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A leitura do romance do português Luís Miguel Rocha, que dá pelo nome de O ÚLTIMO PAPA, e que gravita à volta do hipotético assassinato do Papa João Paulo I, despertou-me alguma curiosidade, levando-me a vasculhar a imensa e sempre fecunda Internet, à procura de mais alguma informação sobre aquele polémico e curtíssimo papado. Acabei por descobrir um site com a tradução brasileira de uma obra da autoria do inglês David Yallop, publicada em 1984 com o título IN GOD'S NAME, e que em português foi traduzido para EM NOME DE DEUS. Embora tenha sido uma obra que à época da sua publicação, rapidamente se tornou uma referência, só agora, 22 anos depois, tomei o primeiro contacto com ela.
EM NOME DE DEUS traça uma excelente biografia de João Paulo I, cardeal de Veneza e de seu nome Albino Luciani, trazendo às luz do dia uma personalidade que, pela sua natureza recatada e uma efémera passagem pelo papado, passou despercebida à maioria dos mortais.
No entanto, o interesse da obra centra-se, sobretudo, na defesa da teoria de que o papa João Paulo I, o qual faleceu subitamente em 1978, 33 dias após a sua investidura papal, teria sido vítima de uma conspiração que culminou no seu assassinato, provavelmente por envenenamento. David Yallop apoia-se na convicção de que as decisões que estavam em vias ser tomadas pelo novo Papa, e que iriam operar grande mudanças e um novo rumo na igreja católica, teriam sido a razão para a sua eliminação física. De facto, considerando os poderes e tráficos que gravitavam à volta da cúria romana, tudo indicava que Albino Luciani iria ser um papa muito incómodo para certas pessoas e certos interesses. Prelados que deveriam entregar-se à evangelização e a obras piedosas, aparecem envolvidos no profano e pouco recomendável mundo dos negócios e da alta finança, atolando o Vaticano em corrupção e obscuras operações financeiras, com manifesto recorte ilegal. Os benefícios e vantagens que tais esquemas traziam à igreja e a todos aqueles que manobravam o sistema, não podiam correr o risco de serem tocados, sob pena de fazer desmoronar todo um edifício de interesses e negócios sombrios, que levara anos a erigir. David Yallop enumera mesmo os prelados e leigos, porque elementos-chave de tal sistema, que tinham especial interesse no desaparecimento de João Paulo I. Entre os primeiros destacam-se o cardeal Jean Villot, o bispo Paul Marcinkus, presidente do Banco do Vaticano, e o cardeal-arcebispo de Chicago, John Cody, ao passo que entre os segundos destacam-se o mafioso siciliano Michele Sindona, o mação Licio Gelli e o financeiro Roberto Calvi, que posteriormente viria a ser “suicidado” em Londres.
A ausência de uma autópsia para apurar a causa da morte do Papa, a precipitação em fazer o embalsamamento do corpo e o respectivo funeral, a imposição do voto de silêncio aos membros do serviço papal, mais as atabalhoadas explicações oficiais, contribuíram para que as suspeitas se multiplicassem e começassem a circular, logo no próprio dia do acontecimento, deixando sem resposta, até aos dias de hoje, muitas dúvidas e perguntas pertinentes. Resumindo: a hora e as verdadeiras causas do óbito nunca foram divulgadas, desconhecendo-se se foi realizada alguma autópsia, nunca se soube exactamente quem encontrou o corpo, desconhece-se o paradeiro dos objectos pessoais do Papa, os quais desapareceram misteriosamente dos seus aposentos, e se é ou não verdade que os embalsamadores foram chamados ao Vaticano, antes de o corpo ser oficialmente encontrado. Finalmente: as grandes mudanças que João Paulo I tinha agendado levar a cabo, por coincidência ou talvez não, para o próprio dia da sua morte, nunca se realizaram. O seu sucessor, João Paulo II achou por bem manter tudo como estava, com todos os protagonistas nos mesmos lugares, fazendo fruir alegremente, todos os controversos negócios.
Para além desses factos, o livro acaba por fornecer um retrato muito aceitável, senão mesmo fidedigno, da Itália dos anos sessenta e setenta, envolta em constantes golpes financeiros, manobras e conspirações políticas, enlaçadas com corrupção, do Vaticano (enquanto empresa multinacional denominada Vaticano S.A.) e da Cúria Romana, sob os papados de João XXIII, Paulo VI, João Paulo I e o início do magistério de João Paulo II. Têm também especial relevo os acontecimentos e os escândalos associados ao Banco Ambrosiano, ao Banco do Vaticano, à Máfia, à Loja maçónica P2 e ao terramoto político que foi a operação "mãos limpas", afinal, todos eles peças da grande engrenagem que, a dado momento, determinou a necessidade de liquidação daquele incómodo inquilino do Vaticano. Também não é esquecida a poderosa Opus Dei, que acabou por emergir como um novo poder, dentro do imenso poder que a igreja católica já era, e continua a ser.
A leitura do romance do português Luís Miguel Rocha, que dá pelo nome de O ÚLTIMO PAPA, e que gravita à volta do hipotético assassinato do Papa João Paulo I, despertou-me alguma curiosidade, levando-me a vasculhar a imensa e sempre fecunda Internet, à procura de mais alguma informação sobre aquele polémico e curtíssimo papado. Acabei por descobrir um site com a tradução brasileira de uma obra da autoria do inglês David Yallop, publicada em 1984 com o título IN GOD'S NAME, e que em português foi traduzido para EM NOME DE DEUS. Embora tenha sido uma obra que à época da sua publicação, rapidamente se tornou uma referência, só agora, 22 anos depois, tomei o primeiro contacto com ela.
EM NOME DE DEUS traça uma excelente biografia de João Paulo I, cardeal de Veneza e de seu nome Albino Luciani, trazendo às luz do dia uma personalidade que, pela sua natureza recatada e uma efémera passagem pelo papado, passou despercebida à maioria dos mortais.
No entanto, o interesse da obra centra-se, sobretudo, na defesa da teoria de que o papa João Paulo I, o qual faleceu subitamente em 1978, 33 dias após a sua investidura papal, teria sido vítima de uma conspiração que culminou no seu assassinato, provavelmente por envenenamento. David Yallop apoia-se na convicção de que as decisões que estavam em vias ser tomadas pelo novo Papa, e que iriam operar grande mudanças e um novo rumo na igreja católica, teriam sido a razão para a sua eliminação física. De facto, considerando os poderes e tráficos que gravitavam à volta da cúria romana, tudo indicava que Albino Luciani iria ser um papa muito incómodo para certas pessoas e certos interesses. Prelados que deveriam entregar-se à evangelização e a obras piedosas, aparecem envolvidos no profano e pouco recomendável mundo dos negócios e da alta finança, atolando o Vaticano em corrupção e obscuras operações financeiras, com manifesto recorte ilegal. Os benefícios e vantagens que tais esquemas traziam à igreja e a todos aqueles que manobravam o sistema, não podiam correr o risco de serem tocados, sob pena de fazer desmoronar todo um edifício de interesses e negócios sombrios, que levara anos a erigir. David Yallop enumera mesmo os prelados e leigos, porque elementos-chave de tal sistema, que tinham especial interesse no desaparecimento de João Paulo I. Entre os primeiros destacam-se o cardeal Jean Villot, o bispo Paul Marcinkus, presidente do Banco do Vaticano, e o cardeal-arcebispo de Chicago, John Cody, ao passo que entre os segundos destacam-se o mafioso siciliano Michele Sindona, o mação Licio Gelli e o financeiro Roberto Calvi, que posteriormente viria a ser “suicidado” em Londres.
A ausência de uma autópsia para apurar a causa da morte do Papa, a precipitação em fazer o embalsamamento do corpo e o respectivo funeral, a imposição do voto de silêncio aos membros do serviço papal, mais as atabalhoadas explicações oficiais, contribuíram para que as suspeitas se multiplicassem e começassem a circular, logo no próprio dia do acontecimento, deixando sem resposta, até aos dias de hoje, muitas dúvidas e perguntas pertinentes. Resumindo: a hora e as verdadeiras causas do óbito nunca foram divulgadas, desconhecendo-se se foi realizada alguma autópsia, nunca se soube exactamente quem encontrou o corpo, desconhece-se o paradeiro dos objectos pessoais do Papa, os quais desapareceram misteriosamente dos seus aposentos, e se é ou não verdade que os embalsamadores foram chamados ao Vaticano, antes de o corpo ser oficialmente encontrado. Finalmente: as grandes mudanças que João Paulo I tinha agendado levar a cabo, por coincidência ou talvez não, para o próprio dia da sua morte, nunca se realizaram. O seu sucessor, João Paulo II achou por bem manter tudo como estava, com todos os protagonistas nos mesmos lugares, fazendo fruir alegremente, todos os controversos negócios.
Para além desses factos, o livro acaba por fornecer um retrato muito aceitável, senão mesmo fidedigno, da Itália dos anos sessenta e setenta, envolta em constantes golpes financeiros, manobras e conspirações políticas, enlaçadas com corrupção, do Vaticano (enquanto empresa multinacional denominada Vaticano S.A.) e da Cúria Romana, sob os papados de João XXIII, Paulo VI, João Paulo I e o início do magistério de João Paulo II. Têm também especial relevo os acontecimentos e os escândalos associados ao Banco Ambrosiano, ao Banco do Vaticano, à Máfia, à Loja maçónica P2 e ao terramoto político que foi a operação "mãos limpas", afinal, todos eles peças da grande engrenagem que, a dado momento, determinou a necessidade de liquidação daquele incómodo inquilino do Vaticano. Também não é esquecida a poderosa Opus Dei, que acabou por emergir como um novo poder, dentro do imenso poder que a igreja católica já era, e continua a ser.