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Caros compatriotas, senhoras e senhores:
No fecho deste caderno, e à laia de balanço, só há duas maneiras de avaliar a obra de um governo: ou mencionando as promessas que não foram cumpridas, o que é uma forma de apreciar a governação pela negativa, logo ardilosa, e sujeita a serem invocadas as desculpas do costume, ou pelo contrário, aquilatando a obra produzida. No presente caso, nem valeria a pena adiantar mais nada (não fosse a necessidade de compor estas linhas), tão excepcional e altamente meritório foi o desempenho do elenco liderado por Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates, cuja actuação se pautou por uma actuação inovadora, a que os portugueses não estavam habituados, e que no primeiro impacto, os deixou, umas vezes chocados, outras vezes indiferentes ou na expectativa.
Sem pretender obscurecer a tenacidade da liderança do primeiro-ministro, é de toda a justiça louvar a excepcional qualidade dos seus ministros, pois se não o fizéssemos, correríamos o risco de praticar a mais ignóbil das injustiças, isto é, deixar na penumbra as excelsas qualidades e competências daqueles actores governativos, tantas vezes vilipendiados e incompreendidos, que não só da lei da morte se libertarão, por obras e actos valorosos em prol da democracia e do bem-estar dos portugueses, como merecem ser referenciados e citados nos futuros manuais da boa governação. Por falta de espaço e não por vontade própria, referirei apenas os mais notáveis, tais como Correia de Campos, Maria de Lurdes Rodrigues, Mário Lino, Rui Pereira, Manuel Pinho, Jaime Silva e Vieira da Silva, isto para só falarmos no núcleo duro, isto é, os que dando o peito às balas da incompreensão, mais se destacaram nesta legislatura, marcando-a de forma inolvidável, e mudando o rosto do país.
Precisemos: Correia de Campos levou a cabo a mais extraordinária revolução nos serviços de saúde de que há memória, eliminando tudo o que era supérfluo, e criando novas valências, como sejam as ambulâncias-maternidade. Resumindo e concluindo: quem quer saúde paga-a, e quem quiser serviços de saúde primários, ou tem cartãozinho, ou nada feito. Mais simplicidade, transparência e justiça social é impossível! Por sua vez, Maria de Lurdes Rodrigues conseguiu finalmente reduzir o ensino à sua expressão mais simples, isto é, os alunos obtêm diplomas sem necessitarem de exibir aproveitamento ou sequer de irem às aulas, ao passo que os professores, quase foram reduzidos ao simbólico papel de baby-siters, entertainers e bombos-da-festa, sem competências especiais e facilmente trituráveis. Mário Lino, ministro das obras públicas mas também com um notável jeito e apetência para desencravar fotocopiadoras, notabilizou-se por possuir excepcionais qualidades de ilusionista, transformando num deserto a margem sul do Tejo e declarando que, ipso facto, “jamais” (em francês pronuncia-se jámé) aí seria construído um aeroporto. Quanto a Manuel Pinho, reduziu a economia e a endémica crise portuguesa à sua expressão mais simples, isto é, à simbólica e merífica luz ao fundo do túnel, também conhecido pelo túnel do nosso descontentamento, o qual não deve ser confundido com o caprichoso túnel do metro do Terreiro do Paço, inaugurado há dias, depois de gastos 300 milhões de Euros em estudos, betonilha e cimento, e com a promessa de que é cem por cento seguro. O senhor Manuel ficou com a imagem levemente desgastada e foi olhado com desdém, quando convidou os chineses a investirem em Portugal, ostentando como aliciante factor preferencial o nosso baixo nível salarial, verdade que nos continua a deixar envergonhados, mas que já se tornou corriqueira nas tribunas internacionais. De Jaime Silva pouco há a acrescentar; se já não agricultura nem pescas, este ministro é perfeitamente desnecessário, apesar de serem de antologia as suas qualidades oratórias e fotosintéticas, o que não justifica, de todo em todo, que o primeiro-ministro ainda não o tenha dispensado. Quanto a Vieira da Silva, um socialista dos quatro costados, com créditos firmados à custa da sua militância no ministério do trabalho e da solidariedade, e que conseguiu reduzir dramática e drasticamente o desemprego de longa duração, ganhou a sua coroa de glória ao instituir, para benefício dos trabalhadores, um aliciante “plano de poupança-reforma”, que até pode ser transaccionado como qualquer torradeira eléctrica em segunda-mão, oferecido como prenda de casamento ou herdado como qualquer par de botas. Quanto ao juiz Rui Pereira, o novo homem das polícias, começou finalmente a rentabilizá-las em pleno, diversificando as suas missões, tais como avisar os sindicalistas de que não devem fazer ondas, e correndo a desbaratar os piquetes de greve durante as paralisações, à mistura com a distribuição de umas cirúrgicas e democráticas bastonadas. Segue-se um outro, de que não me lembro o nome, que afirmou a pés juntos, com muita oportunidade e carradas de razão, que Portugal não se podia desenvolver, se ficasse limitado, nas comunicações aeronáuticas, ao actual aeroporto de Lisboa.
Portanto, meus estimados amigos, com ministros deste calibre, quando se fala em remodelação, só se for do mobiliário dos gabinetes, porque quanto a figuras, nem pensar!
Caras amigas e amigos, companheiros de jornada:
Poderia gastar todo o tinteiro da minha impressora e nunca conseguiria abarcar tudo o que marcou, de forma positiva e indelével, entenda-se, a acção deste governo. Mas deixar de fora algumas coisitas mais polémicas e terra-à-terra, poderia levar-vos a crer que a minha prosa era um exercício de bajulação, ou na pior das hipóteses, tinha sido encomendada. Mas não, e vamos às verdades nuas e cruas! Se quanto ao resto do elenco, nada há a assinalar, persistem algumas excepções, a propósito de dois ou três ministros e quatro ou cinco secretários de estado que parecem usar e abusar do coito interrompido, da ejaculação prematura e mais umas quantas paneleirices. Já os conhecemos de ginjeira! Não passam despercebidos, pois quando aparecem na TV com o nó da gravata à banda ou a maquilhagem esborratada, é certo e sabido que em vez de estarem a rascunhar decretos e portarias, com os olhos postos no país e nas suas carências, andaram com o olho noutro lugar, a chafurdar por poeirentos e pecaminosos economatos, condutas de ar condicionado, esconsos e retretes ministeriais. E é tudo. Fiquemos por aqui que as crianças ainda estão a pé, e porque a governação com maiúsculas não dá importância a estes acidentes de percurso. Voltemos, portanto, ás múltiplas iniciativas, reformas e inovações que mudaram o rosto de Portugal, beneficiando várias áreas da administração pública e melhorando substancialmente as condições de vida dos portugueses, São eles o Simplex, do Choque Tecnológico, a eficácia das Juntas Médicas, a Empresa na Hora, o balcão Perdi a Carteira, e um INEM melhorado e sempre em cima do acidente. Porém, nada se compara com a drástica redução dos efectivos da administração pública, e do substancial corte nas suas escandalosas remunerações, privilégios e benefícios, os quais continuam a indignar a grande maioria dos portugueses honestos e trabalhadores, enquanto o governo não tiver a coragem, a bem ou a mal, de lhes pôr termo. Em última análise, te mesmo que não surjam resultados práticos, toda esta acção governativa, portadora de uma mística própria, tem por objectivo exercer “pedagogia” sobre a plebe e evitar a sua “contaminação e propagação” pelas heresias políticas de antanho, que teimam em não se modernizarem.
Caros compatriotas, senhoras e senhores:
Adoptando como sua a sigla “menos Estado para termos um melhor Estado”, este governo da todo-poderosa maioria absoluta do PS (Pinto de Sousa), acabou de provar ser possível levar à prática e concretizar o que os outros partidos à sua direita, nomeadamente o PSD e CDS, nunca foram capazes, não quiseram ou não tiveram coragem de levar à prática. Quando Pinto de Sousa disse ao “Expresso”, “a perspectiva socialista é pôr o Estado à disposição dos mais pobres”, logo houve quem viesse acrescentar, com o desprezível sarcasmo do costume, que para se chegar aí, torna-se necessário empobrecer primeiro todo o país de lés-a-lés, para que depois se passe à prática política. Enfim, podres de espírito! Não percebem que se fecham centenas de escolas, limita-se o investimento na cultura, exclui-se e reduz-se a comparticipação de medicamentos, fecham-se os SAP, maternidades e urgências, as cirurgias, óculos e próteses auditivas ficam em lista de espera, mas toda essas restrições outro objectivo não visam senão a redução do défice das contas do estado, com vista à aplicação prática do modelo civilizacional de G.W.Bush, também conhecido por “Destruição Criativa”, que tantos e tão bons resultados tem apresentado. Em compensação, no meio deste colossal trabalho de reconstrução (e sempre com os olhos postos em 2009), distribuem-se computadores às criancinhas e telemóveis aos idosos, aos primeiros para estimular o entusiasmo pela aprendizagem e as novas tecnologias, e aos segundos para atenuar o isolamento e a solidão. Como diria o meu tio Orlando, nunca vi nada assim! Tanta é a força e determinação deste governo em modernizar Portugal e impulsioná-lo rumo ao futuro, que ou deixamos de ser a cauda da Europa ou a Europa acaba por ficar sem cauda. No entanto, seja com cauda ou sem ela, o certo é que a Europa nunca prescindirá de ter a sua cloaca, e aí é preciso tomar precauções redobradas.
Caros compatriotas, amigos e inimigos:
O tempo urge e as verdades têm que ser ditas com todas as letras e ditongos. Perdoem-me os que estão para aí, de caneta em riste e sobrolho carregado, na expectativa de um deslize, não de mim, humilde cronista, isento e imparcial, mas deste governo de todos nós. Cuidem-se, que não esperam pela demora! Alienar o património nacional e despedir funcionários públicos, não podem ser consideradas “maldades”, antes são a expressão acabada do “socialismo moderno” e a nova forma de aligeirar a colossal carga e responsabilidade que o Estado tem na gestão da “coisa” pública, ao mesmo tempo que necessita de angariar receitas para pagar aos “boys” que tão abnegada e voluntariosamente se colocam aos serviço da comunidade. No entanto, duas coisas há, que sempre me acontecem, me fazem aflorar as lágrimas aos olhos: uma são as irrepreensíveis sessões de “jogging” do Pinto de Sousa, ladeado pelos seus seguranças, quando se desloca ao estrangeiro; outra é o hábito de dar por encerradas as negociações com os sindicatos, antes de elas terem começado. Uma e outra acho que deveriam ser registadas como imagens de marca, tal é o seu impacto junto da opinião pública, logo, não é por acaso que há quem considere este governo tão saudável como o azeite virgem e tão antiséptico como uma embalagem familiar de Betadine.
Caros compatriotas, queridos amigos, senhoras e senhores:
Esta minha avaliação vai chegando ao seu termo, mas não irei embora sem dedicar algumas palavras às adversidades e aos críticos. Quanto às adversidades, sejam elas o processo da Casa Pia ou do Apito Dourado, a operação Furacão, o caso Portucale, a bronca da Universidade Independente, especializada no fabrico de doutores e engenheiros de contrafacção, os casos de corrupção da Administração Fiscal e da GNR, ou a história mal contada dos Helicópteros, dos Submarinos e dos fardamentos para a Polónia, tudo isso são trocos e ninharias, se os compararmos o colossal trabalho deste governo, em proveito da moralização da vida pública, que todos os seus membros, sem excepção, têm levado a cabo, contra os privilégios e maus hábitos instalados. Quase três anos passados sobre o começo deste consulado, só uma pergunta martela permanentemente no meu espírito: porque é que o povo português ainda não se mobilizou, maciça e espontaneamente, para louvar o primeiro-ministro PS (Pinto de Sousa), enaltecendo e aplaudindo a sua ousada e radiosa governação, tal como se faz na Coreia do Norte com o “querido líder”, ou na Venezuela com o “chavezito”? Só encontro uma resposta capaz e do meu agrado: o povo prefere erigir-lhe altares domésticos e dedicar-lhe orações, como se de um santinho se tratasse, do que meter-se em confusões de manifestações que, por motivos de segurança ainda podiam ser mal interpretadas.
Quanto aos críticos, uns mais habituais que outros, uns mais acintosos que outros, pouco ou nada há a dizer. O provérbio lá está para repor a verdade, quando diz que “os cães ladram e a caravana passa”. Esses fidalgos e cavalheiros que andam por aí a dizer que há dinheiro para tudo, tais como cimeiras e grandes jantaradas, presidências, museus Berardos, comissões, mordomias, frotas de automóveis de topo de gama, assessorias e reformas douradas, para ministros e gestores públicos, no activo ou reformados, menos para gastar com os portugueses, deviam ser escorraçados ou banidos. Além de comprometerem a idoneidade de quem anda a hipotecar as suas energias a bem da nação, não há nada pior para minar o moral e a auto-estima dos povos, que os boatos e as falsas declarações. Eles, esses críticos, não passam de hereges e pecadores pouco eficazes que não conseguem enganar a prova do algodão. Vejam lá o desplante! Todos eles (os abjectos críticos), seja por ideias, palavras ou actos, demonstraram estar dessincronizados com a grande realidade que é a missão altamente patriótica, deste omnipresente e omnisciente governo socretino, que em tão boa hora veio orientar, no bom caminho e sem tabus, os destinos de Portugal. Para uma completa e eficaz redenção, aos renegados apenas lhes resta clamar por piedade e misericórdia, cantarolando os acordes do Gladiador, antes de serem lançados aos leões. Na altura própria, deviam ter-se lembrado da celebrada advertência do estimado Jorge Coelho, quando disse que “quem se mete com o PS leva!”. Leva onde? Disseram alguns curiosos… Agora já é tarde para perguntar!