Tributária
OS REEMBOLSOS de IRS vão deixar de ser automáticos, provavelmente com a economicista desculpa da simplificação e do corte nos procedimentos “supérfluos” do aparelho fiscal. Na verdade, não passa de uma versão lusitana da “Ilha do Tesouro”, uma imaginativa forma de o Estado se apropriar sem ruído dos reembolsos do IRS, pois serão os contribuintes que os têm que ir reclamar ao balcão das Finanças. Imaginem o que a medida implica de reforço de pessoal nos balcões de atendimento, das horas de trabalho perdidas aos contribuintes, e o mais grave de tudo, o quanto dinheiro a Direcção-Geral de Impostos vai abichar, a mando do Estado-salteador e das regras e condicionalismos impostos pelo legislador de serviço, à conta dos prazos excedidos, das nossas distrações e esquecimentos, extravios de correspondência, escassa mobilidade, falecimentos e outras ocorrências.
sábado, novembro 05, 2011
E os Portugueses, Pá?
Excerto
da entrevista concedida ao semanário EXPRESSO por António José Seguro, e
publicada na edição de 5 de Novembro de 2011.
EXPRESSO: - Um Orçamento de Estado (OE)
que o deixa em choque não justifica o voto contra?
António
José Seguro: -
Se estivesse em causa exclusivamente o OE, a minha proposta era que o PS
votasse contra. Mas o que está em causa é a viabilização da continuação de
Portugal na zona euro e a garantia de que continuará a receber os 78 mil
milhões de euros que pediu e que o próprio PS negociou. Distingo entre o
conteúdo do OE do sinal político que um partido responsável deve dar. O sinal
político da abstenção é para defender Portugal. Este não é o meu OE, mas
Portugal é o meu país e eu não volto as costas a Portugal.
(...)
Meu
comentário: Se o conteúdo do OE deixou António José Seguro escandalizado, por
atentar contra os portugueses, e se Portugal é o conjunto do povo português,
não se percebe como se pode defender o país deixando de fora o povo. O que
António José Seguro quer defender é um Portugal vazio.
quinta-feira, novembro 03, 2011
A Incómoda Democracia
AO CONVOCAR
tardiamente (com quase 2 anos de atraso) um referendo para que o povo decida se
quer manter o país subordinado às humilhantes condições de resgate que a “troika”
lhe tem vindo a impor, o governo grego, acossado e cercado, de um lado pelos
insaciáveis "mercados", pelo FMI, o BCE e a UE, e do outro, pelo seu
próprio povo, quer desresponsabilizar-se da situação de caos a que conduziu o
país, e chantageando os eleitores, transferir para a sociedade civil as
consequências da sua inépcia e obstinação.
Continuo
a não perceber como é que metade da dívida da Grécia pode ser perdoada, ao
passo que a sua totalidade não pode ser renegociada. Se ninguém me explicar
este paradoxo, creio que chegou a altura de dizermos basta, e começarmos a
partir a loiça!
Os políticos
andam com a boca permanentemente atulhada com a palavra Democracia, porém, como
afirmou Manuel António Pina, "o medo que esta gente tem da Democracia é
assustador". Apenas recorrem aos seus instrumentos quando se vêem
confrontados com situações-limite, como é agora o caso da Grécia, refém dos
“mercados” e dos seus comissários políticos instalados em Bruxelas e do
todo-poderoso eixo franco-alemão, os quais lhe estão a impor uma austeridade
sem limites, até ao seu empobrecimento e ruína generalizada. E o mesmo guião repete-se
por toda a União Europeia.
Ninguém perguntou aos povos se queriam aderir ao
projecto europeu. Ninguém perguntou aos povos se queriam aderir a uma moeda
única. Ninguém elegeu os tecno-burocratas que se pavoneiam por Bruxelas. Ninguém
perguntou aos povos se queriam subscrever o tratado de Nice, de Maastricht ou
de Lisboa, e assim sucessivamente, até ao estado actual de bagunça e desunião
em que a Europa se tornou, onde até já se falou em instituir um prodigioso
“imposto europeu”. Tudo foi sendo cozinhado, autoritária e impunemente, pelos
tecnocratas da financeirização das economias, à revelia dos povos que são
remetidos para um papel passivo, até que são confrontados com os factos
consumados, embrulhados na sempre eterna desculpa da crise internacional e dos
tempos difíceis. Para reparar o mal feito, são depois "convidados" a darem
as mãos, fazendo despertar o seu “patriotismo”, a mobilizar os seus
"deveres", aceitando a alienação dos seus "direitos", mais a
degradação das suas condições de vida e a privatização dos seus próprios
recursos.
quarta-feira, novembro 02, 2011
Quem vive muito acima das suas possibilidades é o Estado, a classe política, os gestores públicos
«A
mentira mais repetida na vida política portuguesa é a de que os portugueses
vivem acima das suas possibilidades, trabalham pouco, ganham demasiado e
deveriam poupar mais. Nada de mais errado: este conjunto de mitos constitui um
embuste. (...)»
(Continue
a ler este artigo no blog CARTÓRIO DO ESCREVINHADOR da autoria de Paulo Morais,
Professor Universitário, publicado no jornal CORREIO DA MANHÃ em 1 de Novembro
de 2011)
terça-feira, novembro 01, 2011
Registo para Memória Futura (54)
"O
plano de resgate europeu está a desmoronar-se mais depressa do que eu
pensava"
Afirmação do economista Paul Krugman, Pémio Nobel da Economia de 2008, confrontado com a subida das taxas de juros da dívida soberana italiana a 10 anos. O anúncio do referendo grego, sobre a aceitação ou não do segundo pacote de resgate, mesmo com 50% da anterior dívida perdoada, virá certamente acelerar este processo.
Afirmação do economista Paul Krugman, Pémio Nobel da Economia de 2008, confrontado com a subida das taxas de juros da dívida soberana italiana a 10 anos. O anúncio do referendo grego, sobre a aceitação ou não do segundo pacote de resgate, mesmo com 50% da anterior dívida perdoada, virá certamente acelerar este processo.
O Vendilhão de Notícias
JOÃO
MARCELINO é um nome a fixar. O sujeito podia ter qualquer outra ocupação menos
"mediática", mas calhou-nos em sorte que se tivesse tornado (ou o fizessem) director do DIÁRIO DE NOTÍCIAS, um matutino que se assume como um
jornal diário de referência. Entretanto, ao pontificar nos editoriais do dito, o que diz Marcelino? Diz, nada mais, nada menos, que considera perfeitamente
aceitável que os jornais "vendam" notícias "encomendadas", seja pelo governo, ou qualquer outra entidade.
É
assim uma coisa parecida com um juíz, que em vez de apurar a verdade e aplicar
a justiça, se disponha a "transaccionar" a sua competência, isenção e
o poder que a lei lhe confere, aceitando a incumbência de ocultar ou perverter
provas, a fim de evitar que a verdade se imponha, que um dado arguido seja
condenado, ou sequer se sente no banco dos réus. Ou então que um qualquer
presidente de câmara municipal, “venda” por bom preço os seus préstimos, ao
primeiro especulador imobiliário que o aborde, interessado numa significativa
alteração do Plano Director Municipal (PDM), a favor das suas conveniências.
Dizendo
Marcelino o que diz - e talvez aplicando-o na sua prática quotidiana, sempre
que lhe surge uma boa oportunidade - acaba por converter num mero pasquim,
aquilo que deveria ser um jornal. Quanto a ele, nunca atingirá o patamar de um
simples director, muito menos de um conceituado e respeitado director,
ficando-se por um banal vendilhão de balelas, com direito a ser citado pela
negativa, nos cursos superiores de comunicação.
domingo, outubro 30, 2011
Uma História Verídica e Exemplar
ERA
UMA VEZ um desempregado, com "curriculum vitae" publicado na
internet, e muitas dezenas de outros enviados para empresas que publicam
anúncios de oferta de emprego, possuidor de licenciatura e mestrado em gestão
de empresas, inscrito na Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas e na Ordem dos
Economistas. Um belo dia recebeu um telefonema de uma empresa que tinha
consultado o seu “curriculum” na internet, informando que estava à procura de
um colaborador, exactamente com o seu perfil e competências. Marcado o dia e
hora da entrevista, o candidato deslocou-se às instalações da empresa, e depois
de alguma conversa preparatória para "encher chouriços", com um
suposto director de recursos humanos, que fez questão de abordar temas como o
prestígio, a idoneidade, posição no mercado, volume de vendas e estatuto
empresarial, entrou em cena um novo protagonista, um auto-denominado
director-geral da dita, que informou o candidato que estava disposto a
admiti-lo, mas apenas nas seguintes condições:
1
- Não haveria lugar à celebração de qualquer espécie de contrato de trabalho;
2
- A sua retribuição mensal (vencimento mais subsídio de alimentação) seria
efectuada em numerário, isenta de contribuições e impostos legais, assim como
quem contrata um biscateiro canalizador ou assentador de tijolos;
3
- A empresa comprometia-se (apenas verbalmente, claro está!) a celebrar um
contrato de trabalho com o candidato, mas apenas no caso de vir a ser aprovada
pelo Governo a redução de Taxa Social Única (TSU), bem como o prometido
programa de incentivos para as empresas, que previa a concessão de subsídios,
durante seis meses, para quem contratasse trabalhadores há mais de 6 meses na
situação de desemprego;
Postas
estas inegociáveis condições, foi a vez do candidato questionar as suas
condições de trabalho, relacionadas com a função a desempenhar. Constatou que a
empresa possuía um sistema informático antiquado, software contabilístico a
roçar o obsoleto, e os lançamentos relativos às contas de 2011, paralisados
algures no primeiro trimestre. Entretanto, o anterior ocupante de tão sedutor
posto de trabalho, tinha-se despedido ao fim de um mês, e o lugar estava
desocupado já lá vão dois. Durante uma pausa da entrevista, alguém que passava
no corredor perguntou: “este já não é da Manpower, pois não?”, ao que alguém respondeu:
“não, não, chiu, fala mais baixo…”.
Interessante
é o facto de esta dita empresa, instalada num bairro chique de Lisboa, com a
tal implantação a nível nacional, tanto prestigio e os tão invejáveis créditos
firmados - dizem eles - apenas oferecer condições de trabalho mais que
precárias, melhor, clandestinas, razão porque não se arrisca a colocar o seu
anúncio de oferta de emprego, nos habituais meios disponíveis para o efeito,
recorrendo à "pesca à linha" e à “caça aos patos”, oferecendo o
"inexcedível" e "competitivo" contrato de prestação de
serviços atrás descrito, não trocando com os potenciais candidatos, uma única
linha escrita sobre o assunto, para não deixar rasto das suas iníquas intenções.
Como diria o senhor Holmes: “elementar, meu caro Watson, é o mercado de
trabalho em toda a sua exuberância!”.
A
coisa passou-se nos últimos dias de Setembro deste ano de 2011. É óbvio que o
candidato declinou a tentadora oferta.sábado, outubro 29, 2011
Benefícios e Malefícios
DEPOIS de terem andado a convencer-nos que
devíamos deixar o egoísta e poluidor transporte particular à porta de casa,
recorrendo aos transportes colectivos, e deles colhendo benefícios, tais como o
serem desconcentradores de tráfego e mais amigos do ambiente, o Governo decidiu
premiar a nossa adesão aos mesmos, retaliando com a redução das carreiras,
alargando a frequência daquelas e aumentando o preço das tarifas. Agora, para
que não vejamos a prometida luz ao fundo do túnel, o Metro de Lisboa, a mando
do Governo, está a estudar a possibilidade de encerrar a rede a partir das 23
horas, sendo que algumas estações poderão antecipar o encerramento para as 21h.
Bem pesados os malefícios destas medidas desincentivadoras, só há uma conclusão
a tirar: com amigos destes os portugueses não precisam de inimigos.
sexta-feira, outubro 28, 2011
Quem Tira aos Pobres…
EMBORA não seja crente, não sou indiferente ao que
postulam as encíclicas Rerum Novarum do papa Leão XIII, datada de 1891, a Mater
et Magistra de João XXIII, de 1961, e a Populorum Progressio de Paulo VI, de
1967. Entretanto, nos tempos que correm, ainda não ouvi ninguém dizer, com
indignação e veemência, que quem tira aos pobres ofende a Deus.
quinta-feira, outubro 27, 2011
Orfandade
ALGUÉM alguma vez viu, em algum lugar, ser criada uma MOEDA sem o suporte de um ESTADO? Não viu, nunca existiu, nem existirá, e o que actualmente existe com o nome de EURO está condenado a fracassar, por ter a pretenção de ser a moeda de uma desunião europeia. Toda a porta tem a sua casa, todo o ministro o seu governo e todo o comandante o seu navio, salvo os projectos surrealistas, as anedotas de salão e os navios-fantasma.
quarta-feira, outubro 26, 2011
Novos Tempos, Novas Teorias
PEDRO
Passos Coelho, durante uma conferência promovida pelo DIÁRIO ECONÓMICO, assegurou
que Portugal apenas pode sair da crise empobrecendo, tanto em termos relativos
como absolutos, paradoxo que contraria tudo o que se sabe sobre economia, isto
é, que apenas se conseguem ultrapassar as situações de crise económica, criando
riqueza, e não o seu contrário. Já Paulo Portas, durante uma sessão da Comissão
Parlamentar de Assuntos Europeus, vaticinou que os caminhos para a salvação do
país, estão repletos de sacrifícios e de dor, expressões que associadas ao
empobrecimento garantido por Passos Coelho, têm o seu quê de fatalismo bíblico.
Há
uns anos atrás fomos confrontados com uma doutrina muito querida a G.W.Bush,
que abrangendo aplicações desde a área militar até à àrea económica, dava pelo
nome de "destruição criativa", uma coisa com pretensões a ser um novo
paradigma civilizacional. Será que esta espécie de empobrecimento controlado de
Pedro Passos Coelho, no seguimento do que António José Seguro sugeriu, quando
disse que os portugueses deviam interiorizar a austeridade, isto é, aceitá-la
como um facto consumado e coisa sua, postura a que deu o bizarro nome de
"austeridade inteligente", tudo isto associado ao misticismo de Paulo
Portas, são caminhos convergentes para a versão lusitana de uma nova teoria
económica, ou será que tudo isto não passa de uma técnica para amedrontar os
portugueses, fazendo-os acreditar que são os principais culpados pelo
descalabro, e que todos vivemos afinal, sem decoro, numa riqueza faustosa?
Porque
é preciso manter a higiene em níveis aceitáveis, que tal aqueles senhores deixarem
de bolsar tantas obscenidades e provocações?
terça-feira, outubro 25, 2011
Uma Pergunta Inofensiva
A QUE
propósito e com que fundamento a Assembleia da República nomeou o deputado
Ricardo Rodrigues, para o
Conselho Geral do Centro de Estudos Judiciários, quando o dito cavalheiro, por
não poucas e gravosas razões - entre as quais o ser especialista em acções directas sobre bens alheios - é reconhecido como uma pessoa pouco recomendável?
sexta-feira, outubro 21, 2011
As sombras sortílegas
No caminho, assentou a canseira.
Nem vestígios das tuas pegadas.
Solitárias, as velhas estradas
sob um manto de sol e poeira.
Do
que foste ou não foste, não mais
a
memória guardou o registo.Neste Mundo de Cristo sem Cristo,
são de inércia e renúncia os sinais.
Sob
a noite, as estradas paradas,
rememoram
silêncios em guardae sortílegas sombras vadias...
São as horas, no tempo cansadas,
a velar a promessa que tarda
duma aurora que nunca verias...
José-Augusto de Carvalho
16 de Outubro de 2011.Viana * Évora * Portugal
quarta-feira, outubro 19, 2011
Pensões e Hotéis de 5 Estrelas
CONTRARIANDO
as palavras do ministro das Finanças Victor Gaspar, que disse durante a
apresentação do Orçamento de Estado para 2012 não haver grupo social que não
seja chamado a contribuir para este esforço, veio a ver-se, as pensões
vitalícias auferidas pelos antigos titulares de cargos políticos, não eram abrangidas
pelo esforço adicional de austeridade que, como se sabe, será exigido aos
funcionários públicos e pensionistas, como punição por serem os mais bem pagos
do país e andarem a gastar acima das suas possibilidades.
No
dia seguinte, confrontado com o abismo entre as palavras e os factos, o
ministro Victor Gaspar acabou por reconhecer que a coisa tem que ser corrigida,
adiantando mesmo que se irá mais longe, aplicando limitações ao escandaloso número
de pensões que os políticos podem acumular.
Eu
já estava preocupadíssimo e a questionar os meus botões, mas afinal, tanto Mário
Soares como Jorge Sampaio e Almeida Santos, entre muitos outros coleccionadores
de pensões vitalícias, já não estarão naquele desesperado estado de
necessidade, senão mesmo de indigência, em que eu os imaginava, ao ponto de
serem dispensados de contribuir com o seu quinhão para a superação da crise.
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