O
Meu caro Luís:
Sei o quanto passaste a abominar o uso do tabaco, a partir do momento (e já lá vão uns anos) em que deixaste de fumar. Comigo foi diferente, já te tinha contado, mas volto a repetir. Para quem quiser acreditar, foi na véspera de 25 de Abril de 2003 que consumi o último maço de cigarros que comprei, já lá vão, portanto, quase cinco anos. Até lá, o cigarro sempre tinha sido um grande amigo, acompanhou a minha vida de trabalho, as minhas inquietações e angústias, uns a ajudarem-me a consolidar ideias, muitos deles a queimarem-se no cinzeiro, todos a consumirem-me uns quantos anos de vida possível, segundo rezam os estudos dos especialistas. No entanto, no meu tempo de fumador compulsivo, nunca fumei para cima do vizinho do lado, no restaurante ou em qualquer outro lugar, e quando me pediam para apagar o fumegante companheiro, cumpria sem hesitar o pedido, graças ao cházinho com que a minha mãe me instruiu desde pequenino. Hoje, passada a grande euforia e alguns problemas respiratórios, limito-me a degustar (sem ingerir o fumo) um “puro” cigarrito cubano, uma dádiva da natureza, qual miniatura de uma vulgar cigarrilha, encerrando com “chave ouro” algumas refeições.
Chegou agora a socretina lei antitabágica. Tudo aconselhava que me deixasse ficar quieto e calado, interiorizando os meus grandes pecadilhos de outrora, e camuflando sorrateiramente as minhas reincidências presentes. Mas não! Embora concordante com a necessidade de uma lei sobre o consumo do tabaco, não pactuo com os termos fundamentalistas da presente. Como quase todas as iniciativas deste governo, e sob o pretexto de uma suposta qualidade de vida, ela quer criar conflitos na sociedade, acirrar ânimos e colocar pessoas umas contra as outras, distraindo a nossa atenção de outras “maldades” com que nos querem brindar. Não pretende regular, sem ofender, antes confrontar e desenvolver novos tipos de inimigos, segregando-os e expatriando-os da comunidade.
Como diz Miguel Sousa Tavares no Expresso de 5 de Janeiro de 2008, com a acutilância que se lhe conhece, que “… Com a entrada em vigor da famigerada lei 37/07 – a lei antitabagismo -, passa a vigorar entre nós uma lei do terror e o país reencontra-se com a sua velha vocação de proibicionismo, delação e repressão dos direitos individuais. Tudo para perseguir um vício que, note-se, é, todavia, legal e fomentado pelo próprio Estado. O Estado financia, com dinheiros europeus, o cultivo do tabaco; o Estado produz e comercializa cigarros, em regime de quase monopólio, através da empresa pública Tabaqueira; o Estado taxa, de seguida, a venda de cigarros (que ele próprio promove), constituindo essa uma das suas principais fontes de receita. E, no fim do processo, o mesmo Estado, movido pela nobre intenção de defender a saúde pública, decreta que quem fuma deve ser perseguido, denunciado e multado em todo o lado. Qualquer “dealer” de drogas duras tem mais credibilidade moral do que o Estado português....”
Ou ainda, como disse Vasco Pulido Valente, no jornal Público de 4 de Janeiro de 2008, que “… depois do tabaco, virá o álcool, o sal, o açúcar, a obesidade e até, como ontem com espanto ouvi na televisão, taxas punitivas no serviço nacional de saúde para quem, alucinadamente, persista em se pôr em “perigo.
…”
Caro Luís: tenho a certeza que a Humanidade sempre conseguirá viver livre e responsável, em toda a sua plenitude e diversidade, desde que todos, mutuamente, se saibam respeitar, e não apenas porque agora, resolveu sair da toca um exército de sumo-higienistas, disfarçados de legisladores.
Meu caro Luís:
Sei o quanto passaste a abominar o uso do tabaco, a partir do momento (e já lá vão uns anos) em que deixaste de fumar. Comigo foi diferente, já te tinha contado, mas volto a repetir. Para quem quiser acreditar, foi na véspera de 25 de Abril de 2003 que consumi o último maço de cigarros que comprei, já lá vão, portanto, quase cinco anos. Até lá, o cigarro sempre tinha sido um grande amigo, acompanhou a minha vida de trabalho, as minhas inquietações e angústias, uns a ajudarem-me a consolidar ideias, muitos deles a queimarem-se no cinzeiro, todos a consumirem-me uns quantos anos de vida possível, segundo rezam os estudos dos especialistas. No entanto, no meu tempo de fumador compulsivo, nunca fumei para cima do vizinho do lado, no restaurante ou em qualquer outro lugar, e quando me pediam para apagar o fumegante companheiro, cumpria sem hesitar o pedido, graças ao cházinho com que a minha mãe me instruiu desde pequenino. Hoje, passada a grande euforia e alguns problemas respiratórios, limito-me a degustar (sem ingerir o fumo) um “puro” cigarrito cubano, uma dádiva da natureza, qual miniatura de uma vulgar cigarrilha, encerrando com “chave ouro” algumas refeições.
Chegou agora a socretina lei antitabágica. Tudo aconselhava que me deixasse ficar quieto e calado, interiorizando os meus grandes pecadilhos de outrora, e camuflando sorrateiramente as minhas reincidências presentes. Mas não! Embora concordante com a necessidade de uma lei sobre o consumo do tabaco, não pactuo com os termos fundamentalistas da presente. Como quase todas as iniciativas deste governo, e sob o pretexto de uma suposta qualidade de vida, ela quer criar conflitos na sociedade, acirrar ânimos e colocar pessoas umas contra as outras, distraindo a nossa atenção de outras “maldades” com que nos querem brindar. Não pretende regular, sem ofender, antes confrontar e desenvolver novos tipos de inimigos, segregando-os e expatriando-os da comunidade.
Como diz Miguel Sousa Tavares no Expresso de 5 de Janeiro de 2008, com a acutilância que se lhe conhece, que “… Com a entrada em vigor da famigerada lei 37/07 – a lei antitabagismo -, passa a vigorar entre nós uma lei do terror e o país reencontra-se com a sua velha vocação de proibicionismo, delação e repressão dos direitos individuais. Tudo para perseguir um vício que, note-se, é, todavia, legal e fomentado pelo próprio Estado. O Estado financia, com dinheiros europeus, o cultivo do tabaco; o Estado produz e comercializa cigarros, em regime de quase monopólio, através da empresa pública Tabaqueira; o Estado taxa, de seguida, a venda de cigarros (que ele próprio promove), constituindo essa uma das suas principais fontes de receita. E, no fim do processo, o mesmo Estado, movido pela nobre intenção de defender a saúde pública, decreta que quem fuma deve ser perseguido, denunciado e multado em todo o lado. Qualquer “dealer” de drogas duras tem mais credibilidade moral do que o Estado português....”
Ou ainda, como disse Vasco Pulido Valente, no jornal Público de 4 de Janeiro de 2008, que “… depois do tabaco, virá o álcool, o sal, o açúcar, a obesidade e até, como ontem com espanto ouvi na televisão, taxas punitivas no serviço nacional de saúde para quem, alucinadamente, persista em se pôr em “perigo.
…”
Caro Luís: tenho a certeza que a Humanidade sempre conseguirá viver livre e responsável, em toda a sua plenitude e diversidade, desde que todos, mutuamente, se saibam respeitar, e não apenas porque agora, resolveu sair da toca um exército de sumo-higienistas, disfarçados de legisladores.