quinta-feira, janeiro 03, 2013

Ainda o Pai Natal...

- SABIAS que a UGT, pela boca de João Proença, ameaçou rasgar o acordo tripartido de concertação social que assinou no início de 2012, porque o Governo deu o dito por não dito e resolveu baixar de 20 para 12 dias as indemnizações por cada ano de trabalho, em caso de despedimento?
- Ah sim, não me digas? É que o João Proença já devia saber que negociar e assinar acordos com o Governo é a mesma coisa que acreditar no Pai Natal...

quarta-feira, janeiro 02, 2013

Onde Pára a Bandeira?


NO PRIMEIRO dia de 2013, o Presidente Cavaco Silva, com mais de um ano de atraso, e depois de ter andado a repetir, com alguma insistência, que estava atento e não era pressionável, veio fazer-nos queixinhas do Governo. Falou do quão negativo seria renegociar a dívida ou rasgar o memorando, mas não sugeriu alternativas, falou da espiral recessiva, mas não apontou como revitalizar a economia, falou da situação social insustentável, mas nada fez para a evitar, falou do círculo vicioso da austeridade que falhou, mas deixou-a rolar à desfilada, falou das fundadas dúvidas sobre a equidade dos sacrifícios, mas até promulgou um Orçamento de Estado, inconstitucional e irrealizável, permitindo que o governo continue a espatifar o país, e achando que um mal maior era não haver orçamento, desacreditando-nos no plano externo. Diz que temos que bater o pé à Europa, mas ninguém acredita nisso.

Quem o ouviu é natural que tenha deixado perguntas no ar. Então e durante os dez anos em que Cavaco foi chefe do governo, mais os sete que leva como Presidente da República, não se passou nada? Quem deu cobertura a que fosse desmantelado o tecido económico do país, com a liquidação das pescas, da agricultura e de grandes fatias da indústria, fazendo do país um grande centro comercial de produtos importados da "europa connosco"?

Não sei o que é pior, se este choradinho de lágrimas de crocodilo, se as abstenções violentas do PS (partido Seguro), dando passagem e premiando a governação incendiária dos próceres Coelho e Portas. Em resumo: o homem que não tinha dúvidas e nunca se enganava, veio dizer, com largos meses de atraso, que isto assim não pode continuar, que é tempo de inverter o curso da governação, ao mesmo tempo que apela à nossa corajem e espírito de sacrifício, e continuando a querer sol na eira e chuva no nabal.

Não sei se podemos extrair disso algum significado, mas apercebi-me que a sua mensagem foi gravada com dois cenários distintos; um com bandeira a ombrear o excelentíssimo discursante, e outra sem bandeira. É caso para perguntar: onde pára a bandeira? Será que a meio da mensagem também decidiu emigrar?

terça-feira, janeiro 01, 2013

A Peste Roxa


AS EPIDEMIAS governativas que têm assolado Portugal até à actualidade, assumiram desde meados de 2011, com pezinhos de lã, uma insidiosa e perigosa mutação. Os bacilos do PSD e do CDS-PP acasalaram-se, coligaram-se e apresentaram-se, no início, como um remédio santo para todos os males, porém, numa acrobática rotação de 180 graus, transformaram-se numa epidemia de proporções incalculáveis. À falta de melhor expressão, baptizei este vírus de triplo invólucro (neoliberococus coelherbisgasparensis) de peste roxa, pois a dita, sob as mais variadas formas, e através de um numeroso exército de agentes propagadores, alastra e tem feito num calvário, a vida da maioria dos portugueses. É uma estirpe que não mata à primeira, mas mói muitíssimo, e por largo tempo. É uma epidemia hemorrágica que além de assegurar que o desemprego é uma benesse, uma oportunidade para mudar de vida, devora os recursos financeiros da população activa e reformada, mantendo-se imunes os detentores de rendimentos do capital. Onde quer que se ouça o tilintar de um cêntimo, lá estará o íman fiscal para o subtrair, e quando já não há mais cêntimos para capturar, são aplicadas as técnicas do arresto e da penhora.

Em vez de ser transmitida por ratos infecciosos, esse papel compete a alguma gente, mas gente muito especial, pouco ou nada recomendável, que funciona como sofisticada arma bacteriológica. Eles são mentirosos, aldrabões, especuladores, flibusteiros, intrujões, burlões, banqueiros, agiotas, vendilhões, charlatães, gatunos, malfeitores de vários calibres, ilusionistas e santinhos de pau carunchoso, que parecem multiplicar-se a um ritmo alucinante, todos concorrendo para infernizar a nossa existência e propagar a peste. E isto é duplamente preocupante, quando parece que tarda em ganhar-se coragem para aplicar o remédio ou vacina (já descoberto) que acabe com esta praga, ao passo que as estatísticas vão advertindo que no nosso país, sem contar com a emigração, como fuga ao risco de contaminação e queda no vazio, o número de óbitos já está a superar o número de nascimentos.

À primeira vista, aqueles agentes transmissores, podem parecer-nos incompetentes, cretinos, ignorantes, poucos hábeis e inexperientes, mas isso não passa de fumaça para manter o povo incauto, na dúvida, intrigado e confundido. Como qualquer bactéria que se preze, não se extingue ao primeiro grito. Lá bem no fundo, eles têm objectivos bem determinados, têm a sua "engenharia" a funcionar, sabem perfeitamente o que querem e para onde vão, isto é, nem mais, nem menos, do que suspender a democracia, acabar com o estado social, e recorrendo a um permanente estado-de-sítio consentido, garantir os grandes negócios dos amigos e implantar a ditadura dos mercados. Dizem eles que quem não estiver pelos ajustes deve emigrar, não se manifestar nem incomodar. E é tanta a pressa que até já publicam portarias no Diário da República, dando como certo e garantido (vá-se lá saber como) que o Orçamento de Estado foi promulgado, antes mesmo de o ter sido.

Com conversas, discursos e falinhas mansas, não são poucas as vezes que nos confundem com atrasados mentais, tentando enganar-nos e fazendo-nos cair, mais do que uma vez, no conto do vigário. O diagnóstico está feito e a solução terapêutica é simples: basta ter coragem, distinguir a verdade da mentira, retirar-lhes a governação e apontar-lhes a emigração como solução. E que o Grande Manitu nos proteja!

terça-feira, dezembro 25, 2012

Mensagem às Tropas


SOLDADOS,

e camaradas de armas! É Natal e daqui a dias vai terminar mais um ano, e outro vai começar, logo este é o momento indicado para recapitular algumas questões importantes. Para começar, e porque na poupança é que está o ganho, juntámos Natal e Ano Novo, para economizarmos nas palavras, nas proteínas e nas munições. Não se esqueçam que somos todos soldados, sob o indómito comando do marechal Silva, do general Coelho, do almirante Gaspar e do brigadeiro Relvas, e que fomos todos “voluntáriamente” mobilizados para travar esta guerra contra a crise, contra o défice, contra a dívida, contra os excessos que têm andado a ser praticados, e sobretudo por termos andado a gastar acima das nossas possibilidades. Para que nos resgatemos destes pecados, é importante que marchemos unidos e em força, rumo à grande batalha que se avizinha.

Somos um exército de voluntários pouco exigentes, alimentados apenas com as rações de combate fornecidas pela caridosa intendente Jonet, sem direito a fardamento nem pré, para não afundarmos ainda mais as contas públicas, e quanto a armamento ainda menos, não vá passarem-vos coisas pela cabeça. Porém, somos sensíveis ao dever patriótico de cumprir todas as ordens dos nossos aliados, fazendo todas as vontades à “frau” Merkel, à troika e aos mercados. Além dos submarinos do comodoro Portas, que vão ser a nossa arma letal, disparando contrapartidas a torto e a direito, as outras armas são a disciplina, o respeitinho pelas ordens e a grande capacidade que temos para andar de cócoras e de mão estendida, fazendo sacrifícios sem tugir nem mugir. Atentos e vigilantes, só assim conseguiremos averbar vitórias contra este insidioso inimigo que nos cerca.

Na nossa guerra sem quartel - e só para dar três exemplos - já conseguimos o inexcedível feito de extinguir 1.165 freguesias, estarmos a liquidar empresas a um ritmo de 27 por dia, e nada nos fará recuar na intenção de desmantelar o pantagruélico e ruinoso estado social. Estamos fartos de descontentes. Quem não está bem muda-se, emigra, e quem escolher ficar, sempre pode integrar os nossos batalhões de operações especiais. Portugal é todo ele uma grande frente de combate, e desta meritória acção, é garantido que o país, tal como a Fénix, renascerá das cinzas, e entretanto, que se lixem as eleições e as opiniões. E não acreditem em tudo o que se diz por aí, porque o boato fere como uma lâmina, e a pior coisa que pode acontecer a um exército, é abandalhar-se e deixar de acreditar na sua missão. Por isso tenham muito cuidado com aqueles que, insidiosamente, querem minar a nossa unidade, coesão e determinação, rumo à certa e garantida victória final.

Não vou alongar-me muito mais. O tempo é de acção e de poucas conversas, mas entretanto, se encontrarem por aí um inimigo infiltrado, um perigoso sniper, apoiado por uma obscura e traiçoeira “quinta coluna”, que dá pelo nome de Artur Baptista da Silva, que anda a desmoralizar as nossas fileiras, não se esqueçam de o capturar e amordaçar, com o nosso convicto apoio, e um sonoro “a bem da nação”.

O cabo-corneteiro Amorim

segunda-feira, dezembro 24, 2012

Não Acredite!

QUANDO Pedro Passos Coelho diz - antecipando pretextos para fazer mais um assalto concertado à bolsa dos contribuintes - que há muitos reformados e pensionistas que estão a receber mais do que aquilo que descontaram, ao longo da sua carreira contribuitiva…
… pois pode muito bem ser a próxima vítima.

sábado, dezembro 22, 2012

No Estar a Dever e Não Pagar é Que Está o Ganho…

… sobretudo quando são os costume que são chamados para tapar os buracos, e isto sabe-se lá por quanto mais tempo.

Cabeçalho da notícia do semanário EXPRESSO de 22 de Dezembro de 2012

sexta-feira, dezembro 21, 2012

Mal-Entendidos e Com(Passos) de Espera


- Vê lá que a venda da TAP, essa mega-negociata, que diziam ser de uma inaudita lisura e transparência, acabou por ficar em águas de bacalhau…
- Não admira! É o resultado que dá quando se junta uma quadrilha de malfeitores com uma matilha de lobos esfaimados.

terça-feira, dezembro 18, 2012

A Ver Vamos, Como Diria o Cego

- Sabias que Passos Coelho, de visita à Turquia, garantiu que Portugal já não está à beira do precipício?
- Não admira, se o dissesse cá logo haveria quem lhe desse um empurrão para ver se era verdade…

domingo, dezembro 16, 2012

No Poupar é Que Está o Ganho

O PRESIDENTE da República senhor Aníbal e a primeira dama dona Maria gravaram uma mensagem de Boas Festas dirigida aos portugueses que, quanto a conteúdo, não difere muito de uma redação de um aluno do ciclo básico, contemplando até os habituais e repisados lugares comuns usados na quadra.

Para quem se intitula “provedor do povo português” o discurso soube a nada, e sobre a sua insistência em que não devemos perder a esperança, só deve ter a ver com o nosso desígnio de mandarmos o governo embora. Talvez por exigência da troika, é evidente que houve a preocupação de poupar. Aliás, fazer poupança nas palavras, parece ser a preocupação nuclear do inquilino de Belém, quando não pode furtar-se a ter que se chegar à frente, para ciciar as poucas preocupações da sua presidencial figura, mesmo quando a turbulência governativa, varre o país de lés-a-lés. Embora em estilo miniatura e variando no embrulho, este pastel foi feito com a mesma massa da mensagem de Ano Novo, produzida em Janeiro de 2012, mas por ter sido curtíssimo, teve a vantagem de não agredir, por aí além, a paciência de quem o escutou.

sexta-feira, dezembro 14, 2012

Estória Breve: O Homem-de-Lata


HOJE, as duas últimas horas tinham passado sem dar por isso. Tinha voltado a ler uma narrativa simples, com linguagem directa e despretensiosa, situada naquela época pioneira das primeiras missões espaciais, quando os homens ainda tinham dificuldade em dominar a imponderabilidade, e as estações orbitais, acanhadas e mal cheirosas, eram o local onde os homens estudavam e testavam a resistência humana, tomando balanço para voos mais longínquos, apertados dentro de fatos que eram quase sarcófagos e no meio de espartanos racionamentos de água e alimentos. Eram depoimentos de antigos cosmonautas, onde eram descritas as longas permanências no espaço, e toda a imensa problemática que tal actividade envolvia, desde manter os homens sãos de corpo e espírito, bem como activos e operacionais todos os equipamentos de que as missões dependiam. Agora, quase duzentos anos depois destes pioneiros, tudo era diferente. Ali na Pegasus 2 não faltava nada. Era tudo tão fácil de operar e manobrar que até uma criança o podia fazer. Era um pequeno mundo. Havia espaço de sobra, atmosfera limpa, música ambiente, ginásios, estufas de culturas hidropónicas, alojamentos quase principescos, uma biblioteca de 100.000 volumes, uma cinemateca de 75.000 filmes, uma pinacoteca de 1 milhão de pinturas, desenhos, imagens de esculturas e visitas virtuais a monumentos, alguns que até já nem existiam, laboratórios bem equipados, e entre o pouco ou quase nada que ainda era preciso investigar, apenas a curiosidade humana subsistia. Para satisfazer isso, além das consultas que podiam ser efectuadas em qualquer momento à UNIV, até havia no sexto nível um atelier para manter ocupados os espíritos criativos, mas isto era quando havia uma tripulação de cento e sessenta humanos, entre os quais havia uma astro-navegadora Grace que pintava exuberantemente, e um exobiólogo Velasco que esculpia a canivete presépios em miniatura. Agora, quando era ele o único que restava a bordo, era a ver filmes e a ler que ocupava o seu tempo, entre as pequenas reparações que tinha que orientar, as verificações de rotina, emergências, como um ou outro impacto de meteoritos de fácil resolução, ajustes no posicionamento dos colectores solares, correções da trajectória e posição da estação, ou excepcionalmente, quando lá de baixo, das entranhas do omnipresente e sempre vigilante sistema central, vinham instruções que era preciso cumprir. Naquele contexto, ser um astrofísico a fazer trabalho de cantoneiro e a dirigir uma orquestra de robots desafinados, tornara-se irrelevante, mas isso também não vinha agora para o caso.

Ali estava ele, a 398 milhas da superfície da Terra, instalado num dos imensos braços da Pegasus 2, aquela que ainda continuava a ser uma das maiores e mais bem equipadas estações orbitais do mundo, um monumento de engenharia espacial, com os seus doze níveis de perto de duzentos mil metros quadrados de área utilizável, destinada a uma população que podia chegar a duas centenas de técnicos em actividade, cada um com a sua missão, e mais as suas cinco plataformas de docagem, aptas para receber qualquer transbordador. Só que isso também já eram recordações do passado, tal como a Grande Crise de 2156, época em que a força voltou a falar mais alto que a voz da razão, altura em que a Pegasus 2 chegou a ser militarizada, albergando lançadores de astro-virotões e um importante arsenal de armas avançadas. Depois disso foi núcleo de pesquizas, centro de estágio para futuros cosmonautas e local de quarentena para missões de regresso à Terra, até que o Centro Terrestre foi dispensando todo o pessoal, argumentando com cortes nos investimentos e nas despesas. Agora restava ele como seu único e voluntário tripulante, uma espécie de "faz-tudo" muito económico, acompanhado apenas por um casal de gatos tigrados e meia centena de robots especialistas, uns doentiamente competentes e obedientes, incansáveis e invulneráveis, outros como caricaturas de gente inteligente, burros tropeçudos que passavam o tempo a perder-se no labirinto dos corredores. Há três anos que a Pegasus 2 tinha sido totalmente despovoada. Muitas áreas tinham sido seladas, sete pisos tinham caído numa penumbra perpétua e muitos sistemas tinham sido desactivados. Embora tivesse deixado de ser utilizada como plataforma de formação para futuras tripulações, tornou-se evidente que, devido ao facto de os seus sistemas ainda se encontrarem longe de serem considerados obsoletos, poderia desempenhar muitas outras funções, embora com uma equipagem reduzida. Tão reduzida que bastava um homem e meia centena de carcaças com rodas, pinças telescópicas, tenazes articuladas e visores multicoloridos, para a manter operacional. Bastava a visita de um cargueiro de sete em sete meses, para garantir um provimento onde nem sequer faltavam caixas de vinhos raros e grande variedade de biscoitos para gato. Para que aquele mundo funcionasse, bastava haver alguém que voluntariamente não se importasse de viver longe da sua espécie, como era o seu caso. Bastava ser ele o caprichoso, estar ali e sentir-se bem, e continuar a renovar os contratos que de catorze em catorze meses lhe voltavam a apresentar, já lá iam sete anos.

A semana passada tinha sentido arrepios de frio, e decidira ir ao consultório do robot-médico, um aposento totalmente automatizado, equipado com uma mesa provida de sensores e instrumentos, aptos a fazerem todo o tipo de exames e um diagnóstico a preceito. Habitualmente era o “médico” que marcava as consultas, uma vez por semana, insistindo pelo sistema sonoro da estação, para que ele se apresentasse para o exame de rotina. Desta vez a inciativa tinha sido sua. A consulta foi rápida e o veredicto simples e claro: Você anda a ler muito, a meditar sobre citações de pensadores do século XIX, anda a ver filmes em demasia… o seu trabalho exige calma e dedicação… as leituras e os filmes causam transtornos psíquicos, depressões, ansiedade, pensamentos mórbidos, estimulam em excesso a imaginação, etc.. Ora esta, querem lá ver este robozeco, a dar-me sermões, armado em protector de gente de carne e osso… Levantou-se, vestiu-se, voltou para a sua suite, para logo se arrepender de ter ido à consulta. A razão estava em que, como sempre, já iria a caminho da Terra um relatório detalhado sobre o seu estado de saúde, e lá em baixo iriam concluir que a sua cabecinha andava avariada, que não andava a bater bem, talvez fosse da solidão, e depois, sabe-se lá, talvez se recusassem a renovar o contrato e o mandassem regressar. Como o mal já estava feito, e como dizia um provérbio antigo, o que não tem remédio, remediado está, recostou-se na poltrona e preparou-se para decidir qual a escolha daquele dia; tanto podia ser um mergulho nas páginas do “Robinson Cruzoe”, como ir deleitar-se, pela enésima vez, com as imagens do “Feiticeiro de Oz”.

Quando o filme terminou, ajustou a luz artificial da suite até ficar na penumbra, mudou a imagem do quadro de parede da "Vénus Reclinada" de Giorgione para o "Cavalo Branco" de Gauguin, e recostou-se naquele beliche que era quase uma cama de casal, observando a claridade crua, reflectida pela superfície do planeta, a esgueirar-se pela clarabóia e derramando-se a seus pés em manchas circulares, acompanhando o eterno bailado e os gemidos subtis da imensa estrutura da Pegasus. A Tsai chegou-se pé ante pé, ronronou, bocejou e saltou para junto dele. Quanto ao Tsoi, preguiçoso e independente como era, deve ter ficado lá em baixo, enroscado nalgum dos cadeirões da sala de controle. Pôs-se a pensar. Era curioso como os primeiros forasteiros do espaço amavam o seu planeta, muito embora o fascínio e deslumbramento das novas fronteiras do espaço fossem a sua razão de viver. Com ele passava-se o oposto. Era grande a aversão que sentia por aquele lugar infernal e repulsivo que girava lá em baixo, camuflado pelas belas e enganosas tonalidades de azul e ocre, entrecortadas pelas pinceladas e espirais leitosas do branco das nuvens, que escondiam um rochedo que se tornara quase inóspito, mas que em tempos ostentara belos e majestosos lagos cor de esmeralda, irresistíveis planícies douradas a perder de vista, florestas que eram autênticas catedrais, onde a humidade cobria como uma segunda pele aquele reino dos mais diversos e inesperados verdes e odores, numa tão grande e caleidoscópica diversidade, que querer descrevê-la era uma missão quase impossível de levar a cabo. Sentiu novamente um arrepio de frio, mas logo concluiu que devia ser sugestão. Ainda há pouco tinha controlado a temperatura da cúpula e tudo estava em conformidade. Aconchegou a roupa à volta do pescoço, fechou os olhos e voltou a sonhar com a tal Terra dos contos de fadas, à mistura com as imagens ainda difusas do “rendez-vous” do cargueiro que viria daí a um mês, lá de baixo, um lá de baixo que é apenas aparente, criado pela gravidade artificial da estação, pois no espaço não existe um lá em cima, nem um lá em baixo. Sentiu novo arrepio, e não fez caso. Fechou os olhos e começou a fingir que sonhava, imaginando que o cargueiro traria mais uma geração de robots, uns muito pequeninos, outros maiorzitos, sempre com instruções de activação que lhe consumiam um tempo imenso (sempre eram menos uns quantos filmes que via, e menos uns tantos livros que lia), e que faziam coisas incríveis, desde “desparasitar” os equipamentos do centro de controle, até averiguar as suas preferências gustativas. Qualquer escravo de engenho de açucar de uma roça brasileira do século XVII, era mais inteligente e competente que muita da sucata que lhe mandavam. Só o trabalho de os desembalar e ler as instruções, deixavam uma pessoa derreada e desiludida, como aconteceu com aquele KAM505, cuja função era dar de comer aos gatos, mas que não conseguia acertar com o relógio biológico dos bichanos. O resultado era eles votarem um desprezo absoluto àquela geringonça, preferindo requisitar as suas humanas atenções, com artísticos bailados entre as suas pernas, prolongadas marradinhas e miados, quando era preciso reabastecer os alvéolos com a ração diária.

Os trinta dias que o separavam da visita do cargueiro escoaram-se depressa. Aquela tarefa de registar os valores das emissões da Cintura de Van Allen, tinham absorvido muito do seu tempo. Contudo, começou a ficar ligeiramente preocupado quando faltando 48 horas para a esperada acoplagem do cargueiro, ainda não se tinha feito ouvir a habitual lenga-lenga, debitada hora a hora pelo centro de controle terrestre: "Atenção Pegasus 2: rendez-vous menos 46 horas, 14 minutos e 25 segundos... ". Embora as operações de aproximação e atracagem fossem inteiramente automáticas, era sempre requerida a sua presença na sala de controle, para supervisionar a fase final de abertura das câmaras de comunicação entre a estação e o cargueiro, o qual habitualmente não era tripulado. Eram depois os robots-estivadores que faziam a transfega dos contentores com os reabastecimentos, e que para lá voltavam com o lixo não reciclável produzido na estação. Apreensivo com aquele silêncio, testou a operacionalidade das comunicações, e depois deixou passar mais um par de horas, antes de fazer uma chamada para o centro terrestre, inquirindo a razão do silêncio. A resposta veio curta e incisiva; não iria ocorrer o programado reabastecimento porque o seu contrato não iria ser renovado. Iria regressar à Terra, depois de ser substituído por um robot inteligente da última geração, uma maquineta que dava pelo nome de SHERP712, sobre o qual já tinha lido qualquer coisa. Disseram ainda que tinha sido agraciado com a medalha de mérito por serviços distintos, e que por força da quebra unilateral de contrato, já estava calculada e creditada a sua indemnização compensatória, no valor de trezentos e cinquenta milhões de créditos. Só faltava esperar pelas instruções complementares, as quais seriam enviadas dentro de poucas horas. À pergunta de qual a razão porque não renovavam o contrato, a resposta veio fria e sem rodeios: o seu comportamento e os relatórios médicos indiciavam que o prolongado isolamento estava a provocar desvios da sua personalidade e a levá-lo a perder o controle da realidade, situação que desaconselhava a sua permanência à frente dos destinos da Pegasus 2. Nestas missões - acrescentaram eles - corre-se um grande risco quando alguém começa a não saber distinguir a ficção da realidade. Ora bem, lá na Terra, está visto que continuavam a ter a propensão para os maus hábitos, usando todos os pretextos mais à mão, para baixar os custos com o pessoal, indiferentes aos maus resultados que daí advinham, e insensíveis aos estragos que provocavam nas carreiras e na vida das pessoas.

Ainda pensou em amotinar-se, barricando-se nos níveis inferiores da Pegasus, mas acabou por abandonar a ideia, porque era duvidoso que pudesse ganhar algo com isso. Sublevar-se contra o CET, o todo-poderoso Centro Espacial Terrestre, apenas levaria a que tivesse que pagar o protesto com uma mais ou menos prolongada perda de liberdade, mais o cancelamento da sua reforma. Assim, quedou-se à espera das tais instruções e do seu desfecho. O Homem-de-Lata que o iria substituir, o tal SHERP712, versão R-27, especialmente adaptado para supervisionar a Pegasus, chegou sete dias depois. Antes disso o Centro Terrestre tinha-o informado que não haveria período de adaptação nem transmissão de agenda ou funções. A nave que levava Nicklaus - assim tinha sido baptizada aquela cibernética inteligência – seria a mesma que o recolheria a ele, de regresso à Terra. Quanto a Nicklaus, já sabia tudo, todos os lugares e recantos da estação, todas as suas funções e obrigações ao pormenor, informações de que fora atulhado, com afinco e determinação, durante largas semanas, no centro operacional terrestre. Quando chegou não houve espanto nem surpresa. Sua excelência tinha uma forma que oscilava entre um aracnídeo e um aspirador industrial, tinha alguns pares de rodas, muitos braços, muitas pinças, tenazes e sensores, era mudo e provávelmente também surdo. De facto, entre robots, para quê o dom da palavra e da audição, se entre eles as informações e as ordens circulavam à velocidade da luz através do sistema integrado da própria Pegasus? Nicklaus tinha todos os manuais operacionais memorizados, não se divertia, não se cansava, não dormia e o seu alimento era assegurado diáriamente, ligando-se durante breves minutos, aos colectores solares da estação. Resumindo: entrava ao serviço um luzidio Nicklaus, e saía ele, um astrofísico sonhador com supostos desvios de personalidade. Sem um queixume, não se despediu de nada e foi directamente para a câmara de acoplagem do transbordador que o aguardava impaciente, já em contagem decrescente, depois de ter recolhido os seus poucos pertences, e envergado o fato de voo para a viagem de regresso à Terra, sete anos depois de ter jurado que a ela não mais regressaria.

Antes isto que uma perna partida, pensou ele com os seus botões, sentindo novo arrepio de frio. Instalou-se no assento da cabine do transbordador, regulou a posição de conforto, correu o fecho do capacete, activou as funções de apoio de vida do fato, apertou o arnês, baixou a viseira e viu fechar-se lentamente a comporta de comunicação com a Pegasus. Dois minutos depois a contagem decrescente quedou-se no zero. Sentiu o ligeiro balanço da naveta a desprender-se da estação, e os propulsores começarem a rugir. Ali ao lado ainda estava o berço onde o seu substituto fizera, cómodamente, a viagem para a Pegasus. A iluminação baixou lentamente, e os monitores do transbordador automático animaram-se. Dali para a frente, até ao cosmódromo de Gobi, numa viagem de pouco mais de hora e meia, não precisaria de mexer uma palha, pois a navegação e a entrada na atmosfera terrestre, era toda por conta e risco do CET. Passou mentalmente em revista as últimas horas que passara na Pegasus, e havia uma preocupação que não o abandonava. Como é que a Tsai e o Tsoi iriam reagir ao seu desaparecimento físico e à total ausência de calor humano? Não estava a ver o super-inteligente Nicklaus-Homem-de-Lata conseguir interpretar, ou sequer condoer-se, com os seus miados e marradinhas, a fim de assegurar o competente reabastecimento, a tempo e horas, dos seus alvéolos de alimento.

quinta-feira, dezembro 13, 2012

Inesgotável Sophia


Poema inserto num texto em prosa inédito de Sophia de Mello Breyner Andresen, publicado na revista LER de Dezembro de 2012, com o título (atribuído por aquela publicação)"A casa desmedida".

«(...)
Mergulhávamos nos fetos como em ondas, fingíamos nadar, o que nos divertia infinitamente e me punha em grande estado de euforia - saltávamos, ríamos, mergulhávamos entre as folhas ásperas dos fetos, rente ao perfume da terra. Lá em cima baloiçavam as grandes copas dos pinheiros mansos. De repente passavam bandos de pássaros. Estalavam ramos, tudo estava cheio de murmúrios. Ao longe avistava-se o mar brilhante e o friso branco das espumas. Tomar banho nos fetos do pinhal como tomar banho de mar na praia, era a nossa união com a felicidade do terrestre.

Passavam pelos ares aves repentinas
O cheiro da terra era fundo e amargo
E ao longe as cavalgadas do mar largo
Sacudiam na areia as suas crinas

(...)»

quarta-feira, dezembro 12, 2012

Relvices

QUANDO Miguel Relvas diz que Nuno Santos não foi alvo de saneamento, o mais certo é que tenha sido.

Quando Miguel Relvas assegura que existe total transparência em todo o processo de privatização da RTP, o mais certo é que tal operação nada tenha de transparente, e não irá ter o sucesso que ele tanto alardeia.

Quando Miguel Relvas diz que vai dar todo o seu apoio à candidatura de Fernando Seara à Câmara Municipal de Lisboa, o mais certo é que Fernando Seara, considerando que tal apoio apenas o vai prejudicar, acabe por desistir do intento. Aliás. por isso mesmo, eu penso que Miguel Relvas devia manifestar e dar todo o seu apoio, sem excepção, a todos os candidatos do PSD às eleições autárquicas.

Quando Miguel Relvas diz que não se incomoda nada com aquilo que pensam e dizem dele, eu acho muitíssimo bem, e que ele deve continuar a insistir com as suas cabotinices. Quanto mais aquelas vozes críticas se levantarem, mais certo é que um deles, ou os dois, cairão: o Relvas ou o Governo todinho.

segunda-feira, dezembro 10, 2012

Agarra-me se Puderes!


«O GOVERNO (português) perde todos os anos mais de 12 mil milhões de euros em fuga aos impostos, o triplo daquilo que pretende cortar na despesa pública em dois anos (2013 e 2014), mostra um estudo independente da consultora britânica Richard Murphy FCA, elaborado para o grupo Aliança Progressista de Socialistas e Democratas do Parlamento Europeu.

A investigação, hoje divulgada no âmbito de uma comunicação da Comissão Europeia sobre economia paralela e evasão e fraude fiscal, mostra que a perda fiscal associada à existência de atividades clandestinas ou paralelas na economia (que como tal não estão dentro do perímetro do Fisco) representa 23% da receita fiscal total (12,3 mil milhões de euros de prejuízo fiscal), um nível que está acima dos 22,1% de média da União Europeia. Portugal é assim o sétimo pior caso no ranking da Richard Murphy FCA.»

Notícia do DIÁRIO ECONÓMICO de 6 de Dezembro de 2012

Entretanto o jornal DIÁRIO DE NOTÍCIAS informou que o presidente do Conselho de Prevenção da Corrupção e do Tribunal de Contas está preocupado com o facto de Portugal estar no 33.º lugar no índice de percepção da corrupção, ao mesmo nível de países como o Butão e Porto Rico. Guilherme d'Oliveira Martins alerta também para a situação de a economia paralela e subterrânea em Portugal já representar 25% do PIB e de que a "crise não favorece o combate à corrupção".

ADENDA em 11-Dez-2012 – Na altura que as notícias atrás vieram a público ainda Cândida Almeida não se tinha pronunciado sobre o caso BPN, a qual estranhou que o julgamento ande a passo de caracol. Disse isto durante mais uma sessão do Clube dos Pensadores, em Gaia. Para combater a corrupção, Cândida Almeida apela aos cidadãos para colaborarem com a justiça, tendo adiantado mesmo que foi aberta “uma linha de denúncias anónimas”, que desde Novembro de 2010 já contabiliza 2.000 denúncias, mas que nem tudo é corrupção, e mais isto e mais aquilo, a maior parte é fraude fiscal, os mais bicudos são casos muito complexos, precisam de averiguação preventiva, etc e tal. Não se percebe muito bem este palavreado, isto porque a mesma senhora procuradora, ainda em Setembro deste ano, afiançava com a genica e intrepidez que lhe conhecemos, numa "aula" da Universidade de Verão do PSD, em Castelo de Vide, que não existia corrupção em Portugal, usando textualmente estas palavras: «Digo olhos nos olhos: O nosso país não é corrupto, os nossos políticos não são corruptos, os nossos dirigentes não são corruptos».

Será que a corrupção também já contaminou a justiça? Vejam só o que o país mudou (ou o entendimento de dona Cândida) no espaço de 3 meses…

sábado, dezembro 08, 2012

BOAS FESTAS

Texto e ilustração de F.Torres. Este postal é partilhável, desde que seja respeitado o documento como um todo, e que a sua utilização não tenha fins lucrativos. Use-o fazendo copy-paste.

sexta-feira, dezembro 07, 2012

Também Tu, Deutsche Bank?

O Deutsche Bank é acusado, através de denúncia ao Securities and Exchange Commission, efectuada por três dos seus antigos funcionários, entretanto afastados do serviço, de ter escondido 9.230 milhões de euros em dívidas, resultantes de perdas nas operações de mercado, durante o pico da crise financeira, entre 2007 e 2009, para mascarar as contas e evitar um resgate pelo Governo alemão.

Gostava de saber como é que a coisa se compôs, pois 9.230 milhões de euros é muita “massa”, cuja falta dificilmente passa despercebida, e entretanto alguém deve ter ficado a arder.

quinta-feira, dezembro 06, 2012

Registo Para Memória Futura (75)

«(...) É preciso que se saiba que os portugueses comuns (os que têm trabalho) ganham cerca de metade (55%) do que se ganha na zona euro, mas os nossos gestores recebem, em média mais 32% do que os americanos, mais 22,5% do que os franceses, mais 55 % do que os finlandeses e mais 56,5% do que os suecos.»

Do blog ANTREUS de António Abreu

quarta-feira, dezembro 05, 2012

Conselho de Estado Alternativo


HÁ TRÊS dias (desde Sexta-Feira 30 de Novembro) que o Presidente da República tem mantido reuniões com o Conselho de Estado Alternativo, composto pelos banqueiros portugueses, isto é, com alguns dos donos de Portugal, nomeadamente, os presidentes dos conselhos de administração ou comissões executivas do Banco Espírito Santo, Banco Português de Investimento, Banco Comercial Português, Caixa Geral de Depósitos, Montepio Geral, Banco Santander-Totta, Caixa Central de Crédito Agrícola Mútuo e Banif, e só agora é que soubemos. Parece que está muito preocupado com a "estabilidade financeira dos bancos", queria saber como estão a correr os negócios e também, provávelmente, se eles precisam de mais alguma coisa.

segunda-feira, novembro 26, 2012

Sobre a Cavacal Amnésia

O Presidente da República em 21 de Novembro de 2012, durante a sessão de abertura do Congresso das Comunicações, afirmou que o país precisa de “ultrapassar estigmas” e voltar a olhar para os sectores que esqueceu nas últimas décadas: o mar, a agricultura e a indústria. É preciso descaramento!

Ora o desaparecimento das pescas, da agricultura e de amplos sectores do tecido industrial não resulta de um acto de amnésia colectiva, nem de uma chaga que tenha aparecido por geração expontânea, ou caído do céu aos trambolhões. Cavaco Silva finge-se desentendido e debita a sua homilia, como se não tivesse nada a ver com o assunto. Cavaco esquiva-se, quer passar uma esponja sobre o seu passado, varrer para debaixo do tapete tudo o que tem a sua assinatura, mas, na verdade, foi o próprio Aníbal Cavaco Silva, enquanto primeiro-ministro de Portugal, entre 6 de Novembro de 1985 e 28 de Outubro de 1995, que aproveitando a ainda fresca adesão à Comunidade Económica Europeia em 1986, se encarregou de iniciar o desmantelamento das pescas, da agricultura e de amplos sectores do tecido industrial, à sombra de uns promissores quadros comunitários de apoio que foram desperdiçados das mais variadas formas, sujeitando esses sectores a um processo de erosão, que tinha por finalidade transformar o país, não num produtor e exportador de bens, mas apenas num promissor mercado consumidor daquilo que importávamos da triunfante Europa Connosco.

O que foram as drásticas reduções (quotas) impostas pela UE sobre os nossos lacticínios, o concentrado de tomate e as pescas, senão uma forma capciosa de estrangular e desbaratar os nossos sectores produtivos. Isto para já não falar dos largos milhões de subsídios compensatórios, destinados à modernização do país, e que acabaram dissipados e desbaratados por uma corte de pseudo-empresários, quantas vezes com lautos proventos para as suas contas bancárias e nulos efeitos para a economia. Portanto, não vale a pena fazer fintas ou tergiversar, quando Cavaco diz agora, alinhavando conselhos e recadinhos, com o seu habitual ar seráfico, que é desejável que voltemos ao mar, depois de ele próprio ter contribuído para nos expulsar de lá, pondo os barcos parados e as tripulações em terra. A verdade é que chegámos onde chegámos, por ele ter trabalhado afincada e determinadamente para isso. O país que hoje somos está profundamente contaminado pelos genes de 10 (dez) anos de cavaquismo, e invocar estigmas e esquecimentos, é apenas mais uma chapada de areia lançada para os olhos dos desmemoriados e dos incautos.

sexta-feira, novembro 23, 2012

O Ouro e o Silêncio

Sua Pesporrência o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, a propósito dos seus prolongados silêncios, veio dar mais um ar da sua graça (ou insolência), afirmando que o seu silêncio é de ouro, e que o elevado preço do metal não permite desperdícios. Registe-se que disse isto, preocupadíssimo com o desejo de passar despercebido, no meio da turbulência e dos graves problemas que atravessam o país, e da uma conjuntura política nacional, que tantos estragos anda a provocar no tecido económico e social do país. Curioso comportamento este, para quem já se auto-intitulou "provedor do povo português"!

Recorde-se que quando não está ausente ou em prolongado retiro espiritual, o pesporrente Cavaco escolhe os apontamentos redondos e breves no Facebook, ou as piadinhas irónicas para a plateia da comunicação social, como forma bizarra de se mostrar preocupado e ser interventivo, tal como prometeu na sua mensagem de Ano Novo de 2012. Aguardemos o que terá para nos dizer (ou acrescentar), daqui a alguns dias, aquando da sua próxima mensagem de Ano Novo de 2013.

domingo, novembro 18, 2012

Estória Breve: Glória e Renúncia


HÁ CINQUENTA anos, mais precisamente em 1939, ano do início da Segunda Guerra Mundial, que o senhor Ernesto Martins, vindo não se sabe de onde, se tinha instalado na aldeia do Chão de Barrocos, e iniciara a sua actividade de serralheiro. Dessa altura em diante, naquele concelho, não havia casa ou propriedade que não ostentatasse alguma coisa da autoria do senhor Ernesto, cuja obra se multiplicava por um número incalculável de portas, portões, armações para alpendres, janelas de marquises, gradeamentos, varandins, escadas de caracol, utensílios de lareiras, e até algum mobiliário de jardim, incluindo estufas envidraçadas. Nas épocas em que o trabalho da sua arte escasseava, deitava a mão a trabalhos de canalizador, electricista, cataventos e até reparava bicicletas, alcatruzes e motores de rega. Chegou mesmo a inventar um prodigioso sistema de abertura e fecho de portões, que por não ter registado a patente, veio mais tarde a ser copiado e explorado com grande êxito por uma empresa belga.
 
Excepto a curta presença diária da dona Bemvinda, que lhe tratava da casa e das refeições, vivia só e não se lhe conhecia família. Vivia para o seu trabalho, era pouco falador, porém, houvesse o que houvesse, tivesse muito ou pouco trabalho, chovesse ou fizesse sol, o senhor Ernesto reservava sempre duas ou três horas diárias, dizia ele, para estudo, pesquiza e experimentação na sua oficina, cuja entrada estava permanentemente vedada a todos, e que ele tratava carinhosamente como o seu “laboratório”. Correspondia-se com gente ilustre da Alemanha, Itália, França e Estados Unidos da América, mas não se sabia muito bem com que fim, pois não se lhe conheciam cursos, competências ou aptidões intelectuais, e muito menos conhecimentos de outras línguas. Mas a verdade é que recebia e enviava correio para outros países, sendo muitos os que se roíam de curiosidade para saber a que outras actividades se dedicava, mas acima de tudo, com quem se correspondia, e a propósito de quê. Talvez fosse um daqueles refugiados da guerra, dizia-se à boca pequena. Nos últimos anos a curiosidade da vizinhança agudizou-se, ao ponto de o senhor Castanheira, o velho distribuidor de correio, ser assediado com perguntas sobre a identidade dos destinatários do correio do senhor Ernesto, tendo até havido quem tivesse pedido, insistentemente, para ele deixar dar umas espreitadelas ao conteúdo das missivas, ao que ele respondeu escandalizado, oh minhas senhoras, então não sabem que a correspondência é coisa sagrada e a sua violação um abuso?
 
E assim se foi mantendo o mistério até que um dia, sem que ninguém estivesse a contar com isso, o senhor Ernesto faleceu durante o sono, plácidamente, sem qualquer vestígio de sofrimento. Mesmo antes de começar a ser combinado o seu funeral, logo houve quem corresse a profanar o secretismo do seu “laboratório”. Perante uma dona Bemvinda escandalizada, foi tudo virado do avesso, mas nada de especial foi encontrado. Entre o fraco espólio havia uma bancada, duas cadeiras, as habituais ferramentas de serralheiro, máscaras e ferros de soldadura, um candeeiro, um ou outro trabalho inacabado, uma salamandra com cinzas, provávelmente das tais cartas que recebia do estrangeiro, uma pilha de jornais antigos, um maço de folhas de papel em branco e duas cintas de envelopes, mas nada de livros, nem apontamentos, nem aparelhómetros esquisitos, nem frascos de substâncias, nem almofarizes, nem retortas, nem tubos de ensaio. Quem imaginara aquele retiro como um antro de mistérios mirabolantes e manipulações alquímicas, sentiu-se defraudado. Excepto uma gravura antiga da cidade de Palermo, pendurada na parede da cozinha, na acanhada e espartana residência do senhor Ernesto, também nada havia de excepcional.
 
Três dias depois foi o seu funeral, e mais uma vez o espanto e a incredulidade, percorreram toda a aldeia do Chão de Barrocos, quando apareceram no cemitério cinco estrangeiros, trazidos por dois táxis, que se mantiveram, afastados e silenciosos, a assistir às exéquias. Não trocaram palavra com ninguém, e conforme chegaram, assim se foram embora, sempre silenciosos e taciturnos, ficando a pairar no ar mais outro perturbante mistério: quem seriam e quem os informara, com tão eficaz rapidez, do passamento do senhor Ernesto? Passaram dois meses, e entretanto, alguém que fez questão de manter o anonimato, mandara fazer uma placa para a campa do senhor Ernesto, com as iniciais E.M. e as datas Agosto 1906-Novembro 1989, respectivamente os meses e anos de nascimento e falecimento, encomenda essa que voltou novamente a acicatar a coscuvilhice aldeã e a despoletar novo mistério: embora E.M. fossem as iniciais correspondentes a Ernesto Martins, quem seria a pessoa que sabia exactamente o seu mês e ano de nascimento, e que teve a preocupação de mandar esculpir a placa para perpetuar a sua memória?
 
Estas perguntas ficaram para sempre sem resposta, no entretanto, aconteceu um caso insólito. Um jornalista, tendo tido conhecimento, através de um amigo do Chão de Barrocos, dos misteriosos enigmas que envolviam a vida e morte desse tal serralheiro, resolveu fazer uma pequena investigação para tentar tirar a coisa a limpo. E a primeira coisa que fez foi consultar o obituário do jornal do concelho, deparando-se então com uma anacrónica fotografia do senhor Ernesto. Fotografia que não era a de um octogenário - como era suposto que fosse - mas sim a de um homem trintão, talvez a única que fora encontrada para ilustrar a notícia do falecimento. O tal jornalista, que era um bom fisionomista, à vista do retrato do senhor Ernesto, foi assaltado por aquela sensação de já se ter cruzado com aquele rosto, fosse ele de carne e osso, ou através de uma mera fotografia. Assim, durante três dias, foi revolvendo o arquivo de fotografias do jornal, até que os seus esforços foram compensados. Comparado o retrato do senhor Ernesto com a foto recém-descoberta, que estava devidamente identificada, era óbvio que se tratavam da mesma pessoa. E chegou à seguinte conclusão: O senhor Ernesto Martins, ou apenas E.M., vindo de nenhures para o Chão de Barrocos em 1939, e nascido em Agosto de 1906, era a mesmíssima pessoa que o genial cientista italiano de nome Ettore Majorana, físico teórico responsável pela descoberta dos neutrinos e da fissão nuclear, nascido em 1906 na Catânia, Sicília, misteriosamente desaparecido em 1938, acreditando-se que se tenha auto-exilado, renunciando à glória, descontente com o rumo que o mundo e a ciência estavam a tomar, e cujo paradeiro nunca mais foi descoberto ou revelado.

terça-feira, novembro 13, 2012

Porque Estamos na Mesma Jangada

… e todas as outras que estão convocadas para hoje, tanto na Grécia como em Itália.

«A Europa, toda ela, deverá deslocar-se para o Sul, a fim de, em desconto dos seus abusos colonialistas antigos e modernos, ajudar a equilibrar o mundo. Isto é, Europa finalmente como ética.»   José Saramago

Registo para Memória Futura (74)

«Com as reformas estruturais temos a ambição de ser uma das economias mais dinâmicas da Europa», declarou o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho no encontro empresarial luso-alemão que decorreu em 12 de Novembro de 2012, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, com a presença da chanceler alemã Angela Merkel.

ADENDA - O Banco de Portugal reviu hoje em baixa as suas previsōes para a economia nacional, antecipando uma contracção de 1,6% em 2013, acima do 1% previsto pelo Governo. A nova previsão consta do Boletim Económico de Outono, hoje divulgado pela instituição liderada por Carlos Costa. (jornal PÚBLICO de 13.NOV.2012)

ADENDA 2 - Na conferência de imprensa que se seguiu à reunião dos "Amigos da Coesão", e numa resposta em inglês a uma questão colocada pela imprensa internacional, o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, afirmou hoje, em Bruxelas, que a austeridade é a única forma de ultrapassar a crise num país com um elevado nível de endividamento, como é o caso de Portugal. (DIÁRIO DE NOTÍCIAS em 13.Nov.2012)

ADENDA 3 - O primeiro-ministro Pedro Passos Coelho reagiu hoje aos dados do Instituto Nacional de Estatística que revelam que a taxa de desemprego subiu no terceiro trimestre para 15,8%, um novo recorde, face aos 15% observados no trimestre anterior, afirmando que "o desemprego é um processo pelo qual o país tem que passar". (DIÁRIO ECONÓMICO de 14.Nov.2012)

segunda-feira, novembro 12, 2012

A Chancelera Coiso e Tal

A CHANCELERA Angela Merkel veio até à periferia da sua granja para apreciar como se estavam a portar os mandriões da Lusitânia, e avistar-se durante meia dúzia de horas com alguns dos seus capatazes, contribuindo para a poluição do meio ambiente. Os portugueses, uns com protestos, outros com cartas abertas e artigos de opinião, outros ainda com refinado desprezo, cumpriram razoávelmente a sua obrigação de lhe darem a entender que não é bem-vinda.

Em resumo: ladeada pelo gauleiter Passos Coelho - uma miniatura convencida que é um gigantone - veio tirar o cavalinho da chuva, balbuciando que não tem nada a ver com a austeridade portuguesa, que não é mentora do Coelho, que estamos a reajustarmo-nos muito bem, muito embora a situação seja séria e difícil, mas que tudo indica que estamos preparados para aguentar muitíssimo mais, e coiso e tal. Na verdade, e atendendo às circunstâncias, veio fazer uma visita ao doente e desejar as melhoras.

Entretanto, sob os auspícios da febre leiloeira e privatizadora do património nacional, fica por saber o que é que os empresários alemães vieram cá comprar.

sábado, novembro 10, 2012

Um Sábado com Jorge de Sena

 
Liberdade, Liberdade, Tem Cuidado Que Te Matam

Da prisão negra em que estavas
a porta abriu-se p´ra rua.
Já sem algemas escravas,
igual à cor que sonhavas,
vais vestida de estar nua.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

Na rua passas cantando,
e o povo canta contigo.
Por onde tu vais passando
mais gente se vai juntando,
porque o povo é teu amigo.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

Entre o povo que te aclama,
contente de poder ver-te,
há gente que por ti chama
para arrastar-te na lama
em que outros irão prender-te.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

Muitos correndo apressados
querem ter-te só p´ra si;
e gritam tão de esganados
só por tachos cobiçados,
e não por amor de ti.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

Na sombra dos seus salões
de mandar em companhias,
poderosos figurões
afiam já os facões
com que matar alegrias.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

E além do mar oceano
o maligno grão poder
já se apresta p´ra teu dano,
todo violência e engano,
para deitar-te a perder.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

Com desordens, falsidades,
economia desfeita;
com calculada maldade,
Promessas de felicidade
e a miséria mais estreita.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

Que muito povo se assuste,
julgando que és tu culpada,
eis o terrível embuste
por qualquer preço que custe
com que te armam a cilada.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

Tens de saber que o inimigo
quer matar-te à falsa fé.
Ah tem cuidado contigo;
quem te respeita é um amigo,
quem não respeita não é.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

Poema de Jorge de Sena (1919-1978), escrito em Santa Bárbara (EUA), 4 de Junho de 1974

sexta-feira, novembro 09, 2012

Espírito Santo com Mão de Ferro

A PRESIDENTE do Banco Alimentar Contra a Fome, uma tal Isabel Jonet, já tinha dito, há uns tempos atrás, que o Estado deveria desvincular-se das suas tarefas de apoio social (subsídios de desemprego, rendimento social de inserção, etc.) restringindo a concessão dessas prestações a gente que, oportunísticamente, prefere a delas beneficar, mesmo que exíguas, a ter um emprego (e onde os há?), dando a entender que tal seria uma prática generalizada, o que não é verdade. Ao dizer isto, a tal Jonet que periódicamente nos vem pedir encarecidamente, que façamos a nossa solidária contribuição para aliviar a fome de quem é pobre, anda a ocultar, de uma forma astuta e demagógica, o ónus da proliferação da corrupção e oportunismo das élites e classes altas, transferindo-a para os pequenos ardis de alguns poucos aproveitadores desses benefícios sociais.

Agora volta a insistir - aproveitando os tempos de antena que as televisões lhe concedem - declarando que os pobres, afinal, levam vida de lordes, comem que nem uns alarves, divertem-se à grande e à francesa, pelo que não haverá miséria em Portugal. Afinal, os vasculhadores dos contentores de lixo que todas as noites, a partir das 22 horas, visitam o meu bairro, antes de aparecerem os carros da recolha de lixo, não passam de tarados e masoquistas. Ora não havendo miséria, era aconselhável que a dona Jonet providenciasse para que o seu Banco Alimentar Contra a Fome, em vez de recolher e distribuir alimentos aos tais pseudo-carenciados, sei lá, talvez fosse mais produtivo reconverter a sua actividade, passando a ministrar cursos de culinária.

Mas há mais: há uma grande contradição entre o que esta tal Jonet diz e o que faz, constituindo um grande mistério o que ela pensa alcançar com tão contraditório desempenho, isto é, ir dando esmola aos pobres com uma mão, ao mesmo tempo que os humilha com a outra, estando-se nas tintas para as causas e veículos da pobreza. Só falta sugerir que bons eram os tempos daqueles pobrezinhos de estimação, que recolhiam reverentemente os nossos donativos, cabisbaixos e agradecidos. Ou será que quer substituir o actual e patético Ministério da Solidariedade por um Ministério da Caridade, regulado por uns estatutos repescados do antigo Movimento Nacional Feminino, e orientado pela doutrina de que as barriguinhas devem estar minimamente aconchegadas, para que os espíritos não se revoltem? Já agora, gostava de tirar isto a limpo! É que não gosto de ser enganado por santinhas e sacerdotes, que só agora estão a mostrar o seu verdadeiro rosto, e as linhas com que se cosem.

terça-feira, novembro 06, 2012

O Queixinhas e o Encoberto

O PRESIDENTE "encoberto" Cavaco Silva recebeu António José (in)Seguro para ouvir as suas queixinhas e dar-lhe alguns conselhos. Como é habitual, da audiência pouco ou nada se soube, mas admito que o (in)Seguro tenha voltado a repetir que é adepto de uma austeridade inteligente, isto é, que se reforme o Estado Social mas sem o triturar, ao passo que o "encoberto" Cavaco lhe tenha dito mais ou menos isto: - Olhe, faça como eu: esteja atento, continue a abster-se violentamente, vá dizendo umas coisas, mas mantenha-se distante do Governo. Oh António, não se meta, deixe os rapazes trabalharem!

segunda-feira, novembro 05, 2012

Porque Valoriza o Diálogo...

António José (in)Seguro esteve reunido hoje em São Bento com o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, durante uma hora e cinquenta minutos, para uma "troika de impressões".

sábado, novembro 03, 2012

Oposição Abstencionista

EM RESPOSTA à carta que Pedro Passos Coelho enviou a António José (in)Seguro, exortando-o a colaborar na “refundação” das funções do Estado, com o concurso do FMI e do Banco Mundial, o PS (partido Seguro) respondeu que não será muleta do Governo para aviltar a dignidade nacional, dando cobertura a que estrangeiros decidam que modelo e que medidas o Estado português deve adoptar para atingir esse fim, mas, pelos vistos, também não levantará um dedo que seja para contrariar estas intenções.

Sindicalismo por Impulsos

A CGTP convocou para dia 14 de Novembro de 2012 uma Greve Geral, contra as medidas de austeridade e o empobrecimento que têm sido impostos ao país, e por novas políticas económicas e sociais. A UGT não aderiu a esta jornada de luta argumentando que é uma iniciativa sectária e divisionista, por não ter havido consultas prévias entre ambas as centrais sindicais, muito embora alguns sindicatos afectos àquela estrutura tenham aderido. É sabido que em dias de greve, todos os quadros sindicais, por força das circunstâncias e das tarefas de coordenação que lhes cabem, não têm mãos a medir em termos de trabalho, mas, curiosamente, o secretário-geral da UGT, João Proença, veio agora dizer que também fará greve, mas apenas por solidariedade individual com o seu sindicato, a FESAP, tendo dado indicações para que lhe descontem um dia de salário. Mesmo admitindo que a solidariedade é um elo muito forte e a adesão à greve um direito inquestionável, por mais que me esforce, custa-me a entender que espécie de sindicalismo é este.

sexta-feira, novembro 02, 2012

Do Estado de Direito ao Estado de Sítio

EU JÁ tinha vaticinado que este Governo não iria deixar chegar as eleições de 2015, desperdiçando a grande oportunidade que é ter um Presidente, um Governo e uma Maioria. Contornando a Constituição, e levando em frente o tão ansiado desmantelamento do Estado Social, salta agora à vista que que o objectivo é a "refundação" e "aperfeiçoamento" do Estado Pluto-Cleptocrático (dos ricos e ladrões), sob a coordenação e orientação dos ilustres Ulriches, Salgados, Borges, Ferrazes & Companhia, e com a benção do patriarca Policarpo, que aconselha os portugueses a não fazerem ondas e a terem muito respeitinho com as decisões de quem nos (des)governa, porque a santa madre igreja manda dar a outra face quando somos esbofeteados, e depois recolhermo-nos à protecção de Nossa Senhora e à paz das sacristias.

Quem quiser saúde, educação ou justiça tem que as pagar, quem quiser ter reforma ou subsídio de desemprego tem que ir falar com os bancos e as seguradoras que eles tratam disso, quem tiver fome que vá bater à porta da Caritas ou do Banco Contra a Fome, já que os impostos que pagamos servem apenas para pagar juros e amortizar os empréstimos do Estado, equilibrar as contas públicas, pagar as rendas aos amigalhaços das Parcerias Público-Privadas e pouco mais. Quanto aos salários têm que vir por aí abaixo, porque sem isso, dizem eles, o país não é competitivo nem sustentável, e quanto à Constituição, como disse o banqueiro Ulrich, não passa de uma "ditadura" que impede o país de se “modernizar” ao gosto dos capitalistas e especuladores, e tolhe os movimentos aos seus homens-de-mão da política, que "tratam da saúde" aos portugueses.

Desenganem-se os que pensam que isto é mais uma prova de incompetência, ou uma garotada de Coelhos, Relvas e Gaspares, porque não é. Eles sabem perfeitamente o que querem e para onde vão, e não olham a meios para atingirem os seus fins, mesmo que para isso tenham que tecer, à margem dos programas e promessas eleitorais, uma espécie de golpe de Estado, com o "apoio técnico" do FMI e do Banco Mundial. Ora a pergunta que faço é simples: vamos ficar a ver este banditismo acontecer?

terça-feira, outubro 30, 2012

Declaração de Guerra

O ORÇAMENTO de Estado para 2013 que o Governo apresentou à discussão na Assembleia da República, não é um instrumento para governar o país; nos seus verdadeiros propósitos é uma autêntica declaração de guerra contra os portugueses.

domingo, outubro 28, 2012

Governar à Bolina

Assim como há várias formas de navegar, também há várias formas de governar. Uma delas é à bolina, governando em desacordo com as promessas, contra a opinião pública, aos bordos, vagueando e ziguezagueando. Anuncia-se uma medida, fica-se a ver as reacções, e depois, consoante o grau dos protestos, das duas uma: ou se avança com a medida para a pôr em prática, ou se recua, fazendo-a substituir por outra, tanto ou mais gravosa que a anterior. É a táctica dos recuos simulados, para baralhar e cansar a opinião pública, esvaziando de sentido a contestação.

Como esta táctica acaba por provocar erosão no governo e nos partidos que o apoiam, o Governo socorre-se de umas quantas iniciativas para desintoxicar o ambiente, que desta vez tomou a forma de uma pequena remodelação de secretários de Estado, seguida de umas jornadas parlamentares conjuntas do PSD e do CDS-PP, evento profusamente transmitido em directo para dentro das casas dos portugueses, para dar a ideia de que, custe o que custar, a unidade da coligação está restaurada, todos estão determinados a levar a coisa até ao fim e que tudo corre às mil maravilhas. Ontem, essa jornada parlamentar acabou com uns apelos lancinantes do primeiro-ministro para que o PS (partido (in)Seguro) abandone a ideia da austeridade inteligente e as respectivas abstenções violentas, apoiando a cruzada que o Governo tem em curso, para acabar de espatifar o país e o Estado Social. Entretanto, António José (in)Seguro fez de conta que não percebeu e pediu mais explicações: - Olha lá ó Coelho, explica cá à gente, tim-tim por tim-tim, o que é isso da refundação do acordo com a troika, que permita fazer uma profunda reforma do Estado... Não me digas que estás a pensar numa maioria de 2/3 para acabar - usando a expressão do banqueiro Fernando Ulrich - com a "ditadura" da Constituição?

quarta-feira, outubro 24, 2012

O Que Dizem os Filmes


“Grandes coisas têm pequenos começos”

Citação do robot andróide David (Michael Fassbender) no filme Prometheus de Ridley Scott

terça-feira, outubro 23, 2012

Casa dos Segredos em Versão RTP

«A PRIMEIRA DECISÃO DA NOVA ADMINISTRAÇÃO DA RTP foi contratar uma agência de comunicação. Eu pensava que toda a RTP servia para “comunicar” pelo que não precisava de agências de comunicação para nada. É como se um jornal contratasse assessores de imprensa. A não ser que o jogo seja outro.» 

Post de José Pacheco Pereira no seu blog ABRUPTO em 22 de Outubro de 2012. O título deste post é de minha autoria.

domingo, outubro 21, 2012

Exportações de Vento em Popa

«(...)
Na verdade, o ministro [Victor Gaspar] disse mais: o povo português é o melhor povo do mundo e o maior activo de Portugal. Portanto, do ponto de vista económico, fazem todo o sentido os incentivos do Governo à emigração: qualquer país procura exportar o seu maior activo. Quando se diz que Portugal não é forte na produção de bens transaccionáveis, tal não é verdade. Produzimos povo muito bom (o melhor do mundo, aliás) e exportamo-lo cada vez mais. Não admira. Quem quer povo, em princípio, não se contenta com menos do que o melhor, e isso explica o apetite dos mercados internacionais pela nossa produção de gente.

(...)»

Excerto da crónica de Ricardo Araújo Pereira, intitulada "Miss Povo 2012" e publicada na revista VISÃO de 18 de Outubro 2012. O título do post é de minha autoria.

Meu comentário: Ao Ricardo faltou dizer que este “povo melhor do mundo”, mesmo não sendo exportado, isto é, “convidado” à emigração, enquanto por cá anda a arrastar as botas, também tem os seus simpáticos atractivos, ao ser compelido a despejar os bolsos, generosamente e sem um queixume, ao grito de “mãos ao ar!”, desde que não seja indigente (pois não pode ser taxado quem não tem recursos) ou muitíssimo rico (pois não deve ser taxado quem acautela a sua fortuna, fazendo-a emigrar para os paraísos fiscais, ou então investe de forma tão patriótica e abnegada, tudo o que tem, na reanimação económica da pátria).

sábado, outubro 20, 2012

Manuel António Pina

NO MEIO das desenfreadas pobrezas que nos perseguem, Manuel António Pina (1943-2012) deixou-nos mais ricos.

Caricatura da autoria de Fernando Campos, no seu blog O SÍTIO DOS DESENHOS

quarta-feira, outubro 17, 2012

Mais Conselheiro Borges

DIZ o jornal PÚBLICO que António Borges, o preclaro consultor do Governo para as privatizações veio em defesa do ministro das Finanças para dizer que Víctor Gaspar é "muito bom" e que é uma "sorte enorme" tê-lo como ministro português, isto depois do FMI ter apontado para 2013, uma contracção do PIB que poderá chegar aos 5,3%, ao passo que o tal ministro "muito bom" apenas arriscou um patético e simplório 1%. É caso para dizer que, sorte, sorte teve o Ali Bábá que só teve que enfrentar 40 ladrões...

Entretanto a coligação PSD/CDS-PP, já não foi tão bafejada pela sorte como os ingratos portugueses, pois os malefícios financeiros do sonso Gaspar têm gerado mau ambiente no seio daquela união de facto, que passou a comportar-se como um casal à beira da ruptura. Já não conversam, aparecem de cenho carregado, cada um anda para seu lado, não dormem juntos, rasteiram-se à boca-pequena, mordem-se à socapa, ao mesmo tempo que se vão desdobrando em declarações, dizendo que está tudo bem, que estão de boa saúde, apenas para manter as aparências. Por este andar não falta muito que o Borges seja chamado para dar uma mãozinha à esfrangalhada coligação, desta vez como conselheiro matrimonial.

«Ó Imaginativo Gaspar, Assim Também Eu»

«Não acredito que se possa dizer, como Vítor Gaspar, que não há alternativa, que nada é possível para além deste Orçamento. Se essa é a disposição do ministro, se essa é a melhor coisa que tem para dizer, não demonstra nem grande inteligência política nem grande maleabilidade. Se perante o desafio, que é passar o défice para 4,5%, nada lhe ocorre - mas mesmo nada - senão taxar brutalmente em sede de IRS (justamente os que não podem fugir ao fisco), posso dizer-lhe que assim também eu - e tenho tanto currículo para ministro das Finanças como, digamos, Miguel Relvas.

Os impostos são mortais. São como dizia Benjamin Franklin, a única coisa que, em conjunto com a morte, temos por certo na vida; Churchill acrescentava que não há nada a que se possa chamar 'um bom imposto' e o velho Milton Friedman, da escola de Chicago, alertava que cada vez mais os que trabalham pagam impostos para os que nada produzem. Mas Platão, há 2.500 anos já avisava: os justos pagarão mais impostos do que os injustos, mesmo que tenham o mesmo rendimento.

Esta história não é nova. O que é inteiramente inesperado é que a mão pesada dos Governos - mais à direita ou mais à esquerda - recaia sempre sobre os mesmos: aqueles que se esforçam e trabalham. E que os responsáveis, feitas as contas, ainda nos venham dizer que é essa a única alternativa.»

Comentário de Henrique Monteiro no EXPRESSO online em 16 de outubro de 2012.

Meu comentário: Se é com isto que Victor Gaspar faz conta de retribuir ao país a caríssima educação que teve, cá por mim dispenso tal obséquio.

domingo, outubro 14, 2012

O Cúmulo da Ignomínia e da Pouca Vergonha

O SUBSÍDIO de desemprego passa a pagar 6% de TSU. Com isto o governo de Pedro Passos Coelho faz aquilo que a maioria dos ladrões não fazem: roubar os pobres e necessitados.

quinta-feira, outubro 11, 2012

Vandalismo Neoliberal

AO MESMO tempo que diz querer mitigar o aumento de impostos, o Governo avançou com mais medidas penalizadoras dos trabalhadores, quer ao propor o despedimento de perto de 50.000 trabalhadores contratados a prazo na Administração Pública, como forma de diminuição da despesa pública, potenciando uma baixa generalizada do nível dos salários, tanto no sector público como privado, quer ao fazer subir a idade da reforma na função pública para os 65 anos, já no próximo ano, numa antecipação de dois anos face ao que estava acordado.

Se a primeira é o maior despedimento colectivo de que há memória, já a segunda, bem podem dizer que promove a equidade relativamente à idade de reforma do sector privado, que vai aumentar em dois anos as contribuições para a emagrecida segurança social, a qual se encontra descapitalizada devido aos desvios dos seus fundos para outros fins, pois a verdade é que a medida desrespeita um regime de transição anteriormente acordado, com isso sabotando os projectos de vida de milhares de trabalhadores, e adiando a renovação dos quadros na função pública, com a nefasta consequência de acabar por ser uma medida que vai aumentar o desemprego, restringindo a entrada no mercado de trabalho aos jovens.

quarta-feira, outubro 10, 2012

Alice (Vieira) no País dos Enganos


IMAGINEMOS que Alice ia a passear pelo campo, tropeçou num buraco e foi sugada para o País dos Enganos, onde as bandeiras são hasteadas de pernas para o ar, onde há um Coelho dos Passos, um Gato das Relvas e um Chapeleiro Gaspar que fazem a cabeça em água ao povo das Formigas, mais um Rei de Copas que devora bolo-rei confeccionado pela Cigarra Soprano, e uma Rainha de Copas chamada Conceição, que por tudo e por nada grita "foi engano!", fingindo dirigir uma orquestra de sapateiros anões que tocam rabecão, e que nas horas vagas se dedicam a escolher livros, mesmo sem os lerem, para as criancinhas se cultivarem, cantando um-dó-li-tá e escolhendo à sorte sobre uma lista de títulos...

PASSADO o devaneio da ficção, regressemos à realidade, para constatar que o livro de poesia para adultos "O que dói às aves", de Alice Vieira (mais conhecida pela sua obra dedicada a crianças e adolescentes) foi recomendado pelas sumidades intelectualóides do Plano Nacional de Leitura, para crianças de sete e oito anos. Só depois de a autora ter denunciado, escandalizada, que aquela obra não se destinava a crianças e adolescentes, dado ter um conteúdo dirigido a adultos já bem crescidinhos, a dita foi retirada da lista de obras que o organismo considerava aconselháveis para a iniciação na literatura portuguesa. Isto significa que até no aconselhamento e iniciação literária dos jovens, o país entrou em colapso. Foi um engano, disse a coordenadora, que afinal não coordena coisa nenhuma. É fácil de perceber que o serviço está entregue a uma equipa de trolhas pseudo-intelectuais, que manejam as suas escolhas ao deus-dará, sem sequer se darem ao trabalho de consultar as badanas e contracapas das obras eleitas, quanto mais de as abrir ou soletrar. Isto é o resultado que dá ter ministros da Educação a quedarem-se com sorrisos patetas nos lábios, a verem a banda passar, como se isto não tivesse nada a ver com eles.

domingo, outubro 07, 2012

Prioridades Seguras

«Não sei se consigo, mas ao menos luto.»

Afirmação de António José Seguro, durante uma digressão por França e Alemanha, referindo-se às dificuldades tremendas que tem encontrado para contrariar o programa de austeridade do governo de Passos Coelho, isto depois de se ter abstido de votar as moções de censura do BE e do PCP, e quando ainda não é garantido que vote contra o Orçamento de Estado para 2013.

Assim, não se sabe bem a que tipo de luta Seguro se está a referir, porém, não me admirava que tivesse a ver com a tal proposta para reduzir o número de deputados da Assembleia da República, inexcedível prioridade das prioridades nos tempos que correm, na medida de apenas visará emagrecer a representação parlamentar das oposições incómodas, contribuindo para deixar caminho livre às políticas de ruína e ladroagem desbragada do actual governo PSD/CDS-PP.

Descubram as Semelhanças


«Sei muito bem o que quero e para onde vou.»

Frase do discurso de tomada de posse de António de Oliveira Salazar como ministro das Finanças, em 29 de Abril de 1928.

«Nós sabemos para onde vamos.»

Frase pronunciada pelo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, em 6 de Outubro de 2012, referindo-se às medidas de austeridade do seu governo, como solução para conduzir o país à recuperação económica.

sexta-feira, outubro 05, 2012

Enganos que Falam Verdade

A BANDEIRA nacional é o símbolo da soberania da República, da independência, da unidade e integridade de Portugal é a adoptada pela República instaurada pela Revolução de 5 de Outubro de 1910. Exibida de forma invertida, equivale a um pedido de socorro, significando que o país está sob ocupação. Foi o que aconteceu ao ser hasteada hoje, 5 de Outubro de 2012, última vez em que é feriado nacional.

quinta-feira, outubro 04, 2012

Registo para Memória Futura (73)


O Governo PSD/CDS-PP ignorou deliberadamente estas quatro (4) propostas da CGTP Intersindical, destinadas a alargar às grandes empresas, às grandes fortunas e aos rendimentos do capital, a tão apegoada equidade nos sacrifícios, decorrentes do défice e da dívida soberana, e que permitiria arrecadar 5.965,6 milhões de euros.
Embora já saibamos o que valem as promessas na boca do Governo, este acabou por adiantar, timidamente, que iria (talvez) rever as taxas as transações financeiras, sendo logo apupado com um coro de protestos pelos senhores banqueiros. Nada mais foi preciso para que remetesse para as calendas a tal distribuição equitativa dos sacrifícios. Em compensação, e com os olhos postos em quem trabalha, seja pensionista ou reformado, o Governo - e não esqueçamos que todos eles são gente abjecta e vingativa - foi peremptório: ai não quisesteis o nosso remédio da TSU? Pois então tomai lá disto, para saberem como elas mordem! E assim fez. Aplicou um agravamento generalizado de 35% no IRS, e prometeu uma escalada alucinada no IMI, tudo isto anunciado pela voz pausadamente inexpressiva do ministro Victor “powerpoint” Gaspar, que veio substituir o ausente Coelho, que anda lá por fora em descontraída digressão, isto para não falar no manifesto desprezo pelos cidadãos portugueses, que foi colocá-los no fim da fila das suas preocupações comunicacionais. Entre ajustamentos, reajustamentos e consolidações orçamentais, a verdade é que este bando de malfeitores continua a exercer represálias sobre quem trabalha, levando o país ao desastre e à miséria.

Entretanto, faltou acrescentar a este pacote, um pormenor, que não é tão pequeno como isso. É que até ao final de Dezembro de 2012, os contribuintes portugueses ainda terão que desembolsar 3.4 mil milhões de euros, para saldar (?) a grande falcatrua que foi o caso BPN, o que significa, contas feitas, que os contribuintes irão ser espoliados de 6.5 mil milhões de euros, mais juros e contingências, tudo em benefício de uns quantos facínoras que se bamboleiam por aí, mais os novos proprietário que ficaram com o “bem-bom” do que restou, por uns simpáticos 40 milhões de euros. É obra! É bom relembrar, conforme o fez o jornal PÚBLICO, que a falência do BPN foi provocada por uma megafraude que teve repercussões políticas, pois o banco tinha políticos no activo, nomeadamente da esfera do PSD, entre os seus clientes, accionistas ou nos seus órgãos sociais. Os casos mais emblemáticos são os de Oliveira Costa e do ex-ministro de Cavaco Silva e ex-conselheiro de Estado Manuel Dias Loureiro. Quanto a Cavaco Silva, é bom lembrá-lo, também provou do pote, gostou e ficou a lamber os beiços.
O que acontece é que este episódio do BPN tem a ver (e muito) com todos os assaltos que são perpetrados ao bolso dos portugueses, apesar de haver a intencional preocupação de o descontextualizar da crise portuguesa. Por essas e outras, e bem vistas as coisas, eu acho que os portugueses, independentemente da Greve Geral de 14 de Novembro, têm razões de sobra para se indignarem, e deviam voltar à rua já hoje.

ADENDA - Depois de o Governo ter andado a repetir, dia sim, dia sim, que os portugueses andaram a fazer vida de lordes, a gastarem à tripa forra, mais do que permitiam as possibilidades do país, isto apesar de terem os mais baixos salários da Europa, foi a vez do patriarca Policarpo vir botar faladura e dizer que os portugueses são também parte responsável pelo descalabro em que se encontra o país. Na sua magnânima avaliação, disse ele, que tudo isto é resultado de exigirmos do Estado, mais do que ele pode dar, mas não referiu a obrigação que cabe a esse mesmo Estado de bem administrar e melhor redistribuir. Esqueceu-se de assinalar e enumerar a corja de bandoleiros que desviaram e gastaram em beneficio dos outros bandos que por aí andam, o que por direito pertencia aos supostos mal comportados e gastadores contribuintes. Sua Eminência devia persignar-se, confessar-se, recitar um milhão de pais-nossos como penitência, depois recolher-se em retiro espiritual, e deixar de dizer homilias recheadas de patacoadas, que só ofendem quem está desempregado, quem tem que sobreviver com salários miseráveis ou anda a respigar nos caixotes do lixo.

quarta-feira, outubro 03, 2012

A Coerência da Incoerência

EM 1 de Outubro de 2012, o vice-presidente da bancada do Partido Socialista José Junqueiro acusou Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, de andar de "mão dada com a direita", a propósito de aquele ter afirmado que o PS se demitiu de ser força de oposição à coligação PSD/CDS-PP. Disse isto sem se rir, e foi ainda mais longe, acusando Jerónimo de Sousa de ser um dos responsáveis por existir actualmente um governo de direita, na medida em que ao votar ao lado da direita, contra o PEC IV (Plano de Estabilidade e Crescimento) - produto de um suposto governo de esquerda, apenas no espírito mas não de facto - levou a que José Sócrates se demitisse.

Dois dias depois, em 3 de Outubro de 2012, o PS (partido submisso) do mesmo José Junqueiro, ancorado num pretenso sentido de responsabilidade por ter subscrito o memorando da troika, por se considerar oposição responsável e alternativa ao Governo, e rejeitar “populismos fáceis”, declarou que se irá abster (expressão máxima de coerente incoerência) na votação das Moções de Censura do PCP e do BE, dirigidas contra o Governo da coligação PSD/CDS-PP, as quais irão ser discutidas e votadas na sessão da Assembleia da República de 4 de Outubro de 2012.

A ver vamos o que resultará desta estrábica “lucidez” política.

terça-feira, outubro 02, 2012

Gente Sinistra e Perigosa (3)

OS PACOTES de austeridade, bem como o futuro de Portugal, decidem-se e são aprovados em Bruxelas, e os bandoleiros do Governo de Passos Coelho escondem-se e calam-se, já nem se dignando informar os portugueses, de quais as novas desgraças que planearam e contrataram.

BE e PCP respondem com moções de censura, ao passo que o PS (partido submisso) continua a sentir-se confortável com a sua teoria da "austeridade inteligente", no "sentido de responsabilidade", e a refugiar-se nas "abstenções violentas", provávelmente à espera de entrar para o tal governo de salvação nacional, de iniciativa presidencial, para continuar a ajudar à missa.

segunda-feira, outubro 01, 2012

Regressem ao Sítio de Onde Vieram!

«Estado deu benefícios fiscais a empresas de 2,6 mil milhões em dois anos. Valor dos benefícios fiscais a empresas em 2010 e 2011 equivale a mais de metade da austeridade exigida em 2013.

Os benefícios fiscais concedidos pelo Estado português ascenderam a 2,6 mil milhões de euros, entre 2010 e 2011. Os incentivos fiscais concedidos em dois anos representam assim mais de metade do esforço de consolidação previsto para o próximo ano que, segundo o ministro das Finanças é da ordem dos 4,9 mil milhões de euros para atingir a meta do défice orçamental de 4,5%.

No ano em que Portugal pediu a assistência financeira internacional foram até concedidos benefícios em sede de IRC a mais 3.353 empresas, ainda que a despesa fiscal total, no final desse ano, tenha registado uma diminuição de 133 milhões de euros face a 2010.

A publicitação da lista com as empresas que tiveram benefícios fiscais e respectivos montantes referentes a 2011, no Portal das Finanças, surge um dia depois de ter sido publicada informação relativa a 2010. No ano passado, os benefícios fiscais somaram 1.237 milhões de euros, menos 9,7% face à despesa fiscal do ano anterior que foi de 1.370 milhões de euros. Entre as duas listas mantêm-se uma constante: a maior fatia de benefícios concedidos pelo Estado continuou a ir para a Zona Franca da Madeira.

Zona Franca absorve maiores benefícios.

Em 2011, o universo de empresas abrangidas somou as 14.189 as entidades, mais 3.353 face a 2010.

Na lista disponibilizada, as principais beneficiárias continuam na Zona Franca da Madeira. No topo da lista, surge a CSN Europe Lda que recebeu 187 milhões de euros, seguindo-se Namisa Europe, Unipessoal Lda com 120 milhões de euros e em terceiro lugar vem o Millennium BCP Participações SGPS, Sociedade Unipessoal Lda, também da Zona Franca, com incentivos fiscais de 98,3 milhões de euros. Em quarto lugar da lista de entidades que tiveram mais benefícios fiscais surge a Caixa Económica Montepio Geral com 53,4 milhões de euros.

Segundo os dados das Finanças, no top 50 dos incentivos fiscais constam empresas como a VW AutoEuropa, a Efacec Capital SGPS, a Corticeira Amorim SGPS, a Universidade Aberta, a SIBS SGPS, GalpEnergia e Pingo Doce Distribuição Alimentar. Todas acima dos três milhões de euros de benefícios em sede de IRC.»

Notícia de Lígia Simões e Paula Cravina de Sousa, publicada no DIÁRIO ECONÓMICO on-line de 28/09/12 - 17:30

Meu comentário: Ver os apoios de recapitalização que a banca tem recebido com as tranches da troika, não estarem a ser aplicados no financiamento das empresas e da economia em geral, saber que o Governo não extinguiu a Fundação Social Democrata da Madeira, que está a ser investigada pelo Ministério Público, no âmbito de uma generalizada infecção de corrupção e desvios de dinheiros públicos, saber que a Segurança Social apresenta um défice de 694 milhões, depois das transferências de fundos de pensões da banca, destinadas a salvar as contas de 2011, suspeitar que o Governo tem em estudo um corte generalizado no subsídio de desemprego, bem como estar a preparar uma proposta de aumento de impostos para o próximo ano, incluindo o IRS, para compensar a devolução parcial dos subsídios de Natal e de férias retirados ao sector público e pensionistas, ao mesmo tempo que mantem simbólicamente colectadas, quando não fiscalmente ignoradas, as grandes fortunas e os lautos rendimentos de capital, ouvir o economista, eminente cavaquista e também conselheiro de Estado Victor Bento, que já em 2009 defendia a descida dos salários, reclamar agora que a idade de reforma deve ser alargada, para que os portugueses trabalhem até tombarem para o lado, para depois ouvir Passos Coelho, e mais uns quantos facínoras da política, dizerem com aquela conhecida expressão de falso martírio e comiseração, que os sacrifícios estão a ser partilhados por todos e que não há alternativas, dá vontade de dizer: - Façam meia volta e regressem ao sítio de onde vieram!