quarta-feira, novembro 12, 2008

Socialistas e Socialismo

S
Dois equívocos e uma grande conclusão

Publicado por F. Penim Redondo no DoteCome_Blog a propósito do artigo de António Barreto no Público de Domingo, Novembro 09, 2008:

"Estado e socialismo não são sinónimos. Há quem esqueça esta banalidade, mas é por vezes preciso lembrar. Não são. Pode haver, há Estado, muito Estado, até Estado a mais, sem socialismo. O que não há é socialismo sem Estado."

Primeiro equívoco. Não está provado que o socialismo implique muito Estado, ou mesmo pouco. Marx, um tipo que se ocupou deste assunto com paixão, achava que o desaparecimento do Estado tal como o conhecemos era condição para a consumação do "verdadeiro socialismo".

"Além do Estado, o outro princípio primordial era a propriedade. Os socialistas perfilhavam vários conceitos, desde a propriedade dos meios de produção à nacionalização dos sectores estratégicos da economia. Dado que a propriedade era o alicerce do capitalismo, o seu derrube exigia a expropriação e a nacionalização."

Segundo equívoco. Já se provou que a propriedade estatal dos meios de produção não é condição suficiente para o sucesso do socialismo (vidé URSS e China). Também não está provado que seja condição necessária (o capitalismo não vingou à base da "nacionalização" dos feudos, em vez disso criou uma "economia nova"). O alicerce do capitalismo é o assalariamento, por todo o mundo, e não a propriedade dos meios de produção que aliás sempre existiu em todos os sistemas económicos, fundados na desigualdade, que o precederam.

"Os socialistas louvam o Estado, murmuram de contentamento com as nacionalizações americanas, as de Gordon Brown, as portuguesas que vêm a caminho e as espanholas prometidas. Os socialistas já não estão convencidos de que esta crise é a do fim do capitalismo e a da vitória do socialismo. É a vitória do Estado, em qualquer caso. Não perceberam é que se trata da derrota final do socialismo. Já não é alternativo. Já não tem modelos a defender. Os socialistas interessam-se agora pela vida privada dos cidadãos, por causas culturais e pelos costumes. Casamento e divórcio, aborto e adopção, eutanásia e suicídio, homossexualidade e droga são as causas dos socialistas e de muitas esquerdas. A derrota dos socialistas é a que os transforma, não em coveiros, mas em curandeiros do capitalismo, em ajudantes dos que querem refundar o capitalismo, em decoradores que lhe querem dar um rosto humano. Uma espécie de serviço de assistência, de garagem ou de cuidados intensivos do capitalismo. Se existe uma derrota final, é bem esta."

Esta sim, é uma brilhante conclusão... Assino por baixo.

TAMBÉM SUBSCREVO

Provocações

“…
Os mísseis que a América instalou na Polónia e na República Checa têm ainda uma ténue justificação estratégica, a que Moscovo com o tempo talvez se resignasse. A inclusão da Geórgia e, eventualmente, da Ucrânia na NATO é um perigo inaceitável e, ainda por cima, uma ofensa.

O anúncio de Medvedev, na semana da eleição de Obama, de que a Rússia irá instalar os seus mísseis no enclave de Kalininegrado é um aviso, e um aviso sério. Ou Obama percebe os limites da tolerância da Rússia ao “cerco” do Ocidente e se coíbe de a provocar, ou recomeça uma hostilidade drástica não muito diferente da guerra fria.
…”
Vasco Pulido Valente in “Uma nova guerra fria?”, jornal PÚBLICO de 9 Novembro 2008

Boa Noite, e Boa Sorte

B
Título: Boa Noite, e Boa Sorte
Título original: Good Night, and Good Luck.
Ano: 2005
Realizador: George Clooney
Argumento: George Clooney & Grant Heslov
Género: Reconstituição histórica

Elenco:
Jeff Daniels, David Strathairn, Alex Borstein, Rose Abdoo, Peter Martin, Christoph Luty, Jeff Hamilton, Matt Catingub, Tate Donovan, Reed Diamond, Matt Ross, Patricia Clarkson, Robert Downey Jr., George Clooney

Duração:93 min
País: USA, UK, França e Japão
Idioma: Inglês
Cor: Petro e branco
Formato:1.85 : 1
Som: DTS, Dolby Digital, SDDS
Locais de filmagem: CBS Television City - 7800 Beverly Blvd., Fairfax, Los Angeles, California

Focando uma época muito particular da história dos E.U.A., entre 1950 e 1956, quando o senador Joseph Raymond McCarthy aterrorizou todo o país, arrastando muitos cidadãos, patriotas, sérios e respeitáveis, para o circo das abomináveis sessões da comissão senatorial para a investigação das actividades anti-americanas, este filme, excepcionalmente bem representado e realizado, constitui um libelo que todos os jornalistas deveriam ter sempre presente. Foi uma época em que no país das liberdades, e em nome da liberdade, o dito senador, destilando o seu veneno, transformando a delação em virtude, espalhando o medo e jogando habilmente com os meios de comunicação social, pretendia ser o sumo sacerdote de uma cruzada purificadora da sociedade americana. Em processos com afinidades inquisitoriais, investigavam-se, perseguiam-se, humilhavam-se e destruíam-se pessoas, famílias, carreiras profissionais e projectos de vida, com o banal argumento de que os visados, tinham ou tiveram amigos comunistas, eram ou tinham sido simpatizantes do comunismo, ou que espiavam ou tinham espiado a favor da ex-URSS.
Edward R. Murrow, o jornalista da estação de televisão CBS, foi dos poucos que enfrentou o ogre e a sua sanha, com as únicas armas que tinha disponíveis, isto é, informando com independência, honestidade e integridade, indiferente às pressões vindas do poderes instituídos, e esgrimindo a ideia que sustenta que “só se pode aterrorizar um país inteiro se formos todos cúmplices”.
Reforçando o que atrás disse, aconselho vivamente a todos os profissionais da comunicação social, que vejam este filme e meditem sobre o seu conteúdo e premissas.

terça-feira, novembro 11, 2008

Há 206 Anos…

H
Thomas Jefferson que foi um dos fundadores do partido democrático e presidente dos Estados Unidos entre 1801 e 1809, há 206 anos, teceu com extraordinária perspicácia e visão prospectiva, as seguintes considerações sobre as actividades financeiras:

«Acredito que as instituições bancárias são mais perigosas para as nossas liberdades do que o levantamento de exércitos. Se o povo Americano alguma vez permitir que bancos privados controlem a emissão da sua moeda, primeiro pela inflação, e depois pela deflação, os bancos e as empresas que crescerão à roda dos bancos despojarão o povo de toda a propriedade até os seus filhos acordarem sem abrigo no continente que os seus pais conquistaram.»

Thomas Jefferson, 1802

sábado, novembro 08, 2008

Código do Trabalho

C
Sobre o Código do Trabalho, diz o jornal Público de hoje, o seguinte:

“A revisão do Código do Trabalho foi hoje aprovada na Assembleia da República com os votos favoráveis da maioria do PS, mas tal como se previa sem a posição favorável ao documento de alguns deputados socialistas que já tinham anunciado o seu “não”.
Manuel Alegre, Teresa Portugal, Júlia Caré, Eugénia Alho foram os quatro socialistas que já tinham indicado a sua oposição ao Código do Trabalho. Matilde Sousa Franco foi a novidade nos votos contra da bancada, dado que não tinha votado na primeira vez.
Também votaram contra os deputados do grupo parlamentar do PCP e do Bloco de Esquerda e Carloto Marques e Pedro Quartim Graça, os dois deputados do Movimento Partido da Terra que integram a bancada do PSD. Os deputados do PSD e do CDS abstiveram-se.
…”
Alguns portugueses, comentando no site do jornal Público, a aprovação desse mesmo Código do Trabalho, teceram as seguintes considerações:

“A esquerda modernaça é isto: o maior ataque jamais desencadeado contra os trabalhadores portugueses. Com um Primeiro-Ministro que (disse-o ele próprio) aprendeu pela Organização Política e Administrativa da Nação (o catecismo da antiga ditadura), outra coisa não era de esperar, que não o retrocesso ao século XIX, com jornadas de trabalho de 12 horas. Com gente sem princípios democráticos e sem valores morais, outra coisa não era de esperar, que não fosse o mais violento dos ataques à família, com os pais a alijarem a responsabilidade pelos filhos. Gente sem carácter, sem princípios, sem valores apossou-se do Partido Socialista. Acomodados às migalhas que lhes são distribuídas, perderam a espinha dorsal. E apenas servem para tentar mistificar, enganar, adornar com belas palavras, as malfeitorias que vão fazendo. O socialismo de há muito apodreceu, esquecido na gaveta onde o tinham metido. Agora é a própria democracia que está em causa. Como dizia ontem um militante socialista: «Este país é um hospício e José Sócrates é o porteiro do hospício».”
Laura Dias, Lisboa

“Um belo dia veio um senhor do lado de lá do Atlântico, de seu nome Jack Welsh, fazer um colóquio em Lisboa sobre economia. A determinada altura, questionou os presentes sobre se sabiam a que se devia a situação caótica em que se encontrava o nosso País? O senhor Welsh também deu a resposta: disse ele que a culpa era dos patrões que abundavam neste País, que deviam de ter vergonha de ter o País neste estado, e que quem precisava de formação eram eles, os patrões! O senhor Welsh tem toda a razão, enquanto tivermos patrões desta natureza, nunca este país irá a lado algum.”
John Inglês, Guimarães - Portugal

“Depois de atacar violentamente o anterior Código do Trabalho de Bagão Félix e companhia, eis que o PS dá uns retoques, mantém o essencial do Código anterior, e aprova mais um atentado aos trabalhadores. PSD e CDS-PP abstiveram-se, porque, na génese, estão de acordo com isto. Sócrates podia ter um pinguinho de vergonha naquela cara e explicar-nos porque barafustou tanto contra o Código de Bagão e agora nos impinge este que, na essência, é igual: lixem-se os trabalhadores. Obrigado portuguesas e portugueses por terem eleito este governo e os anteriores do PSD. Do fundo do coração.”
Renato, Lisboa

“Os Trabalhadores nos anos mais próximos não esquecerão esta "cambalhota" do PS. Os actos ficarão com quem os pratica. Estejamos todos atentos ao que o futuro nos reservará, a nós trabalhadores, depois das promessas do PS e das tão badaladas vantagens deste documento. Daqui a pouco tempo, calculo, quando as consequências da aplicação deste código se fizerem sentir no terreno, assistiremos a um triste espectáculo de degradação da vida de muitos milhares de Portugueses. Veremos, então, o que terão para nos dizer os deputados que aprovaram este documento. Não dizem, como sempre. Ó triste sina, em vez de avançarmos esta gente empurra-nos alegremente para o século XIX.”
Pinto, Portugal

O Juiz Decide

O
A sentença aplicada pelo Tribunal de Felgueiras, àquela criatura que dá pelo nome de Fátima Felgueiras, que tem tanto de descarada, como de insolente e meliante, é a imagem real de um território que deixou de reunir as condições para ser um país, para se tornar um sítio muito perigoso, muitíssimo mal frequentado e pejado de malfeitores.

sexta-feira, novembro 07, 2008

quinta-feira, novembro 06, 2008

Obama é Presidente!

O
Ao acordar ontem, ouvi as primeiras notícias e respirei fundo, num grande e prolongado trago, como já o não fazia há oito anos. Houve mudança e agora estamos na encruzilhada. Esperemos que Obama e o seu povo saibam escolher o caminho, para que NÃO FIQUE TUDO NA MESMA (ou pior ainda).

terça-feira, novembro 04, 2008

O Sonho a Um Passo da Realidade

O
Se é verdade que o mundo mudou, era desejável que o mesmo acontecesse com as preferências políticas do povo americano. Por isso, entre hoje e amanhã, nos Estados Unidos da América, alguma coisa pode estar em vias de mudar, como por exemplo, aquele sonho de Martin Luther King, estar à beira de se tornar realidade. Se aquele fosse o meu país, obviamente que votaria Barack Hussein Obama.

As Opções de Sua Excelência

A
Há um presidente de um instituto público que, ao mesmo tempo que efectua cortes drásticos no papel higiénico e nos tinteiros das impressoras da instituição, tudo em benefício de um irrepreensível exercício de contenção de despesas, quando se desloca ao Porto, muito senhor dos seus brios e caganças, faz repetidamente a seguinte pirueta: toma o avião em Lisboa, no aeroporto da Portela, porém, manda sair com duas horas de antecipação o seu motorista, ao volante do carrão do instituto, para que este possa ir receber sua excelência, quando esta desembarcar triunfalmente no aeroporto Sá Carneiro, como qualquer criatura atarefadíssima com afazeres e preocupações.
Nem sequer se pode falar em lei das compensações, pois o que ali se gasta em passagens de avião, combustível e despesas de deslocação, supera largamente o que se economiza em papel higiénico e tinteiros. Como é fácil de perceber, as opções de sua excelência são sempre, indubitavelmente, a bem da nação.

segunda-feira, novembro 03, 2008

Amanhecer na Lezíria (3)

A
Amanhecer na lezíria ribatejana em 31 de Outubro de 2008

Prémio de Consolação

P
Segundo declaração do ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, e na sequência da nacionalização do BPN, os accionistas daquele banco, afinal co-responsáveis pela gestão danosa levada a cabo por algumas administrações, vão ser confortados com indemnizações a preceito.

Outra Hipótese

O
Há 15 dias atrás, o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, declarou que não existia qualquer anomalia no sistema bancário português, o qual estava de boa saúde. Será que foi na sequência da adopção do computador “Magalhães” pela equipa governativa de José Sócrates, iniciativa divulgada por este na cimeira Ibero-Americana, que foram finalmente percebidas e postas a nu as actividades clandestinas do BPN?

Os Salteadores da Arca Perdida

"...
No dia de Finados, o licenciado Vítor Constâncio, máximo supervisor da actividade bancária em Portugal, desculpa-se, a exemplo do caso BCP, para não ter prevenido o desastre [no banco BPN], que não conseguiu detectar operações "clandestinas" de "centenas de milhões de euros"... Finado parece estar o regime: mas estrebucha, enquanto consome dinheiro público. Os órgãos de Estado e os partidos conformam-se com a decisão de José Sócrates - anunciada com a informação pressurosa da Lusa de que um dos administradores nomeados pela Caixa é o ex-secretário de Estado de Ferreira Leite Norberto Rosa -, em vez de denunciarem perante o povo a supervisão que não detectou o problema e o Governo que não o resolveu a tempo, sem gasto de dinheiro público.
..."
Extracto do post DIA DE FIÉIS DEFUNTOS, da autoria de de António Balbino Caldeira, do blog DO PORTUGAL PROFUNDO em http://doportugalprofundo.blogspot.com/

"...
Para as adequadas reflexões e perguntas, é bom que se saiba que o BPN, em 2007, apresentou resultados positivos de 77 milhões de euros e, em 2006, de 86 milhões de euros. Também é bom que saiba que, segundo uma notícia do [jornal] Público em Agosto deste ano, foi neste banco que a Segurança Social depositou 500 milhões de euros.”

Extracto do post UMA NACIONALIZAÇÃO "BOA", da autoria de Victor Dias, do blog O TEMPO DAS CEREJAS em http://tempodascerejas.blogspot.com/

Meu comentário: Tal como toda a equipa governativa de José Sócrates, será que Victor Constâncio, governador do Banco de Portugal, para levar a cabo a preciosa acção de regulação e controlo das actividades da banca portuguesa, também usa o sofisticado computador “Magalhães”?

Um Nome a Reter

U
Gonçalo Castilho dos Santos é secretário de Estado da Administração Pública do governo de Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates. Convicto da sua predestinação para exterminar quem se opõe ás decisões políticas do seu preclaríssimo chefe, ao discursar no encerramento do Congresso Nacional da Administração Pública, disse, para quem o estava a ouvir, o seguinte:
- "O mítico dia 1 de Janeiro de 2009 não marcará o início da reforma da Administração Pública, porque ela já está no terreno";
- "Trabalhadores, serviços e dirigentes que não estejam com a reforma serão trucidados";
- "A reforma já não pode andar para trás pelo que trucidará quem não estiver com ela".
Nos anos 40 do século passado, na Alemanha nazi, a solução final era ser gaseado e depois cremado. No Portugal do século XXI a solução, com algum terror e tremor, é ser amarrado aos carris do TGV, ser trucidado, e depois logo se vê. Gonçalo Castilho dos Santos é um nome a reter para as gerações vindouras...

O Inimigo Interno

O
Para o governo de Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates, preocupado em eleger uns quantos alvos para distrair os portugueses dos grandes problemas com que o país se debate, os militares também vêm sendo apontados como uma casta de privilegiados, e como tal, mais um inimigo interno a abater, a exemplo do que vai acontecendo com outras categorias profissionais, como os professores e funcionários públicos.
Sem o proclamar directamente, este governo, obcecado com a irracional redução do défice, está apostado em reduzir à indigência, grande parte da população activa, e para isso a melhor táctica (e com resultados comprovados) é apontar a dedo alguns inimigos internos, para que a restante população possa associá-los a benefícios desproporcionados, à delapidação de recursos, e ver neles os responsáveis por todos os males que nos afligem.
Para perceber isso, nada melhor que dar a palavra aos directamente visados.

Forças Armadas – Uma questão de Estado
Almirante Alexandre Reis Rodrigues

“Levantou-se um grande alarido à volta das declarações de ontem do general Loureiro dos Santos sobre os sinais de insatisfação nas Forças Armadas. O facto de terem sido feitas no dia do lançamento do livro do professor Salgado de Matos («Como evitar golpes militares») ainda mais agudizou o interesse público, bem evidenciado na presença de órgãos de comunicação social no lançamento do livro. Foi, no entanto, pura coincidência.

Na verdade, nem se compreende o burburinho suscitado pelos alertas do general; não foram mais do que o retomar de um tema a que consistentemente se tem referido na comunicação social, em artigos de opinião. No passado recente, há pelo menos, três artigos e todos com títulos muito claros: «As Forças armadas também podem ser uma ameaça» (24 Fevereiro 2007, jornal Expresso); «Sinais de insatisfação entre os militares» (23 Julho 2007, jornal Público) e «Instituição militar: sinais preocupantes» (25 Outubro 2007, jornal Público).

Mal grado a clareza da mensagem, o impacto destes artigos foi quase nenhum na opinião pública em geral e obviamente também no Governo que nunca se deu ao trabalho de procurar clarificar o assunto. Outros artigos de natureza semelhante, nomeadamente no Diário de Notícias, Correio da Manhã e no jornal Diabo, entre outros, e declarações de vários oficiais generais têm tido a mesma sorte, isto é, o esquecimento. Há ainda, o episódio da carta divulgada pela Lusa, do então CEMGFA, em Novembro de 2006, a alertar para a questão da «condição militar»; também não foi ouvido.

É óbvio que há muitas razões para se estar preocupado, mas nem me parece que valha a pena estar a especular sobre o que pode acontecer no futuro; basta pensar no que tem acontecido recentemente, algo que é já muito incomodativo e que, como tal, já devia ter suscitado um exame atento da situação e a adopção de medidas que, de uma vez por todas, acabassem com as preocupações que o general Loureiro dos Santos levantou sobre o futuro. Estou a referir-me às variadas manifestações de insatisfação que têm acontecido nos últimos anos: as vigílias, os passeios no Rossio, os convívios, as jornadas de reflexão, os “jantares à porta fechada”, etc. Acontecimentos que podem ser naturais em países do Terceiro Mundo mas que não são próprios de um país europeu.

O Governo na sua “lógica” de olhar para os militares como funcionários públicos parece não ver qualquer inconveniente nessas manifestações e nem sequer presta atenção a esses acontecimentos. Na verdade, essa “lógica” retirou-lhe os argumentos para declarar inaceitável que os militares se exprimam publicamente nas ruas como os professores, os enfermeiros, ou quaisquer outros. Sendo todos funcionários públicos, os direitos dessa condição devem ser rigorosamente iguais.

Como “preocupação de coerência” é respeitável; no entanto, esquece o cuidado elementar de não dar azo a situações que abertamente não “jogam” com a dignidade de uma Instituição, «que preenche uma função estrutural estratégica e cuja razão de ser é dar resposta a uma necessidade que provém da própria sociedade» (Maria Carrilho, «O futuro das Forças Armadas», Colóquio Parlamentar, Junho 1993) e que afectam a imagem internacional do país, envergonhando-nos.

Aparentemente, o Governo tem dúvidas sobre se a Defesa é ou não um valor essencial para o País, uma responsabilidade colectiva que tem de assumir em nome da Nação. Eu digo que tem dúvidas, porque se não tivesse já teria resolvido o problema da dar às Forças Armadas condições de viabilidade de funcionamento, o que não se resume, como alguns poderão imaginar, a uma questão financeira. É também estrutural, de organização e de planeamento em função de um modelo que é preciso definir claramente tendo em conta o entendimento nacional sobre o que as Forças Armadas devem garantir.

É, por isso, indispensável verificar se, mesmo com mais recursos financeiros - em qualquer caso indispensáveis se quisermos cumprir os nossos compromissos internacionais - é possível conciliar a manutenção do actual modelo com a criação das condições que as Forças Armadas devem ter para que mantenham, de forma intransigente, o estatuto de Instituição, como acima caracterizado.”

Publicado no JORNAL DEFESA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS em 2008-Outubro-31


O Descontentamento dos Militares
Almirante António José de Matos Nunes da Silva

“A redução drástica do apoio aos militares e seus familiares foi na altura precedida e acompanhada duma campanha de difamação dos militares, para anestesiar a opinião pública.
Esse apoio consta expressamente da Lei da Condição Militar nos seus artigos 2 e 15:

Art. 2. ° A condição militar caracteriza-se:
a) Pela subordinação ao interesse nacional;
b) Pela permanente disponibilidade para lutar em defesa da Pátria, se necessário com o sacrifí­cio da própria vida;
c) Pela sujeição aos riscos inerentes ao cumpri­mento das missões militares, bem como à for­mação, instrução e treino que as mesmas exi­gem, quer em tempo de paz, quer em tempo de guerra;
d) Pela subordinação à hierarquia militar, nos ter­mos da lei;
e) Pela aplicação de um regime disciplinar pró­prio;
f) Pela permanente disponibilidade para o serviço, ainda que com sacrifício dos interesses pessoais;
g) Pela restrição, constitucionalmente prevista, do exercício de alguns direitos e liberdades;
h) Pela adopção, em todas as situações, de uma conduta conforme com a ética militar, por forma a contribuir para o prestígio e valoriza­ção moral das forças armadas;
I) Pela consagração de especiais direitos, compen­sações e regalias, designadamente nos campos da Segurança Social, assistência, remunerações, cobertura de riscos, carreiras e formação.

Art. 15. ° -
1 - Atendendo à natureza e caracterís­ticas da respectiva condição, são devidos aos militares, de acordo com as diferentes formas de prestação de serviço, os benefícios e regalias fixados na lei.
2 - É garantido aos militares e suas famílias, de acordo com as condições legalmente estabelecidas, um sistema de assistência e protecção, abrangendo, desig­nadamente, pensões de reforma, de sobrevivência e de preço de sangue e subsídios de invalidez e outras for­mas de segurança, incluindo assistência sanitária e apoio social.

Não faria sentido tal constar nessa Lei se o apoio fosse igual ao dado a qualquer cidadão.
Porque, para além do militar ter direitos de cidadania bem menores que os outros, como consta no citado artigo 2, é vital para o sucesso das operações ter disponibilidade moral para correr o risco de ficar estropiado ou perder a vida na defesa dos seus concidadãos.
E a disponibilidade terá de ser bem menor se pensar que tem de se poupar para que ele a sua família não sejam penalizados pelo que lhe possa acontecer.
Para além de terem deixado de cumprir o que consta expressamente da alínea l) do artigo 2º e no número 2 do artigo 5º, reduzindo drasticamente as contrapartidas mas exigindo o cumprimento de todos os deveres, ainda por cima se atrasam anos no pagamento das comparticipações.
Militar ofendido, humilhado e desprezado pelos seus concidadãos é militar desmoralizado para se sacrificar por eles.
Os militares vão apesar de tudo cumprindo exemplarmente os seus deveres, mas têm toda a razão para estar descontentes. E estão.

O que aqui escrevi enviei também a todos partidos políticos com representação parlamentar bem como a diversos órgão de comunicação social.”

Publicado no blog A VOZ DA ABITA (na Reforma)
em (
http://avozdaabita.blogspot.com/ )

sábado, novembro 01, 2008

Um Parlapatão na Cimeira Ibero-Americana

U
“Eu imagino o ar entalado do ministro dos Negócios Estrangeiros, um homem civilizado e capaz, moderado e “diplomata”, no bom sentido da palavra, ao ver o que se estava a passar, ao ver o seu primeiro-ministro a fazer de vendedor de cobertores como se estivesse numa feira manhosa, promovendo o “verdadeiro computador ibero-americano”. Sócrates, na pele de vendedor de uma empresa privada, a JP Sá Couto, que produz em regime de monopólio um computador que o Estado português “compra”, sem concurso público, em condições mal explicadas e mal esclarecidas, deu mais um passo num processo bizarro de envolvimento do Estado português como caixeiro-viajante de uma só empresa portuguesa. Imagino o que dirão as outras empresas do mesmo ramo, esmagadas perante esta competição desigual.
…”
Extracto do texto de José Pacheco Pereira in “A degradação da política externa portuguesa”, jornal PÚBLICO de 1 de Novembro de 2008

terça-feira, outubro 28, 2008

"A Grande Farra"

A
Em 1973 estreou-se nos cinemas um filme de Marco Ferreri, intitulado “La Grande Bouffe” (entre nós “A Grande Farra”), interpretado, entre outros, por Marcelo Mastroianni, Michel Piccoli, Philippe Noiret e Ugo Tognazzi. A história é simples: quatro amigos, bem instalados na vida mas saturados da aridez da sua existência, resolvem cometer suicídio em grupo. Para o efeito reúnem-se para fazer uma grande farra, de contornos pantagruélicos, onde se consomem iguarias atrás de iguarias, pitéus atrás de pitéus, onde se chafurda nos manjares, onde se faz amor à beira dos vinhos e acepipes, e onde invariavelmente se acaba a vomitar, e não só. Em resumo: come-se para morrer, não para viver. Longe de limitar-se a descrever uma orgia pornográfico-gastronómica, o objectivo do filme é outro: criticar e ridicularizar esta sociedade abjecta e decadente, tão recheada de baixeza quanto de abastança, e atolada em excessos.

Por cá, alguma da abastança que certos senhores exibem, vêm dos nossos impostos (outra coisa não era de esperar), sob a forma de cartões de crédito, ao passo que as comezainas a que apaixonadamente se entregam, pagas com esses mesmos cartões, são saboreadas em locais restaurativos tão sonantes como Porto de Santa Maria, Gambrinus, Varanda da União, António do Barrote, O Nobre, Restaurante O Cortador, O Jacinto, Tico Tico, A Laurentina, Taberna Ibérica, O Mercado do Peixe, Marisqueira Cais Sodré, Ritz Four Seasons, Sete Mares, Tapa Larga, Cervejanário, Restaurante Os Arcos, Restaurante Típico O Madeirense, Cervejaria Búzio, Fortaleza do Guincho, Cervejaria Concha D'Ouro, Bufallo Grill, A Central da Baixa, Real Palácio da Pena, Hotel Arribas, Ensaio Comida Real, Portugália, Jardim Marisco, Don Pomodoro, Siga La Vaca, Tertúlia do Paço, O Bem Disposto, Vela Latina, O Faroleiro, Ristaurante La Carbonara, Hotel Dom Pedro Palace, entre muitos outros. Como se pode apreciar, estas são outro tipo de farras, onde se come à conta do erário público, não para morrer, mas sim para engordar com estilo. Ora leiam o que sobre o assunto se tem escrito:

"A Câmara de Lisboa tem uma empresa, a Gebalis, altamente deficitária, como qualquer empresa pública que se preza, encarregada de administrar os bairros sociais. Várias criaturas, que passaram pela direcção da Gebalis até 2007, foram agora acusadas pelo Ministério Público de peculato e gestão danosa. De que se trata? Alegadamente, um pequeno grupo de três "gestores" (como hoje se diz) gastou em poucos meses 64.000 euros da empresa em 620 "refeições" (calculo que em restaurantes que se recomendam) e nunca deu gorjetas de menos de 20 euros. Suponho que, a ser verdade a história, os gestores da Gebalis presumiram que a sua importância burocrática e política e mesmo, em última análise, a dignidade do Estado exigia esta despesa e esta pompa.
Mas parece que isto não bastava. A sra. dra. Clara Costa, vogal da direcção, andou, supostamente, à custa do contribuinte por Cracóvia, Belfast, Dublin, Marraquexe, Viena e Sevilha. Estas viagens, em que segundo o Ministério Público se fazia acompanhar pelo seu "namorado", custaram à Gebalis 34.000 euros. Como era de esperar, a sra. dra. Clara Costa não vê nada de impróprio neste arranjo. Nem na pequena quantia de 11.530 euros, que empregou, também ela, em "refeições", compatíveis com o seu estatuto. O Expresso declarou isto "falta de vergonha". Peço licença para não concordar. Se o Ministério Público tem razão, a dra. Clara Costa usou o Estado como milhares de outros funcionários, de que ninguém fala e com que ninguém se escandaliza.
Existem na Gebalis - cuja função, convém repetir, é administrar bairros sociais - cinco pelouros: de relações internacionais, de recursos humanos, de sistemas de informação, de comunicação e, compreensivelmente, um pelouro jurídico. Esta exuberância burocrática abre oportunidade a tudo: de "viagens de estudo" a Marraquexe a festejos na marisqueira Sete Mares. Principalmente, quando se dá a cada vogal da direcção um cartão de crédito da empresa. A Gebalis já esqueceu com certeza o fim para que foi criada. Como o resto da máquina do Estado, vive para justificar os seus pelouros, por inúteis que sejam, e anichar os "companheiros" do partido. E, quando chegam, os "companheiros do partido" querem muito humanamente tirar o ventre de misérias: ir a Marraquexe e à marisqueira - o ideal da classe média que a "democracia" lhe prometeu. Para alguma coisa "apoiaram" o sr. X ou sr. Y.”

Vasco Pulido Valente, em jornal Público de 26.10.2008

"Gebalis: Cartões usados em férias
Os ex-administradores da Gebalis Francisco Teixeira, Clara Costa e Mário Peças receberam, entre Fevereiro de 2006 e Outubro de 2007, oito cartões de crédito daquela empresa municipal. O limite de crédito atribuído àqueles ex-gestores oscilou entre cinco mil euros e dez mil euros por mês.

O despacho de acusação do Ministério Público, a que o CM teve acesso, diz que, 'no início do mandato, a cada um dos arguidos foram fornecidos cartões de crédito', apesar de haver 'uma omissão legal e dos próprios Estatutos da Gebalis [sobre essa regalia]', segundo o relatório da Polícia Judiciária.
A Francisco Ribeiro, ex-presidente da Gebalis, foram dados, segundo o despacho de acusação, três cartões de crédito: um do BES com limite de 7500 euros, um do BPI com dez mil euros e um do Millennium bcp com cinco mil euros. Mário Peças, ex-vogal da empresa, teve também três cartões de crédito: um do BES com 7500 euros, um do BPI com dez mil euros e um do Millennium bcp com cinco mil euros.
Já Clara Costa contou com um cartão de crédito do BES com um limite de crédito de 7500 euros e outro do Millennium bcp com cinco mil euros. À excepção do cartão de crédito do BPI atribuído a Mário Peças, todos os cartões tiveram vários números e diferentes datas.
'Com os respectivos cartões de crédito em seu poder, cada um dos arguidos decidiu que os utilizaria para pagamento das despesas relativas a refeições suas e com amigos e outras pessoas de cujo convívio poderiam beneficiar no seu percurso profissional, político ou financeiro, quer nos dias de trabalho, quer em férias ou fins-de-semana, quer, ainda, no decurso de viagens ao estrangeiro', precisa o despacho de acusação do Ministério Público. Ontem, Clara Costa manifestou a sua 'total inocência'."

Notícia do jornal Correio da Manhã de 25-10-2008

Saiba mais:

REFEIÇÕES E VIAGENS
De Março de 2006 a Outubro de 2007, Clara Costa gastou 11.530 euros em refeições com o cartão de crédito.
40.145 euros foi a despesa de Mário Peças em refeições, de Março de 2006 a Outubro de 2007, com cartões de crédito.
12.738 euros foi o gasto de Francisco Ribeiro em refeições, de Março de 2006 a Outubro de 2007, com cartões de crédito.

quarta-feira, outubro 22, 2008

Muito Mentiroso

M
Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates, garantiu em Guimarães, há uns dias atrás, num dos seus habituais exercícios de demagogia e propaganda, que não permitiria que o valor das pensões dos portugueses, fosse jogado na bolsa e entregue aos caprichos dos mercados financeiros. Está claro que disse isto sem que pudesse ignorar que o secretário de Estado da Segurança Social já tinha "ameaçado", em 2007, que iria colocar nas mãos da banca privada, à volta de 600 milhões de euros, para serem aplicados, em acções e outros produtos de "alto rendimento" e "alto risco", logo desaconselháveis. Muito embora o ministro Vieira da Silva se tenha escusado a dar pormenores sobre o assunto, começa agora a saber-se que tais "investimentos", em consequência da crise financeira internacional dos últimos tempos, já provocaram perdas nas reservas do Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS), na ordem dos 200 milhões de euros. Assim sendo, Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates, tem contas a prestar e explicações a dar aos portugueses em geral, e aos contribuintes da (in)segurança social em particular. Esqueceu-se que, tal como diz o ditado, é mais fácil apanhar um mentiroso do que um coxo, e o resultado está à vista.

Ainda Mais?

A
Manuela Ferreira Leite, em entrevista concedida a Constança Cunha e Sá na TVI, a propósito da “união de esforços” sugerida pelo Presidente Cavaco, disse que “não é só o PSD a aproximar-se do PS. O PS também tem de se aproximar do PSD.”
Baseado no estado geral do país, em consequência das políticas de direita que têm sido desenvolvidas desde 2005, o comentário que eu faço a este pedido de “união de esforços”, só pode ser um: AINDA MAIS?

segunda-feira, outubro 20, 2008

Preparem-se!

P
Preparem-se, o nosso estilo de vida vai mudar
Entrevista de James Howard Kunstler a Vítor Belanciano, publicada no jornal PÚBLICO de 16 Outubro 2008

Não se tem falado de outra coisa: derrapagem do preço do petróleo e crise financeira global. Responsáveis? O estilo de vida ocidental, dependente do petróleo. Solução? Mudar de estilo de vida. Escreveu-o James Howard Kunstler há cinco anos em O Fim do Petróleo. Vai repeti-lo hoje numa conferência e num debate em Lisboa.

Continuamos a brincar ao faz-de-conta. Entrámos na curva descendente da exploração petrolífera e do gás natural em que assenta o nosso modo de vida, mas insistimos em imaginar reservas inesgotáveis ou artifícios tecnológicos como substitutos.
Di-lo o americano James Howard Kunstler, especialista em urbanismo, jornalista, escritor, autor de O Fim do Petróleo - o grande desafio do séc. XXI (2005), onde relata o que nos espera depois do pico global de produção petrolífera ser superado, gerando mudanças económicas, políticas e sociais épicas.
Conhecido desde que publicou, em 1993, The Geography Of Nowhere: The Rise and Decline of America's Man-made Landscape, editou ensaios sobre planeamento e condição urbana, visando o que classifica como fiasco do modelo suburbano.
Em simultâneo, tem escrito romances. O último, deste ano, World Made By Hand, reflecte o mundo pós-petróleo. Controverso, lúcido, incisivo e profético são epítetos utilizados para falar de alguém que tem antecipado não só a derrapagem dos preços do petróleo, mas também a crise financeira global.
Hoje, às 9h30, no auditório 3 da Fundação Gulbenkian, em Lisboa, Kunstler profere a conferência A longa emergência: o futuro da energia e do urbanismo, no contexto de um ciclo de prelecções promovido pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo. À tarde, pelas 16h30, estará num debate no Instituto Superior Técnico.

Diz que o estilo de vida ocidental tem de mudar porque é inconsistente com os reduzidos recursos enérgicos que temos. A crise dos mercados financeiros é mais uma indicação de que o mundo está a mesmo a mudar de forma dramática?
No Ocidente, seja nos EUA ou na Europa, o esgotamento dos combustíveis fósseis tem implicações profundas no complexo sistema que atribui sentido à vida em sociedade. Esse estilo de vida está em vias de se tornar insustentável ou entrar em colapso, à medida que entramos no território desconhecido da redução permanente de petróleo. As finanças são apenas um desses sistemas - aquele que colige e atrai capital. Agora está sob tensão, à beira da ruptura. Em parte por causa do esforço para contornar o previsível fim do crescimento industrial petrolífero, que conduziu a uma série de aldrabices, ou seja, investimentos mutantes que se revelaram fraudulentos.
É claro que o sistema financeiro está ligado com os outros sistemas dos quais dependemos - alimentação, transportes ou comércio, e o falhanço de cada um deles afecta todos os outros.

Tendências que previu em O Fim do Petróleo, como a crise dos mercados financeiros e a aflição causada pela especulação imobiliária, estão a acontecer. Por que não foi feito nada?
Porque os EUA, e o resto do mundo, como costumo dizer, estão a caminhar como sonâmbulos rumo ao futuro. Estamos a enfrentar o fim da era dos combustíveis fósseis baratos, ou seja, o fim da história industrial, e não assumimos que as reservas são finitas, não se renovam, distribuem-se de forma desigual e não temos substitutos.
Isto é mal compreendido pela população, preocupada com o dia-a-dia, e por quem detém poder de pensar e agir. Não é conspiração. É inércia cultural, agravada pela ilusão colectiva de quem vive num ambiente de conforto. Talvez faça parte da natureza das coisas ignorarem-se as condições que as provocam até ser tarde de mais para se fazer seja o que for. Mas era bom que se percebesse que o pico de produção global de petróleo vai mudar a vida económica do mundo.

Há solução para a derrapagem do preço do petróleo?
Ao mesmo tempo que assistimos a distorções no preço do petróleo, existe a presunção de que abrandar as economias mundiais amortecerá a procura de produtos petrolíferos. É optimismo a mais. Existe uma capacidade mínima para operar nos países desenvolvidos e suspeito que as margens são maiores do que se pensa.
Segundo, as distorções de preços criarão mais problemas no futuro, porque muitos investimentos serão adiados ou cancelados porque foram planeados para ser rentáveis apenas com o barril de petróleo a 100 dólares. A situação actual afectará futuras provisões que serviriam para compensar futuros esgotamentos. É complicado. Por outro lado, outros factores continuarão a fazer-se sentir, como as questões ligadas ao "nacionalismo petrolífero", que transformam o petróleo numa arma geopolítica.

Qual poderá ser o futuro das grandes companhias criadas num contexto onde os recursos pareciam inesgotáveis e baratos?
No espaço de cinco anos, talvez antes, as companhias de aviação, por exemplo, não existirão tal como as conhecemos. Isso é certo. É inacreditável que os EUA tenham um deplorável serviço de caminhos-de-ferro. Destruímo-lo! Se não encontrarmos uma maneira de o reconstruir, não iremos a lado nenhum neste novo mundo que se descortina. Não custa imaginar que as travessias de oceano por barco voltarão a ser normais ou que a indústria dos camiões morrerá, pelo menos da forma como está organizada.

Acredita-se que através da tecnologia encontraremos substituto para os problemas energéticos. Diz que é uma falácia. A tecnologia é problema, não faz parte da solução?
Sofremos de "tecnotriunfalismo". A maior parte das pessoas não admite a possibilidade de a civilização industrial não ser salva pela inovação tecnológica. Pensam: como podem nações que chegam à Lua não superar estas dificuldades? Esta visão conduziu-nos a um pântano, com investimentos de filosofia errada. A mania, agora, nos circuitos ecológicos americanos, é encontrar maneiras de circular com carros amigas do ambiente. Uma loucura. A solução para a falhada utopia automobilística não é mais carros que circulam de formas diferentes, mas sim bairros, vilas ou cidades onde se circule a pé.

A economia global subsistirá ou a tendência será, como parece defender, regressarmos a uma economia localizada?
Ainda não sabemos se as disfunções nas finanças ou nos recursos energéticos conduzirão a graves problemas geopolíticos, o que, a acontecer, afectará a lógica de comércio internacional. Seja como for, o mundo deixará de encolher, tornando-se, outra vez, maior. A globalização não tornou o mundo mais plano, como se diz. Mudarão radicalmente quase todas as relações económicas entre pessoas, nações e instituições. O comércio mundial não desaparecerá, mas o contexto onde se fará será mais reduzido. Genericamente, viveremos mais localmente.

Há uma corrente de opinião que sustenta ser possível uma transição suave dos combustíveis fósseis para os seus substitutos (hidrogénio, energia solar, etanol...). O que pensa disso?
Acredito que tentarão esses e muitos mais e desiludir-se-ão com todos. Alguns deles, como o etanol, revelar-se-ão fraudes imediatas, pelo menos em termos económicos. Temos é de nos concentrar em conservar o que ainda temos, estabelecer modelos locais, pensar num tipo de desenvolvimento urbano compacto e em paisagens agrícolas menos mecanizadas. A crença de que a "economia de mercado" nos facultará um substituto é ilusão.

Tem reflectido sobre os subúrbios americanos, argumentando que são insustentáveis e sem futuro. No mundo pós-petróleo, o que lhes acontecerá?
O conceito de subúrbio não é reformável. E não o é porque foi concebido para fazer sentido na era dos combustíveis baratos - logo, são insustentáveis. Mas não vamos ter muitas saudades, porque nas últimas décadas produziram apenas alienação, solidão e depressão.

Os subúrbios americanos são uma espécie de réplica artificial da vida no campo. Para além das questões energéticas, o problema deve-se ao facto de serem uma amálgama de cidade e campo?
Sim, topologicamente, são confusos. Nem urbanos, nem rurais, com as desvantagens de ambos e quase nenhuma das vantagens. Têm, por exemplo, congestionamentos de carros e nenhum dos proveitos resultantes da densidade, porque as pessoas estão presas nos carros. Têm paisagem rural, mas quase nenhuma ligação com outras ecologias e organismos vivos. O subúrbio tem inscrito no código genético a palavra entropia, a força da natureza que conduz à morte.

Mas as cidades e as concentrações urbanas não desaparecerão. Como será a vida urbana?
As cidades serão menores em escala. As megacidades não são outra coisa senão a manifestação de uma época onde a energia era barata. As cidades mais afortunadas tenderão a ser densas e compactas, nos centros históricos e margens dos rios que as circundam. A era do automóvel provou que as pessoas toleram ruas e edifícios feios desde que possam fugir desses locais em automóveis bem equipados. Mas se regressarmos a uma escala humana de construção, haverá uma boa hipótese de os bairros urbanos serem mais sustentáveis e bonitos.

Na Europa, o modelo de subúrbio é diferente. Terá mais hipóteses que o americano?
Os europeus nunca perderam o respeito pelo carácter e charme da vida urbana. Não destruíram as suas vilas e cidades, ao longo do "processo suburbano", como nós. A qualidade do urbanismo, a sua escala, é mais sustentável.

Cidades como Paris, Londres ou Lisboa estarão mais preparadas para as mudanças que, presumivelmente, se avizinham?
Absolutamente. Nos próximos anos, os cidadãos de Dallas ou Atlanta sentir-se-ão perdidos nas suas casas gigantes, a quilómetros do nada. Em Lisboa ou Dusseldorf, as pessoas continuarão as suas vidas. Na Europa, até as urbes mais pequenas dispõem de um elevado nível de equipamentos sociais e culturais. Mesmo que houvesse uma grande interrupção no abastecimento de petróleo, a maior parte dos europeus continuaria a sua vida quotidiana.

A ideia de que voltaremos ao estilo de vida local, em vilas, vivendo com menos, comprando localmente, andando de bicicleta, não é demasiado romântica?
As pessoas farão o que a realidade as forçar a fazer.

Voltar ao passado, ao que já conhecemos, é a conduta óbvia quando os tempos são de mudança. É mais difícil olhar em frente, para o desconhecido. Não existe outra opção senão voltar ao passado?
As pessoas são inventivas e flexíveis, mas já se fizeram demasiadas coisas falhadas, em nome da inovação. Existem muitas coisas da nossa vida quotidiana que não necessitam de ser reinventadas. Quarteirões onde se pode andar a pé, por exemplo. Todos os dias, encontro uns idiotas que, periodicamente, querem construir sistemas de transportes, concebidos para funcionarem como os carros. Para quê? É de loucos. Os bairros mais desejáveis das grandes cidades são os mais intimistas.

E na China, no Brasil ou na Índia? O Ocidente andou a dizer-lhes que o seu estilo de vida é que era, e agora que, aparentemente, têm frutos dessa adopção, irão abdicar do que conquistaram?
Também estão a enfrentar imensas mudanças e desafios. Pensa-se que, nos próximos anos, a China irá deter uma espécie de hegemonia global. Duvido. Têm muitos problemas, especialmente de escala, até mais do que as nações ocidentais, por causa da população, da destruição ecológica, da escassez alimentar e da insuficiência de reservas de petróleo.
A China transformou-se rapidamente numa grande economia industrial, mas entrou no jogo tarde de mais. Ou seja, industrializou-se no momento preciso em que se reduzem, em todo o mundo, os recursos necessários a esse processo.

Há anos, afirmou que, genericamente, os líderes políticos eram fracos. Como tem visto a corrida eleitoral nos EUA?
Obama é honesto, inteligente, e espero que venha a ser um digno líder dos EUA. Mas irá passar por desafios e dificuldades terríveis e tenho pena da sobrecarga que vai herdar. Quanto aos problemas energéticos, é difícil perceber até que ponto os candidatos estão informados. Mas o ponto principal é que os cidadãos não têm tido coragem para enfrentar a realidade, independentemente do que os líderes sabem, dizem ou pensam.

O que tem mudado, na sua vida privada, para se preparar para o mundo pós-petróleo?
Tenho uma vida comedida, nada extravagante. A decisão mais importante foi tomada há 30 anos, quando assentei numa vila americana, Saratoga Springs, 300 quilómetros a norte de Nova Iorque. É uma escala e tipo de vida que está de acordo com aquilo que serão as exigências do futuro.

Meu comentário:
Com as actividades humanas a deixarem de depender, exclusivamente, do petróleo e seus derivados, estas mudanças apontadas por James Howard Kunstler, não serão as únicas que se verificarão no estilo de vida ocidental. O impacto profundo nas sociedades terá repercussão sobre os sistemas económicos e políticos, e as próprias relações entre estados, terão forçosamente que se reinventarem, a fim de se adaptarem às novas escalas e necessidades. Haverá novos conceitos de desenvolvimento e de progresso. Ocorrerão grandes alterações nos hábitos e novos valores (re)surgirão, devolvendo às sociedades e aos seus relacionamentos, uma escala mais humanizada. Irão alterar-se as relações laborais, o ensino, o aproveitamento dos tempos livres, senão mesmo a coesão dos laços familiares e de vizinhança. Até o ambiente ganhará. Quer resulte de uma lenta progressão, ou seja fruto de um choque abrupto e doloroso, esta visão já não cabe entre as utopias. Quer queiramos, quer não, acabará por tornar-se uma realidade, e com o passar do tempo as gerações vindouras acabarão por concluir que, afinal, sempre há males que vêm por bem.

domingo, outubro 19, 2008

Reinar...

R
Os efeitos paradoxais da crise são vários. O último que já não entrou na crónica foi o facto do PR tão cuidadoso a ler todos os diplomas que lhe chegam da AR ter despachado a promulgação do diploma dos avales à banca em 30 minutos. Como dizia Álvaro Pais ao Mestre de Aviz: reinar é dar o que não é vosso.

José Medeiros Ferreira, in blog BICHO CARPINTEIRO ( http://bichos-carpinteiros.blogspot.com/ ), em 18 de Outubro 2008

"Já sabemos quem vai pagar a crise"

J
"Afinal, quem vai pagar esta crise?", assim se titulava o Editorial do Publico no dia 16.

O meu caso, reformada da chamada classe média, pode ser uma resposta:
- não sou empresária, portanto não beneficio dos cortes no IVA nem no IRC, nem posso usar linhas de crédito bonificado.
- não pertenço ao grupo dos “mais necessitados” por isso não recebo subsídios, não me dão casa, não tenho água luz e telefone mais baratos, não sou isenta de taxas no SNS.
- sou reformada do sector privado, o que significa que a minha pensão, à partida inferior ao ordenado que tinha no activo, vai aumentar este ano de novo abaixo do valor da inflação.
- já não tenho filhos bebés, nem estudantes, por isso a descida do IVA das cadeirinhas, o desconto fiscal dos computadores e o 13º mês do abono, não me ajudam.
- também já não tenho pais velhinhos; não posso descontar os encargos.
- comprei uma casa, quando tive dinheiro para o fazer, não tenho por isso dívidas que o Estado me ajude a pagar.
- tenho algumas poupanças, aplicadas em Certificados de Aforro; foram desvalorizadas pelo Governo.
- suporto os aumentos do combustível, das portagens e dos impostos se quero deslocar-me em viatura própria. Suporto a subida de preços dos bens essenciais e também dos outros.
Quem vai pagar esta crise? Sou eu!

Maria Rosa Redondo, in Cartas ao Director, jornal PÚBLICO de 17 de Outubro 2008

Amanhecer na Lezíria (1)

A
Amanhecer na lezíria ribatejana em 17 de Outubro 2008

sábado, outubro 18, 2008

Sócrates ganhou a "Sorte Grande"

S
“Sócrates ganhou uma "Sorte Grande", ou um Euromilhões, eu sei lá...
A um ano das eleições, em plena de preparação do Orçamento de Estado, sai-lhe na rifa uma crise financeira mundial. Nem que fosse encomendada, ou planeada resultaria melhor.
Agora todos os problemas dos portugueses podem ser atribuídos à malfadada crise.
Agora é possível fazer um Orçamento cheio de chupa-chupas coloridos, que não resolvem nada mas enfeitam muito, e ninguém se atreve a gritar: Eleitoralistas !!
É tudo pela salvação do povo. Dá-me cá a impressão que à oposição só resta pedir ainda mais chupa-chupas. Ou de outra cor.”
S
Publicado por Fernando Penim Redondo em
http://dotecome.blogspot.com/ , em 14 de Outubro de 2008

"Mistérios da Crise"

M
"... A crise acabou por se tornar a salvação dos políticos falhados. Correndo gravemente de Paris para Bruxelas, de Bruxelas para Londres ou de Londres para Washington, falam e voltam a falar e a plebe, apavorada, que sempre os detestou, acredita neles.
Pior do que isso, a gente do poder e a que mandou na economia e nas finanças durante 30 anos pede "confiança". É preciso "confiança"; a "confiança" é essencial; a "confiança" é, garantidamente, a redenção. Mas "confiança" em quê e em quem? Não com certeza num sistema e numa ordem global insustentável e absurda.
..."
Vasco Pulido Valente, in "Mistérios da Crise", jornal PÚBLICO de 2008-Setembro-17

Enigma

E
O que diz a sardinha fresca para a sardinha de conserva?
- É preciso ter lata!

domingo, outubro 05, 2008

Implantação da República

R


1910.10.02 - A revolução é marcada para o dia 4, à 1 hora da madrugada.

1910.10.03 - Miguel Bombarda, médico republicano, é assassinado. Às 20h realiza-se a última reunião dos conspiradores.

1910.10.04
00.45 h - Revoltas nos quartéis da Infantaria 16 (Campo de Ourique), Artilharia 1 (Campolide) e Marinha (Alcântara)
05.00 h - Acampamento na Rotunda
07.00 h - Encontrado morto o republicano Cândido dos Reis, na Rotunda.
08.00 h - Oficiais do Exército abandonam a Rotunda.
10.00 h - 50 manifestantes são alvejados a tiro nos Restauradores.
12.30 h - Ataque à Rotunda por Paiva Couceiro (dura até às 16h).
14.00 h - Navios revoltosos bombardeiam o Palácio das Necessidades. O Rei D. Manuel II refugia-se em Mafra.
16.00 h - A Marinha bombardeia o Terreiro do Paço.
21.00 h - O navio D. Carlos é capturado pelos republicanos.

1910.10.05
06.00 h - Combates de artilharia na Avenida da Liberdade.
08.00 h - A República é proclamada na Câmara Municipal de Lisboa, por José Relvas.
17.00 h - A Família Real embarca na Ericeira para Gibraltar, a caminho do exílio.

"O Governo Provisório da República Portuguesa saúda as forças de terra e mar, que com o povo instituiu a Republica para felicidade da Pátria. Confio no patriotismo de todos. E porque a Republica para todos é feita, espero que os oficiais do Exército e da armada que não tomaram parte no movimento se apresentem no Quartel-general, a garantir por sua honra a mais absoluta lealdade ao novo regime."
(Edital da Proclamação da República (Teófilo Braga), Lisboa, 5 de Outubro de 1910)

"Hoje, 5 de Outubro de 1910, às 11 horas da manhã, foi proclamada a República em Portugal na Sala Nobre do Município de Lisboa, depois de ter terminado o movimento da revolução nacional. Constituiu-se imediatamente o Governo Provisório sob a Presidência do Dr. Teófilo Braga"
(Diário do Governo, 6 de Outubro de 1910)

sábado, outubro 04, 2008

Diz-me Zé Povão...

Z

- Diz-me Zé Povão o que é que farias se o intragável Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates, te viesse suplicar para contribuíres para a recuperação da “saúde” dos “nossos” debilitados bancos e seus respectivos accionistas, apanhados na onda do maremoto financeiro de Wall Street, assim como ajudar a tapar os buracos negros das ruinosas políticas do seu (des)governo?
- O que é que eu faria? Nada! Apenas um grande TOMA, à boa maneira do Bordalo!

sexta-feira, outubro 03, 2008

Entregar o Ouro ao Bandido

E
«Em Guimarães, Sócrates garantiu que não permitirá que o valor das pensões dos portugueses seja jogado na bolsa e entregue aos caprichos dos mercados financeiros (…) Saberá Sócrates que 20,67 % das reservas do FEFSS - fundos da segurança social - (mais de 1.562 milhões de euros) se encontram aplicadas em acções e “entregues ao jogo da bolsa”? E lembrar-se-á que o seu secretário de Estado da Segurança Social anunciou no ano passado que iria confiar outros 600 milhões à gestão privada”?»

Manuel António Pina, in Jornal de Notícias em 22.09.2008

quarta-feira, outubro 01, 2008

Lembrar o Artigo 9.º

L
Seria louvável, para não dizer benéfico, que sobre a secretária de trabalho de todos os ministros e secretários de estado, houvesse sempre um exemplar da Constituição da República Portuguesa. Porém, à falta disso, já seria razoável e de aplaudir que afixassem na parede do gabinete, um quadro onde apenas constassem as alíneas do Artigo 9.º dessa mesma Constituição, a tal que se comprometeram a respeitar. Ganhavam eles, os senhores governantes, e naturalmente nós, o povo português.

Artigo 9.o
(Tarefas fundamentais do Estado)

São tarefas fundamentais do Estado:

a) Garantir a independência nacional e criar as condições políticas, económicas, sociais e culturais que a promovam;
b) Garantir os direitos e liberdades fundamentais e o respeito pelos princípios do Estado de direito democrático;
c) Defender a democracia política, assegurar e incentivar a participação democrática dos cidadãos na resolução dos problemas nacionais;
d) Promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo e a igualdade real entre os portugueses, bem como a efectivação dos direitos económicos, sociais, culturais e ambientais, mediante a transformação e modernização das estruturas económicas e sociais;
e) Proteger e valorizar o património cultural do povo português, defender a natureza e o ambiente, preservar os recursos naturais e assegurar um correcto ordenamento do território;
f) Assegurar o ensino e a valorização permanente, defender o uso e promover a difusão internacional da língua portuguesa;
g) Promover o desenvolvimento harmonioso de todo o território nacional, tendo em conta, designadamente, o carácter ultraperiférico dos arquipélagos dos Açores e da Madeira;
h) Promover a igualdade entre homens e mulheres.

Extracto da Constituição da República Portuguesa, promulgada em 2 de Agosto de 2005

Podemos Ficar Descansados!

P
Isto que temos por cá não é um governo! Bem vistas as coisas, não passam de um grupelho de saltimbancos, com especial destaque para o primeiro-ministro Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates, o senhor Manuel da economia e o senhor Teixeira das finanças, os quais passam a vida a pavonearem-se para as televisões, e só agora se manifestam algo compungidos e preocupados com a crise da conjuntura económica internacional, apregoando o fim da prosperidade (?) e contradizendo aquilo que haviam debitado há uns dias atrás. Quanto ao grande “artista” Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates, a desempenhar o grande papel da sua vida, veio agora garantir-nos, com aquele paleio soletrado, próprio de mestre-escola de uma turma do ensino infantil, que esta crise internacional é o pior que nos podia acontecer, fruto dos gananciosos da especulação bolsista, mas que apesar de tudo, o nosso sistema financeiro está de saúde, logo podemos estar descansados, que não devemos ter medo, que as nossas economias estão acauteladas, que está tudo bem, que o governo está atento, com tudo sob controlo, etecetera e tal. Aliás, com as eleições no horizonte, bem vistas as coisas, esta crise internacional vem mesmo a calhar, sendo certo que vai ser ela que vai arcar com todas as culpas da estafada crise económica portuguesa, desemprego e afins, tudo fruto das trôpegas e erradas políticas desta equipa de pantomineiros, manifestamente incompetentes, que fingem que governam, ao sabor dos estímulos que vão surgindo de forma avulsa neste teatrinho nacional.

segunda-feira, setembro 29, 2008

As Taras do Presidente

A
Já lhe conhecíamos o apetite por folias e desfiles carnavalescos, por qualificar alguns jornalistas com o epíteto de "filhos da puta", por atribuir fartos subsídios a jornais regionais com tiragens insignificantes, de ser o grande animador das tendinhas e romarias do Chão da Lagoa, mas só agora lhe conhecemos a aspiração que tem de transformar a paisagem litoral da Ilha da Madeira. Com o seu preclaro consentimento, foi levada a cabo a importação de areia do deserto do Sara, utilizando como meio de transporte navios graneleiros, com o objectivo de substituir por areia branca, os característicos e escuros calhaus rolados das praias madeirenses.
Tudo começou na praia da Calheta em 2004. Acontece que a natureza não apreciou a intervenção do improvisado e megalómano esteticista, e com a ajuda das marés, acabou por repor a praia na sua configuração original. Obstinado como estava na intenção de esculpir a ilha a seu gosto, o senhor Alberto (também conhecido por Alberto João) determinou que se fizesse nova importação de areia marroquina e uma segunda descarga na Calheta. Agora calhou a vez à praia do Machico, passar da nativa pedra escura, à areia alva e fina do deserto, como se por ali tivesse passado um qualquer Michael Jackson, em permanente conflito com as deliberações e cores da mãe natureza.
Com esta ternurenta obsessão já foi gasta a módica quantia de 20 milhões de euros, uma bagatela se comparada com as dificuldades orçamentais da região, que continua animadamente a cavar o seu défice e a pedir reforços aos “cubanos” e “colonialistas” do "contenente". Entretanto, a grande operação de transformação do “look” paisagístico segue em frente, alegremente e sem contestação visível, apesar de algumas críticas, reservas e dúvidas sopradas em surdina, porque a ilha é pequena e as paredes têm ouvidos.

domingo, setembro 28, 2008

Eterno Repouso

A

Paul Newman (1925-2008) deixou-nos anteontem. Foi um grande actor, um grande filantropo e um grande democrata, que abraçou algumas das grandes causas do nosso tempo. Ficará para sempre junto de nós. Estará cá para nos brindar com a sua arte, quando revisitarmos, entre outros, filmes inesquecíveis como Dois Homens Um Destino, Gata Em Telhado De Zinco Quente, A Golpada, A Cor Do Dinheiro, O Veredicto, A Calúnia ou A Vida É Um Jogo.

sábado, setembro 27, 2008

Políticos Híbridos

P
O título é meu, ao passo que o artigo é de José Pacheco Pereira, in blog ABRUPTO, de 2008-Set-25

"Que o Primeiro-ministro e dirigente do PS José Sócrates não têm qualquer espécie de ideologia e é um puro pragmático, já nós sabemos. Que ele é tanto de “esquerda” como de “direita” conforme as conveniências, já nós sabemos. Que o único fio condutor do seu discurso é o auto-elogio mais ou menos arrogante, suportado por muita propaganda, também já nós sabemos. Que o outro fio condutor é o ataque sistemático e também arrogante a tudo o que mexe e lhe parece oposição, também nós sabemos. O que sabemos menos, porque estamos muito adormecidos para saltar do sofá quando devemos num tumulto de indignação, são os estragos que este homem e o seu governo estão a fazer ao país e de que um bom exemplo é o discurso anti-capitalista de Guimarães.

No dia em que acordou na versão José Francisco Sócrates Louça, já que a versão José Paulo Sócrates Portas, que assumirá num ápice se for preciso, é um pouco incómoda face à flacidez dos resultados em matéria de segurança, este híbrido veio à rua em Guimarães e fez estragos. Ele, como agora só pensa nos votos e nas eleições, resolveu atirar-se contra a bolsa e o mercado financeiro e instigar o povo ao levantamento contra os ricos e poderosos. Não se atirou contra os “excessos” daquilo que os socialistas chamam a “economia de casino”, mas sim contra a coisa em si, a bolsa e o mercado de capitais, esse sinistro local onde multidões de capitalistas de casaca, barriga e chapéu alto andam a provocar a miséria dos portugueses por conta de Bush e dos EUA. Se ele não conseguir cumprir nenhuma das promessas que fez (que não estavam centradas no controlo das finanças públicas, convém lembrar), já tem um culpado a quem apontar o dedo, o capitalismo “desenfreado”, representado em Portugal pelo PSD, que anda a provocar uma “crise” mundial.

O que é irónico é que José Francisco Sócrates Louça não compreende que ao actuar assim dá votos ao genuíno Louça, ao genuíno Jerónimo e à genuína Manuela, e que pelo caminho acicatará ódios que depois não voltam com facilidade à lâmpada do génio, e ajudando a destruir alguns mecanismos, como a bolsa, fundamentais para a saúde da nossa economia."

sexta-feira, setembro 26, 2008

Louva-a-Deus

O

O louva-a-Deus é um insecto da ordem Mantodea. Há cerca de 2000 espécies de louva-a-Deus, a maioria das quais em ambiente tropical e subtropical e pertencentes à família Mantidae.
Os louva-a-Deus são insectos relativamente grandes, de cabeça triangular, tórax estreito e abdómen bem desenvolvido. São predadores agressivos que caçam principalmente moscas e afídios (insectos diminutos que se alimentam da seiva de plantas). A caça é feita em geral de emboscada, facilitada pelas capacidades de camuflagem do louva-a-Deus. Como não possuem veneno, os louva-a-Deus contam com as suas patas dianteiras, modificadas como garras, para segurar a presa enquanto é consumida. A sua voracidade leva a que sejam considerados muito bem vindos pelos amantes da jardinagem e agricultura biológica, uma vez que na ausência de pesticidas são um factor importante no controlo de pragas de jardim. Na América do Norte ocorrem apenas três espécies de louva-a-Deus, duas das quais introduzidas no início do século XX para este mesmo efeito.
O ritual de acasalamento dos louva-a-Deus, que decorre por volta do Outono, é uma altura de perigo para os machos da espécie uma vez que a fêmea muitas vezes acaba por os matar e comer durante ou depois do acto. Depois do facto consumado, a fêmea põe entre 10 e 400 ovos numa cápsula endurecida que deposita no chão, superfície plana, ou enrolada numa folha. Nalgumas espécies, a fêmea permanece em torno da cápsula que protege contra os predadores, em particular algumas espécies de vespa. Após a eclosão, o louva-a-Deus nasce como ninfa, que é em tudo igual ao adulto excepto no tamanho menor e na ausência de asas.
A luta encenada de louva-a-Deus era um desporto popular na China antiga, onde se venerava o animal como símbolo de coragem e bravura.

Origem do texto: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Foto: Fernando Torres em 2008-Set-19

quinta-feira, setembro 25, 2008

Concordo

C
Concordo com o prof. Vital Moreira quando diz no seu blog CAUSA NOSSA, num post de 24-SET-2008, intitulado “O Farsante” que “O Presidente dos Estados Unidos pediu «mais ONU», depois de há dias ter acusado a Rússia de ter intervindo na Geórgia «à margem da ONU». Será este Presidente o mesmo que tudo fez para amesquinhar a ONU e que invadiu o Iraque sem nenhum mandato da mesma? E qual é sua credibilidade, ao invocar a ONU quando lhe convém?”

terça-feira, setembro 23, 2008

Démarches…

D
A ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social), não regula rigorosamente nada. Mais exactamente, simula que regula, ao mesmo tempo que dissimula, encobre e vai assobiando para o ar.
No que diz respeito à polémica licenciatura do primeiro ministro Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates, foi elaborado em tempos um processo/inquérito para apurar da existência de eventuais pressões ilegítimas, por parte do poder político, junto dos jornalistas (neste caso o jornal PÚBLICO e o seu director), para que o caso fosse abafado. Feitas as diligências, ouvidos os intervenientes e elaborado o processo, daí para cá fez-se um silêncio sepulcral sobre o assunto, subtraindo-o ao escrutínio da opinião pública, tudo porque a ERC, sempre solícita e alinhada com o poder, se negou a facultar o acesso ao documento, bem como às respectivas conclusões. O semanário Expresso insatisfeito com tal procedimento, requereu a intervenção da Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos (CADA), só agora se conhecendo, após intimação, os factos, pormenores e conclusões.
É o próprio jornal PÚBLICO, na sua edição de 2008-SET-22, em artigo de José Bento Amaro, que vem informar o público do seguinte:
… “A ERC concluiu ser normal que existam pressões nas relações entre jornalistas e políticos. Assumindo "um certo grau de tensão", a ERC refere que ela é compreensível "dada a cultura profissional dos primeiros e pelo choque que resulta do facto de ambas as partes agirem com interesses divergentes". Por outro lado, a ERC entende que Sócrates, ao tentar travar na imprensa as notícias sobre a sua licenciatura, não efectuou qualquer pressão, antes fez “démarches” [em português = diligências]. A ERC concluiu que os telefonemas efectuados para o jornalista do PÚBLICO que investigava o caso, Ricardo Dias Felner, e para o director do jornal, José Manuel Fernandes, apesar de terem sido feitos pelo próprio Sócrates, não reuniam "elementos factuais que comprovem ter existido o objectivo de impedir, em concreto, a investigação. Tanto Ricardo Dias Felner como José Manuel Fernandes, nos depoimentos que fizeram na ERC, disseram que o modo como foram abordados pelo primeiro-ministro resultou numa "tentativa de pressão ilegítima". O director do PÚBLICO foi ainda mais longe, reportando-se à conversa com Sócrates, no decurso da qual o primeiro-ministro teria dito: "Fiquei com uma boa relação com o seu accionista [Paulo Azevedo] e vamos ver se isto não se altera."
A minha conclusão é a seguinte: perante os factos atrás descritos, e já sem falar sobre o cutelo castrador que pende sobre a sua carteira profissional, concluo que a profissão de jornalista se está a tornar uma actividade em que também é necessário, para além de competência e isenção, ser-se muito corajoso, a fim de poder enfrentar chantagens e ameaças de represálias, que por obra e graça da ERC se transfiguram em inofensivas démarches. E assim, passo a passo, começam a ganhar corpo e a voltar à vida os fantasmas de um passado de triste memória.

segunda-feira, setembro 22, 2008

Amanhecer

A
Amanhecer na lezíria ribatejana, em 2008-SET-20

Veremos!

V
Quando for desmontada a grande tenda de feira que o PS instalou desde 2005, no país em geral e na comunicação social em particular, onde foi vendido gato por lebre, oferecidos computadores a pataco e alardeado um país que tem mais que ver com uma espécie de realidade virtual, feita à medida dos interesses eleitoralistas, irão começar a ver-se os resultados práticos da sua intervenção nas áreas da economia, educação, cultura, saúde, agricultura e pescas, justiça, segurança, direitos, liberdades e garantias, trabalho, desemprego e quejandos.

domingo, setembro 21, 2008

Lua Minguante

D

Lua em quarto minguante sobre a lezíria ribatejana em 2008-SET-19

"Mais Uma Conta para Pagar"

M
"Descubro pelos jornais o que, com boas e históricas razões, já sabia: sou eu (isto é, você, leitor) quem vai pagar os milhares de milhões de dólares de dívidas que levaram o banco Lehman Brothers (LB) à falência.
A acrescer à factura que já nos estava (a mim e a si, leitor) a ser cobrada pelo também americano colapso do crédito hipotecário de alto risco ("subprime", dizem eles) e às que iremos pagar a seguir pela cascata de falências financeiras que, depois da do LB, aí virão. A beleza do capitalismo especulativo na sua versão selvagem e neoliberal é que, quando um especulador global espirra, nós, os mal agasalhados, apanhamos uma pneumonia. E quando, como eles também dizem, "a economia real arrefece" nós é que tiritamos de frio. Parafraseando o Papa, "o amor (deles) ao dinheiro é a raiz de todos os (nossos) males". Fosse eu dado a coisas "new age" e veria nesta tumultuosa espécie de neo-Grande Depressão uma mão astral. Não é que, algures além-túmulo (e, pelos vistos, aquém-túmulo) os maléficos utopistas Marx e Engels estão nesta altura a comemorar os 160 anos do Manifesto Comunista?"

(crónica de Manuel António Pina in Jornal de Notícias de 2008-SET-17)

Proveito SEM Fama

P
"Fico eternamente grato ao PSD. O seu anúncio de que se absterá, com um carácter dito «construtivo», no Código de Trabalho da autoria do Governo do PS, permite-me o «post» mais curto de sempre. Com efeito, basta-me escrever que não há nada como ter o proveito sem ficar com a fama."

Victor Dias in blog O TEMPO DAS CEREJAS, em 2008-SET-19

Deixei Comentário

D
O espírito da CIDADE SURPREENDENTE ( em
http://cidadesurpreendente.blogspot.com/ ) tardava em voltar a manifestar-se através da visão e das palavras do Carlos Romão.
Bem haja e não desista!
Torres (o escrevinhador)

sábado, setembro 20, 2008

quarta-feira, setembro 17, 2008

Vieira da Silva fez melhor do que um governo de direita (fim de citação)

V
Transcrição da entrevista concedida a Raquel Martins do Jornal de Negócios em 18-07-2008, por Francisco Van Zeller, presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP)

O presidente da Confederação da Industria, acha que o Código do Trabalho devia ir mais longe nos despedimentos, mas garante que o ministro foi mais ousado do que um governo de direita, uma posição que o aproxima de Carvalho da Silva.
Defendeu que apesar do que conseguiram na revisão do Código do Trabalho (CT) a crise internacional obrigará a que se vá mais longe na liberalização das relações laborais. Até onde é preciso ir?

A liberalização é uma palavra que contêm a “facilitação” dos despedimentos, ou melhor, das rescisões. Isso é indispensável. Se já antes o era, agora, numa fase de crise, ainda o é mais.

O facto de se agilizar o processo de despedimento não foi o suficiente?

Tratou-se de corrigir alguns defeitos do processo, nomeadamente a obrigação de se integrar o trabalhador por defeitos processuais. Mas em geral pouco se adiantou em matéria de despedimentos.

Então o que é que conseguiram de tão importante que justificasse a adesão da CIP ao acordo?

Como o CT tem de cobrir todos os empregos existentes em Portugal - não nos podemos esquecer que a industria representa apenas 20% das empresas, o resto são serviços, turismo e novos empregos - não pode ter regalias e direitos que agradem a todos. É na contratação colectiva que pode estar a “flexibilização” ao nível dos horários ou da formação profissional. Esta revisão foi conseguida para haver mais contratação colectiva e temos esperança de aí conseguir alguma inovação. Já temos experiência dos têxteis, da construção civil e da electricidade que deram grandes passos em conseguir melhores condições para as empresas do que o próprio código estipula.

Mas tem de admitir que as empresas têm usado pouco os mecanismos já previstos na lei.

Isso tem duas razões. Por um lado cerca de 80% das empresas portuguesas não tem capacidade para gerir o seu pessoal de acordo com o CT e com contractos colectivos. Depois, grande parte dos empregos actuais não está organizado em sindicatos e associações empresariais, e nem os empregados nem os empregadores tiram proveito da Lei.

Então está a rever-se um Código para 20% das empresas portuguesas?

Que felizmente são quem produz, pagam mais de 80% de IRC e empregam mais de metade dos trabalhadores portugueses. Estou convencido que grande parte das empresas irão, aos poucos, adaptando as facilidades que CT dá. Mas tem razão, o CT é um clássico do tempo em que tudo era industrial; a Lei, os contractos colectivos, os sindicatos e os patrões, tudo funciona na base de um trabalho que está a desaparecer. E pela Europa fora a realidade é semelhante.

Um dos objectivos do CT de 2003 era melhorar a competitividade, mas provou-se mais uma vez que a Lei não resolve tudo. Ainda continua a acreditar que é fundamental para melhorar a produtividade?

A Lei é o elo de uma cadeia de elementos que fazem falta para aumentar a produtividade. É necessária mas não é suficiente: havendo um CT moderno pode haver melhoria de competitividade, mas são precisas outras coisas. Mas não tenho duvida nenhuma que o CT melhora as condições de produtividade, nomeadamente através da caducidade dos contractos, do artigo 4º [que permite negociar os artigos do código para melhor e para pior] e a organização dos tempos de trabalho. Se não usarmos estes mecanismos, então este foi um exercício fútil. Por exemplo, a maior empresa exportadora do país, a Qimonda, tem horários concentrados e isso está a dar-lhe uma enorme vantagem. As empresas têm de perceber que se negociarem conseguem condições de competitividade.

Mas a adaptabilidade e os horários concentrados podem ser negociados individualmente...

Foi uma vitória nossa sem dúvida nenhuma. Antes bastava uma ou duas pessoas para empatar uma equipa inteira. Agora já não.

O banco de horas, outro dos mecanismos de flexibilidade, é uma maneira das empresas deixarem de pagar trabalho extraordinário?

No fundo é para acabar com o conceito de horas extraordinárias. Trabalhar mais duas horas além do horário passa a ser regular.

Esse trabalho deixa de ser pago?

Tudo isso é negociado, pode ser pago em férias ou em prémio anual, mas o trabalho deixa de ser pago à percentagem, que em algumas empresas chega a ser de 500%. O estabelecimento do banco de horas só lá vai com um estímulo positivo. Na prática trata-se de conter os custos em troca de outras regalias.
Os governos de direita são mais tímidos no que respeita a relações de trabalho, enquanto os de esquerda são mais ousados

Mas há quem defenda que um governo de direita não faria melhor...

E não fez! Os governos de direita são muito tímidos no que respeita a relações de trabalho. Enquanto os de esquerda são mais ousados, porque é uma matéria que conhecem bem. Este ministro e esta equipa são especializados e souberam muito bem até onde podiam ir. Isto é mérito de especialistas.

O facto de serem especialistas permitiu-lhes serem mais ousados que Bagão Félix?

O Dr. Bagão Félix não era especialista neste tema, era um generalista. Não foi mais longe por questões de caridade - ele é muito caridoso e inventou umas cláusulas, como as férias, que era uma medida popular. Mas se esta equipa [de Viera da Silva] estivesse num governo de direita também teria feito isto. A forma como organizaram tudo conduziu a uma melhor finalização e a uma discussão final muito curta. Quando a proposta final apareceu já estava tudo discutido.

Essa é precisamente uma das críticas da CGTP ao processo. Alguma vez acreditou que a CGTP assinava o acordo?

Não. Nem que se lhes desse tudo o que pediram. O PCP não iria autorizar.

Receia que a CGTP bloqueie a negociação colectiva como forma de retaliação?

Tenho receio que a CGTP imponha condições prévias muito difíceis. Na maior parte dos casos podemos recorrer à UGT e, se conseguirmos contractos vantajosos, contar com a adesão individual. Sempre que isso aconteceu no passado, a CGTP acabou por subscrever os contractos para não perder os seus associados. Mas na generalidade das empresas existe um bom relacionamento com os sindicatos, mesmo com os da CGTP, sobretudo no Norte do País.

A proposta vai mais longe na protecção da parentalidade. As empresas estão preparadas para deixarem os pais terem 12 meses de licença?

80% das empresas não estão. Tenho receio que a medida tenha um efeito perverso.
As empresas preferem manter o pessoal a prazo e pagar mais

A Taxa de 5% aplicada aos recibos verdes e o agravamento de 3% da taxa dos contratos a termo poderão ter efeitos perversos?

É um perigo real: as empresas em vez de terem cinco pessoas a recibos verdes ou a contrato reduzem para três, por exemplo.

As medidas de combate à precariedade poderão vir a fomentá-la?

Embora haja uma diferença de 4% entre ter pessoal a prazo e no quadro, penso que as empresas vão preferir manter o pessoal a prazo e pagar mais. Ninguém se quer comprometer com uma pessoa até aos 65 anos, apeteça-lhe ou não trabalhar. É um ciclo vicioso que é mau para todos. Se houvesse despedimento individual, porque a pessoa não trabalha ou falta, havia alguma pressão. A Lei devia permitir essa possibilidade, que funcionaria como uma ameaça, e poderia nunca se cumprir.

O acordo prevê o incentivo ao emprego de jovens e pessoas mais velhas. Essas medidas serão eficazes?

Não têm grande eficácia. As empresas admitem pessoal porque precisam e depois vão buscar a recompensa. Não vão por mais pessoal porque estas medidas existem.

Nem o apoio á conversão de recibos verdes terão efeitos?

Aí vai ter que ser, porque as regras são muito severas e a inspecção vai ser muito severa. Há uma certa aceitação de que devemos ter uma inspecção de Trabalho policial, do género da ASAE, e se isso acontecer cria-se um certo medo nas empresas que não têm outro remédio: despedir ou reconverter, até porque as coimas são gigantescas. Mas as empresas podem também mudar os esquemas ou falsear o sistema.
Se fosse discutido agora, o Código permitiria os despedimentos

Como vê o comportamento do Governo em relação aos camionistas ou aos armadores?

Em termos de imagem pode não ser positivo, mas o Governo fez o melhor possível. Muito melhor que nos outros países, que continuam a ter problemas. O resultado final é que a situação ficou arrumada em quatro dias. Quem me dera que todos os problemas do País, tão graves como este, - e este problema é gravíssimo, trata-se de muita gente que não sabe fazer mais nada do que ter um camião e estar em cima dele e não tem outro meio de vida - fossem resolvidos a esta velocidade.

Concorda com as declarações da líder do PSD a defender o congelamento das obras públicas para resolver o problema da pobreza?

Acabar com a obra pública para acorrer aos mais desfavorecidos não faz sentido. Uma coisa não tem nada a ver com a outra.

Esperava isso de Manuela Ferreira Leite?

Não. O Dr. Durão Barroso já tinha feito isso. São frases populistas que se dizem em campanha. Mas estes são dois assuntos diferentes que têm de ser tratados separadamente. As obras públicas justificadas têm que avançar. Em relação ás classes mais desfavorecidas é preciso tomar medidas dirigidas. Em vez de baixar o IVA, que vai beneficiar também os que não precisam, devia-se ter guardado o dinheiro para essas medidas dirigidas.

Provavelmente o Governo hoje não teria reduzido o IVA...

O Governo queria começar a sua campanha! Mas é injusto que este Governo esteja a pagar de uma maneira tão severa a crise internacional.

O Governo está a tomar a atitude certa em relação à crise?

Sem duvida nenhuma. Felizmente temos um José Sócrates - não é por ser socialista, porque como sabe não sou - que está a fazer um bom trabalho. A única atitude possível é reagir, continuar investimentos e procurar soluções. Até lhe digo mais, se esta legislação fosse discutida agora provavelmente seria mais severa e provavelmente teria despedimentos... todo este Código do Trabalho já está desajustado da crise.

Comentário meu: os trabalhadores que se cuidem, porque dos vencidos não reza a História.

terça-feira, setembro 16, 2008

Os Meus Eleitos (2)

A
Título: STALKER
Título original: Сталкер
Ano: 1979
Realização: Andrei Tarkovsky
Baseado na novela de Arkadi e Boris Strugatsky, (Stalker - Roadside Picnic)

Elenco:
Aleksandr Kajdanovsky como Stalker
Alisa Frejndlikh como esposa do Stalker
Anatoli Solonitsyn como Escritor
Nikolai Grinko como Cientista
Natasha Abramova como Martha, filha do Stalker

Duração: 163 min
Origem: Alemanha Ocidental e União Soviética
Locais de Filmagem: Estónia
Idioma: Russo
Fotografia: Preto e Branco / Cor (Eastmancolor)
Áudio: Mono / Stereo
Vencedor do prémio especial do Júri do Festival de Cinema de Cannes de 1980

Comentário: Já disse uma vez, algures, que cada filme de Andrey Tarkovsky não é cinema-divertimento, mas sim cinema-reflexão! Cada filme deste cineasta precocemente desaparecido, e que nos deixou, entre outros, “Andrey Rubliev”, “Solaris” e “Stalker”, é um mergulho em apneia, nas profundezas da natureza humana e suas relações com o universo.
Baseado na novela de ficção científica dos irmãos Arkadi e Boris Strugatsky, “Piquenique à Beira da Estrada” (Roadside Picnic), a acção de Stalker situa-se num amplo espaço geográfico denominado “zona”, provável local de visita de uma civilização extraterrestre, que à sua passagem transformou aquele território numa espécie de caos, repleto de lugares misteriosos, escombros, fenómenos inexplicáveis, edifícios arruinados e trilhos armadilhados que mudam de lugar, posteriormente cercado de barreiras e guardado por militares, onde não é permitida qualquer presença humana. Com uma clara conotação política, aquele isolamento não se destina a proteger quem se afoita no desconhecido, mas sim para desmobilizar os que ficam cá fora. No entanto, estas restrições são transgredidas por uma classe de marginais denominados “stalker”, uma espécie de exploradores-pisteiros, já contaminados sabe-se lá porque doença desconhecida, em consequência de viverem nas proximidades da área interdita, no entanto, são os únicos capazes de identificarem, compreenderem e iludirem as ciladas dispersas pelo lugar. Para sobreviverem, disponibilizam-se para guiar, clandestinamente, aventureiros e curiosos, que anseiam explorar os meandros da misteriosa “zona”. O filme descreve uma dessas atribuladas excursões àquele lugar insólito e assombroso, quase primordial, protagonizada por um “stalker”, que será o guia e protector dos seus novos clientes, neste caso um “escritor” e um “cientista”. O objectivo final da jornada é alcançar um “quarto” existente nas entranhas da “zona”, destino místico recheado de simbolismo, lugar de revelação onde supostamente pode ser alcançado o paraíso interior, e onde se vão confrontar os três actores, num discurso em que a pedra de toque são coisas tão subjectivas e imateriais como a fé e a esperança. Até lá, percorrem lugares que mudam de morfologia, prenunciando perigos que não se vêem mas se “sentem” de forma amplificada, seja pela lentidão e precauções que devem ser tomadas durante a progressão, seja por outros tantos rituais que devem ser respeitados por quem se atreve naquela enigmática e inóspita região, onde, entre outras coisas, é proibido voltar para trás pelo mesmo caminho.
Se há filmes que corporizam, ora uma descida aos infernos, ou pelo contrário, uma subida ao reino dos céus, no que diz respeito a Stalker assiste-se ao lento e elaborado atravessamento de um limbo, espaço intemporal de quietude e esquecimento, repassado de desolação, onde impera a luz difusa, um silêncio absoluto, vegetação luxuriante e onde a água é sempre omnipresente, à mistura com destroços e esqueletos de um qualquer cemitério industrial, tudo elementos que funcionam como um cataplasma propício à reflexão e ao confronto das dúvidas, inquietações, desejos e medos de cada um dos intervenientes. São três homens em transgressão e três mentalidades em confronto: a fé religiosa tradicional (representada pelo stalker), a razão agnóstica, científica e pretensiosa (caracterizada pelo cientista) e o cinismo ateu dos criadores (interpretado pelo escritor), a desnudarem e exibirem a sua natureza ante o insondável e o desconhecido, a questionarem-se, ao mesmo tempo que deambulam por aquele perímetro interdito e policiado por autoridades de um estado que se suspeita totalitário, numa ténue alusão ao regime que vigorava na então União Soviética.
29 anos depois de Stalker ter entrado no universo da cinematografia, e Tarkovsky ter começado a pagar um preço demasiado alto pela sua independência e intransigência, penso não estar muito enganado se disser que este filme talvez tenha sido a obra cinematográfica que foi objecto do maior número de críticas, comentários, estudos, ensaios e análises, sem que isso tenha pacificado o meu espírito. Stalker é um filme técnica e esteticamente exemplar, embora de leitura difícil, tantas são as metáforas e as questões de ordem filosófica e metafísica que aborda. Por isso, cada vez que o revejo, assaltam-me novas interrogações e novas dúvidas, volto a reequacionar certezas já dadas como adquiridas, desvendo poesia num e noutro recanto mais obscuro daqueles 163 minutos de cinema, descubro novos e insuspeitos pormenores que antes me haviam passado despercebidos, e volto a emocionar-me com a estranha beleza de todo o discurso fílmico, desde as palavras até aos ruídos e às imagens, e onde à ficção científica cabe apenas o papel de invólucro. Chego mesmo a interrogar-me se Stalker não será o tal filme “mais que perfeito” que todos demandamos.

As Vozes do Dono

“…
A SIC Notícias (SICN) vai pelo mesmo caminho da RTP. Só que enquanto a SICN dá tempo a ministros quando interessa aos ministros, a RTP dá-o também aos secretários de Estado, aos directores-gerais, administradores dos hospitais e empresas públicas, aos porta-vozes, aos “comentadores”, a todos os suspeitos do costume a que a blogosfera já chama “os Vitalinos” – incluindo o próprio Vitalino Canas. A RTP (tal como a Lusa) está transformada num instrumento político total, uma arma de guerra da propaganda do governo, numa prática cirúrgica e constante. A presença do governo nos noticiários da RTP é impressionante, pois às notícias audiovisuais somou agora os rodapés, que permitem manter o governo em permanência na “informação”, como no tempo das ditaduras fascistas ou comunistas. O ritmo dos rodapés com governantes e com medidas e declarações governamentais é alucinante.
…”
Eduardo Cintra Torres, in “Voltaram as correias de transmissão”, jornal PÚBLICO de 13 Setembro 2008

sexta-feira, setembro 12, 2008

Lua Crescente

L

Lua em quarto crescente, sobre a lezíria ribatejana em 2008-Setembro-10

Fannie Mae e Freddie Mac

F
Em tempo de vacas gordas - mesmo na terra do Tio Sam - os políticos de direita e da “esquerda moderna” têm por costume privatizar os melhores nacos da riqueza dos países, retirando-os da órbita do sector público, para distribuir os seus lucros por um punhado de accionistas. Em tempo de dificuldades económicas ou de falência, os mesmos senhores têm por hábito ejectar somas astronómicas do erário público ou nacionalizar esses nacos - indemnizando os pobres accionistas - para que seja o povo contribuinte a salvar a honra do convento. Passada a crise, tempo virá em que os tais nacos voltarão à esfera privada, para cumprir mais um ciclo de prosperidade só para alguns. A lição é fácil de compreender: entre duas crises da chamada economia de mercado, no limite, a classe política invoca sempre o (in)discutível interesse público, para que seja sempre esse mesmo público a arcar com a factura, as sequelas e o que mais houver.