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Título: Este País não é para Velhos
Título original: No Country for Old Men
Ano: 2007
Origem: E.U.A.
Realização: Joel Coen & Ethan Coen
Argumento: Baseado na novela de Cormac McCarthy's
Actores Principais: Tommy Lee Jones, Javier Bardem, Josh Brolin
Naqueles anos 80 do século passado, época em decorre a acção deste filme dos irmãos Coen, o mundo, e não só aquela pequena cidade da América fronteiriça e rural, tutelada por um velho e desalentado marshall, estava a tornar-se um sítio perigoso e incontrolável, face à criminalidade resultante do narcotráfico. Ele pressente que se aproxima uma guerra grande demais para os escassos meios de que dispõe, e que ele, consequentemente, já não consegue controlar. Daí o pretexto para ele se decidir por uma prematura aposentação. Em qualquer guerra, quando uma das partes começa a perceber que está a ser ultrapassada pelos acontecimentos, a par da desilusão de não ter conseguido cumprir, com sucesso, o seu dever, é altura de decidir: ou veste a pele de herói e enfrenta o inimigo, ou bate em retirada e desiste. Por isso, aquele marshall (Tommy Lee Jones), num magistral papel de anti-herói, sendo um homem amargurado que se sente impotente para enfrentar a violência crescente, que cerca a sua circunscrição, dispõe-se a baixar os braços. A angústia que assola o seu espírito só é comparável à desolação da paisagem texana que o cerca. Chega a confessar que depois de muitas provações, cada vez mais descrente, e com o pessimismo já instalado e empedernido na sua alma, ficou à espera que Deus viesse ao seu encontro, mas a espera foi em vão. A mensagem é indubitável: se Deus é Deus e se ausentou para parte incerta, sendo ele um simples mortal, o que estão à espera que faça?
Entretanto, envolvido na teia do tráfico, surge um novo protagonista. Ele é um predador nato (Javier Bardem), matador de novo tipo, uma voraz máquina assassina que se move orientada com uma missão, baseada numa “filosofia” e numa “ética”, tão elementar como um jogo de “malmequer-bemmequer”, que pretende assumir-se como modelo e prática do mal absoluto. Por onde passa, como uma pestilência, vai deixando um sulco de morte, eliminando, uma após outra, todas as testemunhas com quem se cruza. Para ele, decidir se as suas vítimas irão viver ou morrer, é tão simples como lançar uma moeda ao ar. Tal processo serve para lavar a sua consciência, com a mesma eficácia com que a água lava o sangue das suas mãos. Naquela personagem, a fronteira entre o humano e o monstro nunca foi tão ténue. Por isso, todo o filme é uma dupla caçada, feita perseguição tenebrosa, onde os três protagonistas quase nunca se cruzam, e onde os destinos ficam à solta, sabe-se lá com que novos rumos e vítimas, e onde a crueldade é servida a frio e magistralmente sublinhada, pela total ausência de banda sonora.
Superiormente interpretado por Tommy Lee Jones, Javier Bardem e Josh Brolin, este é mais um filme dos irmãos Coen, genial e soberbamente realizado, mas que marca uma certa inflexão nas subtilezas da sua anterior produção artística, de onde desapareceram os habituais apontamentos grotescos, para serem substituídos por uma substancial dose de pessimismo, neste caso, expresso através de uma violência quase demencial. Parece um filme paradoxal, assim como paradoxal parece o seu desfecho, a sugerir que a história poderá não ter fim à vista, mas não é! Se a história quer provar que aquele país não é para descrentes e desalentados velhos, também é verdade que este filme não é para incautos, nem consumidores de entretenimento puro. É um filme que obriga a reflectir profundamente sobre as mutações das sociedades e da condição humana, sobretudo naquela (e esta) época tão alienada quanto carente, em que uma mala cheia de dinheiro exerce um poder tão hipnótico e mórbido, quanto fatal. Quem não conseguir fazer uma leitura profunda, o remédio é deixar passar os anos, e um dia, voltar a rever este grande filme. Isto porque a idade, ao progredir, se por um lado provoca erosão na audácia e na eficácia, por outro também promove acumulação de experiências e vivências, que vão aperfeiçoar o entendimento e refinar os sentimentos.
Título: Este País não é para Velhos
Título original: No Country for Old Men
Ano: 2007
Origem: E.U.A.
Realização: Joel Coen & Ethan Coen
Argumento: Baseado na novela de Cormac McCarthy's
Actores Principais: Tommy Lee Jones, Javier Bardem, Josh Brolin
Naqueles anos 80 do século passado, época em decorre a acção deste filme dos irmãos Coen, o mundo, e não só aquela pequena cidade da América fronteiriça e rural, tutelada por um velho e desalentado marshall, estava a tornar-se um sítio perigoso e incontrolável, face à criminalidade resultante do narcotráfico. Ele pressente que se aproxima uma guerra grande demais para os escassos meios de que dispõe, e que ele, consequentemente, já não consegue controlar. Daí o pretexto para ele se decidir por uma prematura aposentação. Em qualquer guerra, quando uma das partes começa a perceber que está a ser ultrapassada pelos acontecimentos, a par da desilusão de não ter conseguido cumprir, com sucesso, o seu dever, é altura de decidir: ou veste a pele de herói e enfrenta o inimigo, ou bate em retirada e desiste. Por isso, aquele marshall (Tommy Lee Jones), num magistral papel de anti-herói, sendo um homem amargurado que se sente impotente para enfrentar a violência crescente, que cerca a sua circunscrição, dispõe-se a baixar os braços. A angústia que assola o seu espírito só é comparável à desolação da paisagem texana que o cerca. Chega a confessar que depois de muitas provações, cada vez mais descrente, e com o pessimismo já instalado e empedernido na sua alma, ficou à espera que Deus viesse ao seu encontro, mas a espera foi em vão. A mensagem é indubitável: se Deus é Deus e se ausentou para parte incerta, sendo ele um simples mortal, o que estão à espera que faça?
Entretanto, envolvido na teia do tráfico, surge um novo protagonista. Ele é um predador nato (Javier Bardem), matador de novo tipo, uma voraz máquina assassina que se move orientada com uma missão, baseada numa “filosofia” e numa “ética”, tão elementar como um jogo de “malmequer-bemmequer”, que pretende assumir-se como modelo e prática do mal absoluto. Por onde passa, como uma pestilência, vai deixando um sulco de morte, eliminando, uma após outra, todas as testemunhas com quem se cruza. Para ele, decidir se as suas vítimas irão viver ou morrer, é tão simples como lançar uma moeda ao ar. Tal processo serve para lavar a sua consciência, com a mesma eficácia com que a água lava o sangue das suas mãos. Naquela personagem, a fronteira entre o humano e o monstro nunca foi tão ténue. Por isso, todo o filme é uma dupla caçada, feita perseguição tenebrosa, onde os três protagonistas quase nunca se cruzam, e onde os destinos ficam à solta, sabe-se lá com que novos rumos e vítimas, e onde a crueldade é servida a frio e magistralmente sublinhada, pela total ausência de banda sonora.
Superiormente interpretado por Tommy Lee Jones, Javier Bardem e Josh Brolin, este é mais um filme dos irmãos Coen, genial e soberbamente realizado, mas que marca uma certa inflexão nas subtilezas da sua anterior produção artística, de onde desapareceram os habituais apontamentos grotescos, para serem substituídos por uma substancial dose de pessimismo, neste caso, expresso através de uma violência quase demencial. Parece um filme paradoxal, assim como paradoxal parece o seu desfecho, a sugerir que a história poderá não ter fim à vista, mas não é! Se a história quer provar que aquele país não é para descrentes e desalentados velhos, também é verdade que este filme não é para incautos, nem consumidores de entretenimento puro. É um filme que obriga a reflectir profundamente sobre as mutações das sociedades e da condição humana, sobretudo naquela (e esta) época tão alienada quanto carente, em que uma mala cheia de dinheiro exerce um poder tão hipnótico e mórbido, quanto fatal. Quem não conseguir fazer uma leitura profunda, o remédio é deixar passar os anos, e um dia, voltar a rever este grande filme. Isto porque a idade, ao progredir, se por um lado provoca erosão na audácia e na eficácia, por outro também promove acumulação de experiências e vivências, que vão aperfeiçoar o entendimento e refinar os sentimentos.
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